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Laísa Dinelli Schiaveto Exame Físico Abdominal ANATOMIA DO ABDOME Os limites do abdome são o diafragma, a bexiga e o útero; sendo que, o diafragma é o limite superior, enquanto a bexiga e o útero são o limite inferior. No entanto, a gravidez e o bexigoma podem alterar esses limites. REGIÕES DO ABDOME Hipocôndrio Direito – Fígado e vesícula biliar; Epigástrio – Extremidade pilórica do estômago, duodeno, pâncreas e porção do fígado; Hipocôndrio Esquerdo – Estômago, baço, cauda do pâncreas e flexura esplênica do cólon; Flanco Direito – Rim direito, adrenal direita, cólon ascendente e porções do duodeno e jejuno; Mesogástrio – Omento, mesentérico, parte inferior do duodeno, jejuno e íleo; Flanco Esquerdo – Rim esquerdo, adrenal esquerda, cólon descendente e porções do jejuno e íleo; Fossa Ilíaca Direita – Ceco, apêndice e extremidade inferior do íleo; Hipogástrio – Íleo e bexiga; Fossa Ilíaca Esquerda – Cólon sigmoide. Obs.: Durante a inspiração profunda, algumas estruturas torácicas se projetam para o abdome. Assim, o ventrículo direito se projeta para região epigástrica e os seios costofrênicos se projeta para região dos hipocôndrios. Obs.: O intestino delgado está em todas as regiões, exceto no epigástrio. Obs.: O cólon transverso é móvel na região do mesogástrio e hipogástrio, QUADRANTES DO ABDOME Laísa Dinelli Schiaveto No exame físico, certas estruturas não são habitualmente alcançadas, sendo elas: • Vesícula • Duodeno • Pâncreas • Rins • Grandes vasos • Gânglios VASCULARIZAÇÃO DO ABDOME De modo geral, a maior parte da irrigação do abdome é pela aorta abdominal, enquanto a drenagem venosa é feita pela veia cava inferior e pelo sistema porta- hepático (em especial nas vísceras digestivas). A aorta abdominal é a continuação da aorta torácica, após o hiato aórtico do diafragma. Uma vez que ela é responsável pelo fornecimento sanguíneo de praticamente tudo no abdome e na pelve, é uma artéria de grande calibre e dá numerosos ramos. O trajeto da aorta abdominal é bastante simples à Após passar através do hiato aórtico (T12), desce ligeiramente para a esquerda das vertebras lombares, com a veia cava inferior mesmo à sua direita. A aorta terminal ao nível de L4, bifurcando em artérias ilíacas comuns direita e esquerda. Existem 10 ramos principais da aorta abdominal. É possível depará-los de acordo com a parte do abdome e da pelve que fornece em ramos: viscerais (órgãos), parietais (parede abdominal) e terminais. 1. Artérias frênicas inferiores 2. Tronco celíaco - Artéria gástrica esquerda - Artéria esplênica (artérias gástricas curtas, artéria gastroepiploica esquerda e artérias pancreáticas) - Artéria hepática comum (artéria gástrica direita, artéria gastroduodenal, artéria gastroepiploica direita, artéria pancreaticoduodenal superior, artéria hepática direita, artéria cística e artéria hepática esquerda) 3. Artéria mesentérica superior - Artéria pancreaticoduodenal inferior - Artérias jejunal e ileal - Artéria cólica médica - Artéria cólica direita - Artéria ileocólica 4. Artérias suprarrenais médias 5. Artérias renais 6. Artérias gonadais 7. Artérias lombares 8. Artéria mesentérica inferior - Artéria cólica esquerda - Artérias sigmoideas - Artéria retal superior 9. Artérias sacral mediana 10. Artérias ilíacas comuns - Artéria ilíaca externa - Artéria ilíaca interna A artéria mesentérica superior é a principal artéria que nutre o tubo digestório, nutrindo desde o jejuno e íleo até a metade direta do intestino grosso. Já, a artéria mesentérica inferior nutre a metade esquerda do intestino grosso. Além disso, as artérias renais são responsáveis por uma irrigação nutricional e funcional renal. A veia porta hepática é uma veia que recebe todo o sangue venoso proveniente do estômago, intestino delgado, intestino grosso, pâncreas e baço. Ela surge da confluência das veias mesentérica superior e esplênica. Ela entra no fígado através da tríade portal em conjunto com a artéria hepática e o ducto biliar. A Laísa Dinelli Schiaveto função da veia porta hepática é transportar sangue venoso das regiões do abdome