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Julia Paris Malaco – ambulatório psiquiatria Ambulatório -Transtornos do sono Segundo a Classificação internacional dos distúrbios do sono (CIDS-2), existem mais de 81 distúrbios. Entretanto, essa classificação é feita para uso de especialistas nesses transtornos. Para os profissionais da saúde não especialistas em sono, em geral, os transtornos do sono mais importantes devem ser apresentados de forma mais acessível: transtorno de insônia; transtorno de hipersonolência; síndrome das pernas inquietas; transtornos do sono relacionados à respiração (apneias do sono); transtornos do sono-vigília do ritmo circadiano (tipo fase do sono atrasada e fase do sono avançada); narcolepsia; parassonias (sonambulismo, terror noturno, bruxismo). A Classificac ̧a ̃o Internacional dos Transtornos do Sono (CITS) de 2005 (International Classification of Sleep Disorders [ICSD-2] 2005) ordena os transtornos do sono em oito diferentes categorias de acordo com tre ̂s eixos centrais: Sintoma principal (p. ex., hiperso ̂nias, inso ̂nias, movimen- tos anormais durante o sono). Sistema funcional afetado (p. ex., distúrbios respiratórios). Fator fisiopatolo ́gicos (p. ex., parassonias, alterações do ritmo circadiano) O diagnóstico dos transtornos do sono é realizado por meio de anamnese detalhada referente aos comportamentos relacionados ao sono e à sonolência, sempre que possível com o paciente e pessoa que convive com ele e observa com frequência seu tipo e padrão de sono e vigília. Deve-se também, sempre que possível, utilizar o laboratório de sono, no qual são feitas as polissonografias com avaliações global, fisiológica e comportamental do sono, por meio de exames como eletrencefalograma, eletrocardiograma, eletroculograma, avaliação do fluxo aéreo oral e nasal, gases sanguíneos (saturação de oxigênio, concentração de dióxido de carbono), monitoração de movimentos corporais (como eletromiograma tibial), entre outros. Os sintomas de inso ̂nia caracterizam-se pela presenc ̧a de in- capacidade de iniciar ou manter o sono, sono de ma ́ qualidade, sin- tomas diurnos de fadiga ou baixo rendimento e insatisfac ̧a ̃o com a qualidade de sono obtida. Inso ̂nia pode significar sono de curta durac ̧a ̃o, insuficiente para manter o indivi ́duo alerta e com bem- estar fi ́sico e mental durante o dia. A inso ̂nia pode ser classificada conforme a durac ̧a ̃o em agu- da, cro ̂nica e intermitente e, de acordo com os sintomas, em inso ̂- nia inicial, intermediária ou despertar precoce ou terminal. A inso ̂- nia aguda dura menos de tre ̂s meses e em geral surge como respos- ta a fatores estressores de natureza psicoge ̂nica, me ́dica ou ambiental em uma pessoa com sono previamente normal, causando sobretudo dificuldade para iniciar o sono. A inso ̂nia crônica apresenta preva- le ̂ncia de 30 a 50%, e aproximadamente 9 a 15% dos portadores descrevem sintomas mais significativos. Conforme os sintomas, na inso ̂nia inicial, o paciente apresen- ta dificuldade para iniciar o sono, com durac ̧a ̃o superior a 30 minu- tos. A inso ̂nia intermedia ́ria e ́ caracterizada por despertares duran- te a noite que podem ser de curta ou de longa durac ̧a ̃o. A inso ̂nia terminal tem como principal sintoma o despertar precoce, ou seja, o paciente passa a acordar mais cedo do que o habitual. A Classificac ̧a ̃o Internacional dos Transtornos do Sono de 2005 (American Academy of Sleep Medicine, 2005) contempla os critéri- os A, B e pelo menos um dos itens de C para o diagno ́stico de trans- torno de insônia, independentemente das suas causas: A. Queixa de dificuldade para iniciar o sono, dificuldade para manutenc ̧a ̃o do sono, despertar precoce ou sono cronica- mente na ̃o-restaurador e de ma ́ qualidade. B. Os sintomas acima ocorrem apesar de existir contexto adequado para o sono. C. Presenc ̧a das seguintes queixas relacionadas a ̀s dificulda- des de sono listadas no item A: Fadiga De ́ficit de atenc ̧a ̃o, concentraça ̃o, memória Disfunc ̧a ̃o social, profissional ou acade ̂mica Irritabilidade Sonole ̂ncia excessiva diurna (SED) (exceto