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DIREITO DO TRABALHO I Eduardo Zaffari Férias e décimo terceiro salário Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Distinguir período aquisitivo de período de gozo de férias. Definir férias individuais e coletivas. Explicar a origem e os prazos de pagamento do 13º salário. Introdução A prestação de trabalho é uma das formas de dignificação do ser humano, não podendo se tornar meio de alijar o trabalhador de seu convívio social, familiar e político. Ademais, o capitalismo contemporâneo se volta a uma gestão de pessoas que as torne mais produtivas e felizes em seu ambiente de trabalho. Os períodos de descanso ganham importância nesse contexto. Neste capítulo, você vai ler sobre o surgimento das férias, instituto relativamente recente, e sobre as finalidades do descanso do trabalha- dor. Você vai verificar que, apesar da obrigatoriedade de concessão de férias, certos fatos reduzem, ou até mesmo elidem, o gozo de férias pelo trabalhador. Além disso, você vai estudar o 13º salário, a sua origem e a sua forma de pagamento, bem como a causa da perda desse direito. 1 Férias: períodos aquisitivo e de gozo O trabalhador tem direito a tirar férias durante certos lapsos temporais do seu contrato de trabalho. Existem critérios objetivos para a concessão de férias: há uma relação entre a assiduidade do trabalhador ao seu emprego e o período de férias de que pode gozar. A legislação destaca alguns critérios elisivos à possi- bilidade de aquisição de férias, tais como faltas injustifi cadas. Nesse contexto, a adoção de critérios que diminuam o número de dias de férias não contraria as fi nalidades das férias. Afi nal, as férias servem para que o trabalhador restabeleça suas energias e se reinsira em seu contexto social, e presume-se que suas ausên- cias sirvam para tais fi nalidades. Assim, a perda de dias de férias conforme os critérios objetivos prescritos na lei não signifi ca que o empregado teve menos dias para satisfazer tais fi nalidades, pois as supriu de outras formas (ausências). As férias dividem-se em dois períodos distintos, um aquisitivo e um con- cessivo (ou de gozo). O período aquisitivo de férias é um lapso temporal caracterizado por ciclos de 12 meses, a contar desde o primeiro dia do con- trato de trabalho, conforme o caput do art. 130 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) (BRASIL, 1943). As frações de tempo superiores a 14 dias são consideradas um mês cheio para fins de cálculo de férias, nos termos do art. 146, parágrafo único, da CLT (BRASIL, 1943). Isso ocorre porque mesmo os empregados com menos de um ano de trabalho terão as férias computadas em alguns casos, como em sua dispensa. O trato desse período incompleto é denominado “férias proporcionais”. Na contagem do período aquisitivo de férias, consideram-se ainda o período de gozo de férias anterior (ou seja, mesmo o tempo em que o empregado está em férias serve para a contagem do novo período aquisitivo) e o tempo de aviso-prévio trabalhado ou indenizado. A Lei nº. 11.788, de 25 de setembro de 2008, prescreve, em seu art. 13, que o estagiário também terá direito a férias. Veja: “É assegurado ao estagiário, sempre que o estágio tenha duração igual ou superior a 1 (um) ano, período de recesso de 30 (trinta) dias, a ser gozado preferencialmente durante suas férias escolares” (BRASIL, 2008, documento on-line). O período concessivo, também denominado “período de gozo” ou “período de fruição”, é o ciclo de 12 meses que sucede o período aquisitivo, consistindo no lapso de tempo em que o trabalhador usufrui das férias adquiridas, conforme o art. 134 da CLT (BRASIL, 1943). Veja: “As férias serão concedidas por ato do empregador, em um só período, nos 12 (doze) meses subsequentes à data em que o empregado tiver adquirido o direito” (BRASIL, 1943, documento on-line). Ou seja, a partir do primeiro dia de contratação do empregado, se iniciam os 12 meses de período aquisitivo. Ao término desse período, se inicia o período con- cessivo de 12 meses, em que o trabalhador goza as férias adquiridas no primeiro período. Assim, o período concessivo é o tempo de aquisição de férias (um novo Férias e décimo terceiro salário2 período aquisitivo) do próximo período de 