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2018 Gestão de Projetos Prof. Rogério Lacerda Copyright © UNIASSELVI 2018 Elaboração: Prof. Rogério Lacerda Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: L131g Lacerda, Rogério Gestão de projetos. / Rogério Lacerda. – Indaial: UNIASSELVI, 2018. 191 p.; il. ISBN 978-85-515-0219-8 1.Administração de projetos. – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 658.404 III APresentAção Olá, acadêmico, seja bem-vindo à disciplina de Gestão de Projetos! A Gestão de Projetos é muito relevante nas organizações atuais, dado que esta disciplina possibilita colocar planejamentos estratégicos de uma forma mais prática e operacional no dia a dia das empresas e demais instituições. A disciplina foi disposta em três unidades, a primeira possibilita uma compreensão da necessidade de projetos e seu relacionamento com os processos de execução estratégica, desde indicadores até a gestão de um portfólio ou programas de projeto. Outro ponto interessante da Unidade 1 é a conceituação de projetos e seus variados tipos, bem como o aprofundamento das áreas de conhecimento e grupo de processos que compõem a base de conhecimentos de gestão de projetos. Na Unidade 2, nós faremos com detalhes a exposição de conteúdos de como realizar um planejamento de projeto, desde a definição do seu escopo, o planejamento de tempo e custo, bem como demais aspectos importantes do planejamento de projetos como a gestão da comunicação, qualidade de projetos e identificação e avaliação de riscos. A Unidade 3 se destina à exposição de conteúdos a respeito da execução e controle de projetos que perpassam em assuntos de alta relevância, como a gestão de equipes, liderança, comunicação, controle da qualidade de projetos, como criar os relatórios de acompanhamento e termo de encerramento do projeto. Esperamos que o conteúdo atenda não só a sua necessidade acadêmica, mas também possibilite no aperfeiçoamento da sua vida profissional e prática. Desejo ótimos estudos! Professor Rogério Lacerda IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI VII UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS .......................................................... 1 TÓPICO 1 – DE ONDE VÊM OS PROJETOS? .................................................................................. 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 FORMAS DE EXECUÇÃO DA ESTRATÉGIA: PROCESSOS E PROJETOS ........................... 4 3 GESTÃO DE PORTFÓLIO E PROGRAMAS ................................................................................. 13 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 19 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 20 TÓPICO 2 – DEFINIÇÃO E TIPOS DE PROJETOS ......................................................................... 21 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 21 2 TIPOS DE PROJETOS ......................................................................................................................... 21 3 CICLOS DE VIDA DE UM PROJETO .............................................................................................. 29 4 ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS ............................................................................................ 36 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 41 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 42 TÓPICO 3 – GESTÃO DE PROJETOS ................................................................................................ 43 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 43 2 ÁREAS DE CONHECIMENTO E GRUPOS DE PROCESSOS ................................................... 45 3 ABERTURA DE PROJETOS: CONSTRUINDO O TERMO DE ABERTURA DE PROJETOS ............................................................................................................................................. 50 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 60 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 61 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 62 UNIDADE 2 – PLANEJAMENTO DE PROJETOS ........................................................................... 63 TÓPICO 1 – COMO DEFINIR O ESCOPO DO PROJETO? ........................................................... 65 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 65 2 INTERPRETANDO UM TERMO DE ABERTURA DE PROJETOS ........................................... 65 3 ANÁLISE DO GERENTE DE PROJETO .......................................................................................... 67 4 ESTRUTURA ANALÍTICA DE PROJETO ...................................................................................... 70 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 81 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 82 TÓPICO 2 – COMO PLANEJAR O TEMPO E O CUSTO DO PROJETO? .................................. 83 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 83 2 SEQUENCIAMENTO DE ATIVIDADES ........................................................................................ 83 3 ESTIMATIVAS DE PROJETO ............................................................................................................89 3.1 TRABALHO/ ESFORÇO OU DURAÇÃO DA ATIVIDADE? ................................................... 97 4 PLANEJANDO A EQUIPE DO PROJETO ....................................................................................... 97 5 CRONOGRAMA E ORÇAMENTO .................................................................................................. 101 sumário VIII RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 110 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 111 TÓPICO 3 – PREPARANDO PARA A EXECUÇÃO ......................................................................... 113 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 113 2 PLANEJAMENTO DE COMUNICAÇÃO ....................................................................................... 114 3 PLANEJANDO A QUALIDADE ....................................................................................................... 117 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 122 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 123 UNIDADE 3 – EXECUÇÃO E CONTROLE DE PROJETOS ........................................................... 125 TÓPICO 1 – E SE ALGO SAIR DO PLANEJAMENTO? ................................................................. 127 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 127 2 IDENTIFICAÇÃO E AVALIAÇÃO DE RISCOS DE PROJETO .................................................. 127 3 PLANO DE RESPOSTA AOS RISCOS ............................................................................................ 130 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 140 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 141 TÓPICO 2 – MOBILIZAÇÃO DA EQUIPE ........................................................................................ 143 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 143 2 HABILIDADES INTERPESSOAIS ................................................................................................... 147 3 LIDERANÇA.......................................................................................................................................... 151 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 158 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 159 TÓPICO 3 – COMUNICAÇÃO DO PROJETO.................................................................................. 161 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 161 2 SISTEMAS DE COMUNICAÇÃO DE PROJETOS ....................................................................... 161 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 166 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 167 TÓPICO 4 – GARANTINDO E CONTROLANDO A QUALIDADE DO PROJETO ................ 169 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 169 2 AUDITORIAS ........................................................................................................................................ 169 3 CONTROLE DO PROJETO ................................................................................................................ 171 3.1 ELABORANDO O RELATÓRIO DE DESEMPENHO DO PROJETO ..................................... 171 3.2 MONITORANDO INDICADORES DO PROJETO..................................................................... 181 4 ENCERRAMENTO DO PROJETO .................................................................................................... 183 RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 186 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 187 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 189 1 UNIDADE 1 INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • compreender os conceitos sobre a gestão de projetos. • entender a gestão de projetos como parte da gestão estratégica; • compreender os conceitos de gestão de portfólio de projetos. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1– DE ONDE VÊM OS PROJETOS? TÓPICO 2 – DEFINIÇÃO E TIPOS DE PROJETOS TÓPICO 3 – GESTÃO DE PROJETOS 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 DE ONDE VÊM OS PROJETOS? 1 INTRODUÇÃO Uma empresa, sendo instituída, necessita de um nível de organização para alcançar os seus objetivos. E, para que estes objetivos sejam alcançados, a utilização da técnica de planejamento estratégico, fundamentada em métodos analíticos, auxilia a compor um conjunto de objetivos e ações que impactarão em curto, médio e longo prazo a empresa. Existem várias técnicas e abordagens utilizadas na realização de um planejamento estratégico. Este pode ser realizado por meio de ferramentas analíticas que, analisam de modo racionalista o contexto, propõe objetivos e de forma lógica, ações que irão atender aos objetivos. A estratégia também pode ser vista como um posicionamento, e com o uso de ferramentas analíticas. Realiza-se uma análise detalhada do contexto competitivo em que a empresa está inserida. Com essa análise, principalmente em relação a concorrentes, novos entrantes, barreiras de entrada, entre outros, há uma determinação do posicionamento estratégico da organização. Este posicionamento, pode se dar por meio de competição por preço, competição por características de produtos e/ou serviços superiores a concorrência ou, até mesmo, trabalhar em ações que visam à ampliação de atuação da empresa em nichos restritos de mercado (MINTZBERG; QUINN, 2001). Outra forma de visão da estratégia é como um padrão. Ou seja, a estratégia não é vista como um plano com o posicionamento deliberado pelo gerente, mas sim, como fruto de um comportamento recorrente de ações passadas e ao traçar um modus operandi da organização, propõe-se então ações de acordo com esse padrão (MINTZBERG; QUINN, 2001). Por último, a quarta forma de entender a estratégia é por meio da estratégia como uma perspectiva de visão de mundo dos gestores. Uma organização não pode ser entendida como um mecanismo das ciências naturais, e sim fruto de um contexto social. Deste modo, as visões, preferências e valores pessoais devem ser levadas em consideração durante a elaboração de planos (OLIVEIRA et al., 2016). Nesta ótica de estratégia como perspectiva do gestor, é necessário fazer o uso de ferramentas analíticas e também cognitivas com o objetivo de ampliara visão do contexto em que a organização está inserida e assim, auxiliar o gerente a compor as ações conforme a sua visão de mundo e visão de futuro para a organização (ENSSLIN et al., 2001). UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS 4 Essas quatro visões estratégias são de suma importância para a composição de um conjunto de ações estratégicas para a melhoria do desempenho organizacional, pois, dependendo do mercado onde a organização está inserida, ela pode ter repercussões operacionais importantes. Por exemplo, uma organização industrial que fabrica bens de consumo em grande escala de produção geralmente possui como fator competitivo o menor preço. Neste sentido, as ações estratégicas, sempre ou quase sempre, estão associadas a redução de custo operacionais e ampliação de mercado (PORTER, 1992). Já, empresas de produtos tecnológicos dependem fundamentalmente da constante melhoria de seus produtos atuais e também de um portfólio de produtos equilibrado, em que se faz necessário o entendimento do futuro para determinar as oportunidades de mercado e, principalmente, investir em ações estratégicas. Para isso, o capital intelectual é importante para a inovação e melhoria de seus produtos. Capital intelectual, neste exemplo, pode ser explicado por um quadro de funcionários com competências técnicas e intelectuais acima da média, de forma a tornar as ações estratégicas um investimento importante e com repercussões de longo prazo e duradouras. A partir do conhecimento sobre os tipos de estratégia organizacional, vamos agora aprofundar um pouco mais os conhecimentos sobre as formas de execução da estratégia. Vamos lá! 2 FORMAS DE EXECUÇÃO DA ESTRATÉGIA: PROCESSOS E PROJETOS Uma vez estabelecido e entendido, os conceitos e abordagens de estratégia, é então necessário entender como a estratégia se operacionaliza dentro das organizações. Uma estratégia, como vimos na seção anterior, se trata de intenções desejadas por um corpo executivo de gestores. Todavia, se uma estratégia não for bem executada, se torna apenas boas intenções e vontades. Desse modo, ela sendo operacionalizada de forma caótica, o acaso se torna o fator preponderante para a execução dos objetivos organizacionais. Sem o norte estratégico, a organização não passará de pessoas e profissionais que não sabem para onde ir, e nem sabem comparar sua situação atual com os desejos futuros. Portanto, o alinhamento entre as intenções futuras e o que é efetivamente executado no dia a dia das organizações é um fator chave para o sucesso. TÓPICO 1 | DE ONDE VÊM OS PROJETOS? 5 Existem basicamente duas formas de operacionalizar a estratégia e fazer com que esta seja executada de forma alinhada estrategicamente no dia a dia organizacional. As estratégias podem ser operacionalizadas por meio de processos e por meio de projetos (PMI, 2013). Processos recebem uma entrada e, a partir da execução de suas atividades, transformam essas entradas em saídas. Deste modo, processos são um conjunto de atividades que são executadas, de forma mais ou menos repetitiva, e seguem um fluxo básico de sequência, conforme apresentado na Figura 1, podendo ser mensurado o seu resultado ao longo do tempo (SORDI, 2005). FIGURA 1 – ELEMENTOS DE UM PROCESSO FONTE: O autor (2018) Como exemplo de um processo, podemos analisar o processo de montagem de um carro em uma fábrica, conforme Figura 2. O fluxo de montagem segue uma rígida e controlada sequência de atividades, em que as pessoas sabem exatamente quais peças devem ser encaixadas em determinado local e quanto tempo levará para executar cada atividade. Para esses tipos de processos, as ferramentas de gestão mais apropriadas e adequadas são as técnicas de otimização, como PERT/ CPM, 6-sigma e controles estatísticos de processos (ANDRADE, 1998). FONTE: <http://m.diarioonline.com.br/noticias/veiculos/noticia-410988-como-funciona-uma- linha-de montagem-de-automoveis.html>. Acesso em: 10 set. 2018. FIGURA 2 – PROCESSO DE MONTAGEM DE UM AUTOMÓVEL UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS 6 No entanto, outros tipos de processo não são tão determinísticos, pois as informações e orientação para o desempenho da atividade não podem ser determinados previamente e assim, são basicamente executados por pessoas e com o uso de seu intelecto. Para estes tipos de atividades, a robotização e a informatização ainda são limitadas. Podemos citar, como exemplo, o atendimento ao cliente em um pós-venda. Por mais que haja um esforço das organizações em padronizar esses atendimentos, a interlocução entre duas pessoas – o cliente e o funcionário da empresa – não se pode determinar exatamente quanto tempo o processo irá durar. Deste modo, pode haver vários desdobramentos em um único atendimento, a partir de uma pergunta, vários tipos de ações são possíveis, por exemplo: a consulta de uma base de conhecimento (respostas a perguntas frequentes – FAQs), a abertura de um chamado para manutenção de um serviço ou produto, entre outros. Esse segundo tipo de processo tem como principal característica que não se pode determinar com precisão a duração de sua atividade, o que torna o uso de ferramentas estatísticas limitadas a este contexto. Porém, outras análises podem ser muito importantes a serem realizadas na gestão desse processo, por exemplo, a natureza da abertura de chamados do help desk ou quais atendentes têm o maior número de reabertura de chamados. Essas análises e reflexões podem sugerir uma necessidade de capacitação e averiguação dos motivos que levaram a um desempenho indesejado pelos gestores. Em suma, o primeiro tipo de processo é bem mecanicista, executado basicamente por softwares e automatizado por robôs ou máquinas. Já, o outro tipo de processo é intensamente executado por pessoas, em que o conhecimento é um indicador chave de sucesso. As alterações de ação estratégica por meio de processos se dão pela execução da Gestão de Processos de Negócio – BPM, mas não será abordado neste livro. A outra forma de execução de estratégias é por meio de projetos. Projetos são ações pontuais com começo, meio e fim claros, com um conjunto de atividades coordenadas que utilizam recursos organizacionais a fim de alcançar um determinado objetivo. Ao contrário de processos, nos quais o ponto de partida é uma solicitação (entrada), o projeto é executado a partir de uma deliberação executiva, geralmente, de cunho estratégico. Neste sentido, é possível observar, no Quadro 1, as principais diferenças entre o gerenciamento de projetos tradicional e o gerenciamento de projetos estratégico. TÓPICO 1 | DE ONDE VÊM OS PROJETOS? 7 Gerenciamento de projetos tradicional Gerenciamento de projetos estratégico Paradigma central Atingir prazo, custo e escopo prometido Atingir os objetivos de negócio Foco Eficiência Eficácia e eficiência Papel do gerente de projetos Terminar o trabalho prometido Ampliar mercado e resultados da empresa Estilo do gerente de projetos “Um tamanho veste todos” Adaptativo Definição do projeto O que precisa ser feito? Como atingir a vantagem competitiva? Lado humano Equipes e resolução de conflitos Liderança, visão, significado e motivação QUADRO 1 – GERENCIAMENTO ESTRATÉGICO DE PROJETOS FONTE: Adaptado de: Shenhar (2004) Retomando, pode-se dizer então que projetos são únicos por natureza e processos são repetitivos por natureza. Projetos precisam de um objetivo claro para que se haja um planejamento operacional e que todos os recursos necessários sejam mobilizados em uma ordem do tempo para que o objetivo seja alcançado. Processos enquanto projetos têm em comum a melhoria ou uma determinada ação estratégica. Em processos, por exemplo, uma ação estratégica seria diminuir o tempo de resposta a um cliente. Portanto, é necessário que seja continuamente averiguado quais são os “gargalos” do processo, ou seja, processos que estão tomando maior parte do tempo. Desse modo, por meio de controle estatístico e a ampliaçãodo conhecimento gerencial, pode-se diminuir esse tempo. Como exemplos de projetos, podemos citar a abertura de mais pontos de venda de uma rede de varejo. Dessa forma, projetos não são rotineiros, ou seja, não há uma demanda contínua de abertura de lojas, mas sim, uma ação estratégica com impacto organizacional. A Figura 3 apresenta um esquema resumido de como projetos e processos podem ser identificados no contexto organizacional. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS 8 FIGURA 3 – ABERTURA DE UMA NOVA FILIAL DE UMA LOJA FONTE: O autor (2018) Conforme visto anteriormente, a ação estratégica de uma empresa para (de) abrir uma nova filial é um projeto pois, possui início, meio e fim. Ou seja, a partir do objetivo estratégico traçado, o projeto é iniciado por um Termo de Abertura do Projeto – TAP, passa-se para a execução do projeto e este é finalizado a partir da entrega de seu resultado final. Já os processos podem ser observados no dia a dia de funcionamento dessa loja, a entrada recorrente de cliente, a realização de pedidos e a consolidação de vendas. Entretanto, processos quanto projetos precisam ser averiguados constantemente para avaliação do alcance dos objetivos estratégicos. Então, faz- se necessária uma mensuração dos resultados, surge então o terceiro elemento importante para a execução da estratégia, a avaliação de desempenho. Todavia, um grande equívoco realizado pelas organizações e profissionais é entender que a avaliação de desempenho só é útil após a execução de determinada situação. Na verdade, a avaliação de desempenho é um desdobramento de anseios e expectativas organizacionais em relação aos objetivos traçados, e estes objetivos devem ser mensurados por indicadores de desempenho expressados em uma escala de preferência. Neste sentido, a Figura 4 busca exemplificar o processo de formulação desses indicadores: TÓPICO 1 | DE ONDE VÊM OS PROJETOS? 9 FIGURA 4 – PLANO ESTRATÉGICO E PROJETOS FONTE: Adaptado de Norton e Kaplan (2004) Como visto, a partir dos objetivos estratégicos é possível identificar indicadores de desempenho que auxiliarão na tradução da estratégia em ações práticas. Ou seja, a partir desses indicadores de desempenho, a organização poderá identificar sua situação atual e assim poderá realizar uma análise de que projetos serão necessários para que o objetivo estratégico seja atingido. Ao realizar o projeto, é necessária a análise dos resultados alcançados, e assim uma nova avaliação e atualização dos indicadores de desempenho. Uma vez realizado, este deve ser um processo recursivo da organização para avaliação de seus resultados perante seus indicadores de desempenho e objetivos estratégicos. Com essa visualização e reflexão, os gerentes podem formar opinião com base em fatos e dados e propor metas de desempenho. A partir dessas metas, surge então a necessidade de melhoria de processos ou a criação de projetos para elevar o desempenho de cada objetivo que está sendo focado no momento. Uma organização ao traçar um objetivo, deve identificar quais são as áreas de gestão que impactam o alcance deste. Neste exemplo é possível observar que o objetivo estratégico pode ser desdobrado pelos resultados das áreas de mercado, produção, pessoas e financeiro, conforme apresentado na Figura 5. EXEMPLO UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS 10 FIGURA 5 – OBJETIVOS ESTRATÉGICOS E ÁREAS DE GESTÃO FONTE: O autor (2018) Ao identificar estas áreas de gestão, passa-se a definição de indicadores e metas de desempenho, conforme apresentado na Figura 6. No exemplo, o comitê executivo coloca como um dos objetivos a ampliação da presença geográfica e com o indicador diretamente relacionado. FIGURA 6 – INDICADORES E METAS DE DESEMPENHO FONTE: O autor (2018) TÓPICO 1 | DE ONDE VÊM OS PROJETOS? 11 Neste ponto, observa-se o uso da ciência de avaliação de desempenho como forma de expressar um anseio dos executivos em métricas para realizar uma gestão eficaz (Figura 7). FIGURA 7 – AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO E OBJETIVOS ESTRATÉGICOS FONTE: O autor (2018) Na Figura 8 a seguir, observa-se a relação dos indicadores com gestão de projetos. É a partir dos indicadores de desempenho que os projetos são concebidos. E no caso do exemplo, talvez necessite um programa de projetos para alcançar a meta estratégica. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS 12 FIGURA 8 – RELAÇÃO ENTRE INDICADORES, PROJETO E PROGRAMAS FONTE: O autor (2018) É importante notar que no exemplo foram explorados apenas um indicador e um projeto, mas para a execução de um planejamento estratégico, esse procedimento de relação entre indicadores e projetos deve realizar todas as áreas da organização, conforme apresentado na Figura 9. FIGURA 9 – IDENTIFICAÇÃO DE INDICADORES FONTE: O autor (2018) TÓPICO 1 | DE ONDE VÊM OS PROJETOS? 13 Como observado na Figura 10, a organização deseja também ampliar o número de vendedores treinados. FIGURA 10 – EXEMPLO DE PAINEL DE INDICADORES PARA UMA ORGANIZAÇÃO DE DEPARTAMENTOS FONTE: O autor (2018) Dessa forma, a avaliação de desempenho tem que ser realizada antes da execução de melhorias, tanto para processos quanto em relação à gestão de projetos. 3 GESTÃO DE PORTFÓLIO E PROGRAMAS Após esclarecer o que é e como ocorre a gestão estratégica, é necessário identificar como essas ações são operacionalizadas, principalmente, em relação a projetos, foco central desse texto. Gerenciar um projeto de uma maneira individual requer certas habilidades e técnicas, que veremos mais à frente. Porém, veremos a seguir que o gerenciamento de um conjunto de projetos requer outro tipo de abordagem e métodos, como a gestão de portfólio e programas. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS 14 a. Portfólio Quando na gestão estratégica, selecionamos um conjunto de ações e de projetos o denominamos de portfólio de projetos. Portfólio de projetos é um conjunto de projetos que necessitam um contínuo alinhamento com a estratégia organizacional e estes devem ser gerenciados de forma coordenada e visando alcançar os objetivos organizacionais. Portfólio de projetos trata da formulação, seleção, priorização e implementação de projetos e sobre a operacionalização da estratégia organizacional (LACERDA et al., 2010). A gestão de portfólio é uma área de conhecimento bastante estudada nas últimas décadas, mas, ostensivamente analisada com vistas à rentabilidade financeira de projetos, muito comum em empresas industriais de manufatura, por exemplo. Projetos organizacionais não podem ser avaliados somente quanto ao seu retorno de investimento, pois muitos, principalmente os mais estratégicos, têm impactos indiretos ou estruturantes nos objetivos organizacionais e no faturamento. Por exemplo, em um projeto de capacitação, não se pode obter o retorno de investimento imediato, pois estimulando o conhecimento das pessoas, subentende-se que teremos também uma melhoria das operações. Seja qual for o método utilizado para avaliar o portfólio de projetos, se usado apenas o retorno financeiro, o gestor correrá um sério risco de priorização de ações que somente tem impacto direto na redução de custos e aumento de faturamento no curto prazo. Deste modo, pode-se resultar em uma série de problemas estratégicos, em que a estrutura organizacional não foi preparada para o crescimento sustentável e para a melhoria contínua de longo prazo. Dessa maneira, o portfólio de projetos tem que ser avaliado não só em aspectos financeiros, mas também sobre os impactos indiretos sobre seus clientes, impactos organizacionais em termos de processos internos, inovação e gestão de pessoas, que se tornam preponderantes nos dias atuais, principalmente nos projetos de base tecnológica e de inovação. Na área de conhecimento da gestão de portfólio, podem-se observar vários métodos e abordagens para esse tipo de ação, porém, podemos generalizar quatro grandes etapas na gestão de portfólio, conforme apresentadona Figura 11. TÓPICO 1 | DE ONDE VÊM OS PROJETOS? 15 FIGURA 11 – GERENCIAMENTO DO PORTFÓLIO FONTE: Lacerda (2009) A primeira etapa é definir o que os executivos e gestores da organização desejam. Ou seja, quais são os objetivos estratégicos e quais são os indicadores de desempenho que irão mensurar os projetos que precisam ser criados, priorizados e executados. No segundo momento são criadas alternativas de ação que visarão impactar positivamente nos objetivos e indicadores de desempenho, determinados na etapa anterior. A seguir, é necessária uma decisão, que é a comparação entre o “desejo” e “as alternativas de ação”. Existem vários métodos para realizar essa atividade, em que a avaliação multicritério de apoio à decisão é a principal técnica. Mas também, caso o gestor de portfólio esteja em contextos mais simples, pode-se usar uma matriz ponderada de critérios. A partir da avaliação de desempenho, que confronta um modelo de avaliação com as ideias de projetos, surge então um ranking, que é uma ordenação de projetos dos mais atrativos até os menos atrativos. Desse modo, a organização pode categorizar seus projetos para que haja uma lista de ordenação por categorias. Por exemplo, poderia existir uma categoria somente de projetos de desenvolvimento de produtos e uma outra categoria só de melhoria e capacitação de colaboradores. Essa divisão em categorias é interessante para quando os gestores da organização têm orçamentos definidos para cada tipo de categoria e garante, desse modo, que todas as categorias tenham um conjunto de projetos, gerando UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS 16 então um equilíbrio entre o portfólio de projetos. Sendo assim, previne-se, por exemplo, de se investir todo o orçamento em desenvolvimento de tecnologia ou aquisição de software esquecendo outros aspectos estruturantes da organização. Uma vez que estabelecemos essas categorias, em gestão de portfólio, chamamos de balanceamento do portfólio, e desse modo, é possível então começar o financiamento dos projetos. O financiamento do projeto ocorre pelo projeto mais atrativo e quanto é o seu orçamento previsto, então parte-se para o segundo projeto, caso haja orçamento e assim sucessivamente até que o orçamento de uma determinada categoria seja exaurido. E, dessa forma, os projetos que são financiados têm a sua prioridade de execução. Após essa decisão, dada pela ordem de execução de projetos, existe também a necessidade de monitoramento contínuo do portfólio. A etapa de decisão dos projetos, os planos, cronogramas e orçamentos são realizados em alto nível e com uma margem de risco e incerteza alta, dado que as estimativas foram executadas sem informações e que precisam de mais tempo (e recursos) para obtenção. Assim, esses projetos devem ser de tempos em tempos (a cada fase do projeto) monitorados para que haja garantia que os projetos financiados continuem sendo os mais atrativos para organização. Como exemplo desse monitoramento, pode ser citado um projeto de ampliação de pontos de vendas de uma empresa de cosméticos. Na etapa de estruturação do projeto, o gestor supôs que poderia criar cinco filiais com um orçamento de R$200.000. O projeto foi financiado e iniciado, porém ao longo da execução do projeto, o gestor percebe que cinco filiais ficariam inviáveis em virtude de algumas imprecisões nos orçamentos. O gerente de projeto então pede uma redução da meta de cinco para três filiais. Esse constante monitoramento de atratividade e atualização do ranking de prioridades de projetos geram então as solicitações de mudança. A gestão de solicitações de mudanças é fator crítico para as organizações em termos estratégicos, pois auxiliam a determinar se um projeto continua a ser executado ou se este deve ser suspenso por conta de metas irreais ou subestimação de recursos. Em algumas situações, durante a execução do projeto, percebe-se que a atratividade dele não passou de uma especulação no momento do financiamento. Em princípio, isso pode suscitar uma falha de planejamento, mas gerentes experientes entendem que é inviável no momento de o financiamento arcar com altos custos de orçamentos e dispêndio de tempo de pessoas para planejar detalhadamente cada etapa do projeto. Isso seria mais prejudicial, pois a fase de avaliação poderia levar meses e perder oportunidades estratégicas importantes. Em suma: a gestão de mudanças e o monitoramento contínuo de portfólio é fundamental e aceitar essas imprecisões faz parte do cotidiano de qualquer gerente de projeto. TÓPICO 1 | DE ONDE VÊM OS PROJETOS? 17 Como veremos nos tópicos posteriores, a gestão de projetos não é uma ciência determinística, pois os projetos de maior impacto estratégico e principalmente os projetos de inovação ou projetos estruturantes que visam dar consistência para a organização crescer continuamente, tem em sua natureza um alto grau de incerteza. Dessa forma, esse exercício contínuo de planejar, executar e avaliar os objetivos e estimativas, e também o que o gerente de projeto e seu time aprenderam ao longo da execução é um exercício contínuo da gestão de portfólio e, como veremos nas seções subsequentes, um exercício contínuo na gestão de projetos. b. Programas No conceito de gestão de operações, existe um outro conceito importante que é o conceito de programa. Um programa, nada mais é do que a gestão do portfólio de projetos em conjunto com a gestão de processos, com rumo à um objetivo em comum (PMI, 2013). Muitas vezes, as organizações se deparam com situações em que determinado objetivo precisa de vários projetos para sua execução, o que se caracteriza a gestão de portfólio. Porém, esses projetos são alinhados de uma maneira temporal, ou seja, projetos são encerrados e seus resultados já são utilizados pelos usuários. Com esse uso, algumas demandas recorrentes podem ocorrer, gerando a necessidade de lidar com processos. Dessa forma, existe a necessidade de gerenciar projetos de uma maneira coordenada, mas também gerenciar os ativos desses projetos que já estão sendo gerados e usados. Pode-se imaginar essa questão com o exemplo da empresa que precisa construir cinco filiais, compondo dessa forma, sua rede de vendas. Supondo que essas filiais serão construídas de maneira progressiva, ou seja, um projeto para cada filial, tem-se então cinco projetos diferentes. Mas, estes devem ser construídos de uma maneira coordenada, pois a mesma equipe irá fazer cada projeto e, deste modo, surge o conceito de gestão de portfólio. Porém, essas filiais são construídas de uma maneira temporal, ou seja, uma primeira filial é entregue e já entra em operação, vendendo e atendendo ao cliente. Enquanto isso, o projeto da segunda filial inicia, e esse mesmo gestor de portfólio tem que dar assistência. Ou seja, duas iniciativas coordenadas estão em andamento: o projeto da segunda filial e o processo de atendimento da primeira filial. Assim, se há problemas na primeira filial, como uma falha no software de emissão de nota fiscal, essas manutenções não são previsíveis e não estão dentro de escopo do projeto. Então essas demandas entram numa rotina de gestão de processos que é um processo de atendimento ao gerente da filial. Em resumo, a Figura 12 apresenta as principais características e como a gestão de projetos, portfólio e projetos estão relacionadas: UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS 18 FIGURA 12 – GERENCIAMENTO DE PORTFÓLIO, PROGRAMA E PROJETO FONTE: O autor (2018) 19 Neste tópico, você aprendeu que: • Existem várias técnicas e abordagens que sustentam o planejamento estratégico organizacional. • As estratégias podem ser operacionalizadas por meio de processos e por meio de projetos. • Processos são, basicamente, um conjunto de atividades que são executadas, de forma mais ou menos repetitiva, e seguem um fluxo básico de sequência, podendo ser mensurado o seu resultado ao longo do tempo. • Projetos são ações pontuais com começo,meio e fim claros, com um conjunto de atividades coordenadas, que utilizam recursos organizacionais a fim de alcançar um determinado objetivo. • Processos e projetos precisam ser averiguados se estão conseguindo alcançar os objetivos estratégicos. Então, faz-se necessária uma mensuração dos resultados, surgindo então o terceiro elemento importante para a execução da estratégia, a avaliação de desempenho. • Portfólio de projetos é um conjunto de projetos que necessitam um contínuo alinhamento com a estratégia organizacional e estes devem ser gerenciados de forma coordenada. • Um programa é a gestão do portfólio de projetos em conjunto com a gestão de processos rumando a um objetivo em comum. RESUMO DO TÓPICO 1 20 1 Preencha as frases a seguir a partir dos conceitos apresentados neste tópico: a) ___________ são um conjunto de atividades que são executadas, de forma repetitiva, e seguem um fluxo básico de sequência. b) ___________ são ações pontuais com começo, meio e fim claros, com um conjunto de atividades coordenadas que utilizam recursos organizacionais a fim de alcançar um determinado objetivo. c) ___________ é um conjunto de ___________ que necessitam um contínuo alinhamento com a estratégia organizacional e estes devem ser gerenciados de forma coordenada e visando alcançar os objetivos organizacionais. d) Um ___________, caracteriza-se como a gestão de ___________ de ___________ em conjunto com a gestão de ___________, com rumo a um objetivo em comum. AUTOATIVIDADE 21 TÓPICO 2 DEFINIÇÃO E TIPOS DE PROJETOS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Após contextualizar o panorama de origem dos projetos dentro de uma organização e também como os projetos são coordenados para constante alinhamento com a estratégia, podemos agora analisar e conceituar mais profundamente o que é um projeto. Um projeto se caracteriza por um conjunto de atividades que usam recursos organizacionais, que podem ser financeiros, humanos ou materiais, para o alcance de um objetivo determinado. Projetos então se caracterizam por ser uma iniciativa temporária da organização, e tem pela sua natureza um começo, meio e fim (KERZNER, 2016). Com a definição de que projeto é uma iniciativa temporária, o projeto carrega um conjunto de métodos e técnicas específicos para trabalhar com esse tipo de contexto, porém, esses métodos e abordagens podem ser explicados conforme a natureza e tipo do projeto e quais são as suas características. Dessa forma, tais métodos e abordagens são explicitados nos subtópicos seguintes. 