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CAP.8 DIREITO DE FAMILIA

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CAPÍTULO 8 – DIREITO DE FAMÍLIA
8.1 CONCEITOS DE DIREITO DE FAMÍLIA E SEUS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
O direito de família pode ser conceituado como o ramo do direito civil que tem como conteúdo o estudo dos seguintes institutos: a) o casamento; b) a união estável; c) relações de parentesco; d) filiação; e) alimentos; f) bem de família; g) tutela, curatela e guarda. 
O direito de família contemporâneo pode ser divido em dois grandes livros, que consta do CC/02: direito existencial, centrado na pessoa humana (normas de ordem pública); e direito patrimonial, centrado no patrimônio (normas de ordem privada).
O Direito de família brasileiro passou por profundas alterações estruturais nos últimos anos, que podem ser sentidas pelo estudo dos seus princípios. 
8.1.1 Princípio da proteção da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF/1988)
Prevê o art. 1º, III, da CF/88 que o Estado Democrático de Direito brasileiro tem como fundamento a dignidade da pessoa humana. Trata-se do que se denomina princípio máximo, ou superprincípio, ou macroprincípio, ou princípio dos princípios.
Não há ramo do direito privado em que a dignidade da pessoa humana tem maior ingerência ou atuação do que o direito de família. 
É difícil a conceituação exata do que seja o princípio da dignidade da pessoa humana, por tratar-se de uma cláusula geral, de um conceito legal indeterminado, com variantes de interpretações. A dignidade humana deve ser analisada a partir da realidade do seu humano em seu contexto social. 
Ilustrando, pela vivencia nacional, o direito à casa própria parece ter relação direta com a proteção da pessoa humana, o que gerou entendimento consolidado no STJ no sentido de que o imóvel em que reside a pessoa solteira, separada ou viúva constitui bem de família, sendo impenhorável. Ampara-se, dessa forma, a própria dignidade humana, e o direito constitucional à moradia, direito social e fundamental.
Outro exemplo de incidência da dignidade humana nas relações familiares é a tese do abandono paterno-filial ou abandono afetivo (teoria do desamor), suporte para a condenação de pais a pagaram indenização aos filhos, pelo abandono afetivo, por clara lesão à dignidade humana. Contudo, o tema é controvertido, tendo o STJ afastado essa possibilidade em um julgamento em 2005 (REsp 757/411 MG), por entender que o pai não está obrigado a conviver com o filho, não havendo ato ilícito no caso.
Na opinião deste autor, é perfeitamente possível a indenização, eis que o pai tem o dever de gerir a educação do filho.
8.1.2 Princípio da solidariedade familiar (art. 3º, I, da CF/98)
A solidariedade social é reconhecida como objetivo fundamental da República Federativa do Brasil pelo art. 3º, I, da CF/88, no sentido de construir uma sociedade livre, justa e solidária. Esse princípio acaba repercutindo nas relações familiares, eis que a solidariedade deve existir nesses relacionamentos pessoais.
Ser solidário significa responder pelo outro. Quer dizer, ainda, preocupar-se com a outra pessoa. A solidariedade familiar deve ser tida em sentido amplo, tendo caráter afetivo, social, moral, patrimonial, espiritual e sexual. 
No que concerne à solidariedade patrimonial, essa foi incrementada pelo CC/02, pois mesmo o cônjuge culpado pelo fim do relacionamento pode pleitear os alimentos necessários.
8.1.3 Princípio da igualdade entre filhos (art. 227, §6º, da CF/88 e art. 1596 do CC)
Determina o art. 227, §6º da CF que “os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação”. O art. 1596 tem a mesma redação, consagrando ambos os dispositivos o princípio da igualdade entre filhos.
Esses comandos regulamentam especificamente na ordem familiar a isonomia constitucional, ou igualdade em sentido amplo. Juridicamente, todos os filhos são iguais perante a lei, havidos ou não durante o casamento.
8.1.4 Princípio da igualdade entre cônjuges e companheiros (art. 226, §5º da CF/88, e art. 1511 do CC)
Como outra forma de especialização da isonomia constitucional, a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere à sociedade conjugal ou convencional formada pelo casamento ou pela união estável. Enuncia o art. 1511 do CC/02 que “o casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges”. Por obvio, essa igualdade também deve estar presente na união estável.
Diante do reconhecimento dessa igualdade, como exemplo prático, o marido ou companheiro pode pleitear alimentos da mulher ou companheira, ou mesmo vice-versa. Além disso, um pode utilizar o nome do outro, livremente, conforma convenção das partes.
Como outra decorrência do princípio da igualdade dentre cônjuges e companheiros, surge a igualdade na chefia familiar, que pode ser exercida tanto pelo homem quanto pela mulher em regime democrático de colaboração, podendo inclusive os filhos opinar. Substitui-se uma hierarquia por uma diarquia, havendo uma despatriarcalização do direito de família, eis que a figura paterna não exerce o poder de dominação do passado.
No CC/02, a igualdade de chefia pode ser notada pelo art. 1631, ao enunciar que durante o casamento ou união estável compete o poder familiar aos pais. Somente na falta ou impedimento de um deles, o outro exercerá esse poder com exclusividade.
8.1.5 Princípio da não intervenção ou da liberdade (art. 1513 do CC)
É defeso a qualquer pessoa de direito público ou privado interferir na comunhão da vida instituída pela família. Trata-se da consagração do princípio da liberdade ou não intervenção. O princípio é reforçado pelo art. 1565, §2º, pelo qual o planejamento familiar é de livre decisão do casal, sendo vedada qualquer forma de coerção por parte de instituições privadas ou públicas em relação a esse direito.
O princípio em questão mantém relação direta com o princípio da autonomia privada, que não existe apenas em sede contratual, mas também na ótica familiar. Quando se escolhe, na escalada do afeto, com quem ficar, com quem namorar, com quem noivar, com quem ter uma união estável ou com que casar, está-se falando em autonomia privada.
O real sentido do art. 1513 é que o Estado ou mesmo um ente privado não pode intervir coativamente nas relações familiares. Porém, o Estado poderá incentivar o controle da natalidade e o planejamento familiar por meio de políticas públicas. A CF/88 consagra a paternidade responsável e o planejamento familiar. Ademais, o Estado deve assegurar assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.
Esse princípio deve ser lido e ponderado perante outros princípios, como no caso do princípio do melhor interesse da criança e do adolescente.
8.1.6 Princípio do maior interesse da criança e do adolescente (art. 227, caput, da CF/88 , e arts. 1583 e 1584 do CC)
Enuncia o art. 227, caput, da CF, com redação dada pela EC 65/10 que “é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”. 
Essa proteção é regulamentada pelo ECA, que considera criança a pessoa com idade entre 0 e 12 anos incompletos, e adolescente aquele que tem entre 12 e 28 anos de idade.
Em reforço, o art. 3º do próprio ECA determina que a criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral. Na ótica civil, essa proteção integral pode ser percebida pelo princípio do melhor interesse da criança. 
O CC/02, nos seus arts. 1583 e 1584, acaba por reconhecer tal princípio, ao regular a guarda durante o poder familiar. Esses dispositivos foram substancialmente alterados pela lei 11698/08,que passou a determinar como regra a guarda compartilhada. Ampliou-se o sistema de proteção anterior, visando atender ao melhor interesse da criança e do adolescente na fixação da guarda.
8.1.7 Princípio da afetividade
O afeto talvez seja apontado, atualmente, como o principal fundamento das relações familiares, decorrendo da valorização constante da dignidade humana e da solidariedade.
O vínculo familiar constitui mais um vínculo de afeto do que um vínculo biológico. Assim, surge uma norma forma de parentesco civil, a parentalidade socioafetiva, baseada na posse de estado de filho. A paternidade em si mesma não é um fato da natureza, mas um fato cultural. Embora a coabitação sexual, da qual pode resultar gravidez, seja fonte de responsabilidade civil, a paternidade, enquanto tal, só nasce de uma decisão espontânea. A paternidade reside antes do serviço e no amor que na procriação. (João Baptista Villea).
Assim, se um marido reconhece como seu o filho de uma mulher, estabelecendo um vínculo afetivo por anos a fio, não poderá, depois de aperfeiçoada a socioafetividade, quebrar esse vínculo. 
A defesa da aplicação na parentalidade socioafetiva é muito comum entre os doutrinadores de direito de família, havendo diversos Enunciados defendem a sua existência.
Na jurisprudência, a adoção da parentalidade socioafetiva vem encontrando um crescente de decisões, o que inclui a jurisprudência do STJ.
8.1.8 Princípio da função social da família (art. 226, caput, da CF/88)
O art. 226, caput da CF dispõe que a família é a base da sociedade, tendo especial proteção do Estado. Desse modo, as relações familiares devem ser analisadas dentro do contexto social e diante das diferenças regionais de cada localidade. A socialidade deve ser aplicada aos institutos de direito de família, assim como ocorre com outros ramos do direito civil. Não reconhecer a função social à família é como não reconhecer função social à própria sociedade.
8.2 CONCEPÇÃO CONSTITUCIONAL DA FAMÍLIA
De acordo com o art. 226 da CD, pode-se dizer que a família é decorrente dos seguintes institutos:
a) Casamento civil.
b) União estável entre homem e mulher.
c) Família monoparental, comunidade formada por qualquer dois pais e seus descendentes.
