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IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL” 
Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa – 31/07 a 03/08/2012 – Anais Eletrônicos – ISBN 978-85-7745-551-5 
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ATUALIZAÇÕES HISTÓRICAS ACERCA DO PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO DA 
GESTÃO DEMOCRÁTICA NO CEARÁ1 
 
Elione Maria Nogueira Diógenes 
 (UFAL) 
elionend@uol.com.br 
Vagna Brito Lima 
vagnabrito@yahoo.com.br 
Vanuzia Brito Lima  
vanuzialima@hotmail.com 
 (REE‐ Ce) 
 
 
 
Resumo 
 
O  texto  que  ora  apresentamos  tem  como  tema  a  gestão  democrática  no  Ceará.  Trata‐se  em  verdade  de  uma 
recuperação  do  tecido  histórico do processo de  implantação/implementação  da política  de  gestão  democrática.  É 
sabido que as décadas finais do século XX foram ricas em processos de mutação no que diz respeito aos novos rumos 
da  educação.  A  área  que  particularmente  mais  sofreu  modificações  foi  à  gestão,  hoje  assim  compreendida. 
Entretanto, as raízes da gestão democrática são mais antigas do que podemos imaginar. Em outras palavras: a gestão 
democratizada sempre foi um anseio da classe trabalhadora em educação desde os pioneiros da educação em 1930. 
Neste texto trabalhamos com uma perspectiva de história de longa duração na concepção de Braudel (1992, 1983a e 
1983b) e recuperamos fontes documentais oficiais que dão conta dessa realidade. Metodologicamente mergulhamos 
no arcabouço  de  pareceres,  resoluções, planos de  governo  da  época  aqui discutidos  (1995  a  2012) no  sentido  de 
apreender os sentidos e as concepções adotadas no que diz respeito à democratização da gestão no espaço territorial 
da escola. Os resultados a que chegamos  informa que a gestão democrática no Ceará antecedeu ao movimento de 
reforma educacional da década de 1990, precisamente o ano de 1996 com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases 
da Educação Nacional nº 9394/96 e tem sua gênese nas lutas da esquerda progressista cearense. Mais certamente: a 
gestão política do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) se apropriou dessas lutas e adaptou o modelo à sua 
forma particular de hegemonia política no cenário do neoliberalismo brasileiro. 
 
Palavras‐chave: Gestão democrática. Elementos históricos. Longa duração. 
 
 
I – Anunciando O Tema E Suas Implicações Teórico‐Práticas 
 
Evocar  a  história  é  trazer  o  tempo  da memória  para  o  presente.  O  delineamento  do 
percurso histórico da  implementação da política pública de gestão democrática  torna mais  fácil 
entender a materialidade histórica desse processo no cenário cearense, compreendendo inclusive 
as forças hegemônicas determinantes para sua efetivação no ambiente da educação escolarizada. 
Isto  é  importante  para  se  compreender  por  que  atualmente  a  gestão  democrática  é  colocada 
                                                           
1 Trabalho realizado com apoio do CNPq.  
 
IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL” 
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como “remédio” para as problemáticas enfrentadas pela escola públicas. Nem sempre  foi assim. 
Há um  tempo  (não  tão além) a democratização da escola pública era uma luta das organizações 
sociais de tendência política à esquerda.  
O que  aconteceu para que  “bandeiras” históricas do movimento da  classe  trabalhadora 
fossem  “assumidas”  pelo  poder  hegemônico  como  solução  no  contexto  de  enxugamento  do 
Estado  em  época  de  neoliberalismo?  Esta  foi  a  principal  pergunta  que  a  pesquisa  tentou 
responder. Nisto percorre o caminho e a trilha não sempre clara da história. Por isto a concepção 
de  longa  duração  de  Braudel  (op.  cit.)  serviu‐nos  de  guia,  pois  trabalhar  com  tal  concepção 
pressupõe multiplicar as fontes estudadas. Assim, o trabalho por nós comunicado no evento parte 
da premissa de que o tempo presente tem raízes no tempo pretérito que por sua vez pode ou não 
ser  ressignificado,  no  caso  da  pesquisa  efetivada  foi  possível  abranger  diferentes  momentos 
históricos com predominância para os anos 90 do século XX e os posteriores do XXI.  
Caracterizado como o amplexo dos extremos (HOBSBAWN, 1994), o século XX representou, 
ao mesmo  tempo, a era das catástrofes, da barbárie e dos assassinatos em massa. Não menos, 
exprimiu o predomínio das  forças humanas  sobre  a natureza, em que o progresso  científico e 
tecnológico suscitou modificações econômicas, sociais, políticas e culturais. Nesse século se viveu 
a queda dos sistemas socialistas de produção e se tornou hegemônica uma economia de mercado 
– designada por cientistas sociais e economistas como globalização financeira ou mundialização do 
capital –, ordem econômica mundial que menospreza os direitos sociais e impõe novas regulações 
às relações entre capital e trabalho.  
Em  tal período ocorre o  ressurgimento dos paradigmas  liberais da economia  capitalista, 
nos quais se retoma a defesa das desigualdades e das vicissitudes individualistas como ponto de 
partida e de chegada das relações humanas, depois de se ter consagrado como direito universal o 
Estado do bem estar social (Welfare State). Historiadores, filósofos, sociólogos, cientistas políticos, 
antropólogos e economistas  têm escrito obras  analíticas movidos pelo  interesse de  tornar essa 
época histórica compreensível às gerações que nasceram e viveram em seu interior percursivo e 
que necessitam, caso queiram agir de modo proativo, conhecê‐lo melhor, porque os momentos de 
grandes reestruturações do capital vêm acompanhados de intensas desestruturações sociais.  
 
