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SUMÁRIO 1. Introdução e Definição ............................................. 3 2. Coleta da Amostra..................................................... 4 3. Análise Física ............................................................... 7 4. Análise Química.......................................................... 8 5. Sedimentoscopia .....................................................15 Referências Bibliográficas .........................................21 3URINÁLISE 1. INTRODUÇÃO E DEFINIÇÃO O exame de urina de rotina é um dos procedimentos laboratoriais mais so- licitados pelos médicos de pratica- mente todas as especialidades e para pacientes com as mais variadas quei- xas ou mesmo para indivíduos sem nenhuma queixa. Essas caracterís- ticas fazem da urinálise um teste de triagem de ampla utilização. VOCÊ SABIA? Desde o período paleo- lítico, o ato de examinar a urina tem sido um método utilizado como tentativa de diagnosticar e estabelecer o tratamento das mais diversas doenças. Inscrições em paredes de cavernas das primeiras civilizações humanas associam certas doenças a alterações urinárias. O processo de exame da urina é rea- lizado através de quatro “fases”, são elas: coleta, análise física, análise quí- mica e sedimentoscopia. As principais indicações para a uri- nálise são investigação e acompa- nhamento de doença renal, acompa- nhamento de patologias que podem cursar com acometimento renal (ex: lúpus eritematoso sistêmico, hiper- tensão arterial, diabetes mellitus, en- tre outros), investigação de infecções do trato urinário e litíase renal. INDICAÇÕES DA URINÁLISE Doença ou condição frequentemente associa à doença renal • Lúpus Eritematoso Sistêmico • Vasculite de pequenos vasos • Hipertensão Arterial • Diabetes Mellitus Sintomas de infecção urinária • Disúria • Dor suprapúbica/dor lombar Litíase renal (ou suspeita) Evidência de doença renal • Albuminúria • Diminuição da TFG • Aumento das escórias nitrogenadas Suspeita de doença renal • Edema • Oligúria • Hematúria 4URINÁLISE 2. COLETA DA AMOSTRA A urina é um material biológico po- tencialmente contaminado e exige a observação de cuidados específicos de coleta, a fim de preservar a integri- dade da amostra e a segurança dos profissionais que a manuseiam. Visando diminuir as variações pré-ana- líticas, deve-se utilizar urina recém-co- letada do jato médio (após desprezar o primeiro jato), em frasco limpo, após o paciente permanecer por um período de, pelo menos, 2 horas sem urinar. Im- portante orientar os pacientes sobre a necessidade de higienização do mea- to uretral e da genitália antes da coleta, tanto em homens, como em mulheres. Recomenda-se evitar a realização de exercício físico extenuante nas 24 ho- ras que antecedem a coleta, uma vez que a desisdratação pode provocar al- terações na coloração da urina. SE LIGA!: Algumas situações clínicas merecem atenção em relação à coleta. São elas: homem incircunciso (o prepú- cio deve estar retraído e o meato uretral limpo), período menstrual (potencial de contaminação com a secreção vagina), pacientes com cateter vesical de demo- ra: a amostra de urina deve ser coleta- da diretamente do tubo de cateter, para que seja adquirida uma urina produzida recentemente. A amostra deve ser mantida à tempe- ratura ambiente, porém, se o exame não puder ser realizado em um prazo máximo de 2 horas após a coleta, a amostra deverá ser refrigerada e pro- tegida da luz. A amostra nunca deve ser congelada, uma vez que esse pro- cedimento propicia a destruição dos componentes celulares presentes. A tabela 1 apresenta algumas alte- rações que podem ocorrer nas amos- tras de urina após a coleta, ao longo do tempo. Essas modificações e suas potenciais causas devem ser conside- radas na interpretação dos resultados. CONSTITUINTE ALTERAÇÃO MECANISMO pH Elevação Alcalinização por produção de amônia a partir de ureia, por bactérias contami- nantes Glicose Redução Pelo consumo pelo metabolismo celular Nitrito Elevação Redução Pela produção por bactérias eventual- mente presentes Pela degradação a nitrogênio, seguida de evaporação Cetonas Negativação Por conversão do ácido acetoacético à acetona e subse- quente evaporação Bilirrubina Redução Pela oxidação à bili- verdina por exposi- ção à luz Urobilinogênio Redução Pela oxidação à uro- bilina por exposição à luz Eritrócitos Redução Consequência da lise celular Leucócitos Redução Em decorrência da degeneração celular Cilindros Redução Pela solubilização da matriz proteica Tabela 1: Alterações que podem ocorrer nas amostras de urina após a coleta. 