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TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO Harduin Reichel G es tã o T R E IN A M E N T O E D E S E N V O LV IM E N T O H ar d ui n R ei ch el Treinamento e Desenvolvimento Harduin Reichel IESDE BRASIL S/A Curitiba 2016 CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ R278t Reichel, Harduin Treinamento e desenvolvimento / Harduin Reichel. - 1. ed. - Curitiba, PR : IESDE BRASIL S/A , 2016. 212 p.: il. ISBN 978-85-387-5416-9 1. Administração. I. Título. 15-28478 CDD: 658 CDU: 658 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. © 2016 – IESDE Brasil S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Produção FAEL Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz Revisão IESDE Projeto Gráfico Sandro Niemicz Capa Vitor Bernardo Backes Lopes Imagem Capa abstract/Shutterstock.com Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim Sumário Carta ao aluno | 5 1. Planejamento estratégico e o treinamento e desenvolvimento de pessoas | 7 2. Estratégias de treinamento e o ciclo de vida dos negócios | 35 3. Métodos e técnicas de treinamento eficazes no meio empresarial | 61 4. O gestor de treinamento como facilitador no desenvolvimento de pessoas | 83 5. Mecanismos de avaliação e validação do treinamento | 103 6. Treinamentos técnicos e comportamentais | 121 7. Formas de aplicação de T&D e seus benefícios | 137 8. Fatores que contribuem para o sucesso do treinamento | 155 9. Processo de controle do treinamento e seus benefícios para a empresa | 169 10. Custo e investimento em treinamento | 185 Gabarito | 201 Referências | 207 Carta ao aluno este livro tem por proposta apresentar a importância do setor de treinamento e desenvolvimento de talentos humanos como con- dição obrigatória para a empresa manter a competitividade no mer- cado por meio da inovação constante. vivendo em cenários adversos, em que a concorrência e a ino- vação em todos os segmentos da ciência e da tecnologia afetam a vida diária das organizações, é urgente estruturar um setor de treina- mento e desenvolvimento de pessoas moderno e ágil, que implante uma educação permanente como condição básica para a equipe adquirir uma alta capacidade de construir-se positivamente frente às adversidades dos novos tempos. nas empresas modernas, o setor treinamento e desenvolvi- mento é visto como um ponto estratégico, pois em toda implanta- ção de novos produtos, novos processos, novos mercados exige-se um potencial humano competitivo, preparado para o sucesso da empresa. A empresa competitiva necessita obter conhecimento para perpetuar-se, mas o acúmulo por si só não agrega valor ao que já existe. Somente o conhe- cimento utilizado no dia-a-dia produz riquezas. Isto é, quanto mais desenvol- vido for o empregado, mais novas habilidades e informações ele adquire. Isso, agregado ao produto ou serviço, dá origem a novas soluções para a empresa. Assim sendo, melhores serão os produtos e serviços e obviamente o lucro será uma consequência disso. É notório que atualmente não é mais suficiente uma organização ter uma equipe que apenas assegure a produtividade e a lucratividade dos produtos e serviços, que correm o risco de ficar obsoletos rapidamente. Vivemos num tempo de descontinuidades generalizadas, que acontecem no mundo corpo- rativo em intervalos de tempo cada vez menores, influenciadas por mudanças econômicas, sociais e pela ação da competição internacional. Grande parte dessas descontinuidades não pode ser prevista por planejamentos estratégi- cos, que acabam ficando mais flexíveis e vislumbrando horizontes de tempo mais curtos. É cada vez mais importante, portanto, planejar considerando prazos menores e saber inovar o tempo todo na área de treinamento e desen- volvimento em virtude de o quadro de pessoas da empresa ter que enfrentar inúmeros desafios. Podemos afirmar que o treinamento e desenvolvimento de pessoas é a mais poderosa das ferramentas da administração para transformações nas organizações. Vivemos hoje um tempo de mudanças e de mudanças cada vez mais rápidas. O desfio é preparar pessoas para a condução de uma empresa próspera e competente. Como bem escreve Chiavenato (2003, p. 19): “para aumentar a eficácia humana nas organizações, torna-se necessário intervir no nível sistêmico por meio de abordagens educacionais”. Os desafios para o setor de treinamento são enormes, é uma área que necessita renovar-se constantemente, pois inúmeros desafios surgem a cada dia. Novas tecnologias de treinamento, novas formas de aprendizagem, novas referências e paradigmas no mundo dos negócios tornam tudo mais com- plexo à administração, exigindo muito planejamento e determinação. Bons estudos! Planejamento estratégico e o treinamento e desenvolvimento de pessoas Analisar e demonstrar a interligação necessária entre o pla- nejamento estratégico de uma organização e o planejamento do treinamento e desenvolvimento de pessoas. O estudo das técnicas de treinamento e desenvolvimento dá condições para que o profissional consiga compreender os seguintes fatores: 2 reconhecer e definir problemas; 2 equacionar soluções; 1 Treinamento e Desenvolvimento – 8 – 2 pensar estrategicamente; 2 introduzir modificações no processo de treinamento e desenvolvimento; 2 atuar preventivamente; 2 transferir e generalizar conhecimentos; 2 exercer o processo de tomada de decisão em diferentes graus de complexidade; 2 saber lidar com modelos inovadores de gestão; 2 gerenciar trabalhos em equipe, exercendo uma liderança legitimada. 1.1 O impacto das mudanças organizacionais no treinamento A humanidade passou por diversas eras e, com elas, várias foram as desco- bertas e evoluções do homem. Caçar o próprio alimento, dominar o cavalo para sua locomoção, invenção da roda, os meios de transporte, a industrialização. Agora, vivemos a era da informação. Essa “nova era” modificou toda sociedade e criou uma nova economia. Esta, denominada por alguns autores como era informacional, parte do princípio da capacidade de acumular conhecimentos e transformá-los em insumos para novos produtos e conhecimentos, criando um círculo produtivo para as organizações e para a sociedade. Castells (2000, p. 35) escreveu sobre a importância do informacionalismo: Cada modo de desenvolvimento tem, também, um princípio de desempenho estruturalmente determinado que serve de base para a organização dos processos tecnológicos: o industrialismo é voltado para o crescimento da economia, isto é, para a maximização da pro- dução; o informacionalismo visa ao desenvolvimento tecnológico, ou seja, à acumulação de conhecimento e maiores níveis de comple- xidade do processamento da informação. Embora graus mais altos de conhecimentos geralmente possam resultar em melhores níveis de produção por unidade de insumo, é a busca por conhecimentos e informação que caracteriza a função da produção tecnológica no informacionalismo. Na era da informação em que vivemos, conduzir uma organização moderna, em meio a um ambiente incerto, competitivo e complexo, – 9 – Planejamento estratégico e o treinamento e desenvolvimento de pessoas exige certa dose de conhecimento e determinação. Por esse motivo, para dirigir suas empresas, os executivos precisam de inúmeros aparatos administrativos que suportemas adversidades dos tempos de mudanças. Eles necessitam de informações precisas para tomar decisões, manter equipes estruturadas e competentes, estruturas organizacionais ágeis, capacidade de interpretação das tendências dos mercados, enfim inú- meros indicadores sobre vários aspectos do ambiente e do desempenho organizacional, sem o que não teriam como manter o rumo da excelên- cia empresarial. Não podemos nos esquecer de que administrar uma empresa líder sig- nifica saber prever o futuro e se posicionar sempre de maneira antecipada a todas as tendências. E isso não envolve nenhum tipo de nova tecnologia ou regras empresariais, mas muita criatividade, planejamento e determinação. Para essa empresa, o futuro não é criado por profetas, e muito menos por pessoas que possuem bola de cristal, mas sim por uma alta capacidade de desenvolvimento de pessoas que desafiam a sabedoria tradicional para pode- rem enxergarem o que poucos são capazes de ver. O T&D vem justamente para dar apoio estratégico às empresas, servindo como ferramenta de aperfeiçoamento do desempenho organizacional por excelência. Mas para isso deve enfrentar alguns desafios, como, por exemplo: identificar talentos, treinar e desenvolvê-los, patrocinar a criatividade, valorizar a atitude empreendedora e fomentar avaliações. Normalmente, quando o setor de treinamento e desenvolvimento de uma empresa dá sustentabilidade às ações estratégicas, consegue efetuar nos talentos modificações comportamentais, de atitudes, mudança social e téc- nica de trabalho, utilizando ferramentas como dinâmica de grupos, habilida- des de agente de mudanças, aconselhamento, teorias da personalidade, teorias de aprendizagem, entre outras. Treinamento e Desenvolvimento – 10 – Quando uma empresa possui talentos desenvolvidos, as novas ideias são facilmente transformadas em produtos e serviços que possam ser disponibili- zados para clientes em prazos curtíssimos. Assim sendo, as empresas passam a ter pessoas capazes de realizar inovações incríveis. Mas, para isso, exige-se um ambiente estimulante o suficiente para que esses talentos sejam demonstra- dos. Se a empresa retirar as barreiras que os impedem de exercer sua criativi- dade, esses profissionais podem transformar-se em intraempreendedores, que são os empreendedores