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1 Eduarda Rebés Müller Cardiopatia isquêmica, Miocardiopatias, Valvulopatias e Pericardiopatias Cardiopatia isquêmica SCACSST, SCASSST, angina estável e cardiopatia isquêmica crônica INFARTO COM SUPRADESNIVELAMENTO DE ST (IAMCSST) Nova elevação do segmento ST, medida no ponto J, ≥ 1 mm em pelo menos duas derivações contíguas com exceção de V2 e V3 Em V2 e V3, o critério depende do gênero e da idade do paciente: o Se mulher: ≥ 1,5 mm o Se homem ≥ 40 anos: ≥ 2 mm o Se homem < 40 anos: ≥ 2,5 mm Time is muscle! Manejo Monitorização Oxigênio suplementar (se SatO2 < 90%) Morfina (opioide): Analgesia IV ou SC, 2-4mg, a cada 5-15 min se necessário Efeitos colaterais: náuseas, hipotensão, bradicardia NÃO UTILIZAR EM IAM DE PAREDE INFERIOR Ácido acetil salicílico (antiplaquetário): Ação anti-inflamatória Inibe a COX-1 nas plaquetas → ↓ síntese de tromboxano (TXA2) → ↓ agregação plaquetária Administrar o mais rápido possível Dose de ataque: 160-325 mg Dose de manutenção: 100 mg/dia Contraindicações: hipersensibilidade conhecida, úlcera péptica ativa, discrasia sanguínea ou hepatopatia grave Efeitos colaterais: sangramentos, erosão gástrica Clopidogrel (antiplaquetário): Ligação irreversível ao receptor de ADP (P2Y12) na superfície das plaquetas → ↓ agregação plaquetária Dose de ataque: 300 mg o Se intervenção coronariana percutânea (ICP - cateterismo cardíaco/stent): 600 mg Dose de manutenção: 75 mg (1x/dia) Efeitos colaterais: sangramentos Consagrado na terapia do IAM junto com AAS Prasugrel (antiplaquetário): Opção ao clopidogrel (resistência ao clopidogrel é comum) Tienopiridínico Ligação irreversível ao receptor de ADP (P2Y12) da superfície das plaquetas → ↓ agregação plaquetária Mais rápido início de ação e mais rápida inibição plaquetária (em comparação ao clopidogrel) Dose de ataque: 60mg Dose de manutenção: 10 mg 1x/dia Meia-vida: 7h Contraindicações: histórico de AVC/AIT (aumenta sangramentos) 2 Eduarda Rebés Müller Ticagrelor (antiplaquetário): Antagonista reversível do receptor de ADP (P2Y12) da superfície das plaquetas Mais rápido início de ação do que clopidogrel Dose de ataque: 180 mg Dose de manutenção: 90 mg 1x/dia Seu efeito reversível reduz sua meia-vida. Mais seguro caso paciente tenha indicação pelo CATE, de CRM. Obs: a eficácia e a segurança do prasugrel e ticagrelor ainda não foram estudadas em pacientes com IAMCSST que receberam fibrinolíticos. Por isso, esses fármacos não são recomendados nesse cenário. Inibidores da glicoproteína IIb/IIIa (antiplaquetário): Inibe a proteína de membrana (GIIb IIIa) responsável pela agregação plaquetas-fibrinogênio Ex: abciximab e tirofiban IV Indicação: alta quantidade de trombos e no reflow (sem fluxo ou fluxo lento no stent) durante ICP primária – mesmo após dose de ataque de AAS + clopidogrel ou ticagrelor ou prasugrel Efeitos colaterais: sangramentos Heparina não fracionada (HNF): Anticoagulante Ação antitrombótica: o Ligação com antitrombina III (AT III) formando o complexo HNF-AT III o Inativa os fatores IIa (trombina), Xa, XIIa, XIa e IXa IV ou SC Ataque em bolus (não diluída em soro) de 5.000 UI + infusão contínua inicial de 1.000 UI ou 1.200 UI/hora (se > 80 kg) A dose de HNF foi ajustada para KTTPa entre 60 e 85s → deve-se controlar KTTPa a cada 6h Antídoto: protamina Heparina de baixo peso molecular (HBPM): Derivada da HNF por despolimerização química ou enzimática Efeito anticoagulante por ativação da ATIII Melhor ação anticoagulante por melhor inativação