Tem prevalecido, na doutrina e na jurisprudência, o entendimento pelo qual o rol constitucional familiar é exemplificativo e não taxativo. Assim sendo, são admitidas outras manifestações familiares, caso das categorias a seguir:
d) Família anaparental – que quer dizer família sem pais. O STJ já entende que imóvel em que residem duas irmãs solteiras constitui bem de família, pelo fato delas formarem uma família.
e) Família homoafetiva, constituída por pessoas do mesmo sexo. Na atualidade, a tendência doutrinaria e jurisprudencial é o seu reconhecimento como entidade familiar, tese que já prosperou no STJ.
f) Família mosaico ou pluriparental – decorrente de vários casamentos, uniões estáveis ou mesmo simples relacionamentos afetivos de seus membros. 
Leis recentes trazem conceitos amplificados de família, havendo séria dúvida se tais construções devem ser utilizadas apenas nos limites das próprias legislações ou para todos os efeitos jurídicos:
- Lei Maria da Penha – dispõe que se deve entender como família a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa.
- Nova Lei de Adoção – consagra o conceito de família extensa ou ampliada, como aquela que se estende para além da unidade de pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade. 
As novas categorias legais valorizam o afeto, a interação existente entre pessoas no âmbito familiar. A tendência é que tais construções sejam utilizadas em todos os âmbitos, em um sentido de complementaridade com as outras leis.
8.3 DO CASAMENTO (ARTS. 1511 A 1590 DO CC)
8.3.1 Conceito, natureza jurídica e princípios 
Trata-se da união de pessoas de sexos distintos, reconhecida e regulamentada pelo Estado, formada com o objetivo de constituição de uma família e baseada em um vínculo de afeto.
Três são as correntes que procuram apontar a natureza jurídica do casamento:
- Teoria institucionalista – para quem o casamento é uma instituição.
- Teoria contratualista – o casamento é um contrato de natureza especial e com regras próprias de formação.
- Teoria mista ou eclética – o casamento é uma instituição quanto ao conteúdo e um contrato especial quando à formação.
Filia-se a terceira corrente. Não se pode admitir que haja no casamento um contrato puro, pois, como visto, a ideia de contrato que ainda prevalece o relaciona a um conteúdo patrimonial. Como é cediço, não há no casamento a busca da patrimonialidade, mas, muito mais do que isso, de uma comunhão plena de vida.
Por isso, é mais pertinente afirmar que o casamento constitui um negócio jurídico especial, com regras próprias de constituição e princípios específicos:
- Princípio da monogamia – não podem casar as pessoas casadas, o que constitui um impedimento matrimonial a gerar a nulidade absoluta do casamento (art. 1521, VI).
- Princípio da liberdade de escolha, como exercício da autonomia privada – salvo os impedimentos matrimoniais, há livre escolha da pessoa do cônjuge como manifestação da liberdade individual (art. 1513).
- Princípio da comunhão plena de vida, regido pela igualdade entre os cônjuges – o casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges (art. 1511).
Sendo negócio jurídico, é possível e viável judicialmente aplicar ao casamento as regras referentes à teoria geral do negócio jurídico, previstas na parte geral do CC/02, desde que não existe regra específica no seu tratamento da parte especial.
8.3.2 Capacidade para o casamento, impedimentos matrimoniais e causas suspensivas do casamento
Não se pode confundir a incapacidade para o casamento com os impedimentos matrimonias. A incapacidade é geral, impedindo que a pessoa se casa com qualquer um que seja. Já os impedimentos matrimoniais atingem determinadas pessoas, em situações específicas, envolvendo legitimação.
O CC/02 não traz um rol específico a respeito das pessoas capazes, ou incapazes, de casar, tratando apenas da idade mínima para casar (Art. 1517). Como não há regras específicas a respeito da capacidade para o casamento, é preciso socorrer-se à parte geral do CC/02, em complemento ao que consta ao seu art. 1517. Assim sendo, não incapazes para o casamento:
- Os menores que ainda não atingiram a idade núbil, que é de 16 anos (art. 1517).
- Os enfermos e doentes mentais sem discernimento para a prática dos atos da vida civil (art. 3º, II).
- As pessoas que por causa transitória ou definitiva não puderem exprimir vontade (art. 3º, III).
O homem e a mulher em idade núbil, com 16 anos completos, podem casar, exigindo-se autorização da ambos os pais, ou de seus representantes legais, enquanto não atingida a maioridade civil (18 anos). Havendo divergência entre os pais, a questão será levada ao juiz, que decidirá de acordo com o caso concreto.
A autorização especial para o casamento pode ser revogada pelos pais, tutores ou curadores até a celebração do casamento (art. 1518). Se a denegação do consentimento for injusta, esta pode ser suprida pelo juiz (art. 1519). Havendo a necessidade desse suprimento, o casamento será celebrado pelo regime da separação obrigatória de bens (art. 1641, III). 
Determina o art. 1520 que “excepcionalmente, será permitido o casamento de quem ainda não alcançou a idade núbil para evitar imposição ou cumprimento de pena criminal ou em casos de gravidez”.
Com a entrada em vigor da Lei 11106/05, que afastou a extinção da punibilidade nos casos de estupro presumido, ou seja, nas hipóteses de alguém manter relação sexual com uma criança ou adolescente com idade inferior a 14 anos e depois se casar com ela, muitos doutrinadores passaram a entender que o art. 1520 estaria revogado na parteque tratava da extinção da pena criminal.
Com a entrada em vigor da lei 12015/09 determinou-se que é impossível o casamento da menor com aquele que cometeu o crime, pois foi introduzido o tipo de estupro de vulnerável, sendo a ação penal pública incondicionada, não podendo o casamento funcionar como forma de perdão tácito do crime, conforme era outrora defendido.
A codificação civil trata apenas de uma espécie de impedimento e não mais de impedimentos absolutos, relativos e impedientes (que existiam sob a égide do CC/16):
	CC/16
	CC/02
	Impedimentos dirimentes públicos ou absolutos – gerava o casamento nulo.
	Impedimentos matrimoniais – art. 1521 – casamento nulo.
	Impedimentos dirimentes privados ou relativos – gerava o casamento anulável.
	Causas de anulabilidade – art. 1550 – casamento anulável.
	Impedimentos impedientes – gerava o casamento irregular.
	Causas suspensivas – art. 1523 – apenas impõem sanções aos cônjuges.
a) Impedimentos matrimonias (art. 1521) 
O art. 1521 traz um rol taxativo de pessoas que não podem casar, em situações que envolvem a ordem pública. são elas:
- Os ascendentes com os descentes até o infinito (impedimento decorrente de parentesco consangüíneo) – duas são as razoes do impedimento: 1) razão moral – evita o incesto; 2) razão biológica – evitar problemas congênitos à prole, comuns em casos tais.
- Os colaterais até terceiro grau, inclusive (impedimento decorrente de parentesco consangüíneo), pelas mesmas razoes acima. Segundo entendimento majoritário, continua em vigor o decreto-lei 3200/41, que autoriza o casamento entre tios e sobrinhos se uma junta médica apontar que não há risco biológico. Esse casamento é denominado avuncular.
- Os afins em linha reta (impedimento decorrente de parentesco por afinidade) – há parentesco por afinidade entre um cônjuge(ou companheiro) e os parentes do outro consorte (ou convivente). Os cunhados podem se casar, depois de terminado o casamento, pois são parentes afins colaterais. O CC/02 inovou ao reconhecer a afinidade em decorrência da união estável. O vínculo por afinidade na linha reta é perpetuo, sendo mantido mesmo nos casos de dissolução do casamento ou da união estável. 
- O adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante; os ascendentes e descendentes em casos envolvendo adoção; o adotado com o filho do adotante (impedimentos em decorrência do parentesco civil formado pela adoção) – por ausência de previsão legal, o adotado pode ser casar com a Irma do adotante, pois esta seria como se sua tia fosse. Não há esse impedimento na família natural se uma junta médica afastar os problemas congênitos à prole.
- As pessoas casadas (impedimento decorrente de vínculo matrimonial) – o CC consagra o princípio da monogamia. A hipótese pare ser de incapacidade matrimonial, pois a pessoa casada não pode contrair matrimonio com qualquer que seja.
- O cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte (impedimento decorrente de crime) – somente nos casos de crime doloso e havendo trânsito em julgado da sentença penal condenatória. Se o casamento ocorre no curso do processo criminal, será reputado válido. O casamento permanece válido, mesmo no caso de sentença penal transitada em julgado superveniente.
Os impedimentos matrimoniais impossibilitam a celebração do casamento mediante procedimento administrativo que corre perante o Cartório de Registro das Pessoas Naturais. A sua oposição poderá ocorrer até o momento da celebração, por qualquer pessoa capaz (art. 1522). Caso o oficial do registro ou qualquer juiz tenha conhecimento do impedimento, deverá reconhecê-lo de ofício. Caso o casamento seja celebrado, será ele nulo de pleno direito, havendo nulidade absoluta (art. 1548, II). 
b) Causas suspensivas do casamento (art. 1523 do CC)
São situações de menor gravidade, relacionadas a questões patrimoniais e de ordem privada. Não geram a nulidade absoluta ou relativa do casamento, mas apenas impõem sanções patrimoniais aos cônjuges. A sanção principal é o regime da separação legal ou obrigatória de bens (art. 1641, I). O art. 1523 faz uma recomendação, prevendo que não devem casar:
- Viúvo ou viúva que tiver filho do cônjuge falecido enquanto não fizer o inventario dos bens do casal com a respectiva partilha, para evitar confusão patrimonial – essa causa suspensiva gera também uma segunda sanção, qual seja, a imposição de uma hipoteca legal a favor dos filhos sobre os bens imóveis dos pais que passarem a outras núpcias. Se o filho for apenas do cônjuge falecido não se impõe a causa suspensiva ao cônjuge sobrevivente. O mesmo ocorre se o filho for apenas daquele que pretende se casar.