na insô- nia psicofisiolo ́gica) Falta de motivaça ̃o, energia Julia Paris Malaco – ambulatório psiquiatria Propensa ̃o a erros, acidentes no trabalho ou ao dirigir Cefale ́ias, tensa ̃o, sintomas gastrintestinais Preocupac ̧a ̃o com o sono Transtornos de insônia O transtorno de insônia caracteriza-se pela dificuldade em adormecer (insônia inicial), em permanecer adormecido ou por despertares frequentes (sono entrecortado) ou despertar muito precoce, com o indivíduo acordando de madrugada (geralmente por volta das 3 às 5 horas da manhã) e não conseguindo voltar a dormir. Não importa só a redução da quantidade de sono, mas também de sua qualidade e, sobretudo, a sensação de ter tido um sono reparador De acordo com o Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5), as dificuldades com o sono devem ocorrer por pelo menos três noites por semana e permanecer por pelo menos três meses. Ter insônia implica prejuízo no funcionamento diário e piora na qualidade de vida em decorrência do sono ruim. Ainda para o diagnóstico, o transtorno de insônia não deve ser causado pelo efeito fisiológico de alguma substância ingerida ou por condição médica (dor, insuficiência cardíaca congestiva, doença pulmonar obstrutiva crônica). Cerca de metade dos quadros de insônia se associa a transtornos psicopatológicos (depressão, ansiedade, fobias, dependência química, transtorno bipolar, entre outros) ou doenças ou condições médicas (obesidade, síndromes dolorosas, refluxo gastresofágico, doenças pulmonares que implicam dificuldades respiratórias, insuficiência cardíaca congestiva e hipertrofia prostática). Alguns hábitos e fatores relacionados à insônia são: hábitos inadequados como dormir muito durante o dia ou acordar em horas diferentes a cada dia, tomar quantidades excessivas de café durante o período noturno, ingerir excessivamente álcool ou outras substâncias psicoativas, comer excessivamente à noite, além de realizar tarefas e atividades muito tensas no período noturno. Insônia psicofisiolo ́gica Essa e ́ uma forma de insônia prima ́ria que se caracteriza prin- cipalmente por dificuldade em iniciar ou manter o sono, ma ́ quali- dade de sono, diminuic ̧a ̃o do tempo total de sono, aumento do tem- po de sono superficial, fadiga, cansac ̧o, irritabilidade, disforia, an- siedade e sintomas leves de depressa ̃o. Ocorre devido a dois fatores que mutuamente se reforc ̧am: tensa ̃o somatizada por internalizaça ̃o de emoc ̧ões e condicionamento negativo aprendido em relac ̧a ̃o ao ato de dormir, provocando estado de hiperalerta. Pode se iniciar devido a estresse identifica ́vel, tornando-se cro ̂nica quando o pa- ciente desenvolve preocupac ̧a ̃o intensa com o sono por causa de inúmeras tentativas infruti ́feras de dormir. O paciente caracteristi- camente fica tentando dormir, gerando ciclo vicioso: quanto mais tenta dormir, fica mais agitado e desperto, aumentando, assim, a dificuldade para adormecer. Outra caracteri ́stica é a facilidade para adormecer longe do ambiente habitual, como em hote ́is, assistindo a ̀ televisa ̃o ou no laboratório de sono. As principais modalidades de tratamento comportamental sa ̃o: restriça ̃o de sono, medidas de higiene de sono (Quadro 25.1), controle de estímulo, te ́cnicas de relaxamento e controle do estresse e psicote- rapia cognitivo- comportamental. A farmacoterapia da inso ̂nia psicofisiolo ́gica inclui o uso de antidepressivos e/ou de agentes hipno ́ticos Insônia idiopa ́tica Inicialmente denominada como “inso ̂niacom início na infân- cia”, este quadro e ́ definido como impossibilidade cro ̂nica de se obter sono suficiente que se inicia na infa ̂ncia ou antes da puberda- de e persiste durante a vida adulta. Os fatores agravantes incluem condicionamentos negativos, transtornos psiquia ́tricos, abuso de drogas que podem dificultar o diagno ́stico, o qual e ́ firmado quan- do nenhum transtorno me ́dico ou psiquia ́trico pode explicar o ini ́- cio precoce da inso ̂nia. Os tratamentos da inso ̂nia idiopa ́tica são geralmente pouco satisfato ́rios, sendo usados os mesmos agentes descritos no tratamento da inso ̂nia