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INTRODUÇÃO É um dos mais importantes assuntos da pediatria, sendo comum o aparecimento de erupções cutâneas eritematosas disseminadas, também conhecidas como exantema ou rash cutâneo. São geralmente causados por vírus, embora bactérias e doenças reumatológicas, além de medicamentos, também possam estar implicados. Deve-se analisar o tipo de exantema, localização, progressão, sintomas associados, idade e sazonalidade. Tipos de Exantema: Maculopapular: Composto por máculas e pápulas, sendo o tipo mais comum na infância, encontrado no sarampo, rubéola, eritema infeccioso, exantema súbito, escarlatina e doença de Kawasaki. Papulovesicular: Composto por pápulas e vesículas, que podem evoluir para pústulas e crostas. É encontrado na varicela, herpes-zóster e doença pé-mão-boca. Exantema Maculopapular Exantema Papulovesicular Lesões Elementares Dermatológicas Eritema: Lesão de coloração avermelhada ou rósea, decorrente de uma alteração vascular transitória. Mácula: Qualquer alteração da cor da pele, mas sem relevo. Pápula: Lesão sólida e elevada, com diâmetro < 1 cm. Placa: Lesão sólida, elevada, com diâmetro > 1 cm. Vesícula: Lesão elevada com líquido claro no interior. Pústula: Lesão elevada com líquido turvo (pus) no interior. SARAMPO É uma doença infecciosa exantemática aguda, transmissível e extremamente contagiosa. Com o surgimento da vacina do sarampo, houve uma queda importante da incidência. É causada por vírus de RNA fita única, da família Paramyxoviridae, do gênero Morbillivirus, sendo mais comum no verão e na primavera. Transmissão: Respiratória por aerossóis, ocorrendo 3 dias antes até 4 a 6 dias após o exantema e tendo elevada taxa de ataque. Quadro Clínico: Período de Incubação: 8-12 dias; Pródromo: Febre superior a 38,5ºC, conjuntivite não purulenta, coriza e tosse; Pode-se encontrar as Manchas de Koplik, é patognomônica de sarampo, localizada na face interna da bochecha e aparecem antes do início do exantema e somem em 2-3 dias após o surgimento. Exantema maculopapular morbiliforme: Inicia- se na região posterior do pavilhão auricular e desce crânio-caudal. Pode acometer palmas e mãos dos pés. É uma doença de notificação compulsória já na suspeita e o diagnóstico é clínico, podendo solicitar sorologia. Tratamento: Suporte – trata-se de uma doença autolimitada. A OMS recomenda suplementação de Vitamina A em crianças < 2 anos: < 6 meses: 2 doses 50.000 UI VO; 6-12 meses: 2 doses 100.000 UI VO; > 1 ano: 2 doses 200.000 UI VO; Maior morbimortalidade: <5 anos e > 20 anos; Desnutrição; Deficiência de vitamina A; Imunossupressão; Suspeitar de complicação se persistência ou recrudescência da febre após 3 dias do exantema. Complicações: Otite média aguda (mais comum); Pneumonia (mais associada a morte); Neurológicas – Encefalite após Sarampo (mais comum em adolescentes e adultos) e Panencefalite Esclerosante Subaguda; Profilaxia: Vacinação: 12 e 15 meses; Surto: Dose zero: Dose extra entre 6-12 meses; Pós-exposição: Vacina: até 72 horas do contato – não pode fazer em gestantes, crianças < 6 meses e imunocomprometidos; Imunoglobulina: até 6 dias; RUBÉOLA É uma doença exantemática aguda, de alta contagiosidade e leve em lactentes e crianças. Com a vacina da rubéola, houve queda importante da incidência e deslocamento da faixa etária mais acometida, acometendo mais adultos jovens, inclusive mulheres em idade fértil, podendo causar a Síndrome da Rubéola Congênita. É causada por um vírus de RNA fita única, da família Matonaviridae, do gênero Rubivirus. Transmissão: Ocorre mais no inverno e primavera, por via respiratória – gotículas, 5-7 dias antes até 7 dias após o exantema. Quadro Clínico: Período de Incubação: 2-3 semanas; Pródromo: Febre baixa, dor de garganta, cefaleia, mal estar e podem apresentar linfadenopatia suboccipital e retroauricular. Exantema maculopapular rebeoliforme: Inicia- se em face e pescoço, disseminando-se para tronco e membros. Dura somente 3 dias. Manchas de Forchheimer: Não é patognomônico da Rubéola. É uma doença de diagnóstico clínico, com possibilidade de sorologia e de notificação compulsória. Exantema maculopapular rebeoliforme