- Viúva ou mulher cujo casamento se desfez por nulidade absoluta ou relativa até 10 meses depois do começo da viuvez ou da dissolução conjugal – para evitar confusões sobre a paternidade do filho que nascer nesse espaço temporal.
- O divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do casal, o que também visa a evitar confusões quanto ao patrimônio.
- Tutor e curador e seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não cessada a tutela ou curatela, ou não estiverem soldadas as respectivas contas prestadas.
Em todos os casos, enuncia o §ú, que desaparece a causa suspensiva se for provada a ausência de prejuízo aos envolvidos. 
A respeito da argüição das causas suspensivas, essa somente pode ser realizada por parentes em linha reta de um dos cônjuges, consangüíneos ou afins e pelos colaterais em segundo grau, consangüíneos ou afins (art. 1524). Não podem ser conhecidas de ofício por eventual juiz ou pelo oficial do registro civil.
Desaparecendo o motivo de imposição da causa suspensiva, justifica-se a ação de alteração de regime de bens, a ser proposto por ambos os cônjuges (art. 1639, §2º). Nesse sentido, enunciado 262: “A obrigatoriedade da separação de bens, nas hipóteses previstas nos incs. I e III do art. 1641 do CC, não impede a alteração do regime, desde que superada a causa que o impôs”.
8.3.3 Do processo de habilitação e da celebração do casamento. Modalidades especiais de casamento quanto à sua celebração
O casamento é um negócio jurídico formal e solene, relacionado com um procedimento de habilitação prévio cheio de detalhes e solenidades. Do mesmo modo, em relação à celebração, a norma jurídica impõe uma série de requisitos. 
O art. 1525 prevê que o requerimento de habilitação para o casamento será firmado por ambos os nubentes, de próprio punho, ou, a seu pedido, por procurador, instruído com os seguintes documentos: a) certidão de nascimento ou documento equivalente; b) autorização, por escrito, das pessoas sob cuja dependência legal estiverem, ou ato judicial que a supra; c) declaração de duas testemunhas maiores, parentes ou não, que atestem conhecê-los e afirmem não existir impedimento que os iniba de casar; d) declaração do estado civil, domicilio, e residência atual dos contraentes e de seus pais, se forem conhecidos; e) certidão do óbito do cônjuge falecido, de sentença declaratória de nulidade ou de anulação de casamento, transitada em julgado, ou do registro da sentença de divórcio.
Esse processo de habilitação seria realizado perante o oficial do Registro Civil e, após a audiência do MP, seria homologado pelo juiz (art. 1526). Mas a norma foi recentemente alterada pela lei 12.133/09, dispensando-se, em regra, a atuação do juiz para tal habilitação, que somente será necessária para os casamentos que forem impugnados.
Estando a documentação em ordem, o oficial extrairá o edital, que se afixará durante 15 dias nas circunscrições do Registro Civil de ambos os nubentes, e, obrigatoriamente, se publicará na imprensa local, se houver (art. 1527). Trata-se da publicação dos proclamas do casamento, formalidade considerada em regra como essencial, mas que poderá ser dispensada pela autoridade competente pela homologação do casamento em casos de urgência (§ú).
O oficial do RegistroCivil tem o dever de esclarecer os nubentes a respeito dos fatos que podem ocasionar a invalidade do casamento, bem como sobre os diversos regimes de bens (art. 1528), sob pena de responsabilização civil.
Tanto os impedimentos quanto as causas suspensivas serão opostos em declaração escrita e assinada, instruída com as provas do fato alegado, ou com a indicação do lugar onde possam ser obtidas (art. 1529). Opostos esses, o oficial do registro dará aos nubentes ou a seus representantes nota da oposição, indicando os fundamentos, as provas e o nome de quem a ofereceu (art. 1530). Apresentado o impedimento, o oficial dará ciência do fato aos nubentes, para que indiquem, em três dias, prova que pretendam produzir, remetendo os autos a juízo (art. 67, §5º, Lei 6015/73). Produzidas as provas pelo oponente e pelos nubentes no prazo de 10 dias, e ouvidos os interessados e o MP em 5 dias, decidirá o juiz em igual prazo.
Cumpridas a formalidades previstas em lei e verificada a inexistência de fato obstativo, o oficial do registro extrairá o certificado de habilitação (art. 1531), que terá eficácia de 90 dias, contados de quanto for extraído (art. 1532).
Relativamente à celebração do casamento, este ocorrerá no dia, hora e lugar previamente designados pela autoridade (juiz de paz) que houver de presidir o ato, mediante petição dos contraentes, que se mostrem habilitados com a certidão de habilitação (art. 1533).
O ato solene relativo ao casamento será realizado na sede do cartório, com toda publicidade, a portar abertas, presentes pelo menos duas testemunhas, parentes ou não dos contraentes. Se as partes quiserem, e consentindo a autoridade celebrante, o casamento poderá ser celebrado em outro edifício, público ou particular (art. 1534), também a portas abertas (§1º). O número de testemunhas aumenta para quatro, o que igualmente se aplica de algum dos contraentes não souber ou não puder escrever (§2º).
O presidente do ato, após ouvir dos nubentes a afirmação de que pretendem casar por livre e espontânea vontade, declarará efetuado o casamento, nos termos do art. 1535. Entende-se que são possíveis variações na forma de expressão, desde que não prejudique a sua essência.
Após a celebração do casamento, será lavrado o assento no livro de registro, que deverá conter os requisitos do art. 1536. Nos casos de autorização para casar, o seu instrumento será transcrito integralmente na escritura antenupcial (art. 1537).
Em relação ao momento de aperfeiçoamento do ato, enuncia o art. 1514 que o casamento se realiza no momento em que o homem e a mulher manifestam, perante o juiz a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal, e o juiz os declara casados. O registro do ato está no plano de eficácia do casamento.
A celebração do casamento será imediatamente suspensa se algum dos contraentes (art. 1538): a) recusar a solene afirmação de vontade; b) declarar que esta não é livre e espontânea; c) manifestar-se arrependido. O nubente que der causa à suspensão do ato não poderá retratar-se no mesmo dia (§ú). Essa regra será aplicada mesmo se a manifestação tiver sido feita em tom jocoso ou de brincadeira.
8.3.3.1 Casamento em caso de moléstia grave (art. 1539 do CC)
Se um dos nubentes estiver acometido por moléstia grave, o presidente do ato celebrará o casamento onde se encontrar a pessoa impedida, e sendo urgente ainda que à noite, perante duas testemunhas que saibam ler e escrever. Segundo a jurisprudência, a urgência dispensa o processo de habilitação anterior. 
Eventual falta ou impedimento da autoridade competente para presidir o casamento será suprida por qualquer dos seus substitutos legais, e a do oficial do registro civil por outro ad hoc, nomeado pelo presidente do ato (§º).
Se estiver presente eventual simulação, o ato deve ser considerado nulo (art. 167).
8.3.3.2 Casamento nuncupativo (em viva voz) ou in extremis vitae momentis, ou in articulo mortis (art. 1540 do CC)
Quando algum dos contraentes estiver em iminente risco de vida, não obtendo a presença da autoridade à qual incumba presidir o ato, nem a de seu substituto, poderá o casamento ser celebrado na presença de seis testemunhas, que com os nubentes não tenham parentesco em linha reta, ou, na colateral, até segundo grau. Não ha a presença da autoridade celebrante.
Esse casamento não prevalecerá se decorrer de simulação absoluta, o que gera a sua nulidade.
Realizado esse casamento, devem as testemunhas comparecer perante a autoridade judicial mais próximo, dentro de 10 dias, pedindo que lhes tome por temo a declaração: a) que foram convocadas por parte do enfermo; b) que esta parecia em perigo de vida, mas em seu juízo; c) que, em sua presença, declararam os contraentes, livre e espontaneamente, receber-se por marido e mulher. Instaura-se um procedimento de jurisdição voluntária, no qual deve intervir o MP.
Verificada a idoneidade dos cônjuges para o ato, o casamento será tido como válido e assim o decidirá a autoridade competente, com recurso válido às partes (art.1541). Se da decisão ninguém tiver recorrido, ou se ela passar em julgado, apesar dos recursos interpostos, o juiz mandará registrá-la no livro do Registro dos Casamentos (§3º). O assento assim lavrado retrotrairá os efeitos do casamento, quando ao estado dos cônjuges e à data de celebração (§4º).
Serão dispensadas tais formalidades se o enfermo convalescer e puder ratificar o casamento da presença da autoridade competente e do oficial de registro (§5º).
Não sendo respeitados os requisitos constantes desses dispositivos, o casamento deve ser tido como ineficaz, não gerando efeitos. Também é possível concluir pela sua nulidade, por desrespeito à forma e às solenidades (art. 166, IV e V).
8.3.3.3 Casamento por procuração (art. 1542 do CC)
O casamento poderá ser celebrado por procuração, desde que haja instrumento público com poderes especiais para tanto. A eficácia do mandato não ultrapassará 90 dias da sua celebração (§3º).
Se o mandante quiser revogar o mandato, a revogação não necessita chegar ao conhecimento do mandatário (§1º). Somente é possível revogar o mandato para casamento por meio de instrumento público (§4º).
Celebrado o casamento sem que o mandatário ou o outro contraente tivessem ciência da revogação anterior, responderá o mandante por perdas e danos perante o eventual prejudicado, caso do outro nubente. 
Nada impede que o nubente que não esteja em iminente risco de vida seja representado nesse casamento nuncupativo (§2º).
8.3.3.4 Casamento religiosa com efeitos civis (art. 1515 e 1516 do CC)
Para ter efeitos civis, o casamento pode ser celebrado perante qualquer religião, uma vez que o Estado brasileiro é laico e pluralista. Assim, prevê o art. 1515 que o casamento religioso, que atender às exigências da lei para a validade do casamento civil, equipara-se a este, desde que registrado no registro próprio, produzindo efeitos a partir da data da sua celebração. 
