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Tutoria 1- 2ºmódulo/ Jeovanna Miranda Tromboembolismo Pulmonar Conceito: O Tromboembolismo venoso (TEV), que abrange a trombose venosa profunda (TVP) e a embolia pulmonar (EP), constitui uma das três principais causas cardiovasculares de morte, justamente com o infarto do miocárdio e o acidente vascular encefálico. Trombose Venosa Profunda (TVP) é a coagulação do sangue em uma veia profunda de um membro (em geral de panturrilha, coxa) ou pelve. É a causa principal de EP. Decorre de condições que comprometem o retorno venoso, acarretando disfunção ou lesão endotelial ou provocando hipercoagulabilidade. Embolia Pulmonar (EP) é definida como a obstrução da artéria pulmonar ou suas ramificações por um material (trombo, tumor, gordura ou ar) que se origina no corpo. Na prática médica, a maioria dos casos é devido ao Tromboembolismo Venoso (TEV), uma entidade que tem como base a Trombose Venosa Profunda (TVP), e como complicação aguda o Tromboembolismo Pulmonar. Tromboembolismo Pulmonar (TEP): É uma síndrome clínica definida como a presença de trombos que impactam e ocluem vasos arteriais pulmonares, levando a uma grande variedade de sintomas. A grande maioria dos trombos é originária da TVP dos membros inferiores. Existem também outros tipos de EP não causados por trombos. O TEP pode ser subdividido em: Agudo: Pacientes que apresentam sintomas de início súbito no momento em que há embolização do trombo para ramos arteriais da circulação pulmonar. Subagudo: Pacientes que passam a apresentar sintomas no decorrer de dias ou semanas após a embolização. Crônico: Pacientes que apresentam uma embolização na vasculatura pulmonar e desenvolvendo gradualmente (no decorrer de meses/anos) hipertensão pulmonar. Etiologia TEP provocada: a etiologia foi causada por alguma situação recente no período entre 6- 12 semanas. Ex: Cirurgias recentes, fratura de fêmur, imobilização. TEP não provocada: não se sabe a etiologia do tromboembolismo pulmonar. Ex: paciente previamente hígido sem comorbidades evolui com quadro TEP agudo. Apresentação clínica • TEP maciça: Paciente hemodinamicamente instável (PAS <90 mmHg). Importante frisar que o termo maciço não envolve o território acometido pelo trombo e sim a con- dição de instabilidade do paciente. • TEP submaciça: Paciente está estável, porém apresenta disfunções miocárdicas no ecocardiograma (disfunção de ventrículo direito, áreas de hipocinesia). Tutoria 1- 2ºmódulo/ Jeovanna Miranda • TEP não maciça: Paciente estável e sem alterações miocárdicas, ou seja, aquele que não preenche aos critérios anteriores. O TEP é classificado de acordo com sua repercussão hemodinâmica. A instabilidade hemodinâmica é definida como pressão arterial sistólica (PAS) < 90mmHg ou queda da PAS em mais de 40mmg em um intervalo de 40 minutos, e quando presente, configura quadro de TEP maciço ou de alto risco. Esses pacientes apresentam altas taxas de mortalidade nas primeiras 72 horas do quadro e precisam ser trombolisados em uma unidade de terapia intensiva! Quando não há repercussão hemodinâmica, mas há sinais eletrocardiográficos ou ecocardiográficos de sobrecarga do ventrículo direito, o TEP é classificado como submaciço, ou de risco moderado. Os casos em que não há instabilidade hemodinâmica ou sobrecarga ventricular direita, são classificados como TEP de baixo risco. Epidemiologia: é globalmente a terceira causa mais frequente de síndrome cardiovascular aguda logo a seguir ao enfarte do miocárdio e ao acidente vascular cerebral. As taxas de incidência anual de EP variam entre 39 – 115 por cada 100.000 pessoas. A incidência de TEV é quase oito vezes superior em indivíduos ≥ 80 anos do que na quinta década de vida. Fisiopatologia (Tríade de Virchow) A embolia ocorre quando uma parte do trombo – ou ele todo – se desloca do seu local de origem (geralmente a face interna de uma valva