para os sinusoides do fígado, onde ele é processado e filtrado. As vias biliares são o conjunto de ductos encarregados de transportar a bile até a vesícula, onde a secreção se armazena e, posteriormente, segue até o intestino delgado, onde exerce a sua ação digestiva. Abrangem, portanto, uma série de ductos intra-hepáticos e outra série de ductos extra-hepáticos, que se encontram dentro e fora do fígado, respectivamente. A confluência dos canalículos e dos pequenos ductos biliares dá lugar à formação de dois ductos biliares maiores que emergem da parte inferior do fígado: o ducto hepático direito e o esquerdo. Pouco antes da sua saída do fígado, ambos se unem e formam o ducto hepático comum, com cerca de três cm de comprimento, que se divide em duas ramificações: o ducto cístico, que chega até a vesícula biliar, e o colédoco, que chega até o duodeno depois de atravessar a cabeça do pâncreas. à Coledocolitíase é a presença de cálculos biliares, os quais podem permanecer na vesícula biliar, sair ou ficar presos nos ductos biliares. Esses causam cólica biliar, pancreatite biliar ou colangite (inflamação e infecção biliar). os sintomas podem incluir dor abdominal, icterícia, náusea e vômito. INERVAÇÃO Inervação Simpática: Plexo celíaco. Inervação Parassimpática: Nervos vagos direito e esquerdo. Estas fazem sinapses em dois plexos: (1) mioentérico – Auerbach e (2) submucoso – Meissner. DIGESTÃO E ABSORÇÃO Boca: Amilase e lipase salivar Estômago: Secreção gástrica. Obs.: O estômago é formado por 4 camadas de tecidos – serosa, muscular, submucosa e mucosa. Destaca-se que a mucosa gástrica é formada por epitélio colunar simples. O fundo gástrico tem células parietais que secretam ácido e fator intrínseco que se liga as moléculas de vitamina B12, carreando-as até a mucosa do íleo, onde são absorvidas. No antro/piloro existem células G gastrina. Intestino Delgado: Máxima absorção de enzimas pancreáticas e bile. Obs.: Grande área permite grande ressecções, exceto a ressecção do íleo terminal, pois ele absorve sais biliares e vitamina B12. Como consequência tem-se diarreia e anemia macrocítica • Vitamina B12 – No estômago, o pH ácido une-se a proteína R, a qual é secretada pela saliva; assim, a vitamina B12 juntamente com a proteína R deixa o estômago com o fator o fator intrínseco. No intestino delgado, as proteases pancreáticas separam a proteína R da vitamina B12 e, consequentemente, a vitamina B12 se liga ao fator intrínseco. No íleo, este complexo se liga a receptores e aí a vitamina B12 é ativamente absorvida. Laísa Dinelli Schiaveto • Ferro – A acidez gástrica contribui para absorção do ferro, principalmente na porção proximal do delgado. • Água e Eletrólitos – O intestino delgado absorve grande quantidade de água e eletrólitos. • Vitaminas A, D, E e K: São vitaminas hidrofóbicas e pela proteção das micelas, que são hidrofílicas, chegam a atravessar as camadas de água e muco que revestem o epitélio intestinal. EXAME FÍSICO ABDOMINAL Para um bom exame abdominal são necessárias uma boa iluminação e a exposição total do abdome, desde a região do apêndice xifoide até a sínfise púbica. A virilha deve ficar visível, mesmo que a genitália seja mantida coberta. Posição do Paciente • Decúbito dorsal; • Pernas e braços estendidos; • Travesseiro embaixo do pescoço e ombros (evitar contração do abdome); • Cabeceira da cama no máximo em 15º; • Temperatura adequada; a sala não pode estar muito fria, pois o paciente irá contrair mais a musculatura. Obs.: Para avaliação de hérnias, o paciente deve estar em pé. Posição do Médico Deve-se examinar sempre a direitado paciente, exceto para manobras especificas do baço e fígado. INSPEÇÃO ESTÁTICA TIPOS DE ABDOME Abdome Normal ou Atípico – Plano e sem alterações do volume abdominal. Abdome em Avental – Sobreposição da parede abdominal sobre as coxas quando o indivíduo está em pé (ex.: grandes obesos). Abdome Globoso – Aumento do diâmetro anteroposterior de maneira uniforme (ex.: ascite, distensão gasosa e obesidade). Abdome Pendular – Tem um aspecto semelhante ao abdome em avental, resultando da fraqueza da musculatura do abdome