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FUNÇÃO SOCIAL DA POSSE URBANA, UMA ANÁLISE DO JULGADO TJ-DFT 1258928 USO IRREGULAR DA PROPRIEDADE CONSTANTE PERTURBAÇÃO AO SOSSEGO DOS CONDÔMINOS

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BACHAREL EM DIREITO
 DIREITO URBANÍSTICO NA AMAZÔNIA LEGAL 
FUNÇÃO SOCIAL DA POSSE URBANA, UMA ANÁLISE DO JULGADO TJ-DFT – 1258928 USO IRREGULAR DA PROPRIEDADE – CONSTANTE PERTURBAÇÃO AO SOSSEGO DOS CONDÔMINOS
 MATEUS SANTANA FERREIRA (10° período N)
BRISA GUIMARAES DA CUNHA (10° período N)
HEBERT MARACAÍPE MENDES (10° período N)
Atividade que consiste na elaboração de um trabalho apresentado como requisito para obtenção de nota para a P1 na Disciplina de direito urbanístico na Amazônia legal ministrada pelo professor Antônio Henrique.
 
 MARABÁ – PA
 2021
1. POSSE 
O artigo 1.196 do Código Civil brasileiro pontua que possuidor é todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade, possuidor, portanto, é aquele que tem o exercício de poderes ligados à propriedade, podendo ser de forma plena ou não, podendo ser um ou alguns.
Não devemos nos esquecer de que a propriedade é estática, enquanto a posse é essencialmente e necessariamente dinâmica. O proprietário, assegurado pelo título, não está obrigado a tomar efetivo o direito de usar, gozar e dispor. Admites-lhe uma posição passiva. Mas o possuidor está vinculado, obrigatoriamente, a uma atitude ativa, embora não se tenha percebido esse fato em toda sua intensidade.
 Uma abordagem da posse, segundo a realidade atual, em que é sensível a preocupação com a improdutividade dos bens, é necessária e se justifica plenamente.
2. ANÁLISE DO JULGADO TJ-DFT – 1258928 USO IRREGULAR DA PROPRIEDADE – CONSTANTE PERTURBAÇÃO AO SOSSEGO DOS CONDÔMINOS
O caso em questão trata-se de apelação e de recuso adesivo interpostos, respectivamente, por Condomínio Geral DF Century Plaza, autor, e por José Américo da Silva Júnior, réu, contra sentença proferida pelo MM. Juízo da 1ª Vara Cível de Águas Claras, que julgou parcialmente procedentes os pedidos para determinar ao réu a abstenção de atos antissociais, devendo observar os padrões comportamentais constantes dos capítulos 4 e 5 do Regimento Interno do Condomínio DF Century Plaza, sob pena de multa diária de R$ 5.000,00 (cinco mil reais). Por fim, condenou o réu ao pagamento das custas e honorários no percentual de dez por cento (10%) sobre o valor da causa. 
Em suas razões, o apelante relata que propôs a ação com o objetivo de solucionar o impasse travado por um único morador que possui atitudes antissociais em detrimento da paz de todos os demais moradores do condomínio. Afirma que a tutela de urgência restou deferida, fixando multa de R$ 5.000,00 (cinco mil reais). Declara que as atitudes antissociais consistem em “xingamento a vizinhos, baderna no apartamento e nas áreas comuns do condomínio, barulho excessivo durante a madrugada, gritos durante a madrugada, sujeira excessiva e cheiro ruim exalando do apartamento do apelado o que atrai baratas e insetos para todos os vizinhos, excesso de fumaça durante o dia e durante a madrugada que invade os apartamentos vizinhos, dentre diversos outros conforme documentação juntada aos autos”. Alega que, após o ajuizamento da demanda, houve novas ocorrências de atos antissociais praticados pelo apelado. Defende que estão comprovadas a reiteração de atos antissociais praticados pelo apelado aptos a ensejarem sua expulsão do condomínio. 
Informa que está em trâmite processo criminal, que restou suspenso por três meses, sob a alegação de que o imóvel seria vendido e que o apelado se comprometeria a não mais praticar atos antissociais. No entanto, depois de seis meses, narra que o apelado não colocou o imóvel a venda e continuou a praticar condutas antissociais. Destaca que o direito de propriedade do apelado está sob ameaça, considerando a majoração da multa determinada pelo Tribunal e as reiteradas práticas das atitudes proibidas, o que fará com que a condenação em multas se aproxime do valor do imóvel. Requer o provimento do apelo, a fim de que seja determinada a expulsão do apelado do condomínio, pois todas as medidas já foram adotadas e restaram sem sucesso, o que permite a aplicação de medida extrema em respeito à paz social, ao direito de propriedade e à dignidade da pessoa humana.