corporativos, “aqueles que fazem a coisa acontecer”. A obtenção de diferenciais competitivos está intimamente ligada a como essas capacidades são identificadas, estimuladas, aproveitadas e desenvolvidas. O grande desafio é utilizar com o máximo de eficiência os talentos que se têm, incentivando-os a empreender. Hoje é necessária uma equipe com alta capacidade, porque a veloci- dade com que acontecem os negócios faz com que as empresas necessitem acompanhar o desempenho em todos os setores ao mesmo tempo. Essa nova exigência cria a necessidade da construção de capacidades de conquista de ativos intangíveis1 necessários para o crescimento futuro, sendo fundamental que exista uma perfeita sintonia entre metas organizacionais e o treinamento e desenvolvimento de pessoas. Assim é possível construir um modelo organi- zacional competente, isto é, uma organização voltada para a estratégia. As inovações proporcionaram grandes mudanças para as empresas. Esse novo ambiente da era da informação exige novas capacidades para assegurar o sucesso competitivo. Não basta mensurar os ativos tangíveis, mas também os intangíveis, como: visão, estratégia, alinhamento e aprendizado. Quando uma organização possuiu um programa estratégico de T&D e utiliza corretamente as ferramentas educacionais, estes são transformados em ativos intangíveis, que, por sua vez, permitem que uma empresa: 2 desenvolva relacionamento com clientes, novos segmentos, nichos de mercados e que todos sejam atendidos com eficácia e eficiência; 2 desenvolva e lance produtos e serviços inovadores; 1 Ativo é um conceito contábil que significa todos os bens e direitos da empresa, e intangível significa algo intocável. Unindo estes dois vocábulos temos um bem intocável da empresa, e todo bem deve ser preservado, valorizado e muito bem administrado. Portanto, o investimento no desenvolvimento e treinamento não é despesa e sim um bem da empresa. – 11 – Planejamento estratégico e o treinamento e desenvolvimento de pessoas 2 produza bens e serviços customizados e de alta qualidade a preços baixos e com ciclos de produção mais curtos; 2 tenha empregados qualificados e motivados; 2 utilize sistemas tecnológicos de informação atualizados. As empresas modernas estão embasadas em um novo conjunto de pre- missas, em que os processos de negócios integrados abrangem todas as fun- ções tradicionais, combinando os benefícios da capacitação funcional com a agilidade, a eficiência e a qualidade da integração dos processos. Apenas para exemplificar, atualmente, nas corporações modernas, a liga- ção com clientes e fornecedores é vital. Ela promove interação dos processos de suprimentos, produção e entrega de modo que supra a necessidade do cliente, e não por planos de produção, em que o cliente era obrigado a com- prar bens e serviços pela cadeia de valores como antigamente. Isto é, em um passado recente, o cliente era obrigado a comprar o que a empresa oferecia. Atualmente, a empresa adapta o produto ao gosto do cliente. Essa integração vai desde os pedidos dos clientes até fornecedores de matérias-primas, per- mitindo que obtenham grandes melhorias no custo, qualidade e tempos de resposta. Essa mudança de mentalidade e dos processos da cadeia de supri- mentos foi preparada por muito tempo pelo planejamento estratégico e pelo treinamento e desenvolvimento da empresa, para que a força de trabalho pudesse se adequar a essa nova realidade. Da mesma forma, analisamos os diversos serviços de informações de negócios que vêm sendo criados para ajudar as empresas a segmentar seus clientes. Eles oferecem produtos e serviços customizados, sem por isso serem penalizados nos custos de operações. Para que isso pudesse ocorrer, os talen- tos foram preparados com conhecimentos e habilidades para atender a essa exigência do mercado de trabalho. Não existem fronteiras e nem obstáculos para as empresas negociarem. A concorrência acontece entre as melhores empresas do mundo, devendo, para isso, combinar as eficiências e a agressividade competitiva do mercado global com a sensibilidade às expectativas do mercado: 2 prevendo necessidades futuras dos clientes; 2 idealizando produtos e serviços radicalmente inovadores; Treinamento e Desenvolvimento – 12 – 2 incorporando novas tecnologias de produtos, para que obtenham sucesso na melhoria contínua dos processos e produtos. Entretanto, para que esses cenários todos ocorram, a capacitação dos trabalhadores é fundamental. Enquanto as empresas da era industrial davam ênfase à capacidade física e não ao intelecto e desempenhavam tarefas sob supervisão, as empresas da era da informação enfatizam as funções analíti- cas, como: engenharia, marketing, gerenciamento e administração. Pode o indivíduo que trabalha na produção e prestação de serviços opinar, sugerir como melhorar a qualidade, reduzir custos e diminuir ciclos. A força de trabalho deve agregar valor pelo que esse indivíduo sabe e pelas informações que pode fornecer. Quando os objetivos do treinamento e desenvolvimento estão sendo atingidos, a empresa pode investir, gerenciar e explorar o conhecimento de cada funcionário. Assim sendo, a organização está habilitada a buscar novas iniciativas de melhorias, bem como: gestão da qualidade, produção e logística, competição baseada no tempo, produção enxuta/empresa enxuta, criação de organizações focalizadas no cliente, gestão de custos baseada em atividades, empowerment2 dos funcionários. Podemos, assim, concluir que o setorde treinamento, quando conec- tado com o planejamento estratégico, atinge suas funções básicas, que envol- vem alguns tipos de mudança de comportamento em seus talentos: 2 transmissão de informação – aumentar os conhecimentos; 2 desenvolvimento de habilidades – melhorar as habilidades e destrezas; 2 desenvolvimento ou modificação de atitudes – melhorar ou modificar comportamentos; 2 desenvolvimento de conceito – desenvolver ideias para pensar no estratégico. 2 Delegação de autoridade. – 13 – Planejamento estratégico e o treinamento e desenvolvimento de pessoas Gestão estratégica eficiente Ambiente interno Ambiente externo da empresa Desenvolvimento organizacional, estrutura organizacional, equipes, centralização, descentralização, infraestrutura, tarefas, comunicação Conhecimento, habilidades, destrezas, comportamentos, pensamento estratégico, liderança, motivação, cultura, valores Desempenho Produtividade Competitividade Gestão da informação e controle, sistemas de recompensa Potencial humano, recrutamento, seleção, promoções, treinamento, desenvolvimento, regras Missão Visão Planejamento Estratégia Figura 1 – O ambiente e o impacto na função treinamento e desenvolvimento. 1.2 Planejamento estratégico como fonte inspiradora dos rumos do planejamento do treinamento e desenvolvimento de pessoas Estudar e analisar a importância do planejamento estratégico para o setor de treinamento e desenvolvimento de uma empresa só traz pontos positivos para quem quer se aprofundar no conhecimento da administração. Inúmeras organizações públicas e privadas têm efetuado altos investimentos em treina- mento e desenvolvimento sem a empresa saber aonde quer chegar e por onde quer ir. Muitas vezes, as decisões sobre treinamento são tomadas em função de surtos ou em desespero empresarial por falta de mão-de-obra treinada. Não adianta tomar decisões sem um planejamento adequado, principalmente porque estamos falando de “pessoas”, de “altos investimentos” e “demorados retornos”. É importante enfatizar que uma boa estratégia significa rigor e esforço, não somente ímpetos de genialidade espontânea. Muitas organizações não medem consequências em aplicar seu precioso capital de giro em cursos inadequados e sem um atrelamento ao planejamento estratégico. A gestão estratégica não é questão fácil nas mãos de pessoas sem um preparo adequado, que partem para “achismos”, palpites, fantasias ou Treinamento e Desenvolvimento – 14 – arroubos líricos. Ao contrário, deve estar embasada no rigor e no estudo de todos os processos que integram a organização e o ambiente. Muitas empresas perdem oportunidades pelo simples fato de não estarem preparadas, outras fracassam por terem atuado em momentos inoportunos, outras tantas não sabem proporcionar oportunidades, mas a maioria não consegue desen- volver pessoas na hora certa, na quantidade certa e no momento adequado. O que é isso se não a falta de planejamento, de vislumbrar oportunidades para realizar e atingir os objetivos e que, muitas vezes, essas oportunidades não se repetem. É nesse momento que entendemos o quanto é importante ter uma equipe preparada e sólida para enfrentar as adversidades do mercado e concorrência. Para compreender melhor o giro das ideias, vamos ao conceito de admi- nistração estratégica. Segundo Daft (1999, p. 146): Administração estratégica é um conjunto de decisões e ações usadas para formular e implantar estratégias que irão fornecer um ajuste competitivamente superior entre organizações e o seu ambiente para atingir as metas da organização. A administração estratégica é um pro- cesso usado para auxiliar gerentes a responder questões estratégicas, tais como: Onde está a organização agora? Onde a organização deseja estar? Que mudanças e tendências estão ocorrendo no ambiente com- petitivo? Que cursos de ações irão nos auxiliar a atingir nossas metas? Através da administração estratégica, os executivos definem uma dire- ção global para a organização, que é a estratégia geral da empresa. Portanto, quando enfatizamos que o treinamento deve estar atrelado ao planejamento, obviamente