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POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA - AULA 2

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10/12/2021 12:40 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 1/14
 
 
 
 
 
 
 
 
POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA
CONTEMPORÂNEA
AULA 2
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof.ª Kauana Puglia
10/12/2021 12:40 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 2/14
CONVERSA INICIAL
O Sistema Internacional de Direitos Humanos (isto é, a Lei Internacional dos Direitos Humanos), a
busca pela generalização e a padronização desse conceito e seus parâmetros norteadores surgiram
no final da Segunda Guerra Mundial. Em 1945, a Carta das Nações Unidas e a Declaração Universal
dos Direitos Humanos de 1948 deram um salto qualitativo. Nesse contexto, o objetivo desta aula é
apresentar a construção do sistema de direitos humanos no século XX, a evolução do sistema de
direitos humanos no pós-Guerra Fria, adentrando o século XXI, e como o Brasil contribui e pode
continuar contribuindo para a agenda e a solução de desafios referentes a ela.
TEMA 1 – DIREITOS HUMANOS NO SÉCULO XX E A FORMAÇÃO
DAS INSTITUIÇÕES
Historicamente, no contexto da Segunda Guerra Mundial e suas consequências, parecia
inevitável a comunidade internacional optar por avançar no campo dos direitos humanos.
Obviamente, era necessário estabelecer novos padrões diplomáticos, sociais, políticos e estratégicos
nessas relações e evitar a repetição de eventos observados. Esse compromisso foi originalmente
estabelecido na Carta das Nações Unidas, de 1945 (ou Carta de São Francisco).
A Carta das Nações Unidas elaborou princípios gerais com base nos quais deveriam ser
conduzidas as relações internacionais no pós-1945. Uma diferença que pode ser apontada diante dos
esforços prévios do século XX, especialmente a Liga das Nações, é o nível de compromisso dos
Estados com o estabelecimento deste novo sistema (Fonseca Junior, 2014). Dessa forma, os
vencedores da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos, a União Soviética, a França e Grã-
Bretanha desempenharam um papel de liderança nesse processo e agora são apoiados pelo Brasil e
outros países.
Existia vontade e prática políticas para construir um novo sistema multilateral em torno dos
valores democráticos e da proteção dos direitos humanos. Para esse fim, de acordo com Cardoso
(2012), é necessário formular uma lei para refletir os crimes típicos contra a humanidade e fornecer
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uma estrutura legal para julgamento e condenação. Também é necessário estabelecer um sistema
para implementar e verificar procedimentos de direitos humanos e um mecanismo para revisão
periódica.
Nas Nações Unidas, o estabelecimento do Conselho Econômico e Social (ECOSOC) e da
Comissão de Direitos Humanos (CDH) faz parte desse processo gradual de institucionalização.
Durante esse período, o Conselho de Direitos Humanos virou responsável por controlar as violações
dos padrões esperados de direitos humanos. Durante 1944-1945, outro grande desenvolvimento foi
o estabelecimento de um tribunal penal de guerra para punir os culpados de atrocidades cometidas
durante a Segunda Guerra Mundial. Segundo Cardoso (2012), o primeiro passo desse processo foi
disseminar a Carta de Nuremberg e classificar os seguintes crimes: guerra e guerra contra a
humanidade.
Os Tribunais Penais Internacionais permaneceram como um mecanismo excepcional que pode
ser invocado quando necessário. No entanto, foi criada em 1945 a Corte Internacional de Justiça (CIJ),
uma instituição permanente para lidar com contenciosos entre os Estados.
