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Memória: Classificações, Conceitos e Fatores 
 
DESCRIÇÃO 
Tipos e formas de memória. Os mecanismos de formação da memória. As memórias de curta e longa 
duração. A modulação das memórias. 
PROPÓSITO 
Compreender as modificações no conceito do construto memória ao longo do tempo e como memória e 
aprendizagem se relacionam para sistematização da prática docente. 
OBJETIVOS 
 Módulo 1 
Diferenciar os tipos e formas de memória 
 Módulo 2 
Compreender os mecanismos de formação da memória 
 Módulo 3 
Identificar as memórias de curta e longa duração 
 Módulo 4 
Relacionar algumas variáveis ambientais na modulação das memórias 
 
INTRODUÇÃO 
Você conseguiria imaginar a sua vida sem memória? Pense bem na função da memória. 
Antes de iniciarmos uma abordagem mais técnica e conceituarmos diversos tipos de memória, podemos 
parar e refletir o que seria de nossa vida sem a memória. 
Bem, considerando a evolução filogenética da nossa espécie (Homo sapiens sapiens), sem a memória não 
estaríamos aqui hoje. 
 
Para chegarmos até o século XXI, gradualmente, evoluímos a nossa forma de pensar e de armazenar 
informações. Por esse motivo, desenvolvemos tecnologia de acordo com a necessidade do ambiente e 
sempre em um continuum histórico de acúmulo de conhecimento. Sem a memória, nada disso seria 
possível: 
Há 800.000 anos dominamos o fogo. 8.000 anos atrás dominamos a agricultura. Hoje, temos 
smartphones e amanhã teremos robôs. 
 
Pense na memória, didaticamente, como uma cola adesiva, dessas que usamos para colar papel, madeira 
etc. A memória une o passado com o tempo presente. Essa união nos permite, enquanto espécie, evoluir. 
A escrita, adquirida cerca de 5.000 anos atrás, nos permite contar nossa história até os dias de hoje. Sem 
memória não existe acúmulo de conhecimento. Sem acumularmos conhecimento, não existe história. 
Sem nossa história, não teríamos a cultura, a arte a literatura. Se na evolução da nossa história 
armazenamos informações na pedra, no papiro e depois no papel, no sistema nervoso, armazenamos 
informações nos neurônios. Sem esses neurônios, nada do que contamos até aqui seria possível. 
 
MÓDULO 1 
Diferenciar os tipos e formas de memória 
 
O PASSADO, O PRESENTE E O FUTURO 
 
Vida é memória. Dei para pensar que tudo que há de mais vivo em mim foi aquilo que já se foi. As 
pessoas mais importantes foram as que ficaram. (Medeiros, 2002) 
 
Em nosso cotidiano e em nossa cultura, as pessoas com grande capacidade de memória são muito 
valorizadas. Ficamos impressionados quando aparece uma pessoa em um programa de televisão capaz 
de decorar listas intermináveis de palavras, ou quando estudamos com alguém que demonstra grande 
capacidade de retenção de conhecimento e alta velocidade da aquisição da informação. Algumas pessoas 
são capazes de ler um texto uma única vez e reproduzir com fidedignidade as informações ali contidas. 
Outras pessoas apresentam maiores dificuldades para aprender. 
Os problemas de aprendizagem nem sempre estarão na memória, podendo estar também na atenção, 
nos níveis de inteligência e, obviamente, na história de desenvolvimento dessa pessoa, em seu histórico 
escolar, estilo de vida, alimentação, sono, estilo de aprendizagem, dentre outras variáveis. 
Você sabia 
Existem atletas de memória competitiva que revelam o grande potencial do cérebro humano nos 
chamados esportes mentais. 
 
Ao mesmo tempo em que a memória é um objeto de interesse e empolgação, sofremos quando 
percebemos que a memória de alguém se esvai nas areias do tempo. 
Um filme que retrata essa angústia é Para Sempre Alice, com a atriz norte-americana Julianne Moore. A 
história é sobre uma mulher bem-sucedida que, aos poucos, começa a esquecer algumas palavras e a se 
perder nas ruas, sendo diagnosticada com Alzheimer. 
Na doença de Alzheimer, o presente e o futuro se esvaem gradualmente da consciência, abrindo lugar 
apenas para evocação das memórias do passado, até que nem essas permanecem. Trata-se de uma 
doença neurodegenerativa progressiva que resulta em deterioração cognitiva global e da memória. 
Tipicamente, os primeiros sinais e sintomas dessa doença são em prejuízos da memória. 
 
Se, de um lado, nos empolgamos com os atletas de memória competitiva, no outro, nos entristecemos 
com as doenças degenerativas que retiram o que há de melhor em nós, enquanto espécie, que é a nossa 
capacidade de memorização e o uso que fazemos dela. A vida como conhecemos depende de 
conseguirmos ligar o nosso passado com o presente e, assim, prospectarmos nosso futuro, fazendo planos 
e sonhando com o amanhã. Se perdermos essa capacidade, teremos uma outra vida que, seguramente, 
será bem diferente. 
Memória competitiva 
X 
Doenças degenerativas 
 
O cinema demonstra, ludicamente, alguns conceitos que vamos trabalhar neste tema sobre memória. Os 
filmes, muitas vezes, apresentam fatos que não reproduzem tecnicamente o fenômeno por um viés 
científico, em prol de um bom roteiro que objetiva cativar ao expectador, juntando fatos científicos e 
ficção. 
O entretenimento faz parte da proposta desse tipo de arte, mas o problema de memória como o retratado 
em Como se fosse a primeira vez, com os atores Adam Sandler e Drew Barrymore, está muito longe de ser 
uma comédia romântica na vida real. Esse filme demonstra, mesmo de maneira suave, como um caso de 
amnésia anterógrada impacta a vida do paciente e de sua família. 
Atenção 
A pessoa não aprende novas memórias após o evento que ocasiona esse tipo de amnésia, podendo ser 
por traumatismos cranianos, infecções no sistema nervoso, acidentes vasculares encefálicos, tumores, 
consequências decorrentes de cirurgias no cérebro, dentre outras condições que impactam o bom 
funcionamento do sistema nervoso. 
 