venosa), indo parar na circulação pulmonar. Os grandes trombos que se impactam na bifurcação do tronco da artéria pulmonar são chamados de trombos “em sela” ou “a cavaleiro”. Os lobos inferiores costumam ser os mais afetados. Quais são as consequências pulmonares da embolia? A súbita instalação de oligoemia no parênquima pulmonar dá origem a regiões bem ventiladas e mal perfundidas, aumentando-se o chamado espaço morto fisiológico. Ao mesmo tempo, áreas do parênquima distantes do território hipoperfundido começam a sofrer atelectasia, devido a uma importante queda na produção de surfactante! A isquemia dos ácinos alveolares libera uma série de mediadores inflamatórios (ex.: serotonina e tromboxano) os quais atuarão nas proximidades do segmento afetado, inibindo os pneumócitos tipo II no tecido pulmonar saudável. Além disso, esses mesmos mediadores são capazes de induzir broncoespasmo difuso, piorando a ventilação como um todo. Assim, a principal consequência respiratória da embolia é a hipoxemia, devido a um importante desequilíbrio na relação ventilação-perfusão (distúrbio V/Q). As áreas de pulmão bem perfundido não estão livres dos efeitos do TEP: pelo contrário, elas desenvolvem atelectasia e broncoespasmo, e se tornam hipoventiladas. São nessas áreas que acaba ocorrendo o fenômeno do shunt direita-esquerda intrapulmonar, isto é, o sangue desoxigenado atravessa o pulmão sem receber oxigênio. Outra consequência extremamente comum da embolia pulmonar é a taquidispneia, resultante da estimulação dos receptores J alveolares pelos mediadores inflamatórios liberados, o que desencadeia hiperventilação reflexa (levando à alcalose respiratória), além de uma terrível sensação subjetiva de “falta de ar”. Tutoria 1- 2ºmódulo/ Jeovanna Miranda Quais são as consequências cardiocirculatórias da embolia? A principal alteração é o aumento da resistência vascular do pulmão, que se manifesta como hipertensão pulmonar aguda. O ventrículo direito é uma câmara acostumada a trabalhar com baixas pressões, e não tolera aumentos súbitos e intensos em sua pós-carga… Só pra você ter ideia, a pressão arterial pulmonar já está bastante elevada com 25 a 30% de obstrução do leito vascular… Quando 75% do leito pulmonar for agudamente obstruído, a pressão necessária para manter o débito de VD gira em torno de 50 mmHg, o que é simplesmente impossível de ser alcançado, de maneira súbita, pelo VD saudável. Como a resistência arterial pulmonar aumenta? O primeiro mecanismo é óbvio, a obstrução mecânica promovida pelos êmbolos impactados! Já o segundo talvez não seja tão evidente: vasoespasmo, secundário à liberação de mediadores inflamatórios (os mesmos da atelectasia e do broncoespasmo). Por fim, quando o paciente desenvolve hipoxemia importante, a própria PaO2 baixa exerce efeito vasoconstrictor, levando a um ciclo vicioso de hipoxemia e piora do vasoespasmo. O VD se dilata perante aumentos em sua pós-carga, na tentativa de manter seu débito (mecanismo de Frank-Starling). Porém, se o aumento na pós-carga for muito intenso, o débito do VD diminui. Isso acontece por duas razões: (1) incapacidade de ejetar o sangue contra uma resistência pulmonar elevada; (2) disfunção isquêmica do VD. Mas de onde vem essa isquemia miocárdica? A dilatação extrema do VD aumenta a tensão em sua parede, dificultando o fluxo de sangue pela circulação coronariana! E como se trata de uma situação com alta demanda metabólica pelo miocárdio, é possível a ocorrência de um infarto agudo de VD nesses casos! Tanto é assim que níveis séricos elevados de troponina são importantes marcadores de mau prognóstico no TEP (microinfartos subendocárdicos), bem como aumentos do BNP (Brain Natriuretic Peptide) que acompanham a dilatação das cavidades cardíacas. A embolia maciça é definida pelo colapso circulatório agudo (hipotensão + choque): o débito cardíaco (isto é, o débito do ventrículo esquerdo) está