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CIRURGIA GERAL – 6º PERÍODO – GRAZIELA BENEVIDES UROLOGIA – CIRURGIA GERAL ➔ CÂNCER DE PRÓSTATA: • INTRODUÇÃO: - Segunda neoplasia mais frequente entre os homens em todo o mundo; - 223 mil novos casos e 29.480 mortes em 2014 nos EUA; - O câncer de próstata (CaP) só fica atrás do câncer de pele não melanoma; - A incidência do CaP aumentou de forma dramática no início da década de 90, concomitantemente à utilização do antígeno prostático específico (PSA) sérico, que é uma glicoproteína da família das calicreínas produzida pelo epitélio prostático. - O PSA não é considerado exclusivamente um marcador câncer-específico, mas sim órgão- específico, podendo estar alterado não só no CaP, mas também na hiperplasia prostática benigna (HPB), traumas, prostatites, entre outras. - Depois de um pico inicial, as taxas de incidência caíram, mas têm persistido a uma taxa quase duas vezes maior que a registrada na era pré-PSA. - O aumento da incidência do CaP pode ser parcialmente justificado pela evolução dos métodos diagnósticos, melhoria na qualidade dos sistemas de informação do país e aumento da expectativa de vida dos homens. - O risco de um homem ter um CaP diagnosticado durante a sua vida é de 16%, dado que demonstra a alta prevalência desta neoplasia. - O risco de mortalidade é de apenas 3,4%, o que consolida a sua indolência numa grande proporção de casos. • FATORES DE RISCO: - Aumento da idade; - Origem étnica (raça negra); - Predisposição genética; OBS: Na presença de um parente de primeiro grau com CaP, o risco aumenta 2x. Se dois ou mais parentes de primeiro grau são afetados, o risco aumenta em 5-11 vezes. - Os genes HPC-1 e BRC-1 são os responsáveis pela transmissão hereditária do CaP. - Fatores de risco exógenos como dieta, comportamento sexual, consumo de álcool, exposição à radiação ultravioleta e exposição ocupacional podem ter papel no desenvolvimento do CaP, mas ainda faltam evidências para consolidá-los como fatores de risco definitivos. • RASTREAMENTO DO CaP: - Deve ser realizado após ampla discussão de riscos e potenciais benéficos; - A SBU recomenta que homens a partir de 50 anos devem procurar um profissional especializado; - Aqueles que possuem parentes de 1º grau com CaP ou são de raça negra deverão iniciar o rastreamento aos 45 anos; - Pacientes com idade entre 55-69 anos deveriam ser considerados para o rastreamento, após exposição dos benefícios e riscos; - Caso o paciente opte pela realização do rastreamento, a avaliação deverá ser anual através do toque retal e dosagem do PSA; - Após os 75 anos, o screening é recomendado apenas aos homens com expectativa de vida acima de 10 anos; • DIAGNÓSTICO: - É baseado no estudo histopatológico da próstata; - A biópsia transretal de próstata guiada por ultrassom (BRTP) é o método recomendado na grande maioria dos casos suspeitos; - São recomendadas, no mínimo, a retirada sistematizada de 12 fragmentos de locais diferentes da glândula; - Recomenda-se um número maior de fragmentos em próstatas de maior volume; - A BTRP é solicitada na presença de TR alterado (presença de nódulo ou área de endurecimento) ou níveis de PSA fora dos padrões esperados, após as adequações necessárias para a idade e volume da próstata; - Os níveis sanguíneos do PSA não se mantêm estáveis ao longo da vida, com tendência de elevação sérica com o avançar da idade; - São 4 as características de adequação do PSA: 1) PSA x IDADE: CIRURGIA GERAL – 6º PERÍODO – GRAZIELA BENEVIDES 2) RELAÇÃO LIVRE/TOTAL (% PSA LIVRE): - Deve ser utilizada apenas quando o PSA total se encontra entre 4 e 10 ng/dL, faixa conhecida como zona cinzenta; - Quando a relação é menor que 10%, o risco da doença aumenta significativamente; - Valores acima de 20%, a probabilidade de CaP é reduzida e, provavelmente, ocorre doença benigna (HPB); 3) VELOCIDADE DE CRESCIMENTO DO PSA: - Normal: 075 ng/dL por ano; - Valores de crescimento acima desse ponto de corte reforçam a hipótese de CaP; - Pacientes abaixo de 50 anos, a velocidade de crescimento mais adequada é de até 0,4 ng/dL/ano; 4) DENSIDADE DO PSA: - Definida como o valor do PSA total dividido pelo volume da próstata (peso, em gramas); - Cada 1g de próstata normal produz 0,1 ng/dL de PSA total; - Valores acima de 0,15 costumam sugerir doença neoplásica (CaP); - BTRP negativa para tumor na presença de forte suspeita de CaP indica a necessidade de uma nova biópsia (re-biópsia), que deve ser solicitada com intervalo mínimo de seis a oito semanas. - O estudo imunohistoquímico avalia a presença de células da membrana basal ductal que, quando ausentes, identifica o CaP (perda das células da membrana basal). - O IHQ é bastante sensível para a pesquisa do CaP e deve sempre ser realizado em pacientes portadores de ASAP, porque essa condição está associada ao CaP em, pelo menos, metade dos casos. - Quando realizadas com técnicas adequadas, o máximo de 4 biópsias devem ser solicitadas em períodos de tempo determinados. As chances de detecção diagnóstica em 4 biópsias consecutivas são decrescentes. Por esse motivo, após a segunda biópsia realizada, deve-se discutir a utilização da biópsia de saturação (número maior de fragmentos retirados, principalmente em áreas suspeitas). Esse tipo de biópsia aumenta a chance de positividade, fornece