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Resumo a respeito da geografia crítica

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Antes de falarmos diretamente da Geografia Crítica, vamos primeiro caracterizar "crítica" como uma postura que afronte a realidade e/ou a ordem constituída. Sendo assim a Geografia Crítica é considerada uma Geografia Militante por que aqueles autores que assumem essa postura lutam por uma sociedade mais igualitária, que pensam na geografia como um instrumento para libertar o ser humano.
Na apresentação da semana passada, eu brinquei falando que os autores da geografia crítica são como os tios chatos do jantar da família porque eles criticam tudo. E existem motivos para toda essa crítica: eles criticam o pensamento tradicional como um todo e em nível acadêmico eles criticam o empirismo da geografia tradicional pois se manteve presa a fundamentação positivista, criticam também a estrutura acadêmica por que repetiram vários erros como bloquear a criatividade dos pesquisadores e também criticam a despolitização ideológica do discurso geográfico que afastava dessa disciplina a discussão das questões sociais. Assim como o autor Antônio Carlos Moraes diz: “eles não deixam pedra sobre pedra”.
Os pioneiros nesse processo crítico fizeram uma bagunça na Geografia Tradicional, apontavam que a ideia de progresso era só uma desculpa para a expansão, mostravam que o trabalho dos geógrafos era voltado apenas para interesse do Estado, entre outras coisas. Assim, atingiram seu caráter ideológico queria a organização do espaço como harmônica e também via a relação homem-natureza de um jeito que acobertava as relações entre os homens. Basicamente eles diziam que as populações de um território eram homogêneas, que naturalmente não iriam se voltar para divisão da sociedade em classes. Dessa forma esses autores chamaram atenção para o caráter classista do discurso geográfico, a relação entre a Geografia e as dominações de classes.
O autor que formulou a crítica mais radical à Geografia Tradicional foi Yves Lacoste. Em seu livro “A geografia serve antes de mais nada para fazer a guerra”, ele argumenta que o saber geográfico manifesta-se em dois planos a "Geografia dos Estados-Maiores" e a "Geografia dos professores". Para ele, a primeira está ligada ao poder e seria feita ao se estabelecer estratégias de ação no domínio da superfície terrestre e citou como exemplo como todo conquistador tinha um projeto com relação ao espaço. A segunda é a Geografia que foi denominada de "Tradicional", que servia para mascarar a existência da Geografia dos Estados-Maiores e para levantar de uma forma camuflada, dados para a Geografia dos Estados-Maiores e assim fornecer informações sobre os lugares da terra sem gerar suspeita pois e assumir uma postura sem políticas.
Com um olhar amplo, percebe-se que a crítica de Lacoste é incisiva na Geografia como um instrumento de dominação da burguesia com alto potencial prático e ideológico. Constrói um conhecimento que é contra a geografia tradicional por que esse conhecimento abrange camadas da sociedade como os compromissos sociais e os posicionamentos políticos. Nisso Lacoste define seu trabalho como "guerrilha epistemológica", pois é um caminho revolucionário para renovação do pensamento geográfico que abrangeria os autores que tivessem uma perspectiva transformadora e que negassem a ordem estabelecida que veriam seu trabalho como instrumento de denúncia e como arma de combate enfim que proposto em geografia como um elemento na superação da ordem capitalista.
Para Lacoste, aqueles que detém o poder sempre possuem uma visão ampla do espaço devido a intervenção articulada em vários lugares porém o cidadão comum tem uma visão diminuta do espaço pois só consegue enxergar os lugares que abrangem o seu cotidiano que raramente conseguem informações rasas da realidade de outros lugares. Para ele "é necessário saber pensar o espaço, para saber nele se organizar, para saber nele combater".
A postura e os objetivos da Geografia Crítica são definidos pelo propósito expresso de Lacoste. Ela assume claramente um conteúdo político, que aparece de forma sucinta na afirmação de Milton Santos "o espaço é a morada do homem, mas pode ser também sua prisão". Com isso a renovação geográfica passa a ser pensada como uma prática revolucionária no sentido que não basta explicar o mundo pois cumpre transformá-lo.

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