Buscar

modulo 3 e 4

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 19 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 19 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 19 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

MÓDULO 3
Esquematizar, na Psicofísica e Fisiologia Sensorial do século XIX, os recursos teóricos e experimentais por meio dos trabalhos de Johannes Müller, Hermann von Helmholtz, Ernst Weber e Gustav Fechner
PSICOFISIOLOGISTAS
Neste módulo, discutiremos a busca da Psicologia para superar os vetos que Immanuel Kant estabeleceu. Observaremos como, no século XIX, diferentes teorias e modelos serão incorporados no intuito de dar ao conhecimento psicológico uma organização científica, com objeto e método definidos e uma formalização matemática típica das Ciências Naturais.
Apresentaremos, em seguida, quatro autores: Johannes Müller, Hermann von Helmholtz, Ernst Weber e Gustav Fechner.
JOHANNES MÜLLER (1801-1858)
Johannes Müller foi um dos mais importantes fisiólogos alemães da primeira metade do século XIX. Suas pesquisas envolviam as funções do sistema nervoso, sensorial, endócrino e reprodutivo. Seu trabalho tornou-se relevante para a Psicologia, pois ele estabeleceu a Teoria das Energias Nervosas Específicas. Tal teoria propunha que os órgãos sensoriais, não obstante o tipo de estimulação externa que pudessem receber, sempre produziriam sensações internas específicas, ligadas ao órgão em questão. O olho, por exemplo, ao ser estimulado, teria seus nervos óticos sempre produzindo imagens luminosas.
O importante desta teoria é a noção de que uma sensação interna seria correlata a um estímulo externo. Dessa forma, tal sensação poderia ser causada via cuidadosa experimentação e, dessa forma, estudada. A sensação também resolve o primeiro veto kantiano discutido no módulo anterior, já que substituiria a alma como objeto da Psicologia Científica, além de unir:
O mundo físico externo (através dos estímulos)
O mundo fisiológico (por serem os nervos a traduzir os estímulos em sensações)
O mundo psicológico (dado que as sensações se associavam na consciência)
A sensação ainda teria a vantagem de ser um elemento mais preciso e circunscrito do que as ideias e impressões que filósofos empiristas acreditavam estar na base da associação de ideias (FERREIRA, 2010). Vemos então que na Fisiologia Sensorial surge a primeira possibilidade de superação dos vetos kantianos, tendo a possível futura Psicologia um objeto definido: a sensação.
HERMANN VON HELMHOLTZ (1821-1894)
Hermann von Helmholtz foi um médico, físico e matemático alemão orientado por Johannes Müller. Entre várias contribuições na Fisiologia, Física e até Filosofia, Helmholtz ficou conhecido por desenvolver uma teoria sobre a formação das representações psicológicas, que ele chamava de apercepções. Essa teoria foi crucial para o desenvolvimento de um novo método de estudo e análise das sensações. Tratava-se da introspecção experimental, que era baseada na noção de inferências inconscientes.
Imagem: Wikimedia Commons / Domínio Público
Para explicar a teoria de Helmholtz, voltemos a Christian Wolff e sua Psicologia Empírica. Quando Wolff falava que seu objetivo era observar as faculdades da alma e analisar a formação de suas sensações e ideias a posteriori, o termo “observação” aqui não se tratava de uma observação de algo no mundo “lá fora”, mas sim do “mundo interno” do filósofo. Em outras palavras, tratava-se de um estudo baseado na introspecção, um olhar para dentro, em busca de compreender esses processos internos das faculdades da alma. A essa forma específica, chamaremos de introspecção filosófica.
É aqui que o trabalho de Helmholtz começa a fazer sentido. Uma vez que se pretende analisar a formação das sensações, no sentido proposto por Müller e não da Filosofia, sabemos que essas não são puramente assimiladas pela nossa consciência.
EXEMPLO
Ao recebermos um estímulo externo vindo de uma fonte conhecida, a sensação que se forma em nossa consciência é imediatamente associada à experiência passada vinculada àquele estímulo, dado que numa longa vida recebemos inúmeras vezes tal estimulação.