devemos preparar a força de trabalho para aquele desejo dos investidores, para dar um norte para que todo o corpo diretivo saiba criar uma sinergia para atingir os resultados esperados. Para conseguir uma autossustentabilidade empresarial, o corpo diretivo deve aprender a planejar para se aproximar de um padrão de excelência de serviço ou de produto que supere a concorrência. O corpo social corporativo deve criar e fortalecer as capacidades de sua força de trabalho. – 15 – Planejamento estratégico e o treinamento e desenvolvimento de pessoas Os envolvidos com o treinamento e desenvolvimento devem entender que o planejamento estratégico é um processo contínuo, ininterrupto e muito sério e não uma atividade de temporada ou moda que se faz para cumprir uma rotina, ou com cunho político para apenas atender a intenções de grupos chegados ao “chefe”. Quando isso ocorre, muitas vezes é interpretado como folga para o serviço, ou uma ótima oportunidade para viagem e lazer. Quando envolvemos o treinamento no planejamento estratégico como um processo do desenvolvimento empresarial, estamos pressupondo que não é uma atividade que se esgota na formulação de planos. Os planos devem ser para o corpo diretivo, um instrumento de trabalho que diz o que vai ser feito, quando, de que forma e por quem, para alcançar que tipo de resultados e com participação democrática de toda a empresa. Não pode ser apenas um ins- trumento técnico de trabalho, mas uma manifestação de um compromisso, um contrato social, um pacto político entre os empregados e a direção, um projeto coletivo de desenvolvimento que compromete verticalmente e hori- zontalmente toda a empresa. Seguindo esse raciocínio, Chiavenato (2003, p. 29) nos explica: Desenvolvimento profissional é a educação que visa ampliar, desen- volver e aperfeiçoar a pessoas para seu crescimento profissional em determinada carreira na organização ou para se tornar mais eficiente e produtivo em seu cargo. Seus objetivos perseguem prazos mais lon- gos, visando dar ao homem aqueles conhecimentos que transcendem o que é exigido no cargo atual, preparando-o para assumir funções mais complexas ou numerosas. É dado nas organizações ou firmas especializadas em desenvolvimento de pessoal. Também obedece a um programa preestabelecido e atende a uma ação sistemática, visando à adaptação da pessoa à filosofia da organização. Pode também ser apli- cado a todos os níveis ou setores da organização. É mais conhecido como desenvolvimento de recursos humanos. O planejamento estratégico como instrumento para o desenvolvimento empresarial é uma ferramenta de gestão que precisa da união da totalidade dos empregados da empresa e de uma visão para o futuro da organização. É necessário explicar e clarear o cenário futuro e os princípios que dão sentido a situação a que se quer chegar, bem como definir os planos táticos e opera- cionais que orientam os esforços dos gerentes e empregados. Treinamento e Desenvolvimento – 16 – Quando estamos lidando com pessoas e o futuro delas e da empresa está em jogo, o planejamento estratégico pode ser usado também como um instrumento para construir um diálogo entre o corpo diretivo e os empre- gados da empresa que possa produzir soluções coletivas para o desenvolvi- mento organizacional. No meio do processo de treinamento ocorrem conflitos de interesses dos diferentes setores da empresa. Isso não pode e nem deve ser ignorado, por isso é que o planejamento estratégico dá um rumo objetivo, refletindo toda a vontade da força de trabalho da empresa. Quando o planejamento estratégico está voltado para o desenvolvi-mento corporativo, ele passa a ser um exercício de tomada de decisões sobre as questões que o mercado sinaliza como importantes. Nesse caso, a superação de todos os problemas torna-se mais fácil quando existe um hábito de valo- rização do entusiasmo dos empregados, a mobilização da energia do corpo social da empresa, o emocional coletivo, bem como a inteligência e a criativi- dade em torno da visão de uma nova oportunidade empresarial. Desenvolver uma empresa competente e próspera compreende processos compartilhados e resultados atingidos; visões de futuro ou utopias constru- ídas por coletivos organizacionais e ações concretas de mudança. Trata-se, portanto, de estratégias processuais, isto é, que se inscrevem no paradigma da racionalidade processual e contextual. Bateman e Snell (1998, p. 122) definiram planejamento estratégico como sendo um “processo consciente e sistemático de tomar decisões sobre objetivos e atividades que uma pessoa, um grupo, uma unidade de trabalho ou uma organização buscarão no futuro”. Na empresa, o planejamento provê aos indivíduos e unidades de trabalho um mapa claro a ser seguido em suas atividades futuras, ao mesmo tempo esse mapa pode levar em consideração circunstâncias únicas e mutantes. São os empregados desenvolvendo um pro- cesso consciente para tomar decisões no presente sobre resultados do futuro. Por meio do planejamento estratégico, é possível mudar as “regras do jogo” se necessário, analisar o ambiente, avaliar os pontos fortes e fracos da empresa e identificar as oportunidades. Ele envolve a tomada de decisões sobre os objetivos e estratégias de longo prazo, tem uma orientação externa forte e envolve as partes principais da organização. – 17 – Planejamento estratégico e o treinamento e desenvolvimento de pessoas Segundo Bateman e Snell (1998, p. 124), “uma estratégia é um padrão de ações e de alocações de recursos destinados a atingir os objetivos propos- tos”. Trata-se de um conjunto de mudanças competitivas executadas para atingir o melhor desempenho. Em uma organização, cada departamento possui seu papel na estraté- gia. O desafio da implementação da estratégia é moldar todas as decisões e ações da empresa em um padrão coeso. Aí poderemos verificar onde entra o treinamento como instrumento de capacitação, atendendo a situações mais imediatas ou de longo prazo, dependendo se naquele momento é necessário desenvolvimento ou treinamento. Para melhor compreender o papel do treinamento, analisemos o con- ceito segundo Chiavenato (2003, p. 29): Treinamento é a educação, institucionalizada ou não, que visa adaptar a pessoa para o exercício de determinada função ou para a execução de tarefas específicas, em determinada organização. Seus objetivos são mais restritos e imediatos, visando dar às pessoas os elementos essenciais para o exercício de um presente cargo, preparando-a ade- quadamente. É dado nas organizações ou em firmas especializadas em treinamento. Nas empresas, é delegado geralmente ao nível do chefe imediato da pessoa com a qual ela está trabalhando ou mesmo por um colega de trabalho. Obedece a um programa preestabelecido e atende a uma ação sistemática, visando à rápida adaptação da pessoa ao tra- balho. Pode ser aplicado a todos os níveis ou setores da organização. Na administração, a trama produtiva tem um significado de articulação entre agentes de mudança, motivação dos empregados, atividades inovadoras e tecnologias de gestão moderna. Além disso, inclui o treinamento e desen- volvimento de pessoas para se chegar à organização do processo de trabalho moderno e competente. Assim sendo, o setor educacional da empresa deve dar rumos e ajudar na elaboração do planejamento estratégico para poder criar talentos e para que estes, por sua vez, proporcionem às empresas alguns componentes básicos para sobrepor as dificuldades: 2 recursos humanos altamente qualificados; 2 relações econômicas proativas entre empresa, fornecedor e clientes; 2 obtenção e circulação de informações entre mercado, fornecedores, concorrência, instituições e clientes; Treinamento e Desenvolvimento – 18 – 2 criação e implantação de uma estrutura institucional desenvolvida; 2 construção de uma identidade empresarial facilitadora da confiança no mercado. Esses fatores acima devem estar sincronizados em toda a empresa e cada departamento deve estar consciente, cada qual atuando com um papel defi- nido, bem como o seu grau de importância para atingir as metas. Também cabe ao setor educacional da empresa a criação e o desenvolvi- mento de agentes de mudanças nas organizações. Temos que deixar claro que são os agentes de mudanças que efetuam as guinadas estratégicas na empresa e eles possuem roteiros e tarefas a serem executados para produzir mudanças. Thompson e Strickland III (2000, p. 13) definiram cinco tarefas de estratégia que os agentes de mudanças na empresa precisam fazer: 2 Infundir um sentimento de meta, fornecendo orientação de longo prazo e estabelecendo uma missão clara a ser cumprida – para esse objetivo, todas as equipes de trabalho atuantes no setor de treinamento e desenvolvimento criarão suas metas interligadas com toda a empresa, preparando os talentos necessários para atingir as metas globais da empresa. 2 Converter a visão e a missão estratégicas em objetivos mensurá- veis e objetivos de desempenho – converter, neste caso, significa facilitar e difundir para os empregados a compreensão da visão e missão para melhor agregar valor. 2 Elaborar a estratégia para atingir os resultados desejados – a elaboração de estratégia é um exercício de empreendimento e uma maneira de pensar de fora para dentro. Um bom estabelecimento de estratégias não se separa de um bom espírito empreendedor. Dessa forma, o gerente de treinamento e desenvolvimento deve ter um perfil empreendedor e ser um visionário, para observar as opor- tunidades e adaptar o treinamento para essa realidade. 