diminuído. Não é difícil perceber que a combinação de queda no débito sistólico do VD associadaao abaulamento do septo interventricular para dentro da cavidade do VE, reduzindo seu volume (pela dilatação extrema do VD) resultam na queda do enchimento diastólico do VE, o que reduz, proporcionalmente, o débito cardíaco! A este quadro dramático e fatal damos o nome de cor pulmonale agudo, a grande causa de óbito no TEP. A patogênese do TEP envolve os fatores que predispõe à ocorrência de trombose venosa profunda (TVP) os elementos da Tríade de Virchow (estase venosa, hipercoagulabilidade e lesão endotelial), e migração de êmbolos para os pulmões. Na maioria dos casos, há formação de trombos nos membros inferiores em território de vasos venosos íleo- femorais (vasos proximais dos membros inferiores) que se movimentam em direção à circulação pulmonar, ocluindo os vasos arteriais pulmonares. Os trombos também podem ter sido originados em membros superiores, entretanto, esta situação é infrequente. O trombo ascende dos MMII (mais comum) pela veia cava inferior e acessa o coração através do átrio direito. Posteriormente vai para o ventrículo direito e por fim alcança a circulação pulmonar. A obstrução dos vasos leva a diminuição da pré-carga e a liberação de mediadores inflamatórios como o tromboxano que age promovendo a vasoconstrição e elevando a resistência pulmonar. O ventrículo direito tenta manter o Tutoria 1- 2ºmódulo/ Jeovanna Miranda equilíbrio, ou seja, mantém o débito cardíaco à custa do aumento da pressão pulmonar. Como consequência desta instalação súbita as fibras cardíacas podem se esgarçar levando à dilatação da câmara direita, que pode deslocar o septo interventricular (situação visualizada no ecocardiograma). A hipertensão pulmonar pode permanecer mesmo após o tratamento do episódio agudo, sendo, portanto, uma complicação. Episódios de TEP com obstrução de ramos mais distais dos vasos pulmonares apresentam maior risco de desenvolvimento de infarto pulmonar, com resposta inflamatória intensa na região em decorrência da morte celular. Isso se correlaciona com manifestações clínicas como hemoptise e dor pleurítica. Com a obstrução de um ramo da artéria pulmonar, surge uma área de espaço morto patológico no pulmão, definida como uma área em que há ventilação, no entanto, não há perfusão para que ocorra a troca gasosa. Dessa maneira, há uma alteração na relação ventilação/perfusão (V/Q), o que contribui o desenvolvimento de sintomas respiratórios como dispneia e alterações como hipóxia. Além disso, a dinâmica respiratória também é alterada na TEP em decorrência da resposta inflamatória, que contribui para a ocorrência de atelectasia, taquipneia e consequentemente hipoxemia e alcalose respiratória, nos casos mais graves. Tutoria 1- 2ºmódulo/ Jeovanna Miranda Fatores de risco O TEV é considerado como uma consequência da interação entre os fatores de risco relacionados com o doente, geralmente permanentes, e os fatores de risco relacionados com o contexto, geralmente temporários. Manifestações Clinicas - A sintomatologia do tromboembolismo pulmonar é inespecífica; - Diante deste abismo quando devemos pensar em TEP? Quadro clássico: Dor torácica aguda em pontada, ventilatório-dependente (pleurítica), dispneia, tosse (seca ou hemoptoica) e hemoptise (pouco usual). TRÍADE CLÁSSICA: Dor pleurítica, hemoptise e dispneia. Alterações hemodinâmicas como hipotensão e até mesmo choque obstrutivo são observados nos pacientes com TEP de alto risco, podendo estar associados a arritmias. Sintomas atípicos: Síncope, crise convulsiva, dor abdominal, febre, diminuição do nível de consciência, dor em flanco, nova fibrilação atrial, delirium (em idosos), chiado no peito, dor retroesternal e ansiedade. Sinais: Sinais que podem estar presentes nos pacientes com TEP são taquicardia (visto no eletrocardiograma, na forma sinusal), taquipneia, sinais de