ESSA VINCULAÇÃO DE UMA SENSAÇÃO A UMA EXPERIÊNCIA PASSADA HELMHOLTZ NOMEIA DE INFERÊNCIA INCONSCIENTE.
EXEMPLO
Então, por exemplo, tomemos o estímulo luminoso de uma lâmpada: após nosso sistema nervoso processar tal estímulo e a sensação de luminosidade aparecer em nossa consciência, de imediato associaremos, via uma inferência inconsciente, aquela sensação à uma lâmpada.
Porém, se o estudo da sensação visava ser o estudo de um elemento em seu estado puro, tais experiências passadas associadas por inferências inconscientes seriam um obstáculo. Logo, Helmholtz propunha um método de observação e estudo dessas sensações que visava tirar a influência de tais inferências.
Tal método só poderia ser ensinado a quem fosse versado e treinado na fisiologia sensorial necessária para reconhecer o erro do estímulo, ou seja, confundir o estímulo externo e sua correlata sensação com uma experiência passada inconscientemente a ela atrelada. O treinamento envolvia uma introspecção, que é diferente da introspecção filosófica: Helmholtz o nomeia de introspecção experimental, portanto, uma metodologia que facilitaria tanto depurar as sensações em seu estado mais bruto como também eliminar a confusão sujeito-objeto denunciada por Kant (FERREIRA, 2010). Observamos aqui a superação de mais um dos três vetos kantianos.
ERNST WEBER (1795-1878)
Ernst Weber foi um fisiólogo e anatomista alemão que lecionou na Universidade de Leipzig. Suas pesquisas em fisiologia focaram-se em sensibilidade tátil e audição. É, porém, no estudo da sensibilidade tátil que encontraremos um caminho para a superação do terceiro e último veto kantiano. Weber ficou conhecido por postular o que chamou de Lei das Diferenças Apenas Percebidas, que chamaremos aqui de DAP. Esta lei é considerada não apenas uma das bases da Psicologia Experimental, como também uma das primeiras formulações matemáticas de interesse crucial para a Psicologia.
As DAP são uma relação de proporcionalidade entre as diferenças apenas percebidas, cuja fórmula se expressa como:
DAP 
 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal
Ea e Eb são os estímulos a serem comparados. Assumindo, por exemplo, que dois pesos, um de 1kg e outro de 2kg, sejam comparados, é fácil notar a diferença entre eles. Há 1kg de diferença e este se torna perceptível facilmente. Entretanto, se assumirmos a diferença entre um peso de 21kg e um peso de 20 kg, empiricamente se torna uma diferença quase imperceptível: não se nota a diferença entre esses dois pesos como se nota no primeiro exemplo. Por mais que seja conhecida a diferença entre estímulos (novamente, 1kg), a sensação dessa diferença não ocorre.
ATENÇÃO
É importante observar que o valor absoluto da diferença é o mesmo nos dois casos (1kg), mas dada a magnitude de estímulos do segundo caso, 1kg torna-se imperceptível, mostrando que a diferença relativa, que de fato é percebida, depende da relação da diferença com os valores absolutos (FERREIRA, 2010).
EM OUTRAS PALAVRAS, QUANTO MAIOR É A MAGNITUDE DOS ESTÍMULOS, MAIS DIFÍCIL É NOTAR PEQUENAS DIFERENÇAS ENTRE ELES.
Torna-se necessária uma diferença cada vez maior para que esta seja notada. Assumindo um terceiro cenário, se fossem comparados pesos de 25kg e 20kg, por exemplo, tal diferença seria sim percebida.
Porém, como esta fórmula ajuda a Psicologia a superar os vetos kantianos? Apesar de Weber ter feito significativa contribuição para a psicofísica com essa fórmula, foi sua subsequente apropriação por Gustav Fechner que possibilitou a superação do terceiro veto kantiano, como veremos a seguir.