Duas são as situações possíveis de casamento religioso com efeitos civis, nos termos do art. 1516:
- Casamento religioso precedido por processo de habilitação – o ato deve ser registrado no prazo decadencial de 90 dias, contados de sua realização, mediante comunicação do celebrante ao ofício competente, ou por iniciativa de qualquer interessado. Após o referido prazo, o registro dependerá de nova habilitação.
- Casamento religioso não precedido por processo de habilitação – terá efeitos civis se, a requerimento do casal, for registrado, a qualquer tempo, no registro civil, mediante prévia habilitação perante a autoridade competente., respeitado o prazo de 90 dias, contados de quanto foi extraído o certificado para a eficácia dessa habilitação.
8.3.4 Da invalidade do casamento
8.3.4.1 Esclarecimentos necessários
O legislador civil fez a opção de não tratar da inexistência dos atos, mas apenas da nulidade absoluta e da relativa, o que não foi diferente em relação ao casamento, eis que a lei apenas enuncia hipóteses do casamento nulo e do casamento anulável.
Porém, como a teoria da inexistência goza de prestigio entre os civilistas,é preciso estudá-la.
8.3.4.2 Do casamento inexistente
a) Casamento entre pessoas do mesmo sexo
Hipóteses em que há um casamento celebrado entre dois homens, um deles travestido de mulher, e fraude no registro. 
A situação do transexual que fez a cirurgia sexual e alterou o nome o sexo no registro civil merece análise à parte, tendo a jurisprudência consolidado o entendimento de transmudação registral do sexto em casos tais. Sendo assim, é perfeitamente possível que a pessoa que alterou o sexto se case com outra, do sexto oposto. Todavia, conclui-se que se o transexual não revelar sua situação anterior ao cônjuge, caberá eventual ação de anulação do casamento por erro essencial quanto à pessoa.
b) Ausência de vontade
Não havendo vontade do nubente, o casamento é considerado inexistente, eis que essa é o elemento mínimo essencial para o ato. Ex: casos envolvendo coação física ou vis absoluta, que retira totalmente a vontade.
c) Casamento celebrado por autoridade totalmente incompetente (incompetência ratione materiae)
Como exemplos são citados os casamentos celebrados por juiz de direito, por promotor de justiça, por delegado de policia por uma autoridade local.
O CC/02 não traz qualquer regulamentação para a ação correspondente, o que em regra não é necessário, pois o ato inexistente é um nada para o direito. Todavia, em algumas situações será necessária ação especifica para afastar efeitos deste ato que não existe.
Para essa ação aplicam-se as mesmas regras previstas para a ação de nulidade absoluta, tais como a inexistência de prazos para sua declaração, a possibilidade de propositura pelo MP e efeitos retroativos da sentença. Tem-se reconhecido na jurisprudência que a inexistência do casamento pode ser conhecida de ofício pelo juiz.
8.3.4.3 Do casamento nulo
O art. 1548 do CC consagra as hipóteses de nulidade absoluta do casamento:
a) Casamento contraído por enfermo mental sem o necessário discernimento para a prática dos atos da vida civil
É a mesma constante do art. 3º, II, do CC. Não exige o processo de interdição prévio para o casamento ser considerado nulo.
O enunciado 332 deu interpretação restritiva ao dispositivo, não admitindo a nulidade absoluta do casamento das pessoas descritas no art. 3º, III, do CC.
b) Casamento celebrado com infringência a impedimento matrimonial 
São os impedimentos constantes do art. 1521 (decorrentes de parentesco consangüíneo, por afinidade, de vínculo matrimonial e de crime).
Efeitos e procedimentos da ação declaratória de nulidade do casamento:
• A ação declaratória é imprescritível, eis que a nulidade não convalesce pelo decurso do tempo.
• A decretação de nulidade pode ser promovida mediante ação direta, por qualquer interessado, ou mesmo pelo MP (art. 1549).
• Diante do princípio da não intervenção, a nulidade do casamento não pode ser reconhecida de ofício, mas apenas o impedimento matrimonial (art. 1522).
• Poderá ser precedida de medida cautelar de separação de corpos, devendo o juiz conceder a liminar com maior brevidade possível se for constatada a sua necessidade (art. 1562). 
• Os efeitos da sentença da ação declaratória da nulidade são retroativos à celebração do casamento (art. 1563). Essa sentença com efeitos retroativos não poderá prejudicar a aquisição de direitos, a título oneroso, por terceiros de boa-fé, nem resultante de sentença transitada em julgado. Com essa proteção, a boa-fé objetiva, no que tange ao Direito de Família, é elevado ao posto de preceito de ordem pública. primeiro por estar ao lado da coisa julgada. Segundo porque consegue vencer o ato nulo.
8.3.4.4 Do casamento anulável 
são hipóteses previstas no art. 1550:
a) Casamento contraído por quem não completou a idade mínima para casar (16 anos)
O menor que tiver menos idade do que o limite mínimo para casar necessitará de autorização judicial. Sendo celebrado o casamento sem a referida autorização, o ato será considerado anulável. 
O prazo para a ação anulatória é decadencial de 180 dias, podendo ser proposta pelo próprio menor, por seus representantes legais ou por seus ascendentes (art. 1552).
Se a ação for proposta pelo próprio menor, devidamente representado, o prazo será contado a partir do momento em que completar a idade núbil (16 anos. Já se for proposta pelo representante legal ou ascendentes, o prazo será contado a partir do momento em que o casamento for celebrado (art. 1560).
Eventualmente, o casamento pode ser convalidado em duas hipóteses:
1ª - Se dele resultou gravidez, não sendo necessária sequer a autorização do seu representante (art. 1551);
2ª - O menor poderá, depois de completar a idade núbil, confirmar o seu casamento, com a autorização de seus representantes legais, se necessária, ou com suprimento judicial (art. 1553).
b) Casamento contraído por menor em idade núbil (entre 16 e 18 anos), não havendo autorização do seu representante legal
O menor entre 16 e 18 anos não necessita de autorização judicial para se casar, mas de autorização especial de seus pais ou outros representantes, casos dos tutores (art. 1517).
O prazo para a propositura da ação anulatória é decadencial de 180 dias, com as seguintes regras de contagem: se for proposta pelo menor, o prazo será contado a partir do momento em que completar 18 anos. Se for proposta pelo representante legal, será contado a partir da celebração do casamento. Se for proposta por herdeiro necessário, será contada da data do óbito do menor.
Não se anulará esse casamento quando à sua celebração tiverem assistindo – no sentido de presenciado – os representantes legais do menor, ou se esses representantes tiverem manifestado sua aprovação (art. 1555, §2º).
c) Casamento celebrado sob coação moral (vis compulsiva)
É anulável o casamento quando o consentimento de um ou de ambos os cônjuges houver sido captado mediante fundado temor de mal considerável e iminente para a vida, a saúde e a honra, sua ou de seus familiares (art. 1558). 
O prazo para anular é decadencial de 4 anos, contados da sua celebração (art. 1560, IV). A ação anulatória é personalíssima e somente poderá ser proposta pelo cônjuge que sofre a coação. O ato poderá ser convalidado, havendo posterior coabitação entre os cônjuges e ciência do vício, pelo tempo que o juiz entender razoável (art. 1559).
d) Casamento celebrado havendo erro essencial quanto à pessoa do outro cônjuge (error in persona)
O art. 1557 traz um rol de situações caracterizadoras do erro:
Inciso I – No que diz respeito à identidade, honra e boa fama do outro cônjuge, sendo esta uma informação de conhecimento ulterior pelo nubente e que torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado.
Inciso II – A ignorância de crime anterior ao casamento e que por sua natureza torne insuportável a vida conjugal. Não há necessidade do trânsito em julgado da sentença, bastando a repercussão social do crime e a insuportabilidade da vida em comum
Inciso III – A ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável ou de moléstia grave e transmissível, pelo contágio ou pela herança, capaz de por em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência. A impotência generandi ou concipiendi (para ter filhos) não gera a anulabilidade do casamento. Em todos os casos, há presunção absoluta de insuportabilidade da vida em comum.
Inciso IV – A ignorância, anterior ao casamento, de doença mental grave que, por sua natureza, torne insuportável a vida em comum. Não há necessidade de a pessoa estar interditada.
A lei não consagra mais como hipóteses de erro quanto à pessoa o defloramento da mulher, ignorado pelo marido.
O prazo decadencial para a ação anulatória é de três anos, contados da celebração do casamento (art. 1560, III). Essa ação somente cabe ao cônjuge que incidiu em erro, sendo uma ação personalíssima.
A coabitação posterior, havendo ciência do vício, convalida o casamento, salvo nas hipóteses dos incisos III e IV do art. 1557, pois são situações de extrema gravidade.
e) Do incapaz de consentir e de manifestar de forma inequívoca a sua vontade
Engloba os ébrios habituais,os viciados em tóxicos, as pessoas com discernimento mental reduzido e os excepcionais sem desenvolvimento completo (art. 4º, II e III).
Segundo o entendimento majoritário, nessa previsão também se enquadram as pessoas que por causa transitória ou definitiva não puderem exprimir vontade (art. 3º, III), posicionamento que chegou a ser adotado pelo STJ.
Este autor não concorda com o último posicionamento, pois em casos tais o casamento deveria ser considerado nulo, por equiparação ao que consta do art. 3º, II do CC.
O prazo decadencial para a ação anulatória é de 180 dias, contados do casamento.
Em resumo, no que toca aos incapazes, foi visto que os casos envolvendo os menores são de anulabilidade de casamento; que as situações relativas aos enfermos, os doentes mentais são de nulidade do casamento; e que as hipóteses concernentes aos demais incapazes sem discernimento são de anulabilidade. 
