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Reumatologia Bruna Argolo INTRODUÇÃO A IMUNOLOGIA • A imunidade é definida como a resistência a doenças infecciosas • As células e moléculas que compõe a imunidade são chamadas de sistema imunológico, que é na verdade uma reação coordenada dessas células a infecção, formando a resposta imune • A principal função do sistema imune é prevenir e erradicar infecções, mas existem também outras funções como ter defesa contra células tumorais • Existe também a possibilidade de injurias, alergias, doenças autoimunes, por uma desorganização desse sistema ou sua hiperativação • Na sepse, por exemplo, existe a infecção, o que ativa o sistema imune, mas ele pode ficar hiperativado e gerar lesão • No transplante o sistema imunológico também pode atuar não reconhecendo o órgão como próprio e gerando problemas • Mediadores do sistema imunológico tem grande utilidade clínica -> Anticorpos • Os anticorpos podem servir para imunidade ativa (vacina) ou passiva (soro) • A imunidade ativa é quando nosso organismo é estimulado a produzir os anticorpos -> antígenos mortos ou fragilizados são colocados em contato com nosso sistema imunológico para fazê-lo produzir os anticorpos, o que vai fazer com que o indivíduo tenha uma memória imunológica que vai ser responsável por reconhecer o antígeno mais facilmente se for infectado • Na imunidade passiva os anticorpos já são fornecidos diretamente • No covid, por exemplo, pegamos o soro de pacientes que tiveram covid19 com IgG positivo e damos a pacientes com covid grave e que não estão conseguindo se reabilitar de forma adequada CÉLULAS E ÓRGÃOS DO SISTEMA IMUNOLÓGICO: • Existem os órgãos primários (formação celular ou maturação) e os órgãos secundários (periféricos) • Primários: Medula óssea e timo • Secundários: linfonodos, tonsilas, baço, sistema imune cutâneo... • As células são: - Macrófagos, células dendríticas, neutrófilos -> responsáveis pela fagocitose do microrganismo - Eosinófilos, basófilos e mastócitos -> possuem granulócitos (vacúolos com substâncias que vão ajudar a inflamar mais o meio) - Linfócitos -> linfócito B, linfócito T e células NK • Existe um precursor linfoide comum que fica na medula, e essa é a origem dos linfócitos B e T • Os linfócitos B são produzidos e maturados na medula óssea, sendo lançados na corrente sanguínea já previamente maduros • Os linfócitos T também serão produzidos na medula óssea, mas a sua maturação ocorrerá no timo, que se constitui também um órgão linfoide primário. • Depois de maduros, esses linfócitos são jogados na corrente sanguínea para exercer suas respectivas funções Reumatologia Bruna Argolo IMUNIDADE INATA E ADAPTATIVA: • A imunidade inata é a inicial, aquela que ocorre nas primeiras horas, sendo rápida e inespecífica • Já a imunidade adaptativa é mais lenta e especializada, ou seja, vai ser uma resposta direcionada para o patógeno, seja um vírus, bactéria ou parasita • Muitas vezes a imunidade inata por si só consegue resolver a situação, não tendo necessidade de envolver a imunidade adaptativa • Para ativar a imunidade adaptativa vamos ter as células dendríticas ou os macrófagos, que vão fagocitar os microrganismos para apresentá-los para um linfócito T ou para um linfócito B naive • Ocorre a expansão clonal após a ativação desses linfócitos • Os linfócitos B se diferenciam em plasmócitos e produzem os anticorpos • O primeiro anticorpo a ser produzido é o IgM e a partir do 10/14 dia vai começar a ser produzido o IgG, que é o anticorpo de memória IMUNIDADE INATA: • É uma resposta inespecífica, rápida e tem como principal mecanismo a fagocitose • É o primeiro passo para a defesa contra agentes infecciosos, e começa bloqueando a invasão por barreiras epiteliais, além de ser capaz de destruir microorganismos • Também é responsável por ativar a imunidade adaptativa pela indução do reconhecimento do antígeno • É participante chave do clearance dos tecidos mortos e reparos dos mesmos • As células dendríticas tem vários receptores específicos para antígenos que não existem no corpo humano, por exemplo, o lipopossacarideo da membrana da bactéria, manose, etc • Então os receptores reconhecem os antígenos dos patógenos, se ligam e fagocitam • PAMPs = padrões moleculares associados a patógenos (ex.: lipopossacarideo da membrana da bactéria) • Os padrões moleculares associados a patógenos, como os receptores do tipo Toll, ativam