instabilidade (hipotensão/ PAS<90), distensão jugular, hiperfonese de B2 na ausculta cardíaca (sugere existência hipertensão pulmonar), sibilos na ausculta respiratória, murmúrios vesiculares reduzidos (como consequência de atelectasias) e sinais de TVP como edema assimétrico em membros inferiores que pode ou não estar associado a dor, calor e rubor (sinais logísticos) no local. Febre é um achado possível, porém muito incomum. OBS: O principal sintoma do TEP é DISPNEIA e o principal sinal é a TAQUIPNEIA. Tutoria 1- 2ºmódulo/ Jeovanna Miranda Probabilidade pré-teste (Genebra modificado, Wells) Escore de Wells Em decorrência da inespecificidade do quadro clínico são necessários exames complementares para fechar o diagnóstico de TEP. Para facilitar na condução da propedêutica e terapêutica utilizamos pré- testes diagnósticos para determinar a probabilidade clínica e não retardar o início da anticoagulação, buscando assim reduzir a mortalidade do quadro. A medicina baseada em evidência nos respalda quanto a iniciar o tratamento (anticoagulação) em casos de alta probabilidade em que o resultado dos exames complementares postergaria a terapêutica. Pacientes com escore de Wells < 2 pontos apresentam baixa probabilidade de TEP. Entre 2 e 6 pontos os pacientes apresentam risco intermediário para TEP. Pacientes com ≥7 pontos no Escore de Wells apresentam alto risco para TEP. Uma alternativa menos específica é separar os pacientes em 2 grupos, de acordo com o escore de Wells. Pacientes com < 4 pontos apresentariam TEP como diagnóstico improvável, e pacientes com > 4 pontos apresentariam TEP como diagnóstico provável. Genebra Modificado Tutoria 1- 2ºmódulo/ Jeovanna Miranda Escore PERC: Se o paciente for classificado como de baixa probabilidade pelo Wells ou Genebra modificado, deve-se usar o escore PERC. Todas as perguntas do PERC devem ter resposta negativa. Se houver qualquer resposta “sim” indica que o escore PERC não pode descartar EP. Exames complementares Gasometria arterial O paciente com TEP apresenta um distúrbio V/Q, com perfusão inadequada. Consequentemente, o paciente tenta compensar hiperventilando, que pode levar a uma diminuição da PCO2 no sangue. Assim, as alterações encontradas são a presença de hipoxemia e da hipo ou hipercapnia. Como são achados inespecíficos não podemos utiliza-los isoladamente para fechar o diagnóstico de TEP, podendo ainda vir NORMAL em alguns casos. D-dímero: O D-dímero é um produto de degradação da fibrina é utilizado pelo seu alto valor preditivo negativo, ou seja, quando os níveis do D-dímero são baixos (D-dímero < 500 ng/ml) em pacientes com baixo risco da doença, o TEP pode ser excluído como hipótese diagnóstica. Porém, se os níveis de D-dímero forem > 500ng/ml, não podemos afirmar que a causa da elevação do dímero D foi causada pela TEP, já que outras situações também cursam com a sua elevação como a gravidez e o envelhecimento. A maioria dos autores também acredita que pacientes com risco intermediário (escore de Wells < 6), e D-dímero < 500ng/ml também não devem realizar exames radiológicos para investigar TEP. O D-dímero possui um valor PREDITIVO NEGATIVO ELEVADO, ou seja, paciente BAIXO risco com D-DÍMERO negativo, pode-se excluir o diagnóstico de TEP. Radiografia de tórax: A radiografia de tórax apresenta baixa sensibilidade e especificidade para a avaliação de TEP e na maioria das vezes se apresenta sem alterações. O TEP, porém, pode se manifestar na radiografia na forma de atelectasia ou Tutoria 1- 2ºmódulo/ Jeovanna Miranda derrame pleural. As principais alterações que podem ser encontradas na radiografia de tórax de paciente com TEP são: • Sinal de Westermark: é a consequência da obstrução do vaso, ou seja, são áreas de hipoperfusão pulmonar; O sinal de Westermark é caracterizado por uma área radiolúcida (de menor densidade que o tecido circundante), de forma triangular com seu vértice direcionadopara