dados sobre a extensão da doença, reduz a possibilidade de subestadiamento, tendo maior relevância nos casos de indicação de seguimento vigilante (active surveillance). - A ressonância magnética multiparamétrica da próstata com espectroscopia, pode direcionar a biópsia para áreas suspeitas em pacientes com PSA elevado e biópsias negativas. - A BTRP necessita de analgesia para o controle da dor, podendo ser realizada com anestesia local e bloqueio da região posterolateral da próstata, ou com sedação. - A combinação de bloqueio anestésico local e sedação garante maior conforto ao paciente. O procedimento necessita de antibioticoprofilaxia, e o regime mais adotado é o uso de uma quinolona por 3 a 5 dias. - Complicações: sangramento retal, hematúria, episódios vasovagais, infecção, febre, hematospermia, disúria persistente, prostatite aguda e urossepse. Além dessas, a repetição da BTRP pode causar disfunção erétil por lesão direta dos nervos eréteis, localizados posterolateralmente à próstata. • POSSÍVEIS ACHADOS DA BTRP: a) ADENOCARCINOMA DE PRÓSTATA: - 98% dos tumores malignos prostáticos correspondem ao adenocarcinoma de próstata; - Prognóstico da doença avaliado através do sistema de Gleason; o Escore de Gleason: - Baseia-se na arquitetura microscópica do tumor e é composto por 5 padrões histológicos; CIRURGIA GERAL – 6º PERÍODO – GRAZIELA BENEVIDES - Do menor para o maior, as células malignas vão perdendo a diferenciação celular (quanto mais diferenciada, mais próxima da célula normal) e adquirindo arquitetura mais complexa; - O escore de Gleason pode classificar o tumor em padrões mais bem diferenciados (1, 2 e 3), até aqueles pouco diferenciados ou indiferenciados (4 e 5); - O escore de Gleason é composto por dois valores (duas notas). Ambas as notas variam de 1 a 5, sendo a primeira atribuída ao padrão mais prevalente, e a segunda igualmente atribuída ao segundo padrão mais prevalente nos fragmentos analisados pelo patologista. Dessa forma, o escore de Gleason pode variar de 2 a 10, mas na prática atual, a maioria dos CaP possui escore ≥ 6. - Portanto, tumores compostos por padrões 3, 4 e ou 5 são considerados clinicamente significativos, assim classificados: o Neoplasia de baixo grau – Gleason 3+3 o Neoplasia de grau intermediário – Gleason 3+4 ou 4+3 o Neoplasia de alto grau – Gleason 4+4, 4+5, 5+4 ou 5+5 b) PROLIFERAÇÃO ATÍPICA DE PEQUENOS ÁCINOS (ASAP): - Termo utilizado em caso de dúvida, quando não há critériospara o diagnóstico do câncer; - O diagnóstico do câncer pode ser confirmado pela imuno-histoquímica; - Nos casos onde o diagnóstico é negativo para CaP, os pacientes devem ser acompanhados com cuidado, pois cerda de 40% dos portadores de ASAP desenvolverão CaP; c) NEOPLASIA INTRAEPITELIAL PROSTÁTICA (PIN): - São lesões atípicas do epitélio de revestimento de ductos e ácinos; - As células não apresentam características de malignidade; - Cerca de 20% dos pacientes com PIN de alto grau têm CaP ou vão desenvolvê-lo; d) PROSTATITES: - Infiltrados inflamatórios são comuns em biópsias de próstata, e não significam necessariamente uma prostatite de significado clínico; e) HIPERPLASIA PROSTÁTICA BENIGNA (HPB): - Crescimento não neoplásico, devido à hiperplasia do estroma e do tecido glandular; - O diagnóstico é histológico e se refere à proliferação do músculo liso e das células epiteliais da zona de transição; f) ATROFIA: - Resultante de inflamação, isquemia, radiação ou hormonioterapia; - Não é considerada alteração pré-maligna; • EXAMES COMPLEMENTARES: - São solicitados com o intuito de detectar possíveis extensão da doença para linfonodos ou metástases à distância; - A principal via de disseminação linfática é a cadeia ilíaco-obturadora; - A principal via de disseminação hematogênica é a óssea, principalmente do esqueleto axial, quadril e fêmur (85%); - Metástase visceral ocorre para fígado e pulmão em pacientes com doença terminal; CIRURGIA GERAL – 6º PERÍODO – GRAZIELA BENEVIDES • OUTROS EXAMES LABORATORIAIS: - PCS-3 (Prostate Cancer Antigen 3): pode ser determinado a partir de uma amostra de urina coletada após TR vigoroso. Pode auxiliar na decisão da solicitação da BTRP em pacientes com níveis de PSA em uma faixa indeterminada (2,5 a 10ng/dL) e para pacientes com biópsia prévia negativa, com níveis persistentes elevados de PSA; O nível de PCA3 maior ou igual a 35 aumenta a certeza diagnóstica do CaP; • EXAMES DE IMAGEM: 1) ULTRASSONOGRAGIA DE PRÓSTATA VIA ABDOMINAL: - Alterações encontradas na USG suprapúbica são semelhantes tanto para pacientes com HBP quanto para CaP, gerando muitos falso-positivos; - Tem sensibilidade de 72,7% e especificidade de 72,2%; - Não deve ser utilizado na rotina para confirmação diagnóstica da doença; - USG transretal não acrescenta vantagens ao diagnóstico do CaP, tem baixa sensibilidade; 2) CINTILOGRAFIA ÓSSEA: - Deve ser solicitada para pacientes com PSA > 20ng/dL ou Gleason maior igual a 7 ou dor óssea; - Não deve ser solicitada para doença de baixo risco, porque a chance de metástases é praticamente nula; 3) TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA DA PELVE: - Deve ser solicitada para pacientes com PSA > 20 ng/dL e/ou Gleason ≥ 7 e/ou estádio clínico ≥ T2c. - Pacientes com cintilografia óssea demonstrando metástase óssea, a TC de pelve pode ser descartada, uma vez que o tratamento inicial não será alterado. 