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1 Beatriz Machado de Almeida Emergências psiquiátricas – Aula 8 INTRODUÇÃO O delirium é diferente do delírio. O delirium é um quadro confusional AGUDO (normalmente abre de forma mais abrupta), secundário a CAUSAS ORGÂNICAS (ocorre mais em idosos - doença hepática, renal, neoplasia, infecção (muito comum); pode ser logo após uma cirurgia), de CURSO FLUTUANTE (oscilação que pode ocorrer no mesmo dia), caracterizado por alterações de: • Nível de consciência; • Atenção; • Pensamento; • Sensopercepção – ver coisas, ouvir vozes; • Cognição; • Orientação; • Psicomotricidade – motricidade pode estar mais acelerada ou mais lentificada. OBS.: no delirium (quadro completo citado acima) pode ter delírio. Quando a pessoa delira por drogas (zolpidem ou LSD) não é delirium. O zolpidem estreita o nível de consciência, então é como se a pessoa estivesse meio dormindo, meio acordada e o LSD também não, é um efeito agudo da droga. EPIDEMIOLOGIA • Muito mais incidente em IDOSO, com doenças crônicas (nefropatias, hepatopatias, neoplasias, AIDS, imunodeficiências em geral); Obs.: foi dito AIDS, não HIV, pois se trata da síndrome mesmo e não da infecção. Pode-se ter a infecção e estar tratando direitinho com o coquetel e aí estará tanto assintomático, quanto sem transmitir o vírus. Então clinicamente será uma pessoa imunocompetente. • Pode acometer mais de 50% de idosos internados, chegando a 70-80% deles em UTI; É uma incidência muito alta. • Taxa de mortalidade em pacientes internados: pode chegar a 22-76% (idosos/não-idosos). É um quadro frequentemente letal, e até por acontecer mais em idoso, a taxa de mortalidade já seja mais alta também. Idosos são pessoas que tem muitas doenças crônicas e quanto mais doenças crônicas mais chance de ter um desfecho ruim. GRAVIDADE • Quadro letal; • Maiores taxas de mortalidade – o paciente tende a ter uma taxa de mortalidade maior do que a pessoa que nunca teve delírio; • Prolonga tempo de hospitalização: é um dos motivos do delirium aumentar a taxa de mortalidade. • Maiores taxas de institucionalização: Institucionalização é basicamente tornar o paciente daquela instituição, não é só internar. É uma internação prolongada, por exemplo, 6 meses, 2 anos ou até mesmo pro resto da vida, até o paciente falecer. Lembrar que em hospitais, principalmente clínico, tem muita infecção/contaminação. Além disso, por serem menos observados, os idosos tem mais meios e maior êxito no suicídio. Então, o delirium tende a maiores taxas de institucionalização porque leva não só aquela quebra do convívio dele com a sociedade, mas também a novos transtornos e episódios. Quanto mais tempo o paciente está internado, mais complicação clínica ele tem. FISIOPATOLOGIA • Indefinida; • Mais aceita: mecanismo anticolinérgico; Então, o biperideno, por exemplo, é um anticolinérgico que é usado para tratar síndrome extrapiramidal e pra tratar impregnação em pacientes. VO ou IM (melhora rápida). O problema é que idoso impregnado não se faz o uso de nada para desimpregnar. Nestes casos, troca o antipsicótico. • Fator que contribui: excesso de dopamina. Delirium 2 Beatriz Machado de Almeida Emergências psiquiátricas – Aula 8 Diferente dos antipsicóticos típicos que vão derrubar a dopamina, esses pacientes tem dopamina demais e podem estar suscetíveis a ter um delirium. Isso é a hipótese mais aceita atualmente. CAUSAS • Infecções/sepse: lembrar que o idoso tem infecções que são silenciosas. Por isso, tem que procurar, por exemplo, otite, ITU, endocardite... São causas que às vezes achamos o delirium e depois achamos a infecção; • Imobilização; • Drogas: paciente que usa crack, cocaína... • Cirurgia; • Queimaduras; • Intoxicação/Abstinência: SPA ou medicamentos (biperideno, lítio, fenergan, antiparkinsonianos, antipsicóticpos típicos e benzodiazepínicos); • AVC; • Distúrbio hidroeletrolíticos