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OBESIDADE SUMÁRIO 1. Introdução ..................................................................... 3 2. Epidemiologia .............................................................. 3 3. Fisiopatologia .............................................................. 4 4. Etiologias ....................................................................... 5 5. Triagem .......................................................................... 6 6. Avaliação do paciente obeso ..............................10 6. Comorbidades e síndrome metabólica ............13 7. Condutas .....................................................................17 Referências bibliográficas ........................................34 3OBESIDADE (NUTROLOGIA) 1. INTRODUÇÃO A obesidade pode ser conceitua- da como uma condição de acúmulo anormal ou excessivo de gordura no organismo, resultante de um balanço energético positivo, ou seja, de inges- ta superior ao gasto calórico. Os fato- res comportamentais e biológicos que contribuem para este balanço e para a regulação dos estoques de energia do corpo são influenciados pela sus- ceptibilidade individual e por fatores hormonais, culturais e genéticos. Durante a evolução, nossos ances- trais sobreviveram a um ambiente de escassez graças à sua capacidade de adaptação, criando uma complexa rede de regulação metabólica, para incrementar as reservas energéti- cas, maximizar o aproveitamento dos nutrientes e flexibilizar as fontes ali- mentares. A herança genética deter- minaria um fenótipo para responder à escassez de energia, ao longo da evolução humana, que, no ambien- te moderno, corresponderia a uma adaptação inadequada levando a gê- nese dessa epidemia. O desenvolvi- mento tecnológico atual contribuiu para a criação de um ambiente obe- sogênico, no qual a oferta suplanta em muito a demanda energética. Há 40 anos James Neel propôs a teoria do “genótipo econômico”, segundo a qual a natureza genética humana, privilegiou ao máximo o acúmulo li- pídico, determinando genes obeso- gênicos para acumular gordura nos breves períodos de fartura e estarem aptos a enfrentar os frequentes perí- odos de carência. Para Darwin (1859), “Não são os mais fortes de cada espécie que so- brevivem, nem os mais inteligentes, mas os que melhor respondem às mudanças ambientes”. Segundo essa teoria, diante de todas as mudanças ambientais e de estilo de vida, o ho- mem estaria em curso de extinção em razão das doenças metabólicas atu- ais como obesidade, a dislipidemia, o diabetes, se não fosse capaz de se adaptar, independentemente de sua força e inteligência. 2. EPIDEMIOLOGIA Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2025, a estima- tiva é de que 2,3 bilhões de adultos ao redor do mundo estejam acima do 4OBESIDADE (NUTROLOGIA) peso, sendo 700 milhões de indiví- duos com obesidade, (IMC ≥ 30). No Brasil, essa doença crônica aumentou 67,8% nos últimos treze anos, saindo de 11,8% em 2006 para 19,8% em 2018. A maior taxa de crescimento foi entre 25 a 34 anos (84,2%) e de 35 a 44 anos (81,1%). Hoje, no país, 20,7% das mulheres têm obesidade e 18,7% dos homens. A distribuição de gênero por região está disponível no site da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome metabólica (ABESO). Figura 1. Disponível em: https://abeso. org.br/obesidade-e-sindrome-metabolica/ mapa-da-obesidade/ 3. FISIOPATOLOGIA Como mencionado, a fisiopatologia da obesidade relaciona-se a um des- balanço entre a ingesta calórica e o gasto energético. Entretanto, diversos fatores podem influenciar nesse de- sequilíbrio, como questões endóge- nas (neuroendócrinas, metabólicas) e exógenas (ambientais) As questões ambientais decorrem, como mencionado, de uma maior disposição de alimentos, alimentos processados, sedentarismo, desen- volvimento tecnológico de meios de transporte e entretenimento, fatores psicossociais, uso de corticoide, an- tipsicóticos, etc. Já, para entender as questões endógenas é necessário conhecer o mecanismo normal de re- gulação da ingesta alimentar e acú- mulo de gordura. Os dois hormônios principais são: os hormônios periféri- cos e os moduladores centrais. Essas substâncias podem ser orexígenas (aumentam o apetite) ou anorexíge- nas (reduzem o apetite). 