o hilo do pulmão. A extensão da área que mostra o sinal é variável e pode ser muito pequena quando o tromboembolismo afeta apenas um segmento pulmonar ou muito grande quando afeta um lobo inteiro. É possível que ocupe todo o pulmão em casos de envolvimento do tronco principal da artéria pulmonar. Outra característica do sinal de Westermark é a diminuição do parênquima vascular do parênquima pulmonar, ou seja, a rede de pequenos capilares pulmonares é menos visível na área radiolúcida. • Sinal de Palla: dilatação da artéria pulmonar, causado pelo desvio do sangue da artéria obstruída para outra região; Na radiografia, encontramos uma imagem semelhante a uma salsicha (aparência salsichoide) indo em direção ao lobo médio direito. • Sinal de Hampton (opacidade em cunha): é alteração clássica da TEP na radiografia, corresponde a área de infarto ou hemorragia pulmonar, que forma necrose e área de atelectasia podendo ou não estar associada a derrame pleural. Na radiografia é vista uma imagem em cunha no parênquima do pulmão, cuja a sua base está voltada para a parte periférica do mesmo, enquanto a sua ponta é localizada em direção ao centro do pulmão. De forma geral, realiza-se a radiografia de tórax para avaliar os diagnósticos diferenciais, já que é um exame disponível, barato e de fácil manuseio e interpretação. Tutoria 1- 2ºmódulo/ Jeovanna Miranda Eletrocardiograma: O ECG pode apresentar-se de forma variada, ou seja, normal assim como cursar com achados inespecíficos dentre eles a taquicardia sinusal e alterações no segmento ST em cerca de 70% dos casos. O padrão S1Q3T3 é altamente sugestivo, mas apesar de ser considerado um achado clássico apresenta baixíssima sensibilidade. Ecocardiograma: É um exame fundamental para o prognóstico, pois irá auxiliar na estratificação do paciente pós-TEP já que pode avaliar disfunções no ventrículo direito. Também pode auxiliar na identificação da etiologia da dispneia e dor torácica. É válido ressaltar que o ecocardiograma transesofágico apresenta maior sensibilidade e especificidade quando comparado ao transtorácico na detecção de trombos na artéria pulmonar. Arteriografia pulmonar: É um exame invasivo considerado método padrão ouro para o diagnóstico da TEP. O uso de contraste iodado permite avaliar a circulação pulmonar. Apesar de ser considerada padrão ouro, a arteriografia pulmonar é reservada aos casos em que outros métodos não confirmaram TEP e a suspeita clínica permanece alta. As principais complicações deste exame são anafilaxia e nefrotoxicidade induzidas pelo uso do contraste. Exames de Imagem (Específicos) USG de MMII com doppler: Exame pouco invasivo que demonstra sinais diretos e indiretos de trombo. Pode ser usado quando há contraindicação à angioTC, pacientes com alergia ao contraste, portadores de IRC ou em gestantes. Cintilografia: O exame consiste na inalação de albumina marcada com tecnésio 99. Após a inalação, são realizadas várias imagens que relacionam ventilação com perfusão de cada área. O exame compara a perfusão com a inalação: se há áreas com ventilação SEM perfusão, deve-se pensar em diagnóstico de TEP. Tutoria 1- 2ºmódulo/ Jeovanna Miranda O diagnóstico de TEP pela cintilografia consiste na probabilidade: • Alta probabilidade clínica e com alta probabilidade cintilográfica→ TEP • Baixa probabilidade clínica e cintilografia pulmonar normal → Exclui TEP • Baixa ou intermediária probabilidade cintilográfica → para elucidar o diagnóstico devemos lançar mão de outro exame. Angiotomografia de tórax: É considerado o exame padrão ouro, com o desenvolvimento da tecnologia e melhora da qualidade das imagens obtidas. Apresenta como maiores qualidades ser um exame não invasivo, facilmente acessível, com aquisição rápida das imagens, avaliando a presença de TEP com alta sensibilidade e especificidade, apresentando sensibilidade acima dos 96% nos pacientes com alta e intermediária