agudos (Na, Ca, K...); • Insuficiência renal; • Insuficiência hepática; • Hipo/Hiperglicemia: acontece em pacientes que tem hiperglicemia de forma repetida. • Desidratação. FATORES DE RISCO • Idade avançada: quanto maior que 65 anos, maior a chance); • Déficit cognitivo prévio: demências/retardo; Demência ≠ Retardo → retardo a pessoa já nasce com uma inteligência abaixo do normal. Dessa forma, esse indivíduo nunca vai se desenvolver como uma pessoa com tangência normal; Já a demência a pessoa nasce com uma inteligência normal, e quando a pessoa chega na senescência, ela começa a apresentar um declínio cognitivo, podendo ser rápido ou lento, dependendo do quadro, se é algo genético, por exemplo. É muito comum que essas pessoas quando tem algum quadro clínico emendem com delirium; então a demência é um quadro crônico, mas que pode ser “agudizada” com o delirium. Múltiplas doenças crônicas: Quanto mais doenças crônicas o paciente tem, maior a chance de evolução para delirium. • Etilismo; • Déficits sensoriais; • Episódios prévios de delirium: Quanto mais episódio prévios de delirium o indivíduo já teve, maiores são as chances de ocorrer novamente, além de aumentar a chance desse quadro se cronificar, de virar uma situação em que a família vai ter que conviver com isso até o paciente falecer, sendo que às vezes é um dos fatores que influenciam na institucionalização do paciente, pois a família não tem o suporte estrutural e financeiro para cuidar daquele familiar. • Baixo nível de escolaridade: questão de cognição. A pessoa que foi menos estimulada não vai ter o arsenal psíquico para lidar com a situação de conflito, que no caso, é o delirium. • Polifarmácia: Quanto mais medicamentos o paciente usa, maior a chance de interação medicamentosa e piora do quadro • Uso de cateteres e sonda → precipita infecções; • Transtorno depressivo prévio; • Desnutrição. Medicamentos que predispõem/precipitam: A tabela acima traz alguns medicamentos que precipitam delirium. Às vezes quando um psiquiatra é chamado na UTI para fazer uma interconsulta, é muito frequente estar usando várias medicações dessas. Alguns antidepressivos também podem predispor; os ISRS principalmente por questões 3 Beatriz Machado de Almeida Emergências psiquiátricas – Aula 8 hidroeletrolíticas, podendo causar hiponatremia, por exemplo. O lítio, a carbamazepina e o valproato são estabilizadores de humor e os três podem predispor delirium. O tratamento de um velhinho bipolar fica mais restrito. Se o valproato predispõe, o divalproato também, limitando bastante o tratamento de um idoso bipolar. Temos os anticolinérgicos, os diuréticos, os antiarrítmicos, dissulfiran (não é mais utilizado hoje em dia). Dentre os antieméticos tem o vonau (menos pior), o plasil (é o pior) e o dramin (meio termo). Jovem já tem síndrome extrapiramidal, quanto mais idoso, Não existe dose de medicação segura, mas quanto mais fatores de risco o paciente tem, menor dose que já pode predispor. Nesse caso é melhor evitar mesmo. QUADRO CLÍNICO • Início agudo, curso flutuante: oscila de acordo com os dias e as vezes até com as horas. • Prejuízo da atenção, memória e orientação: parece sintoma cognitivo. A diferença entre demência e delirium é que este último tem início agudo e alteração do nível de consciência. • Pensamento delirante e/ou desorganizado: no delirium pode ter delírio, o pensamento pode estar desorganizado, às vezes começa a falar uma coisa, segue uma linha, se perde e volta, avança, se perde e volta, parecendo uma árvore mesmo, conhecido como pensamento arborizado. • Nível de consciência alterado/rebaixado: torpor, obnubilação, coma em alguns casos. • Alucinações visuais, auditivas: alteração de sensopercepção. • Agitação psicomotora ou lentificação: alteração da psicomotricidade, vai dependerdo tipo do delirium. • Alteração ciclo sono-vigília: é muito comum em qualquer transtorno mental, ter