4) RESSONÂNCIA MAGNÉTICA MULTIPARAMÉTRICA DA PRÓSTATA: - Combina o aspecto anatômico em sequências ponderadas em T2 com coeficiente de difusão e captação de contraste. O aspecto típico de uma lesão suspeita é a presença de hipossinal em T2 na zona periférica. - Este exame detecta 95% dos tumores com escore de Gleason > 7 e volume tumoral a partir de 0,5 ml, apresentando valor preditivo negativo de 80 a 98% para tumores de alto risco. - Natentativa de padronizar e melhorar os resultados na detecção de CaP, foi criado o sistema de classificação de PI-RADS, conforme Tabela 4. - Este exame tem demonstrado papel importante também na vigilância ativa e no planejamento cirúrgico. - Na presença de PI-RADS maior ou igual a 3, tem- se indicado BTRP, mas esse achado ainda não deve ser considerado como indicação isolada de biópsia. • TRATAMENTO: a) VIGILÂNCIA ATIVA: - Recomendada para pacientes com CaP de baixo risco e baixo volume tumoral; - Critérios para selecionar o paciente: boas condições clínicas, expectativa de vida maior que 5 anos ou maior de 10 anos; - PSA <10 e Gleason ≤6 e TR ≤ T2a; - Critérios de Epstein: baixo volume tumoral, densidade do PSA menor que 0,15, até 2 fragmentos de biópsia comprometidos, até 50% da extensão dos fragmentos avaliados; CIRURGIA GERAL – 6º PERÍODO – GRAZIELA BENEVIDES - O acompanhamento deve ser realizado com PSA e TR semestral e BTRP anual; b) PROSTATECTOMIA RADICAL (PTR): - Padrão ouro para o tratamento de CaP; - Indicada para pacientes com tumores localizados e expectativa de vida superior a 10 anos; - Raramente indicada em homens acima de 70 anos; - A cirurgia consiste na remoção da próstata (incluindo a cápsula) e as vesículas seminais, com anastomose entre a ureta e colo vesical; - Pacientes com tumor de risco intermediário e alto são complementados com linfadenectomia pélvica; - A cirurgia laparoscópica robô-assistida mostra menor taxa de sangramento e uma tendência à recuperação precoce da continência urinária e da função erétil; c) RADIOTERAPIA EXTERNA CONFORMACIONAL (RT): - Indicada para pacientes com CaP de risco baixo e intermediário; - A RT também é indicada para pacientes com tumores localizados, com expectativa de vida superior a 10 anos, sendo raramente realizada em homens acima de 70 anos; - É uma alternativa para o paciente que não quer ou não pode ser operado. - As taxas de cura são diretamente proporcionais às doses alcançadas. - Contraindicações: Portadores de Doenças Inflamatórias Intestinais, Pacientes que já foram submetidas a RXT pélvicas anteriores, pacientes portadores de grandes próstatas (esse relativa). - Efeitos colaterais: disfunção erétil, retite ou cistite actínica; d) TERAPIA FOCAL: - Objetivo de minimizar os efeitos colaterais inerentes a terapêuticas clássicas radicais; - As principais modalidades são: 1) Térmicas: crioterapia e HIFU 2) Não térmicas: terapia fotodinâmica vascular com padeliporfina e eletroporação; CIRURGIA GERAL – 6º PERÍODO – GRAZIELA BENEVIDES ➔ CÂNCER DE BEXIGA: • INTRODUÇÃO: - Segundo tumor maligno urológico em incidência; - 7º lugar entre os tumores e a 9ª causa de óbito; - No Brasil, em 2016, foram registrados 9.670 casos, com a ocorrência de 3.642 óbitos; - A chance de um homem desenvolver CaB é de 3,8% e a mulher 1,2%, incluindo o tipo invasivo e o carcinoma in situ (cis); - É um tumor raro antes dos 40 anos, com aumento significativo após a sétima década de vida; - A maior incidência do CaB em homens é provavelmente explicada por diferenças no hábito de fumar e ocupacionais; - Homens brancos, tabagistas e com mais de 50 anos de idade é o típico paciente portador de CaB; • FATORES DE RISCO: - Principal: consumo do tabaco na forma de cigarro; - O fumo aumenta o risco de tumores em 2 a 6x, e o aumento da intensidade ou duração do tabagismo está diretamente relacionado ao aumento do risco, com período médio de latência de 20 a 30 anos; - Segundo fator de risco mais importante: ocupação; - A exposição ocupacional pode ser responsável por até 20% de todos os cânceres vesicais; - A infecção urinária crônica está associada ao desenvolvimento de CaB, principalmente de células escamosas; • TIPOS HISTOLÓGICOS: - O mais frequente é o carcinoma urotelial de bexiga (CUB), que ocorre em 80 a 90% dos casos e pode se apresentar de modo bastante variado (lesões muito pequenas e imperceptíveis até lesões invasivas que tomam toda a bexiga); - Outros tipos de tumor de origem epitelial são menos comuns e incluem o carcinoma de células escamosas, relacionado a infecções urinárias crônicas e infestação por Schistosoma hematobium e o adenocarcinoma, que pode ser derivado do úraco ou primário da bexiga. • QUADRO CLÍNICO: - Principal sinal/sintoma: hematúria macroscópica indolor; - Ocorrem durantetoda a micção e apresentam episódios de intermitência; - Tumores que invadem o músculo detrusor podem provocar sintomas de armazenamento por irritação vesical, principalmente urgência; - Polaciúria; - Edema de membros superiores; - Dor óssea (metástases ósseas); - Sintomas respiratórios (tosse, dispneia, hepmotise); • DIAGNÓSTICO: - Quadro clínico sugestivo, exames de imagem; - USG de rins e vias urinárias é capaz de identificar lesões acima de 0,5cm na parede vesical com acurácia de 80-90%. Além disso