12 meses em que o trabalhador sairá em férias (de um novo período concessivo) e assim sucessivamente. Como você viu, os critérios objetivos prescritos em lei como elisivos à aqui- sição completa do período de férias não afrontam as finalidades das férias. Contudo, há fatores prejudiciais à aquisição de férias. O primeiro desses fatores é a ausência injustificada ao trabalho por mais de 32 dias, caso em que o traba- lhador perde o direito à totalidade das férias (note que as faltas justificadas ao trabalho não podem ser computadas como perda do direito a férias). O art. 130 da CLT (BRASIL, 1943) prescreve uma série de faixas de faltas injustificadas que reduzem o número de dias de férias adquiridos pelo empregado. Veja: Art. 130. Após cada período de 12 (doze) meses de vigência do contrato de trabalho, o empregado terá direito a férias, na seguinte proporção: (Redação dada pelo Decreto-lei nº 1.535, de 13.4.1977) I — 30 (trinta) dias corridos, quando não houver faltado ao serviço mais de 5 (cinco) vezes; (Incluído pelo Decreto-lei nº 1.535, de 13.4.1977) II — 24 (vinte e quatro) dias corridos, quando houver tido de 6 (seis) a 14 (quatorze) faltas; (Incluído pelo Decreto-lei nº 1.535, de 13.4.1977) III — 18 (dezoito) dias corridos, quando houver tido de 15 (quinze) a 23 (vinte e três) faltas; (Incluído pelo Decreto-lei nº 1.535, de 13.4.1977) IV — 12 (doze) dias corridos, quando houver tido de 24 (vinte e quatro) a 32 (trinta e duas) faltas (BRASIL, 1943, documento on-line). No Quadro 1, a seguir, veja como as faltas injustificadas interferem nas férias. Fonte: Adaptado da CLT (BRASIL, 1943). Faltas injustificadas Férias (dias corridos) Até 5 dias 30 dias De 6 a 14 dias 24 dias De 15 a 23 dias 18 dias De 24 a 32 dias 12 dias Mais de 32 dias Sem férias Quadro 1. Faltas injustificadas e férias 3Férias e décimo terceiro salário Um segundo critério prescritivo da perda do direito às férias consta no art. 133, I, da CLT (BRASIL, 1943) e diz respeito ao empregado que deixa a empresa e não é readmitido dentro do período de 60 dias subsequentes. Com “deixar o emprego”, a lei dá a entender que o empregado pede demissão, silenciando a respeito da dis- pensa realizada pelo empregador. Entende-se, então, que se deve contar o período aquisitivo anterior se o empregador dispensar o empregado e voltar a admiti-lo. A jurisprudência consolidou, dado o silêncio da lei, que o prazo para a perda do direito a partir do ato de dispensa pelo empregador será de 180 dias ou mais. O segundo fator de perda do direito às férias consiste na licença remunerada do empregado concedida pela empresa por mais de 30 dias. A lei prescreve que perderá as férias o empregado que “[...] permanecer em gozo de licença, com percepção de salários, por mais de 30 (trinta) dias” (BRASIL, 1943, documento on-line). Nesse período, o empregado deve estar sendo remunerado como se estivesse trabalhando (licença remunerada). Outra hipótese de perda de férias é quando o empregador paralisa, total ou parcialmente, os serviços da empresa, mantendo o empregado em licença e com igual remuneração. Nessa situação, que é diferente da precedente, o empregado se afasta por causa atribuída ao empregador, que teve as suas atividades paralisadas. A hipótese está prevista no art. 133, III, da CLT, com a seguinte redação para a perda do direito às férias: “[...] deixar de trabalhar, com percepção do salário, por mais de 30 (trinta) dias, em virtude de paralisação parcial ou total dos serviços da empresa” (BRASIL, 1943, documento on-line). Por expressa disposição legal do § 3º do art. 133 da CLT (BRASIL, 1943), a empresa deve comunicar, para ter efeitos nas férias dos trabalhadores, ao órgãolocal do Ministério do Trabalho, com antecedência mínima de 15 dias, as datas de início e fim da paralisação total ou parcial dos serviços da empresa. Ela também deve comunicar a paralisação, nos mesmos termos, ao sindicato representativo da categoria profissional, afixando aviso nos locais de trabalho. Algumas atribuições estão migrando do Ministério do Trabalho para o Ministério da Economia, a exemplo da emissão da carteira de trabalho e previdência social, como prevê a Lei de Liberdade Econômica, Lei nº. 13.874, de 20 de setembro de 2019 (BRASIL, 2019). Contudo, a