Quanto ao prodigo, este pode se casar livremente, uma vez que a interdição é apenas relativa aos atos de disposição direta de bens. Não sendo celebrado pacto antenupcial, o regime do seu casamento será o da comunhão parcial, e não o da separação obrigatória de bens, uma vez que o prodigo não consta expressamente no art. 1641 do CC. Para fazer o pacto antenupcial que altere o seu patrimônio, o prodigo necessita de assistência, sob pena de anulação do ato.
	Absolutamente incapazes – art. 3º
	Relativamente incapazes – art. 4º
	I – casamento anulável;
II – casamento nulo;
III – casamento anulável (entendimento majoritário).
	I – casamento anulável;
II – casamento anulável;
III – casamento anulável;
IV – casamento válido.
f) Casamento celebrado por procuração, havendo revogação do mandato
O casamento poderá ser anulado se realizado por mandatário, ocorrendo a revogação do mandato, sem que o representante e o outro cônjuge tenham conhecimento da extinção do contrato.
O prazo para a propositura da ação anulatória é decadencial de 180 dias, a contar do momento em que chegue ao conhecimento do mandante a realização do casamento (art. 1560, §2º). Equipara-se à revogação a invalidade do mandato reconhecida judicialmente, caso da nulidade absoluta ou relativa. A anulação do casamento cabe somente ao mandante, que detém a titularidade dessa ação personalíssima. O ato será convalidado se houver coabitação entre os cônjuges.
g) Casamento celebrado perante autoridade relativamente incompetente (art. 1550, IV)
Trata-se de uma incompetência relativa em relação ao local. O prazo para a propositura da ação anulatória é decadencial de 2 anos, contados da data da celebração do casamento (art. 1560, II).
Subsiste o casamento celebrado por aquele que, sem possuir a competência exigida na lei, exercer publicamente as funções de juiz de casamentos e, nessa qualidade, tiver registrado o ato no Registro Civil (art. 1554).
Efeitos e procedimentos da ação anulatória de casamento:
• Essa ação é constitutiva negativa, o que justifica todos os prazos decadenciais previstos em lei.
• Segue-se o entendimento pelo qual o MP não tem legitimidade para promover a referida ação que cabe, em regra, ao interessado.
• A anulabilidade do casamento não pode ser reconhecida de ofício.
• A ação pode ser precedida por medida cautelar de separação de corpos (art. 1562).
• Apesar de persistir o entendimento pelo qual a anulabilidade tem efeitos ex nunc, filia-se à corrente que sustenta a existência de efeitos ex tunc na anulação do casamento. Tal conclusão é retirada do art. 182 do CC, pelo qual anulado o negócio jurídico, as partes voltam à situação anterior e, não sendo isso possível, caberá indenização.
8.3.4.5 Do casamento putativo
É o casamento da imaginação. Trata-se de casamento que embora nulo ou anulável, gera efeitos em relação ao cônjuge que esteja de boa-fé subjetiva, ignorando o motivo de nulidade ou anulação. O art. 1561 estabelece as regras fundamentais do instituto:
1ª - Havendo boa-fé de ambos os cônjuges, o casamento gera efeitos em relação e estes e aos filhos, até o trânsito em julgado da sentença de nulidade ou anulação. Por isso, eventuais bens adquiridos no período devem ser partilhados entre os cônjuges de acordo com o regime de bens adotado. Segue-se a corrente doutrinária e jurisprudencial que sustenta a permanência de efeitos pessoais mesmo após a sentença. Assim, três efeitos existenciais persistem: a) o direito de usar o nome; b) a emancipação; c) a pensão alimentícia. 
2ª - Havendo boa-fé de apenas um dos cônjuges, o casamento somente gera efeitos para este e para os filhos do casal. O art. 1564 atribui culpa ao cônjuge de má-fé, sofrendo as seguintes sanções: a) perda de todas as vantagens havidas do cônjuge inocente; b) dever de cumprir as promessas feitas no contrato antenupcial. 
Com a entrada em vigor da Emenda do Divórcio (EC 66/10), há quem entenda que a culpa foi banida do sistema do casamento, o que inclui a anulação do casamento, perdendo aplicação o dispositivo em comento. 
3ª - Havendo má-fé de ambos os cônjuges, o casamento gera efeitos para os filhos.
8.3.5 Provas do casamento
Os arts. 1543 a 1547 tratam da prova do casamento, havendo três tipos comprobatórios principais:
- Prova direta – em regra, o casamento celebrado no Brasil é provado pela certidão do seu registro (art. 1543). Já o casamento de brasileiro celebrado no estrangeiro, perante as respectivas autoridades ou cônsules brasileiros, deverá ser registrado em 180 dias, a contar da volta de um ou de ambos os cônjuges ao Brasil. Esse registro deverá ocorrer no cartório do respectivo domicilio, ou sem sua falta, no 1º Ofício da capital do Estado em que passarem a residir.
- Provas diretas complementares ou supletórias - justificada a falta ou perda do registro civil, é admissível qualquer outra espécie de prova.
- Prova indireta – fundada na posse do estado de casados, na demonstração efetiva da situação de casados. Três são os requisitos: um cônjuge utilizar o nome de outro; as partes se tratam como se fossem casadas; a sociedade reconhece nas partes pessoas casadas.
O casamento de pessoas que, na posse do estado de casadas, não possam manifestar vontade, ou tenham falecido, não se pode contestar em prejuízo da prole comum (art. 1545), salvo se existir certidão do registro civil que prove que já era casada alguma delas, quando contraiu o casamento impugnado. Se a prova da celebração legal do casamento resultar de eventual processo judicial, o registro da sentença no livro do registro civil produzirá, todos os efeitos civis, desde a data do casamento (art. 1546). Entre as provas favoráveis e as provas contrarias, deve-se julgar pela existência do casamento, se os cônjuges, cujo casamento se impugna, viverem ou tiverem vivido na posse do estado de casados (art. 1547).
8.3.6 Efeitos pessoais do casamento e seus deveres
Tanto o homem quanto a mulher assumem mutuamente a condição de consortes, companheiros e responsáveis pelos encargos da família, constituindo-se a tão mencionada comunhão plena de vida (art. 1565). Como primeiro efeito, qualquer um dos nubentes poderá acrescentar ao seu o sobrenome do outro (§1º).
Relativamente ao planejamento familiar, este é de livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e financeiros para o exercício desse direito (§2º), que também se aplica à união estável.
O art. 1566 consagra os deveres de ambos os cônjuges no casamento:
I – Dever de fidelidade recíproca – Havendo infidelidade, no sistema anterior, estava presente motivo para a separação-sanção, fundada na culpa (art. 1572).
Com a entrada em vigor da Emenda do Divórcio (EC 66/10), a questão da infidelidade deve ser vista com ressalvas, pois alterou-se o art. 226, §6º da CF, que passou a prever que “O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio”. Não há mais menção à separação judicial, havendo corrente doutrinaria de peso que afirma a impossibilidade de discussão da culpa para a dissolução do casamento.
Não se filia a tal corrente, porque a fidelidade continua sendo um dever do casamento e não uma mera faculdade. Assim, emalgumas situações de sua não mitigação, a culpa pode ser discutida em sede de divórcio. 
II – Dever de vida em comum, no domicilio conjugal – inclui o débito conjugal (dever de manter relações sexuais), de acordo com a doutrina majoritária.
O conceito de coabitação deve ser visualizado a partir da realidade social, de modo a admitir-se a coabitação fracionada, sem que haja quebra dos deveres do matrimônio. Necessário respeitar a vontade dos dois, sendo de todo descabido impor um lar comum.
Enuncia o art. 1569 que o domicílio conjugal será escolhido por ambos os cônjuges, admitindo que um dos cônjuges se ausente do domicílio conjugal para atender a encargos públicos, ao exercício de sua profissão, ou a interesses particulares.
III – Dever de mútua assistência – A assistência é moral, afetiva, patrimonial, sexual e espiritual. Quanto a assistência patrimonial, cada cônjuge será obrigado a concorrer, na proporção dos seus bens e dos seus rendimentos, para o sustento da família e para a educação dos filhos, qualquer que seja o regime matrimonial adotado entre eles (Art. 1568).
IV – Dever de sustento, guarda e educação dos filhos – a previsão tem relação com a solidariedade social. Prevê o art. 1567 que a direção da sociedade conjugal será exercida, sempre no interesse do casal e dos filhos. Havendo divergência, qualquer dos cônjuges poderá recorrer ao juiz, que decidirá tendo em consideração aqueles interesses. Assim, cabe ao poder judiciário, suprir a vontade de um dos cônjuges, sempre no interesse da família.
V- Dever de respeito e consideração mútuos – retirados da boa-fé objetiva. 
Eventualmente, a administração da sociedade conjugal e a direção da família poderão ser exercidas exclusivamente por um dos cônjuges, estando o outro: a) em lugar remoto ou não sabido; b) encarcerado por mais de 180 dias; c) interditado judicialmente ou privado, episodicamente, de consciência, em virtude de enfermidade ou de acidente. 
8.3.7 Efeitos patrimoniais do casamento. Regime de bens
8.3.7.1 Conceito de regime de bens e seus princípios
Trata-se do conjunto de regras de ordem privada relacionadas com interesses patrimoniais ou econômicos resultantes da entendida familiar.
Diante da aprovação da EC 66/10 (Emenda do Divórcio), que, segundo a corrente seguida por este autor, baniu do sistema familiarista todas as formas de separação jurídica, incluindo a separação judicial e extrajudicial, onde se lê nos dispositivos dissolução da sociedade conjugal, pode-se entender dissolução do casamento e da sociedade conjugal. Isso porque o divórcio põe fim ao casamento e também à sociedade conjugal, sendo certo que uma vez extinto o primeiro, também estará finda a segunda categoria.
