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Cada Estado, em seu Direito interno, tem o poder de estabelecer os critérios que irá adotar para definir quem são as pessoas que, em razão do nascimento ou por escolha, gozam de especial relação com ele. Da mesma forma, ele poderá estabelecer, respeitando compromissos que assumiu perante outros sujeitos de Direito Internacional, como se dará a entrada e a permanência de estrangeiros em seu território. Esses dois elementos decorrem da soberania que cada Estado possui, razão pela qual não pode haver a ingerência de outros sujeitos de Direito Internacional nesse processo de escolha e normatização. Em primeiro lugar, faz-se necessário definir o que é a nacionalidade, sendo que para isso vamos buscar o conceito apresentado por José Afonso da Silva, que se reporta a Pontes de Miranda: Levando-se em consideração a nacionalidade ostentada por cada pessoa, podemos encontrar as seguintes situações: Aqueles que possuem uma nacionalidade originária (ou primária) são os chamados natos, a nacionalidade originária decorre do nascimento; Aqueles que possuem uma nacionalidade secundária (ou adquirida) são os naturalizados, a nacionalidade secundária decorre de um ato de vontade, ou seja, de uma opção criada pela Legislação; Aqueles que não se encaixam em critérios de definição de nacionalidade de nenhum Estado são chamados de apátridas ou heimatlos; Aqueles que possuem mais de uma nacionalidade são os polipátridas, também chamados de pessoas com dupla ou tripla nacionalidade. Precisamos destacar que o direito a uma nacionalidade e o direito de mudar de nacionalidade são Direitos Humanos Fundamentais, reconhecidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada e proclamada pela Resolução 217 A (III), da Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948. Precisamos destacar que: Cada país, em razão de sua soberania, define os critérios de reconhecimento de nacionalidade (originária ou secundária); Apesar do reconhecimento do direito a uma nacionalidade, há pessoas que não se encaixam nos critérios de definição de nacionalidade de nenhum dos países; contudo, isso não significa que elas não possam cumprir certos requisitos para adquirir uma nacionalidade; Em regra, cada pessoa somente pode ostentar uma nacionalidade; entretanto, há aquelas que cumprem os requisitos para que sejam reconhecidas como nacionais de mais de um Estado, isso Nacionalidade é o vínculo jurídico-político de Direito Público interno, que faz da pessoa um dos elementos componentes da dimensão pessoal do Estado normalmente ocorre quando alguém se enquadra nos critérios de nacionalidade originária de mais de um Estado; contudo, há exceções a essa situação. Assim, para que possamos entender a situação dos estrangeiros em nosso país, vamos antes verificar quais são os critérios para se estabelecer quem são os brasileiros natos e os naturalizados. DEFINIÇÃO DE NACIONALIDADE BRASILEIRA Em nosso sistema jurídico, os critérios de definição da nacionalidade originária são dados apenas pela Constituição Federal. Já em relação à nacionalidade derivada, além de preceitos constitucionais, há algumas situações definidas na Lei de Migração – Lei n.º 13.445/17. brasileiros natos Em geral, os países adotam dois critérios para a definição da nacionalidade originária: o jus sanguinis e o jus solis. O jus sanguinis estabelece que os filhos, ao nascerem, obtêm a nacionalidade dos pais, não importando o local onde ocorreu o nascimento; Já no jus solis, o importante é saber o local onde ocorreu o nascimento, pouco importando a nacionalidade dos pais. Nosso sistema jurídico, apesar de dar ampla preferência ao jus solis, também adota o jus sanguinis, desde que acompanhado de outros requisitos. Dessa forma, temos as possibilidades identificadas a seguir de alguém ser considerado brasileiro nato. nascidos no em território brasileiro Segundo a Constituição Federal, são brasileiros natos todos os nascidos no território brasileiro. A única exceção se refere aos filhos de estrangeiros – pai e mãe