psicofisiolo ́gica, com resposta terapêutica parcial Insônia paradoxal Tambe ́m conhecida como ma ́ percepc ̧a ̃o do padra ̃o de sono ou pseudo-inso ̂nia, e ́ um transtorno caracterizado por queixas sub- jetivas de inso ̂nia relatadas pelo paciente, mas sem elementos polissonogra ́ficos objetivos que evidenciem anormalidades no pa- dra ̃o de sono. A origem dos sintomas subjetivos de insatisfac ̧a ̃o com a qualidade do sono e ́ desconhecida e parece estar ligada a ̀ presença de excesso de ritmos ra ́pidos no EEG de sono. Seu diagno ́stico e ́ firmado na ause ̂ncia de outros transtornos do sono ou mentais ou doenc ̧as me ́dicas e psiquia ́tricas que justifiquem os sintomas, e a polissonografia deve demonstrar a late ̂ncia de sono abaixo de 30 Julia Paris Malaco – ambulatório psiquiatria minutos e a eficiência do sono equivalente acima de 85%. O trata- mento consiste em orientac ̧a ̃o psicolo ́gica. Inso ̂nia secunda ́ria a transtorno mental e co- morbidade O fator essencial dessa forma de inso ̂nia e ́ a relac ̧a ̃o causal direta ou temporal com um transtorno mental subjacente. Transtor- nos do humor (como depressa ̃o, distimia, ciclotimia ou transtorno bipolar), transtornos de ansiedade, esquizofrenia, farmacodepen- de ̂ncias e transtornos somatoformes sa ̃o exemplos de psicopatologias que cursam com inso ̂nia. O diagno ́stico de inso ̂nia secunda ́ria a trans- torno mental pressupo ̃e a existe ̂ncia de transtorno mental que cau- se e sustente os sintomas de insônia e, uma vez que a psicopatologia subjacente seja estabilizada, a inso ̂nia deve necessariamente desa- parecer (American Academy of Sleep Medicine, 2005). Contudo, se o transtorno mental apresenta relac ̧a ̃o reci ́proca bidirecional com os sintomas de insônia, isto e ́, a inso ̂nia contribui com o transtorno mental e vice-versa, o conceito mais correto e ́ insônia como co-morbidade de transtorno mental. Um exemplo dessa relac ̧a ̃o e ́ a insônia presente no alcoolista que causa as recai ́das no uso/abuso de a ́lcool. Inso ̂nia secunda ́ria ao uso de hipno ́ticos O fator essencial desse tipo de inso ̂nia é o padra ̃o de tolera ̂n- cia e depende ̂ncia de hipno ́ticos em pacientes previamente diag- nosticados com insônia prima ́ria ou secunda ́ria a transtorno mental ou co-morbidade ou distúrbio cli ́nico. Fatores predisponentes para o desenvolvimento da inso ̂nia secunda ́ria a uso de hipno ́ticos sa ̃o: Uso de benzodiazepi ́nicos de meia-vida curta. Tempo de uso prolongado (meses ou anos). Uso indevido (dosagem acima da prescrita). Caracteri ́sticas do paciente (saúde em geral e uso de outros medicamentos). Primeiramente, ha ́ o desenvolvimento de tolera ̂ncia para a dose terape ̂utica prescrita no início e os sintomas de inso ̂nia reapa-recem. Consequ ̈entemente, o paciente aumenta a dose do hipno ́ti- co, de forma sucessiva, com o objetivo de obter ali ́vio da sobreposic ̧a ̃o de sintomas de insônia com sintomas de abstine ̂ncia. Tentativas de reduzir a dose permitem o aparecimento de sintomas de abstinência, com inso ̂nia rebote, tremores, sudorese, na ́useas e ansiedade. Fatores psicológicos, como crenc ̧as a respeito do padra ̃o de sono, perpetuam a depende ̂ncia. Insônia aguda O elemento essencial deste diagno ́stico e ́ a presenc ̧a de sinto- mas de inso ̂nia associada ao fator precipitante causal identifica ́vel de forma clara em pessoa com sono previamente normal sem quei- xas de inso ̂nia (American Academy of Sleep Medicine, 2005). O quadro cli ́nico deve durar alguns dias ou no ma ́ximo tre ̂s meses. O fator estressor precipitante pode ser psicolo ́gico ou fi ́sico, por exem- plo, demissa ̃o, provas, vestibular, viagem, diagno ́stico de condic ̧a ̃o me ́dica, hospitalizaça ̃o e ambiente de sono desconforta ́vel. A inso ̂nia aguda caracteristicamente se resolve com a suspen- sa ̃o do fator estressor precipitante. Os hipno ́ticos benzodiazepi ́nicos e na ̃o- benzodiazepi ́nicos de meia-vida curta e de inicio de ac ̧a ̃o ra ́pida sa ̃o usados no tratamento da insônia aguda (Tab. 25.3). Midazolam, triazolam, zopiclone, eszopiclone, zaleplon e zolpidem apresentam