GUSTAV FECHNER (1801-1887)
Gustav Fechner foi um matemático, filósofo e físico alemão principal responsável pela superação completa das críticas de Kant à possibilidade de a Psicologia tornar-se científica. Dono de uma vasta obra filosófica e fisiológica, Fechner viu nas DAP de Weber a possibilidade de adaptar tal formulação de modo que se calculasse não as diferenças apenas percebidas, mas as próprias sensações internas. Vejamos seu raciocínio.
A fórmula de Fechner complexifica a fórmula das DAP. Em primeiro lugar, substitui a noção de DAP pelaprópria noção de Sensação, notada com um S na fórmula. Tal S seria igual a uma constante k multiplicada pelo logaritmo do limiar de percepção do estímulo, notado como LogR. A nova fórmula ficaria:
S = K.LOGR
E seria conhecida a partir desse ponto como Lei de Weber-Fecher (FERREIRA, 2010, p. 88-89).
Não nos importa aqui compreender exatamente a aplicação matemática de tal fórmula, mas sim compreender o que ela possibilitou. Podemos observar que de um lado da equação estão as sensações, que se encontram na consciência. Já do outro lado da fórmula, residem os estímulos, que fazem parte do mundo físico externo à consciência. A principal contribuição de Fechner, portanto, foi equacionar matematicamente o mundo externo a uma medida objetiva do mundo interno. Em outras palavras, Fechner conseguiu realizar a matematização que Kant havia imposto como condição para que a Psicologia tornasse um saber de fato científico.
A importância dessa fórmula não pode ser subestimada. Alguns historiadores da Psicologia marcam-na como o início do campo da Psicologia Experimental, e até mesmo com uma data específica:
(...) FOI NO DIA 22 DE OUTUBRO DE 1850, ENQUANTO ESTAVA DEITADO EM SUA CAMA PENSANDO NESTE PROBLEMA [RELAÇÃO ENTRE MENTE E MATÉRIA], QUE OS CONTORNOS DA SOLUÇÃO DO PROBLEMA VIERAM A ELE.
Trata-se de um evento não apenas importante para a Psicologia, mas crucial para a compreensão de como a Psicologia atualmente se fundamenta: teve de angariar fontes e evidências empíricas para, finalmente, entrar no salão das Ciências Experimentais.
Chegou o momento de entendermos um pouco melhor as fórmulas de Ernest Weber e Gustav Fechner
A IMPORTÂNCIA DOS PSICOFISIOLOGISTAS
A maior contribuição dos psicofisiologistas para a Psicologia do século XIX foi a superação dos vetos kantianos, conforme abordamos. Entretanto, há uma segunda contribuição importante a ser discutida, que é a de possibilitarem que os problemas filosóficos do século anterior fossem mesclados com os métodos da fisiologia sensorial. Mais do que apenas fornecerem respostas àqueles vetos impostos por Kant, os trabalhos dos autores que discutimos aqui permitiram que toda a problemática filosófica do século XVIII se mesclasse com as teorias e técnicas experimentais da Fisiologia do século XIX, abrindo caminho para o que pode ser conhecido como:
PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA DA EXPERIÊNCIA
A Psicologia como Ciência da Experiência é um projeto de Psicologia que se preocupa com a dualidade entre uma experiência objetiva (que será chamada de “mediata”) e uma experiência subjetiva (que será chamada “imediata”). Enquanto a Física cuida das experiências objetivas, a Psicologia se ocuparia das experiências subjetivas, pois estas são, por definição, criadoras de percepções falsas da realidade, ao contrário das experiências objetivas, passíveis de representação no mundo (FERREIRA; PEREIRA 2007, p. 234 ).