Manchas de Forchheimer Tratamento: Suporte. Complicações: Trombocitopenia, em geral, em meninas e leve; Artrite de pequenas articulações, em geral das mãos, em mulheres adultas - autolimitada; Neurológicas – Encefalite pós-infecciosa e Panenefalite progressiva da rubéola. Profilaxia: Vacinação: 12 e 15 meses; Pós-exposição: Apenas para gestantes que tiveram contato com casos – Imunoglobulina: até 6 dias. EXANTEMA SÚBITO Também chamado de Roséola Infantum ou de Sexta Doença, é causada pelo vírus de DNA fita dupla Herpesvírus humano 6 e 7. Tem pico de incidência entre 6-15 meses (característica do lactente). Não há sazonalidade, portanto, pode ocorrer durante o ano todo. Transmissão: Respiratória por gotículas e somente durante a febre. Quadro Clínico: Período de Incubação: 5-15 dias; Pródromo: Coriza, hiperemia conjuntival e faríngea. Febre alta (39ºC) por 3-5 dias, com irritabilidade, anorexia, etc. Resolução em crise – some do nada. 12-24 horas após a resolução da febre, surge o exantema maculopapular róseo. Exantema maculopapular róseo Tratamento: Suporte. Complicações: Convulsão febril; Imunodeprimidos: Encefalite e pneumonite – utilizar anti-viral; ERITEMA INFECCIOSO Também conhecido como “quinta doença”, é causado por um vírus de DNA de fita única, parvovírus B19, da família Parvoviridae e do gênero Erythrovirus. Acomete crianças em idade escolar (5-15 anos). A sazonalidade é no final do inverno e na primavera. Transmissão: Respiratória por gotículas, via sanguínea (transfusão) e placentária, e só ocorre durante o período de viremia. Quadro Clínico: Período de incubação: 4-28 dias; Pródromo: Febre baixa, cefaleia, coriza, etc; Exantema em 3 estágios (não ocorre mais transmissão do vírus) – é quadro mais comum em crianças hígidas/saudáveis: Face esbofeteada (Eritema malar, que poupa região de fronte, nariz e perioral); Exantema rendilhada (clareamento central das lesões – começa no tronco e vai para as extremidades); Recidiva do exantema se exposição a sol, calor, stress, atividade física excessiva, etc; Crise Aplásica Transitória: Febre, mal estar e letargia, anemia grave, palidez, taquicardia e taquipneia. Não há exantema associado. Ocorre queda abrupta da hemoglobina e reticulopenia, sendo mais comum em pacientes com anemia hemolítica crônica, imunodeficiente e RNs. Tratamento: Eritema Infeccioso: Suporte. Evitar exposição solar, exercício físico intenso, etc, para não propiciar recidiva; Crise Aplásica: Imunoglobulina EV; ESCARLATINA Causada pelo estreptococo Beta-Hemolítico do Grupo A (Streptococcus pyogenes), um gram-positivo altamente transmissível. Esse estreptococo deve estar infectado por bacteriófagos produtores de exotoxinas. Geralmente estão associadas às IVAS. Trata-se de uma doença que ocorre após um quadro de faringotonsilites, acometendo crianças entre 3-15 anos. Transmissão: Respiratória por gotículas. Quadro Clínico: Pródromo: Faringotonsilite – febre alta, cefaleia, mal estar, dor de garganta, dor abdominal, vômitos, etc; Exantema: Após 24-48 horas do início dos sintomas da faringotonsilite. Exantema micropapular em lixa. Esse exantema clareia à digitopressão. Linhas de Pastia: Acentuação do exantema nas pregas dos cotovelos, região axilar e virilha. Geralmente ocorre depois de 1-3 dias do início do exantema. Face Esbofeteada com Sinal de Filatov; Língua em Framboesa; Diagnóstico: Clínico. Pode ser realizado diagnóstico etiológico por cultura de orofaringe ou strep test (teste rápido – cotonete). Também tem como realizar o sorológico: Antiestreptolisina O (ASLO) e Anti-DNAse B. Tratamento: Penicilina Benzatina IM dose única ou Amoxicilina VO por 10 dias. Complicações: Supurativas: linfadenite cervical, abscesso peritonsilar, abscesso retrofaringeana, etc. Não Supurativas: Febre reumática e glomerulonefrite pós-estreptocócica. DOENÇA DE KAWASAKI É uma vasculite febril aguda autolimitada, de etiologia desconhecida, mas provavelmente infecciosa. Ocorre mais em períodos frios, acometendo crianças e só se manifesta clinicamente em indivíduos geneticamente predispostos. É mais comum em meninos < 5 anos, tendo pico de incidência entre 18-24 meses. Mais comum em asiáticos. Tem predomínio de