do fator Xa IV ou SC Dose: 30mg EV bolus e, após, 1mg/kg 2x/dia SC (se < 75 anos) o Se > 75 anos: 0,75 mg/kg/dia SC (não fazer bolus) o Se TFG < 30 ml/min: 1,0 mg/kg/dia SC (não fazer bolus) Não tem antídoto Ou seja: AAS + clopidogrel/ticagrelor/prasugrel + heparina Fondaparinux (anticoagulante): Agente sintético Inibe indiretamente o fator Xa e bloqueia a geração de trombina Sem ação nas plaquetas Usado em pacientes trombocitopênicos (< 100.000) Contraindicado em pacientes com IAMCSSR submetidos à ICP primária (estudos mostram maior risco de trombose de cateter) Nitratos: Vasodilatadores Controle da dor anginosa, hipertensão ou insuficiência cardíaca Não reduz mortalidade no IAM Não utilizar: PAS < 90 mmHg, bradi ou taquicardia, IAM do VD ou uso de inibidores da fosfodiesterade para disfunção erétil nas últimas 24-48h 3 Eduarda Rebés Müller Beta bloqueadores: ↓ FC, ↓ PA, inotropismo, ↓ consumo de O2 pelo miocárdio → melhora da perfusão miocárdica Contraindicações: hipotensão, bradicardia, BAV grau II ou III, história de asma não controlada (BB age na musculatura lisa dos brônquios, podendo causar broncoconstrição), DPOC grave, disfunção aguda do ventrículo Sua indicação no IAM está sendo questionada Uso com comprovação de redução de mortalidade na era pré-reperfusão (quando não havia tanto acesso ao cateterismo) Atualmente se inicia nas primeiras 24h do diagnóstico, em pacientes sem contraindicações Inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA): Ex: enalapril, captopril, ramipril Iniciar dentro das primeiras 24h após IAM Auxilia na redução do remodelamento miocárdico Contraindicações: estenose bilateral da artéria renal, gravidez, antecedente de angioedema Efeitos colaterais: tosse, angioedema, piora da função renal Se contraindicação ao IECA, valsartana é único BRA que pode substituir IECA (mas não é primeira escolha) Estatinas: Inibidores competitivos da HMG-CoA redutase Terapia com mais validade para reduzir risco de eventos cardiovasculares Prevenção primária e secundária de doença aterosclerótica Inibição da síntese hepática de colesterol → ↓ níveis sanguíneos de colesterol → ↑ da expressão do gene do receptor de LDL → o maior número de receptores de LDL sobre a superfície dos hepatócitos resulta em remoção aumentada de LDL no sangue Usar independentemente dos níveis lipídicos dosados na admissão → não necessariamente tem que ter histórico de dislipidemia Iniciar em até 24h após a admissão hospitalar Escolher as estatinas potentes em dose máxima VO Efeitos colaterais: mialgia e rabdomiólise Fibrinolíticos ou trombolíticos: Ex: alteplase, tenecteplase, estreptoquinase (não preferível – induz formação de anticorpos contra ela, se precisar usar por 2ª vez não é eficaz) Estratégia de reperfusão Utilizada quando ICP não ocorrerá em tempo hábil Quanto antes infundido, maior benefício em relação à preservação da função ventricular e redução da mortalidade o Uso na 1ª hora: 65 vidas salvas/1000 pacientes o Uso em 6-12h: 10 vidas salvas/1000 pacientes Riscos: sangramentos, hipotensão Contraindicações absolutas: sangramento intracraniano prévio, AVC isquêmico nos últimos 3 meses, dano ou neoplasia no SNC, trauma significante na cabeça ou rosto nos últimos 3 meses, sangramento ativo ou diurese hemorrágica, lesão vascular cerebral, dissecção aguda de aorta, discrasia sanguínea Contraindicações relativas: história de AVC isquêmico > 3 meses, doenças intracranianas, gravidez, uso de antagonistas da vitamina K, sangramento interno recente, ressuscitação