inferior, não estando necessariamente associado à obesidade (ex.: após cirurgia bariátrica ou no puerpério). Abdome Gravídico ou Piriforme – Próprio do período em que a mulher está gravida (ex.: gravidez avançada). Abdome Ascítico ou Batráquio – Aumento do diâmetro transversal em relação ao diâmetro anteroposterior; sendo mais bem visto em decúbito dorsal. Abdome Escavado – Retração da parede abdominal devido desnutrição proteico-calórica (ex.: pessoas muito emagrecidas). SIMETRIA Abdome Simétrico – É observado em condições normais, sendo levemente abaulado. Abdome Assimétrico – Observado em condições patológicas, como hepatoesplenomegalias, neoplasias, hérnias de parede, megacólon e síndromes obstrutivas. ABAULAMENTOS É observado em: • Distensões de alças intestinais • Hérnias da parede abdominal • Hepatomegalia • Esplenomegalia • Tumores abdominais, pélvicos ou retroperitoneais • Cistos de ovários • Cistos hidaticos (Echinococcus granulosus) • Útero gravídico • Bexigoma RETRAÇÕES São depressões, observadas em bridas pós cirúrgicas e caquexia. Laísa Dinelli Schiaveto CICATRIZES CIRCULAÇÃO COLATERAL Circulação colateral, do ponto de vista semiológico, significa a presença de circuito venoso anormal visível ao exame da pele. Indica dificuldade ou impedimento do fluxo venoso através dos troncos venosos principais (cava inferior, cava superior, tronco venoso braquicefálico, ilíacas primitivas, veia cava). Por causa desse obstáculo, o sangue se desvia para as colaterais previamente existentes, tornando-se um caminho vicariante capaz de contornar o local ocluído, parcial ou totalmente. Direção do Fluxo Sanguíneo: É determinada com a seguinte técnica: comprime-se com as polpas digitais dos dois indicadores, colocados rentes um ao outro, um segmento da veia a ser analisada; em seguida, os dedos vão se afastando lentamente, mantida constante a pressão, de modo a deslocar a coluna sanguínea daquele segmento venoso. Quando os indicadores estão separados cerca de 5 a 10 cm, são imobilizados e se assegura se realmente aquele trecho da veia está exangue. Estando vazia a veia, executa-se a outra parte da manobra, que consiste em retirar um dos dedos, permanecendo comprimida apenas uma das extremidades. Feito isso, procura-se observar o reenchimento daquele segmento venoso: (a) se ocorre o enchimento imediato da veia, significa que o sangue está fluindo no sentido do dedo que permanece fazendo a compressão; (b) permanecendo colapsado o segmento venoso, repete-se a manobra, agora descomprimindo- se a outra extremidade e verificando se houve enchimento do vaso. A manobra deve ser repetida 2 ou 3 vezes para não haver dúvida, e, ao terminá-la, o examinador terá condições de saber em que sentido corre o sangue. Cava Superior – A rede venosa colateral vai se distribuir na metade superior da face anterior do tórax; às vezes, também na parte posterior, nos braços e no pescoço. A direção do fluxo sanguíneo pode ficar restrita ao sistema venoso do tórax ou incluir as veias da parede abdominal, indicando que o sangue procura alcançar a veia cava inferior através das veias xifoidianas e torácicas laterais superficiais. Além da rede de veias, costumam surgir os seguintes sinais: estase jugular bilateral não pulsátil, cianose e edema localizado na porção superior do tronco, pescoço e face. Esse tipo de circulação colateral se instala quando há um obstáculo na veia cava superior, seja compressão extrínseca por neoplasias ou outras alterações mediastinais, principalmente do mediastino superior. Tipo Porta – O obstáculo pode estar situado nas veias supra-hepáticas, no fígado ou na veia porta. A rede venosa vicariante localiza-se na face anterior do tronco, principalmente nas regiões periumbilical, epigástrica e face anterior do tórax. A direção do fluxo sanguíneo será de baixo para cima, do abdome para o tórax, à procura da veia cava superior através das veias xifoidianas e torácicas laterais. Quando a circulação colateral se torna mais intensa, podem-se ver vasos Laísa Dinelli Schiaveto nos flancos e fossas ilíacas. Neste caso, a direção da corrente sanguínea é de cima para