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Entretanto, muitas das mudanças que eclodiram com  força nesse período vêm de  longe, 
muito longe. No que diz respeito às profundas transformações no campo da política educacional 
brasileira isto é singularmente verdadeiro. Ao observarmos o território cronológico das alterações 
no  ordenamento  da  política  educacional  é  visível  que  uma  grande parte  delas  é  originada do 
espaço de  luta social histórico no país. No caso aqui analisado, o estado do Ceará  tal  realidade 
constituiu‐se  na  marca  de  introdução  dessas  mudanças  e  antecedeu  em  certo  sentido  o 
movimento das mudanças no cenário nacional. Por considerar  tal condição histórica, o presente 
texto  pauta‐se  na  perspectiva  de  compreender  o  arcabouço  histórico  em  que  se  constitui  o 
processo de  implantação/implementação da política de  gestão democrática enquanto princípio 
constitucional (Constituição Federal de 1988), regulamentado na legislação educacional brasileira 
(LDB 9.394/96) e seus desdobramentos nos espaços escolares. 
 
II – A Tessitura Histórica Da Reforma E Dentro Dela A Gestão Democrática 
 
Maupassant2  colocava  com  muita  propriedade  que  era  necessário  sempre  descobrir 
aspectos poucos vistos ou mesmo nunca vistos por outro olhar no sentido de redescobri‐los. É isto 
que fazemos ou tentamos fazer. Por isto é importante entender o panorama histórico do período 
em foco: ocaso da década de 1980. No Brasil, a ditadura arqueja fracamente. Nas ruas as pessoas 
respiravam os primeiros ares da redemocratização. No Ceará, uma nova elite político‐econômica 
ascende ao poder.  
É perceptível o clima de euforia nas ruas, nas praças e noutros espaços públicos e privados 
da  capital  e  do  interior  cearense  não  passa  desapercebido  a  qualquer  observador  menos 
desavisado. Ao se mirar com mais cuidado o olhar, parecia que “caras e bocas”, num verdadeiro 
“frenesi coletivo”, queriam dizer a um só tempo: “nada será como antes amanhã”. Este amanhã se 
constituiu  na  vitória  de  um  autêntico  representanteda  burguesia  industrial,  Tasso  Ribeiro 
Jereissati,  ao  governo  do  Ceará  no  ano  de  1986.  Com  um  discurso  sustentado  pelo  termo 
“mudança”,  o  empresário  Tasso  Ribeiro  Jereissati  conseguiu  eleger‐se  governador  de  um  dos 
estados mais pobres e atrasados da Federação. Nos termos de Gondim (1997, p. 33): 
                                                           
2 Guy de Maupassant, escritor francês, 1997.	
 
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Constituem palavras‐chave do  seu discurso  termos  como  ‘mudança’,  ‘miséria’ e 
‘clientelismo’, articulados de modo a enfatizar a eliminação desse último como a 
grande novidade que se faz necessária não apenas como um fim moralizador em 
si mesmo, mas como um meio de acabar com a ‘pobreza absoluta’. 
 