Feito tal esclarecimento, o regime de bens é regido pelos seguintes princípios fundamentais:
a) Princípio da autonomia privada – é direito dos cônjuges regulamentar as questões patrimoniais (art. 1639). O exercício da autonomia privada se dá pelo pacto antenupcial, em regra, que não pode contrariar os preceitos de ordem pública. Podem os cônjuges escolher outro regime que não seja o regime legal (comunhão parcial de bens); fazendo opção pela comunhão universal, pela participação final nos aquestos ou pela separação de bens. É possível ainda a criação de um regime misto, combinando as regras dos regimes previstos em lei.
b) Princípio da indivisibilidade do regime de bens – não é lícito fracionar os regimes em relação aos cônjuges. Ou seja, o regime é único para ambos os consortes, diante da isonomia constitucional entre marido e mulher. Como exceção, há o art. 1572, §3º, que traz um benefício patrimonial ao cônjuge doente na separação-remédio; bem como o tratamento diferenciado no casamento putativo (art. 1561).
c) Princípio da variedade de regime de bens – o CC/02 consagra quatro possibilidades de regime de bens aos nubentes. No silêncio das partes, prevalecerá o regime da comunhão parcial, que é o regime legal ou supletório (art. 1640).
d) Princípio da mutabilidade justificada – é possível a alteração do regime de bens, mediante autorização judicial, em pedido motivado de ambos os nubentes, apurada a procedência das razões invocadas e desde que ressalvados os direitos de terceiros (art. 1639, §2º). 
Somente se admite a alteração do regime mediante pedido judicial de ambos os cônjuges (ação de alteração de regime de bens, que segue jurisdição voluntária e corre na Vara da Família). 
A alteração somente é possível se for fundada em “pedido motivado”, desde que “apurada a procedência das razoes invocadas”. Esse justo motivo constitui cláusula geral, a ser preenchida pelo juiz caso a caso. Como exemplo, repise-se o desaparecimento de causa suspensiva do casamento, sendo possível alterar o regime da separação obrigatória para outro.
A alteração do regime de bens não poderá prejudicar os direitos de terceiro, em uma intenção de proteger a boa-fé objetiva e desprestigiar a má-fé. A jurisprudência tem exigido cabalmente a prova de ausência de prejuízo a terceiros.
Entende-se que é possível alterar o regime de bens de casamento celebrado na vigência do CC/16. Trata-se de aplicação do art. 2035 do CC, que determina que quanto ao plano de validade, deve ser aplicada a norma do momento de celebração ou constituição do negócio. Em relação ao plano de eficácia, onde se situa o regime de bens, incide a norma do momento da produção dos efeitos. Nesse sentido, enunciado 260.
O art. 2039 não traz conclusão em contrário, mas apenas determina que, para os casamentos anteriores ao CC/02, não poderão ser utilizadas as regras do novo CC referentes às espécies de regime de bens. Somente as regras específicas acerca de cada regime é que se aplicam em conformidade com a lei vigente à época da celebração do casamento, mas, quanto às disposições gerais, comuns a todos os regimes, aplica-se o novo CC.
8.3.7.2 Regras gerais quanto ao regime de bens
Determina o art. 1640 que o regime legal de bens do casamento é o da comunhão parcial, notadamente nos casos de nulidade ou ineficácia na convenção entre os cônjuges, do pacto antenupcial. A comunhão parcial é o regime legal desde a entrada em vigor da Lei do Divórcio, em 77. Antes, o regime legal era o da comunhão universal.
Poderão os nubentes, no processo de habilitação, optar por qualquer dos regimes que este código regula. Quanto à forma, reduzir-se-á a termo a opção pela comunhão parcial, fazendo-se o pacto antenupcial por escritura pública, nas demais escolhas (art. 1640).
O art. 1641 impõe o regime da separação legal ou obrigatória de bens:
I – Das pessoas que contraírem o casamento com inobservância das causas suspensivas do casamento;
II – Da pessoa maior de 70 anos (a norma foi alterada pela lei 12.344/10, uma vez que a idade antes prevista era de 60 anos).
III – De todos os que dependerem de suprimento judicial para casar, caso dos menores.
A norma é considerada de ordem pública. Em relação ao seu inc. II, é forte a corrente doutrinária e jurisprudencial que sustenta a sua inconstitucionalidade, por trazer situação discriminatória ao idoso, tratando-o como incapaz. Nesse sentindo, Enunciado 125. Na opinião deste autor, o aumento da idade para os 70 anos não afastou o problema.
Os arts. 1642 e 1643 do CC consagram os atos que podem ser praticados por qualquer um dos cônjuges, sem autorização do outro, não importando o regime de bens adotado:
a) Atos de disposição e de administração necessários ao desempenho de sua profissão (art. 1642, I).
b) Administrar os próprios bens (art. 1642, II).
c) Desobrigar ou reivindicar os imóveis que tenham sido gravados ou alienados sem o seu consentimento ou sem suprimento judicial (art. 1642, III). Na verdade, o caso é de anulação do ato de alienação ou da instituição real, estando a ação anulatória sujeita a prazo decadencial de dois anos, contados do término do casamento e da sociedade conjugal (art. 1647 c/c 1649).
d) Demandar a rescisão dos contratos de fiança e de doação, ou a invalidação do aval, realizados pelo outro cônjuge com infração dos disposto nos incs. III e IV do art.1647. Apesar se a lei expressar rescisão, o caso é de anulação, no prazo decadencial de dois anos, contados do fim do casamento e da sociedade conjugal.
e) Reivindicar os bens comuns, moveis ou imóveis, doados ou transferidos pelo outro cônjuge ao concubino, desde que provado que os bens não foram adquiridos pelo esforço comum destes, se o casal estiver separado de fato por mais de 5 anos (art. 1642, V). Esse dispositivo não deve ser aplicado havendo união estável entre o doador e donatário. Não se trata de reivindicação, mas de anulação da doação.
f) Praticar todos os atos que não lhe forem vedados expressamente em lei (art. 1642, VI).
g) Comprar, ainda a crédito, as coisas necessárias à economia doméstica (art. 1643, I). 
h) Obter, por empréstimo, as quantias que a aquisição dessas coisas possa exigir (art. 1643, II).
Relativamente às últimas duas previsões, dispõe o art. 1644 do CC que haverá solidariedade passiva legal de ambos os cônjuges. Com relação às ações fundadas nos incs. III, IV e V do art. 1642, essas competem ao cônjuge prejudicado e a seus herdeiros (art. 1645). O terceiro prejudicado, com sentença favorável ao autor, terá direito regressivo contra o cônjuge que realizou o negócio jurídico, ou seus herdeiros (art. 1646). 
O art. 1647 enuncia os atos e negócios que exigem outorga conjugal, restringindo a autonomia privada. Trata se da outorga uxória (da esposa) e da outorga marital (do marido). A outorga conjugal envolve legitimação, estando no plano de validade dos atos e negócios ali previstos. 
Determina o art. 1647 que a outorga é dispensada se os cônjuges forem casados pelo regime da separação absoluta. Que regime seria esse, afinal de contas o CC/02 trata apenas da separação de bens, podendo essa ser legal (art. 1641) ou convencional (art. 1687 e 1688)? No tocante à separação convencional, não existem maiores debates, havendo uma separação absoluta. A polêmica gira em torno da Súmula 377 do STF, que enuncia que “No regime da separação legal comunicam-se os bens adquiridos na constância do casamento”. Se ainda vige a súmula na separação legal, não haveria uma separação absoluta, pois alguns bens se comunicam.
Este autor segue o entendimento pela necessidade de prova do esforço comum para que surja o direito à participação do cônjuge na separação legal ou obrigatória de bens. Mas a dedução não é pacífica. 
A questão a ser respondida é se a súmula 377 do STF ainda tem ou não aplicação, o que repercute diretamente na interpretação do art. 1647. Duas são as correntes:
1ª - afirma que a súmula está cancelada, pois o CC/02 não repetiu a regra que supostamente lhe dava fundamento sob a égide do CC/16. Para essa corrente, haveria separação absoluta tanto na separação convencional quando na separação legal de bens, pois nos dois regimes nada se comunica.
2ª - afirma que a súmula não está cancelada, diante da vedação do enriquecimento sem causa. Assim, urge a comunicação dos bens havidos pelo esforço comum para se evitar o locupletamento sem razão. Parece ser a corrente prevalente. Seguindo essa dedução, somente há separação absoluta na separação convencional, eis que na separação legal haverá comunicação dos bens havidos pelo esforço comum, entendimento ao qual se filia.
Atos e negócios que exigem a outorga conjugal:
a) Alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;
b) Pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos;
c) Prestar fiança ou aval.
d) Fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam integrar futura meação. São consideradas válidas as doações nupciais feitas aos filhos quando casarem ou estabelecerem economia separada. 
A falta de outorga conjugal pode ser suprida pelo juiz, quando um cônjuge não puder concede-la ou a denegue de maneira injusta (art. 1648). Tal ausência, não havendo suprimento, gera a anulação do negócio jurídico (nulidade relativa), estando a ação anulatória sujeita a prazo decadencial de dois anos, a contar da dissolução da sociedade conjugal (Art. 1649). Essa ação somente pode ser proposta pelo cônjuge preterido ou por seus herdeiros (art. 1650).
Surge polêmica em relação ao inc. III do art. 1647 na menção ao aval, porque é forte a conclusão no sentido de que o aval deve ser considerado apenas ineficaz em relação ao cônjuge que não assentiu e não anulável. Nesse sentido, Enunciado 114. Porém, a questão não é pacífica, pois há decisões em sentido contrário, fazendo incidir a literalidade do art. 1649 do CC, concluindo pela anulação do aval.