esse perfil. Agentes ansiolíticos benzodiazepi ́nicos podem ser indicados quando houver ni ́veis significativos de ansiedade secunda ́ria ao fator estressante. Tratamento com medicações parkisonianas ou tricíclicos, antidepressivos, anti histamínicos, anti convulsivantes, anti psicóticos, benzodiazepínicos são todos usados para tratamento quando a insônia tem uma causa, por seu efeito colateral é o sono Quando a insônia não tem uma causa especifica, são usados medicamentos próprios para insônia Transtorno de hipersonolência (dsm-5) No transtorno de hipersonolência, o sujeito relata sonolência excessiva apesar de dormir pelo menos 7 horas por dia. Durante o dia, há períodos recorrentes de sono ou de cair no sono ou de sentir que o sono não é reparador, mesmo depois de haver dormido bem. Há queixas de não se sentir totalmente acordado depois de um despertar abrupto. Pessoas com esse transtorno conseguem dormir rapidamente, e há boa eficiência do sono (≥ 90%); entretanto, podem ter dificuldade para acordar pela manhã e, às vezes, parecem confusas ou atáxicas (desequilíbrio motor) ao acordar. Ao despertar do sono da noite (ou depois de um cochilo), o indivíduo pode apresentar declínio da habilidade motora, lapsos de memória, desorientação no tempo e no espaço e sensação de atordoamento Hipersonias recorrentes O diagnóstico mais comum e ́ a Si ́ndrome de Kleine-Levin (SKL) (Dauvilliers et al., 2002). Na sua Julia Paris Malaco – ambulatório psiquiatria forma típica, apresenta epi- sódios de hipersonia, hiperfagia e alterac ̧ões psi ́quicas. Os episo ́di- os cri ́ticos duram de 12 horas ate ́ 3 a 4 semanas (mais comumente 4 a 7 dias), podendo ser desencadeados por ansiedade e infecc ̧a ̃o viral, entre outros. Os intervalos assintoma ́ticos podem durar de meses a anos. Durante o surto, o paciente dorme por peri ́odos pro- longados (18 a 20 horas), acordando geralmente para comer de maneira compulsiva, sendo que nas formas ati ́picas, na ̃o ha ́ compulsa ̃o alimentar. Podem ocorrer alterações do comportamen- to sexual (hiper ou hipossexualidade), agressividade, transtorno amne ́stico, sintomas depressivos e ate ́ alucinac ̧ões, por vezes, difi- cultam o diagno ́stico com quadros depressivos ou esquizofre ̂nicos. Nos intervalos, os pacientes sa ̃o absolutamente normais e, em ge- ral, relatam amne ́sia ao peri ́odo cri ́tico. A SKL e ́ rara, mais frequ ̈en- te no sexo masculino (4:1), com ini ́cio geralmente na segunda de ́- cada de vida. E ́ autolimitada, desaparecendo geralmente antes dos 25 a 30 anos de idade. A etiopatogenia e ́ desconhecida, mas ha ́ indi ́cios de desregulac ̧a ̃o dopamine ́rgica- hipotalâmica Hipersonia idiopa ́tica Transtorno de etiologia desconhecida, provavelmente decor- rente de disfunc ̧a ̃o da neurotransmissa ̃o no SNC. Caracteriza-se como transtorno do sono NREM com sonole ̂ncia excessiva diurna, cochilos prolongados na ̃o- reparadores e sono noturnolongo sem despertares (Overeem; Mignot; Dy ̈k, 2001). O paciente também apresenta difi- culdade para despertar pela manha ̃, com confusa ̃o mental e atitudes agressivas. A sonole ̂ncia excessiva, por acarretar comportamentos automa ́ticos, pode causar acidentes graves. Tipicamente, inicia-se na segunda década de vida Síndrome das pernas inquietas (dsm-5) Essa síndrome se caracteriza pela necessidade de mover as pernas, em geral acompanhada pela sensação de desconforto nelas ou “dentro” delas (mais raramente, pode acometer os braços e todo o corpo). Podem ocorrer sensações parestésicas (formigamentos, sensação de peso ou de pinicar, etc.) nas pernas, entre o tornozelo e o joelho. Esse desconforto se intensifica com o repouso e melhora com o movimento. A sensação se agrava durante período de repouso ou inatividade e é pior no final da tarde ou à noite, prejudicando gravemente o sono. A necessidade de movimentar as pernas é aliviada, completa ou parcialmente, pelo movimento. Para o diagnóstico, ela deve ocorrer por pelo menos três vezes por semana e persistir por pelo menos três meses (DSM-5). É uma si ́ndrome neurossensitivo-motora que se caracteriza por quatro