probabilidades de TEP. Apresenta como vantagem também a possibilidade de avaliação do parênquima pulmonar, da pleura e do mediastino (identifica infarto pulmonar, derrame pleural, aumento de câmara cardíaca direita). Por utilizar radiação ionizante e contraste iodado, é contraindicado em pacientes com alergia ao contraste e gestantes. Conceitos fundamentais no diagnóstico do TEP: - Pacientes com suspeita de tromboembolismo pulmonar devem ser investigados até que o diagnóstico seja confirmado ou afastado, ou outra causa para o quadro seja estabelecida. A regra é "pensou em embolia pulmonar, investigar"; - D-Dímero negativo, em paciente com baixa probabilidade de TEP, exclui o diagnóstico; - D-Dímero não deve ser utilizado em pacientes com alta probabilidade, pois nestes um exame negativo não exclui o diagnóstico; - Exame de primeira escolha: Angiotomografia de tórax (idealmente em tomógrafo de 16 canais, necessitando de, pelo menos, 30 segundos de apneia); - Exame de segunda linha: Cintilografia pulmonar V/Q (alternativa quando angiotomografia não é possível. Ex.: casos em que o paciente não consegue fazer apneia, tenha insuficiência renal ou alergia a iodo); - Exame para casos excepcionais: Arteriografia pulmonar (caiu muito em desuso pela dificuldade de realização, pelos bons resultados da angiotomografia, por ser examinador dependente e por ser invasivo. Em geral, indicado quando há necessidade de tratamento intervencionista). Estratificação de risco (PESI) O PESI é uma ferramenta que estratifica o risco de mortalidade por tromboembolia pulmonar aguda (TEP), auxiliando os médicos a definirem o tratamento do paciente após um episódio de TEP. Tutoria 1- 2ºmódulo/ Jeovanna Miranda Pacientes PESI Classe I ou II: o tratamento deve ser feito em domicílio com uso de anticoagulante oral, sem necessidade de internamento hospitalar para avaliação diagnóstica. São classificados como baixo risco. Paciente PESI Classe > II: internamento hospitalar para investigação do quadro e avaliar prognóstico. Deve-se solicitar ecocardiograma transtorácico (eco-TT) + enzimas cardíacas (troponina e BNP). Esses pacientes são classificados como risco intermediário e podem ainda ser divididos em risco intermediário baixo (eco-TT OU enzimas cardíacas alteradas OU nenhum dos dois alterados) ou risco intermediário alto (ambos os exames alterados). Pacientes com alteração no ecocardiograma transtorácico e/ou alteração de troponina/BNP apresentam pior prognóstico. Tutoria 1- 2ºmódulo/ Jeovanna Miranda Tratamento As modalidades terapêuticas no TEV incluem o uso de anticoagulantes, trombolíticos, filtro de veia cava e procedimentos invasivos (cirúrgicos ou endovasculares). Paciente estável Anticoagulação A anticoagulação reduz a taxa de mortalidade em cerca de 80-90%, basicamente pela sua capacidade de evitar a recorrência do TEP. Nenhum anticoagulante exerce ação direta sobre o trombo. A dissolução do mesmo é levada a cabo pelo sistema fibrinolítico endógeno: o que o anticoagulante faz é inibir a continuidade do processo trombótico, virando a balança para o lado da fibrinólise! Portanto, anticoagular é a base do tratamento do TEV. Devemos alcançar o estado de anticoagulação plena dentro das primeiras 24h de terapia. Ressalte-se que em casos onde a suspeita clínica de TEP for muito grande, mas por algum motivo os exames confirmatórios não puderem ser realizados de imediato, pode-se anticoagular empiricamente (isto é, até que se providenciem os exames confirmatórios necessários). • Heparina de Baixo Peso Molecular As HBPM são comprovadamente superiores à heparina não fracionada para a anticoagulação de pacientes com TEP que se mantêm hemodinamicamente estáveis. Logo, podem ser escolhidas para início do tratamento nesse contexto, quando se opta pela utilização de cumarínicos em longo prazo. Outras grandes vantagens da HPBM emrelação à HNF são: (1) Farmacocinética mais