Aqui podemos realmente contemplar a profundidade da contribuição dos psicofisiologistas citados, pois seus trabalhos se uniram de forma a garantir cientificidade à Psicologia e criar um projeto que foi seguido nos anos posteriores, voltado a compreender o falseamento da percepção de experiências subjetivas:
A NECESSIDADE DE EXPLICAR AS CAUSAS DESTE FALSEAMENTO COLOCA-SE NA SEQUÊNCIA. PARA TAL, A EXPERIÊNCIA IMEDIATA OU PSICOLÓGICA DEVERIA SER ESTUDADA POR UMA FORMA DE EXPERIÊNCIA MEDIATA, A INTROSPECÇÃO EXPERIMENTAL, NA QUAL OS SUJEITOS – DEVIDAMENTE TREINADOS – DEVERIAM DECANTAR, DA TOTALIDADE DA EXPERIÊNCIA, OS SEUS ASPECTOS SENSORIAIS. IMPORTADO DA FISIOLOGIA, O CONCEITO DE SENSAÇÃO SE COLOCAVA COMO UMA ESPÉCIE DE UNIDADE BÁSICA DA EXPERIÊNCIA, CAPAZ DE DAR CONTA DE VARIAÇÕES DISCRETAS DE ENERGIA NO INTERIOR DOS NERVOS E PASSÍVEL DE FORMULAÇÃO MATEMÁTICA NOS MEANDROS DA COMPARAÇÃO PSICOFÍSICA COM AS GRADAÇÕES DOS ESTÍMULOS FÍSICOS. ESTA SE TORNOU A GARANTIA DE CIENTIFICIDADE DA PSICOLOGIA E LASTRO DE TODA A EXPERIÊNCIA.
O que se segue é história. Wilhelm Wundt, no final do século XIX, irá compor o primeiro laboratório de Psicologia Experimental e, a partir dessa conquista, será possível produzir uma Psicologia que tenha um conteúdo empírico e observável e que, ao mesmo tempo, estabeleça uma matematização “mais complexa que a geometria de uma linha reta”, como impusera Kant como condição. A Psicologia proposta por Wundt será apenas um exemplo entre várias possibilidades da Psicologia como Ciência da Experiência, mas certamente se colocará como o exemplo de uma Psicologia Clássica, título que carrega em manuais de história da Psicologia até os dias de hoje.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
Parte superior do formulário
1. A IMPORTÂNCIA DOS PSICOFISIOLOGISTAS PARA A PSICOLOGIA EXPERIMENTAL FOI:
Fornecer meios de superação das críticas realizadas por Kant à Psicologia Filosófica.
Retomar o uso da alma como objeto da Psicologia, porém com abordagem matemática.
Questionar Kant e mostrar que seus vetos à Psicologia estavam equivocados.
Desenvolver a Psicologia como uma ciência sem o uso de métodos experimentais.
Mostrar a impossibilidade de uma verdadeira Psicologia Experimental.
Parte inferior do formulário
Parte superior do formulário
2. GUSTAV FECHNER FOI RESPONSÁVEL POR ADAPTAR A FÓRMULA MATEMÁTICA DE ERNST WEBER PARA MENSURAÇÃO DA SENSAÇÃO. ENTENDE-SE QUE O IMPORTANTE RESULTADO DESSA FÓRMULA FOI:
Permitir a quantificação das sensações processadas pelas faculdades da alma.
Tornar desnecessária a introspecção experimental.
Estabelecer uma relação entre o mundo interior das sensações e o mundo exterior dos estímulos.
Estabelecer uma relação entre diferenças percebidas entre estímulos e uma sensação específica.
Estabelecer uma relação entre várias sensações diferentes e um único estímulo inicial.
Parte inferior do formulário
GABARITO
1. A importância dos psicofisiologistas para a Psicologia Experimental foi:
A alternativa "A " está correta.
Os psicofisiologistas foram cruciais na formulação de teorias e métodos de pesquisa que serviram como meio de superação dos vetos kantianos à Psicologia Científica.
2. Gustav Fechner foi responsável por adaptar a fórmula matemática de Ernst Weber para mensuração da sensação. Entende-se que o importante resultado dessa fórmula foi:
A alternativa "C " está correta.