2 TIPOS DE PROJETOS Existem várias tipologias e taxonomias para caracterizar projetos e determinar quais instrumentos gerenciais são adequados para quais contextos. Um dos principais elementos de determinação do tipo de projeto e futura escolha das técnicas é o grau de conhecimento que temos do projeto. Existem projetos que possuem uma ampla base histórica e é possível determinar de forma análoga e comparativa quais foram os principais fatores críticos de sucesso dos projetos anteriores, bem como conseguir parâmetros para estimar prazo e custo. Muitas vezes, esses já possuem um checklist, ou seja, já possuem uma estrutura e um conjunto de atividades pré-formatadas em que o gestor já parte de uma base sólida de conhecimento. Nessa categoria de projetos com ampla base histórica, pode-se exemplificar com projetos de construção civil. Uma construtora, que constrói usualmente o mesmo padrão de edifício, já tem conhecimento dos itens que geram maior UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS 22 esforço, quais itens que tipicamente geram atrasos, quais fornecedores que atendem a sua necessidade, ou quais variáveis ambientais afetam determinada atividade, como a chuva. Assim, a partir desse conhecimento prévio, algumas etapas do projeto já são previamente conhecidas uma vez que já foram desempenhadas em projetos anteriores. E, é a partir dessa base histórica, que muitos gerentes de projetos podem iniciar seu planejamento. No caso da construtora, por exemplo, já fazem parte da base de conhecimento da empresa as etapas básicas para a construção de um prédio, conforme apresentado na Figura 13: FIGURA 13 - ETAPAS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM PRÉDIO FONTE: Adaptado de: <https://www.aarquiteta.com.br/blog/engenharia-e-construcao-civil/10- etapas-de-uma-obra/>. Acesso em: 10 set. 2018. Assim como a partir da base histórica é possível determinar as principais etapas de construção, ainda é possível identificar cada atividade inerente às etapas, e assim por diante (Figura 14). TÓPICO 2 | DEFINIÇÃO E TIPOS DE PROJETOS 23 FIGURA 14 – ETAPAS E ATIVIDADES PARA CONSTRUÇÃO DE UM PRÉDIO FONTE: Adaptado de: <https://www.aarquiteta.com.br/blog/engenharia-e-construcao-civil/10- etapas-de-uma-obra/>. Acesso em: 10 set. 2018. Outro exemplo que pode ser citado é o cálculo de estimativa da utilização de tijolos em uma determinada obra. A partir de uma base histórica, para a construção de um novo prédio, uma construtora pode estimar a quantidade necessária de tijolos que utilizará. Deste modo, ao consultar a base histórica da empresa, é possível identifi car orientações para a estimativa de tijolos necessários para a obra, conforme apresentado na Figura 15: FIGURA 15 – ORIENTAÇÕES PARA ESTIMATIVA DE TIJOLOS FONTE: Adaptado de: <https://www.aarquiteta.com.br/blog/engenharia-e-construcao-civil/ como-calcular-consumo-de-blocos-ou-tijolos-por-metro-quadrado/>. Acesso em: 10 set. 2018. Vigas Baldrame Pilares Paredes Torre caixa d'água Vigas Lages Radier UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS 24 Deste modo, ao consultar as orientações disponibilizadas pela empresa, com base nas experiências anteriores na realização de projetos similares, as estimativas podem ser feitas de forma mais assertiva. Retomando ao exemplo, a partir da base histórica, é possível que a equipe do projeto possa determinar com maior facilidade a estimativa de tijolos a serem utilizados, conforme a Figura 16, Figura 17 e Figura 18. FIGURA 16 – ESTIMATIVA DE TIJOLOS (1) FONTE: Adaptado de: <http://ew7.com.br/projeto-arquitetonico-com-autocad/index.php/ tutoriais-e-dicas/97-como-representar-a-espessura-das-paredes-em-desenho-tecnico.html>. Acesso em: 11 set. 2018. TÓPICO 2 | DEFINIÇÃO E TIPOS DE PROJETOS 25 FIGURA 17 – ESTIMATIVA DE TIJOLOS (2) FONTE: Adaptado de: <http://www.mfrural.com.br/busca.aspx?palavras=fabrica+blocos>. Acesso em: 11 set. 2018. FIGURA 18 – ESTIMATIVA DE TIJOLOS (3) FONTE: Adaptado de: <https://www.dicascasa.com.br/quanto-tempo-para-construir-uma- casa/>. Acesso em: 11 set. 2018. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS 26 Importante salientar que não é o setor de construção civil que tem projetos com base histórica, pois podem existir muitos projetos de construção civil que são singulares, sem comparação com outros, não se caracterizando então esse tipo de projeto. Nesses projetos em que existe uma grande base histórica, o gerente de projeto já parte de uma base de conhecimento importante para sua execução. Por essa natureza de alguma previsibilidade, a escolha de instrumentos gerenciais é baseada normalmente no controle. O controle em administração geral ocorre pela tentativa contínua de minimização de desvios, basicamente de prazo, custo e progresso físico do projeto, que chamaremos de escopo. Por outro lado, existem projetos em que não há uma base histórica pela qual a organização possa se comparar. Geralmente isso ocorre onde as metas e o escopo do projeto se tornam incertos ou imprecisos, fruto da limitação de conhecimento da equipe naquele tipo de projeto, típico de projetos de inovação. Para esse tipo de projeto, pode-se exemplificar os projetos de desenvolvimento de novos produtos ou na arquitetura tecnológica de uma linha de produtos. Nesses tipos de projetos, geralmente não existe uma base histórica para estimar quanto tempo demora uma atividade e, muitas vezes, essa incerteza não permite ao gestor uma diretivasobre o que de fato tem que ser feito no projeto (escopo). Para esses projetos sem base histórica, o escopo é incerto e indeterminado no início do projeto. A incerteza advém da limitação de conhecimento, e conhecimento não é um ativo que pode ser assimilado de forma rápida e barata, por isso o conhecimento é um diferencial competitivo importante em qualquer organização moderna. EXEMPLO Para exemplificar as diferenças entre projetos, imaginemos o projeto de um novo produto, uma barraca de camping, conforme ilustrado na Figura 19. Obviamente, barraca é um produto clássico, composto de hastes e tecido protetor. Porém, a empresa em questão quer inovar, desenvolvendo a barraca com ar condicionado, composto dos elementos apresentados na Figura 19. TÓPICO 2 | DEFINIÇÃO E TIPOS DE PROJETOS 27 FIGURA 19 – PROJETOS DE INOVAÇÃO FONTE: O autor Apesar da demanda por uma barraca que deixe também o mochileiro tranquilo em momentos quentes do dia, a questão do peso das unidades condensadora e evaporadora é um problema, conforme ilustrado na Figura 20. FIGURA 20 – PROBLEMÁTICA DA BARRACA COM AR CONDICIONADO, UM PROJETO INOVADOR FONTE: O autor (2018) Dessa forma, existe a necessidade de um processo criativo para resolver esse problema do peso. Na Figura 21 são apresentados dois exemplos. Um diretamente relacionado com o desenvolvimento tecnológico de uma unidade condensadora mais leve para o ar condicionado. Porém, existe outra possibilidade, a realização de parcerias com hostels, que ficariam com as unidades condensadoras e o mochileiro só precisaria obter na recepção por aluguel. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS 28 Nesse exemplo deixa claro que para resolver problemas, não é somente uma questão de engenharia ou tecnologia, mas focar no problema e endereçar necessidades dos usuários. FIGURA 21 – DECISÕES PARA A SOLUÇÃO DE PROBLEMAS FONTE: O autor (2018) Projetos que envolvem incertezas são os grandes desafios e oportunidades das organizações nos tempos atuais. Assim, os gerentes de projetos precisam adequar seus instrumentos gerenciais, uma vez que os instrumentos baseados no controle precisam basicamente ter uma estimativa concreta e propositiva do tempo, custo e o que tem que ser feito. Todavia, projetos sem base histórica não têm essa determinação, ou se há, existe uma insegurança quanto a sua precisão. O que se tem no início de projetos dessa natureza são palpites e opiniões, que chamaremos aqui de uma hipótese ou premissa de projeto, que somente após a execução se pode aferir se estavam corretas ou não. Instrumentos gerenciais baseados em controle não são adequados para contextos incertos, pois se focam no controle de variáveis que impactam no resultado desejado. Para contextos de projetos de inovação devem-se usar técnicas de expansão de conhecimento na equipe e criar condições para que as pessoas consigam de uma maneira progressiva e por ciclos de aprendizagem, entender o projeto e assim propor estimativas factíveis. Isso ocorre devido a pequenos e sucessivos experimentos que se focam na aprendizagem. TÓPICO 2 | DEFINIÇÃO E TIPOS DE PROJETOS 29 Vale reiterar que somente existe incerteza pela limitação de conhecimento. Assim, a aprendizagem visa ampliar o conhecimento e, consequentemente, minimizar a incerteza. Outra variável em que podemos categorizar os projetos é o nível de complexidade. A complexidade aqui nesse contexto não se caracteriza pelo que é fácil ou difícil de executar, pois a facilidade ou dificuldade se relaciona com o grau de conhecimento e experiência de uma determinada equipe. Para uma equipe experiente, uma atividade pode se caracterizar como fácil e a mesma atividade executada por uma equipe inexperiente pode se configurar uma atividade complicada. Assim, o termo complexidade em contexto de projetos se refere à quantidade de componentes e pessoas envolvidas com o projeto e, principalmente, como essas pessoas e componentes devem ser integrados no projeto, ou seja, quantos stakeholders farão parte desse contexto. Após categorizar o projeto, pela magnitude da base histórica do projeto e pela sua complexidade, o gerente de projetos pode avaliar qual é o ciclo de vida pelo qual será executado o projeto, assunto que será abordado na próxima seção. O termo stakeholder (partes interessadas, em português) se refere às pessoas e às organizações que podem ser afetadas pelo projeto, de forma direta ou indireta. UNI 3 CICLOS DE VIDA DE UM PROJETO Ciclo de vida se refere à abordagem de como será a sequência de eventos que ocorrerá no projeto para que esse alcance os resultados esperados. O ciclo de vida clássico é o executado em fases, em que o projeto é dividido em intervalos de tempo e cada intervalo, chamado fase, tem um produto de trabalho importante para a conclusão do projeto. Toda fase é encerrada com um marco do projeto. Alguns exemplos típicos de marcos de projeto são entrega do termo de abertura do projeto, estabilização dos requisitos de projeto, acordo preliminares de planos de projeto, implementação, entrega e encerramento do projeto (PMI, 2013). O ciclo de vida por fases é indicado em projetos em que haja uma base histórica adequada para determinar os marcos do projeto e confiabilidade nas estimativas para conseguir determinar a grandeza de cada fase, mesmo que UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS 30 em forma de proporção, como “estima-se que a implementação durará 50% do projeto todo”. A Figura 22 apresenta uma exemplificação desses tipos de ciclo de vida: FIGURA 22 – MODELO DE CICLO DE VIDA: CASCATA FONTE: O autor (2018) Uma opção ao ciclo de vida por fases é o ciclo de vida iterativo. Uma iteração é um conjunto de atividades que são realizadas com vistas a dissipar dúvidas e riscos de projeto de forma progressiva (PEREIRA et al., 2007). Esse ciclo de vida é indicado para projetos com base histórica limitada ou inexistente, sendo necessário evoluir o projeto gradativamente para entender seus requisitos e ter bases de estimativas mais confiáveis. Em uma iteração, há um foco de curto prazo de entrega de um conjunto restrito de requisitos que seja operacional, ou seja, seja útil para o usuário e a equipe de projeto observar se estão no caminho correto. Para tal intento, realiza-se um ciclo de levantamento de requisitos, implementação e teste de uma parte relevante do escopo. Como se fosse o ciclo de vida de fases do projeto, mas com duração curta, geralmente entre uma a três semanas cada iteração, conforme a Figura 23. TÓPICO 2 | DEFINIÇÃO E TIPOS DE PROJETOS 31 FIGURA 23 – CICLO ITERATIVO FONTE: O autor (2018) Em um projeto de inovação, é típico não saber com precisão quais os requisitos do projeto e quantas iterações (tempo) serão necessárias para sua conclusão, conforme Figura 24. FIGURA 24 – LINHA DO TEMPO (1) FONTE: O autor (2018) UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS 32 Nas primeiras iterações, geralmente se destina a identificar quais são os requisitos de projeto, assim como na Figura 25. FIGURA 25 – LINHA DO TEMPO (2) FONTE: O autor (2018) Os requisitos de maior risco ou de maior utilidade ao usuário são formalmente especificados e classificados por ordem de criticidade, ou seja, aqueles que serão implementados primeiro, conforme a Figura 26. TÓPICO 2 | DEFINIÇÃO E TIPOS DE PROJETOS 33 FIGURA 26 – LINHA DO TEMPO (3) FONTE: O autor (2018) Com o escopo clarificado, foca-se em dividir o projeto em iterações, assim como demonstrado na Figura 27. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS 34 FIGURA 27 – LINHA DO TEMPO (4) FONTE: O autor (2018) Muitas vezes, em projetos de muita incerteza, só existe um plano das próximas iterações, e não do projeto como um todo, conforme Figura 28. TÓPICO 2 | DEFINIÇÃO E TIPOS DE PROJETOS 35 FIGURA 28 – LINHA DO TEMPO (5) FONTE: O autor (2018) Ao avançar na execução do projeto, pode-se dividir as atividades de cada requisito ao longo das iterações, surgindo aordem das versões de produto e quais requisitos cada versão contemplará, assim como na Figura 29. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS 36 FIGURA 29 – LINHA DO TEMPO (6) FONTE: O autor (2018) 4 ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS Como observado nas seções anteriores, as organizações podem executar sua estratégia por meio de processos ou por projetos. Dessa forma, a disposição dos recursos humanos, financeiros e de infraestrutura são estruturados e organizados para atender a essa tipologia de execução estratégica (MINTZBERG, 1995). Deste modo, por questões históricas e principalmente pelo anseio primário em desenvolver o lucro em detrimento ao desenvolvimento da estrutura organizacional com rentabilidade e lucratividade em amplos horizontes de tempo, as estruturas organizacionais foram tradicionalmente desenhadas para atender aos processos críticos, ou seja, aqueles processos que são vetores fundamentais para o sucesso da empresa. Dessa maneira, para potencializar a especialização em detrimento de uma visão abrangente dos objetivos organizacionais, as estruturas organizacionais foram historicamente contaminadas por estruturas funcionais, ou seja, estruturas sobre as quais as organizações são divididas em áreas de conhecimento ou departamentos. Por exemplo, uma empresa privada típica pode ser entendida como um conjunto de processos financeiros, de operações, recursos humanos, logística, vendas e atendimento ao cliente. Por trás dessa tipologia, em que chamamos de TÓPICO 2 | DEFINIÇÃO E TIPOS DE PROJETOS 37 estruturas funcionais, está o anseio de organizar as áreas de conhecimento a fim de otimizar os recursos disponíveis. Essa visão de estruturas organizacionais teve início na era da administração científica, e se perpetuou durante décadas como modelo típico em que observamos nas empresas atualmente. Porém, por trás dessa tipologia, existe a premissa de que os objetivos organizacionais são atendidos por essas unidades organizacionais de uma maneira que cada unidade contribua de forma alinhada com os objetivos da empresa. Todavia, observa-se uma disfunção que é o foco exacerbado da utilização dos recursos disponíveis, ou seja, privilegiar a eficiência (“fazer bem feito”) e não se atentar à eficácia (“fazer o que deve ser feito”), deixando o alcance dos objetivos da organização em segundo plano. As estruturas funcionais apresentam dificuldades para orquestrar os recursos interdepartamentais, que são típicos nas organizações modernas. Pode- se citar, como exemplo, o desenvolvimento de um produto em uma estrutura funcional. O desenvolvimento de um produto geralmente fica com a competência e responsabilidade da área de operações. Portanto, as outras unidades não se sentem responsáveis por aquela iniciativa, dado que são responsáveis por otimizar seus recursos e seus próprios processos. Um esquema de organização funcional é apresentado na Figura 30. FIGURA 30 – ORGANIZAÇÃO FUNCIONAL FONTE: Adaptado de PMI (2013) UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS 38 Como exemplo de disfunção desse tipo de estrutura pode ser citado quando o setor de recursos humanos desenvolve um plano de cargos e salários e um plano de remuneração variável para os seus colaboradores. Porém, quando se pensa em desenvolver um produto não é só a questão física ou a questão do produto em si que precisa de gerenciamento. O desenvolvimento de produto necessita uma equipe bem capacitada e selecionada para que se possa ter alto desempenho nesse produto. Portanto, para desenvolver um produto, seja ele tecnológico ou não, a área de recursos humanos deve pensar de forma estratégica e alinhada com a área de operações para que consiga suprir a necessidade estratégica. A gestão de pessoas, por meio de motivação, seleção e desenvolvimento de pessoas contribui com o desenvolvimento das competências críticas para o alto desempenho do projeto e o desenvolvimento de produto. Existe uma relação indireta, mas de extrema importância nessas unidades. Outro exemplo, ainda no desenvolvimento de um produto. No momento em que o produto está em sua fase final de testes, já deve ser iniciado, ou até avançado, a elaboração de um plano de marketing, um plano de divulgação e um plano de estratégia de vendas, capacitando todo o canal de distribuição e de vendas para que os representantes possam lidar com esse novo produto que está sendo disponibilizado para o mercado. Deste modo, área de vendas, que antes era só responsável por atingir uma meta de vendas, precisa também estar alinhada com o desenvolvimento do produto para que a força de vendas possa ter pessoas e um discurso alinhado com a proposta de valor e modelos de precificação adequado para o novo produto que se está disponibilizando. Com esses exemplos, pode-se observar a dificuldade que um diretor- geral ou um executivo tem em orquestrar todos esses departamentos de forma que garanta não só um desempenho departamental de excelência, mas também garantir que os objetivos organizacionais sejam prioritários, até mesmo em detrimento de alguns objetivos departamentais isolados, pela sua contribuição estruturante e estratégica para a organização. Muitas vezes, para que o coletivo possa alcançar seus resultados, o individual deve ser preterido. Em contraponto às estruturas funcionais, existe outra forma de estrutura organizacional que endereça a questão de alinhamento de objetivos e alinhamento de todas as unidades de negócio para um fim específico. Os departamentos, em vez de serem organizados por áreas de conhecimento, devem ser dispostos por projetos (PMI, 2013). Assim, não existem vários gerentes e vários departamentos para compor um conjunto de recursos para o cumprimento de um objetivo, mas sim, um gerente de projeto e uma equipe multidisciplinar alocada para que consiga atender a esse objetivo. TÓPICO 2 | DEFINIÇÃO E TIPOS DE PROJETOS 39 Os departamentos em estruturas projetizadas não são unidades primárias para a consecução de objetivos. Mas sim, o projeto passa a ser um conjunto de recursos multidisciplinares, com competências de operações de finanças, de recursos humanos, marketing e venda, assim por diante. Os departamentos do modelo funcional continuam existindo, porém são responsáveis por prover recursos, pessoas e competências alinhados ao que os projetos precisam e não rivalizando os seus objetivos e recursos em detrimento de objetivos organizacionais globais. Nessa configuração projetizada, os gerentes do projeto têm autoridade superior a chefia de departamento, e podem solicitar alocação de recursos para o cumprimento de objetivos organizacionais. Deste modo, os processos isolados não são mais relevantes que os objetivos globais de uma organização. Um esquema de organização projetizada é apresentado na Figura 31. FIGURA 31 – ORGANIZAÇÃO PROJETIZADA FONTE: Adaptado de: PMI (2013) Todavia, a estrutura projetizada também carrega alguns desafios gerenciais de longo prazo. Por exemplo, a equipe de um projeto é transiente, ou seja, ela é arregimentada e disponibilizada às unidades de negócio assim que o projeto se inicia e se encerra. Dessa maneira, os profissionais precisam compreender não só a sua função em uma unidade de negócio isolada. Mas sim, a equipe precisa entender que cada dia do seu trabalho é como um passo para o alcance dos objetivos estratégicos de uma organização. Outro desafio dessa configuração é que em um determinado momento a empresa pode não ter à disposição e nem terá atividades suficientes para alocar profissionais dedicados exclusivamente, como um contabilista ou um UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS 40 auditor. Esses profissionais podem trabalhar em um determinado momento em um projeto, mas não de uma forma dedicada. Surge, então, uma importante e complexa necessidade de gerenciar recursos compartilhados. Esses recursos compartilhados, como pessoas, orçamento e infraestrutura, podem também ser motivo de disputas e priorização. Destemodo, é necessário a intervenção executiva para que os recursos compartilhados também sejam usados de forma alinhada aos objetivos estratégicos da organização. Pode-se ainda citar outra forma de estrutura, a híbrida. A estrutura híbrida contempla características das duas estruturas funcionais e projetizadas. Nessa estrutura de organização continuam existindo os departamentos funcionais, porém, há também o departamento de projetos. Assim, as operações ou processos isolados que não têm relação ou tem baixa relação com outros departamentos são tratados dentro de cada departamento. Porém, projetos estratégicos são alocados para a área de projetos que se denomina em algumas organizações como escritório de projetos ou PMO (em inglês Project Management Office). Esse escritório de projetos contempla a alocação de profissionais capacitados em gestão de projetos, assim como define e mantém uma metodologia de gestão de projetos para toda a organização (BARCAUÍ, 2012). Dessa maneira, quando um projeto estratégico é iniciado, um profissional da gestão de projetos do escritório de projetos é alocado para sua gerência e as demais pessoas de forma compartilhada são disponibilizados pelas áreas funcionais. Apesar de parecer uma vantagem de alinhamento estratégico, bem como garantir a identificação de um profissional em relação ao seu departamento, essa estrutura organizacional também oferece desvantagens. A principal desvantagem é a equipe que está alocada no projeto e muitas vezes se reporta de uma forma duplicada para o gerente funcional e o gerente de projeto. Ou seja, em termos de sua carreira e objetivos de longo prazo, ele se reporta para o gerente funcional, porém, no dia a dia do projeto e no alcance os objetivos da organização, ele se reporta ao gerente de projeto, o que pode acarretar uma disputa de prioridades entre as unidades, uma vez que há uma complexidade em determinar essa prioridade. Como se observa nesta unidade, não há uma estrutura funcional perfeita, muito menos a melhor. A decisão dessa estrutura organizacional é dependente do contexto, do tipo de empresa, tamanho e segmento que ela atua. Como critério básico e fundamental para a escolha dessas tipologias, pode- se recorrer ao critério de ciclo de vida de produto. Por exemplo, organizações que têm ciclo de vida de produtos longos, ou seja, produtos que ficam muito tempo no mercado, dando manutenções e melhorias graduais incrementais, podem se beneficiar das estruturas funcionais clássicas, porém organizações de ciclo de vida de um produto curto, que são típicos em organizações de tecnologia e inovação, se beneficiam mais de estruturas organizacionais projetizadas. 41 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • Um projeto se caracteriza por um conjunto de atividades que usam recursos organizacionais, que podem ser financeiros, humanos ou materiais, para o alcance de um objetivo determinado. • Existem projetos que possuem uma ampla base histórica e é possível determinar de forma análoga e comparativa, quais foram os principais fatores críticos de sucesso dos projetos anteriores, bem como conseguir parâmetros para estimar prazo e custo. • Existem projetos em que não há uma base histórica pela qual a organização possa se comparar. Geralmente isso ocorre quando as metas e o escopo do projeto se tornam incertos ou imprecisos, fruto da limitação de conhecimento da equipe naquele tipo de projeto, típico de projetos de inovação. • Projetos que envolvem incerteza são os grandes desafios e oportunidades das organizações nos tempos atuais. • Instrumentos gerenciais baseados em controle não são adequados para contextos incertos, pois se focam no controle de variáveis que impactam no resultado desejado. • Ciclo de vida se refere à abordagem de como será a sequência de eventos que ocorrerá no projeto para que esse alcance os resultados esperados. • O ciclo de vida clássico é o executado em fases, quando o projeto é dividido em intervalos de tempo e cada intervalo, chamado fase, tem um produto de trabalho importante para a conclusão do projeto. • Uma iteração é um conjunto de atividades que são realizadas com vistas a dissipar dúvidas e riscos de projeto de forma progressiva. • As estruturas funcionais apresentam dificuldades para orquestrar os recursos interdepartamentais, que são típicos nas organizações modernas. 42 1 Qual é o tipo de ciclo de vida indicado para um projeto de desenvolvimento de um novo celular que controla os dispositivos eletrônicos da sua casa, como luzes, TVs, geladeira etc.? Justifique sua resposta. 2 Proponha um ciclo de vida para a construção de uma nova praça em seu bairro. Como seriam as fases? Justifique sua resposta. AUTOATIVIDADE 43 TÓPICO 3 GESTÃO DE PROJETOS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Uma vez contextualizado como as organizações executam a sua estratégia e como são estruturadas as pessoas, recursos financeiros e de infraestrutura para execução dessas ações, passa-se agora a abordar o tema central da gestão de projetos. A gestão de projetos é um conjunto de ações gerenciais, que coordenam um esforço temporário para que se possa entregar um resultado tangível ou intangível a um conjunto de interessados. Um projeto pode criar um produto físico, como um motor, ou um produto intangível, como um aplicativo de celular. Um projeto também pode ter no seu objetivo a criação ou implantação de um serviço, por exemplo, a implementação de uma área de assistência técnica de uma fábrica. Uma melhoria de processo também pode ser considerada um projeto, sendo esse, uma melhoria organizacional (PMI, 2013). O termo “projeto”, na língua portuguesa, apresenta duas conotações, usaremos nesta disciplina a de execução de processos gerenciais a fim de alcançar um resultado. A outra conotação se refere ao sinônimo de um determinado projeto de produto, como se fosse uma maquete ou uma simulação de um produto. As duas conotações se diferenciam na língua inglesa, sendo o primeiro “project” e o segundo “design”. Portanto, um gerente de projeto no contexto de gestão de projetos, deve dominar as práticas gerenciais (“Project”) e não necessariamente ser expert na área de negócio envolvendo “design”. Obviamente, um gerente de projeto sem nenhum conhecimento na área de conhecimento do projeto fica fragilizado, pois terá dificuldade de ser reconhecido pela equipe técnica como líder. Entretanto, pessoas com alto conhecimento técnico terão muito mais valor na linha de frente da empresa e não na área gerencial. Desta maneira, o gerente de projeto tem que ser um expert nas práticas gerenciais, mas também, tem que possuir conhecimentos básicos para entender das situações da área de domínio do problema do projeto. Por exemplo, dificilmente um gerente de projetos em uma indústria automobilística terá o respeito dos engenheiros mecânicos sem entender os elementos básicos do processo de desenvolvimento e montagem de um carro. 44 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS Todavia, é possível que um gerente de projetos com habilidades interpessoais, possa superar essa lacuna técnica de engenharia, mas não superar a defasagem de conhecimentos gerenciais e interpessoais. Com essa exposição, pode-se perceber que um gerente de projetos para execução de suas funções, precisa de três elementos inter-relacionados, que são: (i) conhecimento nas práticas gerenciais de gestão de projetos; (ii) conhecimento elementar na área de domínio do problema; e, (iii) habilidades interpessoais. Assim, o PMBOK (Project Management Body of Knowledge) institui que um projeto é um esforço temporário, empreendido para criar um produto, serviço ou resultado exclusivo. O PMBOK define um conjunto de práticas, técnicas e processos para que os profissionais de gestão de projetos possam ter um vocabulário comum dessa área de conhecimento, bem como institui um conjunto de ações tidas como “boas práticas” da área. Muito se discute na literatura o tema de gestão deprojetos, que pode se dar do entendimento do projeto como um elemento racional e extremamente lógico para alcançar o resultado. Também pode ser entendido como uma estrutura de processos para que o gerente e sua equipe possa entender mais de seus objetivos e ações, e de que forma consigam aprender sobre projeto e melhorar os objetivos pelos quais eles foram financiados. Apesar do PMBOK citar os processos como um conjunto de “boas práticas”, esse termo não pode ser levado de uma maneira universal, pois o que é relevante para um projeto pode não ser relevante para o outro, dado que um projeto é uma ação temporária e única. Portanto, cada projeto tem que ter um gestor de projeto para que possa observar e analisar o contexto de forma singular e específica, entender quais práticas descritas no conjunto de base de conhecimentos de gestão de projetos possam ser úteis para aquele determinado momento do projeto, formando então uma metodologia de gestão de projetos. Com essa assertiva, podemos afirmar que o PMBOK não se constitui em uma metodologia de gestão de projetos, mas sim uma base de conhecimento comum. Refere-se a uma metodologia, quando um subconjunto dessas práticas é implementado e utilizado para um projeto em específico ou para uma organização em um dado instante. Apesar do esforço e da contribuição do PMBOK para gestão de projetos, não se pode dizer que ela é exaustiva, dado que para cada tipo de produto de trabalho pode ser interessante e relevante usar ferramentas de outras áreas de conhecimento ou áreas técnicas mais específicas para lidar com determinado problema. TÓPICO 3 | GESTÃO DE PROJETOS 45 Os processos gerenciais que compõem a base de conhecimento em gestão de projetos podem ser classificados de duas formas, e no cruzamento dessas categorias, estão os processos de gestão de projetos. Então, os processos de gestão de projetos podem ser organizados por áreas de conhecimento e por grupos de processos. 2 ÁREAS DE CONHECIMENTO E GRUPOS DE PROCESSOS As áreas de conhecimento em gestão de projetos são um conjunto de conceitos, termos e atividades que compõem o campo profissional de gestão de projetos, ou seja, são áreas de especialização. A gestão de projetos possui dez áreas de conhecimento, sendo elas: integração, escopo, tempo, custos, qualidade, recursos humanos, comunicações, riscos, aquisições e gerenciamento de partes interessadas (stakeholders). Já, os grupos de processos se destinam a elaborar um conjunto de processos gerenciais que ocorrem em determinado momento do projeto. Os grupos de processos são: iniciação, planejamento, execução, monitoramento, controle e encerramento. Os grupos de processos, muitas vezes, são confundidos como fases do projeto. Porém, planejamento, execução e controle não são fases de um projeto, uma vez que o planejamento é um ato contínuo do gerente de projeto e não somente em um determinado ponto do projeto. Pela sua origem mecanicista e de racionalidade perfeita, o grupo de processos de planejamento do PMBOK congrega o maior número de processos gerenciais, sendo o único grupo de processos em que todas as áreas de conhecimento têm ao menos um processo. De forma inversa, a área de conhecimento de gerenciamento de integração do projeto, está relacionada com processos de todos os grupos de processos do PMBOK, sendo a única área de conhecimento que tem processo para todos os grupos de processos. Isso ocorre porque a área de conhecimento de integração do projeto na verdade não congrega um conteúdo específico, mas reflete uma compilação final do conhecimento gerado naquele momento. A integração então se destina a equilibrar todas as dimensões de sucesso do projeto, que podem possuir vários critérios de sucesso e não apenas prazo e custo. Por exemplo, quanto mais escopo o gerente inclua no projeto, geralmente, maior é o tempo necessário para execução do projeto. Muitas vezes, então, a área de conhecimento de integração serve para equilibrar escopo e tempo. Percebe- se que ao remover certas características do projeto (escopo) pode acelerar ou abreviar o encerramento do projeto. Essa atividade de equilíbrio entre as áreas de conhecimento se dá pela área de conhecimento de integração, se tornando então uma área de conhecimento que observa o projeto de forma integrada e global. 46 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS No grupo de processo de execução, por exemplo, não existem processos gerenciais para a área de conhecimento de escopo. Já na área de conhecimento de gestão de riscos, os processos gerenciais se concentram somente no grupo de processos de planejamento, monitoramento e controle. O Quadro 2 apresenta as áreas de conhecimento e os grupos de processos identificados pelo PMBOK. Áreas de conhecimento Grupo de processos de iniciação Grupo de processos de planejamento Grupo de processos de execução Grupo de processos de monitoramento e controle Grupo de processos de encerramento 4. Gerenciamento da integração do projeto 4.1. Desenvolver o termo de abertura do projeto 4.2. Desenvolver o plano de gerenciamento do projeto 4.3. Orientar e gerenciar o trabalho do projeto 4.4. Monitorar e controlar o trabalho do projeto 4.5. Realizar o controle integrado de mudanças 4.6 Encerrar o projeto ou fase 5. Gerenciamento do escopo do projeto 5.1. Planejar o gerenciamento do escopo 5.2. Coletar os requisitos 5.3. Definir o escopo 5.4. Criar a estrutura analítica do projeto (EAP) 5.5. Validar o escopo 5.6. Controlar o escopo 6. Gerenciamento do tempo do projeto 6.1. Planejar o gerenciamento do cronograma 6.2. Definir as atividades 6.3. Sequenciar as atividades 6.4. Estimar os recursos das atividades 6.5. Estimar as durações das atividades 6.6. Desenvolver o cronograma 6.7. Controlar o cronograma QUADRO 2 – GRUPO DE PROCESSOS DE GERENCIAMENTO DE PROJETOS E MAPEAMENTO DAS ÁREAS DE CONHECIMENTO TÓPICO 3 | GESTÃO DE PROJETOS 47 7. Gerenciamento dos custos do projeto 7.1. Planejar o gerenciamento dos custos 7.2. Estimar os custos 7.3. Determinar o orçamento 7.4. Controlar os custos 8. Gerenciamento da qualidade do projeto 8.1. Planejar o gerenciamento da qualidade 8.2. Realizar a garantia da qualidade 8.3. Controlar a qualidade 9. Gerenciamento dos recursos humanos do projeto 9.1. Planejar o gerenciamento dos recursos humanos 9.2. Mobilizar a equipe do projeto 9.3. Desenvolver a equipe do projeto 9.4. Gerenciar a equipe do projeto 10. Gerenciamento dos recursos de comunicações do projeto 10.1. Planejar o gerenciamento das comunicações 10.2. Gerenciar as comunicações 10.3. Controlar as comunicações 11. Gerenciamento dos riscos do projeto 11.1. Planejar o gerenciamento dos riscos 11.2. Identificar os riscos 11.3. Realizar a análise qualitativa dos riscos 11.4. Realizar a análise quantitativa dos riscos 11.5. Planejar as respostas aos riscos 11.6. Controlar os riscos 12. Gerenciamento das aquisições do projeto 12.1. Planejar o gerenciamento das aquisições 12.2. Conduzir as aquisições 12.3. Controlar as aquisições 12.4. Encerrar as aquisições 13. Gerenciamento das partes interessadas no projeto 13.1. Identificar as partes interessadas 13.2. Planejar o gerenciamento das partes interessadas 13.3. Gerenciar o engajamento das partes interessadas 13.4. Controlar o engajamento das partes interessadas FONTE: Adaptado de: PMI (2013) 48 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS No grupo de processo de iniciação se encontram os processos gerenciais que irão legitimar o projeto junto às partes interessadas que originaram o projeto. De forma típica, na iniciação do projeto, primeiramente se identificam os stakeholders e então denomina-se um rótulo do problema que se quer resolver com o projeto. Na iniciação, também se encontram as premissas de projeto, que são suposições feitas pela equipe gerenciale equipe interna, e também se encontram as restrições, que são imposições realizadas pelo ambiente externo e patrocinadores. Geralmente, a iniciação ocorre somente no início do projeto, porém, caso aconteça durante a execução uma grande alteração no projeto em relação a stakeholders ou nos objetivos do projeto, a iniciação pode ser novamente acionada. Entretanto, isso é atípico, uma vez que se o objetivo de projeto for alterado muitas vezes, é mais interessante encerrar o projeto antigo do que tentar aprovar solicitações de mudança em relação a um projeto que não tem mais sentido de existir. O grupo de processos de planejamento, como vimos anteriormente, é o maior em termos de número de processos e se destina um esforço cognitivo para entender o projeto e propor planos que corroboram com a execução das atividades que levarão ao resultado desejado. Existem várias maneiras e abordagens de planejamento de projetos, neste sentido retoma-se a discussão da seção anterior sobre os tipos de projeto. Projetos com ampla base histórica remetem a um planejamento racional, em que se procura otimizar ao máximo os recursos alocados no projeto para que esses sejam usados de uma forma eficiente, ou seja, com menor número de desperdício e desvios em relação ao plano. De outra forma, os projetos sem base histórica, ou seja, os projetos em que há muita incerteza, típicos de projetos de inovação e transformação organizacional, o planejamento por ondas sucessivas ou até por iterações se tornam mais adequados. Portanto, apesar do número de processos ser o maior do PMBOK, no grupo de processos de planejamento a quantidade de esforço que será destinada a cada processo depende do projeto em específico. Projetos com ampla base histórica terão um grande esforço de planejamento. Já projetos sem base histórica e ampla incerteza, é necessário que haja um breve esforço de planejamento, indo o mais brevemente para a execução, aferindo o que se aprendeu e repetindo esse ciclo para que se possa aprender e descobrir outras partes do projeto escondidas pela incerteza e falta de conhecimento. No grupo de processos de execução é onde os pacotes de trabalho serão executados pelas pessoas designadas, sendo então fundamental o papel do gerente de projetos na liderança dessas pessoas para o contínuo alinhamento TÓPICO 3 | GESTÃO DE PROJETOS 49 com os propósitos do projeto, bem como, manter um sistema de informações gerenciais, controlando o progresso do projeto e antevendo problemas de forma proativa. Já o grupo de processos de controle, se destina à averiguação e comparação dos parâmetros do planejado versus os parâmetros obtidos pela execução. À diferença entre esses dois parâmetros tem-se o nome de desvio. Importante salientar, nesse momento, que o desvio do planejado versus o executado é uma questão corriqueira em projetos. Muitas vezes, quando o planejado é executado exatamente conforme o planejado, pode ser indício de que os dados não estão sendo obtidos de uma maneira adequada, pois a natureza do trabalho humano não permite uma variação ou desvio zero. Já uma máquina ou computador pode terminar o trabalho precisamente como o planejado. Assim, é de atribuição do gerente de projetos analisar o desvio do projeto e formar juízo. Se esse merece uma ação corretiva ou não. Muitas vezes, os desvios são mínimos e não merecem uma ação corretiva formal, pois fazem parte da natureza da execução humana, porém os desvios que ultrapassam significantemente os limites desejados precisam ter ações corretivas para que o projeto consiga recuperar aquela dimensão deficitária, como um atraso de atividades ou padrões de qualidade aquém do permitido. Muitas vezes, essas ações corretivas precisam ser submetidas novamente ao novo planejamento, caracterizando uma ação corretiva que propõe uma solicitação de mudanças que deve ser incorporada, novos planejamentos com a devida análise de impacto e depois alterações dos planos para uma nova legitimação de stakeholders. O grupo de processos de encerramento, bem como a iniciação, são grupos de processos executados apenas uma vez durante o projeto. Este grupo de processos é basicamente a documentação das lições aprendidas de projeto, bem como o repasse dos ativos gerados pelo projeto para os responsáveis que irão usufruir ou utilizar daquele produto final. Nessa fase, também ocorre o encerramento e liquidação dos contratos de terceiros. Neste sentido, é possível verificar na Figura 32 a interação entre os grupos de processos a cada fase do projeto. 