previsível; (2) Uso subcutâneo; (3) Menor risco de Trombocitopenia Induzida por Heparina (HIT); (4) Não é necessário monitorar a anticoagulação (dispensa o PTTa). As HBPM são excretadas pelo rim, e sua posologia deve ser corrigida ou pelo clearance de creatinina, ou pela dosagem do antifator Xa. A HBPM possui alguma desvantagem em relação à HNF? Sim… A meia-vida da HBPM é maior que a da HNF (12h versus 6h). Nos pacientes mais graves, a probabilidade de precisarmos realizar um procedimento invasivo é alta, pois a qualquer momento o paciente pode descompensar. Tutoria 1- 2ºmódulo/ Jeovanna Miranda • Fondaparinux (inibidor do fator Xa) Trata-se de um pentassacarídeo sintético derivado da heparina, que promove uma interação seletiva entre a antitrombina e o fator Xa, inativando este último. Estudos iniciais indicam que sua eficácia no TEP provavelmente é semelhante à da HNF, constituindo uma alternativa viável. Suas principais vantagens são: (1) não causa HIT; (2) uso subcutâneo; (3) não precisa de monitoração laboratorial. Entretanto, uma importante desvantagem precisa ser destacada: não existe antídoto contra essa droga. O fondaparinux também deve ser evitado na disfunção renal! • Warfarin (Antagonista de Vitamina K) O warfarin pode ser iniciado junto com a primeira dose dos modernos anticoagulantes parenterais (HBPM ou fondaparinux), devendo ser usado em conjunto com essas drogas por um mínimo de 5-7 dias. O efeito do warfarin é avaliado pela dosagem do INR (International Normalized Ratio), que deve se manter entre 2-3 (alvo = 2,5). As drogas parenterais podem ser suspensas após duas dosagens do INR dentro dessa faixa (em dois dias consecutivos). A dose inicial é geralmente 5 mg/dia. Indivíduos obesos podem precisar de 7,5 a 10 mg/dia. Pacientes desnutridos ou que se submeteram a um longo curso de antibioticoterapia devem receber 2.5 mg ao dia, pois é comum que apresentem deficiência de vitamina K. Em pacientes que desenvolveram um primeiro episódio de TEP na vigência de fatores de risco transitórios (ex.: cirurgia), o tempo de anticoagulação deve ser de três a seis meses. Já em pacientes com TEP idiopático, isto é, sem fator desencadeante, ou TEP recorrente, a taxa de novos episódios a longo prazo é extremamente alta. Preconiza-se que esses indivíduos recebam de seis a doze meses de anticoagulação, devendo-se reavaliá-los após esse período quanto à necessidade de anticoagulação permanente. • Os Novos Anticoagulantes Orais Essas drogas vêm sendo cada vez mais empregadas no tratamento do TEV. Além do uso oral, outras vantagens são: (1) uso de doses fixas; (2) anticoagulação plena logo após a primeira tomada; (3) não é necessário monitoração laboratorial; (4) não possuem tantas interações medicamentosas como o warfarin. Dividem-se em dois grupos principais: Tutoria 1- 2ºmódulo/ Jeovanna Miranda inibidores diretos do fator Xa (rivaroxaban, apixaban e edoxaban) e inibidores diretos da trombina (dabigatran). Apixabana - Administrar 10 mg VO a cada 12 h, por 7 dias, seguidos de 5 mg VO a cada 12 h. Possui efeito rápido. Rivaroxabana – Administrar dose de 15 mg por via oral (VO) a cada 12 horas, por 21 dias, seguida de 20 mg VO uma vez ao dia. Possui efeito rápido. Endoxaban – Administrar 60 mg por via oral (VO) uma vez ao dia. Necessita de um tratamento ponte. • Dabigatran – Administrar 150 mg por via oral (VO) a cada 12 horas. • Necessita de um tratamento ponte. Desvantagens: contraindicado em pacientes com disfunção renal, FA com uso de prótese valvar e pacientes com estenose mitral. Além disso, é um medicamento caro. Paciente instável Em pacientes instáveis é preconizado o uso de trombolíticos. Os trombolíticos reduzem de maneira efetiva a quantidade, ou melhor dizendo, a “carga” de trombos formados. Estas drogas atuam ativando o plasminogênio tecidual. Devemos ter em mente que os trombolíticos só podem ser administrados uma vez confirmado