2 Implementar e elaborar a estratégia escolhida eficientemente e eficazmente – neste caso, o setor de treinamento tem uma res- ponsabilidade elevada em virtude de estar lidando com pessoas e mudanças de hábitos, com formas de pensar e de produzir. Isso – 19 – Planejamento estratégico e o treinamento e desenvolvimento de pessoas leva certo tempo e as pessoas muitas vezes não reagem no tempo necessário. Por este motivo, a estratégia de atuação deve ser muito bem dimensionada. 2 Avaliar o desempenho, revisar os novos desenvolvimentos e ajustar o rumo de longo prazo, os objetivos, a estratégia, ou implementar para incorporar a experiência atual, mudando as condições, novas ideias e oportunidades – quem atua no setor de treinamento e desenvolvimento deve saber que a avaliação é um instrumento de medida da eficiência e eficácia do processo de ensino e aprendizagem. Assim sendo, a avaliação do desempenho das pessoas é uma ferramenta importante para avaliar se o processo está de acordo com o planejado e se está atendendo ao meio pro- dutivo da empresa para que as metas estratégicas sejam atendidas. Missão e visão da empresa Planejamento Estratégico Longo prazo Planejamento de metas tático Médio prazo Plano de metas operacional Curto prazo Estretégias em: liderança, cultura, estrutura, recursos humanos, sistema de informação, controle Estratégias em treinamento e desenvolvimento: a) levantamento das necessi- dades de treinamento b) programação de treinamento c) execução do treinamento d) avaliação dos resultados Análise do ambiente interno e externo Análise das ameaças e oportunidades Análise dos pontos fortes e fracos Estratégias corporativas negócios estrutura Figura 2 – Integração do planejamento estratégico e treinamento e desenvolvimento de talentos. Treinamentoe Desenvolvimento – 20 – 1.3 Análise das competências A gestão por competências tem por finalidade a validação da importân- cia das pessoas na organização, obviamente deixando de lado conceitos anti- gos da miopia gerencial paternalista de ver apenas os resultados sem observar as pessoas. A gestão de competência inclui em seus processos a relação de talentos e o planejamento estratégico da organização. Podemos compreender por competência a capacidade de criar novos modelos de organização, novas formas de efetuar o trabalho, novas formas de coordenar valores humanos, materiais e financeiros, de tal forma que agregue competitividade e lucratividade para a empresa. Isto significa que é impor- tante para o indivíduo e para a organização. Podemos completar com mais conceitos sobre o tema para consolidar melhor a ideia das competências. Segundo Boog (1999, p. 31): Competências devem ser entendidas como sendo o conjunto de três tipos de qualificação: conhecimentos – as coisas que as pessoas preci- sam saber –, habilidades – as coisas que as pessoas precisam saber fazer –, e comportamentos – são as maneiras de portar das pessoas. Estas competências serão tanto voltadas a processos e tecnologia como vol- tadas à interação e ao relacionamento. Temos também visões de outros ângulos, como, por exemplo, Maga- lhães et al. (1997, p. 14), que faz uma referência ao conteúdo de um cargo: “conjunto de conhecimentos, habilidades e experiências que credenciam um profissional a exercer determinada função”. Por sua vez, Durand (apud BRANDÃO; GUIMARÃES, 2001, p. 3) cons- truiu seu conceito de competência embasado em três dimensões distintas que nos fazem refletir sobre a importância da cognição, tão apregoada pelos pedagogos. Ele se refere às competências como um “conjunto de conhecimentos, habilidades e ati- tudes interdependentes e necessárias à consecução de determinado propósito”. Conhecimentos – informação, saber o quê e saber o porquê. Habilidades – técnica, capacidade, saber como. Atitude – querer fazer, identidade, determinação. – 21 – Planejamento estratégico e o treinamento e desenvolvimento de pessoas Durand (1998) nos dá a conotação de que cada fator é interdependente e que o desenvolvimento de competências se dá por meio da aprendizagem individual e coletiva. O importante, neste momento, é compreender que os indivíduos podem assimilar conhecimentos e integrá-los com habilidades e atitudes para obter um alto desempenho organizacional. Na gestão de competências, o foco deve ser a capacidade de planejar, captar e desenvolver as competências necessárias ao negócio da empresa. E uma das formas de se fazer isso é analisar, por meio de levantamentos, quais competên- cias são necessárias para a empresa ser bem-sucedida segundo o planejamento estratégico. Outra forma é estudar as competências que a empresa possui. Isso irá revelar uma lacuna (GAP)3 de competências, sendo onde a empresa deve planejar seu treinamento e desenvolvimento. O preenchimento da lacuna pode envolver: planejamento, captação, desenvolvimento e avaliação de competên- cias, recrutamento e seleção, treinamento e desenvolvimento e gestão de carreira. Em virtude da alta competitividade no mundo empresarial, as organi- zações estão buscando repensar seus modelos de gestão e consequentemente investindo em seu patrimônio e capital intelectual. As empresas que investem em pessoas estão automaticamente produzindo um diferencial em relação à concorrência. Entretanto percebeu-se que o grande desafio passou a ser como a empresa deve recrutar e desenvolver talentos que poderão ajudá-la a atingir os resultados, identificando as competências que irão garantir a manutenção do sucesso no futuro. Segundo Ornelas e Bispo (2003): Ao implantar um modelo moderno de Gestão por Competências, as instituições conseguirão alcançar o que foi determinado no planeja- mento estratégico, através do alinhamento entre: a missão, visão e valores; a estratégia do negócio e a estratégia do capital humano. Quando as empresas definem as necessidades futuras, automaticamente sabem o que é necessário buscar. Assim, ocorre um alinhamento automático com o plano estratégico. As instituições necessitam assegurar a capacidade de identificar o perfil e o montante de suas competências para a atualidade e para o futuro. Quando isso fica claro no meio social da empresa, os empregados irão entender que competências têm valor para os negócios do momento 3 GAP: termo em inglês que significa lacuna, intervalo, vazio, vácuo, diferença. Neste caso, é aplicada para demonstrar a diferença entre o que o cargo exige e a competência da pessoa, a lacuna que existe deve ser preenchida com treinamento e desenvolvimento para que seja atin- gido o ideal das exigências do cargo. Treinamento e Desenvolvimento – 22 – e, consequentemente, cada um irá buscar oportunidades e ofertas de cursos para aprimorar suas habilidades como autodesenvolvimento. Assim sendo, a gestão por competência é uma questão de sobrevivência organizacional que acaba formando um capital invisível de alto valor agregado. Em termos teóricos, existem diversos tipos de capital, e obviamente não estamos falando de capital financeiro e material, e sim capital invisível, que as empresas necessitam para obter sucesso. Podemos dizer que o capital invisível é similar à cultura empreendedora, que, por sua vez, constitui o capital empresarial, que pode ser: capacidade de realizar, capacidade de fazer acontecer, atitude proativa, iniciativa. Temos o capital humano (conheci- mentos, habilidades, competências), o capital social (confiança, cooperação, organização e participação social – rede, tecido, teia de relações sociais), o bom governo (capacidade gerencial e controle público) e o capital intelectual (conhecimentos, sabedorias, arte de produção, receitas de como fazer, capaci- dade de superação por meio da informação). A empresa, para obter um alto capital financeiro (bens tangíveis), deve investir no capital invisível. Esse capital irá construir uma empresa com soli- dez para superar as instabilidades do mercado. Ao buscar o capital inte- lectual, a empresa estará se precavendo de instabilidades e também apri- morando as competências. Essa busca deve ser muito bem compreendida para que exista clareza nos princípios organizacionais e para que estes sejam facilmente compreendidos pela força de trabalho. Ornelas também afirma que temos de compreender que competência é o conjunto de conhecimen- tos, habilidades e experiências das pessoas e o quanto elas adquirem, usam e compartilham esses conhecimento no seu entorno. Podemos considerar como capital humano de uma empresa tudo aquilo que envolve as competên- cias mais o poder de inovação, valores, cultura e a filosofia da organização. Por sua vez, o capital intelectual envolve o capital humano e o capital estrutu- ral, isto é: o conjunto de equipamentos, softwares, bancos de dados, marcas, patentes, clientes e todo o conhecimento para administrar a empresa. Podemos entender, de uma forma resumida, que as competências operantes na empresa, de uma forma organizada e sistematizada, constituem- -se no capital intelectual de uma organização. – 23 – Planejamento estratégico e o treinamento e desenvolvimento de pessoas Após conhecermos as diferenças estruturais entre competências e capital invisível e capital intelectual, temos que pensar nas competências essenciais para uma organização. O que realmente é essencial em termos da construção de uma equipe de trabalho. As competências essenciais de uma instituição são divididas em fatores internos e externos. Os internos podem ser: cultura, estrutura, modelo de gestão, sua história e desafios. E os fatores externos: a dinâmica do seu negócio, o mercado, a tecnologia, o ambiente social, entre outros. Estesfatores são determinantes nas escolhas das