5URINÁLISE Na maioria das vezes, a urina para o exame de rotina é obtida espontanea- mente, porém, existem situações par- ticulares nas quais torna-se necessá- rio a utilização de recursos especiais, como coleta com saco coletor, catete- rismo vesical ou punção suprapúbica, sendo que os dois últimos são opções excepcionais devido ao risco de lesão e/ou contaminação das vias urinárias. A coleta com saco coletor é frequen- temente realizado em pacientes pe- diátricos ou geriátricos, nos quais o controle da micção esteja comprome- tido. É realizada através de um saco plástico transparente, macio, com adesivo hipoalergênico que o fixa na área genital (Figura 1). Figura 1: Saco Coletor Pediátrico. Fonte: Google Ima- gens. A amostra cateterizada é coletada, sob condições estéreis, através da colocação de um cateter da uretra até a bexiga. É mais comumente solicita- da para cultura para bactérias, porém, pode ser utilizada também para a medida das funções em cada um dos rins. Neste caso, a amostra dos rins direito e esquerdo é coletada separa- damente pela passagem de cateteres através dos respectivos ureteres. Ocasionalmente, a amostra de urina pode ser coletada através da intro- dução de uma agulha diretamente na bexiga, pelo abdome (Figura 2). Como a bexiga é estéril, em condi- ções normais, a punção suprapúbica fornece uma amostra de urina para a cultura bacteriana completamente li- vre de contaminação externa. Figura 2: Punção suprapúbica para coleta de amostra urinária. Fonte: Google Imagens. 6URINÁLISE FLUXOGRAMA COLETA DA AMOSTRA COLETA ADEQUADA SITUAÇÕES ESPECIAIS CUIDADOS COM A AMOSTRA POTENCIAIS ALTERAÇÕES APÓS 2 HORAS DE COLETA COLETAS ESPECIAIS Desprezar primeiro jato Homem incircunciso Até 2 horas da coleta: manter em temp. ambiente ↑ pH Saco coletor Frasco limpo Período menstrual Após 2 horas da coleta: refrigerar e proteger da luz ↓ Glicose Cateterismo vesical Retenção urinária de 2 horas (mínimo) Pacientes com sonda vesical de demora NUNCA congelar! Nitrito: pode ter redução ou aumento Punção suprapúbica Higienização do meato uretral e genitália antes da coleta Negativação das cetonas Evitar atividade física extenuante nas 24 horas antes ↓ Bilirrubina ↓ Urobilinogênio ↓ Eritrócitos ↓ Leucócitos ↓ Cilindros 7URINÁLISE 3. ANÁLISE FÍSICA A análise física da urina consiste no exame macroscópico (aspecto, cor e odor), juntamente com a determina- ção do volume, osmolaridade e den- sidade da amostra. A urina normal apresenta um aspec- to claro, transparente. Turvações po- dem aparecer quando ocorrerem for- mações de uratos amorfos de urinas ácidas ou fosfatos amorfos em urinas alcalinas (essas formações são mais observadas quando a temperatura ambiente é baixa). A urina pode se apresentar mais clara ou mais escura, de acordo com sua concentração. A coloração da urina normal varia de amarelo citrino pálido a escuro (âm- bar), e resulta da presença de um pig- mento chamado urocromo. A tabela 2 apresenta algumas alterações na cor da urina e suas possíveis causas. Laranja Fenazopiridinas (pyridium), rifam- picina, varfarina Rosa Avermelhada Porfirinas, mioglobina, hemoglo- bina, difenilidantoína, metildopa, fenolftaleína, fenotiazina Vermelha Eritrócitos, hemoglobina Verde Bilirrubina oxidada, azul de me- tileno AzulAzul de metileno Marrom Bilirrubina, hemoglobina, meta- -hemoglobina Cinza Furazolidona, nitrofurantoína Preta Melanina, ácido homogentísico Tabela 2: Colorações da urina e suas possíveis