Você sabia 
Em 1985, o musicista britânico Clive Wearing, de até então 47 anos, desenvolveu uma condição de 
amnésia anterógrada e retrógrada e só conseguia evocar informações por poucos segundos, 
consequência de uma encefalite por herpes. Ele não é capaz de reter novas informações e vive poucos 
segundos por vez. Esse maestro britânico, porém, ainda é capaz de tocar piano e ler uma partitura musical, 
ou seja, a memória procedural para a música está preservada. Sem a memória não há como juntar o 
passado com o presente, ou seja, não existe o tempo na vida desse musicista. Mas, quando ele está na 
frente de um piano, é capaz de tocar. Isso é incrível, não é mesmo? 
 
Mesmo com imprecisões científicas, os filmes nos dão pequenos exemplos que nos permite não apenas 
imaginar, mas visualizar essa traumática condição de perda de memória. No filme Como se fosse a 
primeira vez, esses casos em que o passado, o presente e o futuro não mais existem nos são apresentados 
com um toque de humor, mas não há qualquer diversão nesse quadro para a família e amigos que 
convivem com alguém com prejuízos importantes na memória. 
A memória humana é amplamente tratada pelo cinema e pela literatura (científica e não científica), pois 
é um tema realmente fascinante. Na vida real, observarmos diversas manifestações diferentes dos nossos 
sistemas mnemônicos, no plural, pois não temos apenas um sistema de memória, mas vários. 
A escritora Martha Medeiros, na obra Divã, conta a história de uma mulher de 40 anos. Em psicoterapia, 
a personagem relata algumas de suas memórias, como o primeiro namorado e tantas outras boas ou 
ruins, que ela guardou por toda sua vida. A personagem evoca essas memórias de forma consciente e 
voluntária, data os eventos de sua vida, declara os acontecimentos. Em psicoterapia, algumas 
memórias escondidas, por conta do seu conteúdo ansiogênico ou pelo estresse, vem à tona. Mesmo 
suprimidas, em algum momento, ela foi capaz de evocá-las. 
Atenção 
Há uma distinção entre supressão de memória e esquecimento, pois jamais iremos recordar algo que 
esquecemos. O senso comum usa a expressão esquecimento de forma coloquial, e não científica. 
 
Embora o maestro Clive Wearing,cuja história conhecemos há pouco, ainda seja capaz de tocar piano, 
algo que ele aprendeu antes da inflamação por herpes, essa memória não é evocada conscientemente, 
pois ele não é mais capaz de fazê-lo. Sua memória declarada dura apenas alguns segundos, ele não tem 
disponível na consciência o seu passado para evocar e declarar. O que sobrou, após a encefalite herpética, 
trata-se de uma memória musical e procedural, ou seja, é automática, sem que ele tenha consciência de 
como faz. 
Podemos de antemão compreender que estamos falando de memória, mas de tipos 
diferentes de memória. 
Vida é memória, sem dúvida. A qualidade dessa memória e o seu correto funcionamento determinarão 
a qualidade da vida. 
 
OS TIPOS DE MEMÓRIA: DECLARATIVAS (EXPLÍCITAS) E NÃO DECLARATIVAS (IMPLÍCITAS) 
Brenda Milner, nascida em 1918, completou incríveis 102 anos em julho de 2020. A neuropsicóloga 
canadense possui um legado que nos permite dizer que está nos alicerces da fundação da Neuropsicologia 
clínica, além de uma produção científica robusta na neuropsicologia. É mais conhecida por seu trabalho 
com o paciente Henry G. Molaison (o caso H.M). Portador de uma amnésia anterógrada, ele é um dos 
pacientes mais estudados na história da Neuropsicologia e da Medicina. H. M. doou o seu cérebro para 
estudo post mortem. O cérebro foi mapeado em 3D após sua morte no ano de 2008. 
Um caso clássico da literatura no estudo dos processos cognitivos básicos, que evidencia tipos diferentes 
de memória, ocorreu na década de 1950. Trata-se do caso conhecido como H. M. 
Exemplo 
Henry G. Molaison (H. M.) era um paciente que sofria de um quadro de epilepsia não responsiva aos 
tratamentos da época. H. M. foi então submetido a uma cirurgia e teve a remoção bilateral de parte do 
seu lobo temporal medial, incluindo a amígdala e grande parte do hipocampo. Após a cirurgia, H. M. 
perdeu a capacidade de consolidar memórias de curto prazo em memórias declarativas de longo prazo. 
Investigações conduzidas pela neuropsicóloga Brenda Milner demonstraram que ele podia aprender 
novos procedimentos e ações. Dia após dia, H. M. se saía melhor em tarefas que envolviam ações manuais, 
como diminuir o tempo para concluir as atividades. Muitas das vezes, o próprio se surpreendia com sua 
perícia, pois não se lembrava, conscientemente, de que vinha treinando a atividade há vários dias. Toda 
vez que Brenda Milner iniciava uma sessão com H.M., precisava se apresentar, explicar as instruções das 
tarefas, objetivos etc., pois Henry não lembrava o que já vinha sendo trabalhado. 
Casos semelhantes ao de H. M. são vastos na literatura. Lesões em determinadas áreas do cérebro 
permitem aos neurocientistas e aos neuropsicólogos investigarem funções cognitivas e a localização de 
epicentros dessas funções no tecido nervoso. Paul Broca (1824-1880) também contribuiu para a área 
através dos seus estudos sobre linguagem. 
O hipocampo é um epicentro para consolidar memórias de curto prazo em memórias de longo prazo 
declarativas. Lesões no hipocampo, seja por acidente vascular cerebral, seja por ablação para tratar 
quadros de epilepsia do lobo temporal ou outras condições médicas, resultam em amnésia anterógrada. 
O paciente não será mais capaz de consolidar novas memórias declarativas, mas mantém memórias 
declarativas consolidadas antes da lesão. 
Atenção 
A aquisição, a formação e a retenção de memórias não declarativas não são alteradas por lesões no 
hipocampo. 
 