alteração do sono, ou é insônia, ou hipersonia (sonolência excessiva diurna), ou inverte o ciclo sono-vigília. É muito comum no velhinho, ele não ter acesso a uma janela, na UTI, por exemplo, para identificar quando é dia e quando não é. Podemos avaliar que no delirium tem muita psicose, caracterizada pelo delírio e alucinação. TIPOS • Delirium hiperativo: inquietação/agitação psicomotora/agressividade. Às vezes é necessária uma contenção mecânica. Pode tirar acesso periférico, dreno, entre outros. • Misto: oscilações, o paciente tem picos de agitação, agressividade, e tem momentos que ele dá uma rebaixada. Nesse delirium não medicamos o tempo todo, vai colocar medicação mais se necessário. • Delirium hipoativo: lentificação psicomotora, letargia/obnubilação/torpor. É um quadro mais grave, porque é difícil identificar se ele já está entrando em coma ou não. RELEMBRAR • Delirium é um quadro orgânico que tem sintomas psiquiátricos, neurológicos. Mais comum em idosos, normalmente que já tem comorbidades mais graves, crônicas. • Esse paciente pode apresentar diversas alterações, dentre elas: nível de consciência, atenção, alteração de pensamento (delírio), alteração de sensopercepção (alucinações). EXAME PSÍQUICO Foco: COGNIÇÃO – raciocínio lógico, atenção, memória, inteligência. • Solicitar que o paciente Conte de 20 até 1 – avaliar de que forma (rápido, lento) ele faz, e se faz. • Dizer os dias da semana de trás pra frente (sábado, sexta, quinta...) • Testar orientação do paciente (onde está, cidade, bairro, data...) • Memória: falar 3 palavras aleatórias, pedir para o paciente repetir imediatamente, e 5 minutos depois. Testar a memória imediata e com um pouco mais de tempo. CONFUSIONAL ASSESSMENT METHOD (CAM) 1:Questionário para abordagem inicial do paciente. Marque um círculo que corresponde ao estado. 4 Beatriz Machado de Almeida Emergências psiquiátricas – Aula 8 2: Algoritmo diagnóstico para o delirium. Para o diagnóstico de delirium, é necessária a presença dos critérios A e B mais a presença do critério C ou do critério D, formando A+B+C ou A+B+D. Esse dispositivo avalia o paciente de forma bem completa, observa o início e cada parte (atenção, percepção). Não é necessário decorar!!! Ajuda para realizar a “anamnese” do delirium. Na suspeita desse acometimento, deve-se focar naquilo que se quer afastar. EXEMPLOS DE QUESTIONAMENTOS • Houve uma mudança aguda no estado mental do paciente? • Ele tem dificuldade em focalizar a atenção? Tá distraído facilmente? • Ele acompanha o que se fala com ele? NVESTIGAÇÃO DIAGNÓSTICA • Exame físico minucioso (inclusive neurológico) – neste caso é importantíssimo ser realizado. Deve-se avaliar reflexo, força muscular, equilíbrio. É muito comum pacientes com delirium apresentarem alterações neurológicas. • Saber funcionalidade prévia do paciente: quanto já tinha de autonomia, o que já fazia e o que não fazia. • Investigar histórico clínico do paciente: traumas, cirurgias recentes, comorbidades. • Avaliar medicações em uso atualmente: como é o uso, se tem risco de erros nas dosagens, podendo ter tomado uma superdosagem ou medicamentos inadequados. • Afastar uso de SPAs/intoxicação por medicamentos. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS – DSM V Todos os critérios são necessários. A. Distúrbio na atenção e vigília – o paciente pode estar hipotenaz, hipovigil, com RNC. B. Mudança na cognição, não explicada por patologia prévia ou demência: está confuso, não consegue se explicar direito, podendo apresentar até uma mudança de “humor” por consequência. C. Início subagudo (horas a dias) e tendência a flutuar durante o dia (e durante os dias) – é muito raro encontrar um caso que já dure “1 mês”; D. Evidência a partir da história, do exame físico ou dos achados laboratoriais indicando que as 5 Beatriz Machado de Almeida Emergências psiquiátricas – Aula 8 alterações são causadas por uma