baixo, do abdome para os membros inferiores, à procura da veia cava inferior. Outras vezes, a rede venosa colateral se concentra na região umbilical, de onde se irradia como os raios de uma roda, ou, melhor comparando, como as pernas de aranha que se destacam de um corpo central – o umbigo – recebendo o nome de circulação colateral tipo “cabeça de Medusa”. Cava Inferior – O obstáculo situa-se na veia cava inferior, e a circulação colateral vai se localizar na parte inferior do abdome, região umbilical, flancos e face anterior do tórax. O sangue fluirá no sentido abdometórax à procura da veia cava superior. A causa mais frequente desse tipo de circulação colateral é compressão extrínseca por neoplasias intraabdominais. HÉRNIA Trata-se de uma protusão sacular de uma ou mais vísceras causadas por um defeito da parede abdominal, seja por solução de continuidade da parede (cirurgia) ou flacidez da musculatura. O saco herniário geralmente é de alça de intestino de delgado ou grosso, mas pode ser de bexiga ou epíploon (omento). Manobra de Valsalva: Solicita-se que o paciente assopre em uma das mãos fechadas e com isso ocorre o aumento da pressão intra-abdominal, permitindo a avaliação de herniações. HEMATOMAS, EQUIMOSES E ALTERAÇÕES DA PELIFICAÇÃO Sinal de Cullen: Equimoses nos flancos. Sinal de Grey-Turner: Equimoses na cicatriz umbilical. Obs.: Ambos ocorrem na pancreatite necro- hemorragica. INSPEÇÃO DINÂMICA MOVIMENTOS RESPIRATÓRIOS Padrão Respiratório Misto (Toracoabdominal) – sexo masculino; Padrão Respiratório Torácico – sexo feminino. MOVIMENTOS PERISTÁLTICOS Em geral, não são observados em indivíduos normais. Podem ser visíveis em períodos pós-prandiais em pacientes emagrecidos com caquexia intensa OU em pacientes com obstrução intestinal, a qual está associada à dor intensa. Laísa Dinelli Schiaveto PULSO AÓRTICO ABDOMINAL Pode ser observado em pessoas emagrecidas, geralmente na presença de massas localizadas próximas ao vaso ou aneurismas. AUSCULTA RUÍDOS HIDROAÉREOS Normoativos ou Borborismos – Reflete a motilidade intestinal. Estes estão aumentados, podendo até serem audíveis, quando há maior ingesta dede água e alimentos ou momentos que antecedem as refeições. O paciente relata “meu estômago está roncando”. Hipoativos ou Abolidos – Ausência ou diminuição da motilidade gastrointestinal, podendo indicar paralisias reflexas (ex.: íleo paralítico do pós-operatório de cirurgias abdominais devido a manipulação de peritônio e alças e íleo paralítico da inflamação peritoneal). Hiperativos – Aumento da motilidade gastrointestinal (ex.: diarreia, sangue no lúmen e estados de obstrução intestinal). Quando há presença de timbre metálico, este indica dilatação e hipertrofia do segmento montante da obstrução. RUÍDOS VASCULARES Sopros – Indicam dilatação e estenoses. Podem surgir também no final da gestação. • Aorta: verificar linha média (ex.: aneurisma da aorta); • Hepático: verificar na projeção do fígado (ex.: tumores e aneurisma da artéria hepática); • Baço: verificar no hipocôndrio esquerdo em pacientescom baço aumentado (ex.: malária e leucemia mielóide crônica); • Rim: verificar nos quadrantes superiores (ex.: estenose da artéria renal e hipertensão renovascular – atentar em jovens com hipertensão arterial). ATRITOS Surgem quando há alteração da textura de órgãos que os deixam mais ásperos, ocorrendo principalmente no fígado e baço (ex.: tumores hepáticos). Destaca-se que são bem raros. PERCUSSÃO Revela a quantidade e distribuição de gás no tubo digestivo. Som Timpânico – É variável em cada segmento (quantidade de gás e líquidos); é bem nítido no espaço de Traube e fossa ilíaca direita. Som Maciço – Fígado. Anormalidades na Percussão Macicez ou Submacicez no Espaço de Traube – Indica esplenomegalia, neoplasia retroperitoneal e cisto pancreático; Grande Aumento do Conteúdo Gasoso – Indica hipertimpanismo; Desaparecimento da Macicez Hepática e Dor Abdominal – Indica ruptura de víscera oca (pneumoperitoneo). PALPAÇÃO SUPERFICIAL Examina-se as condições da parede abdominal (tonicidade da musculatura e sensibilidade) e observa- se o aumento de vísceras e