CLASSIFICAÇÕES DA MEMÓRIA 
Existem diversas classificações das memórias. De acordo com a sua função, com o tempo e com 
o conteúdo. (IZQUIERDO, 2002) 
 
 
Comentário 
Memória: A capacidade de aquisição, formação, conservação e evocação de informações. Somos aquilo 
que recordamos (IZQUIERDO, 2002). Aquisição é uma outra forma de dizer “aprendizagem”. 
 
Quanto ao tempo, a memória pode ser separada em: 
Curto prazo (ou de curta duração) 
Dura até seis horas, tempo necessário para serem consolidadas em sistemas de longo prazo. 
 
 
Longo prazo (ou de longa duração) 
Dura dias, semanas, meses ou anos. 
 
Quanto ao seu conteúdo, a memória pode ser classificada em: 
Declarativa: São memórias que evocamos conscientemente. Podemos declarar aquilo que sabemos, ou 
seja, dizer que essas memórias existem, quando, onde foram adquiridas e o que significam. 
 Episódica ou autobiográfica - Fatos e eventos. Lembrar o rosto de uma atriz em um filme, por 
exemplo. 
 Semântica - O significado das coisas, das palavras, nosso conhecimento de Psicologia e os demais 
saberes. 
 
Não declarativa (implícita): São memórias que não evocamos conscientemente. São os nossos hábitos, 
nossas habilidades motoras, como andar de bicicleta, dança, dirigir, nadar, soletrar, perícia nos esportes 
etc. 
 Habilidades e procedimentos 
Quando estamos aprendendo a dirigir, ou a brincar com uma bola, no início, precisamos nos esforçar para 
lembrar o que fazer, mas, aos poucos, os nossos movimentos ficam automatizados. Tocar um instrumento 
musical, depois de aprendermos a evocação, não é um ato consciente, pois o músico simplesmente toca. 
 Priming (pré-ativação ou dica) 
Memórias evocadas através de dicas. Ouvir uma nota e lembrar da música, colocar as mãos nas teclas de 
um piano e começar a tocar. É o caso do maestro britânico Clive Wearing. Ele não tem consciência de que 
sabe tocar piano ou ler partituras, mas quando está com as mãos sobre o piano e uma partitura, ele irá 
tocá-lo e lê-las. Essas dicas também funcionam em pessoas com a memória preservada. 
 Associativa 
Respostas emocionais condicionadas, adaptadas ou desadaptadas. O condicionamento clássico irá 
ampliar nossa capacidade de reagir ao ambiente precocemente no desenvolvimento. Trata-se do reflexo 
condicionado. Aprendemos a reconhecer nossa mãe (ou quem nos alimenta) pelo cheiro, com poucos 
dias de vida. Uma música pode trazer bem-estar, gerando endorfina, dopamina, serotonina e ocitocina. 
Porém, também pode estar envolvida com as respostas de luta e fuga (respostas ao estresse), gerando 
cortisol, adrenalina e noradrenalina. O condicionamento clássico também é responsável por algumas 
aprendizagens desadaptadas, por exemplo, quadros de fobia e transtornos da ansiedade. 
Saiba mais 
Há também outros tipos de memórias, as memórias não associativas, de habituação e de potenciação. 
 
MÓDULO 2 
Compreender os mecanismos de formação da memória 
 
ONDE FICA ARMAZENADA A MEMÓRIA? 
É incorreto fazer uma analogia da memória humana com a de um computador que mantém os dados 
armazenados em um único local, chamado de disco rígido (Hard Disk – HD). 
Muitas pessoas ficam em dúvida se o hipocampo é o “HD” do ser humano. 
 
A resposta é não! 
 
Atenção 
As nossas memórias são armazenadas nos neurônios em diferentes partes do cérebro, não ficando 
localizadas em apenas um único lugar. O hipocampo é importante para a consolidação de novas memórias 
declarativas, mas não armazena, como um HD de um computador, todas as informações. 
 