condição médica geral. PESQUISANDO AS CAUSAS • Exames laboratoriais: hemograma, ureia, creatinina, sódio, potássio, cálcio, glicemia em jejum, TSH, T4 livre, AST, ALT, proteínas total e frações... (Hb1Ac pode ajudar um pouco para ver como tem se comportado a glicemia durante os últimos meses, mas o maior foco é nos acontecimentos recentes., de pouco tempo de ocorrência) • Radiografia do tórax se necessário. Exemplo: delirium + tosse. • Sumário de urina, urocultura se necessário. Exemplo: delirium + queixas urinárias. • Gasometria arterial se dispneia. • Punção lombar se rigidez de nuca. • TC de crânio se sinais de trauma. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL O quadro abaixo diferencia delirium, demência e depressão. Diagnóstico diferencial do paciente confuso Delirium Demência Depressão Início Agudo Insidioso Variável Curso Flutuante Progressivo Variação diurna Atenção Desatento Variável Pode estar prejudicada Memória Memória de curta duração prejudicada Mais prejudicada que atenção Pode estar prejudicada Orientação Desorientado Muito desorientado Normal N. consc. Rebaixada Normal Normal Psicose Sim Pode ocorrer em quadros avançados Mais comum em casos graves DELIRIUM: Tem início agudo, é mais rápido. Tem um curso flutuante, melhora, piora, oscilando. O paciente é desatento. Memória de curta duração e recente vão estar prejudicadas. A memória mais antiga, de evocação, não vai estar prejudicada. Normalmente o paciente está desorientado. O nível de consciência provavelmente vai estar rebaixado. Tem psicose (delírios e alucinações). DEMÊNCIA: É bem insidioso, bem lento. É progressivo, sempre com piora lenta. A atenção depende do período da doença, se for no início, a atenção vai estar normal ou começando a ficar ruim. Se for no final, vai estar péssimo. A memória é o que mais está prejudicada, tanto a recente quanto a de evocação. A orientação também depende do período da doença, no início pode estar normal. No fim, muito desorientado (o paciente pode se perder na própria casa). Não tem RNC. Em quadros avançados pode ter psicose. DEPRESSÃO: É o meio termo. Tem um curso com variação diurna. A atenção e memória podem estar prejudicadas. A orientação normalmente está preservada, mas em uma depressão grave pode estar prejudicada. Não tem RNC. Em quadros graves pode ter psicose. TRATAMENTO • Delirium hiperativo e misto: usar medicações em dose baixa e só se risco de agressividade. Contenção mecânica se necessário (se tiver tirando acesso, sonda, apresentar risco para ele ou para equipe). • No delirium hiperativo, o paciente passa mais tempo agitado, inquieto, precisando mais de medicação → usa medicação de horário. • No delirium misto, o paciente tem momento de agitação e momento que rebaixa (parte do delirium hipoativo) → medicação se necessário. • NÃO usar fenergan e benzodiazepínico: precipitam e pioram o delirium. Aumentam o tempo do delirium. OPÇÕES • Haldol em dose baixa → 2,5 – 5 mg (VO e IM). Evita o uso venoso, mas pode. Ex: um idoso que já está com acesso, então, é só administrar por lá mesmo, em dose baixa. Até 10mg pode fazer IV. (evitar fazer). • Risperidona 0,5-1mg (VO) → dose baixa. • Olanzapina 2,5-5 mg (VO). 6 Beatriz Machado de Almeida Emergências psiquiátricas – Aula 8 • Quetiapina 25mg (VO). Para o Haldol (AP típico) pode começar com 0,5 a 1,0 mg V.O. Se o paciente for idoso, titulando até sedação leve, aumentar devagar! O Haldol pode ser utilizado intramuscular se a agitação for extrema, tendo seu pico de ação em 20 a 40 minutos, já é mais rápido. O Haldol tem como efeitos adversos os efeitos extrapiramidais/impregnação (tremor, rigidez articular, hipersialorreia),o prolongamento do intervalo QT no ECG e o risco de o paciente desenvolver a síndrome neuroléptica maligna, quadro bem grave, mas bastante raro. Fazendo o AP em doses baixas e sem misturar antipsicóticos, é mais seguro. O problema é