50 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS FIGURA 32 – INTERAÇÃO ENTRE OS GRUPOS DE PROCESSOS EM UMA FASE OU EM UM PROJETO FONTE: PMI (2013) 3 ABERTURA DE PROJETOS: CONSTRUINDO O TERMO DE ABERTURA DE PROJETOS Uma vez contextualizadas todas as áreas de conhecimento e grupo de processos que compõem a base de conhecimento em gestão de projetos, precisa- se entender qual processo ocorre no início de um projeto. O processo que aborda essa questão de abertura de projetos está no grupo de processos de iniciação e presente na área de conhecimento de integração, este denominado desenvolver o termo de abertura do projeto. O termo de abertura de projeto (TAP) pode ser composto por um documento, ou um conjunto de documentos, apesar do termo usado no singular. A Figura 33 apresenta as principais entradas, ferramentas e técnicas para a construção do termo de abertura. TÓPICO 3 | GESTÃO DE PROJETOS 51 FIGURA 33 – ENTRADAS, TÉCNICAS E SAÍDAS DO DESENVOLVIMENTO DO TERMO DE ABERTURA DO PROJETO FONTE: Adaptado de: PMI (2013) Importante citar, nessa jornada em gerenciamento de projetos, que se deve entender cada processo da base de conhecimento em gestão de projetos como uma atividade cognitiva para entender cada passo um pouco mais do nosso projeto e para se tomar decisões adequadas para cada contexto. De forma objetiva, o que se quer dizer é que a gestão de projetos não se trata de gerar documentos. Isso torna a gestão de projetos uma atividade burocrática de simples formalização, comprometendo os objetivos organizacionais e distanciando o gerente da sua equipe. Em suma, apesar do nome, é necessário entrar no verbo que inicia o processo que é, desenvolver o termo de abertura de projeto, ou seja, o ato de desenvolver é muito mais rico de conhecimento para o gerente de projetos do que simplesmente preencher documentos. Dessa forma, vamos abordar cada ponto e cada perspectiva do tema de abertura de projeto não como seções de um documento, mas sim, como uma atividade dentro dessa jornada de desenvolvimento de conhecimento do projeto. É no início do projeto que todos os stakeholders podem agir de forma criativa, pois, ainda não há muito comprometimento de investimento no projeto. Os modelos de documentos devem ser criados e adaptados a cada projeto e a cada organização. Portanto, evite nesse momento utilizar modelos padrões de documentos (templates), pois estes limitam muitas vezes sua criatividade e não é fator crítico de sucesso para o seu projeto. Pelo contrário, adotar metodologias prontas e que deram certo em outras empresas pode ser um caminho aberto para o fracasso de seu projeto. 52 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS O início de um projeto, conforme destacado nas seções anteriores, ocorre pela insatisfação de uma pessoa, ou um conjunto de pessoas, perante a situação atual que ela se encontra. Pode-se dar também pela perspectiva do aproveitamento de uma oportunidade de negócios. Ambas são faces da mesma moeda em que o projeto se concebe. Assim, um projeto não é criado de uma maneira objetiva, mas sim, se inicia a partir de uma pessoa, ou um conjunto de pessoas, com recursos financeiros ou econômicos para financiar o projeto e iniciar o estudo e execução da eliminação ou a melhoria do contexto em que ele se encontra. Como exemplos, pode-se citar o diretor comercial de uma empresa, este está insatisfeito com o número de cidades atendidaspelos seus vendedores, então, precisa de um projeto para a ampliação do número de cidades atendidas. Nesse ponto, é importante destacar a importância da avaliação de desempenho como instrumento gerencial. Reflita que esse diretor comercial percebe dois pontos, o primeiro sobre a situação que ele está, com 20 cidades atendidas pela sua área comercial. Também existe o desejo de ampliar para 35 cidades atendidas. A diferença entre a situação atual e o ponto desejado (meta), chama-se problema. Dessa forma, um problema se caracteriza pela distância entre a situação atual e onde os financiados querem estar (ENSSLIN et al., 2001). Obviamente, esse exemplo apresenta somente um critério de sucesso do projeto e vai desencadear todo um desenvolvimento de pessoas, seleção, processos de recrutamento, divulgação, capacitação, treinamento em campo e assim por diante para elevar esse número de cidades, porém, dificilmente um projeto no mundo real vai ser dependente apenas de uma métrica ou de um indicador de desempenho. Mas sim, haverá múltiplos critérios de sucesso em projetos e nem sempre o gerente de projetos conseguirá atender a todos os critérios de uma forma plena. Dessa forma, com essa estrutura de pensamento ao desenvolver o termo de abertura de projeto, o gerente de projeto já tem que se preocupar em identificar essa pessoa, ou grupo de pessoas, que estão insatisfeitas e qual o critério de sucesso que o projeto será avaliado. Importante também destacar que a avaliação de desempenho em um contexto estratégico e proativo se destina a explicar de uma forma antecipada quais os critérios pelo qual o projeto vai ser avaliado durante a sua execução e, principalmente no seu encerramento, o uso do produto final de trabalho. A essa pessoa insatisfeita que quer aproveitar uma oportunidade ou tem um problema, chama-se patrocinador do projeto. O patrocinador então é um tipo de stakeholder e, pela sua responsabilidade e autoridade sobre os recursos, pode alterar a situação atual adversa para uma situação mais adequada pelo que ele TÓPICO 3 | GESTÃO DE PROJETOS 53 deseja, porém, geralmente, o patrocinador do projeto, de uma forma prática, não tem tempo para trabalhar operacionalmente no projeto, delegando essa atividade a um gerente de projeto. Deste modo, surge então um segundo tipo de stakeholder, que se chama gestor de projetos. Este tem o papel de gerar conhecimento sobre o projeto e organizar os recursos disponibilizados pelo patrocinador para o alcance equilibrado dos objetivos propostos. Assim, o papel do gerente de projetos é de facilitador do processo de uma construção coletiva de entendimento para o que é melhor para a situação. A palavra facilitador é apropriada uma vez que em projetos, como vimos na seção anterior, o gerente não precisa ter pleno conhecimento da área de atuação, nem ser um expert no domínio do problema. Apesar de que, o conhecimento básico se faz necessário para que ele adquira respeito pelos seus pares. O terceiro tipo de stakeholder pode-se chamar de intervenientes. Estes são o conjunto de pessoas que não tomam decisões diretas sobre o projeto, nem propõem objetivos, dado que essa atribuição é do patrocinador, porém, os intervenientes têm papel importante em projetos, uma vez que eles podem influenciar positivamente ou negativamente no projeto, e interferem na formação do juízo de valor do patrocinador. Ou seja, o patrocinador aprecia o ponto de vista dos intervenientes, mas não delega a eles a decisão. Como exemplo, pode-se citar a figura do diretor comercial que deseja ampliar a sua rede de vendas de 20 vendedores para 35 vendedores, caracterizando um projeto. Esse diretor comercial leva em conta a opinião de um outro diretor, que é o diretor financeiro da organização, pessoa essa que não está sobre a sua alçada hierárquica. Então, é importante para o diretor comercial que o diretor financeiro que estabelece os orçamentos anuais da empresa, consiga entender os impactos indiretos da formação da força de vendas no alcance de objetivos de vendas e, consequentemente, de faturamento que é o objetivo do diretor financeiro. Outro típico interveniente de projetos se caracteriza pela própria equipe de execução. Em muitos casos, principalmente em produtos tecnológicos intensivos em conhecimento e inovação, a equipe de execução do projeto se caracteriza por pessoas que podem contribuir para o entendimento do problema e propor soluções criativas, muitas vezes, mais baratas, para que o projeto consiga alcançar os seus resultados utilizando menos recursos. O gerente de projetos experiente é perspicaz, entende que ele precisa de uma equipe comprometida para que os seus resultados sejam alcançados. Dessa forma, a equipe do projeto também é mapeada como um stakeholder interveniente do projeto, para que ele consiga criar um clima organizacional que não só alcance os objetivos do patrocinador, mas também, que a equipe tenha um significado sobre o trabalho de cada membro, gerando motivação e visão do projeto. 54 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS A quarta categoria de stakeholders se materializa na figura dos agidos, pessoas que são afetadas pelos resultados do projeto, porém, não terão uma voz ativa dentro das atividades de planejamento, execução e controle. Pode- se caracterizar essas pessoas como passivas no sucesso do projeto e na sua gestão. Um exemplo típico de agido é o cliente. Sem dúvida alguma, um dos objetivos de uma empresa é o lucro. Desse modo, o cliente precisa ser plenamente atendido para que ele volte a consumir produtos e serviços de uma determinada empresa. Porém, o cliente geralmente está preocupado com o seu próprio problema, e não com problema da organização. Dessa maneira, é um grave erro em gestão de projetos, e na administração em geral, fazer tudo o que o cliente quer, pois, o cliente não está preocupado com critérios de sucessos empresariais. O lucro é tão óbvio, que uma organização e um projeto tem que ser orientado aos seus clientes, porém, não se pode fazer tudo o que o cliente deseja, pois, o principal stakeholder continua sendo o patrocinador do projeto. O patrocinador possui dimensões de sucesso do projeto diferentes do cliente e, é o patrocinador que em caso de conflito de interesses precisa ser ouvido para saber se uma demanda de clientes é incorporada no projeto ou não. Uma vez categorizados os tipos de stakeholders, é necessário formalizar todos que deverão ser contemplados e observados durante a gestão do projeto. Geralmente, existe uma avaliação do grau de influência do stakeholder para o projeto, esse grau de influência é utilizado em caso de conflitos de pontos de vistas do que deve ser feito no projeto. Por exemplo, o diretor comercial quer uma entrega que impacta negativamente nos objetivos do diretor de produção e vice-versa. Existe uma dificuldade em encontrar uma solução negociada. Dessa maneira, o grau de influência auxilia de uma forma antecipada ao gestor de projetos, de modo a esclarecer qual a pessoa que deve ser ouvida para tomar a decisão ou realizar a arbitragem das partes por meio de autoridade hierárquica. O grau de influência pode ser de uma forma simples e categorizada, como a escala de likert de 1 a 5. Deste modo, é possível categorizar, por exemplo, o grau 5 como de maior influência, geralmente reservado ao patrocinador. Importante destacar que, em alguns projetos, podem ter mais de um patrocinador, ou seja, mais de um stakeholder de nível 5, sendo o nível grau máximo de influência nesses casos. Caso existam conflitos de perspectivas e conflitos de interesse no projeto para com os objetivos de cada stakeholder, é necessário então a habilidade de negociação e arbitragem por parte do gestor de projetos. Estas habilidades, muitas vezes, são inevitáveis, pois projetos com múltiplos patrocinadores são mais complexos e precisam de gerentes mais experientes para mediar as situações que serão frequentes de divergênciasde pontos de vista. TÓPICO 3 | GESTÃO DE PROJETOS 55 Outro ponto importante, no termo de abertura de projeto, é caracterizar o nome e sobrenome de cada stakeholder, porém, alguns casos, principalmente de agidos, fica inviável citar o nome de todos, dado número de pessoas envolvidas, como clientes e equipe do projeto. Além do nome e sobrenome e o grau de influência do stakeholder, destaca- se a importância de clarificar o seu cargo dentro da organização e, principalmente, qual é o seu papel e ambição dentro do projeto. Como exemplo foi citado acima que o patrocinador tem duas grandes responsabilidades no projeto. A primeira é determinar de forma antecipada, os objetivos e métricas de sucesso do projeto, bem como em segundo lugar, disponibilizar os recursos necessários para a execução. Essas duas atribuições são típicas do patrocinador, porém, não devem ser usadas de forma exaustiva ou genéricas a qualquer contexto. É importante sempre o diálogo e reuniões com patrocinadores, necessários para determinar de uma forma clara e acordada a responsabilidade de cada uma das partes interessadas. Após a identificação, avaliação elementar dos stakeholders, e como eles irão contribuir, cada um com seu papel dentro do projeto, o gerente de projeto agora precisa criar um rótulo do problema. O rótulo do problema se caracteriza por uma breve descrição estruturada do problema que o projeto visa resolver. Outra forma de rotular um problema é criando um modelo multicritério de apoio à decisão. Isso se faz ao identificar os critérios da avaliação do projeto, em qual nível está cada critério nesse momento e em qual nível se deseja estar depois da conclusão do projeto (LACERDA et al., 2012). Ou seja, para projetos mais simples, um rótulo apenas é o suficiente para iniciar o processo do desenvolvimento do termo de abertura de projeto, porém para projetos mais complexos, se faz necessário uma mensuração e identificação da situação atual bem como as metas desejadas. Nesse momento, o gerente de projeto pode se valer tanto de entrevistas com os stakeholders, para identificar o problema, bem como, realizar uma triangulação de evidências com documentações da empresa, que poderia ser um plano de negócios, um planejamento operacional, um planejamento de vendas, um planejamento de um produto ou até o planejamento estratégico da empresa para entender o contexto que o projeto irá se desenvolver. No contexto de desenvolvimento de um produto, é comum ter um plano de negócios, documento que identifica uma oportunidade de mercado, a necessidade organizacional, por exemplo, em corte de custos, uma demanda pontual de um cliente ou, até mesmo, um marco legal imposto pelo governo (ROZENFELD et al., 2000). 56 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS Os fatores ambientais da empresa também são fundamentais para o desenvolvimento do termo de abertura de projeto, uma vez que a cultura organizacional e os processos internos muitas vezes normatizados criam restrições importantes que precisam ser identificadas pelo gerente de projeto. Além de reuniões e entrevistas com os stakeholders, bem como uma análise documental da empresa e do contexto competitivo que ela se situa, o gerente de projeto também pode observar a necessidade de uma opinião especializada. Por exemplo, consultores da área, consultas a equipe técnica de engenheiros ou programadores, clientes, patrocinadores e demais especialistas no domínio do problema. É necessário entender o “estado da arte” daquela problemática em que se pretende atuar, também se pode consultar universidades e pesquisadores do ramo para identificar formas inovadoras de lidar com o problema. Obviamente, depois de fazer um levantamento de informações primárias e secundárias, muitos pontos serão excluídos e outros serão incorporados dentro do projeto. Portanto, é muito comum que o gerente de projetos dedique horas ou dias em reuniões de brainstorming, resolução de conflitos e solução de problemas pontuais para o entendimento não só seu, como da equipe de projetos que ele pretende trabalhar. Brainstorming é um tipo de dinâmica de grupo utilizada como técnica para resolução de problemas específicos, para desenvolvimento de novas ideias ou projetos, para debates de informações e para estímulo do pensamento criativo dos participantes. UNI Com essas informações, além da lista das partes interessadas e um rótulo do problema que poderá ser desdobrado em indicadores de desempenho e critérios de sucesso do projeto, poderá se identificar premissas e restrições do projeto. As premissas de projeto são suposições em que o gerente se baseia para que consiga traçar os seus primeiros planos de ação. Em administração, principalmente em contextos de projetos, trabalhamos em situações em que não se possui todo o conhecimento necessário para o desenvolvimento de ações. Até porque, se o conhecimento já existisse, o próprio patrocinador delegaria isso a uma pessoa operacional. Mas, na ausência desse conhecimento, delega-se o problema a um gerente de projeto. Todavia, por mais que o gerente de projeto entreviste pessoas e analise meticulosamente a documentação existente, dificilmente ele terá todas as informações para uma tomada de decisão precisa. Dessa forma, alguma suposição deverá ser colocada para que ele avance para as primeiras atividades de execução de projeto (VARGAS, 2005). TÓPICO 3 | GESTÃO DE PROJETOS 57 Outra situação, na qual a premissa é relevante, é em situações em que o tempo e custo para a obtenção do dado são maiores do que o benefício de possuir tal informação. Lembrando que é um momento inicial do projeto, no qual não tem muito tempo e dinheiro investido ainda e existem muitas incertezas e perguntas a serem respondidas. Em suma: ficar vasculhando dados e informações de cada incerteza no início de um projeto pode significar o seu fracasso como gerente de projetos, pois a equipe e stakeholders terão a sensação que nada está avançando, afetando a moral do time e expectativas dos stakeholders. Algum risco o gerente de projeto deverá sempre assumir para si e tomar algumas decisões baseadas em premissas, sem a certeza que aquele fato é verdadeiro ou não. Como exemplo, no caso da expansão da força de vendas de uma empresa, o gerente de projeto poderia realizar uma pesquisa para saber se a faixa de remuneração da empresa é atraente para atração de talentos comerciais, ou seja, vendedores. Porém, essa pesquisa pode levar um certo período de tempo, bem como pode ter custos. O gerente de projeto poderá optar por realizar essa pesquisa, investir recursos financeiros e econômicos além do tempo, mas deixando de lado outros aspectos necessários no início do projeto. Poderá investir muito tempo e dinheiro com pesquisa de salários, não sabendo ao certo quais os outros aspectos que fariam os profissionais trabalharem na empresa. Como o termo de abertura de projeto se destina a realizar um panorama geral do problema do projeto, essa decisão de pesquisa de salários poderia ser gerenciada usando uma premissa a ser validada (ou não) durante a execução do projeto. Nesse exemplo, o gerente poderia optar por uma visão otimista por criar uma premissa como “a remuneração da empresa é compatível para atrair pessoas qualificadas para o cargo”. Mas também, o gerente de projeto com mais cautela poderia assumir uma premissa mais conservadora, como “será necessário uma adequação do plano de cargos e salários da organização para que o projeto consiga atrair talentos compatíveis com os anseios comerciais da empresa”. Repare que, independentemente de a premissa ser pessimista ou otimista, a premissa não é um fato validado, mas sim uma suposição que auxilia a traçar os primeiros planos do projeto. É um instrumento gerencial importante e legítimo. O erro é não assumir premissas, tornando o projeto muito lento para obter cada fato e dado, ou não formalizar as premissas, tornando elas não gerenciáveis e não transparentesaos stakeholders. Mais adiante, será observado que é durante o planejamento e execução do projeto que as premissas devem ser constantemente revistas e catalogadas como riscos de projeto, pois não são informações dadas como fato para a execução, porém não passam de uma suposição. 58 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS A suposição é um artifício gerencial fundamental para que o projeto não fique moroso. O gerente de projeto terá que tomar decisões com informações incompletas e, as partes faltantes da informação se tornam premissas que devem ser gerenciadas de acordo com o seu impacto, como veremos na unidade a seguir. Outro elemento importante no termo de abertura de projeto é identificar as restrições. Ao contrário das premissas de projeto, que são suposições realizadas pelo gerente de projeto sendo uma ação interna da equipe de projeto, a restrição é uma imposição dada pelo contexto externo. As restrições podem vir, na maioria das vezes, do próprio patrocinador. Além de determinar os objetos e os recursos necessários para a execução do projeto, o patrocinador pode determinar também limites de prazo para a entrega de resultados. Restrições clássicas em projeto são, um orçamento finito, um número de recursos disponibilizados ao projeto, que podem ser financeiros ou econômicos. A diferença entre recursos financeiros e econômicos ocorre pelo fato do recurso financeiro ser disponibilizado em termos monetários ao gestor (dinheiro) e os recursos econômicos são recursos que são cedidos, mas não podem ser convertidos em outros bens. Como exemplo, o patrocinador pode ceder uma equipe de 15 engenheiros para o projeto, sendo essa equipe um recurso econômico, mas não financeiro. Laboratórios, salas de reuniões, computadores e outros itens de infraestrutura também são tidos como recursos econômicos passiveis de restrições. Porém, outros tipos de restrições são típicos em projetos, por exemplo, restrições legais. Alguns setores, como o alimentício e a saúde, são regulados por órgãos governamentais. Podem existir restrições tecnológicas, ou seja, o ambiente de que a empresa, ou não permite ou limita certas ações de melhoria, podem apresentar restrição de capacidade e assim em diante. Um equívoco comum, que se observa em determinados projetos, é o próprio gerente de projetos criando restrições. Destaca-se aqui que a restrição de projeto não deve ser criada e sim identificada ou imposta por uma pessoa externa ao contexto do projeto. Isso ocorre porque quanto menos restrições o projeto apresentar, mais opções de criação de soluções será possível. Se o gerente de projetos, de uma forma ingênua, criar restrições, estará ele mesmo criando alguns limites desnecessários que podem impactar seu escopo durante as atividades de planejamento. Dessa maneira, como dica prática, se não foram identificadas restrições, é interessante que não se crie, pois isso será uma oportunidade durante o planejamento e execução do projeto. Com essas informações, o gerente de projeto pode então compilar esses resultados em um documento, que pode ser chamado termo de abertura de projeto, project charter ou visão do projeto. O nome do documento não é relevante, mas sim o conteúdo compatível com o que foi discutido até agora. TÓPICO 3 | GESTÃO DE PROJETOS 59 Nesse momento, o gerente de projeto deve legitimar os resultados finais com o principal stakeholder do projeto. Essa legitimação, de forma preferencial, deve ocorrer por meio de uma reunião de ordem pessoal, para que o gerente de projeto explane cada item do projeto e explique para o patrocinador os elementos que compõem e formalizam a abertura de projeto. A legitimação de um documento gerencial se refere ao ato do executivo perceber no documento todos os elementos que ele acredita ser importante dentro de sua estrutura de preferências e valores. A legitimação precisa ser realizada para que o patrocinador acredite que aquilo representa os seus valores e preferências. Dessa forma, a legitimação é o momento em que, caso haja qualquer ambiguidade ou dúvida, essa deve ser eliminada, mesmo que o documento tenha redundância de informações. Em um termo de abertura de projetos, é preferencial a redundância de informações do que a omissão de certas informações. Pode parecer um detalhe nesse momento, mas durante a execução fará uma diferença crucial entre o fracasso e o sucesso. Apesar da reunião presencial ser um meio preferencial para essa legitimação, com o comprometimento do stakeholder do patrocinador, pode ser que, seja inviável devido a agenda dos patrocinadores. Vale ressaltar que, caso o patrocinador ou algum stakeholder, não possuir agenda para uma reunião tão importante, o gerente de projeto deve realizar a reflexão de avaliar se o projeto é realmente a prioridade destes. Se não for prioridade, ele poderá vir a ter problemas sérios durante a execução do projeto por falta de comprometimento das partes interessadas, como veremos na unidade a seguir. Outras formas de legitimação seriam as videoconferências, que são muito poderosas, porém, perde-se um pouco da leitura corporal, que pode ser importante para a identificação de ambiguidades. Por fim, a pior de todas, que seria o último recurso a legitimação, o e-mail. Por e-mail, a oportunidade de explicação é nula por parte do gerente de projetos e deve ser somente usada como último recurso. 60 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS LEITURA COMPLEMENTAR CRITÉRIOS SUGERIDOS PARA PRIORIZAÇÃO DE PROJETOS ESTRATÉGICOS Na seleção de projetos estratégicos, são aplicados diversos critérios com a finalidade de priorizar os projetos mais adequados e supostamente necessários e suficientes para atingir os objetivos estratégicos propostos. Pode ser utilizada uma escala de avaliação distribuída em 6 pontos, sem centro, de 0 a 5. Complexidade – Analisa a abrangência do escopo do projeto, o custo benefício e o esforço alocado para a sua implementação: quanto menor a complexidade, maior a pontuação. Custo – Avalia o investimento necessário em termos de orçamento para a operacionalização da iniciativa: quanto menor o custo, maior a pontuação. Determinação legal ou da Administração – Pontua as iniciativas em função de cumprimento de lei ou de determinação da Administração da Organização. O projeto recebe pontuação máxima ou mínima nesse critério, não há pontuação intermediária. Impacto na meta – Mede a relevância estratégica, ou seja, a contribuição do projeto para o alcance da meta estratégica à qual ele se relaciona: quanto maior o impacto, maior a pontuação. Prazo – Avalia a duração, o cronograma de implementação, bem como o prazo final de conclusão do projeto: quanto menor esse prazo, maior a pontuação. Probabilidade de sucesso – Considera os riscos envolvidos no projeto para o alcance dos resultados esperados: quanto menores os riscos, maior a pontuação. Resultados a curto e médio prazo – Examina o tempo necessário para que o projeto comece a gerar os resultados esperados: quanto menor o tempo, maior a pontuação. Situação de implementação – Investiga a situação atual do projeto, ou seja, o seu percentual de implementação à época da definição e priorização dos projetos estratégicos: quanto maior o percentual, maior a pontuação. Os projetos não iniciados recebem pontuação zero. FONTE: <http://www.cnj.jus.br/gestao-e-planejamento/492-gestao-planejamento-e-pesquisa/ gestao-e-planejamento/gestao-e-planejamento-do-judiciario/metodologia-de-gestao-de- projetos/13735-criterios-sugeridos-para-priorizacao-de-projetos-estrategicos>. Acesso em: 3 out. 2018. 61 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • O PMBOK define um conjunto de práticas, técnicas e processos para que os profissionais de gestão de projetos possam ter um vocabulário comum dessa área de conhecimento, bem como institui um conjunto de ações tidas como “boas práticas” da área. • O PMBOK não se constitui uma metodologia de gestão de projetos, massim uma base de conhecimento comum. • As áreas de conhecimento em gestão de projetos são um conjunto de conceitos, termos e atividades que compõe o campo profissional de gestão de projetos, ou seja, são áreas de especialização. • O termo de abertura de projeto pode ser composto por um documento, ou um conjunto de documentos. • O início de um projeto ocorre pela insatisfação de uma pessoa, ou um conjunto de pessoas, perante a situação atual que ela se encontra. 62 1 Preencha as frases a seguir a partir dos conceitos apresentados neste tópico: No grupo de processo de __________ se encontram os processos gerenciais que irão legitimar o projeto junto às partes interessadas que originaram o projeto. No grupo de processos de __________ é onde os pacotes de trabalho serão executados pelas pessoas designadas. O grupo de processos de __________ é o maior em termos de número de processos e se destina a um esforço cognitivo para entender o projeto e propor planos que corroboram com a execução das atividades que levarão ao resultado desejado. Já o grupo de processos de __________, se destina a averiguação e comparação dos parâmetros do planejado versus os parâmetros obtidos pela execução. A diferença entre esses dois parâmetros tem-se o nome de desvio. O grupo de processos de __________ é basicamente a documentação das lições aprendidas de projeto, bem como o repasse dos ativos gerados pelo projeto para os responsáveis que irão usufruir ou utilizar daquele produto final. AUTOATIVIDADE 63 UNIDADE 2 PLANEJAMENTO DE PROJETOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • elaborar cronogramas e estimativas de projeto; • preparar a execução de um projeto; • realizar a análise de riscos de projeto. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – COMO DEFINIR O ESCOPO DO PROJETO? TÓPICO 2 – COMO PLANEJAR O TEMPO E CUSTO DO PROJETO? TÓPICO 3 – PREPARANDO PARA A EXECUÇÃO 64 65 TÓPICO 1 COMO DEFINIR O ESCOPO DO PROJETO? UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO O desenvolvimento do TAP – termo de abertura do projeto – é o primeiro processo do ciclo de vida do projeto. Este é considerado o pontapé oficial, confirmando que o projeto deve iniciar. O termo de abertura do projeto, ao formalizar o início do projeto, concede ao gerente de projetos a autoridade para aplicar os recursos organizacionais nas atividades de desenvolvimento (PMI, 2013). Deste modo, o PMI (2013) elenca alguns pontos que devem estar exemplificados no TAP: a) Propósito e justificativa do projeto. b) Objetivos mensuráveis do projeto. c) Lista geral dos requisitos. d) Descrição geral do projeto. e) Lista geral do nível de riscos. f) Resumo do cronograma de marcos. g) Resumo do orçamento. Na sequência é exemplificada a elaboração do TAP, assim como o processo de entendimento desse documento pelo gerente de projeto. 2 INTERPRETANDO UM TERMO DE ABERTURA DE PROJETOS Para um melhor entendimento da atividade de interpretação um termo de abertura de projeto, será utilizado um exemplo prático desta situação. Neste exemplo foi traçado como ação estratégica a abertura de novas filiais de determinada loja, afim de aumentar a presença de mercado da empresa em questão. Neste sentido, o gerente de projetos recebe a demanda de uma equipe estratégica. Essa equipe analisou toda a organização e seu contexto competitivo, gerando um termo de abertura de projeto para cada ação estratégica que será patrocinada, neste exemplo, a abertura de nova lojas, conforme a figura a seguir: UNIDADE 2 | PLANEJAMENTO DE PROJETOS 66 FIGURA 1 – EXEMPLO DE TAP ELABORADA PELA EQUIPE DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO FONTE: O autor (2018) A partir deste TAP, é necessário que o gerente faça as análises necessárias a partir de sua experiência em gerenciamento de projetos. TÓPICO 1 | COMO DEFINIR O ESCOPO DO PROJETO? 67 3 ANÁLISE DO GERENTE DE PROJETO Percebe-se que, apesar do bom trabalho executado em alto nível estratégico, o TAP apresentado precisa ainda de uma análise do ponto de vista de gerenciamento de projetos. O primeiro ponto é a análise de stakeholders. Há uma lista de stakeholders, mas não uma hierarquização de quais que devem ser levados em conta e em qual nível de autoridade. Assim, o gerente de projeto pode usar um quadro, conforme exemplo apresentado a seguir, e assim, esclarecer o nível de influência e interesse de cada stakeholder. Influência Nome do stakeholder Cargo Interesse no projeto 5 Mário Silva Diretor comercial Alcançar suas metas de vendas 4 Vinicius Amaral Marcos Silveira Acionistas da empresa Melhorar a competitividade da empresa 3 Evandro Menezes Diretor financeiro Observar retorno do investimento 3 Thiago Magalhães Diretor de pessoas Melhorar o clima organizacional 1 Vitor Hugo Carla Silva Maria Moreira Pessoas contratadas Ter ascensão na carreira 2 Luiz Gustavo Armando Souza Vivian Amorim Fornecedores Ampliar seu mercado 1 Felipe Silva Fernando Costa Clientes Conseguir comprar produtos de qualidade sem se deslocar QUADRO 1 – NÍVEL DE INFLUÊNCIA E INTERESSE DE STAKEHOLDERS FONTE: O autor Pontos de ambiguidades podem ser anotados como premissas de projeto para posterior averiguação. Sempre que houver dúvidas, o gerente de projeto deve anotar e formalizar. Seguem alguns exemplos: 1. Premissas: • P1- Diretor comercial irá participar de reuniões de estruturação do plano de projeto ao menos 2h por semana de reunião presencial ou videoconferência. • P2- Apenas UMA loja será escopo desse projeto e as demais lojas terão projetos específicos, dado que a meta é 20 lojas. • P3- O recrutamento e seleção de pessoas não será escopo desse projeto, sendo responsabilidade do diretor de pessoas. • P4- O orçamento estará à disposição do gerente de projeto de forma integral no início do projeto. UNIDADE 2 | PLANEJAMENTO DE PROJETOS 68 • P5- Existe um manual de padronização de lojas e o projeto não precisará criar ou discutir essas normas. • P6- A empresa está sem qualquer pendência jurídica e tributária para a emissão do alvará na prefeitura. • P7- O projeto não incluirá gerenciamento dos primeiros dias de vendas e inauguração. A loja será entregue para a equipe comercial que imediatamente gerenciará a inauguração e operação da loja. Com essas premissas em vista, o gerente de projeto constrói uma estrutura de escopo de alto nível de forma visual, apresentado na figura a seguir: FIGURA 2 – ESCOPO – ALTO NÍVEL FONTE: O autor (2018) Repare que as premissas acima são expostas de forma afirmativa, sempre em favor de um projeto mais rápido e de baixo custo. Essas premissas devem ser incorporadas no TAP e legitimadas pelo patrocinador do projeto. Caso ele não concorde com alguma afirmação, deve editá-la de forma mais otimista ou mais pessimista. Exemplo 1: Quando o gerente de projeto (GP) inicia o processo de legitimação do TAP, o patrocinador não sabe se a diretoria de pessoas tem ciência dessa demanda de novas contratações e nem sabe a prioridade disso na diretoria de pessoas. Assim, solicita ao GP para alterar a premissa P3 para: TÓPICO 1 | COMO DEFINIR O ESCOPO DO PROJETO? 69 “O recrutamento e seleção de pessoas será o escopo desse projeto, sendo responsabilidade do GP contatar o diretor de pessoas para averiguar como eles querem e podem se envolver com o projeto”. UNI Reparem que o patrocinador quer adotar uma postura conservadora e garantir que isso não seja um entrave para sua loja nova. Exemplo 2: Ainda durante a legitimação do TAP, o patrocinador entende que o repasse da loja para a equipe comercial é sempre um processo tenso e gostaria que a premissa P7 fosse alterada para: “O projeto incluirá o gerenciamento dos primeiros dias de vendas e inauguração”. Com essas duas alterações, o GP também atualiza a estrutura visual de escopo de alto nível do TAP, conforme a figura a seguir:FIGURA 3 – ESTRUTURA DE ESCOPO ATUALIZADA FONTE: O autor (2018) UNIDADE 2 | PLANEJAMENTO DE PROJETOS 70 Como se pode observar nos exemplos acima, mesmo que a equipe de estratégia tenha feito um bom trabalho, essas ambiguidades são naturais quando chegam ao operacional do gerenciamento de projetos. Também se pode observar a importância das premissas para esclarecer ambiguidades e discutir de forma franca com o patrocinador do projeto, pois houve uma alteração substancial do escopo do projeto com essas aparentes simples alterações. O patrocinador poderia requerer mais tempo para a legitimação do TAP, mas importante destacar que durante o gerenciamento de projetos haverá inúmeras situações como essas e a cada caso de nova situação se o projeto entra em stand-by, para termos certeza de uma informação, poderá postergar muito as decisões e tornar o processo demorado. Assim, recomenda-se assumir uma postura mais ou menos otimista de projeto, documentar bem as premissas e seguir o processo. Até porque as premissas serão gerenciadas como riscos de projetos e incorporadas nos planos. 4 ESTRUTURA ANALÍTICA DE PROJETO O planejamento do projeto se inicia a partir da decomposição do seu escopo em partes menores, que chamamos de pacote de trabalho. Estas partes menores são ordenadas, quando possível, a fim de paralelizar estas atividades para que seja possível estimar suas durações e custos (DINSMORE, 1999). Apesar da aparente simplicidade dessa questão, muitos detalhes e variáveis impactam positiva e negativamente na qualidade do planejamento. Um ponto importante antes de esclarecer os procedimentos para realizar um planejamento de projeto é ter em mente que um plano está sempre suscetível a mudanças e a oportunidades de melhoria, uma vez que o plano é elaborado e está proporcionalmente relacionado ao conhecimento que o gerente de projetos tem, naquele momento, do projeto. Costuma-se dizer, então, que o plano representa apenas um retrato momentâneo das ações que serão realizadas, e que o ato de planejar é contínuo e não somente em um determinado ponto do projeto. O planejamento do projeto então, tipicamente, se inicia com a elaboração da estrutura analítica de projeto, denominada EAP. A EAP, conforme a figura a seguir, é a representação gráfica do projeto e apresenta a hierarquia de entregas, sendo que no menor nível está o pacote de trabalho (PMI, 2013). TÓPICO 1 | COMO DEFINIR O ESCOPO DO PROJETO? 