estratégias organiza- cionais, por isso são exclusivos para cada empresa (ORNELAS, 2003). Além desses fatores, podemos também incluir algumas formas de agir ou posturas e competências essenciais que são determinadas pelo cenário do momento em que a empresa vive. Por exemplo, a competitividade é um comportamento organizacional que estimula a melhoria dos produtos e a curiosidade, consequentemente produz inovação. E inovação é uma questão de cultura organizacional. Quando a empresa desenvolve novos produtos/ tecnologias, torna-se altamente produtiva. Outro fator muito importante é a capacidade da previsibilidade, isso se constitui em uma ampla e profunda pesquisa de mercado e dos concorrentes, pois proporciona segurança para quem vai tomar decisões estratégicas. Nesse momento é bom lembrar que quem define a essencialidade de cada fator é o momento e o cenário em que a empresa está vivendo. O que deve definir isso são os aspectos determinados no momento de elaborar o planejamento estratégico. Para uma gestão moderna, é essencial que seja efe- tuado um levantamento e uma lista de competên- cias para que a administração possa gerir um plano completo de treinamento e desenvolvimento. Gestão por competências significa, na realidade, gestão de pessoas sob um ângulo de visão sistêmico e, por que não dizer, integrado. A gestão por competências é a administração de recursos humanos estratégicos, porém é algo em que os conceitos, ideias e o que é praticado em termos de gestão estão integrados. Num modelo de gestão por competências integrado temos que ver a empresa como um todo e o próprio setor de RH não pode mais estar subdi- Treinamento e Desenvolvimento – 24 – vidido em caixinhas de organogramas. Não podemos mais pensar em subdi- visões e subáreas em RH. Temos que atuar pensando amplamente: integração do recrutamento e seleção com as demais áreas de RH e toda a empresa. Não cabe mais a ideia de que o treinamento seja montado desarticulado da estra- tégia. As áreas de RH desarticuladas, desintegradas e operando fechadas em si mesmas não são mais aceitáveis nas modernas empresas. A partir do momento em que a empresa está madura para pensar em administração da competência, todo o setor de pessoas passa a mudar e a ter uma visão integrada de gestão. Para isso, é necessário que a empresa invista em alguns fatores básicos. Temos que diagnosticar efetivamente antes de qual- quer mudança estratégica. Vale ressaltar que temos que responder a algumas indagações para avaliar a situação: 2 A empresa não possui um plano estratégico claro com visão, mis- são, valores e estratégias organizacionais? 2 Qual o tamanho da empresa? 2 Qual o nível de integração gerencial? 2 Qual o nível de maturidade da área de pessoas? 2 Qual o grau de importância do RH na participação e na elaboração do plano estratégico da empresa? 2 Qual o grau de envolvimento da empresa na forma horizontal e vertical? 2 Qual o grau de informatização da empresa e a sua integração com o RH? Quando uma empresa dá uma guinada na sua forma de administração de pessoas, ocorrem ganhos objetivos e subjetivos. Surgirão vitórias incalcu- láveis quando contarmos com o envolvimento de todos os níveis de direção numa revisão disciplinada dos talentos necessários. Segundo Ornelas (2003), são inúmeros atributos pessoais e de equipe que as empresa necessita e que podem ser desenvolvidas quando se obedece a um plano de desenvolvimento, como, por exemplo: aprimoramento da liderança, direcionamento das ati- vidades de desenvolvimento dos executivos e de toda a força de trabalho; desenvolvimento da capacidade da sustentação ao planejamento estratégico e do plano de carreira; estudo e coordenação da redução de problemas de transição e de promoções; coordenação dos investimentos em treinamento com as metas estratégicas da organização; coordenação do alinhamento dos – 25 – Planejamento estratégico e o treinamento e desenvolvimento de pessoas sistemas de seleção, recompensa e coordenação do processo de renovação de lideranças, entre muitos outros subprodutos e resultados de valor. (F on te : G U IM A R Ã E S et a l., 1 9 9 8 . A da pt ad o) Figura 3 – Modelo de gestão de desempenho baseado nas competências. Formulação da estraté- gia organizacional Definição da visão, negócio e modelo de gestão Diagnóstico das competências essenciais à organização Definição de objetivos e indicadores de desempenho corporativos Definição de indicadores de desempenho e de remuneração de equipes e indivíduos Formulação dos planos operacionais de trabalho e de gestão Diagnóstico das competências humanas Identificação e desenvolvi- mento de competências internas Captação e desenvolvi- mento de competências externas Acompanhamento e avaliação 1.4 Sistema de treinamento e desenvolvimento contínuo Para uma empresa moderna permanecer no mercado enfrentando todas as adversidades no ambiente em que ela vive, deve preocupar-se em estrutu- rar um sistema de treinamento e desenvolvimento de pessoas de uma forma contínua, que valorize e incentive as pessoas a alcançar a excelência com satis- fação e qualidade de vida. Quando existe uma preocupação com a perenidade da empresa, o apri- moramento dos talentos faz parte da estratégia da organização. Pois ela, além de trazer uma alta produtividade, traz consigo a satisfação e realização do seu quadro de pessoal, consequentemente aumentando a autoestima e a quali- dade de vida dentro e fora do trabalho. A contínua preparação das pessoas garante um futuro melhor tanto para a empresa como para o próprio empregado, pois sua capacitação lhe serve para obter e garantir a empregabilidade dentro ou fora da empresa. Temos Treinamento e Desenvolvimento – 26 – que entender que os programas de treinamento e desenvolvimento são verda- deiros laboratórios de preparação, em que as pessoas são envolvidas em um ambiente de aprendizagem contínuo, um entorno completo de crescimento pessoal e profissional. O treinamento voltado para incentivar as pessoas a alcançarem a exce- lência exige uma metodologia que necessita de planejamento e uma constante reavaliação para que os objetivos sejam atingidos. É possível obter grandes resultados na produtividade quando implantamos uma educação continuada. Podemos considerar como um processo de aprendizagem um ciclo contínuo que obedeça a alguns passos, os quais podemos observar na figura 4. Figura 4 – Sistema de treinamento e desenvolvimento contínuo que valoriza e incentiva as pessoas a alcançarem a excelência. Diagnóstico contínuo das performances, identificação de prob- lemas e de análise das necessidades de treinamento. Preocu- pação com treinamento eficaz, sem desperdícios de recursos. Gestão da aqui- sição integral de competên- cias necessárias. Busca das competências focadas nos objetivos estratégicos. Homogeneidade na capacitação individual com consequente reflexão positiva no desempenho da equipe. Processo contínuo de desenvolvimento, criando um ambiente propício para a absorção de conhecimentos. Ambiente de alta confiança e cooperação. Trabalho de equipe de alta performance. Alta satisfação no trabalho. Alta motivação pessoal. Comprometi- mento individual com os resultados desejados, melhora do desempenho e da qualidade do trabalho. Melhoria da qualidade das relações interpessoais. Promoção da criatividade e inovação no trabalho. Promoção da responsabilidade e autonomia, contribuindo para o processo de empowerment. Gestores capazes de analisare resolver dificuldades que se contraponham com os objetivos estratégicos. – 27 – Planejamento estratégico e o treinamento e desenvolvimento de pessoas Toda empresa possui um produto ou serviço, utiliza uma estratégia e, consequentemente, procura atingir seu mercado. Este, por sua vez, tem por finalidade suprir necessidades. Diante disso, o treinamento e desenvolvimento têm como finalidade preparar a organização com pessoas com capacidade de desempenhar as funções necessárias para atingir as metas estabelecidas. O setor educacional da empresa deve buscar uma metodologia que prepare uma equipe vencedora, um time que possa ter uma alta performance. Para atingir esse obje- tivo, a efetividade do aprendizado, a aplicação dos conhecimentos e as mudan- ças de atitudes devem ser inseridas no processo de desenvolvimento contínuo. Para que as etapas do quadro anterior possam ser exequíveis pedagogi- camente, o planejamento de treinamento e desenvolvimento deve embasar-se nos princípios de andragogia (aprendizagem de adultos), e isso exige exercícios mentais ou de um aprendizado contínuo, em que os treinamentos individuais isolados são totalmente ineficientes. Diante dos estudos da psicologia da apren- dizagem, os adultos têm certa dificuldade em absorver novas competências, pois o medo do novo e a insegurança ocupam certo espaço mental e emocional criando, dificuldades de aprender novas habilidades e conhecimentos. Cursos isolados, de curta duração, desintegrados da estratégia e dos planos futuros da empresa, fazem com que os participantes absorvam muito pouco dos conhe- cimentos ou mudanças comportamentais necessários, ficando com menos de 10%. Quando a empresa necessita implantar novos modelos de trabalhos, novas tecnologias que exijam novas habilidades, são importantes e necessárias ações de apoio pedagógico de longa duração, pois, além de atingir os objetivos, criarão um ambiente de trabalho de alta performance. Texto complementar Treinamento como dimensão competitiva das organizações (OLIVEIRA; VANALLE, 1999) [...] Para se compreender as modificações e a importância do estudo do treinamento