comunicação sobre a suspensão das atividades permanece sendo exigida pela Secretaria do Trabalho (vinculada ao Ministério do Trabalho). Férias e décimo terceiro salário4 O art. 133 da CLT (BRASIL, 1943) prescreve um último fator relativo à perda do direito às férias: o afastamento pelo empregado, por mais de seis meses, consecutivos ou não, para gozo de auxílio previdenciário por doença ou acidente do trabalho. Esse período de seis meses deve ser considerado dentro do respectivo período aquisitivo para a perda no subsequente período concessivo (de gozo ou fruição). Todavia, os arts. 131 e 132 da CLT (BRASIL, 1943) prescrevem quatro hipóteses que determinam a continuidade da contagem do período aqui- sitivo, em uma accessio temporis (soma de períodos). O empregado que se afasta para a prestação de serviço militar tem assegurado o período anterior ao serviço militar, desde que retorne em até 90 dias após a baixa militar, conforme consta no art. 132: “O tempo de trabalho anterior à apresentação do empregado para serviço militar obrigatório será compu- tado no período aquisitivo, desde que ele compareça ao estabelecimento dentro de 90 (noventa) dias da data em que se verificar a respectiva baixa)” (BRASIL, 1943, documento on-line). Não perderá a aquisição de férias, igualmente, a empregada gestante que se afasta do trabalho para gozo da licença-maternidade, ou aquela que se afasta por aborto. O afastamento do empregado para gozo de benefício previdenciário, seja por acidente ou doença do trabalho, não afeta o tempo do período aquisitivo, desde que seja inferior a seis meses (se for superior, há perda do direito, como você já viu). Durante o período em que o empregado se encontra afastado do trabalho para responder inquérito administrativo ou está preso preventivamente, não se pode computar o afastamento como injustificado, valendo o tempo anterior. Entretanto, o art. 131, V, da CLT (BRASIL, 1943) prescreve que há necessidade, para consideração do pe- ríodo aquisitivo anterior (accessio temporis), de que o empregado seja impronunciado ou absolvido. O art. 131 (BRASIL, 1943) prescreve outras formas que não permitem a perda do período aquisitivo. O inciso I menciona casos de interrupção do con- trato de trabalho, previstos no art. 473 da CLT (BRASIL, 1943). Já os incisos IV e VI mencionam os dias em que não há serviço por opção do empregador. Essas hipóteses não se enquadram exatamente nas quatro situações anteriores porque não consistem em situações excepcionais que poderiam levar à perda do direito de férias. 5Férias e décimo terceiro salário 2 Férias individuais e coletivas As férias apresentam uma série de características e objetivos que as tornam um dos mais importantes institutos do Direito do Trabalho atual. Delgado (2017, p. 1.102) conceitua as férias apresentando as suas principais características e objetivos: O conjunto dos descansos trabalhistas completa-se com a figura das férias. Elas definem-se como o lapso temporal remunerado, de frequência anual, constituído de diversos dias sequenciais, em que o empregado pode sustar a prestação de serviços e sua disponibilidade perante o empregador, com o objetivo de recuperação e implementação de suas energias e de sua inserção familiar, comunitária e política. As férias representam a expressão máxima do enfrentamento de alguns dos principais problemas decorrentes das relações trabalhistas: segurança, higiene e saúde do trabalhador. Igualmente, elas se destinam à reinserção familiar, política e comunitária do indivíduo. Num espectro um pouco menos abran- gente, Nascimento (2014, p. 342) afirma que “[...] o direito às férias integra o conjunto de garantias conferidas ao empregado, visando à defesa do seu lazer e repouso”; o autor ressalta ainda que “[...] o direito às férias é igualmente uma conquista universal”. Mas, além disso, as férias são um importante fator para o capital, uma vez que o valor investido em férias serve de importante incremento para a indústria do turismo, além de aumentar a produtividade do empregado, que fica descansado física e psicologicamente. A conjunção desses objetivos permite concluir que as férias são um direito inerente ao ser humano. Tal direito se desdobra em uma questão de saúde pública e bem-estar