Fechner, ao propor a Lei de Weber-Fechner, consegue equacionar as sensações internas aos estímulos externos.
MÓDULO 4
Descrever o trabalho e o projeto de Psicologia de Wilhelm Wundt
A PSICOLOGIA DE WILHELM WUNDT
Neste último módulo, apresentaremos brevemente o projeto de Psicologia de Wilhelm Wundt (1832-1920), aquele que é considerado por muitos historiadores o fundador da Psicologia Experimental. Wundt é creditado por ter criado e dirigido o primeiro Laboratório de Psicologia Experimental, sediado na Universidade de Leipzig, na Alemanha, em 1879. Na visão de um dos mais importantes historiadores da Psicologia:
[WILHELM WUNDT] É O PRIMEIRO HOMEM A, SEM RESERVAS, SER CHAMADO DE PSICÓLOGO. ANTES DELE HAVIA MUITA PSICOLOGIA, MAS NÃO HAVIA NENHUM PSICÓLOGO. (...) QUANDO NÓS O CHAMAMOS DE ‘FUNDADOR’ DA PSICOLOGIA EXPERIMENTAL, QUEREMOS TANTO DIZER QUE ELE PROMOVEU A IDEIA DA PSICOLOGIA COMO UMA CIÊNCIA INDEPENDENTE COMO TAMBÉM QUE ELE É O MAIS VELHO DENTRE OS PSICÓLOGOS.
Apesar dessa alegação tão intensa sobre Wundt ser o primeiro psicólogo de fato, há uma característica de seu trabalho que chama a atenção: muito pouco se sabe sobre o que ele escreveu. Nunca houve uma publicação completa de todos os escritos de Wundt (que ultrapassariam 50 volumes), além de a disponibilidade de seus livros ser baixa e as traduções escassas. Dessa forma, não há um claro entendimento de sua obra até os dias de hoje (ARAÚJO, 2010).
A seguir, iremos apresentar um panorama da obra de Wundt seguindo os trabalhos de Saulo de Freitas Araújo, professor brasileiro que empreendeu um dos maiores esforços, em nível mundial, para compreender, pesquisar e divulgar a obra original do autor. Para tanto, focaremos na fase madura do trabalho de Wundt, que se assume como a partir de 1880 até seus últimos escritos.
DEFINIÇÃODE PSICOLOGIA
EM SEU SISTEMA DE PSICOLOGIA, DENOMINADO DE VOLUNTARISMO, WILHELM WUNDT DEFINE QUE A PSICOLOGIA É UMA CIÊNCIA EMPÍRICA QUE SE PREOCUPA COM A EXPERIÊNCIA INTERNA.
Toda experiência pode ser analisada por duas vias:
DIMENSÃO OBJETIVA
Ele a nomeia de experiência mediata (que trata dos objetos do mundo externo).
DIMENSÃO SUBJETIVA
Ele a nomeia de experiência imediata (que trata dos objetos do mundo interno da consciência).
Assim como as Ciências Naturais (Física e Química, por exemplo) tratam dos objetos do mundo externo, a Psicologia se preocuparia com o aspecto subjetivo da experiência (ARAÚJO, 2010).
Não se trata de dizer que as dimensões internas e externas da experiência são distintas. Para Wundt, trata-se de duas perspectivas de uma mesma experiência. Os aspectos do mundo interno estão diretamente correlacionados com os aspectos do mundo externo, não havendo, portanto, uma divisão ou hierarquia: ambas as perspectivas dizem coisas sobre a experiência como um todo, apenas de posições diferentes — uma posição interna e outra externa.
Dessa forma, a principal diferença entre a Psicologia e as demais Ciências Naturais é a natureza pela qual acessa a experiência.
CIÊNCIAS NATURAIS
Tratam de objetos externos e sua compreensão é mediada por aspectos do próprio sujeito (por exemplo, ao observar um objeto cair, a apreensão do objeto é feita pelos sentidos do sujeito observador).