nas organizações é relevante recuperar o pensamento de alguns estudiosos sobre o assunto. Malvezzi Treinamento e Desenvolvimento – 28 – considera o treinamento uma ferramenta gerencial fundamental na gestão empresarial. Segundo ele, “Esse papel generalizada- mente reconhecido deve-se à correlação entre competência e otimização de resultados, já observada nos primórdios do sistema de fábrica” (MALVEZZI, 1994, p. 23). A incapa- cidade dos trabalhadores em operar nos seus ambientes de produção, segundo o autor, foi sentida já no século XVIII, prenunciando a importância de investimentos na capacitação profissional. Estudos históricos esclarecem que o crescimento do trabalho especializado, a partir de 1880, redobrou a aten- ção para o setor de treinamento, destacando-o dos demais produtos da área de recursos humanos nas organizações. Tal crescimento favoreceu a sistematização do treinamento. Essa sistematização, no entanto, se restringia à formulação de pro- gramas de treinamento voltados para as habilidades específicas na empresa, que, por sua vez, garantia a diminuição dos erros operacionais decorrentes da sua mão-de-obra, gerando condi- ções para conseguir o perfil ocupacional desejado. Com a estruturação do treinamento, a formação profissional passou a ser preocupação não só do sistema empresarial, mas envolveu o sistema social e educacional da época. Come- çaram, a partir daí, a emergir escolas profissionalizantes, cujo objetivo era o de enriquecer o treinamento dos trabalhadores. Pode-se afirmar que o treinamento, a partir dos anos 1920, era uma instituição tradicional, evoluindo qualitativamente (MAL- VEZZI, 1994). Complementando, Goss (1965) coloca que o treinamento recebeu, em 1930, o status de uma ferramenta administrativa, fazendo parte de um plano estratégico do sistema organizacional, privilegiado como uma ferramenta operacional. Pontual (1980) identifica cinco fases na evolução do trei- namento: subdesenvolvimento, em desenvolvimento, em decorrência do início industrial, industrialização avançada e pós-industrialização (mostradas a seguir). O autor explicita que essa evolução corresponde às necessidades geradas em comum acordo com o processo de industrialização. – 29 – Planejamento estratégico e o treinamento e desenvolvimento de pessoas 1.ª Fase: Subdesenvolvimento Estratégia existente e o futuro do treinamento 1. Plena utilização da mão-de-obra. 2. Início do desenvolvimento de mão-de-obra qua- lificada de acordo com a demanda, 3. Procura de mão-de-obra profissional e tecnológica. 2.ª Fase: Em desenvolvimento Estratégia existente e o futuro do treinamento 1. Estabelecimento de padrões de mão-de-obra e de trabalho: a) estudos de tempos e movimentos; b) padrões de trabalho e avaliação de desempenho. 2. Fortalecimento do treinamento de mão-de-obra: a) treinamento de instrução; b) surgimento de instituições de formação profissional. 3. Fortalecimento da estrutura institucional. 3.ª Fase: Após o início da Industrialização Estratégia Existente e o futuro do treinamento 1. Aumento da responsabilidade social interna. 2. Previsão da mão-de-obra requerida para o planejamento de negócios. 3. Ênfase na eficiência e avaliação da mão-de-obra. 4. Maior ênfase na mobilidade interna. 4.ª Fase: Industrialização avançada Estratégia existente e o futuro do treinamento 1. Formulação de planos de negócios a longo prazo para atender ao social. 2. Planejamento do desenvolvimento de RH a longo prazo. 3. Desenvolvimento do potencial de mão-de-obra na futura força de trabalho. 4. Educação por meio das ciências do comportamento para fortalecimento do desenvolvimento gerencial. 5. Promoção do bem-estar e benefícios indiretos. Treinamento e Desenvolvimento – 30 – 5.ª Fase: Pós-industrialização Estratégia existente e o futuro do treinamento 1. Promoção do desenvolvimento organizacio- nal e aceleração da inovação gerencial. 2. Patrocínio de seminários de desenvolvimento gerencial. Segundo Pontual, “é primordial verificar, em uma região geoe- conômica, em certa categoria empresarial ou mesmo empresa, qual a fase ou fases do modelo analisado que predominam como indicadores de necessidades de treinamento, as quais são também indicadores do comportamento administrativo que poderá caracterizar a cultura na qual as necessidades específicas vão ser consideradas” (PONTUAL, 1994, p. 22). Fica visível para o autor a complexidade de se traçar a evolução do treinamento nas organizações de acordo com os padrões comuns de evolução, ou seja, em relação à segmen- tação cronológica apresentada nesse quadro. Sua evolução, quando ocorrer, deve ser segmentada às condições técnicas e tecnológicas surgidas e de acordo com as características e desenvolvimento da organização. A partir dos anos 1970, com a busca da competitividade ocasionada pela rápida evo- lução tecnológica, a eficiência dos negócios passou a depen- der mais da contínua aprendizagem das pessoas, ficando em segundo plano a autoridade gerencial. Ou seja, a preocupa- ção das organizações estava em acelerar a capacitação, e não em manter pessoas autoritárias em seus cargos de comando (MALVEZZI, 1994). Fato este distinto da concepção taylorista/fordista, em que o planejamento e a execução das atividades do trabalho localizavam-se em esferas estanques e diferenciadas na organização. Posteriormente, com o crescimento tecnológico, já na década de 1980, verifica-se na literatura revisada que as organizações passaram a investir recursos nos programas de treinamento e – 31 – Planejamento estratégico e o treinamento e desenvolvimento de pessoas na capacitação de todos os níveis hierárquicos, como tentativa deampliar sua margem de atuação no mercado competitivo (FERREIRA, 1985; FLEURY, 1995; MALVEZZI, 1994). Em Camarotto et al. é encontrado um reforço para esse posiciona- mento: “Nesse momento de globalização, as principais empre- sas no ranking mundial vêm adotando algumas técnicas de ges- tão de recursos humanos com o intuito de obterem vantagens competitivas através das pessoas, entre os principais programas adotados tem-se [...] as equipes multifuncionais e educação con- tinuada” (CAMAROTTO et al., 1996, p. 59). Dessa maneira, evidencia-se que o desenvolvimento das habilidades pessoais, numa empresa, pode ser a alavancagem necessária para que essas organizações possam prosseguir na sua caminhada pela competitividade. O treinamento segue uma trajetória associada às possíveis dimensões de aprendi- zagem absorvidas pelas pessoas na organização, cujo padrão de desenvolvimento desses recursos humanos tende a ser elevado, realçando suas competências para o agir por meio de destinados níveis de assimilação das informações contidas nesse instrumento de aprendizagem. Uma constante preocu- pação das empresas em investir em treinamento com vistas à ampliação da capacitação dos seus recursos humanos foi enfatizada por Neves et al. (1998) mediante uma pesquisa empírica, aplicada em 286 empresas e indústrias brasileiras e abrangendo dez estados brasileiros. É notório, a partir de então, a importância dada ao produto treinamento em um ambiente produtivo. Assim sustentado, percebe-se que as pessoas podem ser uma fonte importante de vantagem com- petitiva em um ambiente produtivo cada vez mais dinâmico. Segundo Macedo (1997), as habilidades potenciais dos fun- cionários tornam-se pontos importantes a serem explorados. Para o autor, o aprendizado formal nas academias e o treino oferecido pelas organizações passaram a ser valorizados na busca de maior produtividade no trabalho e agilidade de res- posta a mudanças. Treinamento e Desenvolvimento – 32 – Atualmente está havendo uma generalização na preocupação das empresas em investir no treinamento com o nítido intuito de obter retornos definidos e alcançar objetivos previamente definidos (CHIAVENATO, 1996). Um reforço para essa colocação é encontrado em Pfeffer (1996). O autor expli- cita que valer-se de treinamento para conseguir uma margem competitiva também está se difundindo nos fabricantes de automóveis dos Estados Unidos. Segundo ele, companhias como a General Motors, New United Motor e Advance Micro Device investiram consideravelmente em treinamentos apropriados, a partir das constatações de necessidades do desenvolvimento das habilidades humanas, como forma de essas organizações atuarem no novo mercado competitivo. Apesar de uma significativa parcela empresarial investir em treinamento, pode-se questionar se, mesmo com a preocu- pação em preparar e adequar a mão-de-obra para as mudan- ças ocasionadas com os avanços tecnológicos, as empresas conseguem, com o treinamento, o real desenvolvimento da capacidade de aprender. Ou seria necessário investir numa educação de cunho formal, escolar, generalista? Além disso, considerando as novas tendências da área administrativa na valorização contínua da aprendizagem, pode a aprendizagem individual se converter numa aprendizagem organizacional? Como medir esse processo? Atividades 1. Quando uma organização possuiu ativos intangíveis, ela está prepa- rada para: I. desenvolver relacionamentos com clientes, novos segmentos, ni- chos de mercados e para atender a todos com eficácia e eficiência; II. desenvolver e lançar produtos e serviços inovadores; – 33 – Planejamento estratégico e o treinamento e desenvolvimento de pessoas III. produzir bens e serviços customizados e de alta qualidade a preços baixos e com ciclos de produção mais curtos; IV. contar com equipes de empregados qualificados e motivados de outras empresas; V. utilizar sistemas tecnológicos de informação atualizados. Indique a alternativa correta. a. Somente I, II, III e V estão corretas. b. Somente I, II e III estão corretas. c. Somente I, II, III e IV estão corretas. d. Todas estão corretas. 