Na estrutura da ONU, a existência de um Conselho de Segurança (CSONU) e da Assembleia
Geral, com a ascendência do primeiro com poder de veto para seus cinco membros permanentes
(Estados Unidos, Reino Unido, China, França, União Soviética) também trará dinâmicas de cooperação
e conflito nos direitos humanos e em outros setores. A adesão às Convenções e Pactos de direitos
humanos é distinta entre os membros do CSONU, o que causa um problema de legitimidade e até
mesmo prático de abrangência das legislações (Ghisleni, 2012). No entanto, isso não impediu a
continuidade dos esforços iniciados em 1948,   levando à proclamação da Declaração Universal dos
Direitos Humanos (DUDH). A DUDH é o marco da internacionalização do sistema de proteção dos
direitos humanos.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos lista em seus trinta artigos uma série de temas e
situações que devem ser regulamentados: vida, liberdade, cultura, identidade, raça, etnia, sociedade,
desenvolvimento, condições de trabalho e bem-estar. É indispensável abordarmos tais temas se
queremos realmente desenvolver a construção dos direitos humanos.
Apesar das dificuldades e dos antecedentes da Guerra Fria, as décadas de 1950 e 1960 ainda
foram um período de desenvolvimento no campo humanitário. Uma das iniciativas mais importantes
desse período foi o estabelecimento de operações de manutenção da paz nas Nações Unidas. Elas
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não apenas visam o monitoramento mas também estabilizam e ajudam a resolver pacificamente os
conflitos que afetam diretamente o status da população civil.
O cenário internacional ainda era caracterizado pela polarização, mas trouxe novos
componentes: a recuperação econômica e social da sociedade afetada pela Segunda Guerra e o
surgimento de novos países derivados da descolonização afro-asiático, que traziam realidades e
agendas mais complexas para a arena internacional. A polarização Leste-Oeste acrescentou o tema
Norte-Sul, que enfatiza os aspectos sociais e econômicos das discussões multilaterais sobre
desenvolvimento, democracia, modernização, cooperação, cultura e direitos humanos.
Em 1989, o fim da Guerra Fria trouxe otimismo sobre a cooperação internacional, o
multilateralismo e a democracia. No entanto, da década de 1990 até hoje, observa-se que a trajetória
dos direitos humanos e dos mais diversos temas sociais não é linear.
TEMA 2 – DIREITOS HUMANOS NO PÓS-GUERRA FRIA
Entre 1990 e 1991, o sistema internacional foi caracterizado por várias guerras: a Guerra do
Iraque (1991), lançada pela coalizão internacional liderada pelos Estados a fim de repudiar a invasão
do Kuwait pelo Iraque, a Guerra da Iugoslávia (1992-1995) e conflitos com países africanos, como
Somália e Ruanda, todos possuindo consequências humanitárias. Os conflitos colocaram em xeque a
comunidade internacional sobre a questão dos tribunais internacionais, o papel da ONU antes,
durante e depois das guerras, que se somaram ao desafio de manter o processo de universalização
dos direitos humanos.
Sob tais circunstâncias, a ll Conferência Mundial sobre Direitos Humanos foi realizada em Viena,
em 1993. Segundo Trindade (2017), seu objetivo era tornar mais sólido o debate sobre direitos
humanos no contexto pós-Guerra Fria respondendo às demandas e transformações dos Estados
membros, de suas sociedades e dos desafios internacionais. Na inovação desse processo, destaca-se
a maior participação de organizações não governamentais e da sociedade civil com base em fóruns
específicos.
A Declaração e o Programa de Ação de Viena, documentos elaborados durante a conferência,
podem ser resumidos em quatro pontos:
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i. a afirmação consensual da natureza universal indubitável dos direitos humanos [...] ii. o
reconhecimento da importância das particularidades nacionais e regionais que devem ser levadas
em conta, mas em equilíbrio com os direitos humanos que devem ser respeitados [...] iii. a
reafirmação consensual do direito ao desenvolvimento como direito humano universal [...] iv. o
reconhecimento da legitimidade da preocupação internacional com os direitos humanos, cuja
promoção e proteção deve, ser um objetivo prioritário das Nações Unidas. (Alves, 2017, p. 159)
Em vista da Declaração, algumas iniciativas foram aceleradas, como o estabelecimento de
posições específicas no campo dosdireitos humanos nas Nações Unidas, a convergência de
expectativas no campo dos direitos humanos e a expansão do escopo do sistema jurídico existente.