Inaugura‐se, pois, no Ceará o “governo das mudanças” por um novo grupo hegemônico de 
lideranças que consolidou o seu domínio político por quatro mandatos consecutivos (1987‐1990; 
1991‐1994;  1995‐1998;  1999‐2002).  O  “grupo  das  mudanças”  como  assim  era  conhecido  e 
reconhecido pela população, implantou no Estado um projeto de modernização da administração 
pública e um pacote de reformas políticas e administrativas de caráter neoliberal. No expressar‐se 
de Nobre (1999, p. 72): 
O grupo  cearense demonstrará  capacidade de  influir no projeto neoliberal que 
tem se consolidado no Brasil desde o período do governo Collor até hoje. E ainda, 
em  alguns  aspectos,  os  ‘governos  das  mudanças’  chegam  a  se  antecipar  às 
reformas e políticas com esse caráter. 
 
A preocupação angular consistiu em  investir na  reabilitação da competência  financeira e 
administrativa  da  máquina  estatal,  para  encarar  as  novas  configurações  do  processo  de 
acumulação  capitalista  internacional.  Isso  atingiu  em  cheio  a  redefinição  da  função  do  poder 
político na economia, e, a modificação de sua estrutura burocrática,  tendo em vista uma maior 
“eficiência nos trâmites burocráticos e um funcionamento eficaz da sua dinâmica interna” (CEARÁ, 
1995). 
O  líder  mais  visível  do  “grupo  das  mudanças”,  o  governador  Tasso  Ribeiro  Jereissati, 
exerceu  inclusive, enorme  influência no sentido de viabilizar as  reformas neoliberais no Brasil, a 
partir da própria explicitação do perfil ideal do Ministro da Fazenda de Itamar Franco, que seria o 
grande condutor desse processo em nível nacional: 
Alguém  integrado com o pensamento político do governo, do presidente  Itamar, 
mas que seguisse uma linha que está sendo apregoada pelo partido e pela quase 
unanimidade do pensamento econômico do Brasil. Alguém que partisse para uma 
política de abertura da economia, mas uma abertura gradual, para um programa 
de  privatização, mas  também  gradual,  pensado  e  discutido  com  a  sociedade, 
alguém que tivesse a inflação como meta principal de política econômica (...) que 
tivesse preocupação com a eficiência da administração pública e não fosse ligado 
a nenhum tipo de política clientelista e fisiológica. (JEREISSATI apud NOBRE, 1999, 
p.75. Grifos no original). 
 
 
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Os  novos  atores  sociais  da  política  local  entraram  em  cena  com  uma proposta política 
econômica nitidamente neoliberal, e durante todo o seu percurso pelas trilhas do poder buscaram 
consolidar no Ceará este projeto. Essa nova elite política e econômica cearense conseguiu o apoio 
da  grande maioria  da  população,  para  efetivar  as mudanças  projetadas  de modernização  da 
máquina  administrativa.  Nesta  perspectiva,  pôde  efetivar  as  necessárias  alterações  que 
garantiram a sustentação do  ideário neoliberal, na condução das  transformações das condições 
locais, e levaram o estado cearense a uma adequação à nova ordem econômica de acumulação do 
capital no Brasil e no mundo. 
 
III – Gravando e Grafando a História: gestão democrática em foco 
 
O  esforço  empreendido  pela  Secretaria  da  Educação  Básica  (SEDUC),  no  sentido  de 
acompanhar  o  contexto  da  reforma  educacional  brasileira  circunscreve‐se  nos  idos  de  1995, 
ficando conhecido como a “Caminhada Cearense”3 embalado pela doce sonoridade da reviravolta 
do  cenário  político  no  despontar  de  1986,  que  atravessou  toda  a  década  de  1990.  Esta  será 
conhecida  como  o  arquétipo  cronológico  das  reformas  educacionais,  que  diziam  os  mais 
desavisados iria transformar a “cara da educação” no Ceará, com a política educacional formulada 
no compasso do “Todos pela Educação de Qualidade para Todos”. Nos termos do Documento de 
Avaliação do Projeto: 
O  Governo  do  Ceará  está  extremamente  comprometido  com  a  elevação  da 
qualidade  educacional  e  com  o  sucesso  dos  alunos,  tendo  dado  início  à 
implementação de programas para a consecução desses objetivos, mesmo antes 
que a nova  legislação  federal  fosse aprovada em 1996. Um programa estadual, 
chamado  ‘Todos pela Educação de Qualidade para Todos’  foi  lançado em 1995, 
para aumentar a  conscientização da  sociedade sobre as questões educacionais, 
aumentar  as matrículas  e melhorar  a  qualidade do  ensino  fundamental.  Entre 
1995  e  1997,  o  Estado  deu  início  a  um  esquema  similar  ao  atual  Fundo  de 
Desenvolvimento da Educação e Incentivo aos Professores – FUNDEF, patrocinado 
pelo Ministério da Educação (MEC), garantindo recursos educacionais para os 124 
municípios  que  concordaram  em  participar  do  Concurso  Unificado  para 
Professores. Desde a aprovação, em 1995, da lei de Municipalização do Ceará, 115 
escolas  primárias  estaduais  (90%  do  total,  porém  100%  das  escolas  primárias 
                                                           
3 Expressão utilizada pelo ex‐secretário da Educação do Estado, Antenor Manoel Naspolini, ao referir‐se a sua gestão 
(1995‐2002).  
 