pode identificar dilatação do trato urinário superior caso haja invasão dos meatos ureterais com obstrução, e a presença de coágulos no interior de bexiga; - TC e RNM: são exames de escolha pois identificam lesão vesical, também avaliam a presença de dilatações e sangramentos, assim como o estadiamento da doença; - Uretrocistoscopia: identifica o número, localização e aspecto das lesões; - A confirmação diagnóstica é feita através da ressecção endoscópica do tumor por via transuretral (RTU de bexiga) que possui os seguintes objetivos: - Exame de urina I pode demonstrar hematúria e leucocitúria sem a presença de bactérias; - Creatinina e ureia podem estar aumentadas em casos de tumores invasivo que obstruem ambos os ureteres, causando insuficiência renal de origem pós-renal; • ESTADIAMENTO: - O estádio patológico está entre os mais importantes fatores prognósticos no CUB e é crítico para a tomada de decisões e acompanhamento do paciente. CIRURGIA GERAL – 6º PERÍODO – GRAZIELA BENEVIDES - O sistema mais comumente utilizado é o que avalia extensão tumoral (T), o comprometimento de linfonodos (N) e a presença de metástases (M), atualizado periodicamente pela American Joint Committee on Cancer (AJCC) (Tabela 1). - De modo simplificado, o estadiamento discrimina dois tipos principais de tumores com implicações importantes na decisão terapêutica. - O CUB denominado não músculo-invasivo (não invadem a musculatura detrusora), que pode ser classificado como pTa, pT1 ou carcinoma in situ, e o CUB músculo-invasivo que acomete pelo menos a camada muscular própria ou o músculo detrusor (pT2), a gordura perivesical (pT3) e órgãos adjacentes e parede pélvica (pT4). - A Figura 1 exemplifica de modo prático o estadiamento do CaB. - Entre 70 a 80% dos tumores vesicais são pTa ou pT1 e têm como característica altas taxas de recorrência (50 a 70%), sendo que apenas 10 a 15% progridem para maior grau ou estádio. - Aqueles que já se apresentam como músculo invasivos ao diagnóstico, que correspondem a 10 a 20% dos casos, tendem a progredir rapidamente e têm prognóstico desfavorável. - Para tumores músculo-invasivos a tomografia de abdome total com contraste e o R-X de tórax são adequados para avaliação da pelve (incluindo a bexiga), órgãos abdominais e pulmões. • GRAU HISTOLÓGICO: - A OMS passou a denominar os carcinomas papilíferos uroteliais em apenas duas categorias: baixo e alto grau; 1) CARCINOMA UROTELIAL PAPILÍFERO DE BAIXO GRAU: - Aparência geral com mínimas variações na arquitetura ou características citológicas; - Bom comportamento e chances mínimas de progressão para músculo-invasão; - Tumor pTa pode se apresentar como doença de baixo grau (pTaBG); 2) CARCINOMA UROTELIAL PAPILÍFERO DE ALTO GRAU: - Aparência desorganizada a partir de importantes anormalidades arquiteturais e citológicas; - Instáveis geneticamente, agressivos e com chance considerável de progressão para doença invasiva; - Doença de alto grau (pTaAG); - Os tumores pT1, pTis, pT2, pT3, pT4 são considerados doença de alto grau, por conta das alterações genéticas e estruturais; - 10-20% dos tumores são músculo-invasivos e agressivos; CIRURGIA GERAL – 6º PERÍODO – GRAZIELA BENEVIDES • TRATAMENTO: 1) TUMORES NÃO MÚSCULO INVASIVOS (pTa, pt1 e pTis): - A maioria dos tumores é classificada como doença não músculo-invasiva e de baixo grau, que apresentam bom prognóstico, pouca capacidade de progressão, mas altas taxas de recidiva tumoral intravesical; - Costumam responder bem aos tratamentos realizados e mesmo com altas taxas de recorrência, 95% dos pacientes estão vivos; - Após o diagnóstico histológico, estadiamento inicial e tratamento endoscópico das lesões, podem ser tratados com terapia complementar; - Esses tumores que precisam de tratamento complementar costumam se apresentar como lesões grandes e múltiplas, pois tem mais chance de recorrência na bexiga; - A taxa de recorrência da doença não músculo- invasiva pode variar entre 30-70%, dependendo do tumor inicial; - As características que se relacionam com maior recorrência e indicam necessidade de tto complementar são: - Os tipos de tratamento complementares à RTU-B são: a) Observação Vigilante; b) Re-RTU; c) Quimioterapia intravesical; d) Imunoterapia intravesical; 2) TUMORES MÚSCULO-INVASIVOS: - Os tumores de alto grau e músculo-invasiva devem ser encarados como doença de comportamento ruim, agressiva e com alto potencial de letalidade; - Cursam com taxa de mortalidade que podem alcançar 50-60% em 5 anos; - Deve ser tratada de maneira cirúrgica e radical, devido ao comportamento agressivo e letal desses tumores; - A partir do diagnóstico feito pela RTU-B inicial, existe uma perda de sobrevida de 10% por mês de atraso do tto cirúrgico definitivo; - Em 3 meses de atraso a partir do diagnóstico, o paciente tem 30% menos chance de estar vivo em 5 anos; - CUB invasivo deve sempre ser encarado como uma doença grave; - Quimioterapia e/ou radioterapia e/ou RTU-B máxima são outras formas de tratamento que envolvem a preservação da bexiga, são restritas e realizadas em pacientes específicos, não é a forma tradicional de tratamento; - O tratamento padrão-ouro para músculo- invasivos é a CISTECTOMIA RADICAL; ✓ CISTECTOMIA RADICAL: - No homem: Retirada da bexiga, da próstata e vesículas seminais e dos linfonodos pélvicos; - Na