causas. Figura 3: Colorações mais frequentes da urina. Fonte: Google Imagens. A urina normal tem um odor caracte- rístico pela presença de ácidos volá- teis. Como passar do tempo, após a coleta ou pela existência de processo infeccioso urinário, a urina pode apre- sentar odor amoniacal, pela trans- formação da ureia em amônia, como resultado do metabolismo bacteriano. Em pacientes com quadros de ceto- acidose, a urina pode apresentar um odor adocicado. O indivíduo adulto produz, em média, entre 600 e 2.000 mL de urina por dia. Considera-se como oligúria uma produção < 0,5mL/kg/hora, enquanto a anúria ocorre quando há ausência de excreção urinária. A osmolaridade normalmente varia entre 50 e 1100 mOsm/kg de água. Na desidratação, a osmolaridade uri- nária varia entre 40 a 80mOsm/kg. Por fim, os valores da densidade uri- nária dependem, basicamente, do equilíbrio entre a ingestão hídrica e as perdas. Em condições habituais, 8URINÁLISE considera-se normal o intervalo entre 1,015 e 1,021. SE LIGA! A determinação da densida- de urinária e da osmolaridade urinária é muito útil na diferenciação entre Ne- crose Tubular Aguda e Insuficiência pré-renal! Na primeira, a densidade e a osmolaridade são baixas (porque os tú- bulos não conseguem fazer a reabsor- ção de forma eficaz); já na insuficiência pré-renal, a densidade está > 1,020 e a osmolalidade urinária, >450mOsm/L. 4. ANÁLISE QUÍMICA Representa a análise mais importan- te do exame de urina e é realizada através de análise automatizada ou pelo uso da fita reagente (método co- lorimétrico) (figura 4). Os parâmetros avaliados são: pH, proteínas, glicose, cetonas, urobilinogênio, bilirrubinas, hemoglobina, nitrito e leucócitos. Figura 4. Fita reagente para análise química da urina. Fonte: Google Imagens. SE LIGA! É importante lembrar que po- dem ocorrer diferenças significativas na sensibilidade e na especificidade das tiras reagentes de diferentes procedên- cias. Por isso, é imprescindível a leitura atenta das informações fornecidas pelos fabricantes de cada tipo de fita reagente. O pH varia normalmente entre 4,5 e 8,0, sendo a urina da manhã normal- mente mais ácida (em torno de 5,0 a 6,0). No exame de urina de rotina, a determinação do pH pode ser substi- tuída pela referência apenas da reação (ácida, alcalina, ligeiramente ácida...), caso seja necessária a determinação mais exata do pH, podem ser utiliza- das fitas reagentes ou pHmetro. SE LIGA!: Os rins são importantes ór- gãos reguladores do equilíbrio acidobá- sico do organismo. O estudo do pH uri- nário pode auxiliar no diagnóstico e no acompanhamento de alguns distúrbios eletrolíticos sistêmicos e na monitoração de tratamentos que exijam que o pH uri- nário se mantenha dentro de determina- do intervalo. NA PRÁTICA! Urinas ácidas são pro- duzidas por pessoas mantidas em die- tas ricas em proteínas de origem animal, pacientes em uso de medicamentos aci- dificantes e em pacientes com diabetes mellitus mal controlada (acidose). Urinas alcalinas são encontradas no período pós-prandial, em pessoas mantidas em dietas vegetarianas, pacientes em uso de medicamentos alcalinizantes e em pacientes com infecção do trato urinário. 9URINÁLISE A análise da proteína no exame de urina é muito importante para a prática clínica, uma vez que é um importante indicador de lesão renal. As proteínas podem ser pesquisadas com o uso de fitas reagentes ou com ácido tricloa- cético (TCA) a quente e dosadas por precipitação com TCA-Ponceau. As tiras reagentes possuem uma limita- ção na análise da proteína: detectam apenas a albumina, sendo pratica- mente insensíveis às globulinas e às proteínas pequenas (como as cadeias leves das imunoglobulinas). A proteinúria é a excreção elevada de proteínas na urina e pode ser classi- ficada, em termos de intensidade, da seguinte forma: • Proteinúria elevada: excreção > 3,5g de proteína em 24 horas. É característica de síndrome nefró- tica, mas pode estar presen- te em casos de glomerulonefri- te, nefrosclerose, amiloidose, lúpus eritematoso sis- têmico, trombose