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estaduais  do  interior  do  Estado),  com  seus  aproximadamente  22.500  alunos, 
foram  transferidos para a  jurisdição municipal,  tendo melhorado  a  cooperação 
entre o estado e o Município. Em conseqüência, o número de alunos matriculados 
nas escolas estaduais, da 1ª a 4ª série, diminuiu cerca de um sexto  (de 301.598, 
em 1996, para 248.236, em 1998), enquanto o das escolas municipais aumentou 
um  terço  (de  659.364  para  889.673,  respectivamente)  no  mesmo  período. 
(CEARÁ, 2000, p.8). 
 
Isso  significa  que  o  Estado  do  Ceará,  através  da  SEDUC,  fez  bonito  o  “dever  de  casa” 
proposto  pelos  especialistas  das  agências  multilaterais  de  financiamento.  Nos  programas 
implantados pela  SEDUC, percebe‐se  com nitidez o  viés defendido por essas  agências, ou  seja, 
uma  reforma  que  remete  a  própria  escola  à  responsabilidade  sobre  seu  destino. No  dizer  de 
Casassus (2002, p.58): 
No início dos anos 90, foram elaboradas reformas educacionais cujo ponto central 
era  dar mais  iniciativa às  escolas  e  colocar  grandes  expectativas  numa política 
baseada  no  investimento  de  insumos.  Estas  políticas  tiveram  um  apoio 
importante dos organismos de crédito  internacional, tais como o Banco Mundial 
e/ou o Banco Inter‐Americano de Desenvolvimento. 
 
A  impulsão  dessa  política,  contudo,  só  se  dá  na  segunda  gestão  do  ex‐secretário  da 
Educação Básica, Antenor Manoel Naspolini  (1999‐2002). A política do período pode  ser  assim 
resumida  “A  focalização na escola,  anunciada  com  amobilização  iniciada em 1995,  toma agora 
contornos mais visíveis” (CEARÁ, 2001, p.184). 
O  alvo de  convergência  da  política  educacional  ao que  tudo  indica  era  a  “escola  como 
ponto  de  partida”  (CEARÁ,  1996). Os  programas  e projetos  implantados  nesse  período  vão  ao 
encontro  desse  paradigma,  em  que  enfatiza  as  questões  como  a  descentralização,  a 
democratização,  a  socialização das decisões e a divisão das  responsabilidades em  torno de um 
discurso homogêneo que num “feixe de luz” refletia idéias como qualidade, equidade, eficiência e 
eficácia.  
Sem  contar  com  a  forte  evidência  dada  aos  ensinos  de  Português  e  Matemática  em 
detrimento das outras áreas do conhecimento. Isso estava em consonância com a circularidade de 
transformações  que  “varavam” mundo,  em  especial  o mundo  da  educação  latino‐americana. 
Neste sentido, pode‐se afirmar que o estado do Ceará estava em “sintonia fina” com as grandes 
ondas de mutação da economia globalizada: 
 
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É  forçoso  constatar  também que a mundialização do  capital pode promover as 
reformas estimuladas pela  competitividade; estas  são destinadas a aprimorar a 
quantidade e a qualidade das competências profissionais, uma vez que a ênfase é 
colocada no ensino das ciências e da matemática, assim como sobre a avaliação 
das aprendizagens para controlar e promover a melhoria da educação. (CARNOY, 
2002, p. 87). 
 
O ponto alto dessa política se deu em dois momentos. O primeiro na celebração de um 
convênio  firmado entre a SEDUC e o Ministério da Educação  (MEC), o Banco  Interamericano de 
Desenvolvimento  (BID)  e  o  Fundo  de  Fortalecimento  da  Escola  (FUNDESCOLA).  Segundo 
documento do Ministério da Educação‐MEC (BRASÍLIA, 2004, p.5): 
O  PROGRAMA  FUNDESCOLA  atua  de  forma  complementar  à  legislação  e  às 
políticas nacionais vigentes para o Ensino Fundamental. Para tanto, financia ações 
que  têm  como  finalidade  melhorar  o  desempenho  do  Ensino  Fundamental 
ampliando  o  acesso  e  permanência  das  crianças  com  idade  escolar  nas  séries 
correspondentes, melhorar a qualidade da escola e dos resultados educacionais e 
aprimorar  a  gestão  das  escolas  e  das  secretarias  estaduais  e  municipais  da 
Educação. 
 
