Líquido cefalorraquidiano e líquido sinovial

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Izabelly Thays Ramos Silva - Medicina - Faculdade Integrada Tiradentes 
Líquidos orgânicos 
A análise dos líquidos orgânicos é 
uma ferramenta importante para o 
diagnóstico, monitoramento e prognóstico 
de processos infecciosos, inflamatórios, 
hemorrágicos e neoplásicos. 
 
Líquido cefalorraquidiano (LCR) 
 O líquido cefalorraquidiano (LCR) é 
um fluido biológico produzido pelos plexos 
coroides e presente nos ventrículos 
cerebrais e no espaço subaracnóideo. Suas 
funções incluem: 
✓ Proteção mecânica do encéfalo e da 
medula espinhal contra choques e 
pressão; 
✓ Função imunológica; 
✓ Veículo para excreção e difusão de 
substâncias. 
A análise laboratorial do LCR é 
fundamental para o diagnóstico e 
acompanhamento de patologias 
neurológicas, como a meningite. 
Para coleta do LCR, existem três 
vias: lombar (mais comum), suboccipital e 
ventricular (crianças e neonatos). 
 Há contraindicações para a 
realização da punção lombar, descritas a 
seguir: 
✓ O paciente não deve estar fazendo 
uso de medicação anticoagulante e/ou 
drogas que interfiram na coagulação 
sanguínea; 
✓ O paciente não deve apresentar uma 
contagem de plaquetas inferior a 
50000/mm3. 
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As etapas da punção lombar 
compreendem: 
✓ Colocar o paciente em posição fetal ou 
sentado com a cabeça abaixada; 
✓ Introduzir a agulha, entre as vértebras 
L3 e L4, e deixar que o líquido saia 
naturalmente para frascos estéreis 
sem anticoagulante - o volume 
puncionado não deve exceder 1/7 do 
volume total; 
✓ Coletar três tubos identificados com os 
números 1 (análises bioquímicas e 
sorológicas), 2 (exames 
microbiológicos) e 3 (contagens 
celulares), na ordem em que são 
obtidos; 
✓ Após o exame, se necessário, manter 
o paciente deitado com a cabeceira 
baixa por algumas horas para evitar dor 
de cabeça (↓pressão intracraniana). 
Ao exame físico, é importante 
observar o aspecto do LCR: 
✓ Normal: estéril, com aspecto aquoso e 
transparente; 
✓ Patológico: tonalidade variável, desde 
levemente opalescente até turvo; 
✓ Hemorrágico: sugestivo de hemorragia 
subaracnóide (sobrenadante após 
centrifugação) ou acidente de punção 
(presença de coágulo). 
Aspectos 
Límpido 
Levemente turvo 
Turvo/Opalescente 
Purulento 
Além disso, é necessário analisar a 
coloração do líquido: 
✓ Normal: incolor; 
✓ Xantocrômico: cor acastanhada 
(presença de meta-hemoglobina) ou 
avermelhada (presença de oxi-
hemoglobina). 
 
Na análise bioquímica do LCR, 
observa-se a concentração de: 
✓ Proteínas: níveis aumentados em 
meningites bacterianas e virais e 
diminuídos no hipotireoidismo; 
✓ Glicose: 60% a 70% da glicemia em 
jejum. A concentração está 
aumentada na hiperglicemia diabética e 
diminuída nas meningites piogênica 
aguda, tuberculosa e criptococócica; 
✓ Cloro: uma ou duas vezes maior que a 
concentração sérica. Níveis diminuídos 
são encontrados nas meningites 
tuberculosa, bacteriana e 
criptococócica; 
✓ Lactato-desidrogenase (DHL): elevada 
quando a relação líquor/soro é maior 
que 0,1. A elevação é característica de 
meningite e leucemia; 
✓ Creatinoquinase (CK): casos de 
hemorragia subaracnóidea e meningite 
bacteriana elevam a concentração de 
CK-BB; 
✓ Ácido lático: útil para diferenciar 
meningites virais (níveis raramente 
excedem 25 a 30mg/dl) de outras 
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formas de meningites (níveis 
superiores a 35mg/dl). 
Para análise citológica, os valores de 
referência são: 
 Hemácias Leucócitos 
Adultos 0 0 a 100 
Neonatos 0 a 5 0 a 30 
 