da veia renal, in- suficiência cardí- aca congestiva ou pericardite. • Proteinúria mo- derada: excreção entre 0,5 e 3,5g de proteína em 24 horas. Presente na glomeru- lonefrite crônica, nefropatia dia- bética, mieloma múltiplo, nefro- patia tóxica, pré-eclâmpsia e nas alterações inflamatórias malignas, degenerativas e irritativas do tra- to urinário (como a presença de cálculo urinário). • Proteinúria mínima: excreção < 0,5g de proteína em 24 horas. Está associada a glomerulonefrite crô- nica, doença policística renal, afec- ção tubulorrenal, fase de convales- cença de glomerulonefrite aguda e vários distúrbios do trato urinário inferior. Em relação à etiologia, as alterações na excreção de proteínas podem ser classificadas em: • P r o t e i n ú r i a postural: ocorre quando o pacien- te permanece em posição ereta por um longo perío- do. A excreção diária pode atin- gir até 1g. • P r o t e i n ú - ria funcional: é a excreção de proteínas asso- ciada a estados 10URINÁLISE febris, exposição ao calor ou frio intensos, exercícios físicos exte- nuantes. • Proteinúria por extravasamento (antiga Bence-Jones): correspon- de à excreção de uma proteína específica, de baixo peso molecu- lar, presente na urina de pacientes com mieloma múltiplo. Essa prote- ína é a cadeia leve livre de imuno- globulinas, podendo ser kappa ou lambda. • Proteinúria pós-renal: resulta do extravasamento de proteínas em decorrência de processos inflama- tórios, infecciosos ou neoplásicos em vias urinárias. • Microalbuminúria: excreção de pouca quantidade de albumina. Os intervalos podem ser expres- sos em relação ao volume de 24 horas/minuto em amostras coleta- das em períodos curtos ou em re- lação à concentração de creatinina (Tabela 3). MG/24 HORAS MCG/MINUTO MG/G DE CREATININA Normal Inferior a 30 Inferior a 20 30 Microalbuminúria Entre 30 e 300 Entre 20 e 200 Entre 30 e 300 Albuminúria Acima de 300 Acima de 200 Acima de 300 Tabela 3: Intervalos de referência para microalbuminúria. SE LIGA!: Microalbuminúria é um indi- cador precoce de disfunção renal e está associado ao aumento da mortalidade cardiovascular, especialmente em pa- cientes com diabetes mellitus tipo 2. Em condições normais, praticamente toda a glicose filtrada pelos gloméru- los é reabsorvida no túbulo contorci- do proximal e a pesquisa de glicose na urina, pelos métodos habituais é negativa. Níveis sanguíneos glicêmi- cos acima de 160 mg/dL ultrapassam o limiar renal (capacidade de reabsor- ção tubular) e acarretam em apareci- mento de glicose na urina. Algumas causas de glicosúria estão expostas a seguir: 11URINÁLISE HORA DA REVISÃO A principal fonte de energia do corpo humano é o metabolismo dos carboi- dratos (principalmente da glicose). Sem- pre que a quantidade de carboidratos disponíveis for inferior às necessidades energéticas, ocorre o catabolismo dos ácidos graxos, gerando, como subpro- dutos, quantidades elevadas de corpos cetônicos. A presença de corpos cetônicos na urina (cetonúria) ocorre no jejum pro- longado, em dietas para redução do peso, em estados febris, após exer- cício físico intenso, no frio intenso e, principalmente, no diabetes mellitus. Pacientes em uso de levodopa podem apresentar resultados falso-positivos. Os três corpos cetônicos presentes são na cetoacidose diabética são: acetoacético (20%), acetona (2%) e ácido beta-hidroxibutírico (78%). SE LIGA!: A fita reagente só identifica o acetoacetato, por isso, pode haver re- sultados falso-negativos para pacientes com cetoacidose diabética. GGLLIICCOOSSÚÚRRIIAA Diabetes mellitus Lesão do Sistema Nervoso Central (SNC) Gravidez Período pós- prandial(após ingestão de grandes quantidades de carboidratos Medicamentos: tiazídicos, corticosteroides Estresse emocional Distúrbios das glândulas pituitárias e suprarrenal Reabsorção tubular diminuída: Sínd. de Fanconi, doença renal avançada Fluxograma 4: Principais causas de glicosúria. 12URINÁLISE A bilirrubina direta, presente na bile, é transformada em urobilinogênio no intestino. 