coletivo, funcionando como relevante instrumento de desenvolvimento social. Tal relevância concede um caráter público e imperativo às férias, impedindo a sua supressão sem um motivo válido. As férias não são uma premiação, mas um direito que atende a uma série de objetivos sociais que transcendem a pessoa do trabalhador. As férias são uma conquista recente, de um pouco mais de um século, como pontua Nascimento (2014). No início do século XX, as férias eram um benefício para apenas algumas categorias de funcionários públicos e alguns trabalhadores de empresas privadas, conforme opção do empregador. Tratava- -se de um benefício outorgado aos aprendizes, menores, mulheres e alguns comerciários. Apenas após a Primeira Guerra Mundial é que surgiram as primeiras legislações assegurando férias. Como destaca Nascimento (2014), em 1934, apenas 12 países asseguravam férias anuais remuneradas. O Brasil teria sido o segundo país no mundo a conceder as férias por lei para algumas Férias e décimo terceiro salário6 profissões, além de o sexto país a concedê-las a todos os empregados, em 1925 (NASCIMENTO, 2014). A Inglaterra foi o primeiro país a promulgar a lei de férias para operários das indústrias, em 1872. As décadas de 1930 e 1940 — período conhecido como “era Vargas”, em alusão ao então presidente Getúlio Vargas — foram marcadas por grandes avanços dos direitos trabalhistas, em especial com o advento da CLT, em 1º de maio de 1943. Atualmente, as férias são previstas nos arts. 129 a 153 da CLT (BRASIL, 1943), encontrando seu fundamento de validade constitucional no art. 7º, XVII, da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988). O Brasil ainda aderiu, em 23 de setembro de 1999, à Convenção nº. 132 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), sobre as férias anuais remuneradas. As férias poderão ser, conforme a sua fixação, individuais ou coletivas. Segundo Delgado (2017, p. 1.121), [...] férias individuais são aquelas cuja fixação da data de gozo consuma-se de modo específico com respeito ao trabalhador envolvido. O procedimento de fixação é individualizado, ainda que a data e pagamento coincidam com os efetivados a outros trabalhadores da mesma planta empresarial. Por sua vez, as férias coletivas “[...] são férias cuja fixação da data de gozo consuma-se de modo genérico com respeito a uma pluralidade de trabalhadores envolvidos, que se submetem às regras comuns estabelecidas” (DELGADO, 2017, p. 1.121). As férias individuais são aquelas concedidas pelo empregador a um empregado, individualmente, sem envolver os demais empregados. Para essa modalidade de férias, uma série de atos devem ser realizados pelo empregador: comunicação escrita ao empregado, com antecedência mínima de 30 dias e estipulação da data de início; anotação na carteira de trabalho e previdência social do trabalhador (ou em sua ficha de registro); pagamento da remuneração de férias, acrescida do terço constitucional, com dois dias de antecedência ao início do gozo das férias. O não pagamento dessa remuneração até dois dias antes do período de concessão de férias é considerado falta gravee enseja o pagamento do valor das férias de forma dobrada, nos termos do art. 137 da CLT (BRASIL, 1943). 7Férias e décimo terceiro salário O Tribunal Superior do Trabalho (TST) estabeleceu e consolidou a seguinte jurispru- dência, por meio da Súmula nº. 450, de 2014 (BRASIL, 2014): o pagamento das férias fora do prazo implica a condenação ao pagamento de penalidade. Com base no art. 137 da CLT (BRASIL, 1943), quando o empregador descumpre o prazo previsto no art. 145 do mesmo diploma legal, deve pagar em dobro a remuneração de férias, incluído o terço constitucional, ainda que as férias sejam gozadas na época própria. As férias coletivas consistem na concessão das férias a uma coletividade de trabalhadores — todos os empregados da empresa, os empregados de um de seus estabelecimentos ou apenas determinados setores. Enquanto as férias individuais são concedidas por ato do empregador, conforme opção que lhe é dada pelo art. 134 da CLT (BRASIL, 1943), as férias coletivas podem ter origem em ato unilateral do empregador ou em acordo coletivo, conforme o art. 143, § 1º, da legislação celetista. Algumas características