As nossas memórias são o resultado de nossas experiências, da aprendizagem que pode ser definida como 
uma mudança razoavelmente permanente no repertório comportamental do organismo decorrente da 
experiência. Isso é o que chamamos de aquisição. Existem tantas memórias, quanto as experiências que 
uma pessoa vivencia ao longo de sua vida. 
 
Áreas distintas do cérebro, circuitarias neuronais específicas e diferentes, armazenam diferentes partes 
da experiência e assim, diferentes partes da memória. A complexidade das experiências determinará 
a diversidade de circuitarias e áreas do cérebro envolvidas para armazenar uma memória. 
 
Adquirir, formar, conservar e evocar uma memória envolve diferentes áreas do cérebro e diversas 
circuitarias neuronais: 
Diferentes partes do córtex cerebral são divididas em áreas que chamamos de lobos cerebrais. 
Abaixo, vamos analisar os principais centros das funções cognitivas e apontar alguns centros de 
armazenamento de informaçõesmnemônicas. 
 Lobo Parietal: Atua na percepção, na integração da informação somatossensorial (tato, pressão, 
temperatura e dor), processamento visuoespacial, na atenção, orientação espacial, representação 
numérica. No giro pós-central, localiza-se o córtex somatossensorial primário. Algumas 
informações que usamos para refletir sobre nós mesmos e alguns aspectos da consciência ficam 
armazenadas em estruturas do lobo parietal. 
 Lobo frontal: Atua nas funções executivas (tomada de decisão, planejamento, solução de 
problemas, raciocínio), controle motor voluntário, cognição, inteligência, na atenção, expressão 
da linguagem, na motivação. Área de broca (parte motora da linguagem), córtex pré-motor e 
motor primário são subestruturas do lobo frontal. A memória motora da língua é armazenada em 
estruturas do lobo frontal. Lesões na área de broca resultam em uma afasia motora. 
 Lobo temporal: Atua nas memórias declarativas (hipocampo), audição, processamento e 
percepção de informações sonoras, reconhecimento de faces e objetos, capacidade de entender 
a linguagem, processamento visual de ordem superior e regulação das reações emocionais. Fazem 
parte do lobo temporal a amígdala, o córtex auditivo primário, a área de Wernicke e os giros 
temporais.. A memória das informações necessárias para compreensão da língua (Wernicke) é 
armazenada em estruturas do lobo temporal. A memória do medo, em parte, é armazenada na 
amígdala. Lesões na área de Wernicke resultam em uma afasia da compreensão da língua. 
 Lobo da ínsula: O lobo da ínsula está “escondido” entre os lobos temporal, frontal e parietal. Tem 
relação com a memória gustativa e está envolvido na coordenação das emoções. 
 Lobo occipital: Único lobo que podemos atribuir funções específicas. Visão de: cor, movimento, 
profundidade e distância. Fazem parte como subestruturas as áreas visuais primária e secundária. 
A memória das informações visuais fica nessa região. 
 
A FORMAÇÃO DAS MEMÓRIAS 
Nossas memórias são formadas durante nosso desenvolvimento a partir das nossas experiências. Essas 
experiências são codificadas pelo cérebro e armazenadas em novos engramas sinápticos devido à 
plasticidade neural. 
 
A plasticidade neural é a capacidade de o cérebro desenvolver novas conexões sinápticas em decorrência 
das experiências comportamentais que vivenciamos. 
 
O cérebro irá se moldar quando estimulado por essas experiências. 
 
Uma memória procedural, dos hábitos motores, por exemplo, não depende do hipocampo. O epicentro 
dessas memórias é uma estrutura do encéfalo chamada de cerebelo. Embora o cerebelo seja um 
epicentro dos nossos hábitos motores, ele não é o único responsável. Trata-se do nosso sistema 
vestibular que é um órgão gravitoceptor (ouvido interno – sistema auditivo). 
Comentário 
O cerebelo e o sistema vestibular trabalham em conjunto para manutenção do nosso equilíbrio e do 
comportamento motor. As informações necessárias para que isso aconteça estão armazenadas nessas 
estruturas. 
 
No cerebelo, temos a memória dos nossos hábitos motores, mas existem conexões e circuitarias 
neuronais, entrando e saindo dele. Essas redes neurais também compõem o conjunto de neurônios que 
armazenarão as informações pertinentes aos hábitos motores. 
A propriocepção é o nome técnico que expressa o conceito que acabamos de descrever, ou seja, nossa 
cinestesia. Graças ao trabalho do cerebelo e do sistema vestibular, conseguimos nos manter de pé e em 
equilíbrio, movermos nosso corpo de forma adaptada e ordenada para atingir a um objetivo, como 
levantar e pegar um copo de água, digitar, escrever etc. 
Atenção 
Receptores sensoriais proprioceptivos estão espalhados por todo o corpo, enviando sinais para a nosso 
sistema vestibular. 
Essa memória muscular é desenvolvida, gradualmente, nos primeiros anos de nossas vidas até a 
maturidade. Também podemos aprender novos hábitos motores adultos, tais como: dirigir, dançar, 
nadar. Uma vez aprendida, essa memória é mantida por toda a vida, caso não sofra nenhuma 
intercorrência, como ocorre no acidente vascular encefálico. 
Aquisição, formação, conservação dos hábitos motores, ou seja, aprendizagem do comportamento 
motor, não evocamos conscientemente. Uma memória implícita é automática. Isso significa que, depois 
de aprendermos, nós apenas dirigimos, dançamos, falamos, andamos etc. 
Novas memórias são formadas a todo momento. Com exceção de crianças muito pequenas, pois antes 
dos quatro anos não existe a consolidação de memórias duradouras e fidedignas. Entre os quatro e os 
sete anos, gradualmente, esse processo de consolidar novas memórias declarativas é aprimorado. 
Atenção 
Um outro dado relevante na formação das memórias declarativas de longa duração é que elas se 
beneficiam da língua. De forma gradual, após os 2 ou 3 anos são usadas a função cognitiva da linguagem 
para aquisição, formação, retenção e evocação de novas memórias declarativas. 
 