 O artigo 1.228 do código civil informa acerca do uso e gozo da propriedade onde é garantido ao possuidor o direito em relação a propriedade:
Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.
§ 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.
Porém, a propriedade terá que ser exercida de acordo com sua finalidade, conforme assevera o parágrafo 1° acima mencionado. Ora, o uso anormal da propriedade pode causar danos, e sendo assim, gerara o direito de indenizar, conforme nos ensina o código civil. 
No julgado em analise, ocorre um uso anormal da propriedade devido a perturbação do sossego dos condôminos, que devido a várias reclamações geraram medida maias graves como será demonstrado a seguir. 
A nossa constituição nos traz em diversos momentos que é essencial o desenvolvimento a função social da propriedade:
"Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...)
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; (...)
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios (...)
III - função social da propriedade;
Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes. (...)
2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.
Conforme vimos, a função social é cumprida quando atende as exigências contidas no plano diretor de cada cidade, no qual sem isso, cabe ao estado tomar as medida necessárias conforme nos ensina os artigos a seguir:
“Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei. (...)”
“Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores." 
No caso em tela diante da constância na perturbação do sossego dos moradores do condomínio e ainda o condomínio tomou todas as providencias para que o incomodo sessasse, porém não surtiu efeito, voltando réu a praticar a conduta delituosa, tornando-se assim impossível o convívio social. Foram aplicadas várias multas por descumprimento as regras do condomínio, majorando-se cada vez mais, pois a conduta do agente persistia. 
Diante disso, levantou-sea possibilidade de exclusão do condômino diante das várias violações de convício social “antissocial”, pois foram tomadas todas as providencias cabíveis ao caso, porém, sem o efeito esperado. O nosso ordenamento jurídico traz essa possibilidade, diante das varias condutas. Nesse sentido, o Enunciado 508, da V Jornada de Direito Civil, dispõe que, in verbis: 
“Enunciado 508, da V jornada jurídica de direito civil: Verificando-se que a sanção pecuniária mostrou-se ineficaz, a garantia fundamental da função social da propriedade e a vedação ao abuso do direito justificam a exclusão do condômino antissocial, desde que a ulterior assembleia prevista na parte final do parágrafo único do art. 1.337 do Código Civil delibere a propositura de ação judicial com esse fim, asseguradas todas as garantias inerentes ao devido processo legal.”
Já o parágrafo único, do art. 1.337 do código civil, assim dispõe: 
“Parágrafo único. O condômino ou possuidor que, por seu reiterado comportamento anti-social, gerar incompatibilidade de convivência com os demais condôminos ou possuidores, poderá ser constrangido a pagar multa correspondente ao décuplo do valor atribuído à contribuição para as despesas condominiais, até ulterior deliberação da assembleia”.
No que se observa os artigos acima, a propriedade não é absoluta, restando assim, diante das várias e reiteradas atitude nocivas ao condomínio, prejudicando assim o convívio pacifico entre todos e as várias sanções pecuniárias sofridas pelo réu seria sim possível a sua exclusão do condomínio. 
No entanto, no caso em tela, não foi feito a realização de assembleia geral para que seja realizada a expulsão do condômino, sendo tal requisito essencial como assevera o parágrafo único do artigo 1.137, do código civil a cima mencionado. Diante disso, o relator do caso optou pelo não provimento do recurso de apelação diante do não cumprimento correto da norma. 
Nesse sentido, há uma legitimidade em que, caso a propriedade não atenda sua função social, fica caracterizado esse desvio e seguido todo o processo previsto em lei, poderá nesse caso, ser efetivada a expulsão do condomínio, ou seja, a perca da propriedade.

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