quando se mistura muito, quando faz uso de AP de depósito ou injetável. Mas usando somente um AP ou fazendo administração IM de vez em quando, normalmente, não tem problema. *O Haldol é o agente de escolha, normalmente é a zona de conforto do médico, dá uma maior segurança. Evitar administração venosa, pois diminui a duração, se já está no sangue, será metabolizado mais rápido, além de elevar o risco de arritmia, lembrando, porém, que temos os 10 mg que são seguros, mas, em um idoso, até mesmo essa quantidade já pode ser mais arriscada, principalmente se o idoso já for cardiopata. Evitar o uso de Haldol em portadores de síndrome de abstinência e em pacientes com insuficiência hepática. AP atípicos como a Risperidona a Quetiapina e a Olanzapina podem provocar efeitos extrapiramidais (mais raro), bem como prolongamento do intervalo QT no ECG (mais raro também). Alguns trabalhos associaram esses três atípicos ao maior risco de morte em idosos com demência, embora isso não seja ainda uma verdade científica (está sendo investigado, e ainda são considerados ainda medicamentos seguros). São AP menos bem avaliados em estudos controlados. Portanto, de escolha, preferencialmente o Haldol, mas os 3 atípicos citados também podem ser usados. Benzodiazepínicos: 0,5 a 1 mg V.O. com doses adicionais a cada 4 horas, se necessário. Lembrando que o Lorazepam também é de vida curta. Os riscos do Lorazepam são agitação paradoxal (paciente faz uso do Lorazepam e fica agitado, ao invés de mais calmo; é uma reação que pode acontecer com qualquer benzo, mas a chance é pequena), sedação excessiva e depressão respiratória (em dose alta, no paciente que ingeriu álcool, o Lorazepam é mais tranquilo). Evitar em pacientes com delirium. É um medicamento de segunda linha, o de primeira linha é o Haldol e os AP atípicos. Por ser um benzo, pode piorar e prolongar os sintomas de delirium. Então, o lorazepam é reservado para o uso em pacientes com abstinência alcóolica, síndrome neuroléptica, doença de Parkinson. CONDUTA NA EMERGÊNCIA DO PACIENTE COM DELIRIUM Evitar contenção física do paciente* Primeiro é feito o diagnóstico de delirium (identificar e tratar a causa), não adianta ficar medicando o paciente com Haldol/Olanza se não é identificada a causa (infecção respiratória, urinária, otite) e nem é feito o tratamento. Se não passa o 7 Beatriz Machado de Almeida Emergências psiquiátricas – Aula 8 ATB para tratar a causa da infecção, por exemplo, o paciente não melhora. Importante identificar e tratar a causa! Temos dois manejos imediatos, o farmacológico e o não farmacológico. MANEJO IMEDIATO NÃO FARMACOLÓGICO O não farmacológico compreende as orientações para o delirium, é muito importante. No delirium hipoativo, não se medica! Portanto, se deve orientar o paciente. É preciso saber as orientações. Cautela no uso de AP, permitir familiar próximo ao leito (quando o paciente vê o familiar, ele começa a se lembrar, se orienta melhor, lembra quem é ele), evitar a contenção física do paciente (a não ser em casos que o paciente possa remover um acesso, um dreno, agredir a equipe), minimizar alterações de sono e vigília com luzes naturais do quarto (tentar deixar janela aberta; sendo UTI, ideal que a luz entre de alguma forma; isso melhora a orientação do paciente), manter relógios e calendários no quarto e estimular reorientação (o paciente vê as horas, o calendário para ver os dias passando), estimular a cognição deixando objetos familiares no quarto (porta retrato, um vaso, óculos do paciente, etc.; o que for permitido, objetos que não causem um transtorno no local). Obs. Cromoterapia é utilizada para delirium. Seriam ansiolíticos não medicamentosos, assim como a aromaterapia, massagem, estímulo à deambulação. MANEJO IMEDIATO FARMACOLÓGICO Uso de álcool e retirada súbita de benzo, ou seja, abstinência: Midazolam 5mg IM, ou seja, uma dose bem pequena. Poderia ser um