90% desse urobilinogê- nio é reabsorvido pela bile e os 10% restantes são excretados na urina. Há dois grupos de doenças particular- mente significantes que podem levar a alterações nos níveis de excreção da bilirrubina e urobilinogênio: doen- ça hepática (aumento da excreção da bilirrubina, diminuição da excreção do urobilinogênio – podendo até negati- var) e doença hemolítica (diminuição da excreção da bilirrubina, aumento da excreção do urobilinogênio). O reconhecimento da hemoglobina na urina, seja nas hemácias íntegras (hematúria), seja na hemoglobina livre (hemoglobinúria), é um dado impor- tante que deve ser relacionado com a observação do exame microscópi- co do sedimento urinário. É possível a ocorrência de hemoglobinúria sem grande número de hemácias no sedi- mento, em decorrência, por exemplo, de hemólise intravascular. Os nitritos costumam estar presen- tar em infecções, já que as bactérias gram-negativas transformam o ni- trato em nitrito através da nitrato- -redutase. Porém, algumas bactérias não têm essa capacidade, por isso, a presença de nitrito na urinálise é es- pecífica, mas pouco sensível para in- fecções urinárias. Em indivíduos com dieta rica em nitratos ou com muito tempo de retenção urinária, o resulta- do pode ser falso-positivo. A esterase leucocitária é muito sen- sível na detecção de leucócitos, uma vez que é liberada pelos leucócitos quando ocorre degeneração celular. Sua pesquisa na urina pode ser uti- lizada como auxiliar para a avaliação de leucocitúria. SE LIGA!: Os leucócitos não-granulóci- tos (linfócitos) não produzem esterase, portanto, nas linfocitúrias, a pesquisa será negativa. 13URINÁLISE ANÁLISE QUÍMICA HEMOGLOBINA ESTERASE LEUCOCITÁRIApH NITRITOSPROTEÍNA UROBILINOGÊNIOGLICOSE CETONAS BILIRRUBINA Hematúria Hemoglobinúria Presente: leucócitos granulócitos (inflamação) Presente: infecção por bactérias gram-negativas Aumentado: doença hemolítica Diminuído ou ausente: síndrome colestática Presente: fração conjugadaPresente: jejum prolongado, dietas para redução de peso, estados febris, exercício físico intenso, frio intenso, DM... Presente: DM, gravidez, medicamentos, doença renal avançada, sínd. Fanconi... Proteinúria elevada: > 3,5g/dia Proteinúria moderada: entre 0,5 e 3,5g/dia Proteinúria mínima: < 0,5g/dia Normal: 4,5 – 8,0 Ácidas: dietas ricas em proteína animal, DM mal controlada Alcalinas: dietas vegetarianas, período pós-prandial, ITU DM: Diabetes mellitus ITU: infecção do trato urinário 14URINÁLISE ANÁLISE FÍSICA VOLUME Normal: 600 – 2.000mL ODOR OSMOLARIDADE DENSIDADE COR ASPECTO Alterado: Oligúria, anúria 50 – 1.100mOsm/kg água Alterado: desidratação – 40 a 80 mOsm/kg 50 – 1.100mOsm/kg água Normal: odor característico Alterado: odor adocidado, amoniacal... Normal: Claro e transparente Alterado: turvo, com espuma... Normal: Amarelo citrino pálido a escuro Alterada: Avermelhada, marrom, verde, preta... 15URINÁLISE 5. SEDIMENTOSCOPIA A sedimentoscopia representa a análise microscópica do exame, que permite a detecção de elementos ce- lulares e acelulares da urina. Reco- mendada a avaliação com a amostra fresca, já que alguns elementos co- meçam a sofrer lise após cerca de 2 horas da coleta. Os principais parâ- metros pesquisados são: hemácias, leucócitos, cilindros, cristais, células epiteliais, bactérias e fungos. O sedimento urinário deve ser repor- tado qualitativamente (tipos de célu- las, cilindros, cristais, organismos...) e quantitativamente (número de cilin- dros/campo, células/campo...). A presença de um número aumenta- do de hemácias na urina (acima de 2 hemácias/campo) é denominada he- matúria, que pode ser micro ou ma- croscópica, dependendo de sua in- tensidade. As hematúrias podem ser transitórias e benignas ou podem ser um sinal de doença dos rins ou do tra- to urogenital. Hematúria persistente indica, em geral, sinais de nefrolitíase, doença glomerular ou malignidades nos rins ou no trato urinário. A morfologia das hemácias é útil para ajudar a localizar a origem da lesão (doença renal ou em outro lugar do sistema urinário). Hemácias de con- formação normal estão relacionadas com lesão extraglomerular, já hemá- cias dismórficas são sugestivas de doenças glomerulares. A morfologia das hemácias dismórficas é caracte- rizada por bolhas, brotamentos e per- da parcial da membrana celular. Figura 5: Hemácias Dismórficas. Fonte: SBPC, Realização de Exames em Urina. Ed. Manole, 2017. 