tumorações. É feito para ganhar a confiança do paciente. Técnica: Realiza-se movimentos suaves de compressão e descompressão; primeiro com uma mão e depois com as duas mãos. Busca-se tensão, tonicidade e dor. 1. Palpação com a mão paralela a linha média – regiões mediais (ex.: epigástrio, mesogástrio e hipogástrio); Laísa Dinelli Schiaveto II. Palpação com a mão perpendicular a linha média – regiões dos flancos; III. Palpação com a mão oblíqua a linha média – regiões das fossas ilíacas; PROFUNDA Examina-se o conteúdo da cavidade normal e anormal. Técnica: Realiza-se movimentos profundos e deslizantes durante a expiração (tensão reduzida), com uma angulação de +/- 45º das mãos com a parede abdominal, utiliza-se de 2 a 3 dedos de cada mão. Órgãos que podem ser palpados em alguns pacientes: • Borda inferior do fígado • Estômago (grande curvatura) • Ceco • Cólon transverso • Cólon sigmoide • Aorta Anormalidades na Palpação Hipertonia – Representa contração espasmódica reflexa da musculatura e irritação do peritônio parietal localizada ou extensa. • Infeccioso: Apendicite; • Químico: Úlcera péptica perfurada; • Neoplásico: Metástases peritoneais. Obs.: Abdome em Tábua – indica condição máxima da irritação peritoneal, estando associado à úlcera perfurada. O que se deve atentar quando palpa-se massas ou tumorações? • Localização • Consistência • Dimensão • Forma • Superfície • Mobilidade • Pulsação Localização: QSE (ex.: baço, ângulo esplênico do cólon e rim esquerdo); Sensibilidade: Massas sensíveis (ex.: plastrão do epíploon na apendicite aguda, massa inflamatória na Laísa Dinelli Schiaveto doença de Crohn e distensão aguda da cápsula do fígado e baço); Dimensão, Forma e Consistência: (1) cistos, pseudocistos e tumores sólidos – são esféricos; (II) fígado pétreo – neoplasia; (III) baço amolecido nas infecções agudas – endocardite e mononucleose; Superfície da Estrutura Palpada: • Lisa (ex.: cistos, pseudocisto e hepatite); • Nodular (ex.: cirrose e tumores); Mobilidade: • Movimenta (está no peritônio); • Não movimenta (neoplasias infiltrativas envolvendo órgão ou estruturas fixas). Obs.: O aneurisma é uma massa expansível a cada batimento cardíaco do paciente. EXAME FÍSICO DE ÓRGÃOS ESPECÍFICOS FÍGADO Inspeção Observar se há algum abaulamento do epigástrio, quadrante superior direito e andar superior do abdome. Percussão Deve-se achar o limite superior do fígado: percutir na extensão das linhas hemiclaviculares e percutir na extensão das linhas paresternais. Deve-se achar o limite inferior do fígado: abaixo da última costela ou 1 a 2 cm dela. Som Claro Pulmonar: 2º ao 4º ou 5º EIC; Som Hepático: 5º EIC para baixo; Som Timpânico: Abdome. Obs.: Lembre-se de que há variações com a inspiração e expiração; assim, se estiver em uma inspiração máxima, há deslocamento para baixo e, se estiver em uma expiração máxima, há deslocamento para cima; portanto, o paciente deve estar respirando calmamente. Sinal de Jobert: Representa o desaparecimento da macicez hepática. A presença de timpanismo na região da linha hemiclavicular, onde normalmente se encontra macicez hepática, caracteriza penumoperitôneo. Palpação Palpação Unimanual: Mão paralela a linha média. Feita nos prolongamentos da linhas axilar anterior, hemiclavicular e paraesternal. Palpação Bimanual: Dedos em garra ou em concha durante a expiração (Técnica de Mathieu). Técnica do Rechaço: Palpação do fígado nas grandes ascites e recebendo um contragolpe nas mãos. É normal conseguir palpar o fígado de um paciente? ¼ dos adultos saudáveis pode ter o fígado 1 a 2 cm do rebordo costal. Destaca-se que quando o fígado é palpável, é preciso analisar: • Regularidade da superfície • Consistência • Sensibilidade • Pulsação Pontos Importantes Posição Alterada • Fígado Mais Baixo: Grandes derrames pleurais e grandes enfisemas; • Fígado Mais Alto: Ascite volumosa e tumores intra- abdominais volumoso. Delimitação do Fígado Normal – Método da Percussão e Palpação Associados • Linha Paraesternal: Até 5 cm; • Linha Hemiclavicular: Até 12 cm Laísa Dinelli Schiaveto Características Normais da Superfície Hepática • Lisa • Fina • Firme • Elástica Características Anormais da Superfície Hepática • Irregular e Granulações (ex.: cirrose); • Saliências ou Nodosidades (ex.: neoplasias); • Amolecido (ex.: esteatose); • Endurecida (ex.: cirrose, congestão passiva crônica e neoplasias); • Pétrea (ex.: neoplasia e cisto hidático). Dor • Difusa: Processos inflamatórios difusos (ex.: hepatites); • Localizada: Mais intensa e aguda. Pulso Hepático Trata-se da regurgitação severa da tricúspide. Ocorre devido ao sangue venoso da regurgitação e ao sangue arterial da artéria hepática dentro do fígado. Sistema Venoso Portal • Veia mesentérica inferior; • Veia mesentérica superior; • Veia gástrica esquerda; • Veia esplênica Mecanismos de Hepatomeglia e Condições Associadas BAÇO Pontos Importantes • Não é percutível ou palpado, exceto em 2 a 5% das pessoas normais; • Comprimento varia de 8 a 14 cm; • DPOC com hiperinsuflação pulmonar pode rebaixar o diafragma e deslocar o baço; • Projeta-se na face lateral do hipocôndrio esquerdo; • Relaciona-se topograficamente com estômago, flexura esplênica do cólon, rim esquerdo, cauda do pâncreas e 9º a 12ª costelas. Percussão Decúbito Dorsal: Linhas axilar média e axilar anterior, do hipocôndrio esquerdo até o flanco; sendo que nas linhas axilares tem-se inicialmente som claro pulmonar e depois timpanismo. • Macicez em algum EIC: Esplenomegalia; • Macicez no Espaço de Traube: Grandes esplenomegalias. Decúbito Lateral Direito: É uma exceção, sendo feita em casos de ascite. Variante Sofisticada da Técnica: Percussão do 9º EIC na linha axilar anterior esquerda durante a expiração forçada e na inspiração forçada. Sinal de Castell: Timpanismo na expiração forçada se transformando em macicez na inspiração, indicando esplenomegalia. Palpação Palpação Unimanual: Palma da mão na cicatriz umbilical, ponta dos dedos oblíqua a linha média e em direção à linha axilar anterior no seu encontro com a última costela. Palpação Bimanual: Técnica de Mathieu; sendo igual a do fígado, porém ficando à esquerda do paciente. Laísa Dinelli Schiaveto • Palpação Bimanual em Posição de Schuster (paciente deve estar em decúbito lateral direito com o membro inferior esquerdo fletido em 90º e o joelho serve como ponto de apoio sobre a mesa do exame, garantindo equilíbrio ao paciente). O que pode-se perceber de alterado durante a palpação pelastécnicas de palpação bimanual do baço? • Massa Móvel (pensar no baço) • Massa Imóvel (pensar em estruturas retroperitoniais) Achados e Anormalidades Esplenomegalia, hiperplasia da polpa branca, hiperplasia da polpa vermelha, congestão, infiltração, inflamações, anemias, hipertensão portal, insuficiência cardíaca crônica, neoplasias e doenças metabólicas. Mecanismos de Esplenomegalia e Condições Associadas VESÍCULA BILIAR Pontos Importantes • É inacessível à palpação. Palpação Técnica de Palpação para ver se tem Dor no Ponto Cístico: Dedos indicador e médio, pressionar a posição lateral do músculo reto abdominal direito com o rebordo costal direito e, por fim, solicita-se que o paciente faça uma inspiração profunda. Sinal de Murphy: Na inspiração profunda, durante a palpação profunda da vesícula biliar, provocará dor no local pressionado e o paciente interromperá o movimento respiratório. Sinal de Curvousier: Aumento do volume da vesícula biliar ao ponto de torná-la palpável com a parede da vesícula se distendendo normalmente. Este estará presente em obstrução neoplásica do ducto hepático comum ou colédoco, tumor da própria via biliar e tumor de pâncreas. Obs.: Não estará presente em uma parede da vesícula já alterada cronicamente como ocorre na colelitíase e cálculo obstrutivo do colédoco (coledocolitíase). RINS Manobra de Giordano: Golpeia-se a região lombar no ângulo costo-vertebral com a borda ulnar de uma das mãos e os dedos unidos e estendido. Se houver percepção dolorosa, o sinal é positivo. Laísa Dinelli Schiaveto DETECÇÃO DE ASCITE Inspeção Pode perceber a ascite (abdome ascítico ou batráquio). Obs.: As ascites volumosas podem provocar o aparecimento de hérnias e a protrusão da cicatriza umbilical. Percussão Macicez Móvel: Ocorre em casos de