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COMPETÊNCIA INTERNACIONAL

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Competência internacional
Introdução
A competência internacional refere-se ao poder do Judiciário de um Estado de examinar processos judiciais que envolvam conexão internacional. 
A competência internacional é ainda, como evidencia a jurisprudência brasileira, o poder para decidir uma causa com conexão internacional. Por fim, a competência internacional refere-se à possibilidade de que uma ação seja proposta no Judiciário brasileiro ou estrangeiro ou, eventualmente, em ambos ao mesmo tempo.
Princípios básicos
A definição da competência internacional parte, inicialmente, do princípio da “territorialidade das leis de organização e competência dos tribunais”, pelo qual cada Estado pode estabelecer os poderes de seus órgãos jurisdicionais no âmbito internacional.
A competência internacional também obedece ao princípio perpetuatio fori, segundo o qual a competência, uma vez determinada, é firmada permanentemente.
Tipos de competência
Concorrente: o art. 21 do CPC/2015 apresenta, em linhas gerais, regras já conhecidas tanto da LICC de 1942 (art. 12) quanto do CPC/1973 (art. 88) no estabelecimento da competência internacional do Poder Judiciário brasileiro, assim dispondo:
Art. 21. Compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações em que: 
I – o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil; 
II – no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação; 
III – o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil. 
Parágrafo único. Para o fim do disposto no inciso I, considera-se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que nele tiver agência, filial ou sucursal. 
Em ambas essas hipóteses pode o autor escolher perante qual foro será ajuizada a ação, se o estrangeiro ou o nacional, pois, como se disse, a competência da autoridade judiciária brasileira é, aqui, concorrente. A possibilidade de escolha do foro perante o qual se pretende ver julgada ação é o que se denomina forum shopping. Trata-se de direito potestativo do autor, 
fundado na autonomia da vontade e baseado na expectativa de que o foro eleito é o que melhor atende os seus interesses (o que é absolutamente legítimo quando exercido de boa-fé, é dizer, sem abuso de direito ou fraude à lei).
As demais hipóteses de competência concorrente do CPC/2015 vêm expressas no art. 22, que estabelece: 
Art. 22. Compete, ainda, à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações: 
I – de alimentos, quando: a) o credor tiver domicílio ou residência no Brasil; b) o réu mantiver vínculos no Brasil, tais como posse ou propriedade de bens, recebimento de renda ou obtenção de benefícios econômicos;
II – decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor tiver domicílio ou residência no Brasil;
III – em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem à jurisdição nacional;
Merece destaque o inciso III do art. 22, que atribui à autoridade judiciária brasileira competência para processar e julgar as ações “em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem à jurisdição nacional” (princípio da submissão). Aqui, como se percebe, o Código abre as portas da Justiça brasileira à discussão de todos os litígios em que as partes pretendam, expressa ou tacitamente, encontrar solução no Judiciário pátrio, ainda que as questões debatidas não guardem qualquer contato com a nossa ordem jurídica. A autoridade judiciária brasileira, nesses casos, não poderá, por expressa determinação legal, declarar-se incompetente para o exame da matéria, especialmente à luz da ratio do dispositivo em causa, que é a de transformar o país em novo foro internacional de solução de controvérsias.
Exclusiva: oart. 23 do CPC/2015 prevê as hipóteses de competência exclusiva (absoluta, não cumulativa) da autoridade judiciária brasileira, aquelas que excluem a possibilidade de atribuição de efeitos a qualquer decisão de tribunal estrangeiro sobre a mesma lide, nestes termos: 
Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra:
I – conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil;
II – em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de testamento particular e ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional;
III – em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional.
Em todos esses casos, proíbe-se que surtam efeitos no Brasil quaisquer decisões de tribunais estrangeiros sobre a questão sub judice, não propriamente que tais tribunais decidam sobre os temas ali referidos; seria disparate pretender a legislação brasileira que outra soberania (que também conta com legislação processual própria) ficasse impedida de agir como lhe aprouvesse em matéria jurisdicional. O que se tem, portanto, de fato, nas hipóteses de competência exclusiva previstas no art. 23 do CPC/2015, é atribuição de efeitos exclusivos às decisões do Judiciário pátrio, ainda que existam decisões de tribunais estrangeiros sobre o conflito de interesse em questão; havendo decisões de tribunais estrangeiros sobre a mesma lide, tais decisões serão válidas conforme o direito local, mas inaplicáveis no Brasil, por não serem passíveis de homologação pelo STJ.
Afastamento da competência
O art. 25, caput, do CPC/2015, prevê uma hipótese em que não competirá à autoridade judiciária brasileira o processamento e julgamento da ação, qual seja: quando houver cláusula de eleição de foro exclusivo estrangeiro em contrato internacional, arguida pelo réu na contestação. Nesse caso, mesmo tendo a Justiça brasileira competência (concorrente) para o julgamento da causa, esta há de ser afastada em razão da autonomia da vontade das partes. 
O CPC/2015, de uma vez por todas, aboliu as incertezas doutrinárias e jurisprudenciais que antes recaíam sobre o tema, ao admitir expressamente o desligamento da jurisdição nacional – no âmbito de incidência da competência concorrente – quando houver cláusula de eleição de foro exclusivo estrangeiro inserta em contrato internacional, se arguida pelo réu na contestação. Não havendo, porém, arguição do réu na contestação, a cláusula eletiva não opera, caso em que o acordo prévio das partes não terá efeito e a prevalência será da vontade atual (é dizer, da competência da jurisdição nacional). 
A disposição do art. 25, caput, é extremamente salutar, pois, como lembra Carmen Tiburcio, “atende a interesses econômicos não só dos empresários brasileiros individualmente, mas também do comércio internacional brasileiro em geral, porque reduz o custo de transação em negócios internacionais, tornando as empresas nacionais mais competitivas”, além do que “diminui, dentre outros, os custos relacionados ao risco jurisdicional, porque as partes já saberão de antemão qual foro será internacionalmente competente para apreciar eventual controvérsia que surja entre si em razão dos negócios firmados”.
O § 1º do art. 25, por sua vez, deixa claro que “não se aplica o disposto no caput às hipóteses de competência internacional exclusiva previstas neste Capítulo”, complementando o § 2º que “aplica-se à hipótese do caput o art. 63, §§ 1º a 4º (regras sobre eleição de foro)”. Portanto, a vontade das partes não é apta a derrogar as hipóteses de competência exclusiva previstas pela lei adjetiva, senão apenas as hipóteses de competência concorrente (arts. 21 e 22 do Codex). 
Por fim, também não se aplicará o art. 25 do CPC/2015 quando em causa normas de aplicação imediata, como são as de proteção do consumidor.

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