A INTEGRAÇÃO DAS MEMÓRIAS IMPLÍCITAS E EXPLÍCITAS 
Exemplo 
Um exemplo simples e didático que podemos usar para demonstrar a integração entre as memórias 
declarativas e não declarativas é pensar que vamos nos levantar para pegar um copo de água. Esse 
pensamento é uma função cognitiva de ordem superior e trata-se de uma atividade cortical dos lobos 
frontais. É voluntária. 
Podemos, também, evocar uma memória declarativa episódica para lembrar que colocamos uma garrafa 
de refrigerante na geladeira e, ainda, declarar para uma pessoa, ao nosso lado, nossas intenções. 
 
Tudo isso se trata da evocação de memórias declarativas, conscientes, voluntárias, mas, depois disso, a 
mágica acontece. 
 
Simplesmente, vamos nos levantar e executar vários comportamentos motores complexos para buscar o 
refrigerante e, ao mesmo tempo, continuar conversando ou pensando em preparar uma pipoca para 
acompanhar a bebida. 
 
Essa complexidade motora não é evocada conscientemente; ela é automática, ou seja, você 
simplesmente faz. Nesses casos, o processo consciente é apenas ter a intenção de agir. 
 
 
MÓDULO 3 
Identificar as memórias de curta e longa duração 
 
Os efeitos das memórias procedurais implícitas, modificam o comportamento de uma pessoa com base 
na experiência, sem que ela tenha acesso consciente a essas informações. Basta que indivíduos saudáveis, 
sem prejuízos que impeçam um desenvolvimento biológico normal, recebam a estimulação ambiental 
para que essas memórias naturalmente sejam implementadas. 
Algumas dessas memórias não são desejadas, como é o caso das aprendizagens associativas por 
condicionamento clássico, que está na base de quadros de fobias e transtornos da ansiedade. Portanto, 
são aprendizagens desadaptadas que permanecem por anos, caso não exista uma intervenção, e são 
mantidas por reforço negativo. 
Você sabia 
O indivíduo não tem controle consciente ou voluntário nessas aprendizagens, pois elas simplesmente 
acontecem em decorrência do contexto, do tipo de estímulos que o ambiente oferece. 
 
Um ambiente rico em oportunidades de práticas de esporte e dança, na infância e adolescência, 
proporciona conexões robustas no cerebelo; e isso resulta em uma inteligência corporal-cinestésica. 
X 
Um ambiente empobrecido desses tipos de estímulo, dificilmente, resultará em um adulto com tal 
inteligência aflorada. Embora possa ser desenvolvida, essa inteligência não será com a mesma qualidade 
se adquirida na infância. 
 
As aprendizagens que resultam em memórias declarativas envolvem ativamente um esforço cognitivo e, 
novamente, o papel do ambiente em oferecer estímulos é fundamental. 
 
No entanto, cada indivíduo tem um papel ativo na aquisição desse tipo de memória. Podemos com esforço 
treinar nossa atenção, nossas funções executivas e nossa memória. Os pais, os mediadores, os 
educadores, que ajudam a desenvolver nas crianças o controle inibitório, estão transformando os adultos 
do futuro em pessoas que pensam antes de agir. 
Atenção 
 O controle inibitório, a nossa capacidadede planejamento e a flexibilidade mental podem ser 
desenvolvidos, isso chamamos de funções executivas. 
 As funções executivas e a memória de trabalho são processamentos de ordem superior (cortical) 
que têm função gerencial ou executiva. 
 
MEMÓRIA DE TRABALHO (OU OPERACIONAL) E MEMÓRIA DE CURTA DURAÇÃO 
A memória de trabalho é nossa capacidade de processar informações, sendo semelhante à de curta 
duração, pois ambas se referem ao armazenamento temporário de informação e possuem capacidade 
limitada. Contudo, a memória de trabalho é ativa, enquanto a de curto prazo é passiva. 
 
Uma memória de curto prazo, que dura cerca de seis horas ou menos, ou passa por um processo de 
reforço e se consolida em sistemas mnemônicos de longa duração, ou é esquecida. 
X 
A memória operacional, por sua vez, conserva a informação por um período para poder examiná-la e 
compará-la com o acervo de memórias de curto prazo e de longo prazo, implícitas e explicitas. A memória 
de trabalho mantém as informações por tempo o suficiente para que consigamos ter um comportamento 
integrado direcionado a um objetivo. Observa-se, por exemplo, a deterioração da memória de trabalho 
em indivíduos esquizofrênicos. 
 
Saiba mais 
A função da memória de trabalho é verificar se a informação na memória de curta duração é nova ou não, 
se será útil, e se irá gerenciar o reforçamento até que se consolide em sistemas de longa duração. O córtex 
pré-frontal mantém esse sistema de gerenciamento através de conexões com outras estruturas 
vinculadas à memória. 
 
