Grátis
47 pág.
Apostila_saude ambiental e Epidemiologia
Denunciar
Pré-visualização | Página 10 de 17
requerendo in- tervenções quase sempre muito agressivas para o controle de pragas urbanas e agrícolas. O uso de biocidas (venenos) tem sido objeto de estudos e preocupação não só de pesquisadores dos recur- sos ambientais, mas também da saúde humana. Os determinantes sociais, relegados a um segundo plano durante muito tempo nas conside- rações sobre o processo saúde e doença, ocupam lugar de destaque desde as últimas décadas do século XX. A dinâmica populacional, já discutida no capítulo anterior, e o adensamento das áreas mais urbanizadas, onde se concentram as opor- tunidades de trabalho, fizeram surgir formas de ocupação do território classificadas como mora- dias subanormais, também denominadas favelas e, mais recentemente, “comunidades”. A implan- tação desses conglomerados humanos ocorre em áreas de infraestrutura insuficiente, saneamento básico deficitário ou inexistente, frequentemente na beira de córregos urbanos ou morros de decli- ve acentuado e áreas de grande erosão, áreas de mananciais, margens de rodovias ou no entorno de aterros sanitários. As condições de vida dessas populações são precárias e, ao mesmo tempo, favorecem sua ação de degradação do ambiente em que vivem, desencadeando um ciclo vicioso, que torna ainda mais comprometida sua qualida- de de vida e saúde. Nesse cenário, compete à Saúde Pública a proposições de ações de alcance coletivo, sua im- plementação, monitoramento e avaliação do im- pacto dos riscos, agravos e doenças identificados. Essas ações são dirigidas à população e/ou ao am- biente, entendido como o espaço que reúne os determinantes do processo saúde e doença, con- forme é explicitado na definição de saúde conti- da no texto da Constituição Federal (1988), no art. 196: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômi- cas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.” Da mesma forma, as ações de saneamento básico e saúde ambiental integram as diretrizes do Plano Nacional de Saúde e as metas do Pac- to pela Saúde, dois documentos que pautam as ações de Saúde Pública e respectivo financiamen- to público. Nesse âmbito, o objetivo é a promo- ção da saúde e redução das desigualdades sociais de forma sustentável. Hogla Cardozo Murai Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 30 A Saúde Pública é discutida, neste capítulo, como campo de intervenção sobre a saúde humana, inicialmente subordinada às demandas apresentadas pela área econômica voltada à manutenção da for- ça de trabalho, produtividade e relações internacionais. O controle de epidemias e endemias, foco inicial, foi ampliado na medida do alcance dos conhecimentos científicos e da concepção do processo saúde e doença. A relação entre a Saúde Pública e o ambiente, estabelecida por Hipócrates em cerca de 400 anos a.C., recomendava a consideração de aspectos geográficos, climáticos e sociais antes de intervir sobre a saúde humana. A Saúde Pública utiliza as ferramentas oferecidas pela Epidemiologia e intervém sobre os determinantes por ela evidenciados: os físico-químicos, os biológicos e os sociais. 4.3 Resumo do Capítulo Agora que você já estudou sobre Saúde Pública, teste seus conhecimentos: 1. Quais são os critérios utilizados para caracterizar um evento relacionado à saúde como proble- ma de Saúde Pública? 2. Qual é a relação entre recursos hídricos e Saúde Pública? 3. De que forma o manejo inadequado do ambiente natural pode afetar a biota? 4.4 Atividades Propostas Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 31 Assim como a saúde é um direito de todos os brasileiros, o meio ambiente equilibrado tam- bém o é. O caput do art. 225 da Constituição Federal de 1988 diz: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para presentes e futuras gerações.” A saúde ambiental é definida pelo Ministé- rio da Saúde como a área da saúde pública afeta ao conhe- cimento científico e a formulação de po- líticas públicas relacionadas à interação entre a saúde humana e os fatores do meio ambiente natural e antrópico que a determinam, condicionam e influenciam, com vistas a melhorar a qualidade de vida do ser humano, sob o ponto de vista da sustentabilidade. (BRASIL, 2005a). SAÚDE AMBIENTAL5 5.1 Conceito e Implicações Sendo uma área da saúde pública, a saúde ambiental nasceu da necessidade de interromper ou mudar o processo de adoecimento da popula- ção por meio do manejo das condições ambien- tais em que ele se desenvolve. Para isso, é neces- sário conhecer os fatores e os contextos em que se rompe o equilíbrio saúde/doença para propor intervenções eficazes. Na saúde ambiental, como na saúde públi- ca, as ferramentas para o diagnóstico situacional, monitoramento e avaliação das intervenções pro- vêm da epidemiologia. A história natural da doen- ça proposta no Modelo Processual do processo saúde e doença, ou a tríade agente suscetível e ambiente do Modelo Sistêmico, ou os elementos presentes na determinação social da doença apli- cados à saúde ambiental levaram à descrição de novos termos e medidas capazes de estimar os riscos da interação homem-ambiente. Após a Segunda Guerra Mundial, houve a aceleração da produção industrial com vistas à recomposição econômica dos países, contexto em que as estimativas de risco ganharam evidên- cia. Também a preocupação com a qualidade do ambiente e com o risco de acidente industrial e de exposição a poluentes e produtos perigosos levaram a Organização das Nações Unidas (ONU) e outros organismos internacionais a incorporar em suas agendas as questões relativas aos riscos ambientais. Nardocci et al. (2008) afirmam que, para ca- racterizar a existência de risco, é necessária a exis- Saiba maisSaiba mais A defesa do meio ambiente e o reconhecimento de sua importância para as gerações presentes e futuras representaram um fato novo na Constituição brasilei- ra. Do período Pré-Colonial até o Republicano, o extra- tivismo e a ocupação desordenada do território aten- dendo a interesses econômicos e de acomodação política, incluindo submissão a pressões internacio- nais, resultaram em um modelo de desenvolvimento que se voltou contra o meio ambiente e a saúde da população. Hogla Cardozo Murai Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 32 tência simultânea de dois elementos: um perigo e um sujeito. Sendo assim, os riscos ambientais não são exclusivamente relacionados à ação antró- pica, mas podem ocorrer também no ambiente natural. Tendo como finalidade melhorar a quali- dade de vida do ser humano, sob o ponto de vista da sustentabilidade, a saúde ambiental considera tanto os riscos para a saúde humana quanto para o ecossistema. Os riscos para a saúde humana, por sua vez, são caracterizados como de efeito imediato (aci- dentes naturais ou tecnológicos) e de efeito em longo prazo (contaminação ambiental, poluição do ar, da água do solo etc.). A avaliação dos riscos ambientais inclui a identificação do perigo, a avaliação da relação entre dose de exposição e a incidência de efeitos sobre a saúde humana, a avaliação do tipo de ex- posição e a caracterização do risco. A identificação do perigo corresponde à análise da substância envolvida, para saber se apresenta algum efeito adverso sobre a saúde hu- mana. A avaliação dose-resposta determina qual potencial a substância envolvida tem de causar efeito sobre a saúde humana e em que nível de exposição. A avaliação da exposição estima o grau provável de exposição humana à substância en- volvida