71 FIGURA 4 – EXEMPLO DE EAP FONTE: O autor (2018) Essa decomposição em partes menores pode ser obtida de várias maneiras, mas, geralmente, é decomposta com profissionais especialistas no domínio do problema. Neste ponto, destaca-se que o gerente de projetos tem a função de facilitador do projeto na decomposição e não necessariamente é dele a responsabilidade de liderar o movimento. Neste sentido, o gerente de projetos não tem a responsabilidade de determinar qual é a melhor decomposição para as atividades de um projeto. Por exemplo, caso seja realizado um projeto para a construção de um hospital, é de suma importância que o gerente de projetos reúna engenheiros e profissionais da área da saúde e outros especialistas para que consiga decompor o hospital em suas partes constituintes. Neste exemplo, o gerente de projetos não é responsável por determinar toda a logística na gestão de um hospital, mas é dele a responsabilidade de determinar quem são as pessoas que irão compor a equipe do projeto e quais as técnicas que serão utilizadas para a elaboração desta atividade de criar a EAP. A estruturação da EAP poderá durar muitas horas de esforço, ou até mesmo meses, para sua conclusão, dependendo da complexidade do projeto. As reuniões então são frequentes na vida do gerente de projeto para que ele consiga apoiar os especialistas e chegar a uma estrutura analítica de projeto condizente UNIDADE 2 | PLANEJAMENTO DE PROJETOS 72 com os objetivos definidos, uma vez que a EAP serve de insumo para a elaboração dos cronogramas, orçamentos e demais artefatos que compõe um planejamento de projeto. Há de se destacar então que a estrutura analítica de projeto é, depois do termo de abertura de projeto, a mais importante entrega na gestão de projeto, uma vez que todos os documentos de planejamento serão derivados da estrutura analítica de projeto. Outra forma de obter a estrutura analítica de projeto seria pela elaboração do fluxo de processos de negócio que, uma vez estruturados e decompostos serviram de base para a elaboração da EAP, conforme apresentado na figura a seguir. FIGURA 5 – EXEMPLO DE FLUXO DE PROCESSOS - 1 FONTE: O autor (2018) O mais importante na escolha das técnicas de construção da EAP é justamente a sua associação aos objetivos de projeto. Muitas vezes, a equipe de projeto decompõe a entrega em partes menores e tecnicamente adequadas, porém, estas não estão associadas, suficientemente detalhadas ou não consideram as características do projeto que interessaram os objetivos pelos quais o projeto foi financiado. Dessa forma, a principal missão do gerente de projeto é extrair conhecimento técnico da equipe e manter o alinhamento com os objetivos pelos quais o projeto foi financiado. Uma das formas práticas de não perder esse TÓPICO 1 | COMO DEFINIR O ESCOPO DO PROJETO? 73 alinhamento é se valer dos indicadores de desempenho explicitados no termo de abertura de projeto e, realizar os fluxos de processos de negócios que tenham saídas alinhadas e que sejam impactados nos indicadores de desempenho. Então, se um dos objetivos do projeto é atender a uma comunidade para alfabetizar 1000 adultos, o gerente de projeto terá que definir qual entrega que aumentará o desempenho do projeto e alcançará o desempenho de alfabetização de adultos. Nesse exemplo, seria a execução de aulas ou disciplinas de alfabetização e, a principal saída seria o adulto alfabetizado. A figura a seguir apresenta o exemplo em questão: FIGURA 6 – EXEMPLO DE FLUXO DE PROCESSOS - 2 FONTE: O autor (2018) Nesse momento, o gerente de projeto deve definir qual a área de conhecimento necessária para chegar ao resultado esperado e assim, poderá definir um conjunto de pedagogos e representantes da comunidade para que juntos definam a estrutura analítica de projeto. Durante a reunião conjunta, os pedagogos podem argumentar ao gerente de projeto que para alfabetizar alunos não basta simplesmente uma sala de aula. Para o professor é importante ter infraestrutura, uma metodologia de ensino, a sensibilização sobre importância da alfabetização para o desenvolvimento social e, principalmente, uma divulgação do programa e do projeto para que consigam alcançar seu objetivo. Essas ações, então, podem ser ordenadas de forma sequencial para que se consiga obter o conhecimento necessário para o desenvolvimento da estrutura UNIDADE 2 | PLANEJAMENTO DE PROJETOS 74 analítica de projeto, porém, as atividades não estarão no nível adequado para um pacote de trabalho, por exemplo, a etapa de atividade de divulgação do projeto. A etapa de divulgação do projeto pode ser também decomposta em partes menores, sendo uma operação mais complexa com várias horas de esforço, envolver várias pessoas e sistemas de informações. Nesse momento, existe a necessidade de desdobrar essa atividade em partes menores, porém a equipe do projeto alfabetização (pedagogos) que participaram do primeiro nível de decomposição da EAP talvez, nesse quesito de divulgação do projeto, não tenham conhecimentos e habilidades suficientes para detalhar o projeto de uma forma precisa. O gerente de projeto deve então observar que podem existir outras áreas de conhecimento que irão contribuir na decomposição. Dessa forma, poderá então definir profissionais de marketing digital e de associações de bairro da comunidade para que consigam juntos compor uma divulgação virtual e presencial de forma efetiva. Todavia, o desdobramento em partes menores pode durar várias horas, várias reuniõescom áreas de conhecimento distintas. É de suma importância determinar quando esse desdobramento irá se encerrar. Não existe uma maneira objetiva de determinar a granularidade quando um pacote de trabalho irá ser desdobrado, pois este depende da percepção do gerente do projeto e, principalmente, do conhecimento adquirido para que ele consiga elaborar os seus planos de trabalho em conjunto com a equipe. No entanto, existe uma premissa de mercado em que os pacotes de trabalho não podem ser inferiores a quatro horas e superiores a quarente horas. Se o pacote de trabalho foi desdobrado em partes menores do que quatro horas, existirão muitas atividades de projetos a serem controladas e gerenciadas, o que torna o trabalho do gerente de projeto bastante desgastante e árduo. Outro ponto importante é referente a pessoa que está executando o pacote de trabalho, talvez ela levará muito mais tempo reportando quanto custou cada atividade, qual a duração e quais são as próximas atividades a serem realizadas, perdendo assim autonomia profissional. Ou seja, pacotes de trabalho menores do que quatro horas geram um desgaste gerencial desnecessário e não trazem benefícios para o projeto. Já pacotes de trabalho acima de quarente horas dão autonomia para a equipe, porém, o gerente de projeto pode levar muito tempo para detectar que um determinado profissional ou a equipe está com problemas ou com falta de entendimento sobre a atividade que está sendo executada. Com isso, o gerente pode perder o controle sobre o projeto, ter retrabalhos ou detectar problemas de uma forma tardia. TÓPICO 1 | COMO DEFINIR O ESCOPO DO PROJETO? 75 Por causa dessas condições é que existe essa heurística de pacote de trabalho entre quatro e quarente horas. Obviamente que nesse momento ainda não temos o processo de estimativa, então por isso é uma heurística. A regra de 4-40 poderá ser aplicada para 8-80. Ou seja, o pacote de trabalho é definido entre 8 e 80 horas, porém cabe destacar que esses números, tanto de 4-40 como de 8-80, não são números científicos, simplesmente são palpites iniciais para que o gerente do projeto consiga determinar qual é o valor a ser usado para seu projeto em específico. Em geral, para projetos de muito risco e incertezas, o ideal é o pacote de trabalho de pouco esforço (4-40 horas), tendo ciclos mais curtos de iterações. Em projetos com ampla base histórica, usam-se pacotes de trabalho maiores, dando mais autonomia à equipe, uma vez que já se sabe o que deve ser feito e quais as formas de contornar certas situações. Desse modo, uma vez determinada a estrutura analítica de projeto, o gerente de projeto ganha mais confiança para iniciar os demais planos. É de se destacar, que a primeira versão da EAP não precisa ser a versão totalmente detalhada e nem com todos os seus pacotes de trabalho, pois certas entregas da EAP podem necessitar de experimentações para saber a melhor forma da sua decomposição. Esses experimentos são típicos de projetos de inovação, em que há muita incerteza e ausência de conhecimento suficiente para saber a melhor forma ou pelo menos uma forma factível de executar uma determinada atividade, portanto, para aqueles ciclos de vida iterativos, é normal que certas partes da EAP estejam detalhadas e outras partes ainda com grandes blocos de resultados de projeto que serão decompostos futuramente. Dessa maneira, o gerente de projeto pode iniciar uma iteração para que consiga realizar experimentos e pesquisas de campo com o objetivo de decompor o projeto e, com mais brevidade possível, conseguir minimizar os riscos da incerteza de um projeto. Para a atividade de decomposição do escopo em pacotes de trabalho, o GP pode iniciar com a decomposição da estrutura legitimada pelo patrocinador e realizar reuniões com especialistas ou análise de documentação. UNIDADE 2 | PLANEJAMENTO DE PROJETOS 76 FIGURA 7 – EXEMPLO EAP – ALTO NÍVEL FONTE: O autor (2018) Para a estrutura física, foram selecionados arquitetos e engenheiros civis (especialistas). Deste modo, foram identificados os pacotes de trabalho apresentados na figura a seguir. EXEMPLO Retomando o exemplo da construção de uma nova filial de uma loja, o gerente de projetos inicia então a construção da EAP. A partir do TAP e da base histórica que a empresa possui, o gerente de projetos identifica as principais etapas do projeto e solicita a ajuda de alguns especialistas em cada área de conhecimento para a definição dos pacotes de trabalho. TÓPICO 1 | COMO DEFINIR O ESCOPO DO PROJETO? 77 FONTE: O autor (2018) FIGURA 8 – ESTRUTURA FÍSICA: PACOTES DE TRABALHO UNIDADE 2 | PLANEJAMENTO DE PROJETOS 78 FIGURA 9 – LAYOUT: PACOTES DE TRABALHO FONTE: O autor (2018) Para a parte jurídica, serão usados os procedimentos descritos no site da prefeitura e site de bombeiros (documental), conforme figura que segue: Para o layout da loja, será seguido o manual de lojas, com ampla base histórica (documental), apresentados na figura a seguir: FIGURA 10 – JURÍDICO: PACOTES DE TRABALHO FONTE: O autor (2018) TÓPICO 1 | COMO DEFINIR O ESCOPO DO PROJETO? 79 Por fim, para as atividades relacionadas às pessoas foram selecionados dois profissionais da área da empresa (especialistas), que identificaram os pacotes de trabalho demonstrados na figura a seguir: FONTE: O autor (2018) FIGURA 11 – PESSOAS: PACOTES DE TRABALHO UNIDADE 2 | PLANEJAMENTO DE PROJETOS 80 Desta forma, a partir do auxílio de especialistas e da documentação disponibilizada pela empresa, o gerente de projetos pôde identificar de forma assertiva as etapas, pacotes de trabalho e entregas que serão realizadas ao longo do projeto. A partir dessa definição, passa-se, então, ao sequenciamento de atividades e às estimativas de projeto, assuntos estes abordados no tópico subsequente. 81 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você aprendeu que: • A partir da elaboração do TAP, o gerente de projetos se dedica à análise deste documento, identificando o nível de influência de stakeholders, ambiguidades e premissas acerca do projeto. • As premissas do projeto devem ser incorporadas no TAP e legitimadas pelo patrocinador do projeto. Caso ele não concorde com alguma afirmação, deve editá-la de forma mais otimista ou mais pessimista. • O planejamento do projeto se inicia a partir da decomposição do seu escopo em partes menores, que chamamos de pacote de trabalho. • A EAP é a representação gráfica do projeto, apresenta a hierarquia de entregas, sendo que no menor nível está o pacote de trabalho. • A estrutura analítica de projeto é, depois do termo de abertura de projeto, a mais importante entrega na gestão de projeto, uma vez que todos os documentos de planejamento serão derivados da estrutura analítica de projeto. 82 AUTOATIVIDADE 1 Você foi designado como gerente de projetos para a realização de uma festa de formatura. Faça a proposição de um TAP para esse projeto. 2 Construa uma EAP do projeto da festa, com mínimo de três níveis hierárquicos e no mínimo dez pacotes de trabalho. 83 TÓPICO 2 COMO PLANEJAR O TEMPO E O CUSTO DO PROJETO? UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Uma vez estabelecidos os componentes que formarão o escopo do projeto, passa-se então à atividade de organização desses componentes de uma forma lógica. O próximo passo é a ordenação dos pacotes de trabalho, em que se procura identificar as atividades que serão realizadas primeiro e aquelas que serão deixadas mais para o final do projeto, o que chamamos de sequenciamento de atividades (PMI, 2013). Logo depois são realizadas as estimativas de projeto, que na verdade, são estimativas do conjunto de atividades identificadas como pacotes de trabalho dentro da etapa de estrutura analítica de projeto. Estes assuntos serão abordados nas seções subsequentes. 2 SEQUENCIAMENTO DE ATIVIDADES Existem muitas maneiras de realizar o sequenciamento de atividades, mas essa ordenação dependerá do ciclo de vida adotado no projeto, conformese observou na Unidade 1. Como método básico de priorização, utilizam-se dependência lógica, valor agregado aos objetivos do projeto e risco. FIGURA 12 – FATORES DE INFLUÊNCIA NA PRIORIDADE DE ATIVIDADES FONTE: Adaptado de Cruz (2017) UNIDADE 2 | PLANEJAMENTO DE PROJETOS 84 No tocante de precedência, as atividades podem ser organizadas pelas atividades que têm uma dependência entre si, por exemplo, para se contratar professores para o projeto educacional é necessário, como atividade anterior, descrever o perfil desse profissional, as habilidades, competências e atitudes desejadas. Desse modo existem quatro formas de identificar dependência de atividades (CUKIERMAN, 1977), porém a maioria dos casos recai sobre a dependência do tipo “terminar para iniciar” (FTS – Finish to Start), que se baseia no sentido de que uma atividade tem que ser encerrada para que a subsequente possa ser iniciada. FIGURA 13 – DEPENDÊNCIA "TERMINAR PARA COMEÇAR" FIGURA 14 – DEPENDÊNCIA "TERMINAR PARA TERMINAR" FONTE: O autor (2018) FONTE: O autor (2018) Essa é a dependência mais clássica e mais utilizada no gerenciamento de projetos. Pode-se dizer até que, para projetos de baixa e média complexidade, somente esse tipo de dependência é suficiente. Existem ainda outros três tipos de dependências que podem ser utilizadas pelo gerente de projetos em casos específicos. Em casos em que uma atividade tem que ser encerrada obrigatoriamente junto com a outra, ou seja, uma dependência de duas atividades em que uma deve ser concluída com a outra (FTF – Finish to Finish). O terceiro tipo de dependência se caracteriza em uma atividade que deve ser obrigatoriamente iniciada junto com outra atividade, ou seja, quando uma começa a ser executada, a outra também obrigatoriamente tem que ser executada (STS – Start to Start). TÓPICO 2 | COMO PLANEJAR O TEMPO E O CUSTO DO PROJETO? 85 FIGURA 15 – DEPENDÊNCIA "COMEÇAR PARA COMEÇAR" FIGURA 16 – DEPENDÊNCIA "COMEÇAR PARA TERMINAR" FONTE: O autor (2018) FONTE: O autor (2018) Por fim, o quarto tipo de dependência se refere à atividade que precisa ser iniciada para que a outra seja encerrada (STF – Start to Finish). Conforme observado, os três últimos casos de dependência entre as atividades são até difíceis para se dar exemplos. Lembramos que um gerente de projeto pode usar durante sua vida profissional somente a dependência “encerrar para iniciar” como dependência que resolverá com certeza a maioria dos seus problemas práticos. Outro ponto a se destacar é: dependências devem ser utilizadas quando existe uma obrigatoriedade entre as atividades e não como forma de melhorar o entendimento do projeto ou otimizar o uso de um determinado recurso, seja esse humano ou material. Por exemplo, um erro comum é que as dependências sejam determinadas a partir de uma visão de equipe como, criar dependência de atividades que serão executadas supostamente por um mesmo membro da equipe. Essa prática não é recomendável uma vez que não há uma dependência entre as atividades e sim uma limitação de recursos, neste caso, humano. Caso o gerente de projetos consiga mais pessoas para trabalhar no projeto, as atividades poderiam ser executadas em paralelo, deixando claro que a dependência não está nas atividades, mas sim em função de uma lógica que o gerente de projeto adota para seu projeto. O segundo critério para priorização de atividades é a agregação de valor para os objetivos do projeto de um conjunto de atividades. A melhor forma de entender esse tipo de critério é por meio de, primeiramente, a determinação dos marcos do projeto. Ou seja, os pontos de relevância na linha do tempo do projeto, em que se observa uma entrega relevante para o alcance dos seus objetivos. UNIDADE 2 | PLANEJAMENTO DE PROJETOS 86 Isso ocorre por meio do entendimento dos objetivos de projeto e como esses agregam valor. Os marcos do projeto podem ser determinados de uma forma genérica, mas, é de suma importância que o gerente de projeto também construa marcos de projetos específicos ao projeto em questão e ao seu contexto organizacional e não somente replicar marcos de modelos já existentes que poderão fracassar para o seu projeto. Alguns exemplos de marcos relevantes e específicos de um determinado projeto são: quando a fundação de um prédio é realizada, quando o acabamento de uma obra é executado, quando o chassi e o motor do carro estão acoplados, quando são executados os testes funcionais de um sistema e quando uma versão importante de um produto é entregue ao cliente. Apesar dos exemplos acima, em contextos genéricos ou específicos de cada projeto, geralmente, os marcos são determinados pelo conjunto de atividades que deixarão os usuários e stakeholders mais contentes com o avanço do projeto. Este fator é de suma importância, não só pela felicidade do patrocinador, mas também pela moral da equipe. Caso a equipe não sinta que esteja contribuindo para a melhora de um determinado contexto, poderá perder a motivação e gerar insatisfação de não der parte do seu tempo para algo útil, gerando, desta forma, certa indiferença da equipe e um distanciamento do usuário. Diante disso é importante que o gerente de projetos consiga elaborar uma linha do tempo de entregas que sua equipe possa observar por si só quão relevante o projeto é para seus usuários e stakeholders. Manter também uma relação contínua e estreita com os usuários é fator crítico de sucesso para qualquer projeto. As definições de marcos relevantes contribuem para que o projeto tenha uma constante relação de comunicação com os usuários, gerando então um processo positivo de entregas e feedbacks com a finalidade de constantemente identificar formas de aperfeiçoar a gestão do projeto. Esta composição de marcos é subdividida em iterações ou sprints de projetos. Estas iterações são fragmentos do tempo, mais curtos que os macros de projetos, mas que trazem uma entrega representativa para equipe e para os usuários (COHN, 2000). Não existe um prazo exato para determinação das iterações, recomenda- se algo em torno de duas semanas, ou seja, a cada duas semanas a equipe irá apresentar aos usuários uma entrega parcial do projeto, que representa um avanço contínuo rumo ao final bem-sucedido. Essa organização pode ser obtida pelo uso de uma linha do tempo em que se dispõe os marcos do projeto, as iterações e as entregas das atividades. Ressalta-se que o mais importante são os marcos. Após esses marcos as iterações e somente com a determinação desses elementos de progresso é que se buscam as atividades que farão que essa entrega seja positiva. TÓPICO 2 | COMO PLANEJAR O TEMPO E O CUSTO DO PROJETO? 87 Neste sentido, busca-se primeiro o que precisa ser feito e depois, como esse objetivo será alcançado. Os objetivos são representados por perguntas ou indicadores, e os meios indicados pelas atividades de projeto. O terceiro elemento de priorização de atividades de projeto é o fator de risco do projeto e de suas atividades. Quando conseguimos estimar o esforço de uma atividade, seu tempo e como ela deve ser executada, estamos pensando em atividades de baixo risco e podem ser executadas o mais tarde possível no cronograma (SALLES, 2006). Por outro lado, as atividades em que as estimativas da equipe de projeto não estão seguras e não há um consenso de como aquela atividade será executada, essas atividades devem ser controladas, e identificadas como de alto risco. Assim as atividades de alto risco devem ser geralmente executadas mais próximas do ponto inicial do projeto e por consequência as atividades de baixo risco podem ser executadas mais próximas do final, pois existe pouca chance de surpresas indesejáveis. Uma vez detalhados os três aspectos que levaram à priorização das atividades humanas, o gerente de projetos deve tomar uma decisão importante, harmonizar o critério de valor ao cliente e objetivo do projeto com os critérios de dependência e fator risco. Essadecisão não é adequada por meios estatísticos e precisarão ser avaliadas segundo os valores e preferências do gerente. É nesse momento que a experiência faz diferença ao gerente de projetos, bem como o conhecimento e domínio do problema, seja ele tecnológico ou um negócio. Como dica geral, recomendam-se primeiro as atividades de maior risco, depois as de alto valor agregado e por fim, adequar as dependências lógicas. Mas cada projeto, é um projeto diferente e essa ordem pode ser alterada. EXEMPLO Dada a lista de pacotes de trabalho exposta no tópico anterior (Figura 7), podemos organizar os pacotes de trabalho usando primeiramente o critério de dependência. Após essa análise, podemos aperfeiçoar a priorização, acrescentando os critérios de riscos e agregação de valor ao projeto. Sob a ótima apenas da dependência, o projeto poderia ser organizado conforme a figura a seguir. UNIDADE 2 | PLANEJAMENTO DE PROJETOS 88 FIGURA 17 – SEQUENCIAMENTO DE ATIVIDADES - 1 FIGURA 18 – SEQUENCIAMENTO DE ATIVIDADES - 2 FONTE: O autor (2018) FONTE: O autor (2018) Todavia, o gerente de projetos observa que para iniciar a seleção de fornecedores e firmar os contratos que estão presentes dentro do escopo de layout, esta atividade deve ser executada antes do prédio da loja física estar pronto. Essa análise também pode ser observada sob a ótica de riscos, pois terminar a parte física e só a partir desse momento, procurar por fornecedores pode aumentar os riscos do projeto. O gerente de projetos decide então definir que a atividade de construção do prédio da loja deve iniciar juntamente com a atividade de seleção de fornecedores que estão presentes dentro do escopo de Layout. Deste modo, as atividades têm a relação de INICIAR para INICIAR. Ou seja, assim que iniciar o prédio da loja física, pode-se executar a parte de fornecedores e contratos do layout da loja. Assim, o gerente de projetos estabelece um novo diagrama de sequenciamento de atividades do projeto, conforme observa-se na figura a seguir. TÓPICO 2 | COMO PLANEJAR O TEMPO E O CUSTO DO PROJETO? 89 Com essa linha geral, pode-se criar diagrama de precedência detalhados para cada item da figura anterior. Na figura a seguir está o diagrama de precedência da loja física. FIGURA 19 – DIAGRAMA DE PRECEDÊNCIAS: PRÉDIO LOJA FONTE: O autor (2018) 3 ESTIMATIVAS DE PROJETO As estimativas de projeto são, na verdade, as estimativas do conjunto de atividades identificadas como pacotes de trabalho dentro da etapa de estrutura analítica de projeto. Existem muitas técnicas para estimar o esforço e o tempo de projetos, porém é importante mencionar que nenhuma técnica é definitiva. Ou seja, as estimativas de projeto são suposições que o gerente de projeto realiza para que consiga elaborar um plano e acompanhar a execução. Um erro comum de gerentes de projetos iniciantes é o esquecimento de que essa estimativa é uma suposição. Assim, após as estimativas, elaborados planos de trabalho, cronograma e atualizados os softwares de apoio à decisão, as estimativas são tidas pelos stakeholders, e pelo próprio gerente de projeto, como verdades absolutas. Ou seja, caso haja um desvio dessas estimativas durante a execução, logo se deduz que o problema está na execução, porém essa premissa é um erro clássico em gerenciamento de projetos. Muitas vezes, o gerente e a equipe de projeto precisam estimar os projetos sem todas as informações possíveis. Na verdade, essa situação de trabalhar com informações incompletas é quase regra em projetos, pois os stakeholders querem o mais brevemente possível um plano fechado para conseguir tomar a decisão do seu financiamento ou não. UNIDADE 2 | PLANEJAMENTO DE PROJETOS 90 Assim, elaborando um pensamento que a estimativa é uma suposição e que existe a certeza de uma pressão para entregar os planos o mais brevemente possível, é importante mencionar que, caso haja um desvio do planejado, esse pode ser um problema de execução sim, mas também pode ser um problema de estimativas com um processo sem um aprofundamento ideal. Obviamente, um gerente de projeto solicita aos stakeholders um prazo adequado para o planejamento, mas essa tensão entre stakeholders e gerente de projeto deve ser entendida como uma certeza e o gerente precisa lidar com essa situação que é real, e o ideal quase nunca acontecerá. Dessa maneira, é importante no início do planejamento, durante as estimativas e principalmente na formalização de cronograma, orçamento e demais planos de trabalho, que os stakeholders sejam ostensivamente comunicados que as estimativas são baseadas em pressupostos. Alguns pacotes de trabalho possuirão um nível de certeza maior, e outros pacotes de trabalho possuirão o nível de incerteza bastante elevado, pois existirá a ausência ou limitação do conhecimento da equipe e do gerente em como resolver essa situação, enquanto existe a pressão dos stakeholders para ter um plano fechado com estimativas bem precisas. Como podemos observar ao longo desse livro, é importante destacar que o planejamento é um contínuo exercício de expansão de conhecimento no gerente de projeto e na sua equipe sobre os objetivos e alternativas possíveis para sua execução. Obviamente, se deseja trabalhar com certezas para que consigamos elaborar planos com nível de desvio bem baixo, o que é muito comum em projetos que tenham ampla base histórica. Na execução de projetos com ampla base histórica, o gerente de projeto obviamente pode fazer uma estimativa baseada no passado, ou seja, identificar quanto levou cada um desses projetos já realizados em termos de prazo e custo. Essas estimativas são confiáveis e terão desvios baixos devido à eventos pouco prováveis. Esse tipo de estimativa é chamado de estimativa paramétrica, que são esforços estimados pela sua relação de uma entrega física, como o metro quadrado numa construção civil, o metro linear na construção de um muro. Deste modo, ressalta-se que estimativas paramétricas são confiáveis desde que exista um conjunto de eventos passados em que se possa tomar uma decisão. Como podemos observar, esses exemplos são factíveis desde que você consiga traçar uma relação paramétrica entre o tamanho do projeto mensurado por um indicador físico, como metro quadrado, e funcionalidades de um produto com a relação de esforço obtido em situações passadas. TÓPICO 2 | COMO PLANEJAR O TEMPO E O CUSTO DO PROJETO? 91 Existem outras variáveis que podem compor o processo de estimativas de projeto como variáveis ambientais e variáveis técnicas. Por exemplo, uma equipe recém-treinada sem muita experiência ou a construção de uma casa que está em uma inclinação relevante e que não foi realizada no passado. Esses tipos de variáveis podem tornar o projeto mais complexo ou podem tornar o projeto mais simples, sendo então variáveis técnicas ou variáveis ambientais, que são multiplicadores do resultado final de estimativa. Já em projetos em que não dê para fazer essas relações de entrega física versus o esforço obtido no passado, a abordagem paramétrica perde sua utilidade. Por exemplo, em situações nas quais não há base histórica confiável, ou seja, os projetos passados não foram encerrados com um relatório de lições aprendidas sobre o que foi entregue e ou quanto esforço foi despendido para as atividades desenvolvidas. Isso é muito comum em organizações que não têm a visão da importância de gestão de projetos. Pode até planejar, porém a execução é realizada de uma maneira muito artesanal, sem a coleta de dados de apontamentos diários ou semanais da equipe sobre quanto tempo foi gasto para cada pacote de trabalho. Sem essas informações, se torna impossível o uso de técnicas paramétricas, pois não haverá base histórica. Já no contexto de projetos de desenvolvimento de produtos, principalmente os que tenham alto índice de inovação, não é possível o uso de base histórica, uma vez que o produto será realizado pela primeira vez e talvez a única. Umatécnica bastante difundida no mercado de trabalho é a consulta por especialistas. Esta técnica se caracteriza pela apresentação dos pacotes de trabalho a uma pessoa com grande experiência no domínio do problema do projeto, e neste caso, este especialista pode votar em quanto tempo durará cada pacote de trabalho. Obviamente, esse tipo de estimativa dependerá não só do grau de experiência da pessoa, mas também do quanto aquele pacote de trabalho está especificado. A especificação de um pacote de trabalho é necessária para saber se a estimativa será mais conservadora ou mais arriscada. Imagine um pacote de trabalho de uma simples colocação de um piso cerâmico. Para esse pacote de trabalho, um profissional júnior poderia supor que a distância chamada “fuga” entre as peças cerâmicas pode ser executada por separadores de piso cerâmico, ou seja, a forma mais usual de colocação de um piso o que demoraria um valor x de tempo para sua colocação. Porém, depois da estimativa e durante a execução percebe-se que na verdade o stakeholder não gostaria daquele piso cerâmico, mas sim de um piso de porcelanato, que exige instrumentos e cuidados maiores que o piso cerâmico tradicional, demandando mais tempo do que o previsto para sua colocação. UNIDADE 2 | PLANEJAMENTO DE PROJETOS 92 Dessa maneira, sem uma especificação adequada, somente com o título do pacote de trabalho, o especialista que realiza a estimativa pode ser levado a suposições sem uma explicitação do que caracteriza aquela sua estimativa. Usando essa abordagem sem uma especificação minimamente adequada, é quase certo que o gerente de projeto e sua equipe enfrentarão grandes dificuldades e desvios de projeto. Deste modo, gera-se uma insatisfação no stakeholder, uma vez que as estimativas já foram formalizadas e não houve o cuidado de explicitar as especificações ou a suposição por trás daquela estimativa. Assim, o uso de especialistas para estimativas pode ser usado em projetos, porém, é importante que o gerente de projeto faça questionamento ao especialista a cada pacote de trabalho: “Qual é a suposição que deve ser verdade para que aquela estimativa possa ser honrada?” Ou seja, no caso da colocação de piso, o gerente de projeto poderá falar que levará uma hora para cada 3m² de pisos colocados, desde que este seja do tipo x, y ou z. Assim, no momento da formalização das estimativas, o stakeholder pode aprovar não só a duração, o esforço e o custo daquelas atividades do pacote de trabalho, mas também identificar se realmente as premissas estão corretas. No futuro, caso o stakeholder queira mudar as especificações, não será tratado como um desvio das estimativas, mas sim, uma solicitação de mudança de projeto. Outra alternativa que dê mais confiabilidade ao processo de estimativas de projeto é o uso da técnica Delphi. A técnica Delphi consiste em usar não somente um especialista, mas um conjunto de especialistas para que consiga gerar um entendimento maior, não só na atividade de estimativas, mas também nas especificações do projeto (MORICOCHI et al., 1995). Essa técnica é bastante poderosa para a elucidação de incertezas e pontos obscuros do projeto que precisam ser especificados melhor. A técnica se baseia em uma lista de pacotes de trabalho e, com suas especificações disponíveis naquele momento, o gerente de projeto distribui uma lista de pacotes de trabalho aos especialistas de forma individual a cada especialista. Então, de uma forma isolada, o especialista é solicitado a gerar o esforço para cada pacote de trabalho, porém, é de suma importância que o especialista também consiga elaborar uma proposta de especificação. Ou seja, o especialista tem que ser proativo em explicitar o racional que ele usou por trás daquele valor de esforço. Por exemplo, em um pacote de trabalho para instalar o sistema de alarme em uma casa, o especialista poderá estimar oito horas de trabalho, com a premissa de que as instalações elétricas e telefônicas já estejam previamente prontas e todos os fios passados pelas tubulações para tal fim. Já um outro especialista poderá estimar quarente horas de esforço para essa mesma atividade, porém, ele assumiu a premissa de que também vai ter que passar todos os fios elétricos e telefônicos até cada ponto de câmeras e sensores de alarme, bem como a central de alarme da casa. TÓPICO 2 | COMO PLANEJAR O TEMPO E O CUSTO DO PROJETO? 93 Desta forma, qual o especialista tem razão nessa situação? Neste sentido, o próximo passo da técnica Delphi é o confronto das estimativas, o gerente de projeto faz de maneira isolada uma comparação do nível de esforço de cada pacote de trabalho. Obviamente, para aqueles pacotes de trabalho em que não existam uma grande dispersão dos valores de esforço, o gerente de projetos pode arbitrar o valor de esforço do seu projeto, podendo ser mais otimista ou pessimista. Porém, no exemplo de instalação do sistema de alarme da casa existe uma grande dispersão entre 8 e 40 horas de trabalho, um especialista afi rma que é possível terminar em um dia e outro especialista informando ao gerente do projeto que precisa de uma semana para executar aquele pacote de trabalho. Nas situações em que haja uma grande dispersão entre as estimativas, o gerente do projeto convoca para uma reunião, agora sim presencial e com todos os especialistas, para que estes consigam defender o seu ponto de vista usando as premissas de trabalho. Então, nesse momento, o gerente do projeto informará aos stakeholders que a estimativa se baseia em uma premissa e estes poderão assumir essa premissa como verdade. FIGURA 20 – EXEMPLO TÉCNICA DELPHI FONTE: O autor (2018) Nesta situação, o gerente de projeto poderá então criar um novo pacote de trabalho com a atividade de passar todos os fi os telefônicos e elétricos na casa e, um outro pacote de trabalho, somente para a instalação e confi guração dos alarmes. Dessa maneira, e nesse exemplo simples, pode-se observar o poder de esclarecimento que tem a técnica Delphi desde que haja pacote de trabalho especifi cado. Nos casos em que haja uma grande dispersão dos esforços entre os especialistas, o gerente de projeto poderá fazer novas rodadas de estimativas. Essas rodadas de estimativas e de novos pressupostos feitos pelos especialistas é realizada a cada pacote de trabalho e até que o gerente de projeto tenha a sua confi ança em elaborar um plano com aquelas informações dos especialistas. UNIDADE 2 | PLANEJAMENTO DE PROJETOS 94 Apesar das vantagens presentes na técnica Delphi, a questão do tempo para realizar as reuniões com os especialistas se torna uma desvantagem para a aplicação da técnica. Ou seja, o tempo de planejamento é obviamente superior ao da técnica paramétrica ou da consulta de um especialista somente. Assim, o gerente do projeto pode compor um determinado conjunto de pacotes de trabalho onde utilizar a técnica, ou seja, para aqueles pacotes de trabalho em que haja base histórica, ele poderá se valer da técnica paramétrica. Quando não existe base histórica, pode-se optar para a técnica Delphi nos pacotes de trabalho críticos e de alta relevância para o projeto. Já para pacotes de trabalho de menor importância, podem ser utilizadas estimativas mais rápidas, como a de um especialista. Gerentes de projeto em formação ou iniciantes podem supor que a técnica Delphi deve ser usada para todos os pacotes de trabalho, porém, no dia a dia a pressão para elaborar planos de cronogramas é alta, e, muitas vezes, a equipe já está alocada. A equipe do projeto precisa trabalhar, então é importante que os jovens gerentes de projeto entendam que o ótimo é inimigo do bom, e que muitas vezes não será possível alcançar a excelência e o ideal dentro de cada planejamento. Então, se faz necessário lembrar sempre de separar poucas atividades de muita relevância, em que terão um planejamento mais elaborado e ostensivo. Já nas atividades de baixo risco e que não impactam drasticamente no projetopodem ser utilizadas técnicas menos elaboradas e com menos precisão. EXEMPLO O gerente do projeto precisa estimar o esforço envolvido com o projeto, porém diferentes pacotes de trabalho podem requerer diferentes métodos de estimativa. Por exemplo, para os pacotes de trabalho relativos à colocação de piso, pode-se usar um método paramétrico. O gerente busca na base histórica e encontra documentação de um projeto encerrado de uma loja física de 100m². Na documentação desse projeto passado, essa etapa consumiu 5 pessoas 8 horas por dia durante 10 dias de trabalho. Assim, observa-se um esforço de 400 horas de trabalho para 100m². Por dedução, precisa-se 4h por m² para concluir os pacotes de trabalho de piso. Dado que a loja do projeto atual é maior e tem 300m2, o gerente de projeto estimou então 1200 horas de trabalho para os pacotes de medições do piso, colocação do piso e ajustes dos recortes. TÓPICO 2 | COMO PLANEJAR O TEMPO E O CUSTO DO PROJETO? 95 Essa estimativa foi possível, pois existia base histórica e um parâmetro replicável (m² com o mesmo piso). Todavia, caso não haja base histórica ou critérios replicáveis, o método paramétrico não fará sentido. Um exemplo sem base histórica é a parte do projeto que contempla como é a formação da equipe (pessoas) que vai fazer parte da loja. Apesar da empresa ter uma base histórica de contratações passadas, elas foram realizadas em capitais e cidades grandes, o que não é realidade nessa cidade. Nesse contexto, o gerente do projeto prefere usar a técnica Delphi com o departamento de gestão de pessoas para estimar o esforço envolvido. Após realizada a primeira rodada, os resultados são apresentados no quadro a seguir: QUADRO 2 - APLICAÇÃO DA TÉCNICA DELPHI 1° RODADA FONTE: O autor (2018) A primeira rodada da técnica Delphi apresentou a estimativa dos três especialistas em RH da empresa. Eles foram obtidos de forma individual, ou seja, não houve reunião para que eles conversassem ou tirassem dúvidas entre si. Analisando os dados obtidos na primeira rodada de estimativas, reparou- se que três pacotes de trabalho tinham uma divergência que mereciam uma nova rodada: definição de papéis, banco interno e agendamento de entrevistas. Repare que outros pacotes tinham divergência, mas o gerente de projeto entendeu que a dispersão não compensaria outra rodada. Assim, o gerente de projeto assumiu uma estimativa mais pessimista e passou adiante os três pacotes de trabalho que poderiam apresentar algum aspecto novo que interferisse na gestão do projeto. Neste sentido foi realizada a segunda rodada, com os resultados conforme o quadro a seguir: UNIDADE 2 | PLANEJAMENTO DE PROJETOS 96 QUADRO 3 – APLICAÇÃO DA TÉCNICA DELPHI 2° RODADA FONTE: O autor (2018) Com a reunião de avaliação dos motivos das dispersões o GP descobriu alguns fatos novos, como as premissas de cada especialista apresentadas no quadro que segue: QUADRO 4 – PREMISSAS DOS ESPECIALISTAS FONTE: O autor (2018) Na definição de papéis, o gerente descobriu que o pacote de trabalho nem sequer é um pacote de trabalho, pois provavelmente se resolva em troca de e-mails. No banco interno, não precisará abrir edital interno de vagas, uma vez que os colaboradores já manifestam sua intenção em aceitar progressão por transferência. E no agendamento de visita, o gerente de projeto propôs uma solução intermediaria. Dessa maneira, os resultados da segunda rodada ficaram como no quadro que segue: TÓPICO 2 | COMO PLANEJAR O TEMPO E O CUSTO DO PROJETO? 