NFKBeta no núcleo celular e, em seguida, ocorre a produção de citosinas e quimiocinas para atrair outras células dendríticas, monócitos, macrófagos, neutrófilos e as células T e B • Produção de espécies reativas de oxigênio -> óxido nítrico -> destruição do patógeno por apoptose Reumatologia Bruna Argolo • As células NK também fazem parte da imunidade inata e são células que são altamente destrutivas • Para esse poder destrutivo da NK ser ativado, ela precisa da ativação por 2 sinais: o MHC e o ligante NK – se apenas um dos sinais for ativado, a NK não induz a morte da célula infecatada (esses dois sinais são utilizados para ter mais segurança de que a NK não vai destruir células saudáveis) • As NK são muito importantes na atuação contra células cancerígenas • A NK atua induzindo a apoptose por perforinas e granzimas, além de ativar os macrófagos • Quando uma célula está infectada, principalmente por vírus, ela libera interferon • Célula infectada -> interferon -> estado antiviral -> inibição da síntese proteica viral, degradação do RNA viral, inibição de expressão genica viral e da montagem do virion SISTEMA COMPLEMENTO: • Também faz parte do sistema imune inato. • É uma cascata de proteínas no plasma responsável por inflamação, opsonização, lise de células e patógenos por necrose • Existem 3 vias de ativação para o sistema complemento e as proteínas desse sistema “vivem” livremente no nosso corpo até serem ativadas - VIA ALTERNATIVA: diretamente do microrganismo - VIA CLÁSSICA: é induzido pelo anticorpo - VIA DAS LECTINAS: induzida pela lectina ligante de manose que é o antígeno do microrganismo • Todas as vias chegam ao C3 -> clivagem em C3A (ativa inflamação) e C3B (opsonina que se liga ao patógeno) • O importante é entender que se ocorre a ativação do sistema complemento, e ai vai existir as cascatas de ativação, com a formação do complexo de ataque a membrana (MAC) no final • O complexo de ataque a membrana é responsável pela lise do microrganismo • Então, com a ativação do complemento vai ocorrer: - Eliminação da circulação dos complexos antígeno-anticorpo - Fagocitose de microrganismos opsonizados com fragmentos do complemento (ex: C3b) - Inflamação - Lise de microrganismos Reumatologia Bruna Argolo COMPLEMENTO E DOENÇAS REUMATOLÓGICAS: • Existem alterações do complemento que levam a doenças reumatológicas • No lúpus, por exemplo, existem um consumo alto de C3 e C4 em caso de atividade, pela autoimunidade, pela produção de auto anticorpos • No caso de um paciente que não tem a disponibilidade de um sistema complemento funcionando adequadamente, a imunidade desse paciente vai estar fragilizada IMUNIDADE ADAPTATIVA: • A apresentação do antígeno é o gatilho inicial para a imunidade adaptativa • O linfócito B pode ser ativado diretamente pela presença do microrganismo • O linfócito T não é ativado diretamente pela presença de um microrganismo -> ele precisa de uma célula apresentadora de antígeno -> as moléculas do MHC são indispensáveis nesse processo MHC – COMPLEXO PRINCIPAL DE HISTOCOMPATIBILIDADE: • É uma região genômica ou família de genes encontrada na maioria dos vertebrados • Expressão dos genes do MHC: co-dominante (polimorfismos herdados de ambos os pais) • É a região mais densa de genes do genoma com importante papel no sistema imune • Essa região genética nos seres humanos recebeu a denominação de AntígenosLeucocitários Humanos (HLA) –> MHC = HLA • Sua função é codificar proteínas receptoras transmembranas -> MHC classe I e II, que atuam no reconhecimento e na apresentação de antígenos • As moléculas do MHC apresentam tanto antígenos próprios, quanto antígenos externos para os linfócitos T HLA – ANTÍGENOS LEUCOCITÁRIOS HUMANOS (HLA): • Distribuídos em três regiões distintas denominadas Classe I, II e III: - Classe I (HLA-A, B e C) - Classe II (HLA-DR, DQ) - Classe III (C4A, C4B, C2, Fator B, LTB (beta), TNFa) Dica: O que tem uma letra é classe I (A, B e C), o que tem 2 é II (DR e DQ) e a III não é muito importante Reumatologia Bruna Argolo • Cada classe apresenta a um tipo de linfócito diferente • Nas doenças a gente tem o componente genético e o componente ambiental: - Na artrite reumatoide (AR) sabemos que o componente genético é no HLA-DR4 - No lúpos (LES) é uma alteração no HLA DR2 e 3 - Na síndrome de Stevens-Johnson é no HLA-DQA1 • MHC de classe I: Presentes em todas as células nucleadas, ligam-se aos peptídeos endógenos