Células Adultos Neonatos 
Neutrófilos 2 a 7 3 a 8 
Linfócitos 28 a 96 2 a 38 
Monócitos 16 a 56 50 a 94 
Eosinófilos Raros Raros 
Outras Raros 1 a 5 
 
 No exame microbiológico, 
destacam-se: bacterioscopia (Gram) e 
cultura do líquor (prova do satelitismo, ágar 
chocolate e degradação de glicose e 
maltose). 
 
Líquido sinovial 
 O líquido sinovial, elemento formador 
do sistema locomotor, é um ultra filtrado 
do plasma composto por ácido hialurônico 
e proteínas de alto peso molecular - 
mesma composição bioquímica do plasma. 
 Apresenta como principais funções: 
fornecer nutrientes para as cartilagens e 
atuar como lubrificante das faces 
articulares móveis. 
 A análise laboratorial do líquido 
sinovial é útil na investigação de artrite 
supurativa aguda, gota e pseudogota e no 
diagnóstico diferencial de artrite. 
 Na artrocentese, ou punção 
articular: 
✓ O líquido sinovial deve ser coletado em 
condições estéreis, em um frasco com 
heparina; 
✓ O material colhido deve ser distribuído 
em três tubos - tubo com 
anticoagulante EDTA (análise 
citológica), tubo sem anticoagulante 
(exames bioquímicos e imunológicos) e 
tubo estéril (exame microbiológico); 
✓ O paciente deve estar em jejum há, 
no mínimo, 6 horas; 
✓ Deve ser colhida uma glicemia de 
jejum. 
 
Ao exame físico, são analisados o 
aspecto, a cor e a viscosidade. Quanto ao 
aspecto: 
✓ Límpido; 
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✓ Turvo ou ligeiramente turvo: 
decorrente de inflamação séptica ou 
não séptica; 
✓ Leitoso: pode ocorrer na artrite 
tuberculosa, na artrite reumatoide 
crônica, na artrite gotosa aguda e no 
lúpus eritematoso sistêmico. 
 
No que diz respeito à cor, o líquido 
sinovial pode apresentar-se: 
✓ Amarelo citrino; 
✓ Esverdeado: característico da artrite 
séptica por Haemophilus influenzae; 
✓ Hemorrágico: pode ser observado em 
casos de envolvimento tumoral da 
articulação e artrite traumática, por 
exemplo. Na punção traumática, a 
quantidade de sangue diminui à medida 
que a aspiração continua. 
Para análise da viscosidade, forma-se 
um filamento entre 4 e 6cm. Se o 
filamento se quebrar antes de atingir 3cm, 
a viscosidade está diminuída, comum em 
situações inflamatórias (artrite séptica, 
artrite gotosa e artrite reumática). 
É possível observar a viscosidade do 
líquido sinovial também no exame 
bioquímico. Para tanto, realiza-se um teste 
que consiste na adição de ácido acético e 
na observação da formação ou não de um 
coágulo de mucina. 
Formação de coágulo 
Bom Sólido 
Regular Mole 
Ruim Frágil 
Péssimo Ausência de coágulo 
 
 Um coágulo firme e compacto 
sugere um grau de viscosidade normal. Por 
outro lado, a formação de um coágulo de 
mucina regular/fraco indica alteração da 
viscosidade, característica de artrites 
inflamatórias. 
 Observa-se também, no exame 
bioquímico, os níveis de: 
✓ Ácido úrico: níveis mais elevados no 
líquido sinovial do que no soro sugerem 
gota. Já concentrações iguais ao do 
soro podem indicar artropatias 
degenerativas; 
✓ Proteína: níveis normais variam de 1,2 a 
2,5g/dl. Valores elevados podem 
sugerir processos inflamatórios e 
sépticos; 
✓ Glicose: concentrações semelhantes às 
do plasma (diferença menor que 
10mg/dl). Diferenças significativas são 
observadas em processos inflamatórios 
e infecciosos.