Em relação à primeira iniciativa, um marco foi a criação do Alto Comissariado das Nações Unidas
para os Direitos Humanos (ACNUR), em conformidade com a resolução da Assembleia Geral 48/141,
de dezembro de 1993. Segundo Ramos (2017), o Escritório do Alto Comissário visa criar um espaço
de alto nível em todo o mundo para garantir e verificar o cumprimento dos padrões de direitos
humanos. O foco é promover os direitos políticos, econômicos, sociais e culturais e fortalecer os
mecanismos internacionais de cooperação e proteção.
A década de 1990 ainda trará dois grandes eventos nessa área: o início do debate sobre o
conceito de responsabilidade de proteger (R2P), em 1999, e o Estatuto de Roma, de 1998, que
estabelece o Tribunal Penal Internacional Permanente (TPI), que entra em vigor em 2002.
Em relação ao R2P, ele se referiu a mudanças no conceito de segurança e intervenção
humanitária, relacionadas à transformação das missões de manutenção da paz da ONU que foram
destacadas desde os anos 90 (Pecequilo, 2012). Além do aumento do número de operações de paz,
de acordo com o Relatório Brahimi (2000), suas missões também foram reavaliadas após a Guerra
Fria. Segundo esse relatório, as operações de paz têm três aspectos: prevenção, manutenção e
construção da paz.
No que diz respeito ao Tribunal Penal Internacional, a instituição é uma organização internacional
independente, com personalidade jurídica própria (Cardoso, 2012), e as ações tomadas em casos
graves têm impacto na paz e segurança internacionais. De acordo com Cardoso (2012), os crimes que
podem ser julgados são: de genocídio, contra a humanidade, de guerra e de agressão, cometidos
tanto por cidadãos de Estados parte do TPI, como por cidadãos de Estados não parte do TPI.
TEMA 3 – DIREITOS HUMANOS NO SÉCULO XXI
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Desde a II Conferência de Viena, alguns objetivos foram incluídos em um Programa de Ação
baseado nos princípios de universalidade, igualdade e direito ao desenvolvimento e medidas
específicas. O estabelecimento do ACNUR, o Tribunal Penal Internacional e o debate sobre o conceito
de Responsabilidade de Proteger (R2P) sintetizam essa dimensão prática. No século XXI, o ACNUR
desempenhou um papel fundamental nas questões de direitos humanos. Em 2002, o Tribunal Penal
Internacional foi estabelecido e outros regimes foram estabelecidos.
No entanto, essas iniciativas entraram em conflito com eventos internacionais que continuam
desafiando os princípios e valores dos direitos humanos. Desde o ataque terrorista nos Estados
Unidos, em 11 de setembro de 2001, diversos questionamentos emergiram diante das chamadas
situações de exceção. Nesse caso, atos que estão em conflito com convenções internacionais e leis
domésticas básicas – como a lei de exceção Ato Patriota norte-americano de 2001, que permitia a
prisão de suspeitos sem justa causa, o monitoramento secreto de cidadãos e práticas de
interrogatório similares à tortura (Pecequilo, 2012).
No que diz respeito à R2P, foi publicado em 2001 o relatório Responsabilidade de proteger pela
Comissão Internacional sobre Intervenção e Soberania Estatal (ICISS, 2001). O relatório estabeleceu os
princípios gerais do R2P, que foram adotados pelas Nações Unidas em 2005 sob a administração do
Secretário-Geral Ban Ki-moon. Como mencionado anteriormente, o R2P está relacionado ao novo
conceito de segurança humana, que confere à soberania nacional a capacidade e a eficácia de
proteger seus cidadãos, proporcionando-lhes segurança, saúde e bem-estar.