artérias de médio calibre, dentre elas as artérias coronárias. Quadro Clínico: Febre alta ≥ 5 dias, que não responde a ATB; Exantema polimórfico – nunca é vesicular, iniciando, geralmente, em tronco; Hiperemia conjuntival bilateral sem exsudato associado; Alterações orais (língua em framboesa, eritema de mucosa oral e faríngea, lábios fissurados) ou de extremidades (edema e eritema de mãos e pés ou descamação perineal/periungueal); Linfadenopatia cervical > 1,5 cm unilateral; Achados Laboratoriais: Anemia normocrômica e normocítica; Leucocitose > 15.000/mm³; Trombocitose; Elevação VHS e PCR; Hiponatremia; Hipoalbuminemia; Elevação transaminases e GGT; Piúria estéril; Pleocitose no líquor; Complicações: Fase Aguda: Miocardite e pericardite; Fase Subaguda: Aneurisma de artéria coronária, sendo mais comum na região da descendente anterior e região proximal de coronária direita – solicitar ecocardiograma ao diagnóstico e repetir após 2-3 semanas e após 6-8 semanas; Tratamento: Gamaglobulina EV dose única, com resolução da febre e dos sintomas. Se falha terapêutica: 2ª dose ou pulsoterapia; Ácido acetilsalicílico VO: Altas doses até resolução da febre e, após, manter em dose baixa por 6-8 semanas; Aneurisma coronariano: Pequeno: Manter AAS; Grande ou numerosos: Dipiridamol, warfarina ou heparina de baixo peso molecular; Prognóstico: Recuperação completa e sem sequelas se sem aneurisma. Com aneurisma, ocorre a resolução em 1-2 anos. Principal causa de morte: IAM – 1º ano pós-doença. VARICELA É popularmente conhecida como catapora, sendo a maioria das crianças infectadas no período pré-escolar, com frequentes epidemias no inverno e na primavera, com maior morbimortalidade em lactentes, adultos e imunocomprometidos. Com a introdução da vacinação, houve uma redução importante do número de casos e da mudança de perfil epidemiológico da doença, sendo agora mais comum em escolares. Vacina da Varicela: Introduzida no PNI em 2013, como a Tetraviral, dose única, em crianças com 15 meses de vida. A partir de 2018, houve um reforço da vacina aos 4 anos de idade. É causada por um vírus de DNA fita dupla, chamado Varicela-Zoster Vírus, da família Herpesviridae. Infecção Primária: Varicela; Latente: Gânglios nervosos sensoriais; Recorrente: Herpes Zóster; Transmissão: Respiratória por gotículas ou por contato com o líquido contido dentro das vesículas. A transmissão ocorre 1-2 dias antes do início do exantema até 3-7 dias após o início do exantema. É contagiosa até que todas as lesões do corpo estejam na fase de crosta. Tem elevada taxa de transmissão. Quadro Clínico: Período de incubação: 10-21 dias; Pródromo: Febre, anorexia, cefaleia e dor abdominal leve; Exantema maculopapulovesicular polimórfico; Lesões mucosas: Vesiculas e úlceras rasas em orofaringe, genital e conjuntiva; Varicela Modificada: Acomete crianças vacinadas. É um quadro mais leve: Febre baixa, exantema sem muitas vesículas e pústulas e é bem menos contagiosa. Varicela Mais Extensa: Apresenta maior quantidade de lesões. Ocorre em casos secundários a disseminação domiciliar, crianças mais velhas e com dermatite atópica; Varicela Progressiva: É uma varicela grave, sendo mais comum em imunodeprimidos. Pode apresentar envolvimento visceral, coagulopatia, hemorragia grave, desenvolvimento contínuo das lesões, vesículas hemorrágicas, com dor abdominal intensa e alta taxa de morbimortalidade. Tratamento: Varicela Não Grave: Sintomáticos – antitérmicos, anti-histamínicos (prurido). Aciclovir VO por 5 dias – utilizar nas primeiras 24 horas do início do exantema – para pacientes que tem risco de evolução de doença grave, como em adolescentes, portadores de doenças crônicas e uso crônico de corticoide. Varicela Grave: Aciclovir EV por 7 dias e NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA. Complicações: Infecção bacteriana secundária: Eritema na base da vesícula e recrudescência da febre; Hepatite leve e assintomática: Elevação das transaminases; Pneumonia por Varicela: Mais comum em adultos; Neurológicas: Ataxia cerebelar e meningoencefalite; Profilaxia: Vacinação aos 15 meses e 4 anos. Pós-exposição: Prevenção de surto de varicela hospitalar – Vacina em imunocompetentes > 9 meses ou Imunoglobulina Anti-Varicela-Zóster se imunodeprimido, gestante ou criança < 9 meses. Síndrome de Reye: Causada pelo uso de AAS durante varicela ou influenza, caracterizando uma encefalopatia aguda não inflamatória que se associa à degeneração gordurosa hepática. O quadro clínico é baseado em vômitos, letargia, confusão/irritabilidade, podendo apresentar hepatomegalia, elevação de transaminases e amônia. É um quadro relativamente grave, embora rara. DOENÇA MÃO-PÉ-BOCA Doença causada por um vírus de RNA fita única, chamado Coxsackievírus, da família Picornaviridae, do gênero Enterovírus. Transmissão: Respiratória por gotículas (1-3 semanas), fecal-oral (7-11 semanas), fômites contaminados e vertical. Mais comum no verão e a criança pode ter várias vezes. Quadro Clínico: Período de incubação: 3-6 dias; Pródromo: Febre baixa, irritabilidade e anorexia; Oroscopia: Hiperemia de orofaringe com lesões vesiculares; Exantema maculopapulovesicular em mãos e pés – Não são pruriginosas; Tratamento: Suporte. Complicações: Pneumonite – mais comum em crianças mais novas e imunodeprimidas; Meningoencefalite - mais comum em crianças mais novas e imunodeprimidas; Miocardite – pode acometer crianças previamente hígidas; Considerar o uso de imunoglobulinas no tratamento. Herpangina tem um quadro clínico semelhante, sendo causada por um Enterovírus, ocasionando febre alta, dor de garganta, disfagia e linfadenopatia cervical. A oroscopia apresenta vesículas e úlceras em orofaringe posterior. Trata-se de um diagnóstico diferencial da Doença Mão-Pé-Boca. MONONUCLEOSE É uma síndrome clínica causada pelo vírus Epstein-Barr (EBV), que pertence à família herpesvírus. Não há sazonalidade. Transmissão: Secreções orais com contato íntimo como beijo (popularmente conhecida como a “doença do beijo”) e por secreções vaginais. Também pode ser transmitido por transfusão sanguínea, transplante de órgãos sólidos ou transplante de células hematopoiéticas. Quadro Clínico: Período de incubação: 30-50 dias; Pródromo: Cefaleia, mal estar, fadiga, dor de garganta e mialgia por 1-2 semanas evoluindo com piora progressiva da dor de garganta e febre prolongada (principalmente em adolescentes, podendo durar 1-2 semanas); Exame Físico: Linfadenopatia cervical de aumento rápido, linfonodos axilares e inguinais, linfonodos epitrocleares. Hipertrofia de amigdalas com exsudato cinza-claro, podendo ocorrer petéquias no palato, que dura 7-10 dias. Pode-se apresentar esplenomegalia até2- 3 cm do rebordo costal esquerdo. A mononucleose não apresenta exantema, a não ser que o paciente seja exposto a derivados de penicilina, causando um exantema maculopapular leve e pruriginoso resultado de uma hipersensibilidade transitória à penicilina que ocorre nesses pacientes. Achados Laboratoriais: Leucopenia; Leucocitose com linfocitose relativa e absoluta com linfócitos atípicos acima de 10% ou 1.000/mm³; Trombocitopenia leve de 50.000 a 200.000/mm³; Aumento das transaminases em até 75% dos casos; Diagnóstico: Teste de anticorpos heterofilos; Anticorpos anti-EBV específicos – IgG e IgM anticapsídeo viral (anti-VCA), IgG antiantígenos precoces (anti-EA) e IgG antiantígeno nuclear (anti-EBNa); Anti-VCA IgM: Persiste por 4 semanas e depois desaparece gradualmente; Anti-VCA IgG: Detectáveis após a primeira semana de doença e declínio lento ao longo de semanas a meses. Persistência por toda a vida; Anti-EA IgG: Persistem por meses e podem se tornar detectáveis de forma intermitente por muitos anos; Anti-EBNa IgG: Últimos a aparecer, geralmente 3-4 meses após o início da doença, e persistem por toda a vida; Tratamento: Suporte – antitérmicos e repouso. Corticoides podem ser utilizados em casos de obstrução de vias aéreas superiores por hipertrofia das amígdalas, anemia hemolítica, trombocitopenia com hemorragia, convulsões e meningite. Complicações: Obstrução da via aérea superior por inflamação orofaríngea; Meningoencefalite; Anemia hemolítica; Trombocitopenia; Rotura esplênica – mais temida e comum em adolescentes na segunda semana de doença por traumatismo abdominal em esportes de contato – raramente fatal;
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