O financiamento pelo FUNDESCOLA dar‐se‐á por meio de celebração de convênios com os 
estados,  municípios  e  órgãos  federais  executores  do  Programa,  que  receberão  recursos 
financeiros  e  assistência  técnica  para  execução  e  implementação  dessas  ações  no  âmbito 
municipal,  estadual  ou  federal.  O  financiamento  para  o  Subcomponente  “Financiamento  de 
Necessidades Operacionais nas Escolas”,  através do Programa Dinheiro Direto na  Escola  (PDDE) 
obedecerá ao disposto na Medida Provisória n. º 1.784 de 01 de janeiro de 1999 e na Resolução n. 
º 03 de 21 de janeiro de 1999. 
O estabelecimento do convênio entre os estados e os municípios e o MEC/FUNDESCOLA, 
sugere  que  os  convenentes  receberão  um  pacote  de  “medidas  prontas”  para  aplicar  na  sua 
jurisdição  e  desta  forma  revolucionar  o  perfil  do  ensino  público  ministrado.  O  foco  é  o 
desenvolvimento do ensino  fundamental. Assim, o campo de discussão aqui delimitado parte da 
discussão da gestão democrática no âmbito da legislação Federal e Estadual que  regulamenta o 
princípio em questão no Estado do Ceará. Para tanto, definimos a análise dos documentos oficiais 
–  Constituição  Federal  de  1988,  Lei  de  Diretrizes  e  Bases  da  Educação  ‐  LDB  9.394/96,  leis 
estaduais Nº 12.442/95, Nº 12. 861/98 e 13.513/04 que dispõe  sobre o processo de escolha e 
indicação para provimento do cargo em comissão de diretor junto às Escolas Públicas Estaduais de 
 
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Ensino  Básico  no  Ceará,  por  entender  que  regulamentam  as  políticas  públicas 
implantadas/implementadas há pouco mais de quinze anos.  
Marcadamente nas últimas décadas a educação brasileira passou por inúmeras mudanças 
e  transformações,  tal processo  teve  início na década de 1980 no  âmbito da democratização do 
Estado brasileiro com o final da ditadura militar4. Cabe destacar, que as tranformações ocorridas 
no Brasil nesse período, se materializaram no cenário da crise econômica mundial presenciada no 
final do século XX.  
É  importante  lembrar  ainda  que  as  reformas  ocorridas  no  Brasil  após  os  20  anos  de 
ditadura militar (1964‐1995) decorrem da nova configuração econômica mundial desencadeada na 
década  de  1980  no  contexto  da  reordenação  do  Estado  no  âmbito  global  na  perspectiva  de 
revitalizar a economia após a crise da década anterior. Na direção de propiciar o desenvolvimento 
econômico, precípuo do ideário que mobilizou as  transformações mundiais das últimas décadas 
do século xx, a educação ganha centralidade. Nessa direção, Oliveira (2009, p. 79) chama atenção 
para a  relevância ocupada pela educação  como  componente  indispensável ao desenvolvimento 
econômico  já  observado  nos  primeiros  anos  da  década  de  1960  como  prenúncios  das  novas 
demandas educativas:  
A  educação  é  percebida  como  um  componente  essencial  ao  desenvolvimento 
econômico à medida que exerce  forte  influência sobre a  inversão tecnológica, a 
difusão  de  inovações,  a  aptidão  empresarial,  os  padrões  de  consumo,  a 
adaptabilidade  às  mudanças  econômicas  e  a  participação  ativa  dos  distintos 
setores sociais nas  tarefas do desenvolvimento. Considerando  indispensável um 
nível  relativamente  alto  de  educação  geral,  tanto  primária  quanto  secundária. 
(OLIVEIRA, 2009, p. 79). 
 
A reforma educacional brasileira que teve início na segunda metade da década dos anos de 
1990,  tem  suas  origens  nos  anos  anteriores,  portanto  algumas  políticas  já  se materializavam 
(KRAWCZYK, 2008). Sobre os sentidos que mobilizaram a reforma educacional da década de 1990, 
Krawczyk (2008, p. 47) afirma: 
No  ideário  da  reforma  buscava‐se  conciliar  as  diretrizes  internacionais  para  a 
constituição de uma nova forma de gestão da educação e da escola, no marco de 
                                                           
4 Período do regime militar iniciado com o golpe militar de 31 de março de 1964 até a eleição direta de civil Tancredo 
Neves em 1985. 
 