Lorazepam também, 0,5 a 1mg a cada 4h, dose pequena e com cuidado, para não piorar o delirium. Se o paciente estiver agitado, tem alteração de comportamento, tem manifestação psicótica, vai precisar de um antipsicótico, que pode ser um típico ou um atípico, que seria o Haloperidol, Olanzapina, Risperidona e Quetiapina (que não aparece do protocolo da imagem). Evitar: • Benzo (exceto condição acima); • Sedativos; • Anticolinérgicos; • Anti-histamínicos. TRATAMENTO DELIRIUM HIPOATIVO Hipoativo: paciente já está mais molinho, pra baixo. Então não vai medicar. • Encontrar e tratar a causa de base. • Retirar/reduzir medicamentos sedativos: se ele agitar depois é até melhor do que ficar super mole, então vai reduzir até achar a dose ideal. • Medidas comportamentais. ❖ Colocar calendários e relógios próximos ao paciente; ❖ Deixar a luz do sol penetrar no quarto/UTI; ❖ Orientar o paciente “hoje é dia ..., sou fulano, seu filho”; ❖ Evitar contenção física; ❖ Deixar objetos familiares do quarto; ❖ Alternativas não-medicamentosas para ansiedade e sono (música, técnicas de relaxamento...); ❖ Estimular deambulação; ❖ Estimular autocuidado e comunicação (ex.: estimular pentear o cabelo. Se o paciente não conseguir, faz por ele, mas se ele puder fazer, melhor ainda); ❖ Evitar cochilos durante o dia; ❖ Adequar local para sono mais profundo à noite: O ideal é deixar o paciente dormir durante a noite. CASO CLÍNICO 1 João, 79 anos, hepatopata crônico, foi internado em hospital clínico, na UTI, devido a quadro de RNC há 17 dias, ainda sob investigação diagnóstica. Tem apresentado alucinações visuais, inquietação, pornofonia e hipotenacidade. Hoje, tentou arrancar o acesso periférico e a sonda vesical, mas foi impedido e contido mecanicamente. Ao exame, agitado, pensamento desorganizado. Questão 1: Qual a melhor conduta medicamentosa para o paciente João? a) Haldol 5mg 1 cp. VO + Fenergan 25mg 01 cp VO. b) Haldol 5mg 02 amp. EV. c) Clonazepam 0,25mg 02 cp sublingual. 8 Beatriz Machado de Almeida Emergências psiquiátricas – Aula 8 d) Midazolam 15mg 01 amp IM. Lembrar: fenergan e benzo tem que evitar ao máximo no idoso. Então, a 1º alternativa tá errada. Alternativa C: clonazepam sublingual não seria o ideal, porque um idoso agitado não iria ficar com medicamento sublingual. Além disso, o paciente é hepatopata, e o benzo que usa em hepatopata é o Lorax. Já está errado por ser benzo e mais ainda por ser hepatopata. Alternativa D: seria uma bomba para o paciente do caso, já que ele tem 79 anos, e 15 mg é uma dose bem alta. Além disso, ele é hepatopata. A alternativa menos pior é o haldol venoso. Só pra reforçar: nenhuma conduta da questão é a ideal. As melhores opções seriam: ❖ Haldol 5mg VO (1 ou ½ cp) ❖ Haldol 5mg uma ou ½ ampola IM ou EV (EV pensando no acesso, que ele já tem, e para evitar “furadas”, ainda mais se ele for magrinho); ❖ Quetiapina 25mg (1 ou ½ cp VO); ❖ Olanzapina 5mg (1 ou ½ cp VO); ❖ Risperidona 0,5mg ou 1mg VO (comprimido ou solução). CASO CLÍNICO II Cleide, 89 anos, portadora de Alzheimer há 19 anos, iniciou, há 3 dias, quadro de tosse, febre, delírios persecutórios (acha que a família está envenenando sua comida), irritabilidade e raptos de agressividade. Foi internada, e a equipe da psiquiatria foi acionada para interconsulta. Já está em uso de antibioticoterapia. Questão 1: Como poderíamos ajudar neste caso? (A antibioticoterapia por causa da febre e tosse, provável infecção de vias aéreas). Resposta: medidas comportamentais. • Colocar calendários e relógios próximosao paciente; • Rever prescrição, ver se ela está usando algo que seria importante tirar; • Abrir janela para luz do sol entrar; • Estimular deambulação (ver se é possível); • Evitar cochilos durante o dia; • Adequar local para sono mais profundo à noite; • A equipe pode fazer contenção mecânica se necessário.
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