estrangeiros que estejam a serviço de seus países. Há, nesse caso, uma alinhada aplicação do jus solis, sendo esse o principal critério definidor da nacionalidade originária brasileira. nascidos no estrangeiro Se o nascimento não ocorreu no território nacional, há três possibilidades de alguém ser considerado brasileiro nato, conforme o estipulado em nossa Constituição Federal. Essas situações são as seguintes: Se o pai ou a mãe estiver a serviço da República Federativa do Brasil: é o que ocorre se os pais (ou qualquer um dos dois) estiver a serviço da União, dos Estados, dos municípios brasileiros ou de qualquer órgão ou pessoa jurídica da Administração Direta ou Indireta. Isso se dá, por exemplo, com funcionários brasileiros de Embaixadas que estão a serviço de nosso país no exterior e que venham a ter seus filhos fora do território nacional; Se o pai ou a mãe brasileira registrar o nascimento em uma repartição brasileira (Consulados e Embaixadas); Se o filho de brasileiro ou de brasileira vier a residir no território nacional e, a qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, optar pela nacionalidade brasileira. Como pode ser observado, nessas três situações não há aplicação do jus solis; somente do jus sanguinis (sempre deverá ser filho de brasileiro ou de brasileira) aliado a outros requisitos. brasileiros naturalizados Sobre a naturalização, a Constituição Federal apresenta duas grandes possibilidades e há também formas apresentadas pela Lei de Migração. NATURALIZAÇÃO EXTRAORDINÁRIA: A primeira forma de aquisição de nacionalidade derivada está disciplinada na alínea “b” do inciso II do Artigo 12 da Constituição Federal. Os requisitos dessa forma de naturalização são os seguintes: O estrangeiro poderá ter qualquer nacionalidade ou mesmo ser um apátrida; Deve comprovar sua residência ininterrupta no território nacional por, pelo menos, quinze anos; Não pode ter sofrido condenação penal nesse período; O interessado deverá requer a sua naturalização – razão pela qual essa forma é conhecida como naturalização potestativa. Ela é tratada no Artigo 67 da Lei de Migração. NATURALIZAÇÃO ORDINÁRIA: Nessa forma de naturalização, há duas possibilidades, ambas previstas na alínea “a” do inciso II do Artigo 12 da Constituição Federal. ORIGINÁRIOS DE PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA Para esses, a Constituição estabelece três requisitos: Residência ininterrupta no território nacional por um ano; Idoneidade moral; Requerimento de naturalização, pois é necessária a vontade do interessado para que a naturalização ocorra. ORIGINÁRIOS DE OUTROS PAÍSES Nesse caso, a Constituição Federal não estabelece os critérios para que a naturalização ocorra, devendo estes estar previstos na Lei, sendo que na Lei de Migração. OUTRAS NORMAS DE NATURALIZAÇÃO NA LEI DE MIGRAÇÃO Além das formas de naturalização expressamente apresentadas pela Constituição Federal, ou seja, a extraordinária e a ordinária, a Lei de Migração apresenta mais duas possibilidades: a naturalização especial e a naturalização provisória. naturalização especial A naturalização especial é concedida a estrangeiros que se enquadrem nas seguintes situações: Ser cônjuge ou companheiro, há mais de 5 anos, de integrante do Serviço Exterior Brasileiro em atividade ou de pessoa a serviço do Estado brasileiro no exterior; Ser ou ter sido empregado em Missão Diplomática ou em Repartição Consular do Brasil por mais de 10 anos ininterruptos. Seus requisitos são apresentados no Artigo69 da Lei de Migração. naturalização provisória É uma forma de naturalização que poderá ser concedida ao migrante criança ou adolescente que tenha fixado residência no território nacional antes de completar 10 anos de idade. Ela poderá ser convertida em naturalização definitiva se esse migrante fizer expressamente sua requisição no prazo de 2 anos após atingir a maioridade. A SITUAÇÃO DOS PORTUGUESES Em nosso sistema constitucional, os portugueses gozam de uma privilegiada situação, sendo que para eles há três formas distintas de tratamento: Eles