elementos que constituem seus crite ́rios diagnósticos Presenc ̧a da necessidade compulsiva, irresistível e in- tensa de movimentar os membros afetados, geralmen- te acompanhada de sensac ̧ões sensoriais pareste ́sicas desagrada ́veis nas pernas entre o tornozelo e o joelho. Por vezes, a necessidade de movimentar os membros na ̃o e ́ acompanhada do desconforto caracteri ́stico e outros segmentos do corpo, ale ́m das pernas, sa ̃o aco- metidos, como os brac ̧os. A necessidade compulsiva e irresisti ́vel de movimentar os membros e/ou o desconforto comec ̧am ou pioram em peri ́odos de repouso, com o paciente sentado ou deitado. A necessidade compulsiva e irresisti ́vel de movimentar os membros e/ou o desconforto sa ̃o aliviados tempora ́- ria e parcialmente por exerci ́cios e massagens que ame- nizam apenas os sintomas de desconforto nos membros, mas na ̃o os sintomas de fadiga. A necessidade compulsiva e irresisti ́vel de movimentar os membros e/ou o desconforto apresentam caracteri ́s- tica circadiana ocorrendo no hora ́rio noturno antes de dormir, geralmente depois da meia-noite. Apneia do sono De modo geral, a apneia do sono caracteriza-se pela ocorrência de muitas pausas respiratórias curtas, de 10 a 50 segundos, durante o sono. Nos episódios de apneia, o indivíduo pode roncar, a saturação sanguínea de oxigênio cai, e, com frequência, ocorre breve despertar. O DSM-5 subdivide os transtornos do sono relacionados à respiração (TSRR) em apneia e hipopneia obstrutivas do sono, apneia central do sono e hipoventilação relacionada ao sono. Os principais sintomas noturnos da SAHOS incluem roncos, pausas respirato ́rias, noctu ́ria, ale ́m de queixas de sono agitado com movimentac ̧ão de tronco e membros e sudorese noturna. Os princi- pais sintomas durante a vigi ́lia sa ̃o sonole ̂ncia excessiva diurna, cefale ́ias e sintomas neuropsicológicos, como alterac ̧ões de memo ́- ria, de atenc ̧a ̃o e de func ̧ões psicomotoras. Apneia e hipopneia obstrutivas do sono Trata-se de um tipo de apneia/hipopneia (pausa respiratória) causado pela obstrução das vias aéreas superiores (VAS), ocorrendo Julia Paris Malaco – ambulatório psiquiatria periodicamente o colabamento das VAS. Tal distúrbio associa-se, com frequência, a sobrepeso ou obesidade, pescoço curto e/ou alterações estruturais da cavidade orofaríngea (como palato rebaixado). Há, com frequência, o relato de roncos altos, interrompidos periodicamente por pausas respiratórias. A apneia obstrutiva frequentemente é acompanhada de sonolência diurna mais ou menos intensa, fadiga e sensação de sono não reparador. Havendo os sintomas de roncos e/ou respiração difícil durante a noite, deve também haver, para o diagnóstico, evidências polissonográficas de pelo menos cinco apneias/hipopneias obstrutivas por hora de sono. Se não houver os sintomas relatados, caso a polissonografia identifique 15 ou mais apneias/hipopneias por hora de sono, faz-se também o diagnóstico de apneia/hipopneia obstrutiva do sono, ou seja, com base mais em evidência laboratorial do que clínica (DSM-5). Apneia central do sono A apneia central do sono caracteriza-se por episódios repetidos de apneia (pausas respiratórias breves) e hipopneia enquanto o paciente dorme, causados pela variabilidade no esforço respiratório (involuntário). É, assim, um transtorno do controle (involuntário) ventilatório, em eventos que ocorrem em padrão periódico ou intermitente. O paciente apresenta despertares frequentes durante a noite, às vezes associados com sensação de sufocamento. As principais queixas são de sono não reparador, sonolência, insônia e cansaço pela manhã. O sobrepeso não é tão frequente, e o ronco, quando observado, não é de forte intensidade. Quando a apneia central do sono acomete pessoas com insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral ou insuficiência renal, pode apresentar um padrão respiratório denominado respiração de Cheyne- Stokes. Esta se caracteriza por um padrão periódico do tipo crescendo-decrescendo no volume corrente de ar, relacionado a apneias e hipopneias centrais, que ocorre com frequência de pelo