mulher: retirada da bexiga, do útero e anexos, da parede anterior da vagina e dos linfonodos pélvicos; - Depois o trato urinário pode ser reconstruído; • SEGUIMENTO: - Depois de realizado o tratamento inicial, os pacientes devem ser seguidos por toda a vida; - Consultas realizadas de 3 em 3 meses no primeiro ano, 6 em 6 meses do segundo ao quinto ano e, por fim, anualmente pelo resto da vida; - Tumores não músculo-invasivos são seguidos com citologia urinária e cistocospia; - Tumores músculo-invasivos, seguem com tomografia de abdome e raio-x de tórax; CIRURGIA GERAL – 6º PERÍODO – GRAZIELA BENEVIDES • COMPLICAÇÕES: ➔ ESCROTO AGUDO: • SINTOMAS: - Dor local; - Edema (aumento do testículo); - Dor à palpação do escroto; - Tem início súbito com evolução em poucas horas; • EPIDEMIOLOGIA: - Corresponde a 0,5% dos atendimentos em unidades de pronto-atendimento; - Causas mais frequentes: torção de testículo, torção de hidátides de Morgagni, orquite/orquiepididimite, hidrocele infectada/abcesso testicular, hérnia encarcerada, púrpura de Henoch-Schoenlein e trauma; - As causas mais comuns na população pediátrica são: torção de apêndice testicular (40-60%), torção de cordão espermático (20-30%) e orquiepididimite (5-15%); ➢ TORÇÃO DE CORDÃO ESPERMÁTICO (torção de testículo): - A bolsa testicular divide-se em 7 camadas, sendo denominadas da mais externa para mais interna: pele, túnica Dartos, fáscia cremastérica, fáscia espermática interna, túnica vaginal e túnica albugínea; - A torção de testículo se classifica em extravaginal e intravaginal, sendo a primeira menos comum, típica de recém-nascidos, envolvendo estruturas além da túnica vaginal parietal; - A intravaginal é mais comum, típica em adolescentes e está associada a uma anomalia das estruturas testiculares; o TORÇÃO INTRA-VAGINAL: - Excesso demobilidade testicular pela deformidade em “badalo de sino” na qual a túnica vaginal é fixada proximalmente no cordão espermático (implantação alta), facilitando o giro do testículo e cordão espermático sobre o próprio eixo; - Predisposição familiar; - Fator desencadeante: desconhecido, mas variações térmicas, criptorquidia, reflexo cremastérico, rápido crescimento testicular na puberdade e ciclo sono-vigilia estão relacionados; • APRESENTAÇÃO CLÍNICA: - Ocorre principalmente entre 12 e 16 anos; - Prevalência é de 1 em 4.000 homens com predomínio à esquerda e raramente bilateral; - O principal sintoma é dor testicular de intensidade variável; - Vômito está presente entre 10% e 60% dos casos; - Edema e eritema testicular; - Sinais mais comuns: dor e endurecimento à palpação testicular, horizontalização do testículo (Sinal de Angell positivo), testículo elevado na bolsa testicular (sinal de Brunzel positivo), ausência de reflexo cremastérico (sinal de Rabinowitz positivo), sem melhora da dor com elevação manual do testículo (sinal de Prehn negativo); CIRURGIA GERAL – 6º PERÍODO – GRAZIELA BENEVIDES • EXAMES COMPLEMENTARES: - Urina I; - USG testicular com Doppler: ausência de fluxo sanguíneo intratesticular apresenta uma sensibilidade de 86%, especificidade de 100% e uma acurácia de 97% no diagnóstico de torção de cordão; - Outro sinal da USG é a visualização direta do cordão torcido em “forma de caracol”; - Cintilografia Testicular: apresenta uma sensibilidade e especificidade em torno de 90%, mas está extinto na prática clínica moderna por uso de radiação; • MANEJO E TRATAMENTO CIRÚRGICO: - A torção de testículo é uma verdadeira emergência cirúrgica, pois a viabilidade testicular é inversamente proporcional ao tempo de torção; - Em 33% dos casos a torção se dá lateralmente, o que dificulta sua identificação na tentativa de destorção manual; - Como abordar um escroto agudo: história clínica, exame físico e ultrassom com Doppler; - O tratamento cirúrgico clássico é por via escrotal; - O testículo acometido deve ser destorcido e coberto por uma compressa úmida aquecida. Enquanto se espera para observar a viabilidade dele, através da coloração e perfusão, o testículo contralateral deve sempre ser fixado (orquidopexia) com fio inabsorvível para evitar torção metacrônica. Após este tempo cirúrgico, decide-se por preservação e fixação do testículo doente, ou orquiectomia, caso ele não esteja viável. - O impacto na fertilidade é pouco conhecido devido à dificuldade de acompanhamento destes pacientes. A hipótese de lesão do testículo contralateral por autoanticorpos já foi refutada em diversos estudos; A: Testículo destorcido após 4h de torção e embebido em soro morno. É possível observar a viabilidade testicular pela recuperação gradual da coloração e perfusão testicular. B: Produto de orquiectomia após 24h de torção. Note o testículo com áreas necróticas e a ruptura da túnica albugínea com exposição do parênquima testicular por síndrome compartimental intra-testicular. o TORÇÃO INTRA-VAGINAL INTERMITENTE: - Episódios de dor testicular aguda, autolimitados, durando minutos ou até horas precedem a torção em 30-50% dos pacientes; - Diagnóstico difícil pois é confundido com torção de apêndice ou orquiepididimite; - A alta suspeita clínica é suficiente para o diagnóstico, a não ser que o paciente seja examinado na crise, facilitando o diagnóstico; - ORQUIDOPEXIA BILATERAL → TRATAMENTO DEFINITIVO; ➢ TORÇÃO EXTRA-VAGINAL: - Típico do período perinatal, pode