2. Podemos afirmar que empowerment significa: I. a descentralização de poderes pelos vários níveis hierárquicos da empresa, o que se traduz em incentivos para a tomada de iniciati- vas em benefício da empresa como um todo; II. um processo pelo qual se atribui influência ou poder acrescido às pessoas (colaboradores), designadamente por meio do envolvi- mento no processo de decisão, concedendo autonomia etc.; III. o envolvimento e comprometimento dos colaboradores com as decisões tomadas; o fomento à confiança recíproca; estimular a cooperação; que os conflitos podem ser tratados com abertura e sinceridade; que se pode criar o empregado metacompetente, que é aquele empregado que consegue ir além do necessário; IV. uma técnica de empoderamento do capital humano e do capital de giro da empresa e se baseia na construção de um capital de giro ao longo do tempo por meio das vendas estratificadas. Indique a alternativa correta. a. Somente I, II, e IV estão corretas. Treinamento e Desenvolvimento – 34 – b. Somente I, II e III estão corretas. c. Somente I, II, III e IV estão corretas. d. Todas estão incorretas. 3. A grande maioria das empresas busca a excelência. Para isso é neces- sário obter competências em todos os níveis. Podemos afirmar sobre competência: I. é um conjunto de conhecimentos e habilidades; II. é um conjunto de comportamentos e aptidões; III. é um conjunto de possibilidades para obtenção de sucesso na em- presa; IV. é um conjunto de habilidades retroativas. Indique a alternativa correta: a. Somente I e II estão corretas. b. Somente I e III estão corretas. c. Todas estão corretas. d. Somente a IV está correta. Estratégias de treinamento e o ciclo de vida dos negócios Objetivo Estudar o alinhamento entre a estratégia de treinamento e o estágio de vida em que a empresa se encontra. O estudo das estratégias de treinamento e o ciclo de vida dos negócios proporcionam uma visão diferenciada das organizações e dão condições para que o profissional consiga compreender e iden- tificar fatores como: 2 compreender o ciclo de vida das organizações; 2 identificar em que estágio se encontram as empresas; 2 avaliar o grau de deterioração das organizações; 2 saber pensar estrategicamente; 2 conhecer formas para introduzir modificações no pro- cesso organizacional; 2 saber implantar modelos inovadores de gestão. 2 Treinamento e Desenvolvimento – 36 – 2.1 Caracterização do ciclo de vida das organizações e análise das etapas da empresa Quando analisamos as organizações, encontramos inúmeras que são extremamente complexas, possuindo milhares de empregados, abrangendo mais de 100 países, como IBM, Microsoft, GE, Honda, Toyota e tantas outras. Organizações que, além de ter inúmeros empregados e estarem pre- sentes em muitos países, também abrangem centenas de produtos e serviços, a exemplo da GE, que é considerada a maior empresa em diversificação (pro- duz desde turbinas para aviões até fogões elétricos). Para a organização atingir tamanha complexidade ela passa por estágios cíclicos, mas nem sempre são de evolução. Muitas vezes a empresa fica anos a fio estagnada, às vezes regride e muitas vezes desaparece. A preocupação do treinamento e desenvolvimento é manter a progressão da empresa por meio da capacitação do seu quadro de pessoal. Portanto, para o estudo dessa matéria, é fundamental que se entenda como é composto o ciclo de vida da empresa. Ao analisar as empresas de grande porte que vivem mais do que décadas, é possível concluir que são aquelas que inves- tem grande parte dos seus lucros na própria empresa. São investimentosna melhoria dos processos administrativos, produtivos, de sistemas, de imagem, na identidade, e na qua- lidade do produto. Em outras palavras, inovação permanente. Continuando a análise, as organizações, para conseguir adquirir lon- gevidade, também devem buscar a compreensão do mercado por meio de pesquisas efetivas, isto é, devem entender e se tornar sensíveis ao mercado, antecipar-se às necessidades dos clientes, às mudanças, transformando as crises em oportunidades. A empresa, para ter longevidade, precisa aprender a conviver com pes- soas, isto é, clientes, empregados, fornecedores e tantos outros. As pessoas estão presentes em todos os processos, portanto o convívio democrático e tole- – 37 – Estratégias de treinamento e o ciclo de vida dos negócios rante faz com que a empresa adquira um grau de confiabilidade e identidade específico, caracterizando-a e diferenciando-a das outras. Portanto, podemos perceber que quem constrói a longevidade da empresa são as pessoas. Por isso, deve ser construída uma boa base de capacitação e potencial humano. Se uma empresa ficar apenas focada na perspectiva econômica, na visão conservadora, não conseguirá vencer o tempo. É necessária visão estratégica, compreensão da lógica de mercado, visão de curto e longo prazo. A empresa também deve criar uma cultura organizacional que a habilite na superação das adversidades imprevisíveis do mundo corporativo. A criação de uma identidade organizacional, a criação de uma visão e missão consistente capaz de resistir às adversidades, faz com que a empresa crie resistência para vencer qualquer concorrência, estruturando assim uma base para a longevidade. Entretanto, o que realmente faz uma organização se perpetuar é a cons- trução de alguns fatores, como, por exemplo, possuir: 2 um bom planejamento estratégico; 2 um atuante setor de treinamento e desenvolvimento; 2 uma eficiente administração financeira; 2 uma compreensão do mercado e uma alta capacidade de antecipar-se às mudanças. Tudo isso pode ser traduzido como viabilidade, pois toda empresa tem como propósito a sobrevivência viável. Quando analisamos inúmeros teóricos e escolas da administração, desde a época de Taylor1 e Fayol2 ou até nas modernas escolas japonesas3, todas as 1 Frederick Winslow Taylor era um engenheiro americano e veio a desenvolver a chamada Escola da Administração Científica, preocupada em aumentar a eficiência da indústria por meio, ini- cialmente, da racionalização do trabalho operário. 2 Jules Henri Fayol era europeu e veio a desenvolver a chamada Teoria Clássica da Adminis- tração, preocupada em aumentar a eficiência da empresa por meio da sua organização e da aplicação de princípios gerais de administração em bases científicas. 3 A escola japonesa veio em paralelo à recuperação da economia do Japão após a II Guerra Mundial. As empresas daquele país passaram a aplicar novas práticas de gestão – a nova filoso- Treinamento e Desenvolvimento – 38 – melhorias organizacionais são voltadas para dar sustentabilidade à empresa para vencer o tempo. A melhoria contínua, a capacidade de adaptação ao meio ambiente, a dominação do mercado, a criatividade, a inovação e a fle- xibilidade criam um ambiente inovador. Conseguem, assim, estruturar seu próprio aprendizado, produzindo uma ampla capacidade de autossuperação. Quem produz a capacidade de superação de dificuldades a uma empresa ou a um povo é a cultura, a educação, a von- tade e a predisposição ao trabalho; portanto, qualquer difi- culdade empresarial, para ser superada, necessita de pessoas. Elas são a alma e o coração da empresa, por isso todo inves- timento é pouco para deixar o quadro de pessoal preparado. Uma empresa é como se fosse um corpo humano, cada órgão tem sua vida própria, mas depende do todo, e, por sua vez, quando um órgão humano, como o fígado, está debilitado, todo corpo fica doente. O mesmo ocorre com a empresa. O equilíbrio organizacional é de suma importância. E cada órgão possui seu ciclo. Por exemplo, no início todas as empresas são muito versáteis, com pouco controle. Num médio tempo elas aumentam o controle e, por consequência, perdem a flexibilidade. Ao longo da vida de uma empresa ela passa por muitas atividades, mui- tos produtos e serviços e muitos mercados. Também por muitas regiões, tudo em função da sobrevivência. Segundo Daft (1999, p. 220): As organizações evoluem de pequenas para grandes transpondo os estágios do ciclo de vida. No ciclo de vida da organização, elas seguem padrões previsíveis através de estágios de desenvolvimento principais que são, em essência, sequenciais. A cada mudança no gosto do consumidor, a empresa precisa adaptar-se para poder permanecer no mercado, só que muitas vezes, com uma pequena fia de qualidade total e satisfação do cliente. Portanto, surgiu um conjunto de técnicas e práti- cas diferentes de gestão do que existia no mundo. Cultura japonesa orientada para o trabalho de grupo e economia de recursos. – 39 – Estratégias de treinamento e o ciclo de vida dos negócios mudança no produto ou na logística, toda a organização deve se adaptar, modificando processos e formas de gestão para que, em cada mudança, man- tenha-se a empresa viável. Como bem escreve Daft (1999, p. 220) : Cada estágio envolve mudanças na extensão das atividades da organi- zação e na estrutura total. Cada organização progride através do ciclo de vida em seu próprio ritmo, mas a maioria enquadra-se nos quatro estágios definidos: nascimento, juventude, meia-idade e maturidade. O mesmo autor explica que, no estágio de nascimento, a empresa é criada e os fundadores são os “fazem tudo”: produzem, vendem, vão ao banco, cobram, atendem clientes, enfim são quase que os únicos responsáveis pela administração da empresa. No caso do Brasil, podemos até supor que ela inicia de uma forma informal, sem registros, sem controle, podendo até ser uma empresa individual. Não existe uma equipe de trabalho, métodos de trabalhos, nem regras ou regulamentos. Para a empresa conseguir chegar na juventude alguma coisa deu certo. O produto deve estar vendendo bem, pois nessa fase a empresa já tem mais empregados, um gerente, os departamentos começam a surgir, como finan- ças, compras, vendas e produção. Quem inciou a empresa já não tem poder único. Começam a surgir algumas regras formais, o número de empregados é menor do que o necessário. Na meia-idade (ou maturidade) a empresa já pode ser considerada uma vencedora. Segundo o Sebrae, a taxa de sobrevivência das empresas conse- guem chegar a dois anos de vida foi de 75,6%4. Nesse estágio, Daft (1999) afirma que a organização cresceu e alcançou a prosperidade. Aqui já existe burocracia formal, afirma ele, já se pode encontrar divisão de trabalho com políticas e responsabilidades. Regras, descrições de funções, são utilizadas para direcionar as atividades, nasce a preocupação de possuir uma equipe de vencedores. Sistemas de recompensas, orçamento e controles já são utilizados. A empresa só pode passar para outro estágio se conseguir superar a síndrome da descentralização do fundador. 