97 QUADRO 5 – TÉCNICA DELPHI: RESULTADO FINAL FONTE: O autor (2018) 3.1 TRABALHO/ ESFORÇO OU DURAÇÃO DA ATIVIDADE? No tópico de estimativas, observaram-se três técnicas muito utilizadas pelo mercado de trabalho para a composição de planejamento. Foi destacado que os valores arbitrados nesse ponto das estimativas são esforços ou valores de trabalho que deverão ser dispensados para a conclusão de uma atividade. Todavia, esses valores não indicam a duração da atividade, pois a duração é uma resultante do esforço com a agenda de trabalho de um profissional que irá executar a atividade. Como exemplo vamos supor que um pacote de trabalho pode dispensar 8 horas de esforço para sua conclusão. Alguns podem supor que 8 horas é um dia de trabalho, porém, apesar de existir a simplificação da jornada de trabalho de um profissional em 8 horas diárias, essa informação não se aplica a todos. Esse profissional, com esse pacote de trabalho, pode ter um acordo com a empresa de só trabalhar de manhã, por exemplo. Deste modo, perfazendo 4 horas diárias, assim esse pacote de trabalho de 8 horas de esforço durará na verdade, em termos de tempo, dois dias de trabalho. Também é importante identificar os dias de folga da equipe, geralmente sábado e domingo. Então imaginamos esse mesmo pacote de 8 horas, e que o profissional só trabalha uma hora por dia. Desse modo, este pacote de trabalho levará 10 dias corridos para sua conclusão, sendo 8 dias úteis e dois dias de folga. Nesse exemplo podemos observar que um pacote de trabalho de 8 horas pode ser estimado em termos de prazo, em um dia, dois dias ou até 10 dias, dependendo da jornada de trabalho daquele profissional que irá executar. 4 PLANEJANDO A EQUIPE DO PROJETO A gestão de projetos é uma atividade basicamente social, ou seja, é uma atividade executada por pessoas e, dessa maneira, a gestão e elaboração da equipe são pontos fundamentais na execução e no sucesso da gestão de projetos no mundo atual (CHIAVENATO, 2008). UNIDADE 2 | PLANEJAMENTO DE PROJETOS 98 Obviamente, muitas vezes, o gerente de projeto é incumbido de executar e gerenciar um projeto já com uma equipe previamente definida. Esse caso é tipicamente real quando se fala em projetos dentro de uma organização maior ou até mesmo em uma startup, onde as equipes são bastante reduzidas e já existe o deslocamento de certos profissionais para uma empreitada. Todavia, é relevante também nesses casos identificar a disparidade entre o desejado e o conhecimento atual. O primeiro ponto relevante na elaboração de planejamentos, e especificamente na elaboração da equipe, é não usar nomes próprios para identificação de cada membro da equipe e sim usar os papéis desempenhados pelas pessoas. Ou seja, no caso de um projeto de desenvolvimento de software existem os papéis de gerente de projeto, de arquiteto de softwares, programador e o papel de testador, por exemplo. Esses papéis poderão ser executados todos pela mesma pessoa, porém, é importante que o gerente saiba que para cada atividade ele estará assumindo um papel diferente e que irá necessitar de conhecimentos e habilidades distintas para cada pacote de trabalho. Em uma empresa, apesar de ser desejado ter profissionais polivalentes, devemos aceitar que em alguns papéis aquele profissional irá exercer a sua atividade com os conhecimentos necessários e em outros papéis, ele fará de uma maneira marginal e suscetível a mais erros. Dessa maneira, um dos primeiros procedimentos a realizar quanto à composição da equipe é a identificação dos papéis. Cada papel deverá ser especificado com um nível de detalhamento para que se consiga identificar, por exemplo, qual é a formação necessária para executar aquela atividade, quais as certificações que são interessantes para aquele papel, o nível de experiência desejado para o projeto e quais são as outras habilidades técnicas desejáveis. Também se pode documentar quais as capacitações desejadas e obrigatórias que aquele profissional precisa realizar para executar determinado pacote de trabalho. Ao realizar essa atividade, o gerente de projetos tem então a sua equipe ideal, quase que perfeita na execução de projetos, porém, sabemos que o ideal, apesar de ser perseguido, ele nunca é alcançado. E deste modo, o gerente de projeto consegue mapear a distância entre a sua equipe e o papel que ela vai executar, essa distância é chamada de análise de GAP. Esse GAP precisa ser explicitado aosstakeholders para que o financiador do projeto consiga observar se ele deseja pessoas de maior senioridade para o projeto ou aceita os níveis de diferença atual entre a equipe e o desejado. Caso a pressão dos stakeholders seja demasiadamente alta, o gerente de projetos tem que ser rígido e profissional para apresentar os gastos e solicitar mais recursos e pessoas para suprir essa disparidade. Ou, se o tempo e prazo do projeto permitirem, o gerente de projeto poderá elaborar um plano de formação da sua equipe para a diminuição dessa diferença. Algumas técnicas e conhecimentos podem ser eliminados com cursos de curta duração ou até mesmo com um estudo autodirigido, muito utilizado nas organizações. TÓPICO 2 | COMO PLANEJAR O TEMPO E O CUSTO DO PROJETO? 99 Desse modo, o uso de papéis de projeto dará uma flexibilidade na alocação de pessoas na sua equipe, assim como ao explicitar quais são as competências necessárias para a execução de determinados papéis. Caso o papel identificado necessite de mais de uma pessoa para sua execução, é importante a atribuição de um identificador numérico, por exemplo, “programador 1”, “programador 2” e “programador 3”. Com isso o gerente de projeto poderá elaborar cenários de custo benefício ao stakeholders, ou seja, mais profissionais significa mais custos e até certo ponto pode diminuir o prazo de execução do projeto. Esse custo benefício deve ser objeto de contínua negociação do gerente de projeto com os stakeholders. Caso a equipe seja enxuta e pequena, com poucas pessoas assumindo múltiplos papéis, obviamente o projeto tenderá a ser mais longo e essa decisão não pode ser exclusiva do gerente de projeto, mas sim fruto de uma negociação com os stakeholders. EXEMPLO Para planejar as pessoas que irão compor a equipe de projeto, o gerente de projeto deve avaliar cada pacote de trabalho e saber as competências e habilidades necessárias para cada uma delas. No quadro a seguir há um exemplo dessa avaliação. Atividade Competência requerida Projeto arquitetônico Formação em arquitetura. Ter experiência de no mínimo um ano com contextos empresariais. Um projeto realizado com a prefeitura local da loja. Ter ao menos um curso de aperfeiçoamento nos últimos 12 meses. Projeto estrutural Formação em engenharia civil. Ter experiência de no mínimo três anos com contextos empresariais. Três projetos realizados com a prefeitura local da loja. Projeto hidráulico Formação em engenharia civil. Ter experiência de um ano com aproveitamento sustentável de água. Projeto elétrico Formação em eletrotécnica. Ter experiência de um ano com projetos empresariais. Projeto iluminação Formação em arquitetura. Ter experiência de um ano com projetos empresariais. Projeto sonoro Formação em engenharia mecânica. Ter experiência de um ano com projetos empresariais. Projeto segurança Formação em segurança empresarial. Ter experiência de um ano com projetos empresariais. Experiência de um ano em pessoal e TI de segurança. QUADRO 6 – COMPETÊNCIAS REQUERIDAS POR CADA ATIVIDADE FONTE: O autor (2018) UNIDADE 2 | PLANEJAMENTO DE PROJETOS 100 Aparentemente, o gerente de projeto poderia indicar um profissional para cada pacote de trabalho, porém, com uma análise mais aprofundada, temos sete pacotes de trabalho e cinco perfis: a) Engenheiro civil. b) Arquiteto. c) Engenheiro mecânico. d) Eletrotécnico. e) Profissional de segurança. O gerente de projeto, caso opte, poderia se valer do engenheiro civil para suprir a demanda de arquitetos, desde que ele tivesse experiência em iluminação e fachadas. Haveria uma diferença do plano de competências, mas com menos pessoas, a chances de incompatibilização de projetos é menor, bem como a quantidade de comunicação e esforço gerencial em lidar com mais pessoas. Também poderia haver o critério de valor-hora para compor essa decisão. Essa decisão de composição de equipe poderia ser ilustrada na figura a seguir. Pode-se observar que a alternativa de manter duas pessoas para os dois papéis de arquiteto e engenharia teria benefícios em atender aos dois papéis sem GAPs, ou seja, com competências ideais. Porém, se assumir um engenheiro para o seu papel e também o de arquitetura, perde-se em competências claramente, mas há aspectos positivos em risco de incompatibilidade de projetos, comunicação e custo, uma vez que com mais carga horária envolvida, o valor-hora pode ser negociado. Essa é uma típica decisão que poderia usar tomada de decisão multicritério. FIGURA 21 – COMPOSIÇÃO DE EQUIPE FONTE: O autor (2018) TÓPICO 2 | COMO PLANEJAR O TEMPO E O CUSTO DO PROJETO? 101 5 CRONOGRAMA E ORÇAMENTO Uma vez que identificamos os objetivos do projeto, construímos a estrutura analítica de projeto, identificando assim os pacotes de trabalho e posteriormente realizando uma estimativa de nível de esforço e equipe envolvidos com o projeto, é possível a construção de cenários de cronogramas e orçamentos para o projeto (PMI, 2013). Um primeiro ponto importante a ser destacado é a questão de cenários que devem ser legitimados junto ao stakeholder e também o entendimento de que o cronograma e o orçamento na verdade são resultantes de vários fatores do projeto. No tocante, para a questão de cenários, é importante que o gerente de projetos entenda que suas decisões são baseadas em uma visão parcial e incompleta da realidade, uma vez que existem incertezas do que deve ser feito dentro do projeto. Essas incertezas não podem ser dissipadas por conta da pressão e tensão existentes entre os stakeholders, a priori essa pressão e tensão pode aparecer um fator negativo, mas devemos entender isso como uma realidade presente em gestão de projetos. Ou seja, é da natureza do projeto que existam essas tensões, assim o gerente de projeto deve elaborar planos baseados em pressupostos de cronograma e orçamento final, que devem ser frutos de uma negociação constante com o patrocinador do projeto, apresentando os principais cenários sugeridos e as premissas envolvidas. Esses cenários podem ser múltiplos, e não somente otimista ou pessimista, podem ser vários caminhos a serem trilhados, descobertos e negociados com o stakeholder. Em projetos inovadores, nos quais exista uma grande incerteza ou até pacotes de trabalho que não possam ser especificados e estimados, muitas vezes, o patrocinador e o gerente de projetos podem tomar a decisão de somente aprovar um cronograma inicial dos primeiros marcos do projeto para depois, com mais informações e conhecimento, poder elaborar o cronograma completo do projeto. O gerente de projetos apesar de apresentar múltiplos cenários deve sempre emitir a sua opinião sobre qual a proposta que ele e sua equipe entendem como a melhor para o projeto. Isso é um compromisso ético e profissional do gerente de projetos uma vez que premissas estão por trás daqueles valores de esforço, prazos e custos do projeto. Outro ponto a se destacar é, cronogramas e orçamentos são resultantes de uma combinação de fatores e decisões dentro do projeto. Essas decisões podem ser melhor entendidas pelas áreas de conhecimento da gestão de projetos, ou seja, o cronograma e o orçamento na verdade são resultantes das decisões da composição da equipe de projeto. UNIDADE 2 | PLANEJAMENTO DE PROJETOS 102 Vale lembrar que todas as atividades de planejamento são direcionadas para o alcance de objetivos de um grupo de pessoas. Caso haja uma alteração, tanto de pessoas e patrocinadores intervenientes, bem como os seus interesses, estas alterações podem afetar o cronograma e o orçamento. Outra variável relevante que pode afetar os cenários de cronograma e orçamento é a área de conhecimento de qualidade. Esta pode demandar um maior nível de testes de um determinado produto, gerando o maior esforço de pessoal para internamente testar ostensivamente o produto antes de liberar o mercado. Quanto maior o nível de qualidade, seja no ponto de vista de ações corretivas,preventivas ou de auditoria, pode-se demandar mais esforços e prazos, envolvendo contratos de terceiros, ou seja, parte da estrutura analítica de projeto, que são realizados por terceiros por meio de contratos e licitações, podem impactar a forma que o cronograma e o orçamento serão realizados, pois apesar de ter contratos firmados, esses pacotes de trabalho realizados por terceiros não estão sob a gestão direta do gerente de projetos. Dessa forma, pode haver certa morosidade e burocracia envolvida, dependendo do nível de atividade e níveis contratuais. Como pode-se observar, apesar de que para um gerente de projeto iniciante o cronograma é uma questão simples de ser resolvida, o cronograma e o orçamento resultam de uma relação complexa de múltiplos fatores, alternativas infinitas e que precisam ser entendidos e apresentados aos stakeholders de uma maneira franca, para junto destes tomar as decisões dentro de um planejado. Existem muitas formas de apresentação de cronograma, a mais clássica em gestão de projetos é por meio de gráficos de Gantt, onde visualmente cada atividade do projeto é apresentada por meio de quadrados e, cada quadrado, representa um período de tempo (PRADO, 1998). Estes períodos de tempo geralmente são representados por dia, então uma atividade planejada para execução em três dias será representada em três quadrados, um ao lado do outro, e assim sucessivamente para cada atividade. As dependências são apresentadas por meio de setas e os losangos representam os marcos do projeto, um exemplo de gráfico é apresentado na figura a seguir. TÓPICO 2 | COMO PLANEJAR O TEMPO E O CUSTO DO PROJETO? 103 FIGURA 22 – EXEMPLO DE DIAGRAMA DE GANTT FONTE: O autor (2018) Vale lembrar que a simplicidade na apresentação ao stakeholder deve ser sempre um vetor importante, pois um cronograma e toda sua complexidade precisam ser explicados pelo gerente de projetos. Lembrando que os stakeholders contrataram justamente o gerente de projeto, pois não possuem e não querem, nesse momento, se aperfeiçoar na técnica de projetos. Os stakeholders querem somente entender um cronograma e tomar as decisões adequadas. Pensando nessa simplicidade, um cronograma pode ser apresentado em forma gráfi ca de linha do tempo em que se apresenta um quadro de linhas e colunas. Neste quadro, as colunas representam os sprints ou iterações, que representam um fragmento fi xo de tempo que geralmente é defi nido em uma ou duas semanas. As linhas apresentam os pacotes de trabalho, ou caso existam muitos pacotes de trabalho, poderão representar as principais entregas que fazem sentido para o stakeholders. Apesar de tecnicamente isso não chamar cronograma, por não ter detalhes de quando cada pacote de trabalho será encerrado, deixa aos stakeholders, gerente de projeto, e, principalmente, a equipe do projeto uma clara noção de quais são as prioridades em um dado momento. Dessa forma, esse tipo de apresentação de compromissos de tempo é muito útil pois, simplifi ca a forma de gerenciar o projeto. Uma vez que não interessa em qual dia precisamente um pacote de trabalho será encerrado, mas um conjunto de pacote de trabalho tem que ser encerrado naquela iteração, deixando as decisões de menor nível de responsabilidade para equipe que pode, dentro de uma interação tomar as decisões para contornar problemas, premissas e riscos que constantemente vêm à tona na execução. UNIDADE 2 | PLANEJAMENTO DE PROJETOS 104 Esse tipo de apresentação gráfica pode ser materializado em softwares de uma forma colaborativa para todos os membros da equipe e stakeholders, mas também é usualmente representada em quadros físicos na sala do projeto, onde todos conseguem mover os pacotes de trabalho caso eles sejam alterados. Já os orçamentos, a representação é a clássica gestão orçamentária em que as rubricas de custos estão representadas pelos pacotes de trabalho e uma multiplicação entre as horas de trabalho pelo valor unitário da hora do profissional que está executando aquela atividade. Indo para o ponto mais prático em projetos de uma organização, muitas vezes, a questão orçamentária é somente uma ordem de magnitude uma vez que poucas organizações têm os seus orçamentos controlados por meio de projeto. A maioria das organizações atualmente controlam o seu orçamento de uma forma corporativa global e os projetos são ações estratégicas, mas o controle orçamentário fica a cargo do departamento ou da unidade administrativa que conduz um determinado projeto. As organizações que possuem a questão orçamentária controlada por projetos são organizações que vivem de projetos de terceiros, muito comum em projetos de construção civil, prestadores de serviço ou organizações, que têm alta maturidade em gestão de projetos, com anos de execução, experiências e lições aprendidas. Todavia, de uma forma geral, atualmente, as organizações usam os orçamentos de projeto para saber somente uma ordem de magnitude do investimento, de uma forma prática. Isso quer dizer que os valores unitários das horas dos profissionais não precisam ser fielmente representados pelo custo que está representado na folha de pagamentos. Se essa gestão precisasse ser igual, resultaria a gestão de projeto de uma complexidade extremamente alta, uma vez que os custos dos profissionais podem variar mês a mês, como encargos e gratificações. Também precisamos pensar que o custo da má organização de um projeto não é somente o valor da hora do profissional, mas também toda a infraestrutura física como, por exemplo, salas e mobiliários, conta de luz, telecomunicações e todas as unidades administrativas de apoio. Uma organização que está iniciando a gestão de projetos que quer fazer esse controle no nível orçamentário, ou seja, fazer com que a conta do orçamento da empresa “feche” com a soma de todos os projetos, pode ser tornar uma atividade árdua e burocrática, tirando o foco do projeto e ao que ele se destinou para dar foco a uma questão burocrática. TÓPICO 2 | COMO PLANEJAR O TEMPO E O CUSTO DO PROJETO? 105 Assim, os orçamentos de projetos trabalhados por ordem de magnitude são importantes para saber a grandeza de um projeto em relação aos outros, como volume de horas e o nível de profissionais seniores e, então, algumas simplificações são realizadas. Por exemplo, o valor hora de um determinado papel de projeto de um membro é padronizado para todos, um programador Júnior pode ter um custo padronizado para todos os projetos de R$ 15,00 a hora. Obviamente esse valor pode variar mês a mês e pode variar de acordo com profissional, mas essa padronização dá uma simplificação necessária para que se consiga saber, não só a ordem de magnitude do orçamento, mas também, tornando a questão orçamentária de uma forma mais prática e menos burocrática. Assim, uma vez que se consiga a linha do tempo de projeto, com as entregas que podem ser representadas por uma linha do tempo ou um gráfico de Gantt, pode-se então calcular o nível de esforço ao longo do tempo. Por exemplo, toma-se por base o total de horas trabalhadas de cada papel na primeira semana, multiplica-se pelo valor hora e faz-se o somatório e assim sucessivamente para segunda semana e terceira semana. Esse somatório de custos por semana pode ser representado por um gráfico de duas dimensões, sendo a dimensão das abscissas a linha do tempo e das ordenadas o total de custo do projeto acumulado. Esse gráfico, de uma forma clássica é nomeado curva S, pois o seu formato se assemelha a essa letra. Isso ocorre porque no início do projeto poucas pessoas são alocadas e a equipe é pequena. Assim, de posse dos cenários de cronograma e orçamento, inicia-se uma negociação com os stakeholders e uma deliberação de qual cenário será adotado como decisão definitiva do projeto para formar a linha de base do projeto. A linha de base de projeto é um termo usado em gestão de projetos para representar uma versão de um conjunto de artefatos gerenciais que compõeo plano. Geralmente, a linha de base representa o cronograma e o orçamento, mas também todos os documentos em sua última versão que originaram esses orçamentos e cronogramas, a citar termo de abertura de projeto, estrutura analítica de projeto, estimativas, premissas e sequenciamento das atividades, entre outros que possam surgir a cada caso de uma maneira particular. Então, a linha de base é na verdade uma fotografia de todos os documentos gerenciais que foram escolhidos para tomada de decisão e assim, caminha-se para a execução do projeto. Essa fotografia é importante para que, durante a execução do projeto, desvios possam ser identificados e uma decisão possa ser tomada para uma ação corretiva a fim de recompor a execução mais perto do plano ou apresentar solicitações de mudanças para que consiga ter uma nova linha de base. Há de se destacar ainda que, o termo fotografia faz mais sentido do que o congelamento de um plano. O termo congelamento dá a entender que o plano está fechado e não pode ser mais alterado, mas isso não é verdade uma vez que UNIDADE 2 | PLANEJAMENTO DE PROJETOS 106 todo planejamento foi composto de premissas, suposições e incertezas, que podem não ser a realidade da execução. Dessa forma, ajustes tanto no plano como na execução são factíveis, ou seja, na Unidade 3, veremos que alguns desvios não são necessariamente falhos na execução, mas podem ser falhas as limitações de planejamento. EXEMPLO No exemplo da loja, o GP elaborou um timeline, deixando claro os marcos do projeto, conforme ilustrado na figura a seguir. FIGURA 23 – TIMELINE DO PROJETO FONTE: O autor (2018) Com base no timeline e seus marcos, o GP inseriu os pacotes de trabalho, compondo uma primeira versão do cronograma, conforme observado no quadro a seguir: TÓPICO 2 | COMO PLANEJAR O TEMPO E O CUSTO DO PROJETO? 107 QUADRO 7 – MARCOS DO PROJETO FONTE: O autor (2018) Derivado do cronograma, pode-se construir o gráfico de Gantt, apresentando de forma gráfica o cronograma e as precedências entre suas atividades. FIGURA 24 – DIAGRAMA DE GANTT FONTE: O autor (2018) UNIDADE 2 | PLANEJAMENTO DE PROJETOS 108 Para cada pacote de trabalho, é inserido o valor de esforço de cada membro da equipe, fazendo possível a construção do orçamento, conforme ilustrado no quadro a seguir: QUADRO 8 – ESTIMATIVA DE RECURSOS (1) FONTE: O autor (2018) QUADRO 9 – ESTIMATIVA DE RECURSOS (2) FONTE: O autor (2028) Para o orçamento total do projeto, o custo do valor hora de cada membro de equipe é apresentado no quadro que segue: TÓPICO 2 | COMO PLANEJAR O TEMPO E O CUSTO DO PROJETO? 109 QUADRO 10 – ESTIMATIVA E RECURSOS E CUSTOS FONTE: O autor (2018) 110 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • Existem quatro formas de identificar dependência de atividades: “terminar para iniciar” (FTS – Finish to Start), "terminar para terminar" (FTF – Finish to Finish), "começar para começar" (STS – Start to Start) e "começar para terminar" (STF – Start to Finish). • Dependências devem ser utilizadas quando existe uma obrigatoriedade entre as atividades. • Marcos do projeto são os pontos de relevância na linha do tempo do projeto, em que se observa uma entrega relevante para o alcance dos objetivos do projeto. • As estimativas de projeto são, na verdade, as estimativas do conjunto de atividades identificadas como pacotes de trabalho dentro da etapa de estrutura analítica de projeto. • É importante no início do planejamento, os stakeholders sejam ostensivamente comunicados que as estimativas são baseadas em pressupostos. • A técnica Delphi consiste em usar não somente um especialista, mas um conjunto de especialistas para que consiga gerar um entendimento maior, não só na atividade de estimativas, mas também nas especificações do projeto. • Existem muitas formas de apresentação de cronograma, a mais clássica em gestão de projetos é por meio de gráficos de Gantt, em que visualmente cada atividade do projeto é apresentada por meio de quadrados e, cada quadrado, representa um período de tempo. • Os orçamentos de projetos trabalhados por ordem de magnitude são importantes para saber a grandeza de um projeto em relação aos outros, como volume de horas e o nível de profissionais seniores e então, algumas simplificações são realizadas. 111 AUTOATIVIDADE 1 Construa uma rede de precedências com os pacotes de trabalho da autoatividade anterior sobre a festa de formatura. 112 113 TÓPICO 3 PREPARANDO PARA A EXECUÇÃO UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Uma vez determinada a versão dos documentos que irão compor a linha de base, passa-se a pensar na parte da execução do projeto. O primeiro fator de importância na execução é que a equipe esteja comprometida com o planejamento do projeto. Repare que a palavra é comprometida, uma vez que ela foi envolvida durante o planejamento do projeto. Essa questão é importante pois, muitas vezes, o gerente de projeto isola a equipe de determinadas decisões e compõe um planejamento que não é parte integrante do pensamento da equipe. Esse é um dos principais fatores que podem complicar a execução de um projeto, um conjunto de planejamentos em que a equipe não acredita na viabilidade daquele cenário. Uma vez que essa aceitação formal é sugerida, que seja realizada por meio de uma reunião e depois um envio de e-mail para que todos consigam responder ao seu “de acordo”. Caso haja alguma divergência de opinião, o gerente de projeto precisa iniciar uma negociação e saber se a objeção de um integrante da equipe, ou mais, ocorre por alguma fragilidade no planejamento ou se trata de um receio de que o planejamento não esteja ideal. Nas seções anteriores já discutimos sobre o planejamento ideal e que este é uma utopia, é um plano no qual não existem certezas. Novamente, esse cenário ideal não é realidade em gestão de projetos, a realidade trata de uma constante tensão e pressão com os stakeholders. Desse modo, esse receio, de algum membro da equipe, precisa ser contornado pelo gerente de projeto por meio de conversas e argumentações. O gerente de projeto não deve fazer o uso da sua autoridade para impor um planejamento, pois, na melhor das hipóteses, criará um conflito no momento do uso da sua autoridade. Mas, o pior cenário é que o gerente de projeto faça uso da autoridade e a equipe apenas finja que está aceitando o planejamento, mas no fundo do seu entendimento, a equipe não acredita naquele plano. Esse é o pior cenário, pois durante a execução, caso haja qualquer desvio, seja de execução ou de planejamento, a equipe não irá se comprometer a trabalhar com contingências que necessitam algum tipo de dedicação e esforço a mais do que o planejado. Uma vez que aquele plano não foi aceito de uma maneira explícita, mas sim o 114 UNIDADE 2 | PLANEJAMENTO DE PROJETOS plano foi imposto pelos stakeholders e pelo gerente de projeto. Dessa maneira, a obtenção do aceite dos planos validados pelos stakeholders e pela equipe é de suma importância para a execução do projeto. 2 PLANEJAMENTO DE COMUNICAÇÃO Um fator importante ao se planejar a execução é a questão da gestão da comunicação. A gestão da comunicação passa pelo planejamento das informações que precisam ser trafegadas entre a equipe, entre os stakeholders e, em alguns casos, com atores externos como clientes sociedade e mídia. A gestão da comunicação precisa ser planejada e se inicia pela definição dos elementos que devem ser comunicados e quais os atores participantes. Toda comunicação também tem um meio e um veículo pelo qual as informações serão trafegadas, algumas vezes de uma forma unidirecional. Os elementos de comunicação devem ser identificados para saber quais são aqueles que irão ter uma comunicação planejada. De uma forma atípica, os projetos precisam de um repositório de documentos, onde o gerente de projeto irá dispor os documentos oficiais dos projetos aprovados e aqueles que estão constantemente sendo digitados e editados. É importantesaber e configurar regras na ferramenta utilizada para que alguns documentos sejam somente leitura da equipe e algumas outras pastas e documentos possam ser editados por qualquer membro da equipe. Outra funcionalidade importante na questão de gestão dos pacotes de trabalho é ter um status de progresso da atividade. Recomenda-se que use o sistema Kanban, ou seja, quais atividades que estão esperando a pessoa liberar para iniciar a execução, quais são as atividades e pacotes de trabalhos que estão em execução, quais estão aguardando validação e quais estão concluídos. Esses são os estados típicos de gestão de projetos, mas podem ser customizados para cada situação. Neste sentido é importante que a equipe tenha a visualização e conhecimento de como está o status de cada pacote de trabalho. Existem muitas ferramentas do mercado atualmente que se destinam a essa ajuda na gestão de projetos. Não cabe a esse livro recomendar uma ferramenta, mas recomenda-se a prerrogativa da simplicidade de uso e um sistema que seja aceito por todos. Além dessas funcionalidades, também é importante definir como o gerente de projeto irá controlar as horas de projeto. Uma vez que houve um plano e estimativas, necessita-se saber se o projeto ainda está dentro do planejado e, se existe um desvio a ser contornado ou um desvio importante que comprometa os objetivos do projeto. TÓPICO 3 | PREPARANDO PARA A EXECUÇÃO 115 Essa última funcionalidade talvez seja o elemento mais desgostoso para a equipe de projetos, pois a cada pacote de trabalho encerrado a pessoa deve apontar as suas horas e definir quantas horas foram necessárias para concluir aquela atividade. Apesar de ser uma atividade desagradável, pois remete a um controle excessivo, sem esse report de horas o gerente de projeto não consegue saber se as estimativas de custos do projeto estão adequadas e, mais à frente no projeto, a organização poderá possuir um banco de dados para identificar o quanto de desvio houve no projeto em relação ao planejado, auxiliando no planejamento de projetos futuros. Novamente, é importante destacar a simplicidade desse elemento. Este controle pode ser obtido por softwares muito sofisticados ou podem ser feitos por uma planilha eletrônica, com os pacotes de trabalho e a comparação entre o planejado e o executado. O uso destes meios deve ser muito bem pensado durante o projeto. Também é interessante que o gerente de projetos deixe livre para sua equipe criar novos pacotes de trabalho, mesmo que estes não estejam planejados. Isso denotará uma abertura para qualquer membro da equipe propor alternativas e explicitar suas preocupações com assuntos relacionados ao projeto. A principal questão em torno desses novos pacotes de trabalho é que esses devam ser designados para o gerente de projeto, e ele que dará o encaminhamento necessário. Isso é importante, pois lembramos que existe uma linha de base, e se todos os membros da equipe criarem novos pacotes de trabalho para outros membros da equipe, o projeto dificilmente terá um norte dentro do que foi planejado. Neste ponto, as reuniões são elementos cruciais de comunicação e de suma importância para o sucesso dos projetos, uma vez que este trata de pessoas. No próximo tópico será abordado como conduzir e planejar reuniões, porém, nesse momento é importante determinar e planejar quais são as reuniões programadas durante o projeto. Sempre que um gerente de projeto agenda uma reunião com urgência, esta precisa ser justificada como um evento catastrófico e imprevisto que precisa ser gerenciado de uma maneira imediata. Existe também a previsibilidade de reuniões como, por exemplo, reuniões de encerramento de iterações, reuniões de entrega de resultados aos stakeholders ou reuniões de comunicação de desempenho do projeto. Essas reuniões, apesar de serem fundamentais e de suma importância, não podem ser encaradas como urgentes, uma vez que podem ser antecipadas. No caso de projetos em que haja um comprometimento dos stakeholders, é uma boa prática que após uma primeira versão da linha de base o gerente de 116 UNIDADE 2 | PLANEJAMENTO DE PROJETOS projetos convoque todas as reuniões importantes durante o projeto, pois assim os stakeholders externos, principalmente, consigam reservar espaço nas suas agendas para a reunião. Isso dará um tom profissional e de experiência ao gerente de projeto. Outro tipo de reunião importante e não urgente são as que ocorrem de forma recorrente com a equipe do projeto, estas podem ser divididas em três categorias. A primeira categoria são reuniões rápidas e diárias, com o objetivo de saber sobre elementos que aconteceram desde o dia anterior ou desde a última reunião, o que se pretende fazer até a próxima reunião e quais elementos podem dificultar o andamento do trabalho naquele período. Essa reunião diária, apesar de só possuir três perguntas, é muito positiva para a equipe uma vez que tem elementos de controle, de planejamento e de antecipação a riscos ou dificuldades. Entretanto, essa reunião deve ser feita com todos os membros da equipe, independentemente da sua senioridade ou complexidade de execução de tarefa. Isso dará um tom de união e transparência ao projeto, auxiliando para que todos consigam contribuir para o sucesso. É desejável que essa reunião diária não ultrapasse 15 minutos, quando cada membro apenas fale de uma maneira bem sintética o que está acontecendo e, o gerente de projetos coleta as informações. Uma boa prática é que essa reunião não seja agendada, ela preferencialmente deve ocorrer no mesmo local e no mesmo horário, e para que a reunião não se estenda, é desejável que esta ocorra 15 minutos antes do almoço ou 15 minutos antes do fim do expediente, provocando na própria equipe uma necessidade de síntese. A segunda categoria se refere às reuniões semanais, estas têm a finalidade de, no meio de uma interação, identificar os pacotes de trabalho de uma maneira mais global e saber a situação em que se encontram os objetivos de uma determinada interação. Essa reunião pode ser realizada sempre no mesmo dia da semana e horário, também com toda a equipe, mas precisa-se de um tempo maior, uma vez que pode haver deliberações de alternativas e soluções que não estavam anteriormente pensados. Por fim, a terceira categoria de reunião são as realizadas sempre nos marcos do projeto, ou seja, nas entregas importantes do projeto. Uma boa prática é que o gerente de projeto vá para reunião com stakeholders de resultados ou, com no mínimo, o principal responsável pela entrega. Isso dará um prestígio ao membro da equipe em falar diretamente para os stakeholders, e ao mesmo tempo, faz o empoderamento daquele profissional para que ele entenda como pensam os stakeholders. Jamais o gerente de projeto deve realizar reuniões de entregas de resultados no estilo caixa preta, ou seja, ele somente fala com stakeholders e depois comunica a equipe. Essa prática não gera comprometimento da equipe para a causa do projeto. TÓPICO 3 | PREPARANDO PARA A EXECUÇÃO 117 3 PLANEJANDO A QUALIDADE A gestão da qualidade em projetos é de suma importância para o alcance dos objetivos pelos quais o projeto existe, porém, a qualidade é uma das áreas de conhecimento do PMI que deve ser criteriosamente pensada e analisada para que o nível de formalismo esteja compatível com as necessidades de projeto e com a maturidade da organização. Nos tópicos anteriores, nós observamos as práticas em gestão de projetos que dificilmente um projeto, de qualquer natureza, não realize. Ou seja, a necessidade do termo de abertura de projeto, estrutura analítica, estimativas, premissas que suportam aquelas estimativas e elaboração de um cronograma e orçamento são praticamente fundamentais para qualquer tipo de projeto, salvo raras exceções. Entretanto, em alguns projetos há uma necessidade de formalizar as práticas de qualidade e essa sessão destaca esses pontos. Reitera-se que as práticas a seguirdevem ser criteriosamente adequadas a cada contexto do projeto e da organização, ou seja, praticar todas as técnicas de qualidade em uma empresa que está iniciando a sua trajetória em gestão de projetos pode provocar efeitos colaterais indesejáveis, como lentidão e o excesso de preciosismo acadêmico e teórico, sem os resultados práticos as quais ela se destina (ANTÓNIO; TEIXEIRA, 2007). A gestão da qualidade iniciou-se nos estudos organizacionais sendo basicamente a redução de defeitos, e em um aspecto contemporâneo, a qualidade passou a significar o mais próximo do desejável pelo usuário final (JURAN, 1997). Dessa forma, a qualidade deixou de ser uma dimensão objetiva, como simplesmente um indicador de falhas e erros de projeto, para ser um conceito relacionado à percepção de uma pessoa, com isso existe uma grande carga subjetiva do que vem a ser qualidade (CARVALHO; PALADINI, 2013). Além desse aspecto, existe não só a questão da subjetividade, mas a percepção dos stakeholders específicos de cada projeto, tornando assim a qualidade um conceito que dificilmente conseguirá ser definido de uma maneira detalhada de forma universal. A qualidade, então, significa as formas de organização dos recursos para o alcance dos objetivos estratégicos. Para ilustrar, de uma maneira simples, essa conceituação da qualidade, pode-se imaginar uma situação na qual existe um produto de baixo nível de erros, um produto quase perfeito, porém, o custo dele é muito alto, impossível até de uma pessoa de classe média alta adquiri-lo. Imagina-se então um outro produto, que tenha algumas falhas contornáveis em seu uso e com um custo bastante acessível ao usuário final, podendo assim ser comprado. 