Na vigência do CC/16 prevalecia o entendimento de que a falta da outorga geraria a nulidade absoluta do ato. Mas o CC/02 consagra a conseqüência da anulabilidade em decorrência da falta da outorga.
Aplicando-se o art. 2035 do CC e a aclamada escada ponteana, se o ato foi celebrado na vigência do CC/16, sem outorga, será nulo, mesmo que a ação seja proposta na vigência do atual código. Se praticado na vigência do CC/02 sem outorga será anulável. Assim, súmula 332 do STJ, pela qual a falta de outorga conjugal na fiança gera a ineficácia total da garantia. A ementa não menciona se o contrato é nulo ou anulável, mas ineficaz.
Quando um dos cônjuges não puder exercer a administração dos bens do casamento, caberá ao outro: a) gerir os bens comuns e os do consorte; b) alienar os bens moveis comuns; c) alienar os imóveis comuns e os moveis ou imóveis do consorte, mediante autorização judicial (art. 1651).
O art. 1652 do CC consagra a possibilidade de cada cônjuge na administração de bens do casal, respondendo tanto em relação ao outro quando aos seus herdeiros eventualmente prejudicados. O cônjuge é tratado como usufrutuário dos bens, havendo rendimentos comuns. É também considerado procurador, havendo mandato expresso ou tácito para a administração dos bens comuns. Se o cônjuge guardar bens moveis do casal, será equiparado a depositário da coisa. 
8.3.7.3 Regras quanto ao pacto antenupcial
Constitui um contrato forma e solene pelo qual as partes regulamentam as questões patrimoniais relativas ao casamento (art. 1653 a 1657). Sendo um contrato, é perfeitamente possível aplicar ao pacto antenupcial os princípios da função social dos contratos e da boa-fé objetiva.
O negócio deve ser feito por escritura pública no Cartório de Notas, sendo nulo se assim não o for e ineficaz se não ocorrer o casamento (art. 1653). Sendo desrespeitada tal formalidade, o pacto será nulo, por desrespeito à forma e à solenidade. A nulidade do pacto não atinge o casamento, que será válido e regido pela comunhão parcial de bens.
Se o pacto antenupcial preencher tais requisitos, mas não ocorrer o casamento, será válido, mas ineficaz. Trata-se de negócio celebrado sob condição suspensiva, uma vez que só começa a produzir efeitos com o casamento.
Em relação ao pacto antenupcial celebrado por menor, a sua eficácia fica condicionada à aprovação de seu representante legal, salvo as hipóteses do regime de separação obrigatória de bens (Art. 1654).
É nula a convenção ou cláusula que constar no pacto que conflite com disposição absoluta de lei, ou seja, que colida com normas de ordem pública, o que limita a autonomia privada no pacto (art. 1655).
A nulidade de cláusula do pacto antenupcial, em regra, não prejudica o restante do ato, aplicando-se o princípio da conservação dos negócios jurídicos.
Para que tenha efeitos erga omnes, ou seja, contra terceiros, os pactos antenupciais deverão ser averbados em livro especial pelo oficial do Registro de Imóveis no domicilio dos cônjuge (art. 1657).
8.3.7.4 Regime de bens. Regras especiais
Quatro são os regimes de bens previstos pelo atual CC: Regime da comunhão parcial; regime da comunhão universal de bens; regime da participação final nos aquestos; regime da separação de bens.
O rol não é taxativo, mas exemplificativo, sendo possível criar outro regime, inclusive combinando regras dos já existentes.
a) Regime da comunhão parcial de bens
Trata-se do regime legal ou supletório, que valerá para o casamento se não houver pacto entre os cônjuges ou sendo este nulo ou ineficaz (art.1640). 
Regra básica: comunicam-se os bens havidos durante o casamento, com exceção dos incomunicáveis (art. 1658). Os bens comunicáveis formam os aquestos, sobre os quais o outro cônjuge tem direito à meação. Entretanto, há bens que não se comunicam nesse regime (art. 1659):
I – Os bens que cada cônjuge já possuía ao casar e aqueles havidos por doação ou sucessão, bem como os sub-rogados no seu lugar.
II – Os bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um dos cônjuges em sub-rogação dos bens particulares. Se o bem é adquirido também com o esforço do outro cônjuge, de qualquer natureza, haverá comunicação.
III – As obrigações anteriores ao casamento, caso das dívidas pessoais que cada cônjuge possuía ao casar.
IV – As obrigações decorrentes de ato ilícito, salvo reversão em proveito do casal.
V – Os bens de uso pessoas de cada um dos cônjuges, os livros e instrumentos de profissão.
VI – Os proventos de trabalho pessoal de cada cônjuge, o que inclui o salário, as remunerações em sentido amplo e a aposentadoria. Na esteira da melhor doutrina a norma merece interpretação restritiva, sendo a correta interpretação no sentido de que se os proventos forem recebidos durante a união, haverá comunicação.
VII – As pensões, meios-soldos e montepios, bem como outras rendas semelhantes e que têm caráter pessoal. Deve-se interpretar restritivamente a previsão, pois se tais valores forem recebidos durante o casamento, haverá comunicação dos bens.
O art. 1660 traz o rol dos bens comunicáveis:
I – Os bens adquiridos na constância do casamento a título oneroso, ainda que em nome de somente um dos cônjuges. Para a comunicação não há necessidade de prova de esforço comum, havendo presunção de ingresso dos aquestos.
II – Os bens adquiridos por fato eventual com ou sem colaboração do outro cônjuge. Ex: valores recebidos em decorrência de loteria.
III – Os bens adquiridos por doação, herança ou legado em favor de ambos os cônjuges.
IV – As benfeitorias necessárias, úteis e voluptuárias em bens particulares de cada cônjuge. A comunicação deve ser estendida às acessões.
V – Os frutos civis (rendimentos) ou naturais decorrentes de bens comuns ou particulares de cada cônjuge percebidos na constância do casamento, ou pendentes quando cessar a união. Devem ser incluídos, por analogia, os produtos. As verbas trabalhistas por um dos cônjuges durante a união também devem ser incluídas. Segundo o STJ, as verbas indenizatórias decorrentes da rescisão do contrato de trabalho só devem ser excluídas da comunhão quando o direito trabalhista tenha nascido ou tenha sido pleiteado após a separação do casal.
Além dessas previsões, a lei civil considera incomunicáveis os bens cuja aquisição tiver por título uma causa anterior ao casamento (art. 1661).
Relativamente aos bens móveis, o CC/02 consagra a presunção de que foram adquiridos na constância da união, ou seja, haverá comunicação (art. 1662). Essa presunção é relativa, cabendo prova em contrário de quem alega que o bem é exclusivo e incomunicável.
A administração do patrimônio comum compete a qualquer um dos cônjuges (Art. 1663). As dívidas contraídas no exercício dessa administração obrigam os bens comuns e particulares do cônjuge que os administra, e os do outro cônjuge na razão do proveito que houver aferido (§1º).
A anuência de ambos os cônjuges é necessária para que os atos que, a título gratuito, impliquem na cessão do uso ou gozo dos bens comuns, caso da instituição de um usufruto ou da celebração de um contrato de comodato de imóvel pertencente a ambos (art. 1633, §2º). Havendo prova de dilapidação do patrimônio ou do desvio de bens, o juiz poderá atribuir a administração a apenas um dos cônjuges (§3º).
Os bens da comunhão ainda respondem pelas obrigações contraídas pelo marido ou pela mulher para atender aos encargos da família, às despesas de administração e às decorrentes de imposição legal (art. 1664).
No tocante à administração e à disposição dos bens constitutivos do patrimônio particular, tais atos competem ao cônjuge proprietário, salvo convenção diversa em pacto antenupcial (art. 1665). A polêmica que surge interroga a necessidade de outorga conjugal para a venda de um bem imóvel anterior (bem particular) por um dos cônjuges na comunhão parcial. A correte interpretação é que a outorga em casos tais é necessária, prevalecendo a regra do art. 1647, I, sob pena de anulação do ato. Tal conclusão tem o fito de proteger eventuais benfeitorias introduzidas nos bens particulares.
As dívidas contraídas por qualquer dos cônjuges na administração de seus bens particulares e em benefício destes não obrigam os bens comuns (art. 1666).
b) Regime da comunhão universal de bens
Regra básica do regime: comunicam-se tanto os bens anteriores, presentes e posteriores à celebração do casamento, ou seja, há uma comunicação plena nos aquestos, o que inclui as dívidas passivas de ambos (art. 1667). 
A comunicação é plena, mas não absoluta, havendo bens incomunicáveis (art. 1668):
I – Bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade, e os correspondentes sub-rogados.
II – Bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro fideicomissário, antes de realizada a condição suspensiva.
III – As dívidas anteriores ao casamento, salvo se tiverem como origem dívidas relacionadas com o casamento, ou aquelas que se reverterem em proveito comum.
IV – As doações antenupciais feita por um dos cônjuges a outro, com cláusula de incomunicabilidade. 
V – Os bens referidos no incisos V a VII do art. 1659 do CC( bens de uso pessoal, livros, instrumentos de profissão, proventos do trabalho de cada um e pensões em geral). Destaque-se que as duas últimas previsões merecem interpretação restritiva.
Em relação aos frutos, são eles comunicáveis, mesmo que sejam retirados de bens incomunicáveis, mas desde que vençam ou sejam percebidos na constância do casamento (art. 1669).
Quanto à administração dos bens na comunhão universal, devem ser aplicadas as mesmas regras vistas para a comunhão parcial (art. 1670).