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mudanças regulatórias próprias do novo modelo hegemônico do papel do Estado, 
e  a  premente  necessidade  de  reverter  o  quadro  de  exclusão  e  desigualdade 
educacional,  representado principalmente pelo exíguo atendimento à demanda 
do ensino fundamental e médio e dos altos índices de fracasso e evasão escolar. 
 
A partir do entendimento que as políticas públicas de democratização da educação que se 
configuraram no contexto das reformas educacionais dos anos 1990, encontraram terreno fértil a 
sua materialização no cenário de ressignificação do Estado brasileiro para atender o processo de 
reestruturação econômica. Nessa direção, o Estado do Ceará partiu na  frente na perspectiva de 
materializar a política educacional “Todos pela Educação de Qualidade para Todos” do “Governo 
das Mudanças” Tasso Jereissati (1995‐1998), a fim de adequar a educação cearense às exigências 
do  capitalismo  contemporâneo,  sob  o  imperativo  dos  compromissos  assumidos  com  os 
organismos internacionais (LEITÃO, 2010;VIEIRA, 2002). 
A  gestão  democrática  da  educação  é  sem  dúvida  uma  política  educacional  que  tomou 
dimensão no âmbito das reformas da década de 1990. É nesse contexto de reforma do Estado e da 
educação, que a gestão democrática das escolas públicas cearenses teve início, precisamente em 
1995  com  o  primeiro  ano  das  eleições  diretas  para  diretores  das  escolas  públicas  estaduais. 
Conforme se destaca no quadro síntese abaixo (Quadro 1), a partir de meados dos anos de 1990, 
registra‐se a primeira  legislação estadual na  forma de  lei a  fim de garantir a eleição direta para 
diretores  das  escolas  públicas  estaduais,  um  dos  mecanismos  de  materialização  da  gestão 
democrática e se segue nos anos de 1998, 2001, 2004 e 2009. 
Quadro 1 – Síntese cronológica da gestão democrática no Ceará 
 
ANOS  DESCRIÇÃO 
1995  Implantação da gestão democrática nas escolas públicas cearenses através da Lei Nº 12. 442 de 18 
de maio de 1995 
1998  Foi aprovado pela lei estadual Nº 12.861/98 e o Decreto Nº 25.297/98 que dispõe sobre o processo 
de escolha e indicação para provimento do cargo em comissão de diretor  junto às escolas públicas 
estaduais de ensino básico no Ceará, revogando a lei anterior 
2001  Não houve modificações na  legislação, nem no processo  seletivo em  relação ao anterior ocorrido 
em 1998. 
2004  Em 19 de  julho de 2004 com a publicação da Lei n° 13.513, a referida  lei aumentou o mandado do 
núcleo gestor de três para quatro anos 
2009  Mandato  de  2009  a  2012.  Foi incorporado  um  curso  de  especialização  pela  UFJF  no  processo 
seletivo.  
Fonte: (SEDUC, 2011/2012; LEITÃO, 2010; VIEIRA, 2002) 
 
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Com efeito, a eleição para diretores é um procedimento importante, mas não garante em 
si  a  efetiva  democratização  da  escola,  para  tanto,  foram  mobilizadas  outras  ferramentas  de 
participação  da  comunidade  no  interior  da  escola  como  os  conselhos  escolares  e  os  grêmios 
estudantis, tanto nas orientações políticas do governo federal quanto do governo do Ceará. 
A expressão da política educacional em 2006 denota muitas “cartas em jogo”. Este é o ano 
da  reeleição  do  Luiz  Inácio  Lula  da  Silva  para  presidente  do  Brasil,  com  sua  expressiva 
popularidade, muitas foram às alianças estabelecidas nos cenários estaduais. No Estado do Ceará 
não  se deu de  forma diferente, o ex‐prefeito de  Sobral por dois mandatos  consecutivos  (1996‐
1999/2000‐2004),  após  exercer  a  função  de  consultor  do  Banco  Interamericano  de 
Desenvolvimento  (BID)  em  2005  e  residir  em  Washington  (EUA)  no  mesmo  ano,  inicia  sua 
campanha para governador do Estado do Ceará sob o slogan: “Um grande salto, o Ceará merece”. 
Respaldado  por  uma  significativa  votação  sobre  o  até  então  governador  Lúcio  Alcântara 
(2003/2006), Cid  Ferreira Gomes  toma posse  sob  grande expectativa do poder  local,  conforme 
destaca o Diário do Nordeste, um dos jornais de circulação no Estado no dia seguinte após a sua 
posse: 
[...]  o  governador  Cid  Gomes  inaugura  uma  nova  etapa  na  administração  do 
Ceará, com planos de inovação no serviço público, para reduzir os gastos estatais 
e  sobrar dinheiro para  investimentos. À disposição do  seu governo, estará R$ 1 
bilhão em créditos aprovados por organismos financeiros. Mais uma vez, renova‐
se a esperança dos cearenses no trabalho e na competência de seu governante. 
(DIÁRIO DO NORDESTE, 2007)5. 
 