MEMÓRIA DE LONGA DURAÇÃO 
O sistema nervoso é composto por bilhões de células nervosas (neurônios e células de suporte, glia). O 
ser humano é um sistema formado por um conjunto de subsistemas, onde existem complexas redes 
neurais. Um neurônio comunica-se com outros através de uma linguagem eletroquímica, chamamos essa 
comunicação de sinapse. Os neurotransmissores, ou mensageiros químicos, são responsáveis em 
codificar e passar adiante (para outro neurônio) um conjunto de informações. 
Atenção 
A aprendizagem acontece quando essas redes neurais são fortalecidas pela repetição de sinapses, 
resultando, por exemplo, no comportamento. 
Nesses subsistemas, existem diversas redes neurais, diferentes tipos de neurotransmissores, formando 
camadas e camadas de informações, verdadeiros engramas sinápticos. Isso é a base da memória de longa 
duração. 
 
O FENÔMENO DA POTENCIAÇÃO DE LONGA DURAÇÃO 
Nas neurociências, estuda-se o fenômeno da potenciação de longa duração (long term potentiation – 
LTP), que evidencia a ideia de que, a nível celular, esse processo aumenta a eficiência dos neurônios, pré 
e pós-sinápticos, por meio de um aumento da neurotransmissão. 
O conjunto de sinalizações químicas a nível molecular que regula esse processo é complexo e não 
objetivamos abordá-lo neste tema. 
Exemplo 
Precisamos aprender o equilíbrio, a andar, a manipular nossos efetores (mãos) em direção a um estímulo 
alvo. Precisamos desenvolver motricidade fina para manipular objetos com precisão e, posteriormente, 
aprendemos a segurar uma caneta para escrever. Por tentativa e erro, engatinhar, tentar levantar, cair e 
começar tudo novamente, vamos selecionando as conexões sinápticas mais bem-sucedidas, e essas serão 
reforçadas por uma potenciação de longa duração (long term potentiation – LTP), pois produziram 
resultado. 
 
O ESQUECIMENTO 
Uma função tão nobre quanto armazenar é esquecer. Neste tema, estamos definindo o esquecimento 
como enfraquecimento de uma sinapse, mas como um construto, podemos encontrar definições 
diferentes em outras fontes. 
Para analisarmos a função do esquecimento, partimos de uma condição em que a pessoa não consegue 
esquecer. Trata-se de uma memória autobiográfica altamente superior (hipertimesia). É uma síndrome 
rara, fazendo com que a pessoa não se esqueça de nada ao longo da vida. Trata-se de uma supermemória 
autobiográfica. O que parece ser algo positivo, não esquecer, torna a vida dessas pessoas, muitas das 
vezes, pouco funcional, com baixa flexibilidade mental e capacidade adaptativa reduzida. 
Exemplo 
Algumas evocações de memória são impulsivas. Lembrar-se do sabor do sorvete que você tomou na noite 
de 2 de fevereiro, do ano de 1982, pode ser pouco útil para as demandas da vida. Basta ter 
um priming para a lembrança brotar na mente. 
Um outro processo, diferente do LTP, é chamado de depressão de longa duração (LTD). Enquanto a LTP 
reforça sinapses, a LTD as enfraquece. Esse mecanismo de enfraquecimento seletivo das sinapses que não 
trazem resultados, e o processo de LTP reforçando as sinapses que trazem resultado no comportamento, 
formam a base da fisiologia da memória. A LTD é um processo que está na base do esquecimento, por 
este motivo, não evocamos o que esquecemos, pois simplesmente a sinapse não existe mais para ser 
evocada. 
LTP 
 
LTD 
Reforça sinapses. Enfraquece sinapses. 
Traz resultado ao comportamento. Não traz resultado ao comportamento. 
Base da fisiologia da memória. Processo na base do esquecimento. 
 
Atenção 
Não devemos nos confundir com a forma que o senso comum utiliza a expressão esquecimento que, 
fisiologicamente, é chamado de supressão de memória. 
 
O esquecimento em doenças neurovegetativas possui mecanismos diversos. Nestes casos, existe perda 
de neurônios e morte celular em áreas específicas do cérebro. 
 
A LTD não leva à morte celular, apenas enfraquece uma sinapse, e esse neurônio será reforçado a fazer 
uma conexão mais funcional. 
 
MÓDULO 4 
Relacionar algumas variáveis ambientais na modulação das memórias 
 
MEMÓRIAS IMPLÍCITAS 
Memórias implícitas (procedurais) são resistentes e não sofrem tanta influência do meio externo quanto 
as memórias declarativas. Uma memória declarativa pode ser suprimida por uma condição 
significativamente estressora e ficar suprimida por um tempo. Trata-se de um fenômeno chamado 
de amnésia global transitória, que pode durar poucos dias, não mais do que 24 horas. Enquanto a 
memória implícita não sofre modulação pelas emoções e o humor, a declarativa é muito suscetível. Uma 
memória implícita não sofre modulação do meio externo a ponto de prejudicá-la definidamente ou por 
um longo período. 
 
Memória Declarativa 
Pode ser suprimida por condições do meio externo. 
X 
Memória implícita 
Não sofre modulação do meio externo. 
 
