Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Helena Victória 219 / UFF ETAPAS DO EXAME LABORATORIAL 1) Etapa pré-analítica / pré-instrumental: ↪ Preparação do paciente e coleta da amostra para análise. Inclui o cuidado na coleta do material (uso de outros medicamentos concomitantemente, jejum, horário do dia) e o transporte. ↪ O pedido médico entra na etapa pré-analítica e deve conter a indicação clínica para o exame. ⇨ Solicitação ou pedido médico: ↪ Colocar nome, idade e sexo do paciente; ↪ Deve ser claro e legível, subdividindo pelo tipo de material biológico a ser examinado (ordem: sangue - urina - fezes); - Sangue: hemograma completo e VHS; glicose, uréia, creatinina e ácido úrico; lipidograma completo (triglicerídeos, colesterol total e fração). - Urina: EAS (elementos anormais e sedimentoscopia). - Fezes: frescas e colhidas em MIF durante 3 dias alternados + parasitológico. ↪ Colocar sempre indicação clínica: exame de rotina; controle de dislipidemia após uso de hipocolesterolemiante... ↪ Carimbar, datar e assinar. ⇨ Coleta: ↪ Atenção para tempos ideais de coleta para algumas suspeitas diagnósticas (ex: coleta de sangue para pesquisa de Plasmodium sp. é idealmente feita nos picos febris e diminui o número de falso-negativos, COVID-19 - PCR ou sorologia) ↪ Durante o transporte pode ocorrer a hemólise de hemácias, ela pode alterar as dosagens de K, Fe, proteínas, portanto é necessário cuidado no transporte ↪ A coleta de mais de um número de amostras diminui o número de falso-negativos ↪ Preparo: higiene das genitálias pré-coleta de urina, jejum de 12h para lipidograma, jejum de 8h para glicemia, evitar sobre-hidratação no exame de urina, desprezar o primeiro jato urinário, etc. ↪ Identificação das amostras para prevenir o engano laboratorialmente com trocas: hoje se usa muito código de barras para evitar eventuais erros Obs: Alguns autores consideram que a requisição do exame, ou seja, o pedido médico, seja uma fase anterior à analítica - pré-pré-analítica 2) Etapa analítica: ↪ Análise do material e conferência do resultado ↪ Transcorre na bancada ou aparelho - Automação: rapidez, eliminação de erros humanos, liberação de laudos com resultados e não dispensa o controle humano 3) Etapa pós-analítica: ↪ Interpretação do resultado e emissão de laudo, além do diagnóstico e tratamento Obs: Alguns autores consideram que a interpretação dos exames configure uma etapa posterior à pós-analítica, ou seja, pós-pós-analítica ⇨ Leitura e liberação dos resultados: ↪ Solicitar repetição do exame quando necessário ↪ Hoje, a maioria dos exames de sangue é lida e emitida pelo próprio aparelho ↪ Importância da apresentação correta do laudo ↪ Rapidez na liberação dos laudos e acesso pelo médico ou setor do hospital ↪ Interpretação correta dos resultados para o clínico chegar a obter o valor preditivo do exame ↪ Informar sempre o método utilizado e os valores referenciais ↪ Muitas vezes é necessário liberar os resultados parciais por serem importantes ou urgentes Helena Victória 219 / UFF ↪ Se necessário, colocar comentários ou estabelecer contato direto com o clínico ↪ Conferir sempre resultados por profissional de nível superior antes da liberação final Obs: A maior parte dos erros em exame laboratorial se concentra na fase pré-analítica (46-68%) O médico clínico pode contribuir para a prevenção desses erros orientando o paciente, o laboratório, fazendo a requisição e a interpretação corretas ↪ Os erros na fase analítica reduziram muito graças aos aparelhos de alta tecnologia e qualidade CARACTERÍSTICAS DOS EXAMES ⇨ Objetivos de um Exame laboratorial: ↪ Diagnosticar uma doença ↪ Diagnosticar um processo patológico e sua possível etiologia (ex: ITU) ↪ Diagnosticar uma síndrome e sua possível etiologia ↪ Detectar uma alteração anatômica e funcional específica e sua possível etiologia (ex: ascite, estenose de aorta) ↪ Diagnósticos diferenciais (ex: faringite viral ou bacteriana) ↪ Monitorar evolução de alguma alteração (ex: tamanho de nódulos) ↪ Exames preventivos (ex: CA de colo-retal / mama) I. Sensibilidade: ↪ Capacidade de um teste para detectar os indivíduos que padecem a doença ou patologia que está sendo investigada, dando um resultado positivo ↪ Quanto mais sensível, menos resultados falso-negativos o teste / exame fornecerá ↪ Exames muito sensíveis são importantes para triagem e exclusão de doenças ou patologias (ex: exame preventivo) Obs: Sensibilidade do teste em si X Sensibilidade geral do exame ↪ Mesmo que um teste tenha uma alta sensibilidade, deve-se considerar a sensibilidade do exame como um todo, isto é, incluindo os cuidados pré-analíticos que podem influenciar significativamente nos resultados finais (ex: se a maioria dos pacientes não faz a preparação adequadamente, mesmo que o teste seja altamente sensível, os n° de resultados falso-negativos irão aumentar) Obs: Sensibilidade analítica X sensibilidade clínica ↪ Um teste pode ter excelente sensibilidade analítica mas discreta sensibilidade clínica (ex: posso usar um excelente teste que detecta pequenos aumentos de IgM para COVID-19, mas nos primeiros dias de infecção a RT-PCR é mais sensível clinicamente) II. Especificidade: ↪ Capacidade do teste para detectar os indivíduos que não padecem a doença ou patologia que está sendo investigada, dando um resultado negativo ↪ Quanto mais específico, o teste dará menos resultados falso-positivos ↪ Exames muito específicos são mais utilizados para confirmar doenças ou patologias (ex. imunoblot em HIV) Obs: Especificidade do teste em si X Especificidade geral do exame ↪ Mesmo que um teste tenha uma alta especificidade, deve-se considerar a especificidade do exame como um todo, isto é, incluindo os cuidados pré-analíticos que podem influenciar significativamente nos resultados finais Obs: Especificidade analítica X Especificidade clínica ↪ Um teste pode ter excelente especificidade analítica mas discreta especificidade clínica III. Acurácia: ↪ Capacidade de um teste para detectar tanto os indivíduos que padecem quanto os que não padecem a doença ou patologia investigada ↪ Há testes que podem ser muito sensíveis, mas pouco específicos, e vice-versa: testes com poucos falso-negativos e poucos falso-positivos possuem alta acurácia e, geralmente, são esses os considerados padrão-ouro para seu objetivo específico Obs: As vezes um único teste não tem suficiente acurácia, mas esta pode ser otimizada mediante uma combinação de testes IV. Testes qualitativos ↪ Não apuram quantidades (ex: presença ou ausência de bacilo da tuberculose em material respiratório; presença ou ausência de células neoplásicas em uma biópsia de mama) V. Testes quantitativos ↪ Medem quantidade de substâncias, número de células, atividade de enzimas, fluxo de líquidos biológicos, etc. ↪ Expressão dos resultados em dados contínuos (mg/mL, mL/minuto, etc.) Helena Victória 219 / UFF VI. Ponto de corte (CUT-OFF) ↪ Nos testes quantitativos é crucial os pontos de corte ou os valores ou faixas de referência: colesterol até 200mg/dL, hemoglobina acima de 13g/dL, plaquetas entre 150 mil e 450 mil/microL ↪ São os pontos sobre os quais se definem os resultados de um exame como normais ou alterados ↪ Os pontos de corte são convencionados internacionalmente considerando variáveis como idade, sexo, superfície corporal, peso, etnia ↪ A mudança do ponto de corte (limite de normalidade) muda a sensibilidade e a especificidade ↪ Em testes quantitativos, variando o ponto de corte podemos mudar a sensibilidade e especificidade, o que pode ser útil para adequar um mesmo teste a diferentes finalidades; por exemplo, a faixa de referência para definir pré-hipertensão em adultos é entre 120/80 mmHg e 138/90 mmHg, se diminuirmos a faixa para 120/80 a 135/85 mmHg, aumentaremos a sensibilidade, porém diminuímos a especificidade ↪ Quanto MAIOR o ponto de corte, MENOS falso positivos, ou seja, MAIOR a especificidade. ↪ Toda vez que aumentamos a sensibilidade, mudando o ponto de corte, diminuímos a especificidade, e vice-versa: baixandoo ponto de corte melhora a sensibilidade, sendo raros os falso-negativos, mas piora a especificidade, sendo muitos falso-positivos; subindo