Em termos de aplicabilidade, não há consenso sobre o R2P e conceitos relacionados de
segurança humana e intervenção humanitária. Os principais pontos sensíveis referem-se à soberania
do Estado estar condicionada à segurança dos cidadãos; à aplicabilidade da intervenção humanitária,
como decidir o onde, como e quando com critérios uniformes e não sujeitos aos interesses políticos
dos Estados mais fortes; e, por fim, o escopo do mandato na intervenção, no pós-conflito e na
eventual reconstrução do Estado objeto da ação (que se sobrepõe às tarefas das operações de paz).
Com relação a esses pontos sensíveis, o Brasil desempenhou um papel importante na avaliação
do R2P e apresentou o conceito de responsabilidade ao proteger (responsibility while protecting –
RWP):
O conceito de “responsabilidade ao proteger” baseia-se nos seguintes princípios fundamentais: a
valorização da prevenção e dos meios pacíficos de solução de controvérsias; a necessidade de
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exaurir todos os meios não-violentos para a proteção de civis; a obrigação de que qualquer ação
militar seja sempre autorizada pelo Conselho de Segurança, limitada em seus elementos
operacional e temporal; e a necessidade de monitoramento e avaliação da implementação das
resoluções que autorizem intervenções. (Participação..., 2012)
A centralidade desta discussão, que ainda permanece no âmbito da ONU, pode ser comprovada
com base na realidade da experiência de intervenção na Líbia em 2011 sob o mandato do R2P. A
visão geral e os resultados das intervenções da OTAN lideradas pelos Estados Unidos indicam que
ainda existem dificuldades reais na estabilização do país e no processo de reconstrução política.
Relacionado a esses problemas, não apenas causados por eles, um dos desafios mais sensíveis
no atual sistema internacional é a situação dos refugiados. As inúmeras realidades de conflito e
turbulência política (Síria, Líbia, Ruanda, Sudão, Venezuela, por exemplo) levaram à migração de um
grande número de pessoas em busca de melhores condições de vida e segurança em outros países.
Na União Europeia, a situação restringiu o compromisso do Grupo com os direitos humanos e levou a
uma onda crescente de conservadorismo, xenofobia e racismo em muitos países.
Uma discussão adicional que precisa ser mencionada como parte da agenda dos direitos
humanos no século XXI refere-se à crescente relevância do tema justiça de transição, que lida com
situações de gerenciamento das situações de mudança de regimes autoritários para sociedades
democráticas. Em muitas dessas transições, Estados autoritários estabeleceram leis de anistia antes
que o poder fosse transferido para a sociedade civil, com o objetivo de garantir que os crimes
cometidos durante a ditadura não sejam punidos, independentemente de sua natureza.
TEMA 4 – BRASIL E O SISTEMA DE DIREITOS HUMANOS
Desde o início do século XX, o país exibiu posições de maior ativismo na defesa da ampliação do
sistema universal e as de recuo. O ativismo pode ser encontrado nas primeiras décadas do século XX
em Haia até a década de 1960. De 1960 a 1980, devido à efetiva implementação do regime militar, o
recuo prevaleceu até 1985, e uma atitude mais ativa foi restaurada desde a redemocratização. Esse
esforço é combinado ao objetivo de estabelecer a imagem do Brasil como uma nação que respeita e
garante os direitos humanos internacionalmente. Deve-se acrescentar que a adesão do Brasil aos
tratados internacionais de direitos humanos também simboliza sua aceitação do conceito
contemporâneo de globalização dos direitos humanos e a legitimidade da atenção da comunidade
internacional a esse assunto (Piovesan, 2000).
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A Constituição de 1988 foi um marco nesse processo e fortaleceu o compromisso do Brasil com
a adesão às normas do sistema internacional onusiano globalmente, regionalmente ao sistema
interamericano e a internalização destas legislações. É preciso enfatizar que as inovações propostas
na Constituição, especialmente na questão dos direitos humanos universais como princípios
norteadores das relações internacionais, são a base para a inclusão deinstrumentos de proteção dos
direitos humanos (Piovesan, 2000).