menos cinco eventos por hora, acompanhados de despertares frequentes (DSM- 5). Também se descreve a hipoventilação relacionada ao sono (HRS), na qual a polissonografia revela respiração no sono reduzida associada a níveis elevados de CO2 . Com frequência, as pessoas com HRS relatam sonolência excessiva durante o dia, excitações e despertares frequentes durante o sono, cefaleias matutinas e insônia. Transtornos do sono-vigília do ritmo circadiano Nesse caso, verifica-se um padrão persistente ou recorrente de perturbação do sono devido a alterações do sistema circadiano (regulação fisiológica do ritmo sono-vigília em um dia de 24 horas), em que há desequilíbrio entre o ritmo circadiano endógeno (o ritmo biológico do indivíduo, ao longo do dia) e os horários de sono e de vigília impostos ou normatizados pelo ambiente físico (luminosidade) e social, sejam as normas da família, sejam as exigências do trabalho e/ou escola. O aspecto principal dos transtornos circadianos do ciclo sono- vigi ́lia e ́ o desalinhamento do hora ́rio do peri ́odo principal de sono com o hora ́rio desejado pelo paciente ou imposto socialmente. Por- tanto, o sintoma principal dos transtornos circadianos do ciclo sono- vigi ́lia é a incapacidade de conciliar o sono naturalmente em hora ́- rio desejado ou esperado. Os transtornos circadianos do ciclo sono-vigi ́lia sa ̃o classifi- cados em duas categorias: transtornos prima ́rios, que se devem a ̀ disfunc ̧a ̃o prima ́ria do sistema temporizador do SNC (nu ́cleo supra- quiasma ́tico [NSQ] localizado no hipota ́lamo anterior), e transtor- nos secunda ́rios, resultantes dos efeitos ambientais ou sobre o sis- tema temporizador Tipo fase do sono atrasada e tipo fase do sono avançada (DSM-5) O transtorno do sono tipo fase do sono atrasada se manifesta por histórias de atraso no horário principal do sono (em geral, mais que 2 horas) em relação aos horários desejados de dormir e despertar, o que acaba resultando em sintomas de insônia e sonolência excessiva durante o dia. A prevalência nos Estados Unidos é de cerca de 0,17% na população em geral, mas em adolescentes pode situar-se entre 7 e 16%. O curso é persistente, com duração superior a três meses (Zhu; Zee, 2012; APA, 2014). De modo geral, o indivíduo não consegue dormir na mesma hora que seus familiares ou pares, ou que deseja, podendo atrasar progressivamente ohorário em que adormece. Tem de despertar nos horários relacionados a estudo, trabalho ou outra atividade social, apresentando, então, importante fadiga e sonolência ao longo do dia (um paciente de 22 anos relatava “não consigo dormir na hora que desejo, cada dia adormeço mais tarde e passo os dias de forma imprestável, com um cansaço enorme”). O transtorno tipo fase do sono avançada se caracteriza pelos horários de adormecer e despertar estarem várias horas avançadas em relação aos horários desejados ou convencionais. São os indivíduos chamados “tipos matutinos”, Julia Paris Malaco – ambulatório psiquiatria com horários de dormir de 2 a 4 horas mais cedo que o habitual em seu grupo. Narcolepsia (dsm-5) caracteriza-se por ataques ou períodos recorrentes de necessidade irresistível de dormir, cair no sono ou cochilar em um mesmo dia. Os ataques do transtorno devem ocorrer por pelo menos três vezes por semana, durante pelo menos três meses (DSM-5). Os ataques de narcolepsia são ataques diurnos de sono REM, com sonolência intensa e abrupta, como se a atividade neurofisiológica característica desse tipo de sono “invadisse” a vigília (revisão em Mignot, 2014). Além da sonolência diurna, a narcolepsia manifesta-se clinicamente por ataques de cataplexia, que é uma crise breve (de segundos a minutos) de perda bilateral de tônus muscular, com manutenção da consciência, geralmente desencadeados por risos ou brincadeiras. O indivíduo cai repentinamente ao chão. Crianças podem ter uma forma parcial da cataplexia, com hipotonia sem queda, abertura da mandíbula e projeção da língua. Para o diagnóstico, também é importante verificar a deficiência do neuropeptídeo produzido na área hipotalâmica lateral, hipocretina-1, no