No campo educacional Cid Ferreira Gomes ainda comemorava a tão propagada experiência 
implementada  no  município  de  Sobral  amplamente  divulgada  como  referência  e  modelo  de 
política educacional a ser seguido na visão do MEC.           
Diante  do  fortalecimento  do  poder  local,  da  região  norte do  Estado emerge  o  político, 
jovem, arrojado, como modelo de administrador para dar o “salto” que o Ceará estava precisando 
para alavancar seu desenvolvimento. Muito embora, desde o governo anterior o Estado já lançava 
mão  de  práticas  administrativas  voltadas  à obtenção  de  resultados.  Segundo Medeiros  (2011, 
                                                           
5  CEARÁ.  Jornal  Diário  do  Nordeste.  Novos  Governantes.  Disponível  em:  <http://diariodonordeste.globo.com/ 
materia.asp?codigo=393999>. Acesso em 09 de maio de 2011. 
 
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p.13), “O início da implantação de GPR6 no Estado do Ceará ocorreu no Plano de Governo de 2003‐
2006,  denominado  Ceará  Cidadania,  Crescimento  com  Inclusão  Social,  do  Governador  Lúcio 
Alcântara,  documento  contendo  as  prioridades  do  Governo”.  Tal  política  administrativa  teve 
continuidade  e  até mesmo  ampliação  no  governo  de  Cid  Gomes,  conforme  segue  afirmando 
Medeiros (2011, p. 16): 
Em  2007,  o Governo  Cid Gomes assume  o  Estado  com o  Plano  de Governo O 
grande Salto que o Ceará Merece e, por meio da Lei nº 13.875, de 07 de fevereiro 
de  2007,  define  seu  modelo  de  governar,  “Gestão  por  Resultados  como 
administração  voltada  para  o  cidadão,  centrada  notadamente  nas  áreas 
finalísticas, objetivando padrões ótimos de eficiência, eficácia e efetividade” (DOE, 
2007, p.3). 
 
No Estado do Ceará, desde 1987 a administração pública já vivencia um forte processo de 
modernização implantado pelo “governo das mudanças” como assim  ficou conhecido o governo 
de  Tasso  Jereissati.  O  processo  de  modernização  do  Estado  cearense  se  deu  no  âmbito  da 
reformas  do  Estado  brasileiro  atendendo  ao  pacote  de  orientações  do  projeto  neoliberal  em 
andamento desde o governo Collor. “Em outras palavras, brandindo‐se os princípios neoliberais da 
eficiência, da  rigidez de  gastos, da austeridade,  administra‐se hoje o Estado  como  se  fosse um 
negócio7” (PAULINI, 2006, p.78).  
 
Conclusão 
 
A  Gestão  democrática  no  estado  do  Ceará  é  fruto  de  dois  movimentos  conjugados 
historicamente: de um  lado, a hegemonia burguesa; e, de outro, o  inventário de  reivindicações 
históricas da  classe  trabalhadora em educação que, em um dado momento,  viu  suas propostas 
sendo assumidas pelo poder central, adaptando‐as ao contexto do neoliberalismo. 
De modo que a centralidade da educação no debate contemporâneo está no argumento 
apresentado de que esta é indutora da diminuição da pobreza, vez que ao promover a transmissão 
de um conhecimento específico, calcado nas novas necessidades de habilidades e competências, 
numa sociedade globalizada, contribui para a inserção do trabalhador no mercado de trabalho.  
                                                           