Sendo extinta a comunhão pela dissolução do casamento e sendo efetuada a divisão do ativo e do passivo entre as partes, cessará a responsabilidade de cada um para os credores do outro (art. 1671).
c) Regime da participação final nos aquestos
Trata-se de um regime novo, que veio a substituir o regime dotal. Como regra fundamental do regime, durante o casamento há uma separação convencional de bens, e, no caso de dissolução da sociedade conjugal, algo próximo de uma comunhão parcial. Finda a união, cada cônjuge terá direito a uma participação daqueles bens para os quais colaborou para a aquisição, devendo provar esforço patrimonial para tanto, eis que o art. 1672 preconiza que caberá direito à metade dos bens adquiridos a título oneroso durante a união.
Os bens de participação não se confundem com a meação, pois a última independe da prova do esforço comum para a comunicação.
Integram o patrimônio próprio ou particular os bens que cada cônjuge possuía ao casar e os por ele adquiridos, a qualquer título, na constância do casamento (art. 1673). A administração desses bens é exclusiva da cada cônjuge, que os poderá livremente alienar, se forem móveis, na constância da união. Nesse comando é que reside diferença fundamental em relação à comunhão parcial, pois no último caso os bens adquiridos durante a união, em regra, presumem-se de ambos. 
Ocorrendo a dissolução do casamento e da sociedade conjugal, deverá ser apurado o montante dos aquestos (parte comunicável), excluindo-se da soma dos patrimônios próprios (art. 1674): os bens anteriores ao casamento e os que em seu lugar se sub-rogarem; os bens que sobrevierem a cada cônjuge por sucessão ou liberalidade; as dívidas relativas a esses bens.
Salvo prova em contrário, presumem-se adquiridos durante o casamento os bens móveis (art. 1674, §ú).
Ao se determinar o montante dos aquestos, será computado o valor das doações feitas por um dos cônjuges, sem a necessária autorização do outro (art. 1675). O bem poderá ser reivindicado pelo cônjuge prejudicadoou por seus herdeiros; ou declarado no montante partilhável por valor equivalente ao da época da dissolução. Apesar da lei falar reivindicação, anote-se que, realizada a doação sem a outorga conjugal, o ato é anulável.
O valor dos bens alienados em detrimento da participação deve ser incorporado ao monte partível, se não houver preferência ao cônjuge lesado, ou de seus herdeiros, de reivindicá-los (art. 1676).
No que tange às dívidas posteriores ao casamento, contraídas por um dos cônjuges, somente este será responsável, salvo prova de terem revertido, parcial ou totalmente, em benefício do outro ou do casal (Art. 1677). Se um dos cônjuges solveu uma dívida do outro com bens do seu patrimônio, o valor do pagamento deve ser atualizado e imputado, na data da dissolução, à meação do outro cônjuge (art. 1678).
No caso de bens adquiridos pelo trabalho conjunto, terá cada um dos cônjuges uma quota igual no condomínio ou no crédito por aquele modo estabelecido (art. 1679). Em regra, vale a divisão igualitária.
As coisas móveis, em face de terceiros, presumem-se do domínio do cônjuge devedor, salvo se o bem for de uso pessoal do outro (art. 1680). 
Já os bens imóveis são de propriedade do cônjuge cujo nome constar no registro, salvo impugnação dessa titularidade, cabendo ao cônjuge proprietário o ônus de provar a aquisição regular dos bens de forma individual (art. 1681). O ônus de provar não é de quem alega o domínio, mas daquele cuja titularidade consta do registro, havendo uma inversão do ônus da prova.
O direito à meação nesse regime é irrenunciável, incessível e impenhorável (art. 1682)
Havendo dissolução do casamento, será verificado o montante dos aquestos à data em que cessou a convivência (art. 1683). Não sendo possível nem conveniente a divisão de todos os bens em natureza, calcular-se-á o valor de alguns ou de todos para a reposição em dinheiro ao cônjuge não proprietário. Não sendo possível realizar a reposição em dinheiro, serão avaliados e, mediante autorização judicial, alienados tantos bens quantos bastarem para o pagamento das respectivas quotas (art. 1684). As mesmas premissas servem se o casamento for dissolvido por morte.
As dívidas de um dos cônjuges, quando superiores à sua meação, não obrigam ao outro, ou a seus herdeiros (art. 1686).
d) Regime da separação de bens
Pode ser convencional (origem em pacto antenupcial) ou legal/obrigatório (art. 1641).
Como regra básica do regime, não haverá comunicação de qualquer bem, seja posterior ou anterior à união, cabendo a administração desses bens de forma exclusiva a cada um dos cônjuges (art. 1687). Cada um dos cônjuges poderá alienar ou gravar com ônus real os seus bens mesmo sendo imóveis, nas hipóteses em que foi convencionada a separação de bens. Em relação à separação legal ou obrigatória, persiste polêmica relativa à comunicação, retirada da súmula 377 do STF. 
Ambos os cônjuges são obrigados a contribuir para as despesas do casal na proporção dos rendimentos do seu trabalho e de seus bens (art. 1688). A convenção não pode trazer situação de enorme desproporção, sendo que a onerosidade excessiva gera a nulidade absoluta da cláusula constante da convenção antenupcial (art. 1655).
8.3.8 Dissolução da sociedade conjugal e do casamento. Separação e divórcio 
8.3.8.1 Conceitos iniciais. O sistema introduzido pelo Código Civil de 2002 e as alterações fundamentais instituídas pela Emenda do Divórcio (EC 66/2010)
	Art. 226, §6º, da CF/1988 – redação original
	Art. 226, §6º, da CF/1988 – redação atual
	O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia separação judicial por mais de um ano nos casos expressos em lei, ou comprovada separação de fato por mais de dois anos.
	O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio.
A inovação tem aplicação imediata, como norma constitucional autoexecutável, não havendo necessidade de qualquer ponte infraconstitucional para a sua eficácia. Constata-se que apenas houve alteração no Texto Maior, sem qualquer modificação ou revogação de dispositivos do CC/02 ou de leis específicas, cabendo à doutrina e à jurisprudência apontar quais construções jurídicas ainda persistem.
Como primeiro impacto da Emenda do Divórcio a ser apontado, verifica-se que não é mais viável a separação de direito, a englobar a separação judicial e a separação extrajudicial, banidas totalmente do sistema jurídico. Assim, alguns artigos do CC que regulavam a matéria foram revogados pela superveniência da norma constitucional e perderam a vigência por terem entrado em rota de colisão com o dispositivo constitucional superveniente.
Da hermenêutica constitucional contemporânea, podem ser citados três princípios, que conduzem à mesma conclusão:
- Princípio da máxima efetividade ou eficiência – a uma norma constitucional deve ser atribuído o sentido que maior eficácia lhe dê. No caso de duvidas, deve preferir-se a interpretação que reconheça maior eficácia aos direitos fundamentos. Manter a burocracia no fim do casamento, com o modelo bifásico (separação e divórcio), não traz esse eficácia pretendida. 
- Princípio da força normativa da constituição – deve dar-se primazia às soluções hermenêuticas que, compreendendo a historicidade das estruturas constitucionais, possibilitam a atualização normativa, garantindo, do mesmo pé, a sua eficácia e permanência. A manutenção da separação de direito viola esse princípio, pois colide com a otimização da emenda e com a ideia de atualização do texto maior.
- Princípio da interpretação das leis em conformidade com a constituição – no caso de normas polissêmicas ou plurissignificativas, deve-se dar preferência à interpretação que lhe dê um sentido em conformidade com a constituição. Em conformidade com a CF/88 não há mais sentido prático na manutenção da separação. 
Como a finalidade da separação de direito sempre foi a de pôr fim ao casamento, não se justifica a manutenção da categoria se a Norma Superior traz como conteúdo apenas o divórcio, sem maiores burocracias. Não se sustenta mais a exigência de uma primeira etapa de dissolução, se o Texto Maior trata apenas e uma outrora segunda etapa. A tese da manutenção da separação de direito remete a um direito civil burocrático, distante da CF, muito formal e pouco material; muito teorético e pouco efetivo. 
Já há julgados que aplicam a premissa do fim da separação de direito, notadamente da separação judicial.
Compartilhamos da tese do fim da separação de direito, perdendo a aplicabilidade a separação extrajudicial por escritura pública, pela via administrativa, estando revogada nesse parte a Lei 11.441/07, pois não recepcionada pelo novo Texto Constitucional.
De fato, existem juristas que são favoráveis à manutenção da separação de direito no sistema. Para essa corrente, a EC 66/10 não alterou a ordem infraconstitucional, havendo necessidade de normas para regulamentá-la. Essa dedução desconsidera a força normativa da Constituição.
Apesar de tais resistências, este autor entende que não vige mais o sistema bifásico, de extinção da sociedade conjugal e do casamento. As ações em curso de separação judicial devem ser extintas sem julgamento do mérito, por impossibilidade jurídica superveniente do pedido. No máximo, aplicando-se os princípios processuais da economia e da fungibilidade, pode o juiz da causa dar oportunidade para que as partes envolvidas adaptem o seu pedido, da separação judicial para o divórcio.
Não há mais que se falar em divórcio indireto ou por conversão, persistindo apenas o divórcio direto. Não há mais prazo para o casal de divorciar. O legislador constitucional não expressa mais o prazo de um ano da separação judicial, ou de dois anos da separação de fato para o divórcio, estando revogado o art. 1580 do CC, eis que o fim social da norma superior prevalece sobre a inferior.
Deve ser tido como revogado, por ser incompatível com o Texto Maior, o inciso III do art. 1571, que determina que a sociedade conjugal termina pela separação judicial, uma vez que, repise-se, todas as modalidades de separação de direito foram

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