PSICOLOGIA
Estuda experiências que não são mediadas (por exemplo, um exame das sensações após observar uma fonte de luz é um acesso direto à sensação, sem mediação dos sentidos dado que estes já transformaram um estímulo externo em sensação interna).
Em outras palavras, são posições complementares. A Física estuda os objetos externos mediada pelos sentidos, e a Psicologia estuda as sensações internas geradas pelo contato com esses objetos e sem mediação (ARAÚJO, 2010).
MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO PSICOLÓGICA
Wundt divide a Psicologia em dois grandes meios ou métodos de investigação. Partindo da distinção entre experimento e observação, comuns à metodologia científica, estabelece que à Psicologia cabe metodologia similar, concernente à Psicologia individual e à Psicologia dos povos (ARAÚJO, 2010):
PSICOLOGIA INDIVIDUAL
PSICOLOGIA DOS POVOS
PSICOLOGIA INDIVIDUAL
Deve ser estudada pela via dos experimentos, onde settings experimentais controlados circunscrevem com precisão o fenômeno a ser estudado, manipulando variáveis em busca de uma melhor compreensão deste. Portanto, é a Psicologia mais fisiológica, que se presta ao estudo das sensações em laboratório.
PSICOLOGIA DOS POVOS
Deve se valer de uma observação cuidadosa de fenômenos impossíveis de serem controlados ou manipulados experimentalmente. A Psicologia dos povos, por vezes chamada de volkerpsychologie em alemão, estuda fenômenos que já ocorreram, como a linguagem, o mito, a religião etc.
Dessa divisão, decorre uma Psicologia que estuda os fenômenos inferiores da consciência, no sentido de serem os mais básicos e elementares que podem ser observados num indivíduo apenas, e uma Psicologia que se preocupa com os fenômenos superiores da consciência, muitas vezes complexos, elaborados e compartilhados entre muitos indivíduos. Tal divisão não compromete a unidade da Psicologia como ciência empírica, visto que se trata de aspectos complementares de investigação: dos fenômenos elementares e básicos, emergem os fenômenos elaborados e complexos; já os fenômenos complexos retroagem organizando e dando sentido aos fenômenos elementares.
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA PSICOLOGIA WUNDTIANA
Há dois grandes princípios que Wundt propôs em seu sistema e que guiam seu entendimento de um projeto de Psicologia: a noção de paralelismo psicofísico e a noção de causalidade psíquica. Aqui, falaremos de dois princípios que remontam a problemas recorrentes da Psicologia e que o autor tentou dar conta com base em princípios que norteassem seu trabalho e dissolvessem tais questões.
PARALELISMO PSICOFÍSICO
É a afirmação de que o físico e o psíquico são processos paralelos que não interagem entre si e são irredutíveis: isto é, o processo psíquico não deriva do processo físico e nem o processo físico deriva do psíquico. Como a experiência pode ser conhecida a partir de duas perspectivas distintas (objetiva e subjetiva), é possível que certas partes da experiência mediata possam ter correspondência direta com a experiência imediata, sem, contudo, que uma se reduza à outra. Não se trata aqui de uma afirmação puramente Metafísica ou especulativa, mas a constatação de um fato empírico (ARAÚJO, 2010).
Tal princípio se remete diretamente à discussão do binômio mente-corpo, que sempre assombrou a Psicologia e permanece até os dias de hoje relevante. A resposta de Wundt é bem simples e elegante: mente e corpo são paralelos, porque um trata da experiência interna e o outro da experiência externa.
CAUSALIDADE PSÍQUICA
Deriva em parte do princípio do paralelismo psicofísico. Partindo do pressuposto de que há correspondência entre processos mentais e físicos, certos conteúdos específicos da experiência só podem ser compreendidos com base em um único ponto de vista, físico ou psicológico. No caso dos processos físicos, por exemplo, estados e processos cerebrais só poderiam ser analisados sob esse ponto de vista, enquanto no caso dos processos psicológicos, um exemplo de experiência apenas compreendida sob esse ponto de vista seriam aspectos qualitativos da experiência religiosa.