16URINÁLISE Os leucócitos podem estar presen- tes fisiologicamente (até 2 leucóci- tos/campo). Os neutrófilos são o tipo mais comum de leucócitos na urina, mas também podem ser observa- dos eosinófilos e linfócitos. A eleva- ção anormal do número de leucócitos, denominada piúria, pode estar asso- ciada a infecção do trato urinário, glo- merulonefrite, nefrite intesticial agu- da, doença inflamatória pélvica (DIP) e afecções intrabdominais. Os cilindros são corpos proteicos que se formam nos túbulos distais e coletores dos rins. Surgem pela li- gação da proteína de Tamm-Horsfall (GTH) com os diferentes elementos presentes na estrutura tubular. Em várias condições fisiológicas ou pato- lógicas, as fibrilas de GTH tendem a se agregar e se entrelaçar dentro dos lúmens tubulares, formando uma es- trutura cilíndrica. Essa formação é fa- vorecida pelo pH ácido, osmolaridade alta (o que explica o fato de serem in- comuns em urinas alcalinas e/ou diluí- das e concentração elevada de sódio) ou pela interação com mioglobina, hemoglobina e outras substâncias. Cada cilindro está relacionado com patologias ou disfunções específicas, como podemos observar na tabela 4. TIPO ORIGEM – CARACTERÍSTICA CORREÇÃO CLÍNICA Acelulares Hialinos Secreção tubular da proteína de Tamm-Horsfal agregada às fibrilas Pode ser fisiológico. Desidratação, uso de diuréticos, esforço físico, febre. Céreos Evolução natural dos cilindros gra- nulosos patológicos. Disfunção renal avançada (fluxo tubular baixo). Largos Diâmetro maior que os outros cilin- dros – aspecto granular ou céreo. Insuficiência renal avançada (dilatação dos túbulos coletores). Graxos Cilindros que estão associados à presença de gotículas de gordura Estados de lipidúria, como a síndrome nefrótica. Celulares Epitelias Células epiteliais descamadas dos túbulos renais que aderem à matriz proteica. Podem evoluir para gra- nulosos pela degeneração celular. Lesão tubular renal (como NTA) e nefro- patias tubulointersticiais. Granulosos Formados por debris celulares. Lesão tubular ou glomerular (menos comum). Hemáticos Hemácias que aderem à matriz. Indicam lesão glomerular – clássico das glomerulonefrites. Leucocitários Leucócitos aderidos à matriz. Podem ocorrer nas glomerulonefrites, mas são clássicos das nefrites tubuloin- tersticiais (como a pielonefrite). Tabela 4: Tipos de cilindros urinários e sua origem. 17URINÁLISE SE LIGA! A presença de células epite- liais pode aparecer na sedimentoscopia em pessoas normais (por contaminação da amostra, por exemplo), mas os cilin- dros epiteliais quase sempre são pato- lógicos! A presença de cristais no sedimento urinário é denominada cristalúria e é um achado frequente. Muitos deles são formados em decorrência de al- terações posteriores à coleta, como rebaixamento da temperatura ou variações do pH, não apresentando maior importância diagnóstica, sen- do considerados artefatuais. Outros refletem características da compo- sição da dieta habitual do indivíduoou situações metabólicas particu- lares, mas não patológicas, sendo identificados como cristais habituais ou comuns. Há cristais, porém, cuja presença na urina pode estar associada a algumas doenças metabólicas ou infecciosas, sendo, portanto, considerados pato- lógicos. É importante ter em mente que um mesmo cristal, dependendo da quantidade, da forma de apresen- tação e das condições do meio uriná- rio, pode ter diferentes significados clínicos. Os principais tipos de cristais e suas característica estão descritos na tabela 5. TIPO CARACTERÍSTICAS Ácido úrico Mais comuns; amarelo-casta- nho; habitual. Oxalato de cálcio Amarelo-castanho; qua- drados intersectados por 2 diagonais; habitual. Fosfato