importantes devem ser observadas quanto às férias coletivas. Veja: possibilidade de fracionamento das férias em dois períodos, desde que nenhum deles seja inferior a 10 dias; necessidade de prévia comunicação ao Ministério do Trabalho (atu- almente Secretaria do Trabalho) e aos sindicatos da categoria, com antecedência mínima de 15 dias; saída conjunta dos membros da mesma família. A coincidência das férias do menor com o período de férias escolares não precisa ser observada na concessão de férias coletivas. Além disso, não há possibilidade de conversão de um terço das férias em abono pecuniário, salvo expressa disposição em negociação coletiva. Por fim, se eliminam as férias proporcionais dos empregados com menos de um ano, iniciando-se um novo período aquisitivo após o gozo de férias. 3 Origem e prazos de pagamento do 13º salário A parcela conhecida como “13º salário” surge do costume adotado por alguns empregadores e a partir de negociações coletivas, sendo incorporada aos poucos aos direitos dos trabalhadores (LEITE, 2018). Em 1962, a Lei nº. 4.090, de 13 Férias e décimo terceiro salário8 de julho, estendeu o 13º salário a todos os trabalhadores brasileiros, deter- minando o seguinte: “No mês de dezembro de cada ano, a todo empregado será paga, pelo empregador, uma gratifi cação salarial, independentemente da remuneração a que fi zer jus” (BRASIL, 1962, documento on-line). Para Delgado (2017, p. 863), “[...] o 13º salário consiste na parcela contraprestativa paga pelo empregador ao empregado, em caráter de gratifi cação legal, no importe da remuneração devida em dezembro de cada ano ou no último mês contratual, caso rompido antecipadamente a dezembro o pacto”. A gratificação corresponde ao equivalente a 1/12 da remuneração do traba- lhador, proporcionalmente aos meses trabalhados, ou fração igual ou superior a 15 dias. A Lei nº. 4.749, de 12 de agosto de 1965, e a Lei nº. 9.011, de 30 de março de 1995, incorporaram mudanças na legislação que deu origem ao 13º salário. Na ocasião da expedição da Lei nº. 4.090/1962, houve a regulamentação dessa parcela pelo Decreto nº. 57.155, de 3 de novembro de 1965. A gratificação é igualmente denominada “gratificação natalina”, por ter por base de referência e previsão de pagamento o mês de dezembro de cada ano. A observância de pagamento do 13º salário não impede que, por meio de negociação coletiva, sejam concedidas aos trabalhadores parcelas extras com denominações parecidas. Algumas instituições financeiras estimulam seus empregados por meio do pagamento de 14º salário ou até mesmo 15º salário, muitas vezes vinculados a resultados e metas. A Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988, documento on-line) assegurou a todos os trabalhadores, urbanos e rurais, “[...] décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria” (art. 7º, VIII). Apesar de tal direito já estar assegurado aos empregados urbanos, pela Lei nº. 4.090/1962, e aos rurais, por expressa disposição constante no Estatuto do Trabalhador Rural (Lei nº. 5.889, de 8 de junho de 1973), a Constituição estendeu a gratificação natalina aos empregados domésticos, conforme parágrafo único do art. 7º. Os empregados temporários, embora não tenham previsão específica constante na Lei nº. 6.019, de 3 de janeiro de 1974 (Lei dos Temporários), adquiriram o direito ao 13º salário por meio de construção jurisprudencial, a partir da interpretação do art. 12, inciso “a”. Esse artigo determina que esses 9Férias e décimo terceiro salário trabalhadores têm direito a “[...] remuneração equivalente à percebida pelos empregados de mesma categoria da empresa tomadora ou cliente calculados à base horária, garantida, em qualquer hipótese, a percepção do salário mínimo regional” (BRASIL, 1974, documento on-line). Os estagiários não têm direito à gratificação natalina (ao contrário do que ocorre com as férias). Contudo, nada impede a composição em contrário, ou seja, a liberalidade pela unidade concedente de estágio de 13ª remuneração (no caso, 13ª bolsa-auxílio). A gratificação natalina deve ser paga em duas parcelas anualmente, e a primeira dessas parcelas deve ser paga entre os meses de fevereiro e novembro de cada ano. O valor a ser pago é o equivalente à metade do salário recebido pelo