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PCNs, Diretrizes e Propostas Pedagógicas Estadual e Municipal do Ensino da Língua Portuguesa

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METODOLOGIA DO 
ENSINO DA 
LINGUAGEM
Leticia Finkenauer
Parâmetros Curriculares 
Nacionais, diretrizes e 
propostas pedagógicas 
estaduais e municipais 
para o ensino da língua 
portuguesa – histórias, 
concepções e práticas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 n Identifi car as orientações dadas pelos PCNs, PCNs+ e OCEMs.
 n Relacionar as orientações nacionais com as orientações estaduais 
de ensino.
 n Reconhecer as competências e habilidades atuantes nos documentos 
norteadores.
Introdução
Neste texto, você verá quais são os documentos norteadores do ensino 
no Brasil e suas extensões para dois estados brasileiros. Desse modo, 
explorará a concepção de linguagem nos documentos e atrelará a ela 
a concepção de ensino por competências e habilidades. Além disso, 
você entenderá como cada estado pode se apropriar da LDB e dos 
PCNs. É importante que você compreenda que cada estado deve ter 
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seu referencial curricular, dadas as dimensões continentais do território 
brasileiro.
A legislação escolar no Brasil
A escola é parte integrante da sociedade moderna e assume papéis que 
envolvem desde a construção do conhecimento, passando pelo auxílio ao 
gerenciamento do tempo da família, pela socialização e pelo convívio com 
as diferenças. Para que esse turbilhão de informações, conhecimento, tempo, 
espaço e pessoas possibilite a construção de um espaço escolar, são necessárias 
diretrizes, leis, parâmetros, estratégias. Para começar, você vai compreender 
melhor o que são os parâmetros. A seguir, analisará alguns caminhos traçado 
pelos documentos vigentes no Brasil a partir de uma breve explanação de 
Finkenauer (2016).
Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB)
Em princípio, há a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) vigente. Ela 
é baseada na LDB 4.024/61, promulgada em 1961 (BRASIL, 1961). Essa lei 
refl etia a visão de uma sociedade mais tecnicista e behaviorista. Para a teoria 
behaviorista, no ensino, o professor assumia o controle sobre a aprendizagem 
dos alunos com propostas educacionais rígidas. Desse modo, ele era visto como 
um mero reprodutor de conteúdos. Já os alunos eram tidos como indivíduos 
que deveriam reagir a estímulos dados pelo professor por meio das matérias. 
Além disso, o foco do ensino era o desenvolvimento técnico e profi ssionali-
zante. Logo, como você deve imaginar, em uma sociedade descrita assim, se 
entende como núcleo social a mecanização e a produção. No ensino de uma 
língua, isso se volta para a decodifi cação de palavras.
Com a redemocratização, nos anos 1990, se aprovou uma nova LDB, a 
LDB 9.394/96 (BRASIL, 1996). Ela propõe a divisão da educação brasileira 
em dois níveis: a educação básica e o ensino superior. Além disso, prevê que a 
educação esteja vinculada ao trabalho e à prática social. Tendo isso em mente, 
nos anos 1990, a sociedade brasileira, caracterizada como mais tecnológica, 
virtual e urbanizada, se viu questionada sobre suas concepções de educação. 
Tornou-se necessário, então, implementar novos padrões de ensino.
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A tecnologia trouxe novos desafios. Entre eles, o de repensar os conhecimentos neces-
sários para a formação dos cidadãos brasileiros, o conceito de cidadania e o papel dos 
cidadãos como sujeitos em uma sociedade moderna e tecnológica. Em consonância 
com essa formação, a LDB de 1996 (BRASIL, 1996) determina que a educação deve 
cumprir um papel econômico, científico e cultural.
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs)
A fi m de concretizar o cumprimento dessas determinações previstas pela LDB, 
foram criados, em 1997, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Eles 
têm o propósito de qualifi car o ensino, transformando o aluno em um cidadão 
crítico e autônomo. Sua criação se justifi ca pela necessidade de dar conta das 
discussões pedagógicas da época. Os PCNs não têm um caráter regulador. 