ocorrer antes, durante ou no pós-parto; - Incidência: 6,1 para cada 100.000 nascimentos; - Fatores de Risco: alto peso ao nascimento e trabalho de parto difícil não foram confirmados; - Ultrassom pré e pós-natal podem ajudar, mas nem sempre confirmam o diagnóstico; - Conduta: manejo seria exploração eletiva devido à baixa probabilidade de salvar o testículo e alto CIRURGIA GERAL – 6º PERÍODO – GRAZIELA BENEVIDES risco anestésico. Outros grupos defendem exploração imediata com fixação (pexia) do testículo contralateral. Caso a torção seja pós- natal, o manejo é o mesmo da torção intra-vaginal, com exploração imediata e pexia contralateral. ➢ TORÇÃO DE APÊNDICE TESTICULAR E APÊNDICE EPIDIDIMAL: - Causa mais comum de escroto agudo em crianças pré-puberes; - A causa da torção é desconhecida, mas pode estar relacionada à anatomia, trauma ou crescimento pré-puberal; - Apesar de poder ocorrer em qualquer idade, o pico de incidência está entre 7 e 12 anos; - Sinais: o mesmo de escroto agudo com surgimento abrupto de dor testicular com intensidade variável, dependendo da resposta inflamatória e do tempo de torção; - “BLUE DOT”: Sinal clínico clássico que se traduz pela presença de um ponto escurecido observado através da pele da bolsa testicular, no polo superior do testículo; - No exame físico precoce, o examinador é capaz de palpar um nódulo endurecido e doloroso, porém com a progressão da inflamação este nódulo se confunde com todo o testículo; - O USG raramente evidencia o apêndice anormal, mas sim uma hiperperfusão (aumento do fluxo sanguíneo) no epidídimo; - A torção do apêndice é um processo autolimitado e por isso raramente necessita de exploração cirúrgica. O tratamento é baseado em repouso, compressa fria e anti-inflamatório. A abordagem cirúrgica é reservada para suspeita de torção de cordão espermático (testicular) ou dor severa e prolongada; ➢ ORQUIEPIDIDIMITE: - Causa infecciosa ou não; - Doenças inflamatórias dos testículos e epidídimo; - Categoria ampla de causas de escroto agudo de incidência não definida; - O início dos sintomas é insidioso (mas pode ser agudo), podendo estar associado com sintomas sistêmicos (febre e prostração); - Há associação com ITU, secreção uretral, IST, cateterismo intermitente, disfunção miccional ou anomalias congênitas; - Causada por via ascendente; - EXAME FÍSICO: aumento do epidídimo ou testículo, além de reflexo cremastérico preservado, hiperemia, dor intensa, sinal de Prehn positivo (Elevação testicular alivia a dor); - Bacteriúria está associada em 20-40% dos casos; - O diagnóstico é confirmado por USG com Doppler, que evidencia aumento do volume testicular e do fluxo sanguíneo; - O tratamento depende da etiologia, que pode variar de acordo com a idade; - O anti-inflamatórios, repouso e elevação do testículo são tratamentos iniciais; - Na infância, os agentes virais, como caxumba ou vírus caxumba-like são os principais agentes; - Clamídia e gonococos são causas frequentes em jovens sexualmente ativos; - Por ser área endêmica de tuberculose, esta deve sempre ser considerada como diagnóstico diferencial; - Em homens acima de 35 anos, a infecção bacteriana por Gram-negativos (E.coli) é o mais comum. ➢ OUTRAS CAUSAS DE DOR TESTICULAR AGUDA: 1) GRANGRENA DE FOURNIER: - Conhecida como fasceíte necrotizante; - Comum em pacientes imunocomprometidos, ocorrendo principalmente em pacientes diabéticos, etilistas e obesos; - Trata-se de uma infecção multibacteriana grave que evolui rapidamente para sepse com risco de morte; - Sua progressão é rápida e pode se disseminar superficialmente pela fáscia de Colles (períneo), Buck (pênis), Dartos (escroto) e Scarpa (abdome); - O tratamento deve ser agressivo e instituído o mais precocemente possível, incluindo hidratação vigorosa, antibioticoterapia e desbridamento cirúrgico extenso; 2) EDEMA ESCROTAL IDIOPÁTICO: - Edema local com pouca ou nenhuma dor, possivelmente de origem alérgica; - Anti-histamínicos podem ser utilizados; 3) PURPURA DE HENOCK-SCHONLEIN: - Vasculite sistêmica que afeta pele, articulações, trato gastrointestinal e rins; CIRURGIA GERAL – 6º PERÍODO – GRAZIELA BENEVIDES - O rash cutâneo típico é de manchas elevadas na pele, que não desaparecem com a pressão digital; - Apresentaçãoclínica com dor e edema testicular podendo comprometer o cordão espermático; - A causa é o desenvolvimento anormal do Ducto de Wolff. - O USG revela múltiplos pequenos cistos; - O tratamento consiste em enucleação conservadora; ➔ PRIAPISMO: • INTRODUÇÃO: - Ereção total ou parcial, dolorosa ou indolor que continua por mais de 4 horas com ou sem estimulação sexual; - Classifica-se em 3 tipos: isquêmico, recorrente e não isquêmico; 1) ISQUÊMICO (VENO-OCLUSIVO OU DE BAIXO FLUXO): - É o mais frequente; - Tem início após estimulação sexual ou administração de agentes farmacológicos, com incidência variando de 0,34 até 5,3 casos por 100.000 homens/ano; - Caracteriza-se por uma ereção persistente dolorosa que não é avaliada mesmo após a ejaculação ou a tentativa de reversão farmacológica; - EXAME FÍSICO: rigidez do corpo cavernoso, sem acometimento do corpo esponjoso e da glande. Após 6-8 horas de evolução, o paciente relata dor causada pela morte celular consequente ao processo de isquemia dos tecidos penianos; o FISIOPATOLOGIA: - Oclusão do retorno