ascite de médio volume. Quando o paciente está em decúbito dorsal, o líquido acumula-se na região lateral do abdome, revelando timpanismo na região anterior, quando o paciente posiciona-se em decúbito lateral, o líquido desloca-se para o mesmo lado, onde fica maciço e a região acima fica timpânica. Semi-Círculo de Skoda: Com o paciente em decúbito dorsal, percute-se a região periumbilical do meio para as extremidade. Em casos de ascite, observa-se alteração do timpanismo. Manobra do Piparote: Com o paciente deitado, solicita- se a ele ou a um auxiliar que coloque a margem cubital da mão sobre o abdome, exercendo uma pequena pressão. O examinador coloca sua mão esquerda, espalmada, sobre a parede lateral direita do abdome. Com a mão direita, o examinador dá um piparote, com o dedo médio, na parede lateral esquerda. As ondas líquidas transmitem-se para o lado oposto, sendo percebidas pela mão esquerda. Obs.: Quando é muito tensa, a mão auxiliar pode ser dispensada. Mecanismos de Ascite e Condições Associadas PRINCIPAIS SINAIS E SINTOMAS DOR É o sintoma mais frequente das doenças do estômago e duodeno. • Úlcera Gástrica – Dor em 4 tempos (dói, come, passa, dói) • Úlcera Duodenal – Dor em 3 tempos (dói, come, passa) Obs.: A presença de despertar noturno (o paciente desperta durante a madrugada com a dor – clocking) é sugestiva de úlcera, decorrente do ritmo circadiano da secreção gástrica. DISPEPSIA Trata-se de um grupo heterogêneo de sintomas localizados na parte superior do abdome, na maior parte das vezes na região epigástrica, atribuídos a alterações gastroduodenais. Pode ser definida pela presença de um ou mais dos seguintes sintomas: plenitude pós-prandial, saciedade precoce, epigastralgia e queimação epigástrica. Estas podem ou não vir acompanhadas de outros sintomas gastrintestinais, como eructações, náuseas e vômitos. Causas: Doenças estruturais (gastrite, úlcera péptica e neoplasias); doenças metabólicas (gastroparesia); doenças funcionais (quando nenhuma causa orgânica reconhecível justifica a sintomatologia). Plenitude Pós-Prandial: É a sensação de persistência prolongada de alimentos no estômago após uma refeição, gerando desconforto. Laísa Dinelli Schiaveto Saciedade Precoce: É a sensação de que o estômago está cheio logo após o início de uma refeição, impedindo que seja terminada. Pode estar presente de forma isolada ou acompanhada de dor epigástrica. NÁUSEAS E VÔMITOS NAÚSEAS: São definidas como uma sensação desagradável relacionada à necessidade iminente de vomitar, localizada no epigástrio ou na garganta. VÔMITO: É definido pela expulsão forçada do conteúdo gástrico ou intestinal pela boca, associado à contração dos músculos abdominais e torácico. • Com grande quantidade de alimentos ingeridos horas antes – estase gástrica, obstrução pilórica ou duodenal; • Com grande quantidade de bile – obstrução intestinal alta; • Com presença de sangue (hematêmese) – sangramento a montante do ângulo de Treitz (1a curvatura do duodeno) e pode corresponder a hemorragia proveniente de úlcera péptica ou câncer gástrico. PIROSE Dor ou sensação de queimação na região retroesternal. Causas: Doença do refluxo gastresofágico; úlcera péptica; outras doenças do estômago. CAUSAS COMUNS DOS SINTOMAS GASTROINTESTINAIS 1) Dor Abdominal • Apendicite • Pancreatite • Diverticulite • Úlcera • Esofagite • Obstrução gastrointestinal • Doença inflamatória intestinal • Distúrbio funcional do intestino • Pedra renal • Cálculo biliar • Causas ginecológicas 2) Náuseas e Vômito • Medicamentos • Obstrução gastrointestinal • Distúrbios motores • Distúrbio funcional do intestino • Infecção entérica • Doença endócrina • Doença do SNC • Enjoo • Gravidez 3) Diarreia • Infecção • Açúcares mal absorvidos • Doença inflamatória intestinal • Distúrbio funcional do intestino • Doença celíaca • Colite • Insuficiência pancreática • Hipertireoidismo • Isquemia • Tumor endócrino 4) Sangramento Gastrointestinal • Úlcera • Esofagite • Varizes • Lesões vasculares • Neoplasia • Divertículo • Hemorroida • Fissuras • Doença inflamatória intestinal • Colite infecciosa 5) Icterícia Obstrutiva • Pedras no ducto biliar • Pancreatite • Tumor pancreático • Colangiocarcinoma • Colangite • Colangite esclerosante • Estenose ampular • Carcinoma ampular PERITONITE • Inflamação Local – Apendicite, colecistite e diverticulite; • Inflamação à Distância – Septicemias; • Abertura da Parede Abdominal – Perfurações; • Translocação de Bactérias nos Intestinos – Peritonite bacteriana espontânea; • Material Ácido Péptico – Úlcera perfurada. Laísa Dinelli Schiaveto ABDOME AGUDO P Perfurativo • Úlcera gastroduodenal • Corpo estranho • Neoplasia I Inflamatório • Apendicite aguda • Colecistite aguda • Diverticulite aguda • Doença inflamatória pélvica V Vascular • Embolia e trombose mesentérica com isquemia intestinal • Redução do débito cardíaco O Obstrutivo • Bridas/aderências • Tumores • Hérnias • Bolo de áscaris H Hemorrágico • Gravidez ectópica rota • Rotura de aneurisma • Cistos ovarianos • Tumores hepáticos CASOS CLÍNICOS CASO 1: Mulher, na faixa de 40-50 anos, obesa, com hisurtismo e com dor tipo cólica no hipocôndrio direito associada com febre baixa, náuseas, vômitos e os sintomas pioram após ingestão de frituras. Diagnóstico: Colecistite Aguda. A colecistite aguda trata-se de uma síndrome clínica caracterizada por febre, dor abdominal e icterícia, a qual se desenvolve devido à estase e infecção do trato biliar. Tríade de Charcot: febre, dor abdominal e icterícia. Pêntade de Reynolds: febre, dor abdominal, icterícia, confusão mental e hipotensão. CASO II: Paciente com história de dor de forte intensidade acometendo QSD e QSE, com náuseas, vômito e febre baixa. Diagnóstico: Pancreatite Aguda Biliar. A pancreatite aguda trata-se de uma inflamaçãosúbita do pâncreas que pode ser leve ou potencialmente letal, mas normalmente cessa. Esta pode ocorrer por várias causas, como: • G – Cálculos biliares • E – Etanol • T – Trauma • S – Esteroides • M – Caxumba • A – Autoimune • S – Picada de escorpião • H – Hiperlipidemia/hipercalcemia • E – Procedimento na via biliar para retirar cálculos biliares (colangiopancreatografia) • D – Drogas CASO III: Criança ou adolescente com dor epigástrica que muda para dor em região umbilical e depois fica localizada na fossa ilíaca direita, associada à febre baixa, náuseas e vômitos. Diagnóstico: Apendicite Aguda. A apendicite aguda é uma inflamação aguda do apêndice cecal, que ocorre pela obstrução da parte interna (luz) do mesmo. É uma das principais causas de dor abdominal, sendo a causa mais frequente de cirurgia de urgência em todo o mundo. Sinal de Blumberg: Dor à descompressão brusca do Ponto de McBurney. Sinal de Rovsing: Dor na fossa ilíaca direita à palpação da fossa ilíaca esquerda. Palpação no cólon descendente desloca os gases para o cólon ascendente, atingindo o apêndice inflamado hipersensível, provocando dor. Sinal de Dunphy: Dor na fossa ilíaca direita que piora com a tosse. Sinal de Lapinsky: Dor à descompressão do ceco contra a parede posterior do abdome, enquanto o indivíduo eleva o membro inferior direito. Sinal do Psoas: Irritação do músculo psoas. Faz-se hiperextensão passiva do membro inferior direito ou flexão ativa contra a resistência, estando o indivíduo em decúbito lateral esquerdo. Sinal do Obturador: Irritação do músculo obturador interno. Faz-se a flexão passiva da perna sobre a coxa e da coxa sobre a pelve, então procede-se com uma Laísa Dinelli Schiaveto rotação interna da coxa, estando o indivíduo em decúbito dorsal. Sinal de Lenander: Temperatura retal maior que a temperatura axilar em mais de 1ºC. Sinal de Aaron: Dor epigástrica referida à palpação do ponto de McBurney. Sinal de Bassler: Dor intensa e súbita, desencadeada pela pressão do polegar num ponta da fossa ilíaca direita contra o músculo psoas ilíaco. CASO IV: Idoso relatando dor abdominal recorrente tipo cólica com episódios de hematoquezia associado com emagrecimento e palidez cutânea mucosa. Diagnóstico: Neoplasia de Cólon. CASO V: Mulher com dor em região de hipogástrio associada com polaciúria, disúria e febre baixa. Diagnóstico: Cistite Aguda (Sinal de Giordano estará positivo).
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