líquor (líquido cerebrospinal). Os níveis de hipocretina-1 devem ser iguais ou inferiores a um terço dos valores obtidos em indivíduos saudáveis. A polissonografia do sono noturno demonstra latência do sono REM inferior ou igual a 15 minutos. Podem ocorrer também alucinações hipnagógicas (ao adormecer) ou hipnopômpicas (ao despertar) caracteriza-se por sonole ̂ncia excessiva cro ̂nica, presen- c ̧a de feno ̂menos de sono REM (cataplexia, alucinac ̧ões hipnago ́- gicas e paralisia do sono) e sono noturno fragmentado. Esses sinto- mas constituem a pe ̂ntade da narcolepsia. O principal sintoma, a sonole ̂ncia excessiva, inicia- se caracte- risticamente na segunda de ́cada de vida, sendo incapacitante, cro ̂- nica e não- progressiva. Pode ser persistente e se manifestar por cri- ses súbitas e incontrola ́veis de sono. Os cochilos, mesmo de curta durac ̧a ̃o, sa ̃o reparadores, e a sonole ̂ncia diminui por peri ́odos vari- áveis de até horas de durac ̧a ̃o. E ́ frequ ̈ente o relato de sonho nesses cochilos diurnos. A cataplexia e ́ a perda súbita total ou parcial do tônus da musculatura volunta ́ria (ha ́ preservac ̧a ̃o da musculatura ocular e respirato ́ria) desencadeada exclusivamente por emoc ̧ões, sobretu- do riso e raiva. A conscie ̂ncia esta ́ preservada durante o episo ́dio de cataplexia e ha ́ recuperac ̧a ̃o imediata do controle motor ao final da crise. Às vezes, o paciente dorme apo ́s o episódio, entrando em sono REM. A cataplexia e ́ o sintoma mais especi ́fico e, portanto, patogno- mo ̂nico de narcolepsia, podendo constituir o sintoma inicial em seis a 10% dos casos. Os outros tre ̂s sintomas (alucinac ̧ões hipnago ́gicas, paralisia de sono e sono noturno fragmentado) da pe ̂ntade não sa ̃o patognomo ̂nicos de narcolepsia. Parassonias As parassonias caracterizam-se por eventos comportamentais ou fisiológicos anormais associados a estágios específicos do sono ou da transição sono-vigília, alterações do despertar ou despertar incompleto (revisão em Howell, 2012). O sonambulismo é um transtorno de despertar do sono não REM caracterizado por levantar-se da cama durante o sono com olhar fixo e rosto vazio. O indivíduo não responde aos esforços de comunicação feitos pelos outros e pode executar comportamentos complexos durante o episódio, geralmente iniciados na fase 3 ou 4 do sono não REM (sono profundo, de ondas lentas). O comportamento complexo pode incluir atos automáticos como andar, trocar de roupa, urinar no armário. O indivíduo pode ser acordado apenas com muita dificuldade. É relativamente comum na infância e na adolescência (principalmente em crianças entre 4 e 8 anos), tendendo a desaparecer na fase adulta. Sonambulismo Caracteriza-se por comportamentos motores semi-estrutu- rados, estereotipados automa ́ticos, como sentar-se na cama, levan- tar e ate ́ deambular de olhos abertos com expressa ̃o facial vaga e distante, terminando com o sona ̂mbulo voltando para a cama ou permanecendo em outro ambiente. A durac ̧a ̃o dos episódios pode ser de alguns minutos. A atividade autono ̂mica e ́ mi ́nima e se o indivi ́duo e ́ acordado ha ́ confusa ̃o mental. O terror noturno caracteriza-se por despertar de uma fase de sono profundo (sono de ondas lentas, geralmente na fase 4) com um grito lancinante, de pânico, acompanhado de manifestações de medo intenso e sintomas autonômicos (taquicardia, respiração rápida, sudorese e midríase). A crise costuma durar de 5 a 20 minutos. Não se trata de um pesadelo (que é um tipo de sonho, ocorrendo mais frequentemente na fase REM). Em geral, após o grito, o indivíduo se senta Julia Paris Malaco – ambulatório psiquiatria na cama, agitado e, aparentemente, com muito medo, apresentando midríase e taquipneia, depois volta a dormir. Há poucas respostas aos esforços dos outros de confortar a pessoa. Tanto para o sonambulismo como para o terror noturno, no dia seguinte, o indivíduo não se lembra de nada ou quase nada do que ocorreu, havendo, portanto, amnésia em relação ao episódio. O despertar e ́ súbito e o paciente emite um grito estridente e agudo sentando-se na cama com expressa ̃o facial