Em relação ao sistema interamericano, o Brasil é signatário dos principais documentos: da
Convenção Americana Sobre Direitos Humanos (1969), do Protocolo adicional à Convenção
Americana sobre Direitos Humanos (1978) e da Carta Democrática Interamericana (2001). No âmbito
dos projetos de integração regional, destacam-se os esforços do Mercosul para a promoção e
sustentabilidade da democracia com os Protocolos de Ushaia I e II (1998 e 2011) e a criação do
Instituto de Políticas Públicas em Direitos Humanos do Mercosul (IPPDHM) em 2009, ao qual o Brasil
aderiu em 2017.
4.1 AMPLIAÇÃO DO ATIVISMO NOS ANOS 1990
O processo de internalização dos tratados internacionais de direitos humanos no Brasil é
realizado pelos poderes Executivo e Legislativo. A autoridade executiva tem o poder de assinar
tratados (art. 84 da Constituição Federal) (Brasil, 1988), enquanto a responsabilidade do Legislativo
(art. 49) (Brasil, 1988) é ratificar (ou desaprovar) esses tratados. No campo dos direitos humanos, a
Emenda Constitucional n. 45 de 2004 foi aprovada em dois turnos, o que acelerou a implementação
de vários tratados e os transformou em lei (Mazzuoli, 2018).
Após a Segunda Conferência Mundial em Viena, o Brasil estabeleceu o primeiro Plano Nacional
de Direitos Humanos (PNDH) no governo Fernando Henrique Cardoso, em 1996. Em 1997, foi criado
o Ministério dos Direitos Humanos, com base no qual se desmembram secretarias especiais de
atuação que atuam na promoção dos direitos humanos, conforme as convenções assinadas pelo
Brasil como igualdade racial, mulheres, crianças e adolescentes, pessoas idosas e com deficiência,
LGBT, refugiados, combate à tortura e escravidão, mortos e desaparecidos políticos, diversidade
religiosa, população em situação de rua, empresas e direitos humanos, registro civil de nascimento e
educação em direitos humanos.
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O Conselho Nacional de Direitos Humanos também foi estabelecido. Internamente, o Brasil se
destaca na aprovação de leis importantes, como o Estatuto da Criança e do Adolescente (Brasil, 1990)
sobre a violência de gênero, e como a Lei Maria da Penha (Lei n. 11340, 2006). Em 2017, a nova Lei de
Imigração do país foi aprovada, com foco em direitos humanos.
A segunda edição do PNDH foi publicada em 2002. Desde 2009, a terceira edição do PNDH
encontra-se em vigor, criada sob a gestão de Luis Inácio Lula da Silva, cujas diretrizes são as
seguintes:
Eixo orientador I – interação democrática entre Estado e sociedade civil;
Eixo orientador II – desenvolvimento e direitos humanos;
Eixo orientador III – universalizar direitos em contexto de desigualdades;
Eixo orientador IV – segurança pública, acesso à justiça e combate à violência;
Eixo orientador V – educação e cultura em direitos humanos;
Eixo orientador VI – direito à memória e à verdade.
Em 2011, a Comissão Nacional da Verdade (Lei n. 12.528/2011) foi criada de acordo com as
recomendações sobre as responsabilidades da justiça de transição e convenções internacionais.
Nesse sentido, a Lei de Anistia Brasileira de 1979 foi declarada inválida pela Corte Interamericana de
Direitos Humanos em 2010. Até o momento, o Brasil ainda é inconsistente com a resolução e a
convenção internacional sobre justiça de transição (Ramos, 2017).
Uma das iniciativas mais recentes do Brasil é sua participação no Tribunal Penal International
(TPI) desde 2002; seu foco nas discussões sobre R2P e suas ações ativas no campo das operações de
paz, com foco na liderança da Minustah (Missão das Nações Unidas de Estabilização do Haiti
2004/2017). Desde 2010, o Brasil possui o Centro de Orientação para Operações de Paz, o Centro
Sergio Vieira de Mello, visando o aprimoramento de suas atividades nesta área, sucedendo o Centro
de Instrução de Operações de Paz.