podem, atendidos os requisitos estipulados na Lei de Migração, requerer a permanência no território nacional, sendo-lhes concedido o visto permanente; Eles podem requerer a naturalização extraordinária – se cumpridos os requisitos acima apontados; Eles podem requerer a naturalização ordinária para naturais de países de Língua Portuguesa. Além disso, somente para eles, há a chamada equiparação de direitos, prevista no § 1º do Artigo 12 da Constituição Federal. Os requisitos para essa equiparação são apenas três: O português deverá ter residência permanente no Brasil; A existência de reciprocidade de tratamento em relação aos brasileiros que residem permanentemente em Portugal; A equiparação de direitos deverá ser requerida pelo interessado. Para regular essa situação, está em vigor o Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta, entre a República Federativa do Brasil e a República Portuguesa, firmado em 22 de abril de 2000 – internalizado pelo Decreto n.º 3.927/013. Cumpridos esses requisitos, o português com equiparação de direitos continuará com a sua nacionalidade; contudo, terá os mesmos direitos de um brasileiro, salvo naquelas situações excepcionais em que a prática de certos atos ou o exercício de determinados direitos somente pode se dar por brasileiros natos. PERDA NA NACIONALIDADE BRASILEIRA A perda da nacionalidade brasileira somente ocorrerá em duas situações excepcionais, previstas na Constituição Federal, no § 4º do Artigo 12. No caso do brasileiro que perde a nacionalidade brasileira na forma estabelecida no inciso II do § 4º do Artigo 12 da Constituição Federal poderá ocorrer a reaquisição dessa nacionalidade. CANCELAMENTO DA NATURALIZAÇÃO BRASILEIRA Como se pode deduzir, essa situação somente se aplica para brasileiro naturalizado, desde que comprovado que ele praticou condutas contrárias aos interesses nacionais. Para a sua ocorrência, deve haver decisão judicial. AQUISIÇÃO VOLUNTÁRIA DE OUTRA NACIONALIDADE Essa hipótese é aplicável tanto para brasileiros natos como para naturalizados, e para a sua ocorrência exige que haja a voluntária aquisição de outra nacionalidade. Há, contudo, duas situações em que a aquisição de outra nacionalidade não acarreta a perda da nacionalidade brasileira: Reconhecimento de nacionalidade originária pela Lei estrangeira: é o que ocorre, por exemplo, com brasileiros filhos de italianos – para eles o reconhecimento da nacionalidade italiana não acarreta a perda da nacionalidade brasileira; Imposição da naturalização para que o brasileiro: Permaneça no território daquele país; Exerça algum direito civil, tal como o casamento. Essas situações acarretam que determinados brasileiros sejam, na verdade, polipátridas, pois conservam a nossa nacionalidade e adquirem, conjuntamente, outra. DIFERENCIAÇÃO ENTRE BRASILEIROS NATOS E NATURALIZADOS Nossa Constituição Federal estabeleceu a impossibilidade de diferenciação de direitos entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nas hipóteses excepcionais nela estabelecidas, não podendo a Legislação criar outras. FUNÇÕES PRIVATIVAS DE BRASILEIROS NATOS Na estrutura constitucional, há um órgão consultivo do Presidente da República denominado Conselho da República, que pode ser convocado para se manifestar em relação aos assuntos discriminados no Artigo 90 de nossa Lei Maior. A composição desse Conselho está descrita no Artigo 89 da Constituição, sendo que, entre outros, há seis brasileiros natos, escolhidos pelo Presidente da República, pelo Senado Federal e pela Câmara dos Deputados (cada qual escolhe dois desses membros). Para essa função, não se admite a participação de brasileiros naturalizados. PROPRIEDADE DE EMPRESAS DE COMUNICAÇÃO Como se pode ver, essas empresas somente podem pertencer a: Brasileiros natos; Brasileiros naturalizados há mais de dez anos; Pessoas jurídicas constituídas sob as Leis brasileiras e que tenham sede em nosso país. EXTRADIÇÃO A extradição é uma das formas de retirada forçada de alguém do território nacional, que apresenta os seguintes requisitos: Existência