o diagnóstico de TEP. • Estreptoquinase: administrar 250.000 UI IV em bolus em 30 min, seguido de 100.000 Ul/h por 12-24 h OU 1.500.000 UI IV em 2 horas – preferível. • Alteplase ou rtPA: 0,6mg/kg IV em 15 minutos (dose máxima de 50mg) OU 100mg IV em 2 horas – preferível. • Tenecteplase – 30 mg para ≤ 60 kg; 35 mg para 61 a 69 kg; 40 mg para 70 a 79 kg; 45 mg para 80 a 89kg; 50 mg para ≥ 90 kg. • Heparina Não Fracionada A HNF é o anticoagulante de escolha para tratar os pacientes com TEP que apresentem instabilidade. A razão para tal fato é muito simples: é a única droga que demonstrou reduzir mortalidade nesses casos. A HNF deve ser feita em bomba infusora, ajustando-se a taxa de infusão contínua de acordo com o Tempo de Tromboplastina Parcial ativado (PTTa), verificado de 6/6h. A dose inicial no TEP é 80 U/kg em bolus, seguindo-se infusão de 18 U/kg/h. De maneira genérica, o bolus é feito com 5.000-10.000 UI, e a infusão contínua com 1.000-5.000 UI/h… A anticoagulação estará garantida quando mantivermos um PTTa 1,5 a 2,5 vezes acima do valor do controle (60-80 segundos), o que com frequência requer ajustes na dose. Trombectomia Uma opção de tratamento de fibrinólise mecânica é a trombectomia, onde é retirado o coágulo endovascular através de cirurgia. • Filtro de Veia Cava Inferior Os filtros de veia cava inferior conseguem impedir a recidiva do TEP em curto prazo, porém aumentam o risco de TVP em longo prazo – por este motivo, o ideal é que sejam posteriormente retirados, se possível! Esses filtros devem ser posicionados abaixo das Tutoria 1- 2ºmódulo/ Jeovanna Miranda renais, através de punção da veia femoral direita ou da veia jugular interna direita. Uma venocavografia deve ser realizada após o procedimento. • Terapia Intervencionista Hemodinamicistas experientes são capazes de reconhecer o(s) ponto(s) de obstrução por trombo no leito arterial pulmonar e, em alguns casos, desfazer a obstrução com uma das seguintes opções: (1) trombolítico intra-arterial; (2) embolectomia succional; (3) embolectomia por fragmentação; (4) outros métodos. Tutoria 1- 2ºmódulo/ Jeovanna Miranda LEMBRETES • O TEV compreende a TEP e a TVP. • A TEP aguda é muito frequente na prática médica hospitalar, com risco de morte definido. • O processo diagnóstico deve começar pelo alto nível de suspeição. • A dispneia e/ou a dor torácica pleurítica, sem causas aparentes, associadas à identificação de fatores de risco, são compatíveis com TEP aguda. Escores de risco podem ser muito úteis para apoiar a suspeita e definir a conduta. • Radiograma simples de tórax, gasometria arterial, eletrocardiograma e enzimas são testes nãodiagnósticos, mas reforçam a suspeita ou apontam em outra direção. • O diagnóstico objetivo de TEP aguda baseia-se (1) na associação de alta probabilidade entre a cintilografia pulmonar perfusional e suspeita clínica ou (2) na identificação objetiva de trombos na angiotomografia computadorizada de tórax ou na arteriografia por cateter. O quadro clínico pulmonar compatível e o diagnóstico objetivo de trombose venosa profunda também permitem o diagnóstico. • O tratamento da TEP aguda se faz com heparinas (iniciada a partir da suspeita de moderada a alta probabilidade), seguido por antagonista da vitamina K (cumarínicos) quando da confirmação diagnóstica. A heparina deve ser mantida até se atingir níveis terapêuticos de warfarina (geralmente INR 2,0 a 3,0). Os trombolíticos devem ser reservados para pacientes com TEP maciça e choque. • O tempo de duração da anticoagulação (tromboprofilaxia secundária) depende da permanência de fatores de risco. • Considerando-se o risco de vida determinado por um evento agudo e pelas recidivas, bem como pela potencial dificuldade de diagnóstico objetivo, a melhor política para tratar do problema da TEV éa profilaxia sistemática adaptada às condições de risco.
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