o ponto de corte melhora a especificidade, tendo poucos falso-positivos, mas piora a sensibilidade, tendo alguns falso-negativos ↪ Um teste pode ser muito específico e muito sensível também. Nos testes muito sensíveis, resultados negativos tem muito valor, enquanto em testes muito específicos, resultados positivos têm muito valor ↪ A investigação de uma doença é iniciada com um teste de alta sensibilidade e confirmada com um teste de alta especificidade. ⇨ Curva ROC (Receiver Operating Characteristic) ⇨ AUC (área abaixo da curva ROC) ⇨ Aplicações da curva ROC e da AUC correspondente: ↪ Comparação de capacidade discriminatória de testes para diagnóstico laboratorial de uma doença ou patologia: aquele que apresente maior AUC será o de maior acurácia ↪ Definição do ponto de corte mais conveniente para garantir as maiores sensibilidade e especificidade possíveis ↪ Verificar a sensibilidade que se obtém com o teste partindo da especificidade definida como ideal, e viceversa VALOR PREDITIVO ↪ É a probabilidade de a avaliação do resultado do indivíduo corresponder à realidade (menos chances de ser um resultado errado), de fornecer previsões corretas - Valor Preditivo Positivo (VPP): probabilidade de um resultado positivo estar certo (será > quanto maiores sejam as probabilidade extra-teste e a especificidade do exame) Helena Victória 219 / UFF - Valor Preditivo Negativo (VPN): probabilidade de um resultado negativo estar correto (será > quanto < seja a probabilidade extra-teste e > sensibilidade de um exame) ↪ É influenciado pela probabilidade pré-teste/extra-teste: relação direta com a prevalência da condição em determinada população (quanto maior a prevalência da doença na população, maior o VPP e menor o VPN), com o quadro clínico e outros exames realizados ↪ Também influenciado pela qualidade do teste (sensibilidade e especificidade) ↪ VP Positivo: probabilidade de um indivíduo avaliado positivamente ser realmente doente. - Menor chance de dar falso positivo. - Quanto maior a probabilidade extra-teste e a especificidade, maior o VPP ↪ VP Negativo: probabilidade de um indivíduo avaliado negativamente ser realmente saudável - Menor chance de dar falso negativo. - Quanto menor a probabilidade extra-teste e maior a sensibilidade, maior o VPN ⇨ Exemplo 1: Paciente com dor precordial apresenta dosagem de CK-MB aumentada. Tem 67 anos de idade, é sedentário, obeso e tem história familiar de eventos cardio-vasculares. O VPP da CK-MB aumentada é alto, já que é um teste relativamente específico, mas o paciente tem uma probabilidade pré-teste muito elevada de tratar-se de evento isquêmico. Se tivesse sido dosada Troponina I (que é mais específica que CK-MB), o VPP seria maior ainda. ⇨ Exemplo 2: Grávida assintomática faz urinocultura para prevenção de infecção urinária (já que esta é considerada causa importante de parto prematuro e às vezes é assintomática). O resultado foi negativo. Na consulta, o ginecologista indagou sobre a coleta e verificou que foi realizada corretamente (evitando sobre-hidratação, fazendo rigorosa higiene prévia da genitália e coletando o 2º jato da primeira micção do dia). Esse resultado tem alto VPN, já que a urinocultura é um método muito sensível e foram evitados erros pré-analíticos que propiciam falso-negativos (excessiva ingestão de líquido e pouco tempo de permanência da urina na bexiga). O fato de ser um exame preventivo em mulher assintomática faz com que a probabilidade pré-teste seja baixa e reforce o VPN do exame. ⇨ Importância do clínico no exame laboratorial: ↪ O aprimoramento das condições pré-analíticas pode otimizar a sensibilidade, especificidade e valores preditivos de um exame laboratorial ↪ O clínico pode contribuir orientando o paciente nas condições de coleta (jejum, hidratação, repouso, horário, etc), principalmente em Serviços públicos ↪ O diálogo do clínico com o laboratório pode evitar erros pré e pós-analíticos, melhorando assim os valores preditivos ↪ A semiologia aprimorada contribui para obter uma probabilidade extra-teste mais precisa
Compartilhar