6 Gestão Por Resultados ou Result Based Management (RBM). 
7 Grifo nosso. 
 
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Dentro desse contexto, surgiu  todo um movimento que buscou conciliar as demandas da 
modernidade,  leia‐se  da  nova  ordem  econômica  mundial,  através  da  cooptação  de  temas 
historicamente “caros” ao movimento de  luta dos educadores como expansão, democratização, 
equidade, autonomia, participação, emancipação e integração em que os vinculam aos princípios 
de  competitividade,  eficiência,  eficácia,  desempenho  e  descentralização,  próprios  de  uma 
economia inserida nos marcos das mudanças estruturais do Estado. 
Essas  reformas  encetadas  nos  diferentes  países  da  América  Latina  revelaram o  esforço 
violento que  foifeito no  sentido de  adequar os  seus  sistemas públicos de ensino,  conforme  a 
padronização  saída  dos  compromissos  assumidos  por  seus  governos  junto  aos  organismos 
internacionais, principalmente na Conferência Mundial sobre Educação para Todos  (Jontien). No 
expressar‐se de Krawczyk et al (2000, p.3): 
Ainda  que  impulsionadas  por  esses  movimentos,  as  políticas  educacionais 
acabaram  sendo  de  fato  fortemente  direcionadas,  tanto  na  definição  de  suas 
prioridades  quanto  de  suas  estratégias,  pelas  orientações  dos  organismos 
internacionais  financiadores,  principalmente  pelo  Banco  Mundial.  O  poder 
crescente  dos  bancos,  no  âmbito  político‐educacional,  obrigou  os  Estados 
nacionais  a  adaptarem‐se  aos  ritmos  impostos  para  a  Reforma,  provocando 
adoção de mudanças vertiginosas na área para não serem punidos. 
  
No que concerne à  reforma educacional no Ceará, sob a égide do governo neoliberal do 
“grupo das mudanças”, é necessário reconhecer que os aspectos encontrados não se distanciaram 
tanto  do  que  se  tem  observado  no  movimento  mais  amplo  das  reformas.  Sem  dúvida  a 
“Caminhada  Cearense”  logrou  êxito na  implementação  de  um  novo modelo de  organização  e 
gestão da educação pública. Entretanto, cabe perguntar a que preço? Geralmente ao se fazer este 
tipo de pergunta  pode‐se  correr  o  risco  de obter  resposta de  cunho maniqueísta.  A  intenção, 
porém, não é esta.  
No tecido traçado pela reforma educacional cearense, alguns elementos são muito fortes e 
deixam entrever com perfeita nitidez, a relação intrínseca entre a sua implantação e o espectro da 
reforma no Brasil, quando não no  restante da América Latina. Contudo, essa  realidade  tem uma 
tendência a ser escamoteada, seja porque se evita o aprofundamento nas discussões e debates 
sobre o chão histórico‐social em que se emaranhou a reforma, seja porque os atores sociais usam 
 
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de uma miopia quase que doentia ao tentarem revelar o ineditismo ou o pioneirismo da chamada 
“era das mudanças” na educação cearense. 
Em  verdade,  a  reforma educacional no Ceará  trançou‐se em  fios bem  conformados nas 
esferas nacional e  internacional num contexto socioeconômico e político de matiz conservador, 
servindo aos interesses do capitalismo globalmente hegemônico. Gerada com uma cor uniforme, a 
pretensa reforma não conseguiu ir além do previamente estabelecido e legitimado pelas agências 
internacionais de desenvolvimento. No entendimento de Krawczyk et al (2000, p.6): “As reformas 
educacionais tiveram um caráter homogeneizante tanto na leitura das realidades nacionais quanto 
nas suas propostas, pretendendo impor uma padronização de ações para a região”. 
É dessa forma, pois, que se dá o esvaziamento do conteúdo político da reforma, dado que 
o discurso oficial apropriou‐se da  “luta”, outorgando  reivindicações  como  a universalização e o 
acesso da educação, a democratização e a autonomia da escola, porque  lutar, então? Acontece, 
porém,  que  essas  políticas  implantadas,  nas  quais  absorveram  a  chamada  “demanda 
revolucionária” na educação pública,  tinham  como  intenção  subjacente não  à emancipação do 
sistema educacional na  concepção da  transformação  social, e  sim  a  adequação da educação  a 
nova  ordem  econômica  mundial.  Assim,  quando  se  faz  a  reforma  e  se  implanta  a  gestão 
democrática  faz‐se  com  vistas à qualidade, a eficiência e a eficácia do  sistema de ensino numa 
perspectiva gerencial, posto que o “discurso homogêneo” cristalizou‐se em focar a ineficiência e a 
ineficácia  da  escola  pública  como  se  esta  por  si  só  fosse  a  responsável  por  sua  condição  de 
produtora de fracassos.  
 
Referências 
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