empregado no mês imediatamente anterior, conforme art. 2º da Lei nº. 4.749/1965. Veja o que esse artigo afirma: “Entre os meses de fevereiro e novembro de cada ano, o empregador pagará, como adiantamento da gratifi- cação referida no artigo precedente, de uma só vez, metade do salário recebido pelo respectivo empregado no mês anterior” (BRASIL, 1965b, documento on-line). A segunda parcela deve ser paga até o dia 20 de dezembro de cada ano, compensando-se com o valor adiantado. Observe, entretanto, que a base de cálculo da primeira parcela é o salário do trabalhador, enquanto a base de cálculo da segunda parcela é a remuneração, o que determina o ajuste levando-se em conta a média de gorjetas ou outras remunerações variáveis pagas ao empregado. Nesse sentido, o ajuste que o empregador deverá fazer no final do ano, até o dia 20 de dezembro, é o cálculo da gratificação natalina do empregado a partir de sua remuneração, abatendo a metade do salário recebida pelo empregado no início do ano. Afirma-se que o 13º salário tem natureza remuneratória, não indenizatória. O empregado terá direito ao 13º salário integral ou proporcional nos casos de: dispensa sem justa causa, dispensa em rescisões indiretas (justa causa empresarial), pedidos de demissão, aposentadoria, extinção da empresa ou estabelecimento do empregador (com a consequente dispensa), extinção do contrato de trabalho por força maior e extinção do contrato de trabalho com prazo determinado. Em qualquer dessas hipóteses, o empregado terá direito a percepção mesmo que proporcional, caso ainda não se tenha chegado ao mês de dezembro. O empregado não fará jus ao 13º salário em uma única hipótese: a dispensa por justa causa, dada a combinação do art. 3º da Lei nº. 4.090/1962 (BRASIL, 1962) com o art. 7º do Decreto nº. 57.155/1965 (BRASIL, 1965a, documento on-line), que prescreve o seguinte: “Ocorrendo a extinção do contrato de trabalho, salvo na hipótese de rescisão com justa causa, o empregado receberá a gratificação devida, nos termos do art. 1º, calculada sobre a remuneração do respectivo mês”. Férias e décimo terceiro salário10 O TST prescreve que, nos casos de rescisão do contrato de trabalho com culpa de ambos, empregado e empregador, o 13º salário será devido pela metade, seja ele proporcional ou integral. Veja o que prescreve a Súmula nº. 14 do TST, de 2003: “Reconhecida a culpa recíproca na rescisão do contrato de trabalho (art. 484 da CLT), o empregado tem direito a 50% (cinqüenta por cento) do valor do aviso prévio,do décimo terceiro salário e das férias proporcionais” (BRASIL, 2003, documento on-line). Uma hipótese pouco conhecida pelos trabalhadores é a de percepção da primeira metade do 13º salário nas férias. O art. 2º, § 2º, da Lei nº. 4.749/1965 determina o seguinte: “O adiantamento será pago ao ensejo das férias do em- pregado, sempre que este o requerer no mês de janeiro do correspondente ano” (BRASIL, 1965b, documento on-line). Ou seja, se o empregado requerer no mês de janeiro de cada ano que lhe seja paga a primeira metade do 13º salário quando ele tirar férias, o empregador deverá pagá-la juntamente com o valor das férias (48 horas antes da saída do empregado). Nesse caso, o empregador deverá realizar o pagamento na data correta, sob pena de incidência da multa prevista no art. 137 da CLT (dobra das férias) (BRASIL, 1943). BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao. htm. Acesso em: 23 abr. 2020. BRASIL. Decreto nº 57.155, de 3 de novembro de 1965. Expede nova regulamentação da Lei n. 4.090, de 13 de julho de 1962 [...]. Brasília, DF, 1965a. Disponível em: https:// www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1960-1969/decreto-57155-3-novembro-1965- -397497-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 26 maio 2020. BRASIL. Decreto-lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Rio de Janeiro, 1943. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ decreto-lei/del5452.htm. Acesso em: 16 mar. 2020. BRASIL. Lei nº 4.090, de 13 de julho de 1962. 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Férias e décimo terceiro salário12 Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. 13Férias e décimo terceiro salário
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