118 UNIDADE 2 | PLANEJAMENTO DE PROJETOS FIGURA 25 – QUALIDADE X PREÇO FONTE: <https://bergan.com.br/qualidade-ou-preco-adivinhe-o-que-seu-cliente-prefere/ qualidade-x-preco/>. Acesso em: 12 set. 2018. A reflexão que fazemos é: Qual é o melhor produto? Qual é o produto de melhor qualidade? Essa simples exemplificação coloca dentro do conceito da qualidade múltiplas dimensões, como o preço final. Iniciantes poderiam dizer que são duas dimensões distintas, que a qualidade se remete a apenas produzir o produto mais próximo do ideal em termos de funcionalidades e erros, mas profissionais mais experientes entendem que um produto de qualidade é um produto melhor avaliado por muitas dimensões, ou seja, não adianta termos um produto com baixíssimo nível de erros se o seu custo se torna impeditivo para seu usufruto e que o prazo para sua execução seja inviável para se colocar no mercado. Essa definição de qualidade no seu aspecto multicritério é fundamental, pois a qualidade não se trata apenas dos objetivos a que se propõem o projeto, mas sim de como os recursos serão dispostos. Não adianta estruturar um planejamento no qual haja uma busca incessante de testes e correções em busca do produto perfeito, isso poderia tornar o orçamento e cronograma inviáveis. Por isso, muitas vezes, a qualidade é deixada de lado, no seu aspecto formal, pois algumas organizações e gerentes entendem que a qualidade deve estar desassociada de outras dimensões e que são conflituosos entre si. Assim, o primeiro passo do planejamento da qualidade é analisar os objetivos do projeto. Esses objetivos devem ser desdobrados em partes menores, como se fosse uma estrutura analítica de projeto, mas em busca não dos pacotes de trabalho, mas sim de pontos de vistas menores que possam ser avaliados por indicadores de desempenho. Esses indicadores de desempenho são escalas ordinais que ilustram a preferência de um decisor em relação ao projeto. Por exemplo, é preferível que o projeto atrase 5% do que 20%, tendo então uma escala de preferência decrescente, ou seja, quanto menor, melhor. TÓPICO 3 | PREPARANDO PARA A EXECUÇÃO 119 FIGURA 26 – INDICADORES DE DESEMPENHO FONTE: O autor (2018) A vantagem de trabalhar com escalas ordinais, é que no aspecto da qualidade acima exposto, podemos abrir mão de certas dimensões para benefi ciar outras. Vamos imaginar o caso da escala acima, onde é preferível que o projeto atrase 5% do que 20% de seu prazo, mas também existem outros indicadores, por exemplo, é preferível possuir cinco falhas de projeto do que 15 falhas. Dessa maneira o gerente tem que tomar decisões que equilibrem essas duas dimensões, ou seja, se não conseguir ter as duas dimensões em níveis de excelência, qual será a dimensão preferível. Com certeza, essa não é uma decisão das mais fáceis e a complexidade aumenta quando colocamos outros indicadores de desempenho, uma vez que é comum que um projeto tenha 10, 15 ou até mais indicadores de sucesso. Assim, é de fundamental relevância que, para trabalhar no conceito de qualidade, esses objetivos sejam operacionalizados em escalas de preferência isoladas, primeiramente, para depois serem comparadas e integradas em um modelo. Isso facilita o trabalho do gerente de projeto, uma vez que ele vai saber a priori quais são as dimensões pelas quais o projeto, a equipe e ele mesmo serão avaliados no fi nal e, geralmente, esses indicadores também são legitimados pelos patrocinadores do projeto. 120 UNIDADE 2 | PLANEJAMENTO DE PROJETOS Após a legitimação desses indicadores de desempenho, que vão representar de uma forma prática e operacional quais são as dimensões pelos quais o projeto será avaliado, o próximo passo no planejamento da qualidade ocorre pela representação de quais processos afetam cada um dos indicadores ou afetam os indicadores de maior impacto no sucesso do projeto. E, antes de representar o processo por meio de modelos de processo de negócio, é importante entender qual artefato resultante será avaliado pelos indicadores. Ou seja, vamos imaginar um indicador de desempenho, o volume de horas de capacitação realizadas pela equipe do projeto. Esse indicador do projeto vai avaliar uma pessoa capacitada ou uma equipe capacitada. Geralmente, esse resultado se chama saída de processos e é representada por um substantivo e um verbo no infinitivo. Com a identificação dos indicadores e quais saídas serão avaliadas, pode- se então passar a identificar os processos que irão construir as respectivas saídas. Esses processos são basicamente representados por modelos de processos de negócio, que explicitam quais atividades são críticas para ter impacto positivo nas dimensões desejadas. Essa análise de processos de negócio dentro do projeto pode sugerir recomendações de mudanças na estrutura analítica de projeto, cronogramas e qualquer outro elemento de planejamento. Vale ressaltar que, mesmo já definido, o planejamento não é uma etapa do projeto e sim um processo contínuo de aperfeiçoamento e geração de conhecimento. Importante também lembrar que a simplicidade é sempre prerrogativa máxima para qualquer tipo de projeto, seja ele simples ou complexo, seja ele um projeto de ampla base histórica ou um projeto de inovação radical. Assim, os fluxos de processos não precisam e não devem ser complexos com fluxogramas muito extensos, quando se precisa de especialistas, mas, sim, de fluxos curtos em que se recomenda de quatro a cinco atividades no máximo para chegar ao resultado do projeto. Outra dica prática importante para colocar a gestão da qualidade facilmente no seu projeto é a premissa de que se não puder fazer essa análise de indicadores, saídas e processo para todos os objetivos, é indicado que se faça os principais. Ou seja, se não der para fazer todos, faça pelo menos a metade, mas sempre buscando a essência daqueles que são os mais importantes. A gestão da qualidade falha muitas vezes na sua operacionalização, por tentar fazer muitas coisas, como a análise de muitos processos, quando muitas vezes, nenhum é realmente feito com a reflexão necessária ou são feitas mais formalidades do que necessário. Deste modo, essa análise é fundamental para que o gerente de projeto consiga construir com indicadores de desempenho eprocessos de negócios alinhados aos objetivos, que sejam poucos, mas essenciais ao projeto que está sendo gerenciado. TÓPICO 3 | PREPARANDO PARA A EXECUÇÃO 121 Como Leitura Complementar sugerimos a leitura do texto de HELDMAN, Kim. Gerência de projetos: guia para o exame oficial do PMI. Gulf Professional Publishing, 2006. Você poderá acessá-lo em: <https://pmisp.org.br/document-repository/artigos-e- news/130-18-aplicando-lean-project-management/file>. Boa leitura! DICAS 122 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • O gerente de projeto não deve fazer o uso da sua autoridade para impor um planejamento, pois, na melhor das hipóteses, criará um conflito no momento do uso da sua autoridade. • A gestão da comunicação passa pelo planejamento das informações que precisam ser trafegadas entre a equipe, entre os stakeholders e, em alguns casos, com atores externos como clientes sociedade e a mídia. • A gestão da qualidade em projetos é de suma importância para o alcance dos objetivos pelos quais o projeto existe. • A qualidade significa as formas de organização dos recursos para o alcance dos objetivos estratégicos. 123 1 Quais decisões são inerentes à etapa de planejamento da comunicação do projeto? 2 Discorra sobre a importância da realização de reuniões para a comunicação do projeto. AUTOATIVIDADE 124 125 UNIDADE 3 EXECUÇÃO E CONTROLE DE PROJETOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • compreender os conceitos básicos inerentes a atividade de mobilização da equipe; • elaborar um plano de comunicação do projeto; • compreender as ferramentas de controle de qualidade de projetos. Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – E SE ALGO SAIR DO PLANEJADO? TÓPICO 2 – MOBILIZAÇÃO DA EQUIPE TÓPICO 3 – COMUNICAÇÃO DO PROJETO TÓPICO 4 – GARANTINDO E CONTROLANDO A QUALIDADE DO PROJETO 126 127 TÓPICO 1 E SE ALGO SAIR DO PLANEJAMENTO? UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Ao realizar o conjunto de práticas, ou algumas das práticas abordadas nos tópicos anteriores, existe recorrentemente a afirmação de que todo planejamento é fruto de premissas e suposições. Estas suposições são artifícios necessários do gerente de projeto, pois, em poucas situações, será possível ter pleno conhecimento de todas as variáveis para conseguir realizar um planejamento. Dessa forma, a gestão de projetos precisa gerenciar essas premissas e suposições, para que assim, consiga antever planos alternativos, que possam ser acionados, ou planos ostensivos, para em um cenário que algo dê errado ou alguma premissa não seja confirmada, o gerente de projetos já consiga ter em mãos alguns planos de ações. A área de conhecimento na gestão de projetos que cuida dessas situações é a de conhecimento de riscos, e no âmbito de planejamento de riscos, a primeira atividade a ser realizada é a identificação dos riscos. 2 IDENTIFICAÇÃO E AVALIAÇÃO DE RISCOS DE PROJETO A identificação dos riscos pode ser iniciada justamente pelo termo de abertura de projeto, em específico, as premissas de projeto. As premissas são as suposições que precisam ser levadas como verdade, para que todas as estimativas do planejamento sejam válidas. Então, caso uma premissa não venha a ocorrer, ela representa um risco ao projeto, e dessa forma, todas as premissas vão ser identificadas como um risco. Outra forma de identificação de riscos é por meio do processo de estimativas, como vimos no Tópico 2 da unidade anterior. Todo o processo de estimativa é baseado em premissas, e novamente, todas as premissas de estimativas devem ser consideradas como riscos. Por exemplo, em um processo de estimativas, foi identificado que o índice pluviométrico para um determinado mês está estimado em 30 milímetros. Caso haja um fluxo de chuvas maior que esse, representa-se um risco de projeto e então deve ser gerenciado. UNIDADE 3 | EXECUÇÃO E CONTROLE DE PROJETOS 128 Como forma complementar, é importante tornar o processo de identificação de riscos um fluxo contínuo, ou seja, pode-se realizar uma reunião com a equipe, realizando a técnica Delphi para identificação de riscos, que podem comprometer o sucesso do projeto. É possível também aproveitar as reuniões diárias, semanais e de marcos para que novos riscos possam ser identificados e catalogados. Nas reuniões diárias observamos que três perguntas são realizadas, sendo o que você fez desde a última reunião, o que que você vai fazer até a próxima reunião e o que pode o impedir. A terceira pergunta é justamente o processo contínuo de identificação de riscos e todos esses devem ser identificados e formalizados. A identificação dos riscos pode ser realizada de uma forma mais informal, com simples papéis colados na parede, com sistemas de informações simples, como bloco de notas ou estruturação de lembretes, mas também podem ter aplicações mais elaboradas, como uma planilha eletrônica onde haja um identificador para cada risco. Os identificadores são interessantes para que não se precise falar o nome do risco todo, que pode ser composto de várias palavras, tornando a comunicação mais complexa. Então pode-se dar como identificador, por exemplo, “R1”, “R2”, “R3”, e assim sucessivamente. O mais importante na identificação do risco é não se antecipar e negligenciar algum risco por conta de ele não ser importante no momento da identificação. A quantidade de riscos é importante para não deixar nada escapar e, dessa forma, no passo seguinte podemos avaliar estes riscos. De uma forma prática, os riscos são avaliados por duas dimensões, sendo a primeira o impacto para o sucesso do projeto e a segunda a probabilidade de que ele aconteça. Quanto ao impacto no sucesso do projeto, os riscos variam conforme a sua gravidade. Caso ele aconteça, pode ter um impacto catastrófico no projeto, por vezes, até impedir ou fazer com que o projeto seja encerrado, ou um impacto que poderia ser negligenciado e o produto será entregue com algumas limitações. Por exemplo, em um projeto de construção de software, em que haja o risco do relatório não poder ser impresso em um determinado tipo de impressora, esse risco provavelmente tem um impacto baixo, uma vez que a compra de um outro modelo de impressora pode representar um baixo custo em relação a todo o esforço que está sendo feito no projeto. Entretanto, caso haja um risco de o banco de dados não suportar a carga de informações presentes no software, este pode comprometer todo sistema de informações e assim os riscos são avaliados conforme o seu impacto. Neste sentido existem várias formas de ordenar e criar essas escalas de impacto, mas novamente, para a maioria dos casos de projetos, pode-se simplesmente classificar como alto, médio ou baixo impacto. TÓPICO 1 | E SE ALGO SAIR DO PLANEJAMENTO? 129 Os riscos de alto impacto são aqueles riscos que se acontecerem comprometem o projeto, provocam seu encerramento ou a mudança do termo de abertura de projeto. Os riscos de médio impacto são aqueles riscos que provocam alterações em cronogramas, no escopo ou orçamento, por exemplo, mas os itens contidos no termo de abertura de projeto não são impactados. São riscos que oferecem uma magnitude menor, apesar de serem importantes. Por fim, pode- se classificar um risco como baixo impacto quando podem ser contornados com desvios, geralmente aceitos em projetos, como desvios de até 10% ou 5% do orçamento e cronogramas. A questão aqui é, quem vai avaliar se um risco é alto, médio ou baixo? Uma das técnicas utilizadas em estimativas, também é útil para a gestão de riscos, que é a técnica Delphi. Novamente uma planilha de riscos é enviada para toda equipe, de uma maneira isolada e anonimamente, todos votam para saber o impacto daquele risco perante o projeto e usando as escalas que o gerente de projeto definiu. Assim, as divergênciaspodem ser posteriormente discutidas, por exemplo, um especialista detectar que o risco é alto e outro detectar que o mesmo risco é de impacto baixo, ou seja, qual é realmente a magnitude de impacto desse risco. A grande verdade é que esses especialistas estão vendo esse risco de maneiras diferentes, e essas divergências devem ser negociadas de uma maneira coletiva e mediadas pelo gerente de projeto até que a determinação do impacto seja comum a todos, similar ao processo de estimativas. A outra dimensão de gestão de riscos é a admissão da probabilidade de ocorrência do risco. Um risco não pode ter 0% de probabilidade, isso quer dizer que não é possível que aconteça e então não seria um risco, e também não pode ter 100% de certeza, uma vez que se o risco tem 100% de certeza ele já é um fato e deve ser gerenciado dentro da estrutura analítica de projeto ou retirado do escopo do projeto. Assim, como probabilidade alta entendem-se aqueles riscos que a organização já sofreu no passado e que nos últimos doze meses teve que realizar contornos. Os riscos de média probabilidade são aqueles que ocorreram em situações similares fora da organização. Reserva-se a probabilidade baixa para aqueles riscos que nunca ocorreram ou que a organização já tenha passado por situações similares sem maiores complicações. Mesmo com essas diretivas é fundamental reiterar que a probabilidade e o impacto quem determina se é alto, médio ou baixo é a equipe, pois o gerente de projeto precisa dar à equipe empoderamento para que consigam se identificar como partes fundamentais do sucesso do projeto. Caso o gerente de projetos tenha uma opinião divergente da equipe, essa sempre deve ser negociada. UNIDADE 3 | EXECUÇÃO E CONTROLE DE PROJETOS 130 De posse da probabilidade e o impacto de cada risco, precisamos então ordenar esses riscos conforme a sua exposição. A exposição do risco ocorre pela multiplicação de fatores entre a probabilidade e o impacto, criar-se então uma matriz, na qual as linhas representam o impacto e as colunas a sua probabilidade, o risco pode ser representado por um ponto ou círculo dentro desta matriz. Se analisarmos os riscos com alta probabilidade e alto impacto no projeto, obviamente terão o seu lugar no ranking superior, ou seja, são aqueles riscos que devem ser gerenciados pelo gerente de projeto e dificilmente podem ser negligenciados. Depois, podem-se analisar os riscos que têm uma alta probabilidade e um médio impacto, ou vice-versa. Esses riscos oferecem então uma exposição média, e assim sucessivamente fazemos essa análise e ordenamos esses riscos. Essa análise gráfica também pode ser representada por uma análise matemática, colocando um fator de alta probabilidade, o alto impacto com valor de sete pontos, por exemplo, médio cinco pontos e baixo três pontos. Realizando a multiplicação, um projeto de alto impacto e média probabilidade vai gerar 35 pontos de exposição, depois basta ordenar a planilha eletrônica pela exposição. Deste modo, torna-se um modelo dinâmico, pois a cada reunião semanal pode-se alterar o impacto e a probabilidade. 3 PLANO DE RESPOSTA AOS RISCOS Após a ordenação dos riscos pela sua exposição, inicia-se a análise de planos de resposta aos riscos. O plano de resposta aos riscos contém ações, que podem ser categorizadas pelos seguintes tipos: (i) risco evitado; (ii) aceitação do risco; e, (iii) planos de mitigação ao risco. Um risco evitado significa alterar parte do escopo para que aquele risco não aconteça. Por exemplo, imagina-se o risco de não saber se os roteadores wifi vão conseguir propagar o sinal para todas as salas de um determinado estabelecimento, então, pode-se negociar que a instalação dos roteadores estejam fora do escopo do projeto, dessa maneira o risco será eliminado. Também pode-se ter a aceitação de um risco, geralmente é realizada em conjunto com o patrocinador do projeto, pois os custos de contingência e prevenção ao risco são caros ou provocam efeitos colaterais indesejáveis. Dessa maneira, a aceitação do risco simplesmente é a aceitação do patrocinador, que caso aconteça aquele fato, existirá uma negociação para que se analisem os impactos do projeto e depois as alterações necessárias. TÓPICO 1 | E SE ALGO SAIR DO PLANEJAMENTO? 131 Geralmente, a terceira categoria é a mais utilizada, que são planos de mitigação ao risco. Planos de mitigação ao risco são planos proativos que provocam a diminuição da probabilidade de acontecimentos daquele risco ou diminuição de seu impacto. Todo plano de mitigação ao risco significa mais ações do projeto, ou seja, mais pacotes de trabalho da estrutura analítica, e consequentemente, mais esforços e duração do projeto. Assim, os planos de mitigação ao risco precisam ser ordenados pela exposição, pois dificilmente você encontrará um projeto em que se consiga um plano de mitigação para todos os riscos, o que tornaria ele inviável. Dessa maneira, é importante elaborar o plano de mitigação primeiramente para riscos de exposições altas, em que há alto impacto e alta probabilidade que se realizem. É necessário ainda que se negocie com os stakeholders e patrocinadores os planos de mitigação para essas situações, e caso ainda haja possibilidade orçamentária e de cronograma para novos planos, pode-se partir para as posições médias e baixas. Mas, geralmente no âmbito prático, os riscos de mitigação alta já oferecem um grande custo ao projeto, e precisam ser trabalhados com critério. Dessa maneira, leva-se à tona uma questão prática e importante para o gerente de projeto, que é manter a lista de riscos de alta exposição numa pequena fração dos riscos como um todo, ou seja, os riscos de alta exposição não podem ultrapassar 20% do total de riscos. Se os riscos identificados como alta exposição ultrapassarem essa fração, este pode ser um indício de que a equipe esteja extremamente conservadora e precavida, então cabe ao gerente de projeto apresentar esse fato e tentar extrair da equipe quais daqueles riscos que realmente são diferenciados e que oferecem maior exposição. Ainda para essa situação, o gerente de projeto pode criar uma nova categoria, como a probabilidade e o impacto altíssimo. Importante destacar que todo o plano de mitigação segue a mesma máxima que observamos ao longo do planejamento, é necessário fazer planos de mitigação práticos, reais e factíveis, mesmo que sejam poucos. Ou seja, é melhor gerenciar com excelência um risco altíssimo do que gerenciar todos os riscos de uma maneira burocrática e sem efeito. Para conseguir essa seriedade e profissionalismo, recomenda-se que todo plano de mitigação gere um item no cronograma e um pacote de trabalho. Ou seja, se um plano de mitigação é a contratação de mais um profissional a partir do segundo mês do projeto, no cronograma deve constar quem é que vai fazer a descrição das atribuições desse profissional, o seu recrutamento e a seleção. Dessa maneira, não haverá esquecimento e negligência perante esse plano de mitigação, uma vez que, no cronograma existirá o comprometimento de uma pessoa para se deslocar do projeto para essa atividade que visa resolver um risco. UNIDADE 3 | EXECUÇÃO E CONTROLE DE PROJETOS 132 Os riscos podem, também, ser objeto de atividades que não necessariamente geram um produto de trabalho, conhecidos como buffers. Os buffers são blocos de esforço de pessoas, mas que não se tem a certeza, ainda, que irão ocorrer. Vulgarmente, essas atividades são nomeadas como “gordura”. Obviamente, por questões éticas, essas gorduras não são bem vistas pelo patrocinador do projeto, parecendo que o gerente de projeto está muito precavido ou até mesmo cobrando alguma coisa que não irá realizar. Assim, não seria ético atribuir ao projeto muitas mais horas que o necessário, simplesmente para eliminar ou mitigar um desconforto da equipe e uma insegurança do gerente de projeto. Todavia, pode-se apresentar ao patrocinador uma atividade com dois profissionais,contendo um esforço de 30 horas no final de uma iteração, mas explicando para ele que essa atividade representa a mitigação de risco. Ou seja, pode acontecer ou não, caso aconteça, já se possui pessoas e recursos provisionados para a questão e não precisando de negociações com o stakeholder. EXEMPLO O gerente de projetos decide realizar uma reunião com alguns especialistas nos temas do projeto e chegou com uma lista dos riscos conforme o quadro a seguir: Descrição do risco R1 – Não conseguir contratar vendedores a tempo R2 – Chuvas atrapalharem a fundação da obra R3 – Rede de dados da cidade não ter boa qualidade R4 – População não saber os diferenciais da loja R5 – Incompatibilização de projetos de construção R6 – Não conseguir os alvarás em tempo para inauguração R7 – Rotatividade de pessoal na obra R8 – Defasagem de conhecimento dos vendedores maior que o esperado QUADRO 1 – LISTA DE RISCOS DO PROJETO FONTE: O autor (2018) TÓPICO 1 | E SE ALGO SAIR DO PLANEJAMENTO? 133 Deste modo, para avaliar os riscos, o gerente de projeto decidiu realizar rodadas de técnica Delphi com os especialistas e não precisou dissipar divergências relevantes. Ele definiu os seguintes parâmetros para a avaliação de riscos de projeto, apresentados no quadro a seguir: QUADRO 2 – PARÂMETROS PARA AVALIAÇÃO DOS RISCOS FONTE: O autor (2018) Deste modo foi elaborado o seguinte plano de mitigação de risco, e após o plano de resposta aos riscos, 3 e 4 e Figura 1. UNIDADE 3 | EXECUÇÃO E CONTROLE DE PROJETOS 134 Descrição do risco Probabilidade Impacto Observações R1 – Não conseguir contratar vendedores a tempo Média Alto O gerente de projeto não tem dados sobre a oferta de bons quadros de pessoas na cidade (probabilidade), porém, sem vendedores, a inauguração terá que ser adiada ou operar com qualidade que poderá colocar em risco o nome da empresa (impacto). R2 – Chuvas atrapalharem a fundação da obra Baixa Alto O gerente de projeto buscou dados pluviométricos da região e a base históricas dos últimos 15 anos aponta para 10% de chances em ter índice de chuvas que comprometam o trabalho ao ar livre (probabilidade). Todavia, se isso ocorrer, os trabalhadores da obra são obrigados, por segurança, a esperarem execução de atividades até a parada da chuva (impacto). R3 – Rede de dados da cidade não ter boa qualidade Alta Alto O gerente de projeto identificou no histórico de 5 projetos de lojas anteriores, que a questão de telecomunicações e sistemas de informações foram negligenciados e observou que não há na EAP uma devida atenção a essas questões (probabilidade). Sem telecomunicações e sistemas de informações, não há como emitir notas fiscais e ter acesso ao controle de estoque, não permitindo a operação da loja (impacto). R4 – População não saber os diferenciais da loja Alta Alto A cidade da loja está em uma região distante da matriz e a marca nunca fez qualquer campanha publicitária na região (probabilidade). Sem clientes, os objetivos de negócios estão comprometidos (impacto). R5 – Incompatibilização de projetos de construção Baixa Médio Nenhum dos projetos anteriores teve esse evento (probabilidade) e quando houve algum problema, foi facilmente contornado pelos técnicos sem qualquer intervenção executiva do gerente de projeto (impacto). R6 – Não conseguir os alvarás em tempo para inauguração Média Alto O gerente de projeto não tem todos os procedimentos e exigências que a prefeitura faz para a abertura de um novo comércio na cidade (probabilidade). Sem alvará, a loja não pode funcionar (impacto). QUADRO 3 – PLANO DE MITIGAÇÃO DE RISCOS TÓPICO 1 | E SE ALGO SAIR DO PLANEJAMENTO? 135 R7 – Rotatividade de pessoal na obra Alta Alto Em projetos anteriores, observou-se que todos (probabilidade) sofrerão impactos superiores a 15% do tempo (impacto) por conta de rotatividade do pessoal de construção civil. R8 – Defasagem de conhecimento dos vendedores maior que o esperado Alta Alto A questão da capacitação e orientação de novos colaboradores em cidades fora da matriz foram problemáticos em projetos anteriores (probabilidade) e é importante que a empresa mantenha o padrão e a cultura organizacional e consiga chegar nas pessoas que farão o contato direto ao cliente (impacto). FONTE: O autor (2018) Descrição do risco Probabilidade Impacto Observações Plano de resposta R1 – Não conseguir contratar vendedores a tempo Média Alto O gerente de projeto não tem dados sobre a oferta de bons quadros de pessoas na cidade (probabilidade), porém, sem vendedores, a inauguração terá que ser adiada ou operar com qualidade que poderá colocar em risco o nome da empresa (impacto). Probabilidade: elaborar plano de divulgação das vagas em mídia e escolas profissionalizantes. Probabilidade: averiguar banco de transferência interna. Plano de contingência: formar vendedores a partir de pessoas sem experiência. R2 – Chuvas atrapalharem a fundação da obra Baixa Alto O gerente de projeto buscou dados p l u v i o m é t r i c o s da região e a base históricas dos últimos 15 anos aponta para 10% de chances em ter índice de chuvas que comprometam o trabalho ao ar livre ( p r o b a b i l i d a d e ) . Todavia, se isso ocorrer, os trabalhadores da obra são obrigados, por segurança, a esperarem execução de atividades até a parada da chuva (impacto). Probabilidade: aceitar. Plano de contingência: se ocorrer, elaborar cronograma alternativo para antecipar material que possa ser realizado em balcões provisórios. QUADRO 4 – PLANO DE RESPOSTAS AOS RISCOS UNIDADE 3 | EXECUÇÃO E CONTROLE DE PROJETOS 136 R3 – Rede de dados da cidade não ter boa qualidade Alta Alto O gerente de projeto identificou no histórico de 5 projetos de lojas anteriores, que a questão de t e l e c o m u n i c a ç õ e s e sistemas de informações foram negligenciados e observou que não há na EAP uma devida atenção a essas questões (probabilidade). Sem t e l e c o m u n i c a ç õ e s e sistemas de informações, não há como emitir notas fiscais e ter acesso ao controle de estoque, não permitindo a operação da loja (impacto). Probabilidade: o projeto terá que elaborar uma alteração da EAP e planos a partir da segunda iteração para acomodar as demandas do departamento de TI (tecnologia da informação). O gerente de projeto entende para a primeira iteração, esse risco não trará prejuízos, então entende ser melhor não adiar o início do projeto por esse risco. Impacto: não há planos de contingência por enquanto. Não se sabe se o sistema trabalha em forma off-line (sem rede de dados). R4 – População não saber os diferenciais da loja Alta Alto A cidade da loja está em uma região distante da matriz e a marca nunca fez qualquer campanha publicitária na região (probabilidade). Sem clientes, os objetivos de negócios estão c o m p r o m e t i d o s (impacto). Probabilidade: nessa versão do plano de projeto, não há um pacote específico ainda para lidar com esse risco, que está dentro do tópico “PROJETO PILOTO” da EAP e ainda não tem especificações. Reuniões serão agendadas com os stakeholders para detalhar essa questão e trabalhar com ações de respostas a esse importante risco ao projeto. Impacto: por enquanto, não há plano de contingência. A partir da segunda iteração espera-se ter mais dados para um plano robusto e austero para esse risco. TÓPICO 1 | E SE ALGO SAIR DO PLANEJAMENTO? 137 R5 – Incompatibilização de projetos de construção Baixa Médio Nenhum dos projetos anteriores teve esse evento (probabilidade) e quando houve algum problema, foi facilmente contornado pelos técnicos sem qualquer intervenção executiva do gerente de projeto (impacto). P r o b a b i l i d a d e : aceitar, pois estamos trabalhando com o mesmo líder de engenharia para discutir os assuntos com os técnicos dos projetos arquitetônicos, estruturais, hidráulicos,elétricos, iluminação, sonoro e segurança. Impacto: as questões serão gerenciadas pontualmente, não sendo necessário, para o momento e para situações passadas analisadas, uma ação mais contundente. R6 – Não conseguir os alvarás em tempo para inauguração Média Alto O gerente de projeto não tem todos os procedimentos e exigências que a prefeitura faz para a abertura de um novo comércio na cidade (probabilidade). Sem alvará, a loja não pode funcionar (impacto). Probabilidade: foi feita uma consulta on-line no site da prefeitura e uma ligação telefônica, dizendo que o processo de liberação ocorre em uma semana. Assim, o canteiro de obras poderá iniciar com licença provisória nesse horizonte de tempo. Com o protocolo da documentação solicitada pela prefeitura, poderemos ter mais realidade nessas conjecturas. Impacto: não há planos de contingência, uma vez que não há disponibilidade de imóveis com as características necessárias para a loja nessa cidade. UNIDADE 3 | EXECUÇÃO E CONTROLE DE PROJETOS 138 R7 – Rotatividade de pessoal na obra Alta Alto Em projetos anteriores, observou-se que todos (probabilidade) sofrerão impactos superiores a 15% do tempo (impacto) por conta de rotatividade do pessoal de construção civil. Probabilidade: já está comprovado que esse risco é iminente. Mesmo que haja uma terceirização do serviço de obras operacionais, a probabilidade não se altera e a multa contratual da empresa terceirizada não compensa os impactos gerados. Assim, o gerente de projetos sugere o uso de buffer de cronograma para acomodar esse risco e ir gerenciando esse risco de forma semanal. Também, como ação estruturante, analisar com o departamento pessoal, técnicas de melhorias no clima o r g a n i z a c i o n a l das pessoas que trabalham nos níveis mais operacionais, mitigando a chance de um desligamento por questões banais. Impacto: uso do buffer de cronograma. R8 – Defasagem de conhecimento dos vendedores maior que o esperado Alta Alto A questão da capacitação e orientação de novos colaboradores em cidades fora da matriz foram problemáticos em projetos anteriores (probabilidade) e é importante que a empresa mantenha o padrão e a cultura organizacional e consiga chegar nas pessoas que farão o contato direto ao cliente (impacto). Probabilidade: nessa versão inicial do plano há um pacote de trabalho para divulgação externa de vaga. Mas o gerente de projeto irá se reunir com o departamento de pessoas para saber o que pode ser realizado a partir da segunda iteração para mitigar esse risco. Impacto: existe um plano de contingência possível que é liberar dois vendedores seniores de lojas da matriz, com ampla vivência na empresa, que poderão ganhar diárias para trabalhar duas semanas ou quanto necessário na cidade em questão para mitigar impactos. FONTE: O autor (2018) TÓPICO 1 | E SE ALGO SAIR DO PLANEJAMENTO? 139 FONTE: O autor (2018) FIGURA 1 – GRÁFICO DE BOLHAS: RISCOS DO PROJETO Como é observado, no quadro 4 acima, o gerente de projeto entende que a primeira versão do plano deve ser legitimada pelos patrocinadores, mas de forma ética, responsável e transparente, aponta as limitações dessa versão do plano. Essa é uma decisão arrojada, mas importante, pois caso o GP espere para iniciar o seu trabalho com todas as informações e planos de mitigação em mãos, pode estender demasiadamente o início do projeto. Muitas vezes, os riscos mais importantes e impactante em um projeto só pode ser identificado durante a própria execução. O esforço em catalogar os riscos foi realizado e as limitações do plano apontadas de forma explícita. Isso é o mais importante. Neste sentido, ao final do processo de planejamento, os seguintes documentos de projeto foram elaborados, conforme representado na figura a seguir: FIGURA 2 – DOCUMENTOS DO PLANEJAMENTO DO PROJETO FONTE: O autor (2018) 140 Neste tópico, você aprendeu que: • A gestão e riscos buscam antever planos alternativos que possam ser acionados ou planos ostensivos, que para em um cenário que algo dê errado, ou alguma premissa não seja confirmada, o gerente de projetos já consiga ter em mãos alguns planos de ações. • A identificação dos riscos pode ser realizada de uma forma mais informal, com simples papéis colados na parede, com sistemas de informações simples, como bloco de notas ou estruturação de lembretes, mas também podem ter aplicações mais elaboradas, como uma planilha eletrônica onde haja um identificador para cada risco. • Os riscos são avaliados por duas dimensões, sendo a primeira o impacto para o sucesso do projeto e a segunda a probabilidade de que ele aconteça. • Após a ordenação dos riscos pela sua exposição, inicia-se a análise de planos de resposta aos riscos. RESUMO DO TÓPICO 1 141 1 Elabore um plano de resposta aos riscos listados a seguir para a realização da festa de formatura, identificando sua probabilidade, impacto e um plano de respostas para cada um. AUTOATIVIDADE Descrição do risco Probabilidade Impacto Plano de resposta R1: Atrasos de um fornecedor R2: Falta de recursos para execução da festa R3: Local de difícil acesso para convidados R4: Qualidade do buffet e bebidas 142 143 TÓPICO 2 MOBILIZAÇÃO DA EQUIPE UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Uma vez realizado o planejamento do projeto, inicia-se um grupo de novas atividades para que seja possível materializar o plano em um produto e assim alcançar os objetivos propostos pelo termo de abertura de projeto. Entretanto, o principal desafio, nesse momento, para o gerente de projeto é garantir o alinhamento entre o termo de abertura de projeto e o plano de projeto, com a execução. Além disso é fundamental que o gerente do projeto esteja atento para que durante a execução a equipe possa fornecer oportunidades de melhoria nos planos. É durante a execução que muitas formas mais simples e fáceis de executar uma atividade são observadas. Deste modo, a execução se torna complexa, por justamente possuir duas vias. Uma via diz respeito ao planejamento, ditando as atividades que devem ser executadas, já na outra via, o gerente de projeto observando a reação da equipe e obtendo insumos de melhoria contínua no seu plano. Entretanto, não existe uma forma matemática exata para que um determinado desvio possa ser explicado por uma limitação de planejamento ou uma falha na execução. O importante é que o gerente de projeto tenha em mente essas duas possibilidades, sempre que houver um desvio do planejado, este pode ser um problema de execução, mas também pode ser um problema ou limitação do plano proposto. A decisão entre essas duas alternativas é feita basicamente pelas pessoas. A equipe do projeto deve estar arregimentada e alinhada de forma contínua, e assim, o gerente de projeto deve estar em constante relacionamento com sua equipe. Deste modo, para garantir o alinhamento, é desejável que pelo menos um membro da equipe participe de todo o planejamento do projeto. Com essa participação, este membro consegue legitimar o plano, tornando assim um senso de propriedade. O plano não pode ser uma ideia do gerente de projeto e este ser o detentor da verdade absoluta, mas sim, deve mobilizar a equipe para que ela se torne a dona do projeto. 144 UNIDADE 3 | EXECUÇÃO E CONTROLE DE PROJETOS Assim, uma reunião inicial é fundamental para que se apresentem os planos e a estratégia para execução das atividades de projeto. As reuniões são um instrumento poderoso durante a execução do projeto, e elas são necessárias para avaliar constantemente a necessidade de adequação dos planos ou a necessidade de melhoria na execução. Conforme comentado na unidade anterior, boas reuniões se iniciam muito antes das pessoas entrarem na sala. As reuniões devem ser marcadas o quanto antes pelo gerente de projeto e, para a categoria de reuniões de acompanhamento de projeto, o agendamento prévio já é possível ao iníciodo projeto. Ou seja, se o projeto tiver duração de 6 meses, é possível agendar todas as reuniões de controle de forma quinzenal, informando assim todos os compromissos agendados para stakeholders e a equipe com uma previsibilidade bem antecipada. Ninguém considera adequado um convite de reunião em cima da hora, principalmente em reuniões de monitoramento e acompanhamento, pois estas seriam reuniões previsíveis. E, caso deixe para última hora, o gerente de projeto pode ter dificuldades para que as pessoas tenham agenda livre para realizar uma reunião importante. Uma outra categoria de reuniões são as corriqueiras, de esclarecimentos ou resoluções de problemas. Para este tipo de reunião é fundamental que o gerente de projeto tenha uma pauta clara, com os itens a serem descritos e principalmente, com o resultado final bem definido. Por exemplo, “essa reunião será bem-sucedida se conseguirmos um plano de melhoria dos testes acordado com os presentes”. Além da pauta e resultados esperados bem definidos, é importante que se evitem pautas iniciadas pelas palavras “discutir” ou “negociar”, uma vez que esses verbos significam os meios, mas não os fins de uma reunião. Ninguém entra em uma reunião para discutir ou para negociar, mas entra para resolver um problema ou buscar alternativas de melhoria. Outro ponto importante a se destacar é a identificação das pessoas que precisam estar na reunião. Essas pessoas podem ser categorizadas como obrigatórias ou optativas. Pessoas obrigatórias são aquelas que caso haja ausência, a reunião deve ser imediatamente cancelada ou sequer iniciada. Já as pessoas optativas são aquelas pessoas que mesmo sem sua presença a reunião pode ocorrer. Ou seja, são pessoas que seria interessante que tivessem, mas que não são obrigatoriamente relevantes para o alcance do resultado da reunião. Uma dica importante neste ponto é, caso uma pessoa obrigatória não consiga estar presente, ela possa delegar a sua participação para uma pessoa indicada, porém essa pessoa delegada deve ter poder decisório, ou seja, a autoridade e responsabilidade pelas decisões da reunião. Caso um delegado esteja na reunião em nome de uma pessoa obrigatória, mas essa não conhece o teor da TÓPICO 2 | MOBILIZAÇÃO DA EQUIPE 145 reunião e também não tem autoridade para tomar as decisões necessárias para os resultados da reunião, o gerente de projeto deve cancelar o evento, poupando tempo dos demais colegas presentes. Essas dicas podem, para um gerente de projeto iniciante, ser um pouco rigorosas demais, mas o gerente de projetos experiente sabe que reuniões ineficazes começam onde as pessoas presentes não têm autoridade para mobilização de recursos para o alcance dos resultados. Em suma, caso haja pessoas obrigatórias ausentes, ou pessoas substitutas que não têm autoridade, a reunião deverá ser realizada novamente. Atualmente existem sistemas de informação colaborativos que podem propor datas e horários para que se realize uma reunião. Mas, se o gerente de projeto notar a dificuldade de obter uma agenda de horários para os participantes obrigatórios, é importante que apresente esta dificuldade ao stakeholder de influência superior, ou até chegar o patrocinador. E, ainda neste sentido, em um projeto em que há uma necessidade de uma reunião para determinadas decisões e as pessoas obrigatórias não conseguem comparecer, pode-se indicar um grave problema de falta de comprometimento da organização com o projeto e isso deve ser de conhecimento do patrocinador. Outro ponto relevante para uma realização de reunião eficaz é a disposição (layout). É desejável que todas as pessoas presentes possam manter uma comunicação visual, então geralmente a disposição de cadeiras é realizada em formato de “U”, conforme a figura a seguir: FIGURA 3 – LAYOUT DE REUNIÃO "U" FONTE: <https://pt.dreamstime.com/ilustrao-da-forma-de-u-image55056078>. Acesso em: 14 set. 2018. 