Seja no Brasil ou no mundo, a agenda de direitos humanos está em constante expansão entre
progressos e contratempos. Com isso, Trindade (1993) destaca que o desafio é um longo processo de
estabelecimento de uma cultura universal de respeito aos direitos humanos. Esse desafio exige que
os países e a sociedade civil assumam compromissos de forma multidimensional.
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TEMA 5 – PACTO GLOBAL PARA MIGRAÇÕES
O século XX é um marco em grandes mudanças na dinâmica global. A globalização mudou a
maneira como os seres humanos se conectam, pois grandes mudanças nas indústrias de
telecomunicações e transporte criaram um ambiente propício à integração de nações, culturas e
mercados e ao intercâmbio de pessoas em todo o mundo.
No entanto, o mundo globalizado enfrenta enormes desafios, e a imigração em larga escala faz
parte das novas provocações impostas a nós pelo mundo globalizado. Agências e instrumentos
internacionais foram criados, como o ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os
Refugiados), a Organização Internacional para as Migrações (Organização Internacional de  Migração)
e a Pacto Global para Migrações, na tentativa de resolver ou mitigar questões relacionadas à
migração (Fontana; Zimnoch; Lorentz, 2017).
O Brasil é um dos 164 países que assinaram o Pacto, proposto pela Organização das Nações
Unidas (ONU). No entanto, no governo de Jair Bolsonaro, em 2019, as notícias da retirada do Brasil
do documento foram comunicadas às Nações Unidas. O próprio presidente Bolsonaro e o ministro
das Relações Exteriores, Ernesto Araujo, anunciaram a medida e acreditam que o acordo representa
uma perda de soberania do Brasil para resolver esse problema (Fellet, 2019).
5.1 PACTO GLOBAL PARA MIGRAÇÕES
O Pacto Global para Migrações Seguras, Ordeiras e Regulares (GCM) é uma resposta conjunta
dos países do sistema das Nações Unidas à atual crise migratória. O conceito da Convenção é que os
países não devem agir isoladamente ao enfrentar esta crise, mas devem tomar ações coletivas e
cooperar entre si para alcançar grandes resultados. O acordo da convenção vem da Declaração de
Nova York, de 2016, e tem como objetivo desenvolver diretrizes para resolver questões relacionadas à
migração (União Europeia, 2018).
O objetivo do Pacto Global é fornecer orientação para as ações dos países que o respeitam.
Baseia-se em uma análise aprofundada da migração internacional e propõe possíveis etapas. Entre
essas medidas, estão planejadas ações para controlar a imigração ilegal, combater o tráfico de
pessoas, gestão de fronteiras, cooperação de documentos entre países, transferências de fundos e
gestão da diáspora (União Europeia, 2018).
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Segundo as Nações Unidas (ONU, 2018), essas medidas são projetadas para trazer mais
segurança, ordem e supervisão de imigrantes e refugiados para os países receptores. Outro objetivo
da Convenção é promover a cooperação de maneira burocrática eficaz e reduzida. São consideradas
as medidas mais importantes (ONU, 2018):
Fornecer regularmente aos imigrantes documentos de identificação;
Facilitar o processo regular de migração;
Criar um banco de dados para fazer políticas públicas;
Cooperar para localizar imigrantes desaparecidos;
Combate ao tráfico de pessoas e introdução clandestina de migrantes;
Cooperação com embaixadas e consulados;
Gerenciamento de fronteiras;
Combate à xenofobia;
Cooperar para garantir a segurança e a sequência da migração;
Estabelecer um mecanismo para garantir a integração dos imigrantes na sociedade receptora;
Promover a convivência amigável com cidadãos nativos.