de pedido expresso de um Estado estrangeiro; Somente pode ocorrer para que o extraditando cumpra pena ou responda processo criminal no país que a solicita; O crime que a motiva deve ter ocorrido fora do território brasileiro. Na Lei de Migração, ela é definida da seguinte forma: A extradição somente é concedida pelo Presidente da República após decisão do Supremo Tribunal Federal, isto é, há a necessidade de uma decisão judicial para que ela ocorra. Segundo a nossa Constituição Federal (Incisos LI e LII do Artigo 5º), a extradição: É vedada para os brasileiros natos, não havendo qualquer exceção; É vedada para os brasileiros naturalizados, exceto em duas situações: Se o crime que a motivou ocorreu antes do processo de naturalização; Se o crime do qual o brasileiro naturalizado é acusado é o de tráfico de drogas; Para os estrangeiros, em regra, a extradição sempre é possível, bastando que sejam observados os requisitos estipulados na Lei de Migração (Artigo 83); contudo, ela não poderá ocorrer: Nos crimes políticos; Nos crimes de opinião. RETIRADA COMPULSÓRIA Além da extradição, há outras situações que podem acarretar a saída forçada de alguém do território nacional. A Lei de Migração as classifica como hipóteses de retirada compulsória, sendo elas a repatriação, a deportação e a expulsão. REPATRIAÇÃO DE ESTRANGEIROS Ela irá ocorrer nas hipóteses de impedimento de entrada de alguém no território nacional, previstas no Artigo 45 da Lei de Migração, tais como, na ausência de visto de entrada ou na falta de apresentação de documento de viagem válido. A repatriação consiste em medida administrativa de devolução de pessoa em situação de impedimento ao país de procedência ou de nacionalidade. DEPORTAÇÃO DE ESTRANGEIROS A deportação decorre da irregular estadia de um estrangeiro no território nacional. A deportação é medida decorrente de procedimento administrativo que consiste na retirada compulsória de pessoa que se encontre em situação migratória irregular em território nacional. Constatada a permanência irregular do estrangeiro em nosso território, ele será notificado para regularizar sua situação no prazo de 60 dias, que poderá ser prorrogado por igual período. Ele, então, poderá: ✓ Regularizar sua situação; ✓ Sair voluntariamente de nosso território. Não ocorrendo uma dessas providências, será feita sua deportação, após a conclusão do processo administrativo, garantindo-se seu direito ao contraditório e à ampla defesa, podendo recorrer de eventual decisão desfavorável. EXPULSÃO DE ESTRANGEIROS A extradição é a medida de cooperação internacional entre o Estado brasileiro e outro Estado pela qual se concede ou solicita a entrega de pessoa sobre quem recaia condenação criminal definitiva ou para fins de instrução de processo penal em curso A expulsão de estrangeiros é uma forma de retirada compulsória atrelada à prática de certoscrimes. No processo administrativo que deve preceder essa medida, deverá ser fixado o prazo de impedimento de reingresso no território nacional – que deve ser proporcional à pena do crime praticado e nunca superior ao dobro de seu tempo – § 4º do Artigo 54 da Lei de Migração. ENTRADA E ESTADA DE ESTRANGEIROS NO TERRITÓRIO NACIONAL A Lei de Migração estabelece a forma como deve ocorrer: A entrada do estrangeiro, migrante ou visitante no território nacional; As condições de estada do estrangeiro em nosso território. DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS E COLETIVAS DO ESTRANGEIRO EM NOSSO PAÍS O caput do Artigo 5º de nossa Constituição Federal assegura aos estrangeiros que se encontram em nosso território o pleno respeito a seus direitos e garantias. Dessa forma, por exemplo, esse Artigo da Constituição Federal, especificamente no inciso LXVIII, apresenta a garantia do habeas corpus para quem está ilegalmente preso ou está ameaçado de prisão ilegal. Esse direito pode ser exercido por qualquer brasileiro (nato ou naturalizado), bem como por qualquer estrangeiro que se encontre em nosso território.
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