146 UNIDADE 3 | EXECUÇÃO E CONTROLE DE PROJETOS Além da disposição das cadeiras, reuniões efetivas acontecem quando existe um responsável por projetar, para visualização de todos, a memória de reunião. Ou seja, a cada ponto de decisão, o gerente de projeto não anota em seu caderninho o que foi decidido, mas sim, escreve uma memória de reunião onde todos possam ver e aprovar o texto que está projetado. Essa prática pode parecer burocrática, mas pode poupar muito tempo do gerente de projetos. Caso ele não faça a memória de reunião em tempo real, além do tempo gasto com a reunião, deverá ainda elaborar a memória e muitas vezes um gerente pode ter reuniões sucessivas, ocasionando uma lentidão na emissão destas memórias. Uma reunião efetiva ideal é aquela que quando os participantes voltam as suas áreas de trabalho já receberam um e-mail com as decisões tomadas pelo grupo da reunião. O termo memória de reunião aqui descrito pode, em algumas organizações, ser conhecido como ata de reunião. Contudo, a ata de reunião, além de se referir a um documento formal e até legal, geralmente, relata o que aconteceu na reunião. A memória de reunião não tem esse objetivo, deve ser simples, indicando apenas o tema e o que o grupo definiu. Como se pode observar, fazer uma reunião efetiva dá trabalho, portanto, caso você indique uma reunião de 60 minutos, na verdade, é recomendável que ocupe 50 minutos para discussão e deliberações e a utilização dos 10 minutos finais para a apresentação da memória de reunião, identificar objeções, enviar a memória para os participantes e então o convite para a próxima reunião sobre o tema, se houver. Uma reunião efetiva precisa de decisões unânimes, ou seja, em hipótese alguma se deve criar uma memória de reunião onde a maioria decidiu algo e explicita-se àquelas pessoas que foram contrárias à decisão da maioria. Essa prática não apresenta qualquer benefício ao projeto e pode colocar essas pessoas da minoria como pessoas que não têm mais compromisso com o sucesso do projeto, uma vez que elas não concordaram com a decisão. Uma boa prática, caso haja polaridade na decisão, é que o gerente de projeto possa dar um tempo de alguns dias para que o grupo minoritário possa fazer um relatório mais aprofundado dos seus argumentos, gerando uma nova reunião, porém, esses casos devem acontecer para temas complexos e de alto impacto para a organização ou para o sucesso do projeto e não devem ser executados para questões onde o custo de uma reunião seja superior ao impacto negativo de uma decisão “errada”. Um gerente de projetos experiente jamais impõe a sua opinião, mas está presente na reunião como um facilitador para que a equipe chegue ao resultado unânime e que esteja alinhado com os objetivos do projeto. Caso não haja esse alinhamento, o gerente não deve contrariar a sua equipe, mas sim, apresentar os riscos e problemas daquela decisão e apresentar o termo de abertura de projeto TÓPICO 2 | MOBILIZAÇÃO DA EQUIPE 147 para a sensibilização das pessoas, demonstrando que aquela decisão é inadequada. Em outras palavras, jamais o gerente de projeto deve usar a sua autoridade, ele se impõe pela sua forma de conduzir uma reunião e as divergências da equipe. Durante a reunião, é importante iniciar com a presença de todos os obrigatórios, apresentar a pauta já em forma de memória de reunião em um projetor e colocar para todos o tempo que ele dispõe para que a reunião encerre. Reuniões sem prazo para terminar também se tornam reuniões ineficientes, pois abrem discussões e oportunidades para temas informais ou temas fora de foco. Caso, no meio da reunião, haja uma solicitação de mudança de pauta e por unanimidade aceita, o gerente de projeto deve encerrar a primeira reunião e iniciar a nova pauta com os presentes que desejarem e puderem participar. Deve- se evitar aproveitar uma reunião como “muro de lamentações”, pois discussões fora de pauta podem gerar impaciência e perda de tempo dos demais colegas participantes. Em outras situações, caso o tema seja polêmicoou polarizado, o gerente de projeto pode designar um timer keeper ou um relógio, quando todos possam averiguar se o tempo usado está adequado. Por isso, outra dica prática é que as reuniões, caso sejam muito polêmicas, aconteçam em finais de período, por exemplo, antes do almoço ou antes de término da jornada diária de trabalho, provocando nos colegas uma autorregulamentação na reunião para que todos consigam falar de forma objetiva e sucinta o que pensam e que consiga chegar ao resultado da reunião com a maior brevidade possível. 2 HABILIDADES INTERPESSOAIS O gerente de projeto é um profissional polivalente e com características, às vezes, até mesmo, antagônicas. Podemos categorizar o gerente de projeto com três habilidades, as habilidades técnicas no escopo do problema do projeto, o domínio das técnicas de gestão de projeto e habilidades interpessoais. As habilidades técnicas se referem ao entendimento para desempenhar tarefas específicas a partir de conhecimento específico. Por exemplo, em um projeto de desenvolvimento de software, o gerente de projeto deve ao menos conhecer noções mínimas do que é desenvolver um software. Já em um caso de um projeto para construção de uma casa, este deve ter noções mínimas de construção civil. As habilidades de gestão de projetos dizem respeito às técnicas apresentadas neste curso, que proporcionam uma noção do passo a passo que um gerente de projeto deve realizar para que o projeto seja bem executado. 148 UNIDADE 3 | EXECUÇÃO E CONTROLE DE PROJETOS Já as habilidades interpessoais são importantes para o relacionamento com a equipe que compõe o projeto. A maioria dos projetos que encontramos no mercado envolvem pessoas e dificilmente um gerente de projeto irá conseguir êxito somente com sua autoridade, com poder de sanção e poder de recompensa. Este terá que saber o momento de ser um líder mais motivador, quando vai consolar a sua equipe e dizer o que é possível em certas situações, ou atuará de uma forma ostensiva, pressionando para que se consigam os resultados de uma forma efetiva. As habilidades técnicas de gestão de projetos podem ser adquiridas em cursos e capacitações contínuas e devem permear toda a trajetória da carreira de um gerente de projetos, porém as habilidades interpessoais são dependentes de um conjunto de fatores que somente o tempo e a experiência no papel como gerente de projetos conseguirão aperfeiçoar. Existem vários estudos que indicam o comportamento que deve ter um gerente de projeto no seu nível interpessoal, porém, não será lendo que um gerente de projeto iniciante irá adquirir essas habilidades interpessoais. Será por meio de constante envolvimento físico com sua equipe, ou seja, o gerente de projeto deve evitar o uso excessivo de dispositivos eletrônicos para sua comunicação com a equipe e deve priorizar o contato presencial. Neste sentido, vamos estudar adiante os sistemas de informação eletrônicos de projetos e como esses sistemas auxiliam no controle do projeto de uma maneira global, mas não pense que você como gerente de projeto irá gerenciar uma equipe por meio, majoritariamente, de e-mails, mensagens instantâneas ou ordens de pacotes de trabalho emitidas por um software. Pelo contrário, as pessoas precisam de contato físico e um contato pessoal, por isso é desejável que o gerente de projeto imprima versões de cronograma, ou pelo menos dos pacotes de trabalho, e use esse papel para ir rabiscando e editando com a sua equipe, assim a equipe ganhará um colega e o gerente de projeto poderá caminhar em todas as áreas de trabalhos da sua equipe e não somente sendo um emissor de e-mails. O uso de dispositivos eletrônicos distancia as pessoas, deste modo, a recomendação é que no início do dia as ordens de trabalho do dia sejam enviadas, os e-mails urgentes sejam respondidos e assim o gerente de projeto entre em contato direto com sua equipe, vendo e discutindo os problemas reais de cada situação presencialmente. Nesse ponto é importante o autoconhecimento, pois existem muitos estudos de autoavaliação, sobre padrões de personalidade e características pessoais. Alguns estudos criaram estereótipos como tentativas de enquadrar as pessoas em determinados arquétipos (RIBEIRO FILHO, 2010). TÓPICO 2 | MOBILIZAÇÃO DA EQUIPE 149 Devemos sempre lembrar que a pessoa é singular, ela é complexa por si mesma e jamais encontraremos mesmo dentro de uma família ou gêmeos, pessoas com características pessoais idênticas. Os arquétipos, conforme a figura a seguir, são interessantes para que o gerente de projeto possa primeiro fazer as reflexões de certos padrões de comportamento que ele tem em relação a determinadas situações, e então entender o comportamento de cada membro da sua equipe. FIGURA 4 – ARQUÉTIPOS DE PERSONALIDADE FONTE: O autor (2018) Existem pessoas mais práticas, sucintas, que gostam de ser diretas e que não se ofendem facilmente e não levam as críticas como ações pejorativas. Mas devemos também entender que existem pessoas que precisam do contato mais humano, que precisam contar as histórias de uma maneira mais elaborada e se fazer entendido, como também há as pessoas que necessitam de feedback, em que devem ser meticulosamente medidas as palavras, pois podem ser entendidas como uma ofensa ou até gerar uma insegurança pessoal naquela pessoa. Reitera-se que as pessoas são únicas e singulares, mas podemos usar os arquétipos para conseguir lidar com cada uma, mas jamais rotulá-las de uma forma estática, até porque as pessoas mudam conforme fatos que acontecem na sua vida pessoal e profissional. Em um determinado enquadramento poderíamos apresentar as pessoas que são mais racionais, pessoas que tomam suas decisões baseadas na lógica dedutiva e procuram dentro de si e do seu intelecto as melhores decisões. Outro arquétipo contrário são pessoas mais sociais e que precisam pertencer a um grupo para tomar a sua decisão, geralmente, esse arquétipo é de pessoas que precisam conversar com outras para gerar o seu próprio entendimento, que apreciam a opinião alheia para flexibilizar a sua decisão perante o grupo, assim, muitas vezes, tomam decisões baseadas nos impactos que podem ter em outra pessoa. 150 UNIDADE 3 | EXECUÇÃO E CONTROLE DE PROJETOS O terceiro arquétipo são aquelas pessoas extremamente cautelosas e procedimentais, são pessoas que precisam ter regras claras e processos explícitos e documentados para que possam se sentir seguras e executar um bom trabalho. De modo oposto, existem pessoas cujas decisões são baseadas após a ação, ou seja, são pessoas experimentais. Possuem um palpite da melhor decisão e começam a fazer experimentos ou até a executar uma atividade de forma a aprender ao longo do caminho. Você pode estar se enquadrando em um desses arquétipos, porém, o principal equívoco é achar que um gerente de projetos bom é de determinado arquétipo. O gerente de projetos deve se autoconhecer para que consiga saber as suas potencialidades e também as suas fraquezas, que consiga lidar com uma determinada situação e consiga saber se ele vai se importar mais de uma maneira nativa da sua personalidade ou vai ter que ser desafiado ou auto desafiado para superar aquela sua forma de agir para que o projeto seja bem-sucedido. Retomando os arquétipos acima, as pessoas racionais são boas em planejamentos, em fazer orçamentos, ações e cronogramas, em pensar em cenários lógicos e pensar em fatos e dados que possam corroborar para uma decisão, porém, as pessoas que têm um comportamento extremamente racional tendem a ser mais isolados, não tem muito envolvimento com as pessoas e podem ser rotulados como pessoas frias. Por outro lado, as pessoas com a sensibilidade e a socialização como potencial são verdadeiros integradores de equipe, pois essas pessoas animam o ambiente de trabalho, conseguem cativar as pessoas para um objetivo comum e conseguem muitas vezes com um breve papo trazer a equipe de um baixo astral e de uma dificuldadedo projeto para uma situação mais confortável e motivadora, porém, se essa característica for executada de uma forma exacerbada, o gerente de projeto pode deixar os objetivos de projetos em segundo plano para que o clima organizacional da equipe esteja bom e muitas vezes essa equação não é possível. As pessoas com características cautelosas ou procedimentais são de natureza extremamente organizada, que conseguem transmitir segurança às pessoas, pois conseguem explicitar com cuidado todos os procedimentos e processos que devem seguir para cada pacote de trabalho do projeto. Essas pessoas conseguem estruturar modelos organizacionais com regramentos, conseguem organizar um grande volume de pessoas para um objetivo comum por meio de processos, modelos de documentos ou sistemas de informação. Entretanto, de uma forma exacerbada, essa característica pessoal pode tornar uma dificuldade no projeto, pois impede que melhorias nos processos sejam realizadas, pois estes toleram pouco a mudança. Em projetos de muita inovação, onde haja a todo instante novas evidências de premissas e novos conhecimentos gerados, a aprendizagem pode gerar desconforto pela instabilidade do planejamento. TÓPICO 2 | MOBILIZAÇÃO DA EQUIPE 151 O gerente de projeto com personalidade experimental tem uma grande vantagem em projetos em que exista um grau de incerteza muito alto, pois a incerteza, como observamos nas seções anteriores de planejamento, não são possíveis de resolver apenas com o pensar, a reflexão e a proposição de planos, mas sim é necessário à execução de certos elementos e atividades. Para dissipar essas dúvidas e gerar um planejamento mais próximo da realidade, essas são pessoas essenciais em momentos de problemas, pois geram oportunidades de melhoria a todo instante. Porém, de uma forma exagerada, uma pessoa com essa característica pode colocar o projeto em risco, pois a ação pode ser muito intensa e com pouca reflexão aos objetivos do projeto, tornando então o projeto um sucessivo ciclo de refazer a cada dia, ou a cada iteração, um novo planejamento gerando intermináveis retrabalhos. Você pode pensar qual é a melhor característica? Como vimos, não existe a melhor característica, somente nesses exemplos simples, você pode observar que as pessoas com essas características têm potencialidades e, principalmente, são ideais em determinado ponto do projeto, mas também têm fragilidades. Desse modo, não se pode mudar um gerente de projeto a cada situação ou cada tipo de projeto, mas o gerente de projetos, sim, pode ter seu autoentendimento e saber que naquele momento ele pode exagerar nas suas características pessoais, pois são benéficas ao projeto, porém, em uma situação adversa, é necessário se desafiar a se comportar de outra maneira, ou se associar com outras pessoas da equipe para que se possa garantir a integração do projeto. 3 LIDERANÇA A liderança em projetos, uma das habilidades fundamentais que o gerente de projetos precisa ter para o sucesso nas suas execuções de projeto, é fundamental pois impacta no desempenho da equipe e esta é o principal fator para o sucesso do projeto. A liderança é um tema bastante debatido nos estudos na área de psicologia organizacional, existem inúmeros trabalhos de como lidar e trabalhar com esse tema. O estudo da liderança na área de gestão de projetos diz respeito a como o gerente gerencia os membros de sua equipe para que consiga um alinhamento com os objetivos propostos e ainda sim consiga ter a satisfação da execução do projeto. Como existem vários conceitos e metodologias diferentes sobre liderança em psicologia organizacional, optou-se neste livro por um de maior cunho prático e aplicado para os iniciantes. Toda via, vale lembrar que esse tema precisa ser melhor entendido e aprofundado com leituras especializadas sobre o tema, principalmente para o entendimento de qual metodologia se encaixa melhor com o estilo de habilidades pessoais do gerente de projeto em questão. 152 UNIDADE 3 | EXECUÇÃO E CONTROLE DE PROJETOS Como vimos na seção anterior, o gerente de projeto precisa ter um alto conhecimento de suas fragilidades interpessoais e suas potencialidades e, a partir da análise do contexto, saiba qual é o momento de estar mais perto de sua realidade nativa de sua característica pessoal ou quando tem que exercitar a sua capacidade transformadora. Além do seu autoconhecimento, existem alguns procedimentos básicos, conforme a figura a seguir, para que os mecanismos e processos de liderança consigam ser operacionalizados durante a execução do projeto, o primeiro é a seleção da sua equipe. FIGURA 5 – PROCEDIMENTOS BÁSICOS DE LIDERANÇA FONTE: Adaptado de: Souza (2015, s.p.) A seleção das pessoas que irão compor a equipe deve ser criteriosa, pois muitos problemas de desempenho se dão por uma designação a um pacote de trabalho a uma pessoa que não tenha habilidade e atitude para executar aquela tarefa. Dessa forma é importante que o gerente de projetos tenha um maior nível de autonomia para que ele escolha sua equipe. Reitera-se que não existe fórmula mágica para trabalhar e regimentar uma equipe, porém, recomenda-se que uma equipe comprometida pode superar algumas habilidades técnicas. Entretanto, caso tenha uma equipe qualificada, tecnicamente superior, mas que não tem as habilidades interpessoais desenvolvidas e a motivação inerente ao clima organizacional adequado, ele pode trazer sérios problemas para o projeto. Assim, a recomendação é que você tenha uma seleção criteriosa de pessoas, e além do perfil técnico, é indicado que sinalize também a questão comportamental frente ao modelo de referência, como os arquétipos citados na seção anterior, quanto mais plural uma equipe mais polivalente ela vai ser. TÓPICO 2 | MOBILIZAÇÃO DA EQUIPE 153 A palavra polivalente significa que uma pessoa, mesmo que seja um exímio especialista em uma determinada área, em algum instante do projeto pode precisar assumir outro papel que pode não ser a sua especialidade e nesse momento a questão de motivação e a relação interpessoal é mais importante que sua habilidade técnica. Neste sentido, a recomendação é o equilíbrio entre as habilidades técnicas da equipe, mas também com as habilidades interpessoais e comportamentais, assim durante a seleção da equipe de projeto, dependendo da sua formação, o gerente de projeto poderá solicitar apoio da área ou dos profissionais da psicologia e de profissionais que sejam experientes no recrutamento e seleção de pessoas. O segundo elemento de liderança é a clarificação de resultados e a explicitação formal e escrita do que se espera de cada membro de sua equipe (SOUZA, 2015). É fundamental para um bom líder que a comunicação consiga sair da oralidade para a escrita, em que se possa constantemente recorrer para relembrar e reforçar os objetivos daquela pessoa. Clarificar resultados e explicitar em forma escrita os objetivos de uma pessoa não é uma tarefa das mais simples. O gerente de projeto deve garantir que a soma dos objetivos individuais resulte nos objetivos do projeto. E essa atividade deve ser pensada meticulosamente pelo gerente, pois caso não faça essa atividade de forma adequada, pode ocorrer de todos os membros da equipe alcançarem seus resultados individuais, mas os objetivos coletivos do projeto amargarem o insucesso (BLANCHARD et al., 1986). Como dica prática, os objetivos devem ter uma entrega clara e uma meta de prazo para sua conclusão, geralmente, a meta de prazo é estabelecida ao fim de uma iteração, assim fica simples a sua mensuração. A entrega clara tradicionalmente é um substantivo sucedido de um verbo no particípio, como “relatório de testes submetido ao controle de versão” e não somente “elaborar um plano de teste”. Com esses objetivos classificados, o segundo ponto é o nível de acompanhamento que o liderado irá precisar do gerente de projeto. O acompanhamento pessoal é uma questão fundamental para que as pessoas consigamsuprir as suas necessidades e se sentirem seguras em uma determinada função. Não é recomendável que o gerente de projeto assuma uma posição como líder, seja mais delegador ou mais controlador, pois diferentes pessoas em diferentes atividades podem requerer níveis de acompanhamento diferenciados e isso pode variar a cada ciclo de objetivos. Neste sentido, o ciclo de objetivos geralmente remete aos marcos do projeto, porém, pessoas de baixa maturidade técnica em determinado objetivo ou para determinados procedimentos inerentes aos objetivos podem requerer um nível de acompanhamento maior. Por outro lado, a pessoa que tem uma base histórica qualificada no desempenho daquelas práticas ligadas ao objetivo em que foi designada, pode necessitar de um acompanhamento menor durante a execução. 154 UNIDADE 3 | EXECUÇÃO E CONTROLE DE PROJETOS Dessa forma, o gerente de projeto deve analisar o perfil da pessoa, fatos, dados de seu passado e também atividades executadas. Importante lembrar que, não se pode delegar a uma pessoa uma atividade dando total liberdade, visto que no passado ela não apresentou experiência naquela execução. Outro erro comum de liderança é dar autonomia para uma pessoa que seja experiente profissionalmente. Por exemplo, um desenvolvedor de software com muita experiência, com mais de 20 anos de execução de diferentes tipos de projetos, mas somente programando, agora este assume a função de arquiteto de softwares. Apesar da sua experiência pregressa e de alta maturidade em programação e desenvolvimento de software, na área de arquitetura de software ele deve ser tratado com uma pessoa de baixa maturidade técnica. Novamente, caso a maturidade seja baixa é necessário um maior acompanhamento, caso a maturidade seja alta, menor o acompanhamento do gerente de projeto. Todavia, essa definição não é estática. Voltando ao exemplo, o programador pode nas primeiras semanas ser tratado como uma pessoa de baixa experiência, mas o gerente de projeto rapidamente a treina, observa e capacita. Já nas primeiras semanas o gerente de projeto detecta que ele pode ter maior autonomia, e assim o considera uma pessoa de alta maturidade. Na mesma situação no pensamento inverso, muitas vezes, um profissional experiente recebe autonomia, porém ele começa, por fatores externos, a ter um desempenho baixo. Desse modo, o nível de acompanhamento deve ser maior, até que ele consiga apresentar um desempenho adequado. Importante destacar que o nível de acompanhamento não quer dizer cobrança, pelo contrário, o gerente de projeto ao acompanhar uma pessoa e um profissional sobre sua liderança deve apoiá-lo na execução do projeto e buscar suprir as necessidades e transpor os obstáculos que possam advir daquela insegurança natural de executar uma atividade pela primeira vez. Caso seja uma habilidade técnica, que o gerente de projeto não consiga suprir, é preciso detectar essa defasagem e imediatamente deslocar um profissional, seja interno ou externo ou até mesmo requerer uma capacitação para que aquele liderado consiga suprir aquela defasagem. Em suma, o acompanhamento em termos de liderança de projeto é para a melhoria de desempenho e jamais para ampliar o nível de cobrança que já é natural das organizações e principalmente na ótica de projetos, com prazos e orçamentos ostensivos. Outro elemento importante da liderança é o feedback. O feedback é um instrumento de melhoria de desempenho, em que o líder, no caso o gerente de projeto, irá proferir e comparar os resultados obtidos naquele ciclo de objetivos com os resultados dos fatos e dados do projeto. Um bom feedback é uma reunião de duas pessoas, evitando então presenças alheias e constrangimentos ao liderado (HUNTER, 2006). TÓPICO 2 | MOBILIZAÇÃO DA EQUIPE 155 Por ser uma reunião, o feedback então se inicia bem antes, na determinação de objetivos. Uma vez que há um acordo de objetivos entre o líder e liderado e do nível de acompanhamento desejado pelo liderado, o gerente de projeto envia os objetivos, daquele ciclo de avaliação e o convite para uma reunião, com data horário e local agendados, onde serão dados os feedbacks e a atualização de objetivos para o próximo ciclo. Ou seja, a atividade de clarificar os resultados, os objetivos individuais e o agendamento da execução de feedback é uma tarefa corriqueira e rotineira do gerente de projetos de forma individual. A frequência dessas reuniões de clarificação e feedback também devem variar conforme a maturidade do profissional naquela atividade, ou seja, se for um profissional de ampla maturidade técnica em determinada função, pode-se sugerir feedbacks a cada três meses, por exemplo, porém, quando se trata de uma pessoa inexperiente e em formação é possível que sejam necessários ciclos semanais de clarificação e feedback. Um bom feedback não pode ser surpresa para o liderado, pois com a clarificação de resultados e com a explicitação das entregas, o próprio liderado deve estimar se teve um desempenho bom ou ruim. Por isso é tão importante uma boa clarificação de resultados, não apenas informar “a minha equipe gostou do meu trabalho” porque esse tipo de objetivo não traz benefício ao projeto. Deve-se iniciar o feedback com atenção à duração, que deve ser estimada de forma a apresentar os resultados e os seus argumentos para o liderado, e caso algum objetivo não seja alcançado, ou algum desempenho pessoal for inferior a normalidade, é importante que o gerente de projeto apresente possíveis causas e o que era esperado de comportamento daquele profissional. Assim, um bom feedback requer uma coleta de dados de pares e supervisores, de forma a trazer elementos factuais que consigam convencer e explicar ao liderado os pontos que ele precisa melhorar no próximo ciclo de avaliação. Apesar do gerente precisar ser sempre autocrítico, alguns problemas de desempenho não recaem necessariamente no gerente de projeto, mas no liderado, que deve sair da reunião de feedback com esse reconhecimento e com o que deve ser aperfeiçoado. Caso isso não aconteça, o liderado pode sair da reunião de feedback se sentindo injustiçado, novamente um sintoma de uma falha de processo de liderança que deve ser corrigido pelo gerente de projetos. Na reunião de feedback é importante que o liderado saiba ouvir, o gerente de projeto pode explicar no começo da reunião como funciona o procedimento e que o importante não são as justificativas nesse momento, mas sim o entendimento da defasagem de desempenho e como corrigir. Caso o liderado queira se manifestar em um ponto que ele não concorde, por exemplo, pode haver uma defasagem no equipamento ou no software que ele precisava usar para executar uma determinada atividade e não foi disponibilizado pelo gerente. 156 UNIDADE 3 | EXECUÇÃO E CONTROLE DE PROJETOS Para executar adequadamente sua tarefa o liderado necessita de uma balança eletrônica de medição digital, mas este tem disponível apenas uma balança de medição analógica. Ou seja, esse instrumento dado pelo gerente de projeto de forma analógica impediu que ele tivesse um desempenho melhor em suas atividades. Dessa maneira, o gerente de projeto deve avaliar se a disponibilização de uma balança eletrônica está dentro do orçamento e especificações do projeto, e caso esteja, deve ser corrigido esse problema de desempenho com a disponibilização dos recursos adequados e solicitados pelo liberado, porém, caso não haja essa possibilidade, o gerente de projeto deve avaliar criteriosamente se a pessoa é adequada para a função. Os objetivos do projeto são maiores, e nesse exemplo dado da balança eletrônica e analógica, o gerente de projeto deve tomar a decisão de continuar investindo no liderado com mais capacitação, melhorando procedimentos para que ele consiga usar aquele instrumento disponível, se deve ocorrer uma troca de pessoas, seja ela dentro da equipe ou dentro dos departamentos, e em última instância uma demissão. Uma demissão é sempre o resultadode uma admissão inadequada, por isso existe a máxima em gestão que “deve-se ser rápido para contratar, mas o mais rápido possível para demitir”. Com esses ciclos sucessivos de clarificação de resultados e feedback ocorrendo de uma maneira adequada, onde as partes saibam o que deve ser melhorado, seja ele o gerente de projeto ou o liderado, existem ainda dois processos de liderança estratégicos também relevantes, a capacitação continuada e os mecanismos de recompensa. Esses dois mecanismos, muitas vezes, não estão sobre a alçada do gerente de projeto. A capacitação continuada lida com os programas anuais de treinamento, que normalmente as empresas comprometidas com seus funcionários possuem. Este planejamento anual apresenta as habilidades técnicas que as pessoas devem desenvolver em um determinado período, e esses treinamentos são agendados corporativamente conforme os ciclos de feedback. Ou seja, se existir uma competência, por exemplo, aprimorar uma linguagem de programação, e um determinado desenvolvedor está com uma defasagem naquela linguagem, a organização deve investir em capacitações continuadas a longo prazo naquele profissional para que ele consiga progredir na sua carreira. O mecanismo de recompensas é ainda mais delicado do ponto de vista de projetos, mas vale lembrar que as recompensas necessariamente não precisam ser financeiras, como participação de lucros e resultados. Muitas vezes, as recompensas podem ser expressadas em pequenos gestos de reconhecimento público ou de brindes para a equipe, mesmo que simbólicos representam o apreço do gerente de projeto para com aquela pessoa que tem alto nível de desempenho. TÓPICO 2 | MOBILIZAÇÃO DA EQUIPE 157 Novamente cabe destacar que, os dois temas são recorrentes em psicologia organizacional e existem as mais variadas correntes de como resolver tanto a capacitação continuada com ação de recompensas. Seja ela coletiva ou individual, é importante que o gerente de projeto seja justo, o equilíbrio das recompensas individuais e coletivas são importantes e recomenda-se que haja uma parcela das recompensas que sejam de cunho coletivo. Conforme vimos, a questão de liderança em projetos talvez seja uma das mais complexas a executar e requer muita dedicação e, principalmente, o mais valioso recurso do gerente de projetos que é o seu tempo. Liderar requer tempo e o desenvolvimento de pessoas também irá requerer. QUADRO 5 – CLARIFICAÇÃO DE RESULTADOS FONTE: O autor (2018) 158 Neste tópico, você aprendeu que: • É fundamental que o gerente do projeto esteja atento para que durante a execução a equipe possa fornecer oportunidades de melhoria nos planos. • É desejável que pelo menos um membro da equipe participe de todo o planejamento do projeto. • Podemos categorizar o gerente de projeto com três habilidades, as habilidades técnicas no escopo do problema do projeto, o domínio das técnicas de gestão de projeto e habilidades interpessoais. • Pessoas são únicas e singulares, mas podemos usar os arquétipos para conseguir lidar com cada uma, mas jamais rotulá-las de uma forma estática, até porque as pessoas mudam conforme fatos que acontecem na sua vida pessoal e profissional. • A liderança em projetos é uma das habilidades fundamentais que o gerente de projetos precisa ter. O sucesso nas suas execuções de projeto, é fundamental pois, impacta no desempenho da equipe e esta é o principal fator para o sucesso do projeto. RESUMO DO TÓPICO 2 159 AUTOATIVIDADE 1 Liste e descreva as principais habilidades que um gerente de projetos deve possuir. 2 A partir das afirmações apresentadas, identifique a que aspecto de liderança esta característica se refere: Em muitos casos as ___________________ podem ser expressadas em pequenos gestos de reconhecimento público ou de brindes para a equipe, mesmo que simbólicos representam o apreço do gerente de projeto para com aquela pessoa que tem alto nível de desempenho. A equipe deve ser composta de forma criteriosa, deste modo, para a _________________ além do perfil técnico, é indicado que se sinalize também a questão comportamental desejada. O ____________________ é uma questão fundamental para que os membros da equipe consigam suprir as suas necessidades e se sentirem seguras em uma determinada função. O ____________________ é um instrumento de melhoria de desempenho, onde o líder, no caso o gerente de projeto, irá proferir e comparar os resultados obtidos naquele ciclo de objetivos com os resultados dos fatos e dados do projeto. A atividade de ________________ deve ser realizada de modo a conceder ao membro da equipe uma explicação formal dos resultados esperados. 160 161 TÓPICO 3 COMUNICAÇÃO DO PROJETO UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO A gestão de comunicação é um elemento importante na execução dos projetos. Destaca-se que a comunicação, às vezes, é representada por meio de reuniões, que já foram objeto dos tópicos anteriores. Na verdade, durante vários momentos do planejamento e execução deste curso, além das reuniões, toda parte de liderança também pode ser representada como um elemento de constante comunicação. Uma comunicação ocorre quando existe um emissor e um receptor, ou seja, é preciso uma pessoa que queira passar uma informação e outra para receber essa informação. Também para que haja comunicação, é importante um assunto a ser comunicado, um objeto a ser comunicado e a forma como será comunicado, assim a gestão da comunicação se centra nesses quatro elementos. 2 SISTEMAS DE COMUNICAÇÃO DE PROJETOS Para iniciar um planejamento e a gestão da comunicação é necessário identificar quais são as informações que os stakeholders querem receber e qual é o nível de formalização que essa comunicação se dará. Também se faz necessário definir a periodicidade ou gatilho que dará início a comunicação, por exemplo, o objeto de relatório de desempenho de projeto geralmente é emitido ao final de uma interação, então é interessante que o plano de comunicação não tenha datas fixas, mas o gatilho, que é o encerramento da interação. O nível de formalização é importante em algumas situações, por exemplo, em comunicações que envolvem contratos de terceiros, é relevante que as comunicações sejam formais e que tragam alguma evidência do que foi decidido ou solicitado, como um e-mail ou adendo de contrato ou até mesmo um novo contrato em comunicações mais formais. A comunicação do dia a dia geralmente é informal e não gera registros, então se deve diferenciar o que seja um simples bate-papo e esclarecimento de dúvidas entre a equipe e as reuniões de projeto. Lembrando que as reuniões devem gerar as memórias de reunião para formalização do que foi decidido e os encaminhamentos da decisão do projeto. Em gestão de projetos alguns objetos são clássicos e dificilmente estarão fora do planejamento de comunicação, conforme o quadro a seguir: UNIDADE 3 | EXECUÇÃO E CONTROLE DE PROJETOS 162 QUADRO 6 – COMPONENTES PLANO DE COMUNICAÇÃO FONTE: O autor (2018) A comunicação do projeto deve seguir a formalização necessária, ou seja, para equipes menores, quando se possa recorrentemente reunir-se em questão de instantes, a comunicação deve ser mantida em níveis de formalidades baixa. Assim, pouca burocracia e alto nível de comunicação informal, exceto nos momentos críticos, quando haja uma reunião com uma pauta específica. Já projetos maiores, em que exista um número maior de membros na equipe, se faz necessário um nível de formalização maior na estruturação da comunicação, então dificilmente ocorrerá uma reunião com toda a equipe, mas várias reuniões em que haja uma estruturação de liderança para propagação dessa comunicação. Então, para que haja integridade que a informação não seja alterada ao longo da cadeia hierárquica, há a necessidade da formalização através de e-mails ou portais. Existe uma boa prática para evitar os e-mails para questões de projeto, uma vez que os e-mails são de uso recorrente e, às vezes, múltiplos projetosemitem muitos e-mails, e somados aos e-mails corporativos e pessoais, tornam nossas caixas postais um volume intenso de dados com que não conseguimos lidar ou quando conseguimos, nos tomam muito tempo. Assim, é de bom tom que se adote um sistema de informações de projeto, e que todas as comunicações ocorram dentro dele. Toda a comunicação entre a equipe e com o gerente de projeto deve ocorrer associado a um pacote de trabalho, questão ou risco associado ao projeto. Dessa maneira, se torna mais fácil gerenciar o projeto, uma vez que o gerente de projeto pode acessar o banco de dados onde encontra as questões de projeto, podendo ordenar pela severidade e analisar quais são as questões de projeto que não tiveram atualização nos últimos dias e assim cobrar então dos responsáveis alguma providência. Geralmente, visto que o sistema é adotado maciçamente pela equipe, praticamente, elimina toda comunicação de projeto por e-mail, proporcionando assim transparência às decisões e às providências tomadas por cada um dos membros de projeto. TÓPICO 3 | COMUNICAÇÃO DO PROJETO 163 Também é importante a utilização de sistemas de informação para a colaboração de documentos. Estes documentos principais, o termo de abertura de projeto e os planos de cronograma e orçamento, devem ser colaborados por toda a equipe. Entretanto, deve-se ter cuidado para que a versão oficial do projeto, chamado de linha de base, seja identificada para que eventuais alterações não aprovadas sejam imediatamente identificadas, uma vez que toda alteração de projeto deve ser formalizada por um comitê de mudanças. EXEMPLO Um exemplo de plano de comunicação está representado na figura a seguir, que apresenta cada documento gerencial e técnico, se a comunicação é mandatória, qual público-alvo, o meio de comunicação, frequência e responsável pela elaboração do documento. QUADRO 7 – EXEMPLO DE PLANO DE COMUNICAÇÃO FONTE: O autor (2018) Público-alvo Uma das ferramentas mais utilizadas atualmente para gerenciar a comunicação de projetos é o Trello, conforme a figura a seguir. Esse serviço tem uma versão gratuita para projetos menores e planos para uso corporativos. O exemplo que segue se destina a tornar o conteúdo mais claro para o aluno e pode ser adaptado para outras ferramentas. UNIDADE 3 | EXECUÇÃO E CONTROLE DE PROJETOS 164 FIGURA 6 – KANBAN NO TRELLO FONTE: Trello (2018, s.p.) Para a utilização do Trello como ferramenta auxiliar na gestão de projetos, é possível utilizar ferramentas que auxiliam na gestão dos pacotes de trabalho. Conforme o exemplo acima, é possível a criação de um quadro Kanban para melhor visualização e, para controle os demais controles, ainda é possível incluir a data de entrega da atividade, o responsável por desempenhá-la, anexar documentos, entre outros, conforme a figura que segue: TÓPICO 3 | COMUNICAÇÃO DO PROJETO 165 FIGURA 7 – INFORMAÇÃO DA ATIVIDADE (TRELLO) FONTE: Trello (2018) Neste sentido, outra funcionalidade importante nos sistemas de apoio à gestão de projetos é que exista um controle de versão. Um documento que pode ser editado por todos, pode ser editado de uma maneira inadequada por um membro, dessa forma, é necessário identificar e voltar à versão anterior. Caso não tenha esse controle de versão, pode haver equívocos e trabalhos podem ser perdidos. 