O Pacto foi impulsionado pela recente crise de refugiados, que as Nações Unidas consideram a
mais grave crise humanitária deste século. A crise atual já é o maior afluxo de refugiados, superando
o número da Segunda Guerra Mundial, que é considerada a maior crise de refugiados até hoje.
A Europa está se tornando o principal destino do mundo para imigrantese refugiados. A
aproximação geográfica e a aproximação linguística são aspectos que favorecem esse cenário. Ao
mesmo tempo, as Nações Unidas declararam que o continente europeu absorveu apenas 6% dos
refugiados do mundo. Segundo dados das Nações Unidas, o Reino Unido recebeu apenas 8.000
refugiados sírios, enquanto a Jordânia recebeu 665.000 refugiados (Nações Unidas, 2018).
NA PRÁTICA
A Constituição de 1988 pode ser considerada a estrutura legal para a transição democrática e a
institucionalização dos direitos humanos no Brasil, tendo feito progressos incontestáveis na legislação
para consolidar garantias e direitos básicos e proteger os grupos vulneráveis da sociedade brasileira.
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Considerando essa observação, leia os arts. 1º e 3º da Constituição brasileira. Veja que, dentre os
fundamentos que alicerçam o Estado Democrático de Direito brasileiro, destacam-se a cidadania e
dignidade da pessoa humana (art. 1º, incisos II e III). Portanto, a Constituição confere ao sistema de
direitos básicos a unidade de significado, valor e concordância prática.
Por sua vez, construir uma sociedade livre, justa e solidária, garantir o desenvolvimento nacional,
erradicar a pobreza e a marginalização, reduzir as desigualdades sociais e regionais e promover o
bem de todos sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação, é o objetivo básico do Estado brasileiro contido no art. 3º da Constituição de 1988. É a
primeira vez que a Constituição declara especificamente o objetivo do Estado brasileiro de alcançar a
dignidade humana na prática.
Agora, acesse o website do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos para obter
informações sobre as ações federais recentes do governo brasileiro na área e, com base no que você
leu, reflita: o Brasil vem obtendo sucesso na promoção dos direitos humanos baseada nos princípios
da Constituição? Se não, quais são os principais desafios que o governo precisa enfrentar para
caminhar em direção da melhor garantia dos direitos humanos no Brasil?
FINALIZANDO
Nesta aula, exploramos temas referentes à área de direitos humanos nas relações internacionais,
traçando um panorama do desenvolvimento dos direitos humanos nos séculos XX e XXI pelo mundo
e no Brasil. Discutimos as características, dificuldades e perspectivas associadas à universalização dos
direitos humanos, bem como observamos a posição do Brasil frente aos desafios e instrumentos
internacionais para a promoção dos direitos humanos.
REFERÊNCIAS
ALVES, J. A. L. Dificuldades atuais do sistema internacional de direitos humanos. Revista de la
Secretaria del Tribunal Permanente de Revisión, Assunción, v. 5, n. 10, out. 2017.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, Poder
Legislativo, Brasília, DF, 5 out. 1988.
10/12/2021 12:40 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 13/14
_____. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF,
16 jul. 1990.
CARDOSO, E. Tribunal Penal Internacional: conceitos, realidades e implicações para o Brasil.
Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2012.
FELLET, J. Em comunicado a diplomatas, governo Bolsonaro confirma saída de pacto de migração
da ONU. BBC News, 8 jan. 2019.
GHISLENE, A. P. Direitos humanos e segurança internacional: o tratamento dos temas de
Direitos Humanos no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Brasília: Fundação Alexandre de
Gusmão, 2012.
FONSECA JUNIOR, G. Apontamentos para o estudo da diplomacia multilateral do Brasil:
momentos fundadores e temas políticos das Nações Unidas. Tese (Doutorado em Estudos
Estratégicos Internacionais) – Universidade Federal do Rio Grande o Sul, Porto Alegre, 2014.
FONTANA, E.; ZIMNOCH, L.; LORENTZ, L. A. A crise migratória no século XXI: anomalia ou
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