4 Taxa de sobrevivencia de 75,6% para empresas constituídas em 2007, informação dada pelo Sebrae em estudo publicado em 2013, baseado em dados disponíveis até 2010. Estudo dispo- nível em: < www.bibliotecas.sebrae.com.br/chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bds.nsf/ 06d11457d15140966a4e33ee19a31991/$File/5607.pdf >. Acesso em: 18 nov. 2015. Treinamento e Desenvolvimento – 40 – Segundo Daft (1999, p. 221), “no estágio da maturidade, a organização é grande e mecanicista, na verdade, a estrutura vertical com frequência se torna muito forte”. Todos os mecanismos de administração estão implementados, como: orçamento, sistema de controles, regras, políticas, grandes equipes de engenharia, contabilidade,especialistas em todas as áreas. Nesse estágio, as empresas facilmente podem estagnar e iniciar o declínio. Tabela 1 – Características estruturais durante os estágios do ciclo de vida da organização Nascimento Juventude Meia-idade Maturidade Dimensão Pequenas Médias Grandes Muito grandes Burocracia Não buro- cráticas Pré-buro- cráticas Burocráticas Muito burocráticas Divisão de trabalho Tarefas superpostas Alguns depar- tamentos Muitos departa- mentos, tarefas bem definidas, organogramas Extensiva, descrição de funções por escrito Centralização Regras de uma pessoa Regras de altos líderes Descentra- lização para chefes de departamentos Descen- tralização forçada, alta administração sobrecarregada Formalização Sem regras escritas Poucas regras Políticas e manuais de procedimentos Extensa, a maioria das atividades é coberta por manuais escritos Intensidade administrativa Secretária, sem equipe profissional Aumento de auxiliares e manutenção, pequena equipe profissional Aumento de equipe de assistência profissional Grandes profis- sionais múltiplos, e departamentos de equipes de auxiliares (F on te : D A F T, 1 9 9 9 , p . 2 21 ) – 41 – Estratégias de treinamento e o ciclo de vida dos negócios Nascimento Juventude Meia-idade Maturidade Sistemas inter- nos (informa- ção, orçamento, planejamento, desempenho) Não existe Orçamento incipiente e sistemas de informações Sistema de controle implementados – orçamentos, performance, relatórios operacionais Extensos – planejamento, finanças e acréscimo de pessoal e sistemas Equipes laterais, força- -tarefa para coordenação Nenhuma Somente altos líderes Algum uso de integradores e força-tarefa Frequente nos níveis inferio- res de trabalho para derrubar barreiras da burocracia Na tabela 1, verificamos que cada etapa da empresa está bem caracte- rizada, e diversos fatores demonstram isso, como é o caso da burocracia. É sabido que, quando uma organização cresce, a burocracia evolui na medida da necessidade de controles formais. Assim ocorre com o planejamento, formação de equipes, a divisão trabalho e tantos outros, até que ela fique no estágio de maturidade, em que se completa com todas as ferramentas da administração. Ao analisar as etapas de cada estágio, pode-se perceber nitidamente o que ocorre com cada uma delas, assim é possível compreender onde e quando a empresa necessita de treinamento e desenvolvimento de pessoas. Com isso, pode-se visualizar os problemas de cada estágio e, por sua vez, criar um plane- jamento de desenvolvimento das pessoas na área técnica e/ou comportamental. Entretanto, Daft (1999, p. 222), em sua obra Administração, afirma que o progresso das organizações nem sempre obedece a uma lógica. As organizações não progridem através dos quatro estágios do ciclo de vida de uma forma lógica e ordenada. Os estágios podem avançar ou ficar para trás em dada organização. A transmissão de um estágio Treinamento e Desenvolvimento – 42 – para o seguinte é difícil e amiúde resulta em crise. Empregados que presenciaram o nascimento da organização frequentemente se acos- tumam à atmosfera informal e resistem aos procedimentos formais, à departamentalização, e aos departamentos em grupos necessários, em organizações em desenvolvimento. No livro Teoria e Projeto das Organizações, Daft (1999, p. 114) efetua uma análise mais consistente, em que interpreta os momentos de crise de cada fase e o que se deve fazer. Nesse livro, ele afirma: Crescer não é fácil. A cada vez que uma organização entra num novo estágio do ciclo de vida, ela penetra num universo inteiramente novo, com um novo conjunto de regras sobre como a organização deve funcionar interna- mente e como ela se relaciona com o ambiente externo. Nesse livro, o autor apresenta uma nova interpretação do ciclo de vida das organizações e como ela deve ser administrada. São apresentados quatro estágios: empresarial, coletivo, de formalização e de elaboração. O estágio empresarial dá-se quando surge a empresa e o foco é na criação do produto e sobrevivência no mercado. O empresário fica dividido com a produção e com as vendas. Ela é informal e não burocrática. Normalmente os proprietários trabalham longas horas, e o controle é baseado na supervisão pessoal. Percebemos, no gráfico a seguir, que após vencer a etapa da criati- vidade, em que o empresário lançou o produto e já possui um crescimento significativo, vem a crise de liderança. O proprietário passa por problemas de gerenciamento; se nesse momento ele encontrar alguém que possa assumir essa posição ou desenvolver alguém, a empresa passa para o estágio seguinte. Aqui é possível observar o quanto o treinamento e desenvolvimento é impor- tante para ajudar a empresa a superar cada fase. No estágio de coletividade, Daft (1999, p. 114) afirma que “se a crise de liderança for resolvida obtém-se uma forte liderança e a organização começa a desenvolver metas claras.” Nessa fase, começam a surgir os departamentos, hierarquias de autoridades, cargos e atribuições, divisão do trabalho, mas a – 43 – Estratégias de treinamento e o ciclo de vida dos negócios comunicação ainda é informal. Aqui surge a crise de delegação, surgem cons- trangimentos da forte liderança, ocorre uma crise de autonomia. Nessa fase, o importante é encontrar mecanismos para controlar e coordenar os departa- mentos sem a supervisão direta da cúpula. No estágio de formalização, já existem normas e procedimentos escritos e sistemas de controle, as comunicações são mais formais, já existe a neces- sidade de um especialista em Recursos Humanos e outras especialidades de produção e de marketing. No topo da administração, a preocupação é o estratégico e as tarefas mais técnicas são assumidas por gerentes; o processo de descentralização começa a ocorrer. Nesse momento, a empresa começa a viver a crise de formalidade. O excesso de formalidade sufoca a organização e o equilíbrio disso é a chave para evitar a crise, outro problema é a pro- liferação de sistemas e programas, tirando a criatividade organizacional. A burocracia toma conta da empresa, surgem ressentimentos entre os gerentes de linha e as assessorias. No estágio de elaboração, o maior desafio é estruturação de equipes har- mônicas e produtivas. Nesse momento, a empresa necessita de gerentes que desenvolvam habilidades para enfrentar problemas e trabalhar em conjunto. A burocracia é dominante na empresa, surge a necessidade de divisão da empresa em força-tarefa, e em múltiplas divisões de negócios. Após atingir a maturidade, a empresa enfrenta altos e baixos com declínios acentuados e, nesse momento, surge a necessidade da renovação organizacional. É a crise da revitalização. A grande preocupação desse estágio é a lentidão e a demora para tomar decisões e resolver os problemas; para evitar a decadência, somente com inovação generalizada. Assim sendo, estudamos alguns aspectos muito importantes do ciclo de vida das organizações e neles podemos nos inspirar para criar soluções de pro- blemas que ocorrem no dia-a-dia das empresas. O importante é que cada um dos leitores possa efetuar um exercício de imaginação e analisar em que estágio a sua empresa se encontra, assim é mais fácil de diagnosticar as necessidades de treinamento e desenvolvimento de pessoas. Em cada crise, são as pessoas que superam os problemas, é o corpo gerencial, e este deve estar permanentemente atualizado e preparado para poder coordenar a evolução da corporação. Treinamento e Desenvolvimento – 44 – Empresa grande Fornecimento de orientações claras Adição de sistemas internos
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