de extremo ter- ror; ha ́ manifestações autono ̂micas muito intensas, como taquicardia, taquipne ́ia, vermelhida ̃o de pele, sudorese e midri ́ase. Os episódios duram de 5 a 20 minutos. A persiste ̂ncia ou o aparecimento na ida- de adulta tem as mesmas implicac ̧ões fisiopatológicas que o sonam- bulismo. O sonilóquio (falar dormindo) é a produção de sons, palavras ou mesmo frases durante a noite, sem a tomada momentânea de consciência do indivíduo que as produz e sem a lembrança, no dia seguinte, de ter falado ou do conteúdo daquilo que foi dito. A paralisia do sono consiste em um despertar (ou adormecer) incompleto. O indivíduo, ao despertar (ou ao adormecer), apresenta fraqueza muscular importante e é incapaz de realizar atividade motora voluntária. Por alguns segundos, sente-se muito angustiado por não poder mover um só dedo, apesar de já estar consciente; logo, então, desperta. Podem ocorrer alucinações hipnagógicas (alucinações geralmente visuais, ao adormecer) ou hipnopômpicas (o mesmo, ao despertar). O bruxismo também pode ser considerado um transtorno do despertar parcial, a partir de um período de sono profundo (fase 3 ou 4). Dormindo, o indivíduo range vigorosamente os dentes, devido à atividade rítmica do músculo masseter. As consequências são desgaste dos dentes, dor local, cefaleias, disfunção da articulação temporomandibular e sono de má qualidade (Azevedo; Alóe; Tavares, 2007). A enurese noturna também ocorre durante o sono profundo, geralmente em crianças com mais de 4 anos de idade (até essa idade, a enurese não é considerada anormal). Acomete mais crianças de até 6 anos (25% dos meninos e 15% das meninas) e ocorre em 2% dos adultos. Há micção involuntária durante a noite, em geral no primeiro terço (com mais frequência no estágio 2 do sono não REM),devido ao relaxamento do esfincter urinário. Tanto tendência hereditária (há muita recorrência familiar do transtorno) como conflitos emocionais (insegurança, hostilidade, medo, separação ou doença dos pais ou avós) estão associados à enurese na infância. A condição tende a desaparecer com o passar dos anos; porém, um número considerável de crianças enuréticas sente muita vergonha, culpa ou ansiedade por apresentar tal transtorno. Os pesadelos são sonhos ansiosos, com conteúdos ameaçadores e terroríficos, que ocorrem, na maior parte das vezes, durante o sono REM, no terço final da noite. O indivíduo pode acordar durante o episódio e, muitas vezes, lembrar-se com clareza de seu conteúdo no dia seguinte. Os pesadelos podem estar associados a conflitos emocionais inconscientes ou conscientes, períodos de ansiedade e tensão, preocupações e temores antigos ou atuais. Deve-se buscar diferenciar claramente os pesadelos (sono REM, último terço da noite) do terror noturno (sono profundo, primeiro terço da noite). Quando há recorrência dos pesadelos, extremamente disfóricos, com sensação de ameaça à sobrevivência ou à integridade física, e a experiência causa sofrimento significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas da vida do indivíduo, o DSM-5 propõe denominar transtorno do pesadelo. Transtornos do despertar Apresentam-se como amplo espectro cli ́nico, desde desper- tar com confusa ̃o mental, sonambulismo e terror noturno e/ou com- binac ̧a ̃o dessas condic ̧ões. Sa ̃o considerados como despertar parci- al do sono NREM com ativac ̧a ̃o parcial do sistema motor ou autono ̂mico e apresentam certas caracteri ́sticas em comum, como histo ́rico familiar positivo, surgimento do sono delta (esta ́gios 3 e 4 do sono NREM), ocorre ̂ncia no primeiro terço do ciclo do sono, amne ́sia parcial ou total para o evento; sa ̃o comuns na infa ̂ncia e diminuem ou desaparecem com a idade; os fatores desencadeantes incluem febre, privac ̧a ̃o do sono, uso ou retirada de a ́lcool, retirada de benzodiazepi ́nicos, uso ou retirada de antidepressivos, ansieda- de e si ́ndrome da apne ́ia obstrutiva do sono. Os fatores gene ́ticos da regulac ̧a ̃o e maturac ̧a ̃o do SNC levam ao feno ̂meno de “desper- tar parcial” do sono delta
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