Logo, há uma autonomia do conhecimento psicológico em alguns pontos, o que pressupõe autonomia de certos processos mentais via uma causalidade própria. De fato, há também uma autonomia de processos físicos, pois assumimos uma causalidade física na natureza.
Wundt aqui assegura que ambas as causalidades, as específicas dos processos mentais e as específicas dos processos físicos, não são excludentes, mas apenas complementares. O fato de alguns processos mentais serem apenas observados por uma perspectiva específica não é excludente ao mesmo fato para os processos físicos. Trata-se apenas de perspectivas distintas que se somam na compreensão da mente e da consciência. O privilégio na explicação de um fenômeno por uma das duas perspectivas não desmerece ou diminui a importância da outra perspectiva em tantas outras explicações.
VOLUNTARISMO DE WUNDT X ESTRUTURALISMO DE TITCHENER
Aqui apresentamos um panorama muito amplo de sistema de Wundt, o que não impede demais investigações em outras fontes para complementar a discussão. Entretanto, cabe uma última discussão teórica no intuito de deixar clara a posição de Wundt em relação à Psicologia e como um dos principais autores desse campo de conhecimento.
O principal discípulo de Wundt foi Edward Titchener (1867-1927). Britânico, Titchener viajou para a Alemanha e foi aluno de Wundt durante o doutorado. Ao término, tentou iniciar carreira na Inglaterra, mas, sem sucesso, foi para os Estados Unidos. A partir desse ponto, Titchener se tornou um dos mais importantes divulgadores da nova ciência psicológica experimental na América. Porém, Titchener não reproduziu as ideias de Wundt, mas as alterou drasticamente. Seu sistema, o estruturalismo, difere-se do Voluntarismo de Wundt em muitos aspectos, mas persistiu por muitos anos a compreensão equivocada de que aquela Psicologia que ele divulgava era a mesma de Wundt.
Imagem: Wikimedia Commons / Domínio Público
A principal diferença está na proposta geral: como vimos, Wundt admite uma Psicologia individual e uma Psicologia dos povos.
Titchener considerava que só poderia ser objeto da Psicologia aquilo que estuda os elementos da consciência pela via da introspecção. Tudo o que não estava relacionado a esses elementos estruturais da consciência não deveria ser assunto da Psicologia.
Essa concepção de Titchener acabaria focando apenas numa Psicologia individual e fisiológica, e eliminaria por completo a possibilidade de uma volkerpsychologie, Psicologia dos povos, projeto ao qual Wundt devotou os últimos anos de sua vida aperfeiçoando. O estruturalismo é, portanto,muito mais restrito como sistema de Psicologia do que o Voluntarismo de Wundt, que propõe a investigação de uma gama de fenômenos que o sistema de Titchener simplesmente não abarca (ARAÚJO, 2010).
LEGADO DE WUNDT
O leitor pode vir a se perguntar:
QUAL FOI O LEGADO DE WUNDT?
Como é um nome que não se estuda muito na graduação em Psicologia, é perfeitamente lícito se questionar sobre sua importância. Ocorre que Wundt foi um ator cuja influência se sente muito mais de forma indireta. É certo que seu sistema de Psicologia, parecendo confuso e muito complexo, seria alvo de críticas da moderna neurociência e da Psicologia Cognitiva, mas definitivamente Wundt foi responsável por abrir caminhos que garantiram à Psicologia um campo de estudo muito particular ao longo do século XX.
Wundt teve muitos alunos que visitaram seu laboratório e nele obtiveram um título de Doutor, o qual utilizaram em outras áreas e em outros lugares do mundo. Já citamos Titchener, seu mais famoso aluno, mas existem muitos outros. Alguns dos mais famosos foram Charles Spearman (1863-1945), britânico que faria contribuições de extrema importância na área da Estatística para Psicologia, chegando ao famoso fator g, conceito fundamental nos estudos sobre a inteligência humana. Outro aluno de extrema importância foi Emil Kraepelin (1856-1926), psiquiatra considerado um dos principais fundadores da Psiquiatria moderna, além de ter contribuições na Psicofarmacologia.