amorfo Branco-incolor; habitual Carbonato de cálcio Incolor; habitual Cistina Incolor; raros e indicam do- ença metabólica. Colesterol Incolor; considerado anormal Leucina Amarelo; considerado anor- mal Bilirrubina Amarelo; considerado anor- mal Estruvita Litíase associada a infecções urinárias por bactérias pro- dutoras de urease (Proteus e Klebsiella) Sulfonamidas Coloração variável; conside- rado anormal Ampicilina Incolor; considerado anormal No sedimento urinário, podem ser ob- servados três tipos principais de célu- las epiteliais: células epiteliais esca- mosas, células epiteliais transicionais e células epiteliais tubulares renais. As células epiteliais escamosas são frequentemente eliminadas e proce- dem da uretra e vagina, e pequenos números, são quase invariavelmente presentes no sedimento urinário de pa- cientes do sexo feminino. Em mulheres com vaginite, um número elevado de células epiteliais escamosas está fre- quentemente relacionado a Candida, Trichomonas vaginalis e/ou bactérias. 18URINÁLISE As células epiteliais transicionais derivam do uroepitélio e podem ser observadas em grande quantidade (uma ou mais por campo de grande aumento) em condições caracteriza- das por dano das camadas profundas desse epitélio, como urolitíase, câncer de bexiga ou hidronefrose. São tam- bém frequentemente encontradas na urina de pacientes com stents ureté- ricos ou cateteres na bexiga por perí- odos prolongados. As células epiteliais tubulares renais são as que têm mais significado clíni- co. São essencialmente diagnósticas de necrose tubular aguda isquêmica e nefrotóxica, e podem estar presentes também em doenças glomerulares. A presença da bactérias ou fungos pode ser consequência de uma con- taminação da amostra ou de uma in- fecção franca. 19URINÁLISE SEDIMENTOSCOPIA CÉLULAS EPITELIAIS CRISTAIS LEUCÓCITOS HEMÁCIAS BACTÉRIAS E FUNGOS CILINDROS Podem estar presentes sem indicar doença Normal: até 2/ campo Piúria: ITU, glomerulonefrite, NIA Normal : até 2/ campo Alterado: Hematúria micro ou macroscópica Forma normal: lesão extraglomerular Dismórficas: doenças glomerulares Artefatuais Habituais: ác. Úrico, oxalato de cálcio, fostato amorfo, entre outros Anormais: cistina, colesterol, leucina, bilirrubina, estruvita, ampicilina, sulfonamidas, entre outros Acelulares: Hialinos, Céreos, Largos e Graxos Celulares: Epiteliais, Granulosos, Hemáticos e Leucocitários Contaminação da amostra ou infecção franca ITU: infecção do trato urinário NIA: nefrite intersticial aguda 20URINÁLISE FLUXOGRAMA URINÁLISE Coleta Coleta em frasco plástico Urinálise Análise Física Análise Química Sedimentoscopia Saco Coletor Punção Suprapúbica Cateterismo vesical Cor Aspecto Odor Volume Osmolaridade Densidade pH Glicose Proteínas Cetonas Nitritos Bilirrubina e Urobilinogênio Esteraseleucocitária Hemoglobina Hemácias Leucócitos Clindros Cristais Células Epiteliais Bactérias e Fungos 21URINÁLISE REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS A MCPHERSON, Richard; BEN-EZRA, Jonathan; ZHAO, Shourong. Exame de urina básico. In: MCPHERSON, Richard A. Diagnósticos clínicos e tratamento por métodos laboratoriais de Henry. 21. ed. São Paulo: Editora Manole, 2012. p. 460-498. GOLDMAN, Lee; AUSIELLO, Dennis. Cecil Medicina Interna. 24ªed. Sauders- -Elsevier, 2012. NEMER, Aline Silva de Aguiar. Manual de solicitação e interpretação de exa- mes laboratoriais. São Paulo: Revinter, 2006. 110 p. VEIOS, Valéria Soares Pigozzi; COSTA, Nayara Gomes; SOUZA, Carlos Alfredo Marcílio de. Exames Complementares. In: PORTO, Celmo Celeno. Porto &Porto Semiologia Medica. 7. ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan Ltd, 2014. Cap. 134. p. 883-894. Wald Ron, et. Al. Urinalysis in the diagnosis of kidney disease. UpToDate. 2018. Disponível em: <http://www.uptodate.com/online>. Acesso em: 23/04/2019. Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial. Recomenda- ções da SBPC/ML: realização de exames em urina. Barueri, SP: Manole, 2017. 22URINÁLISE
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