166 Neste tópico, você aprendeu que: • A gestão de comunicação é um elemento importante na execução dos projetos. • Para iniciar o planejamento e a gestão da comunicação, é necessário identificar quais são as informações que os stakeholders querem receber e qual o nível de formalização que essa comunicação terá. • A comunicação do projeto deve seguir a formalização necessária. • Para equipes menores, deve ser mantida em níveis de formalidades baixa, sendo assim, pouca burocracia e alto nível de comunicação informal. • Para projetos maiores, se faz necessário um nível de formalização maior na estruturação da comunicação, então dificilmente ocorrerá uma reunião com toda a equipe, mas sim várias reuniões em que haja uma estruturação de liderança para propagação dessa comunicação. RESUMO DO TÓPICO 3 167 AUTOATIVIDADE 1 Elabore um plano de comunicação para o projeto da festa de formatura, com pelo menos três artefatos, identificando seu tipo, seu público-alvo, meio de comunicação, frequência e responsável. 168 169 TÓPICO 4 GARANTINDO E CONTROLANDO A QUALIDADE DO PROJETO UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Durante a execução do projeto, um ato contínuo é aferir e garantir a qualidade dos projetos. Qualidade aqui não é somente fazer bem feito ou evitar que as falhas aconteçam, significa aferir se os procedimentos planejados estão sendo executados conforme o proposto. Dificilmente conseguiremos garantir a qualidade e ter excelência em projetos. Se cada execução de uma atividade for realizada de maneira diferente, não há uma base de conhecimento, gera-se, assim, aleatoriedade nos resultados. Ou seja, o projeto em uma iteração pode ser excepcional e na iteração seguinte ter um resultado inferior, isso ocorre por conta dessa aleatoriedade ao não se ter um padrão de execução. Os padrões são geralmente estabelecidos pelos procedimentos, que podem ser diagramas de fluxograma de processos com atividades, ou até mesmo podem ser expressos através de checklist. A garantia da qualidade vai aferir não se os resultados do projeto estão adequados, mas sim, se os procedimentos propostos estão sendo realizados corretamente. A proposta aqui é que haja uma padronização, que a variabilidade e aleatoriedade sejam minimizada e deste modo, consiga-se saber se um procedimento precisa ser aperfeiçoado ou não. 2 AUDITORIAS Essa averiguação da execução de um determinado procedimento planejado recebe o nome de auditoria. De uma forma coloquial e leiga, auditoria remete a pessoas indesejadas que perseguem o que os membros da equipe estão fazendo de errado para levar à chefia e denunciar os que estão trabalhando “errado”. Assim, a auditoria tem por sua finalidade a averiguação da realização de um processo, frente ao planejado. Uma variação entre o processo planejado e como ele está sendo executado denomina-se não conformidade. Porém, essa forma é incorreta e fruto de uma imposição de sistemas de qualidade sem a devida maturidade da organização para tal. Auditoria, corretamente, seria a avaliação de conformidades, ou seja, a pergunta que se faz é: as pessoas estão executando conforme o planejado? E se não estiverem, qual é a real causa disso? UNIDADE 3 | EXECUÇÃO E CONTROLE DE PROJETOS 170 Essa nova abordagem de entender a auditoria remete a um método pedagógico educacional de criar uma cultura voltada para a qualidade, a preocupação não é denunciar ou penalizar aqueles que não estão seguindo o processo, mas sim, entender o que está levando ele a não executar corretamente um processo. Isso pode ser motivado pela falta de factibilidade no processo, ou seja, o processo foi desenhado de uma forma tão ideal, que foge da realidade da pessoa que está executando, gerando muita lentidão. O processo pode gerar, também, não conformidades porque as pessoas desconhecem o procedimento em detalhes. Isso é normal, uma vez que alguns procedimentos são tão detalhados que inibem a pessoa de cada execução ao checar os procedimentos. Muitas vezes é vantajoso para a equipe perguntar para o colega do lado como se faz um procedimento do que pegar manuais extensos ou fluxogramas enormes para saber como lidar com determinada situação. Dessa maneira, é importante que os processos sejam desenhados ou que checklists sejam criados de forma a entender e formalizar no nível adequado para a execução de uma atividade. Por exemplo, caso seja a execução de um projeto de um avião, os manuais devem ser extremamente detalhados por motivos de segurança. Uma falha mesmo que mínima poderá ocasionar uma tragédia, então não existe escapatória e a formalidade se faz necessária nesse tipo de projeto,os manuais são extremamente detalhados e as auditorias são extremamente rigorosas para seguir todos os procedimentos. Todavia imaginemos agora um outro cenário, um processo de identidade visual dos sistemas de informação. Esse tipo de procedimento precisa também ser padronizado, pois envolve ações de marketing e ergonomia do produto para o usuário final, porém uma pequena falha aqui ou lá não gera impactos drásticos e irreversíveis, que podem ser contornados sem maiores prejuízos para a organização. Nesse segundo exemplo, não faz sentido criar fluxogramas ou checklists muito detalhados, basta que a equipe seja organizada, treinada e um checklist mínimo seja determinado. Outro fator importante nas auditorias é que sejam categorizadas as não conformidades pela sua severidade. Esta categorização dará ao gerente do projeto uma noção das não conformidades que precisam ser corrigidas antes de liberar o produto e que podem passar por uma interação e serem corrigidos em outro momento. TÓPICO 4 | GARANTINDO E CONTROLANDO A QUALIDADE DO PROJETO 171 Desse modo, uma boa auditoria é aquela que apresenta ao gerente de projeto evidências que possam melhorar o seu desempenho e o controle do projeto e da equipe. Apesar de não ser obrigatório ao auditor, é desejável que este esteja acima do gerente de projeto, por exemplo o patrocinador do projeto, pois dará ao auditor uma independência para avaliar as não conformidades sem se preocupar com o que pode ocorrer para si, em um cenário onde o gerente de projeto tem autoridade sobre ele, inclusive da demissão. a. Gráficos de controle Os gráficos de controle são um instrumento gerencial para aferir o grau de alcance de um objetivo mensurado por um indicador. Como visto nas seções anteriores, os objetivos têm por sua natureza ser ambíguos e precisam ser mensurados e operacionalizadas pelos indicadores de desempenho para dar clareza ao que se quer perseguir. Com os indicadores elaborados durante a fase de planejamento, estes são combinados com a dimensão tempo ou a dimensão de eventos. Essas duas dimensões podem ser apresentadas em um gráfico de linha, representando assim a variação desse indicador ao longo do tempo. O tempo também pode ser substituído por número de eventos, por exemplo, um gráfico de coluna que represente o índice de falhas identificadas por interações. Os gráficos permitem uma gestão visual do progresso do projeto e podem também representar episódios de intervenções para aferir se uma solicitação de mudança provocou a melhora ou piora em um indicador. 3 CONTROLE DO PROJETO Nesta seção serão apresentados os conceitos e técnicas para o controle de projetos. Essas práticas são fundamentais para lidar com os desvios naturais que o gerente de projeto irá se defrontar durante a execução. 3.1 ELABORANDO O RELATÓRIO DE DESEMPENHO DO PROJETO A periodicidade da elaboração do relatório de desempenho de projetos deve estar prevista no planejamento do projeto, mas, geralmente, é emitido ao fim de uma interação. Os itens que compõem o relatório de desempenho, descritos a seguir, são abordados de maneira básica podendo ser adequados para cada projeto, mas em geral seguem essa estrutura. UNIDADE 3 | EXECUÇÃO E CONTROLE DE PROJETOS 172 O relatório de desempenho de projeto inicia apresentando de forma gráfica os desvios do projeto, geralmente utiliza-se um gráfico com a curva S do valor agregado do projeto, ou seja, três linhas em um gráfico de controle, onde haverá no eixo horizontal a linha do tempo e no eixo vertical o custo do projeto (VARGAS, 2002). A primeira linha significa valor planejado e o valor retirado do planejamento, ou seja, o desembolso de esforço convertido em reais, ou a moeda financeira vigente. A segunda linha compara o valor investido, obtém-se no sistema de informação o apontamento de horas, o volume de esforço empreendido multiplicado pelo valor unitário de suas horas. Esse número acumulado deve ser projetado na linha do tempo, por exemplo, se dois profissionais trabalharam 40 horas cada, gerando 80 horas de esforço, e se a hora deles custar R$10,00 então teremos um ponto no custo total do projeto de R$800,00. Neste exemplo, é importante notar que os valores são acumulados, ou seja, se na interação eles trabalharem mais 80 horas, não significa um ponto de R$800,00, mas sim R$1600,00 sempre comparando o que foi investido desde o início do projeto até o ponto do controle. A terceira linha significa o valor agregado, obtém-se todos os itens da EAP que foram dados como conclusos e de forma análoga somam-se as horas estimadas para sua conclusão, projetam-se também no gráfico desde o início do projeto até o momento do ponto de controle, ou seja, também de forma cumulativa. Com essas três linhas, pode-se comparar e tirar deduções de forma grosseira, mas também de uma forma abrangente a situação do projeto em termos de prazo, custo e escopo. Caso o valor acumulado do valor planejado estiver superior ao custo realizado de projeto, pode significar que o esforço que estava planejado para ser realizado não aconteceu. E, dessa forma, deve ser investigado, mas geralmente isso acontece quando se estima duas pessoas trabalhando e uma delas precisa se ausentar, seja por doença, para trabalhar em outro projeto ou qualquer outra natureza, isso não significa um problema de estimativas de esforço, mas sim estimativas na dedicação da equipe. Caso o valor planejado seja superior ao ponto de controle de valor agregado, significa que o gerente de projeto estimava entregar um determinado pacote de trabalho e não concluiu todas as atividades previstas ou concluiu atividades de menor montante de esforço. Seguindo, se o desvio entre o custo atual for superior ao valor agregado, entende-se que houve problemas de estimativas e o esforço do projeto está maior do que o planejado. Cabe reiterar de forma bem destacada que essas comparações são grosseiras, dando um mapa geral e, portanto, superficial do que está acontecendo com o projeto em termos de prazo, custo, esforço e escopo, mas essa análise não requer interação social alguma e precisa ser realizada, pois tem por sua natureza ser objetiva. TÓPICO 4 | GARANTINDO E CONTROLANDO A QUALIDADE DO PROJETO 173 Para efeitos de fórmula, temos dois indicadores extraídos dessa técnica, sendo o valor o indicador de variação de cronograma como o valor agregado dividido pelo valor planejado. Se o valor for acima de 1, significa cronograma positivo, ou seja, adiantado, se o valor for menor que 1, significa cronograma negativo, atrasado. Outro indicador clássico dessa técnica é o CPI - Índice de Custo, dividindo o valor agregado pelo custo despendido, tendo a mesma comparação acima, número acima de 1, orçamento favorável. Costuma-se dizer no meio de gestão de projetos que esse indicador de valor agregado é ruim, mas para efeitos de análise objetiva e abrangente inicial, ele dá uma boa visão do projeto apesar das suas limitações. FIGURA 8 – CPI – ÍNDICE DE CUSTO FONTE: O autor (2018) Uma destas limitações é que os indicadores e os pacotes de trabalho são igualados não representando e não levando em conta a precedência de atividades. Ou seja, pode ser proposital ou de uma forma involuntária que adiante atividades que não são o caminho crítico do projeto. Entretanto, estas atividades, se antecipadas, melhoram o indicador de valor agregado de forma fantasiosa. Imagine que o valor agregado esteja desfavorável ao gerente de projeto e ele pode melhorar o indicador com a finalização de uma atividade e ele tem duas alternativas com mesmo valor agregado. Uma atividade é de baixo risco e a outra de alto risco, sendo a segunda mais complexa. Para efeitos do indicador por si, a primeira atividade gerará resultados gráficos imediatos, porém o projeto continua com o risco. A segunda atividade, por ser mais complexa, terá uma grande probabilidade de não gerar resultados no indicador de forma imediata, mas pensando no projeto comoum todo, é importante eliminar riscos de forma gradativa e não ir postergando decisões. Esse UNIDADE 3 | EXECUÇÃO E CONTROLE DE PROJETOS 174 é o paradoxo dos indicadores: eles devem fazer parte dos instrumentos de gestão, mas devem ser combinados com uma análise qualitativa para que os resultados sejam sustentáveis ao longo do projeto. Dessa maneira, observamos outras dimensões do relatório de desempenho, depois de apresentar análise gráfica, esses desvios precisam ser analisados como a interação social com a equipe. Ou seja, durante a elaboração do projeto é importante que a equipe tenha ciência dos indicadores de valor agregado e consigam identificar as causas de problemas desses desvios. As causas podem então ser registradas como questões de projetos de alta severidade, se for um desvio grande, ou de baixa severidade, se for um desvio dentro dos parâmetros do projeto. Para cada questão de projeto aberta, por motivo de ser uma causa de desvios, o gerente de projeto em conjunto com a equipe deve formular ações corretivas do projeto. Essas ações corretivas podem endereçar melhorias na execução ou nos procedimentos para que a execução consiga alcançar o planejamento na próxima interação, ou nas próximas iterações, mas também pode haver um consenso da equipe e do gerente de que esse desvio cedeu por uma comprovação que as premissas de projeto durante as estimativas não foram realizadas como verdade. Por exemplo, em um caso de desenvolvimento de software, a estimativa do projeto era que testaria uma versão do projeto do aplicativo em oito horas, porém, existe a premissa que essas oito horas só seriam válidas com três servidores de testes com a base de dados atualizados de clientes. Durante a execução iniciou- se os testes apenas com um servidor, ou seja, a premissa foi rompida e podendo ocasionar que esse desvio não possa ser recuperado no futuro e então uma segunda categoria de ações corretivas, as solicitações de mudança. As solicitações de mudança são solicitações que a equipe, e principalmente o gerente de projeto, coloca no relatório de desempenho de projeto e apresenta os stakeholders, e principalmente ao seu patrocinador, para explicar que o planejamento atual já não é mais factível de ser perseguido e precisa ajustes com a nova configuração de premissas e fatos que foram fatos novos que foram sendo conhecidos durante a execução. Obviamente que existirá um grande conflito natural entre o patrocinador, que deseja ver o plano cumprido, e o gerente de projeto de ter um plano factível e uma equipe motivada, pois no exemplo citado acima, não foi culpa da equipe o atrasado do projeto. Esse conflito deve ser mediado pela habilidade de negociação do gerente de projeto. Essa habilidade dificilmente consegue ser ensinada de forma teórica, ou até de forma acadêmica, ela pode até ser pesquisada, mas não pode ser aprendida sem a prática. O gerente de projeto que queira desenvolver a competência de negociação, deve assumir uma posição o mais cedo possível em sua carreira e melhor ainda ao lado de grandes profissionais experientes. TÓPICO 4 | GARANTINDO E CONTROLANDO A QUALIDADE DO PROJETO 175 Outro ponto importante no relatório de desempenho de projeto é a análise de riscos de projeto. Esta análise pressupõe a apresentação para o patrocinador dos riscos com alta exposição, ou seja, alto impacto e alta probabilidade que aconteça. Apresentam-se ainda ao patrocinador as medidas dentro do programa que estão sendo tomadas para que esse risco não aconteça ou que ao menos os impactos sejam minimizados. Com essa análise, pode-se apresentar um outro elemento do relatório de desempenho de projetos, a situação dos próximos marcos de projeto. Lembrando que marcos de projetos significa pontos de controle, em que há uma entrega relevante para o encerramento do projeto ou uma entrega parcial. Por mais que o projeto possa estar com alguns desvios intermediários, pode ser que o gerente de projeto apresente alternativas, sejam elas de solicitações de mudanças ou ações corretivas normais de execução de projeto, para que os marcos não sejam afetados. Ou seja, uma reorganização de cronograma, orçamento, pessoas e procedimentos, de forma que o marco do projeto seja mantido. Para manter o marco de projeto pode ser necessário, por exemplo, a diminuição de características de projeto daquela versão do marco, e também deve ser negociado com os stakeholders de forma que o objetivo do projeto não fracasse. Na análise de marcos de projeto, não se remete só ao plano, mas também ao termo de abertura de projeto e apresenta quanto do termo de abertura está sendo concluído ou está em risco. De qualquer maneira, seja um relatório positivo ou negativo, o gerente de projeto deve de forma ética e responsável apresentar a realidade do projeto, seja ela qual for aos stakeholders. Outro indicador importante é o nível de envolvimento dos stakeholders como, por exemplo, stakeholders que não atendem aos convites de reuniões de projeto. De toda forma, independentemente da natureza e grandeza do projeto, a apresentação do relatório de desempenho deve ser a mais sintética possível, e o seu entendimento deverá atender ao nível de um leigo em gerenciamento de projetos. Caso o gerente de projetos apresente um relatório complexo que somente ele e sua equipe saibam, e desse modo, precisa ser “traduzido” para o stakeholder, este não atenderá a sua finalidade. Um bom relatório de desempenho tem por característica ser simples, deve ser capaz de proporcionar a uma pessoa de fora do contexto do projeto o entendimento de uma forma abrangente a respeito da situação do projeto, os principais pontos de atenção e os principais pontos de reação da equipe frente a sua execução. UNIDADE 3 | EXECUÇÃO E CONTROLE DE PROJETOS 176 EXEMPLO O gerente do projeto deseja utilizar a técnica de valor agregado para controlar o andamento do projeto. Na figura a seguir são apresentados os pacotes de trabalho para o escopo referente ao projeto da parte física da loja. A técnica poderia ser utilizada para mensurar o montante financeiro, mas o gerente do projeto entendeu ser interessante mensurar pelo valor de esforço em horas, para facilitar a comunicação com sua equipe. Neste sentido: • Na coluna “VP total” o GP aloca Valor do esforço envolvido com cada pacote de trabalho a ser concluído, conforme suas estimativas. • Na coluna “VP até hoje”, o GP apresenta o montante de horas que deveriam ser dispendidas até o momento do relatório de projeto. • A coluna “% concluído até hoje” é um valor percentual que representa o quanto uma tarefa está concluída. Por exemplo, se o projeto tiver 50 elementos a serem realizados para ser concluído, e o engenheiro só fez 10 elementos, essa coluna deve estar como 20%. Se a atividade foi completamente concluída, não restante nenhuma pendência, essa coluna deve estar definida como 100%. Ou seja, é o progresso físico da tarefa analisado pelo GP. • A coluna “VA” é o valor agregado, ou seja, é um campo calculado que multiplica o “% concluído até hoje” com o campo “VP total”. Representa em horas o quanto a atividade está concluída. • Na coluna “CA” serão lançadas as horas efetivamente executadas em cada pacote de trabalho. Essas horas serão retiradas dos apontamentos diários de trabalho executado pela equipe. • O campo “SPI” é um campo calculado que representa a divisão entre a coluna “VA” pela coluna “VP até hoje”. O valor resultante é o quanto em termos percentuais o projeto está dentro do prazo. Se estiver abaixo de 100%, está atrasado no cronograma. Se estiver acima de 100%, está adiantado. • O campo “CPI”, por sua vez, é a razão entre o campo “VA” e “CA”. A resultante é o quanto em termos percentuais o projeto está dentro do orçamento. Se estiver abaixo de 100%, está mais caro que o planejado. Se estiver acima de 100%, está mais barato. TÓPICO 4 | GARANTINDO E CONTROLANDO A QUALIDADE DO PROJETO 177 QUADRO 8 – PLANILHA DE CONTROLEDE VALOR AGREGADO (1) FONTE: O autor (2018) Após planejar a planilha de controle de valor agregado, o GP apresenta no primeiro relatório o resultado da coleta de valor agregado de projeto, conforme a figura a seguir: FIGURA 9 – PLANILHA DE CONTROLE DE VALOR AGREGADO (2) FONTE: O autor (2018) O quadro apresenta alguns dados do desempenho de cronograma e orçamento do projeto. De forma global, o projeto apresenta um SPI de 84% (atrasado) e um CPI de 109% (mais barato). Mas o GP sabe que esses dados são globais e quantitativos, ou seja, uma vez que ele sabe que o projeto está atrasado, precisa investigar pacote de trabalho a pacote de trabalho, para perceber qual atividade está deixando o projeto atrasado. VP total VP até hoje % Conckuído até hoje VA CA SPI CPI 1 Estrutura física 1700 0 N/A 0 0 1.1 Projetos 1700 0 N/A 0 0 1.1.1 Seleção de fornecedores 240 0 1.1.2 Contratação 80 0 1.1.3 Arquitetônico 420 0 1.1.4 Estrutural 300 0 1.1.5 Hidráulico 140 0 1.1.6 Elétrico 140 0 1.1.7 Iluminação 80 0 1.1.8 Sonoro 100 0 1.1.9 Segurança 200 0 UNIDADE 3 | EXECUÇÃO E CONTROLE DE PROJETOS 178 Existem duas atividades já concluídas (seleção de fornecedores e contratação). Seu SPI está em 100%, mas o CPI está acima de 100%. Isso quer dizer que as estimativas foram inflacionadas. A seleção de fornecedores, por exemplo, era para levar um esforço de 240 horas, mas levou 200 horas. Enfim, essas duas atividades foram bem. Melhor ainda está o projeto arquitetônico, sendo que 40% dele está concluído e superou as expectativas de prazo, uma vez que 100 horas eram estimadas, porém 40% de 420 horas totais representam o equivalente de andamento de prazo de 168 horas. Excelente! Em custos, o projeto arquitetônico também está muito bem! Para entregar 40% do projeto, gastaram-se apenas 19% do esforço. Ou seja, está mais barato também. Mas o gerente ainda procura as atividades ofensoras de prazos do projeto. A questão do projeto estrutural preocupa o GP, uma vez que seus indicadores estão bem aquém do desejado em termos de prazo e custo. Pior ainda são os projetos sonoros e de segurança, praticamente, os membros desses pacotes de trabalho só se empenharam em uma reunião de duas horas. Mas o planejado era para fazer bem mais que isso! Destaque para a questão de projeto de segurança que de forma inusitada está com CPI de 100%, ou seja, a estimativa está adequada em termos de custos, pois essas 2 horas representam 1% do valor agregado, mas em termos de prazo, está terrível. O GP então tomou as ações corretivas e no segundo ponto de controle do retrato do projeto está conforme o quadro a seguir: QUADRO 10 – PLANILHA DE CONTROLE DE VALOR AGREGADO (3) FONTE: O autor (2018) TÓPICO 4 | GARANTINDO E CONTROLANDO A QUALIDADE DO PROJETO 179 Repare que houve uma melhora em termos de prazos, mas em custos piorou. Vide figura a seguir: FIGURA 9 – GRÁFICO DE PROGRESSO DO PROJETO FONTE: O autor (2018) O projeto arquitetônico era para estar 95% pronto, mas está somente com 79% do planejado em termos de cronograma. Repare também que estão gastando menos horas de trabalho. Será que não é por isso que o projeto atrasou? Estão economizando horas, pois o projeto demandaria 400 horas de esforço. Só gastaram 300 horas. O “barato” nesse caso, saiu “atrasado”. O GP precisaria investigar por que desse desvio. Esse mesmo fenômeno de “economia” de esforço em horas pode ser observado no projeto de iluminação, que investiu apenas 45 horas, mas era para se empenhar 80 horas! Essa atividade já era para ser concluída, mas ainda está em 75%. No caminho inverso, e não menos preocupante, está o projeto estrutural da loja, que está com SPI de 107%, ou seja, adiantado aos prazos, mas já gastou 90% do estimado para entregar metade da tarefa! O GP terá com certeza de renegociar custos dessa atividade. Entregar adiantado pode custar caro! UNIDADE 3 | EXECUÇÃO E CONTROLE DE PROJETOS 180 O projeto elétrico parece o pacote de trabalho que mais está dando felicidade ao GP, com adiantamento de prazos e dentro dos custos. Na verdade, em gestão de projetos, essa característica de indicadores é um “sonho” para o GP, mas difícil de acontecer, infelizmente. Após as ações corretivas, no terceiro ponto de controle de projeto, a situação é representada pelo quadro a seguir: QUADRO 11 – PLANILHA DE CONTROLE DE VALOR AGREGADO (4) FONTE: O autor (2018) Repare que nesse ponto de controle era para estar todas as atividades encerradas (“VP até hoje igual ao “VP total)”, porém existem duas atividades com 80% executadas (projetos sonoro e de segurança). Interessante constatar que essas duas atividades estão com estimativas boas, ou seja, o que estão trabalhando, estão entregando proporcional. O problema é que o esforço previsto não foi despendido, gerando atraso no cronograma. A Figura 10 apresenta o controle em horas e a Figura 11 apresenta o controle em desempenho global de prazo e custo. Repare que o GP conseguiu diminuir a distância entre o planejado e o SPI, mas mesmo assim, não conseguiu alcançar a linha de 100%, gerando atraso nas atividades de projeto. TÓPICO 4 | GARANTINDO E CONTROLANDO A QUALIDADE DO PROJETO 181 FIGURA 10 – GRÁFICO DE PROGRESSO DO PROJETO FONTE: O autor (2018) 3.2 MONITORANDO INDICADORES DO PROJETO Quando pensamos em relação ao controle de projeto, remetemos à execução do planejado, minimizando os desvios de projeto que podem ocorrer durante a execução. Esta afi rmação está correta, porém, incompleta. No controle de projeto, não só tentamos tomar medidas para manter a execução dentro do planejado, mas também buscamos oportunidades de melhoria ao alterar os planos para que se consiga alcançar os objetivos propostos no termo de abertura de projeto. Dessa forma, a defi nição dos desvios de projeto signifi ca a distância entre o executado e o planejado. Para um leigo, desvio de projeto basicamente se defi ne como desvios de cronograma e, principalmente orçamento, se tornando duas dimensões vulgarmente defi nidas como o sucesso do projeto. Cronograma e orçamento são dimensões extremamente relevantes para projetos com ampla base histórica, ou seja, projetos com baixo nível de incerteza e alto grau de detalhamento por meio de lições aprendidas passadas e projetos similares já executados. Existem, porém, outras dimensões tão importantes quanto o cronograma e orçamento. Todavia, quando lidamos com projetos de grau de incertezas maiores, cronograma e orçamento são dimensões tão importantes quanto as outras, como escopo, qualidade, riscos, recursos humanos, comunicação, stakeholders UNIDADE 3 | EXECUÇÃO E CONTROLE DE PROJETOS 182 e aquisições. Assim, o desvio de projeto deve ser a comparação do executado versus o planejado de todas as nove áreas de conhecimento de projetos, assim como outras específicas explicitadas dentro do termo de abertura. Deste modo, a atividade de controle de projetos por si deve ser uma estrutura racional, evitando qualquer tipo de subjetividade ao identificar os desvios. Isso se torna relativamente simples quando, durante a elaboração do termo de abertura de projetos e dos planos detalhados, o gerente de projetos se preocupa em identificar os atores do projeto, escopo (de forma bem clara) e quando se vale de indicadores de desempenho para mensurar e clarificar o sucesso do projeto. Todavia, para gerente de projeto, seja para ganhar tempo ou simplesmente por não acreditar na importância dos indicadores, a atividade de controle pode se tornar uma tarefa bastante complexa e sempre suscetível a questionamentos por seus pares, e principalmente, pelos stakeholders. Isso ocorre porque a dimensão do cronograma e do orçamento são basicamente definidos por indicadores universais, como a duração em horas ou dias e valores financeiros, por exemplo. Por outro lado, quando não analisamos por indicadores, as dimensões de qualidade ficam complexas ao analisar se determinado produto de trabalho do projeto realmente está adequadopara uso e adequado pela proposta a que eles se destinam. Além das escalas de mensuração explicitadas pelos indicadores, também fornecem os níveis de tolerância de desvios, pois estes são naturais em projetos. Entretanto, os desvios para um projeto de baixa incerteza podem ser tolerados, por exemplo, em um projeto de seis meses, pode-se ter um desvio estimado de até três dias de duração. Esses três dias são considerados uma tolerância, pois um cronograma necessariamente não precisa ser preciso na sua execução, alguns imprevistos podem ocorrer por meio de variações naturais e aleatórias. Contudo, em projetos de inovação, com altíssimo grau de incerteza, é improvável que um projeto comece em determinada data e seja concluído exatamente no prazo estimado. Assim, a tolerância do desvio para projetos de inovação e alta incerteza devem ser maiores do que projetos que apresentam base histórica. E, dessa forma, para um projeto de inovação, um cronograma de seis meses com um desvio de dois meses de atraso em seu cronograma pode não ser um aspecto crítico, demonstrando ser uma questão natural, fruto do desenvolvimento do conhecimento durante o projeto. Cabe reiterar, caso você esteja em um projeto em que haja um grande detalhamento e base histórica, ele não pode ser categorizado como projeto inovador. A inovação tem por sua característica a indisponibilidade do conhecimento para elaborar planos detalhados, esses detalhamentos ocorrem durante a execução para controlar projetos de alta inovação. Deste modo, normalmente, trabalha-se por meio de gráficos de controle baseados em burn-down. TÓPICO 4 | GARANTINDO E CONTROLANDO A QUALIDADE DO PROJETO 183 Os gráfi cos de burn-down, conforme demonstrado na fi gura a seguir, são utilizados para perceber a velocidade de entrega de cada característica de projeto em cada iteração, ou seja, serve como uma contagem regressiva para que todos os itens do projeto sejam entregues. FIGURA 11 – EXEMPLO DE GRÁFICOS BURN-DOWN FONTE: O autor (2018) De forma clássica, os projetos com base histórica utilizam gráfi cos de controle progressivos com base no gráfi co de controle da curva S, ou seja, a comparação na linha do tempo da dimensão custo em relação ao escopo, dando origem à técnica de valor agregado, porém, para se trabalhar com todas as dimensões de sucesso de projeto, é interessante um conjunto de gráfi cos de controle, que consigam entender o projeto de uma maneira abrangente. Dessa forma, não adiantam os indicadores de cronograma e orçamento estarem bons e em uma situação de tranquilidade, sendo que o nível de risco do projeto e a qualidade das entregas contêm um índice de falhas acima do normal, e muitos pontos que podem ocasionar problemas futuros. Assim, um conjunto de gráfi cos que representa o projeto da sua maneira global pode ser representado por um painel de controle. 4 ENCERRAMENTO DO PROJETO Após as atividades planejadas do projeto, sua execução e controle que levaram o produto fi nal a ser desenvolvido, o encerramento do projeto continua sendo um processo de gestão de projetos que muitas vezes é visto como apenas um evento de comemoração. UNIDADE 3 | EXECUÇÃO E CONTROLE DE PROJETOS 184 Porém, na verdade, o encerramento do projeto se trata de um conjunto de atividades que devem ser realizadas para que aconteça um repasse do produto desenvolvido, bem como os ativos inerentes ao desenvolvimento do projeto. Após o ciclo de planejamento, execução e controle repetido por várias vezes no projeto, é natural que haja desvios e ações corretivas documentadas ao longo da história do projeto. Essas ações corretivas (aparentes “erros” de projeto e planejamento) podem ser entendidas de forma positiva como lições aprendidas para futuros projetos a serem iniciados pela organização. Assim, as lições aprendidas devem ser documentadas e categorizadas por assuntos para que um projeto a ser iniciado possa se valer do conhecimento de projetos passados. Servem como dicas para que o gerente de projeto não venha incorrer nos mesmos erros que levaram a desvios de projetos passados. Uma importante lição aprendida que se pode dizer como clássica são os desvios relacionados à estimativa de pacotes de trabalho. Esses aprendizados devem ir para uma base de conhecimento em que se possa ir coletando dados de diversos projetos até que se tenha uma métrica de produtividade dos projetos, bem como o índice de retrabalho dos projetos em uma determinada organização. As lições aprendidas podem ser categorizadas pelas próprias áreas de conhecimento de gestão de projetos com vistas a sua simplificação na busca do uso de lições aprendidas para futuros projetos. E, nem todas as lições aprendidas devem ser catalogadas na base de conhecimento, pois caso haja muitas lições aprendidas pode haver um desinteresse em buscar esse conhecimento e tornar esse esforço inútil. Dessa maneira, é importante que somente as lições aprendidas mais relevantes devam ser catalogadas na base de conhecimento. As lições aprendidas são tão relevantes, que é importante que a organização incentive o seu uso e caso um projeto não venha a atender a alguma lição aprendida de projeto passado, essa inobservância deve-se tornar um risco de alta probabilidade e deve entrar no processo de gestão do projeto em questão. Isso ocorre porque quando um gerente de projeto não aproveita o conhecimento de gerentes passados, pode-se entender algum tipo de negligência técnica ou um atendimento de pressões de stakeholders, e esses eventos devem ser esporádicos e quando acontecerem devem ser evidenciados a todos os stakeholders que uma ação similar ocorreu no passado com consequências negativas para o projeto. Outro processo relevante no encerramento do projeto é o repasse de conhecimento para a área que irá manter o projeto em operação. Isso é muito comum em projetos de desenvolvimento de produto, em que o projeto é responsável pelo desenvolvimento de especificações, protótipos e operação piloto. TÓPICO 4 | GARANTINDO E CONTROLANDO A QUALIDADE DO PROJETO 185 Após esse projeto estar concluído, o produto deve ser produzido em série e a área de conhecimento de gestão de projetos perde o apelo e aparecem outras técnicas administrativas como gestão de processos (BPM) para produzir um produto em larga escala. Porém, essa transição entre gestão de projetos e gestão de operações deve ser realizada com muita cautela e atenção para que a linha de operação consiga entender cada decisão tomada durante o projeto e por que o projeto ou produto tem tais características físicas e de montagem. Um terceiro processo importante durante o encerramento do projeto ocorre quando os contratos de terceiros são finalizados. Muitas vezes, tais contratos têm cláusulas de encerramento rigorosas como vistorias e liquidação de pagamentos e essas devem ser realizadas com muito compromisso e ética. Como Leitura Complementar sugerimos proceder à leitura dos textos que seguem: BRANDÃO, Marcius Gomes et al. Monitoramento e controle de projetos com e-kanban e burndown: um relato de experiência. In: V WGPS–Workshop de gerenciamento de projetos de software. 2012. p. 39. Disponível em: <https://www. researchgate.net/publication/260058777> e VALLERÃO, Alexandre Guido et al. Modelo de monitoramento e controle de projetos de desenvolvimento de software conduzidos sob o Scrum. 2015. Disponível em: <https://bdtd.ucb.br:8443/jspui/bitstream/123456789/1454/1/ Alexandre%20Guido%20Vallerao.pdf>. Boa leitura! DICAS 186 Neste tópico, você aprendeu que: • Durante a execução do projeto, um ato contínuo é aferir e garantir a qualidade de projetos. • Essa averiguação da execução de um determinado procedimento planejado recebe o nome de auditoria. • A auditoria tem por sua finalidade a averiguação da realização de um processo, frente ao planejado. • Os gráficos de controle são um instrumento gerencial para aferir o grau de alcance de um objetivo mensurado por um indicador.• A periodicidade da elaboração do relatório de desempenho de projetos deve estar prevista no planejamento do projeto, mas geralmente é emitido ao fim de uma interação. • As solicitações de mudança são solicitações que a equipe, e principalmente o gerente de projeto, coloca no relatório de desempenho de projeto e apresenta aos stakeholders, e principalmente ao seu patrocinador, para explicar que o planejamento atual já não é mais factível de ser perseguido e precisa ajustes com a nova configuração de premissas e fatos que foram sendo conhecidos durante a execução. • Após o ciclo de planejamento, execução e controle repetido por várias vezes no projeto, é natural que haja desvios e ações corretivas documentadas ao longo da história do projeto. Essas ações corretivas (aparentes “erros” de projeto e planejamento) podem ser entendidas de forma positiva como lições aprendidas para futuros projetos a serem iniciados pela organização. RESUMO DO TÓPICO 4 187 AUTOATIVIDADE 1 Para cada tipo de gráfico ou indicador, explique em que situações estes são utilizados. a) Gráficos de burn-down. b) CPI – Índice de custo. c) Gráfico de progresso do projeto. 188 189 REFERÊNCIAS ANDRADE, Eduardo Leopoldino de. Introdução à pesquisa operacional. Rio de Janeiro: LTC, 1998. ANTÓNIO, Nelson Santos; TEIXEIRA, António. Gestão da qualidade: de Deming ao modelo de excelência da EFQM. Lisboa: Edições Sílabo, 2007. BARCAUÍ, André B. PMO-Escritórios de projetos, programas e portfólio na prática. Brasport, 2012. BLANCHARD, Kenneth H.; ZIGARMI, Patrícia; ZIGARMI, Drea. Liderança e o gerente minuto. Record, 1986. CARVALHO, Marly; PALADINI, Edson. Gestão da qualidade: teoria e casos. Elsevier Brasil, 2013. CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de pessoas. 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