VOCÊ SABIA
Um número surpreendente surge quando descobrimos que, entre 1875 e 1919, Wundt orientou nada menos que 186 teses de doutorado nos mais variados temas (HOTHERSALL, 2006).
Se considerarmos que há mais de cem anos ele foi responsável por treinar uma nova geração de psicólogos e demais doutores versados na nova possibilidade de uma Psicologia existir como ciência experimental, podemos compreender a vastidão de sua obra reverberando graças a seus alunos e orientandos. Este trabalho acadêmico significou uma vasta divulgação da Psicologia e dos novos métodos experimentais, possibilitando distintas abordagens e debates que persistiram através de outros sistemas e outras práticas psicológicas.
COMENTÁRIO
Wundt talvez não tenha sido o psicólogo cujo sistema foi o mais significativo ou duradouro em termos de relevância, mas seu legado pode ser sentido pelo que ele representou para a Psicologia: a possibilidade de ser uma área de conhecimento autônoma e independente das demais ciências.
No vídeo a seguir, vamos compreender, de forma ainda mais clara, porque Wilhelm Wundt é considerado o pai da Psicologia.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
Parte superior do formulário
1. SOBRE O VOLUNTARISMO DE WILHELM WUNDT, A AFIRMAÇÃO CORRETA É:
Tratou-se de um sistema que tinha mais preocupações filosóficas do que experimentais.
Era um sistema de Psicologia que focava mais na observação do que na experimentação.
Foi um sistema de Psicologia que focava no estudo da Psicologia dos povos em detrimento das sensações e da fisiologia.
Constituiu-se de dois principais métodos de investigação: a Psicologia individual e o estudo do inconsciente.
Dividia o funcionamento da consciência entre fenômenos inferiores e superiores.
Parte inferior do formulário
Parte superior do formulário
2. O PARALELISMO PSICOFÍSICO É UM PRINCÍPIO BÁSICO DO SISTEMA PSICOLÓGICO DE WUNDT. ESTE PRINCÍPIO PARTE DO PRESSUPOSTO QUE:
Os processos físicos e os processos psíquicos são paralelos e não interagem entre si.
A investigação psicológica deve ser realizada com observações e experimentos realizados em paralelo.
A mente possui processos inferiores e superiores paralelos e simultâneos entre si.
Os processos físicos e os processos psíquicos não são paralelos e interagem entre si.Mente e corpo são instâncias paralelas que devem ser estudadas experimentalmente.
Parte inferior do formulário
1. Sobre o voluntarismo de Wilhelm Wundt, a afirmação correta é:
A alternativa "E " está correta.
Wundt acreditava que os fenômenos inferiores eram os estudados pela experimentação e os fenômenos superiores, pela observação.
2. O paralelismo psicofísico é um princípio básico do sistema psicológico de Wundt. Este princípio parte do pressuposto que:
A alternativa "A " está correta.
Wundt acreditava que os processos físicos e os processos psíquicos ocorriam paralelamente, porém não interagiam entre si, apesar de serem complementares. Opa! Algo não deu certo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como vimos, os antecedentes históricos da Psicologia são variados e, assim, é difícil estabelecer quando exatamente surge a Psicologia. Ela possui raízes longínquas na cultura grega e muitos aspectos dessas raízes foram levados adiante, do fim da Idade Antiga até a Idade Medieval.
Em seguida, observamos como várias questões surgiram a partir das discussões filosóficas na Idade Moderna e de que maneira vão culminar em outras questões a serem superadas, até que a Psicologia se tornasse uma ciência experimental.
Por fim, aprendemos como essa superação se deu em conjunto com a fisiologia sensorial e como o subsequente projeto de Psicologia de Wilheim Wundt foi de especial importância para inaugurar de uma vez por todas a possibilidade da atuação da Psicologia como uma ciência empírica e experimental.

Continue navegando