Exemplo 
Um exemplo de modulação de uma memória de hábito motor é que podemos perder, 
momentaneamente, o controle das pernas, por um medo extremo, um comportamento 
de frozen (congelamento). Tão logo passe o perigo, a evocação automática dessa memória motora é 
reestabelecida. 
Esse comportamento de frozen é mais comum nos animais, mas pode acontecer com humanos. 
Por exemplo, ao tentar atravessar a rua, no meio dos carros, a pessoa calcula mal a distância e velocidade 
dos veículos, e um deles buzina a poucos metros. Diante da cena, a pessoa congela e não consegue evitar 
o atropelamento. Trata-se de uma falha no controle motor automático devido ao alto nível de estresse. 
O evento ocorre tão rápido que o cérebro não tem tempo de resolver o conflito entre o automatismo da 
memória de procedimentos e o controle motor voluntário. 
 
Hormônios do estresse (cortisol, adrenalina e noradrenalina) também podem realçar um aprendizado. 
Um único evento estressor significativo pode resultar em um reflexo condicionado e, muitas das vezes, 
desadaptado. Uma excitabilidade muito alta, mas positiva, gerada pelo “quarteto da felicidade” 
(endorfina, dopamina, serotonina, ocitocina), como estar em um show do seu artista preferido com quem 
você ama, pode fortalecer as memórias desse evento. 
Atenção 
A excitação grava os eventos no cérebro. Baixa excitabilidade ou ausência de uma emoção faz com que a 
memória seja fraca. 
 
Os prejuízos nas memórias não declarativas duradouras, tipicamente, serão decorrentes de acidente 
vascular encefálico (AVE), traumatismos cranianos, tumores, ablação cirúrgica, doençasque impactam o 
sistema nervoso ou por senescência. 
Níveis de ansiedade podem prejudicar a consolidação da memória, ou seja, a codificação fica 
fragmentada, dificultando a evocação precisa do evento (memória episódica) ou do conteúdo (memória 
semântica). A ansiedade exacerbada não é desejada nem no momento da consolidação, nem na evocação. 
Estudantes relatam o fenômeno “deu branco” que se trata de uma supressão de memória decorrente da 
ansiedade de desempenho. As memórias também são influenciadas pelo contexto, trata-se do conceito 
de memória dependente de estado (ou estado dependente). 
Exemplo 
Podemos citar alguns exemplos, como: estudar com música alta ou com muitos estímulos à volta, assistir 
à uma aula remota realizando outras tarefas concomitantemente, ou seja, no momento da evocação 
dessas memórias. Algumas pessoas podem enfrentar dificuldade com a evocação da informação em uma 
sala silenciosa. O ambiente influencia tanto na aquisição, quanto na evocação de uma memória. 
 
Um aspecto importante a se considerar sobre a modulação das memórias por outros eventos são as 
falsas memórias. 
 
Percepção de tamanho e outras memórias são modificadas ao longo do desenvolvimento. 
 
Exemplo 
Por exemplo, uma casa que parecia um castelo aos sete anos, pode ser pequenina aos 40 anos. Novos 
estímulos no ambiente no tempo presente, podem alterar uma memória consolidada no passado. Uma 
memória pode ser consolidada a partir de interpretações, por lembranças distorcidas e, muitas vezes, 
podem até contradizer a própria experiência. 
 
As falsas memórias podem ser adquiridas de maneira espontânea, criadas internamente como resultado 
da nossa interpretação dos eventos, ou sugerida, produzida por um agente externo, mas que apresenta 
características coerentes com os fatos. 
As memórias sofrem influência das emoções e podemos armazenar uma informação como positiva ou 
negativa, dependendo do nosso estado de humor no momento da aquisição. 
Atenção 
Eventos negativos ou positivos ocorridos na infância podem ser modificados pela memória com o passar 
dos anos. 
 
AS EMOÇÕES 
As memórias com maior carga emocional positiva são mais bem consolidadas e evocadas. 
Uma emoção com carga emocional negativa é rapidamente consolidada em sistemas de longa duração. 
Evitar experiências traumáticas ou perigos no ambiente pode ser adaptativo, mas em outras ocasiões, 
pode resultar em uma aprendizagem desadaptada. 
O cérebro, em sua evolução filogenética na espécie humana, foi desenhado para nos aproximar de 
experiências positivas e nos afastar das negativas. Algumas vezes, a memória modulada por uma emoção 
negativa pode sofrer uma supressão e não ser facilmente evocada; outras vezes, pode desenvolver um 
reflexo condicionado (memória associativa), e esse não é evocado pela consciência, mas resulta em 
alterações na fisiologia do organismo. 
O reflexo condicionado traduz uma aprendizagem que modifica padrões do organismo, mas, muitas 
vezes, a pessoa não compreende os motivos. Transtornos de ansiedade e fobias são um resultado desse 
aprendizado. 
 
O reflexo condicionado também está na base do comportamento de luta e fuga e, quando necessário, 
isso é altamente adaptativo para fugirmos de um perigo ou nos mantermos alertas para enfrentar 
adversidades. 
 
Atenção 
Estruturas do sistema límbico e de memória estão diretamente conectados. 
 
Uma emoção é construída sob um aspecto subjetivo na experiência do indivíduo. Uma emoção só existe 
se tiver uma função, se alguém a percebe, sendo a própria pessoa que vivencia a experiência ou, nas 
inferências de quem nos observa, percebe nosso estado afetivo, emocional e de humor. 
 