venoso peniano com consequente diminuição ou cessação de fluxo arterial, que leva à hipóxia, hipercarbia e acidose; - A partir de 12h de isquemia já ocorre edema intersticial, destruição progressiva do endotélio sinusoidal, exposição da membrana basal e aderência de trombócitos; - Após 48h, trombos podem ser encontrados nos espaços sinusoidais, além da necrose da musculatura lisa e substituição do tecido cavernoso por fibroblastos; o CAUSAS DE PRIAPISMO ISQUÊMICO: - Causa idiopática; - Seus maiores fatores de risco são as discrasias sanguíneos (principalmente anemia falciforme) e os principais agentes causais são os agentes facilitadores ou indutores da ereção e drogas ilícitas; - Média de idade: 25 anos; - Priapismo Iatrogênico: termo utilizado quando o PI ocorre após o tratamento da disfunção erétil com injeção intracavernosa, inibidores de fosfodiesterase-5 ou outras medicações; - Se o tratamento for devidamente instituído, as taxas de preservação da função erétil são de 100% para até 12 horas de evolução; - PI DEVE SER TRATADO COMO EMERGÊNCIA UROLÓGICA; 2) PRIAPISMO RECORRENTE (OU INTERMITENTE): - Caracterizado pelo padrão de recorrência; - Descrito como ereções dolorosas indesejadas e recorrentes em portadores de anemia falciforme; - Se iniciam na adolescência e vão se tornando mais prolongadas e frequentes até culminarem com o desenvolvimento de PI; - Principais fatores precipitantes: ereções noturnas ou matinais, desidratação, febre e exposição ao frio; - Fator de Risco: um episódio prévio de priapismo veno-oclusivo; CIRURGIA GERAL – 6º PERÍODO – GRAZIELA BENEVIDES 3) PRIAPISMO NÃO ISQUÊMICO (ARTERIAL OU DE ALTO FLUXO): - Tipo menos frequente; - Aumento do influxo de sangue no corpo cavernoso de modo diferente do fisiológico, pela dilatação das artérias cavernosas e helicinais; - Causado por trauma peniano contuso ou penetrante, que promove uma laceração da artéria cavernosa ou de um dos seus ramos culminando com a formação de uma fístula sinusoidal arterial, que enche seus corpos cavernosos sem ocorrer uma dilatação arterial fisiológica; - O sangue rico em O2 que entra no corpo cavernoso por essa via alternativa (fístula) promove uma ereção parcial e não causa isquemia nos tecidos eréteis do pênis; • DIAGNÓSTICO: - Anamnese dirigida para duração da ereção, presença ou ausência de dor, episódios prévios e método de tratamento utilizado, função erétil prévia, uso de medicações ou dietas para tratamento de disfunção erétil, medicações de uso contínuo ou recente, uso de drogas ilícitas e antecedentes patológicos (anemia falciforme, hemoglobinopatias, traumas); - Exame Físico: inspeção e palpação detalhada da genitália, períneo e abdome; - Exames: hemograma e coagulograma a fim de identificar anemia, infecção ou anormalidades hematológicas; - USG com Doppler colorido do pênis e do períneo é indicado para diferenciação entre PI e PNI, juntamente com a gasometria do aspirado do corpo cavernoso; • TRATAMENTO: 1) Ereção Prolongada: - Fármacos simpaticomiméticos orais (etilefrina, pseudoefefrina, fenilpropanolamina e terbutalina) com taxas de reversão de 28% a 36%; - Na falha do tratamento oral, proceder injeção de um agente alfa-adrenérgico no corpo cavernoso; - A importância de reverter a ereção prolongada é evitar a progressão para um quadro isquêmico completo (PI); 2) Priapismo Isquêmico: - Agentes orais não são recomendados; - Descompressão do corpo cavernoso com PUNÇÃO E ASPIRAÇÃO, que alivia dor e tumescência (resolve 36% dos casos); - A punção deve ser realizada na base do pênis às 3 ou 9 horas com scalp calibroso; - Fenilefrina, etilefrina, norepinefrina e metaraminol; - Fenilefrina – droga escolhida pelas principais Sociedades Urológicas do mundo; - Na falha do tratamento clínico, deve-se iniciar o manejo cirúrgico o mais precocemente possível, sendo este fundamentado na confecção de uma fístula ou shunt arteriovenoso. O objetivo desse procedimento é reoxigenar a musculatura lisa do corpo cavernoso, e pode ser realizada através de uma comunicação entre glande, corpo esponjoso, veia dorsal ou veia safena com corpo cavernoso, para que ocorra a drenagem do sangue não oxigenado retido. 3) Priapismo Recorrente: - Agonistas α-adrenérgicos orais e injetáveis, terbutalina, digoxina, hidroxicarbamida (hidroxiureia), estrógenos, análogos do hormônio de liberação de gonadotrofina (GnRH), antiandrogênios, baclofeno, gabapentina e recentemente inibidores de PDE-5. Todas essas estratégias visam diminuir as ereções, principalmente as noturnas. 4) Priapismo Não Isquêmico: - Não é uma urgência urológica. - A resolução espontânea pode ocorrer em mais de 60% dos casos. - Não há impacto na função erétil. - Pacientes que necessitam de tratamento precoce podem ser beneficiados por embolização arterial, que é feita pela cateterização da artéria pudenda interna. Deve-se optar por agentes embolizantes solúveis para diminuir o risco de disfunção erétil. - As taxas de sucesso variam de 89 a 100% independente do material utilizado. - Função erétil normal é reportado em 75 a 86% dos pacientes e a taxa de recorrência é de 30%. - Outra opção é a ligadura cirúrgica da fístula. Atualmente, essa intervenção é reservada para pacientes que não desejam uma terapia expectante ou aqueles que não são candidatos ou que recusam a angioembolização. Além