cardiopulmonar traumática e prolongada, cirurgia de grande porte < 3 semanas, HAS não controlada, punções não compressíveis, úlcera péptica ativa, exposição prévia à estreptoquinase (para estreptoquinase) Não usar em caso de dúvida do diagnóstico de IAM devido ao risco de sangramento Resumo: MONA: morfina, oxigênio, nitrato, AAS BICH: betabloqueador, IECA, clopidrogrel, heparina 4 Eduarda Rebés Müller INFARTO SEM SUPRADESNIVELAMENTO DE ST (IAMSSST) E ANGINA INSTÁVEL: Dose de ataque + manutenção (AAS + clopidogrel ou prasugrel ou ticagrelor) ICP: o Indicada na internação para investigação da lesão o Indicadana emergência apenas se dor contínua, piora hemodinâmica, etc Miocardiopatias Doença primária do miocárdio Dilatada, hipertrófica ou restritiva MIOCARDIOPATIA DILATADA Causas: Doença arterial coronariana Doenças valvares Infecções virais Mutações gênicas Tratamento: tratar causa base + tratar conforme fração de ejeção (similar à IC) MIOCARDIOPATIA HIPERTRÓFICA Causas: Mutações gênicas: mutação c2067+1G “Coração de atleta” (fisiológico x patológico) Síndromes genéticas: Noonan, Fabry Tratamento: Se assintomático: sem evidência de medicamentos que possam mudar história natural da doença Se sintomático: conforme grau de obstrução da via de saída do VE (VSVE) e fração de ejeção do VE Betabloqueador (BB) e bloqueadores do canal de cálcio (BCC): para ↓ FC o Quanto mais batimentos, mais o septo comprime o VE (obstrução) Terapia invasiva de redução septal: se sinais de obstrução da VSVE e manutenção de sintomas mesmo em uso de BB e BCC não diidropiridínicos Miectomia cirúrgica: mais invasiva, evitada Ablação alcoólica septal 5 Eduarda Rebés Müller Avaliação do risco de morte súbita Em todos os pacientes, independentemente da etiologia, a cada 1-2 anos Alto risco: o Morte súbita abortada o História familiar de morte súbita o Espessura da parede ≥ 30 mm (aumenta risco de obstrução da VSVE) o Síncope inexplicada o Hipotensão durante teste ergométrico o Realce tardio significativo na RM o Taquicardia ventricular não sustentada no Holter Valvulopatias ESTENOSE VALVAR AÓRTICA Causa degenerativa ou congênita (bicúspide) Ecocardiograma ou RM – avaliação do grau Grave ou importante: o Área valvar ≤ 1 cm³ e/ou o Velocidade do jato regurgitante > 4 ms e/ou o Gradiente médio VE-Ao > 4 mmHg Cuidados no uso: Uso de diurético: reduz pré-carga - PÓS-TESTE! Betabloqueadores: reduz contratilidade, risco de sobrecarga de VE Vasodilatadores: podem reduzir perfusão coronariana Manejo: Manejo de hipertensão arterial Manejo de insuficiência cardíaca: IECA ou BRA + diurético (inicialmente em doses baixas) Intervenções: Cirurgia de troca valvar aórtica: válvula biológica ou metálica. É feito por esternostomia. o Válvula biológica: duração de 15-20 anos o Válvula metálica: dura para sempre. Como é um metal em local com fluxo sanguíneo (pode trombosar), o paciente precisa ser anticoagulado (varfarin para sempre). Implante de bioprótese aórtica transcateter (TAV): o Válvula biológica (porco ou boi) o Menos invasivo o Indicado para pacientes > 70 anos e com risco cirúrgico aumentado (pois só se sabe que ele tem duração de 10 anos – procedimento novo) Valvuloplastia aórtica por catéter-balão INSUFICIÊNCIA VALVAR AÓRTICA Causas: reumática, degenerativa, congênita (bicúspide), dilatação secundária a doenças de aorta Considerar intervenção cirúrgica: o Sintomas o Força de contração do ventrículo esquerdo (FE) < 50% o Diâmetro sistólico do VE > 50 mm (ou 55mm se reumático) o Diâmetro diastólico do VE > 70 mm (ou 75mm se reumático) Tratamento: Se sintomas e doença severa: diurético, IECA ou BRA, BB, mineralocorticoides (como em outras causas de IC) Cirurgia de troca valvar: o Tratamento de escolha o Troca valvar combinada com correção da aorta ascendente, quando indicada Implante transcelular de bioprótese aórtica (TAVI): requer estudos 6 Eduarda Rebés Müller ESTENOSE VALVAR MITRAL Causas: reumática, degenerativa Grave: área valvar mitral < 1,5 cm² Complicações: Insuficiência cardíaca Fibrilação atrial (remodelamento AE) o Anticoagulação com antagonista da vitamina K (Varfarin) → inibe os fatores de coagulação vitamina K- dependentes (II, VII, IX e X) o Os novos anticoagulantes (ex: xarelto) ainda não foram aprovados para fibrilação secundária a estenose valvar mitral Tratamento: Valvuloplastia mitral por cateter-balão Cirurgia de troca valvar Implante valvar mitral transcateter INSUFICIÊNCIA VALVAR MITRAL Primária: Causada por própria doença da valva Tratamentos: plástica de valva mitral, troca de valva mitral, clipagem percutânea da valva mitral (apenas em pacientes com alto risco de mortalidade por cirurgia cardíaca) Secundária: Causa: miocardiopatia dilatada Tratamento: o Tratar causa da dilatação do VE o Cirurgia é exceção – cirurgia de plástica ou troca valvar ou clipagem ESTENOSE VALVAR TRICÚSPIDE Causas: reumática, infecciosa Pouco frequente Podem ocorrer concomitantemente: hipertensão arterial, congestão e edema de membros inferiores, fibrilação atrial Tratamento: o Medicamentoso limitado aos sintomas o Valvuloplastia por balão e troca de válvula por cirurgia aberta – raro! INSUFICIÊNCIA VALVAR TRICÚSPIDE Maioria secundária Reumática IC direita → diureticoterapia IC direita + esquerda → IECA ou BRA + betabloqueador + diurético Intervenções cirúrgicas: o Plástica tricúspide com anel protético o Troca valvar cirúrgica o Implante valvar transcateter – em estudo Pericardiopatias Pericardite aguda, pericardite crônica, derrame pericárdico e tamponamento cardíaco, pericardite constritiva, pericardite recorrente Causas: infecciosas, doenças do sistema autoimune, doenças de órgãos adjacentes, doenças metabólicas, doenças neoplásicas, trauma, síndromes, idiopática Se derrame pericárdico: avaliar gravidade e risco de tamponamento Pericardiocentese: diagnóstica e de alívio 7 Eduarda Rebés Müller Tratamento medicamentoso AINEs Na suspeita de causa viral ou idiopática AAS: 500 a 750mg a cada 6-8h, por 7-10 dias, seguido de redução gradual de 500mg por semana, por 3 semanas Ibuprofeno: 400 a 800mg a cada 6-8h, por 14 dias Retirada de dose lenta e gradual Colchicina Interfere nas funções do citoesqueleto celular pela inibição da polimerização da β-tubulina em microtúbulos, inibindo a ativação, a degranulação e a migração dos neutrófilos Dose: o > 70kg: 0,5mg 12/12h o < 70kg: 0,5mg 1x/dia Duração: o Primeiro evento: 3 meses o Pericardite recorrente: 6 meses Efeitos colaterais: diarreia, hepatotoxicidade Corticoide - imunossupressão Indicação: o Pericardite aguda idiopática na ausência de resposta a AINEs e colchicina o Pericardite de etiologia autoimune, doença de tecido conectivo ou pericardite urêmica Dose: 1 mg/kg por 2-4 semanas – redução gradual da dose Opção: corticoide intrapericárdico (limitado por ser invasivo) Tratamento cirúrgico Pericardiectomia: Excisão do pericárdio Indicação: pericardite constritiva crônica (causa formação de aderências e calcificação) Objetivo: “liberar” os ventrículos do pericárdio aderido
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