para os apresentarem aos linfócitos T CD8+ (citotóxicos) • MHC de classe II: Presentes em linfócitos B, macrófagos, células dendríticas (APCs), ligam-se aos peptídeos exógenos para os apresentarem aos linfócitos T CD4+ (helper = auxiliar) • LINFOCITOS T CD4+ só reconhecem células capazes de apresentar MHC de classe II - reconhecimento de antígenos proteicos extracelulares, que estão sendo apresentados por outras células EX: Bactérias (são proteínas extracelulares) • LINFOCITOS T CD8+ só reconhecem células capazes de apresentar MHC de classe I - sua função é restrita a eliminação de antígenos citosólicos/intracelulares. EX: vírus, proteínas tumorais • Então: - MHC I -> antígenos citosólicos/intracelulares -> TCD8+ (citotóxico) -> apoptose - MHC II -> antígenos proteicos extracelulares -> TCD4+ (helper) -> ativação de outras células LINFOCITOS T: • Ativam e potencializam as respostas de outras células imunes e vão eliminar os microrganismos • Os linfócitos T auxiliares (CD4+) vão aumentar a capacidade microbicida dos fagócitos e ativam linfócitos B para produzir anticorpos • Os linfócitos T citotóxicos (CD8+) destroem as células infectadas por microrganismos que são inacessíveis aos fagócitos • Helper/Auxiliar (CD4) -> secretam citocinas, estimulam a diferenciação dos linfócitos T, ativam linfócitos B e macrófagos • Citotóxico (CD8) -> destroem células que possuem antígenos na superfície • T- reguladores -> atuam principalmente para inibir a resposta imune • NKT resposta contra antígenos lipídicos • Para ativar linfócitos T também são necessárias duas vias de ativação: o MHC e o B7 com CD28 AR HLA – DR4 LES HLA DR2 e 3 SSj HLA – DQA1 Reumatologia Bruna Argolo • O linfócito T auxiliar pode atuar como Th1, Th2, Th17 ou T regulatória, o que vai depender do ambiente (citocinas que existem naquele ambiente) e do tipo de patógeno • Th1 = imunidade contra vírus e bactérias intracelulares • Th2 = imunidade mediada por anticorpo, então tem ativação de eosinófilos, macrófagos, mastócitos, produzindo anticorpos (principalmente IgE) para uma resposta contra helmintos • Th17 = contra microrganismos extracelulares, como bactérias e fungos • Treg = responsável por suprimir sistema imunológico e reduzir a cascata inflamatória • Em caso de resposta imunológica anômala isso vai se relacionar a doenças (tabela acima) • Existe um feedback negativo no sistema imunológico, que vai estar sendo regulado pelo Treg, com suas citocinas • O ácido retinoico faz com que Th0 se diferencie em Treg e produza citocinas, principalmente IL-10, que atua suprimindo o sistema imune • IL-10: suprime macrófagos, suprime células dendríticas (DCs), suprime células NK, suprime linfócitos Th1, Th2 e Th17 e aumenta linfócitos T regulatórios • Se existe um problema na regulação, ocorre uma manutenção e/ou uma exacerbação na inflamação e ocorre o dano tecidual ATIVAÇÃO DOS LINFÓCITOS B: • Os linfócitos B são estimulados pelos linfócitos T, e também requerem dupla sinalização para ativação (TCR com o MHCII e o CD28 com o B7) • Os linfócitos B tornam-se plasmócitos e vão fazer a produção de anticorpos, que são imunoglobulinas, que podem estar ligados a membrana do linfócito B (BCR) ou isolados • O anticorpo se liga ao antígeno especifico (epítopo) Reumatologia Bruna Argolo • Toda imunoglobulina (anticorpo) tem uma cadeia pesada (fixa) e uma cadeia leve (Kappa e lambda) • O Blys ou BAAF é uma proteína que está no plasma e que é responsável por otimizar a proliferação dos linfócitos B • A ativação da célula B pode ser de uma forma direta pelo microrganismo ou pelo linfócito T INTERLEICINAS E SEUS EFEITOS: • Tabela abaixo tem as interleucinas e seus efeitos • Além disso mostra alguns dos principais medicamentos que temos hoje em dia e relação com as interleucinas: - Canakinumabe: anti IL-1 - Anakinra: antagonista do receptor de Il-1 - Tocilizumabe: anti IL-6 - Secukinumabe: anti IL17A - Ustequinumabe: anti IL-12 e 23 - Tofacitinibe: inibidor da Jak 1 e 3 -> transdutor intracelular importante na produção de várias citocinas OBS: O Tocilizumabe tem sido usado em pacientes com covid, principalmente aqueles pacientes muito inflamados – o IL-6 é responsável pela produção de PCR, VHS, então se inibimos isso, modulamos a inflamação desse paciente e ele tende a melhorar Reumatologia Bruna Argolo OBS: O Tocilizumabe sempre foi usado para artrite reumatoide
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