No entanto, servem de base para o trabalho em sala de aula. Isso ocorre pois 
têm a função de “[...] orientar e garantir a coerência dos investimentos no 
sistema educacional, socializando discussões, pesquisas e recomendações” 
(BRASIL, 1997, p. 13).
Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio 
(PCNEMs)
Somente nos anos 2000 surgiram os Parâmetros Curriculares Nacionais para 
o Ensino Médio (PCNEMs). No documento em que eles são formulados, 
há uma preocupação e uma urgência em repensar as diretrizes gerais e os 
parâmetros curriculares que orientam esse nível de ensino. Nessa tentativa de 
reestruturação do Ensino Médio (EM), surge o Novo Ensino Médio. Nele, se 
busca uma reformulação, no sentido de propiciar uma formação mais geral e 
não segmentada aos estudantes. É importante que você compreenda que esse 
documento traz o conceito de “revolução do conhecimento”, ao entender que 
há uma alteração no modo da organização do trabalho e das relações sociais 
na sociedade dos anos 2000. Assim, já se demonstra um desejo embrionário 
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pela reestruturação do EM por áreas e não por disciplinas, conforme se observa 
no próprio documento.
Essa reforma do ensino médio se dá por áreas, pois os conhecimentos devem ser 
vistos e trabalhados de forma integrada, e não compartimentada. As áreas propostas 
são: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Ciências da Natureza, Matemática e 
suas Tecnologias e Ciências Humanas e suas Tecnologias. Ao analisar esse documento 
(BRASIL, 2000), você pode perceber que no currículo deve aparecer, pelo menos, uma 
língua estrangeira (LE), atribuindo à comunidade escolar o poder para escolhê-la. No 
entanto, não há nenhuma menção ao E/LE.
Parâmetros Curriculares Nacionais + (PCNs+)
A fi m de que realmente ocorressem mudanças para um Novo Ensino Médio, 
em 2002 se elabora mais um documento, os Parâmetros Curriculares Nacio-
nais + (PCN+) (BRASIL, 2002). Tal documento reitera a importância de ver 
o ensino de forma integrada. Isso pode ser feito, por exemplo, ao se trabalhar 
competências gerais, como (BRASIL, 2002):
 n saber buscar informações;
 n enfrentar problemas;
 n criticar;
 n solucionar;
 n argumentar.
Há ainda uma revisão sobre a LBD vigente, além de uma crítica aos projetos 
político-pedagógicos que não se renovam.
Orientações Curriculares do Ensino Médio (OCEMs)
Depois de quatro anos, em 2006, surgem as Orientações Curriculares do Ensino 
Médio (OCEMs). Essas orientações têm como objetivo geral contribuir para 
o diálogo sobre a prática docente entre professor e escola. 
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Ao confrontar os dados identificados nos PCNs+, você pode perceber que as OCEMs 
(BRASIL, 2006) não operacionalizam as habilidades, mas esperam que elas sejam 
depreendidas por meio de projetos estruturantes com base nos gêneros textuais.
O papel dos estados
Em consonância com esses documentos apresentados, cada estado tem a auto-
nomia de elaborar seu próprio referencial curricular. No estado de São Paulo, 
há uma proposta curricular que surgiu do levantamento do acervo documental 
e técnico existente e também de dados coletados nas escolas.
Tantos os parâmetros nacionais quanto os estaduais têm separado a área 
de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias para as disciplinas de português, 
língua estrangeira moderna, arte e educação física. Isso ocorre porque os 
documentos entendem a linguagem como a capacidade humana de articular 
significados coletivos em sistemas arbitrários de representação. Assim sendo, se 
compreende a linguagem como a produção de sentido e, por isso, se trabalha de 
modo linguístico, musical, corporal, gestual. O aluno é apresentado a diversas 
experiências escolares com essa concepçãode linguagem, permitindo que as 
vivências sejam cidadãs e transformadoras de realidades.