disso, é CIRURGIA GERAL – 6º PERÍODO – GRAZIELA BENEVIDES adequado para pacientes em locais sem maiores recursos e para aqueles onde a angioembolização não foi efetiva. ➔ PARAFIMOSE: ➢ FIMOSE: - Condição comum ao nascimento em indivíduos do sexo masculino; - Incapacidade de retrair o prepúcio e expor a glande por conta da presença de aderências naturais que mantêm o prepúcio e a glande unidos; - Durante os primeiros 3-4 anos de vida, quando o pênis cresce, detritos epiteliais denominados esmegma se acumulam sob o prepúcio separando gradualmente o prepúcio da glande. Ereções penianas intermitentes fazem com que o prepúcio se torne completamente retrátil; - A incidência de fimose diminui ao longo da vida; - Fator de risco para câncer de pênis: presença do prepúcio comprometido pela fimose; -O procedimento cirúrgico denominado postectomia (ou circuncisão) está indicado. Além disso, alguns países do mundo realizam a postectomia por motivos religiosos ou culturais, ou para fins epidemiológicos de controle profillático de determinadas doenças como o HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis (IST). • QUADRO CLÍNICO: - Assintomática na infância; - Crianças que possuem o prepúcio muito fechado podem desenvolver ITU de repetição e/ou processos inflamatórios e infecciosos da glande e do prepúcio (balanopostite); - Em homens na puberdadee na fase adulta, há o desconforto provocado pelo anel fibrótico, que dificulta a exposição da glande, prejudicando ou impedindo a masturbação ou a atividade sexual; - Fimose muito severa com incapacidade completa de expor a glande pode cursar com infecções associadas ou evoluir com tumores penianos em longo prazo; - Uma causa comum de desenvolvimento de fimose em homens de meia-idade ou mais idosos é a presença de diabetes mellitus não controlado, onde níveis elevados e permanentes de glicemia promovem balanopostites de repetição, inflamação, fibrose prepucial e fimose em períodos curtos; • DIAGNÓSTICO: - Clínico e feito através do exame físico, inclusive das suas complicações – balanopostite, parafimose e câncer de pênis; - A fimose pode ser classificada em 4 graus de acordo com a exposição da glande, permitindo avaliar a severidade dessa condição patológica, prever a chance de resolução com o desenvolver da criança: • TRATAMENTO: - Prostectomia ou circuncisão; - Uso de corticoide tópico; - Prostectomia: procedimento cirúrgico com objetivo de retirar o anel fibrótico prepucial, permitindo a exteriorização permanente da glande. Tem como indicações clássicas: O procedimento cirúrgico pode ser realizado através da excisão prepucial tradicional. Possui índices de morbidade baixos, com taxa de CIRURGIA GERAL – 6º PERÍODO – GRAZIELA BENEVIDES mortalidade no Brasil de 0,0013%, sendo considerado um procedimento seguro e de baixa complexidade. Pode ser realizada em caráter ambulatorial, com anestesia local e pós-operatório manejado pelo próprio paciente; • COMPLICAÇÕES: - Parafimose – complicação a curto prazo mais importante da fimose; - A presença da fimose a longo prazo aumenta as chances de ITU e balanopostites de repetição, o risco de contração de IST e o risco de câncer de pênis; ➢ PARAFIMOSE: - Complicação da fimose; - Ocorre a incapacidade de redução do prepúcio, com constrição da glande pelo anel fibrótico da fimose; - É uma emergência urológica porque causa uma isquemia progressiva da glande, levando a necrose glandar; - Ocorre em indivíduos com fimoses importantes e que mantém a atividade sexual ou masturbação, a despeito de todo desconforto provocado pelo anel fibrótico; o QUADRO CLÍNICO: - A apresentação clínica da parafimose é representada por edema da glande e prepúcio subjacente e dor local; - Alterações isquêmicas ou necróticas da glande ocorrem quando a parafimose permanece instalada e sem resolução por tempo prolongado, indicando um quadro mais grave; o DIAGNÓSTICO: - Clínico e feito através da anamnese e do exame físico; - O paciente relata ser portador de fimose mais complexa (graus III e IV) e, geralmente, já iniciou suas atividades sexuais ou masturbação; - Dor local; - EXAME FÍSICO: prepúcio retraído, edema do prepúcio, edema da glande e áreas de tecido desvitalizado ou necrótico em casos de parafimose instalada por tempo prolongado. Alguns pacientes apresentam dificuldade miccional; o TRATAMENTO: - Emergência urológica; - Existem 2 tipos de tratamento: conservador e cirúrgico: a) Conservador: - Consiste na redução do prepúcio para sua posição fisiológica original através de manobras manuais, que podem ser facilitadas pelo uso de compressas de gelo e até punção do prepúcio com agulha para drenagem venosa antes da redução manual; - Soluciona a parafimose e o sofrimento tecidual, mas NÃO CORRIGE A FIMOSE; b) CIRÚRGICO: - Postectomia (tratamento definitivo); - Dorsotomia – indicado quando as manobras manuais falham – implica em uma incisão vertical e dorsal do prepúcio com posterior sutura horizontal aumentando o diâmetro prepucial facilitando a sua redução; o COMPLICAÇÕES: - Perdas teciduais do prepúcio e da glande, necrose da glande e da porção mais distal do pênis, além de infecções locais e retenção urinária aguda; REFERÊNCIAS: CRIPPA, A; DIP JUNIOR, N.D. Urologia para Graduação. 1ª ed. São Paulo. Uninove, 2018;
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