Você sabia 
As emoções são a principal fonte moduladora de memórias declarativas no cérebro. 
 
Temos duas rotas da emoção que fazem interseção com estruturas de memória: 
 A rota consciente de uma emoção 
A informação sensorial chega ao tálamo, passa para o córtex sensorial e para o hipocampo. Esse processo 
é mais lento e depende de componentes cognitivos complexos. 
Tálamo Córtex sensorial Hipocampo 
 A rota não consciente de uma emoção 
A informação sensorial chega ao tálamo, em seguida, à amígdala e ao hipotálamo. Esta rota é adaptativa, 
pois é capaz de alterar a nossa fisiologia e o nosso comportamento, nos preparando para a luta ou para 
fuga, de forma não consciente. 
Tálamo Amígdala Hipotálamo 
 
Atenção 
O funcionamento do sistema límbico exerce uma influência direta em como consolidamos memória e 
influenciam igualmente no momento da evocação. O nosso sistema límbico é o principal modulador de 
memórias. 
 
O SISTEMA LÍMBICO 
São as principais estruturas límbicas: amígdala, hipocampo, giro do cíngulo e hipotálamo. O sistema 
límbico é o responsável pelas nossas respostas emocionais. Nas estruturas do sistema límbico, teremos 
armazenadas as nossas memórias emocionais. 
 Amígdala 
Relaciona-se ao processamento do medo e algumas outras emoções, também no aprendizado e em 
respostas de luta e fuga. Memória de curto prazo e reconhecimento de emoções. Alterações na amígdala 
podem resultar em comportamentos agressivos, perda de controle emocional, alterações na memória de 
curto prazo e déficits no reconhecimento de emoções. A amígdala é onde as nossas memórias de medo 
ficam armazenadas. 
 Hipotálamo 
Regula diversas atividades fisiológicas do organismo. Diferentes funções autônomas são gerenciadas pelo 
hipotálamo. É um centro de homeostase. 
 Giro do cíngulo 
Regula dor, emoções e memória. Alterações dessa área já foram associadas a certo prejuízo no 
aprendizado, à expressão inapropriada de emoções, à ausência de medo e à dor. 
 Hipocampo 
Está relacionado com a memória de longo prazo declarativa, o armazenamento das memórias recentes, 
a orientação espacial, o reconhecimento de eventos inesperados no ambiente. Alterações nesta estrutura 
podem levar à amnésia anterógrada. O indivíduo não consegue, por exemplo, formar novas memórias 
dos tipos declarativas. Na doença de Alzheimer, o hipocampo é uma das primeiras áreas acometidas pela 
degeneração do sistema nervoso. 
 
Algumas estruturas do cérebro emocional e sua influência na memória: 
 Córtex cingulado anterior 
Área cortical mais próxima ao que se chama de sistema límbico. Região que demonstra muita atividade 
quando executamos tarefas difíceis, experienciamos desejos intensos, amor ou raiva. Estudos 
demonstraram uma alta atividade desta área quando, por exemplo, uma mãe escuta o choro de seu bebê. 
 Córtex frontal 
Informações de estruturas límbicas são enviadas ao córtex frontal para produzir sensações e percepções 
conscientes de uma emoção. O córtex pré-frontal tem função gerenciadora da memória de trabalho. 
 Complexo olfatório 
Estruturas relacionadas ao olfato levam a informação diretamente às áreas límbicas, que não passa, 
necessariamente, pelo tálamo, como nos outros sentidos. Por esse motivo, o olfato, possivelmente, é 
capaz de gerar respostas emocionais intensas. Acredita-se que o complexo olfatório seja um centro 
emocional primitivo. 
 Tálamo 
Centro distribuidor que recebe e envia informações de boa parte das sensações, tanto para áreas corticais. 
quanto para as áreas límbicas, como a amígdala. Devido ao tálamo, podemos experimentar alterações 
associadas a emoções de modo não consciente. 
 Hipocampo 
Está relacionado principalmente às memórias declarativas. Por isso, uma recordação de um evento triste 
pode atrapalhar um momento alegre. 
 Corpo caloso 
Faz a comunicação do hemisfério esquerdo e direito do cérebro. 
 Hipotálamo 
Atua na homeostase e alterações fisiológicas relacionadas às emoções. O hipotálamo pode modular a 
amígdala. 
 Amígdala 
Está relacionada principalmente às respostas associadas ao medo, mas também participa do 
processamento de outras emoções. As nossas memórias de eventos que resultam em medo ficam 
armazenadas na amígdala. 
 
CONCLUSÃO 
CONSIDERAÇÕES FINAISA vida com prejuízos na memória é em tons de cinza. A memória é colorida com sabores, cheiros, histórias, 
pessoas, momentos, que permanecem associados às lembranças e fazem com que consigamos significá-
los e percebê-los a partir de nossa história. Isso gradualmente define quem somos, pois, sem memórias, 
não há possibilidade de saborear os momentos alegres ou tristes de nossa vida. Sem esses momentos, 
não teríamos propósito nem uma personalidade. 
Memória também é adaptabilidade. Gravamos em nossas estruturas neurais aquilo que foi aprendido. A 
aprendizagem ocorre para nos adaptarmos, pois não podemos fazer aquilo que não aprendemos, e não 
podemos comunicar o que não conhecemos. 
Sem memória, não fazemos, nem nos comunicamos. Sem memória nada somos. 
Vida é memória e memória é vida.

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