O estado de São Paulo segue a perspectiva de ensino vigente nos Parâmetros 
Curriculares Nacionais. Nele, há uma proposta integrada de ensino de português 
e literatura. Ou seja, mesmo em estudos de língua padrão há trabalho de identi-
ficação de intencionalidades de personagens, dando ao aluno a oportunidade de 
lidar com o texto em diversas situações de interação social. Segundo o documento 
de São Paulo (FINI; VIEIRA, 2011), isso é desenvolver letramento, pois há 
níveis de letramentos e eles são estabelecidos na variedade de gêneros textuais.
Na proposta curricular do estado de São Paulo (FINI, 2008), os eixos são apresentados 
sobre os pilares de tipologias textuais, gêneros textuais, texto e discurso e texto e história.
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Já no estado do Rio Grande do Sul, a Secretaria de Educação (SEDUC RS) 
adotou medidas para essa realidade. Ela elaborou os referenciais curriculares 
para as escolas estaduais gaúchas. A perguntas norteadora para a elaboração 
desse documento é “[...] o que se quer que os alunos aprendam e o que e como 
ensinar para que essas aprendizagens aconteçam?”.
Os Parâmetros não são um material a mais para enviar às escolas sozi-
nhos. Formulados em nível nacional para um país grande e diverso, os 
Parâmetros também não continham recomendações suficientes sobre 
como fazê-los acontecer na prática. Eram necessariamente amplos e, 
por essa razão, insuficientes para estabelecer a ponte entre o currículo 
proposto e aquele que deve ser posto em ação na escola e na sala de 
aula. (RIO GRANDE DO SUL, 2009).
Desse modo, as competências de referência são as do Exame Nacional 
do Ensino Médio (ENEM). Já as habilidades são as que possibilitam apren-
der os conteúdos disciplinares, ou seja, observar, identificar, comparar, 
reconhecer, calcular, discutir, definir a ideia principal, desenhar, respeitar, 
consentir, etc.
Nos referenciais curriculares do Rio Grande do Sul (2009), as competên-
cias norteadores são ler, escrever e resolver problemas. Como competências 
correspondentes, há um recorte dos eixos dos PCNs+ transposto para o do-
cumento gaúcho. Os eixos são: representação e comunicação, investigação e 
compreensão e contextualização sociocultural.
Cada eixo possui uma função. O eixo da representação e comunicação abarca conheci-
mentos sobre significação do mundo e interação interpessoal. O eixo da investigação e 
compreensão é aquele responsável por possibilitar conhecer as formas de representar 
o mundo. O último eixo, por sua vez, é aquele que se ocupa da interação com o outro 
no espaço em que acontece.
Competências e habilidades
Outra questão fundamental dos parâmetros nacionais e estaduais é a abordagem 
do ensino por competências e habilidades. O desenvolvimento da habilidade 
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linguística não é somente do domínio metalinguístico nem envolve apenas 
fazer árvores sintáticas. Ele está na competência performativa, ou seja, no 
uso da língua em diferentes espaços e situações. Desse modo, você pode 
considerar como competências:
n Dominar a norma-padrão da língua portuguesa e fazer uso das lingua-
gens matemática, artística e científica.
n Construir e aplicar conceitos das várias áreas do conhecimento para a
compreensão de fenômenos naturais, de processos histórico-geográficos,
da produção tecnológica e das manifestações artísticas.
n Relacionar informações, representadas em diferentes formas, e conheci-
mentos disponíveis em situações concretas para construir argumentação 
consistente.
n Recorrer aos conhecimentos desenvolvidos na escola para elaborar
propostas de intervenção solidária na realidade, respeitando os valores 
humanos e considerando a diversidade sociocultural.
Como você pode perceber, em meio aos parâmetros nacionais e estaduais, 
os termos da vez são letramento, competências e habilidades para as aulas de 
língua materna. Desse modo, se faz necessário estudar referenciais teóricos, 
diretrizes e parâmetros antes de preparar materiais para sala de aula. Isso 
ocorre porque cada aula e cada turma de alunos exigem particularidades que 
são previstas nos documentos e que, no entanto, não são receitas.
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