5OBESIDADE (NUTROLOGIA) 4. ETIOLOGIAS Como visto, a origem da obesidade é multifatorial, ocorrendo em 99% das vezes como causa primária, sendo a predisposição familiar um fator im- portante, tendo como genes mais co- mumente envolvidos o FTO e MC4R. As causas secundárias ocorrem em 1% das vezes, como decorrente de: HORMÔNIOS PERIFÉRICOS MODULADORES CENTRAIS OREXÍGENOS OREXÍGENOS ANOREXÍGENOS ANOREXÍGENOS Grelina neuropeptídeo Y (PYY), sistema endocanabinoide, proteína relacionada ao Agouti (AGRP), nor- adrenalina, hipocretinas, orexinas Serotonina, neurotensina, urocortina, ocitocina, interleucina1-beta, peptídeo CART (Cocaine and amphetamine-regulated transcript), hormônios liberadores de tireotrofina e corticotrofina (TRH/ CRH) e hormônio estimulador de melanócitos (MSH) GLP-1, colecistoquinina, leptina, amilina/insulina Assim, os fatores genéticos que po- dem influenciar incluem: polimorfis- mos do gene da leptina e algumas síndromes, como a Síndrome de Pra- der-Willi, além das próprias endocri- nopatias, como hipotireoidismo. SE LIGA! A adiponectina é um hormô- nio liberado pelo tecido adiposo, que não interfere diretamente no mecanismo da fome, entretanto tem a função de poten- cializar a ação da insulina, funcionando como um anorexígeno. Em quadro de deficiência insulínica (como na síndrome metabólica, doenças cardiovasculares), tem-se, portanto, um estado de resis- tência insulínica. 6OBESIDADE (NUTROLOGIA) 5. TRIAGEM O rastreamento da obesidade pode identificar pacientes de alto risco que, de outra forma, não receberiam acon- selhamento sobre riscos à saúde, mu- danças no estilo de vida, opções de tratamento para obesidade e redução dos fatores de risco. A avaliação de um paciente com sobrepeso ou obe- sidade deve incluir estudos clínicos e laboratoriais; as informações combi- nadas são usadas para caracterizar o tipo e a gravidade da obesidade, determinar o risco à saúde e fornecer uma base para a seleção da terapia. OBESIDADE SECUNDÁRIA ENDOCRINOPATIAS DROGAS INSULINOMA SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS (SOP) SÍNDROMES GENÉTICAS Síndrome de Cushing Haloperidol Corticoides Prader-Willli Deficiência de GH Antidepressivos tricíclicos Sulfoniureias Hipotireoidismo Anticonvulsivantes Glitazonas Alstrom Hipogonadismo Lítio Insulina Antagonistas adrenérgicos 7OBESIDADE (NUTROLOGIA) SAIBA MAIS: Durante a avaliação do paciente, algumas barreiras podem existir decorrente ao potencial estigma associado ao diagnóstico de obesidade. Dessa forma, o uso de uma linguagem mais sensível como “excesso” de peso, peso “prejudicial à saúde” e a educação sobre o número crescente de opções de tratamento pode melhorar o envolvimento do paciente. O Ministério da Saúde (MS) aceita que no idoso (definido no Brasil como ≥ 60 anos), o IMC normal varia de >22 a <27 kg/m² pela diminuição de massa magra e maior risco de sarco- penia (diminuição de massa, força e desempenho muscular e de incapaci- dade física). As medidas antropométricas devem ser obtidas sempre durante o exame físico do paciente a partir da mensu- ração da estatura e peso e cálculo do IMC. Além disso, deve ser feita tam- bém a medição da circunferência ab- dominal (CA), principalmente naqueles com IMC entre 25 e 35. A combinação de massa corporal (IMC) e distribuição de gordura (CA) é, provavelmente, a melhor opção para preencher a neces- sidade de avaliação clínica. Deve-se notar, a princípio, que não há avaliação perfeita para sobrepeso e obesidade, que pode variar de acordo com fatores étnicos e genéticos. Índice de Massa Corporal (IMC) É o primeiro passo para determinar o grau de excesso de peso. É uma fer- ramenta de fácilmensuração, confiá- vel e relacionada com a porcentagem de gordura corporal e massa de gor- dura corporal (estimativa melhor que o peso isolado). O cálculo é feito da seguinte forma: ÍNDICE DE MASSA CORPORAL PESO/ALTURA² (KG/M²) Magro ou baixo peso Obesidade grau I Sobrepeso ou pré- obeso Obesidade grau III ou grave Normal ou eutrófico Obesidade grau II <18,5 30 – 34,9 25 - 29,9 ≥40 18,5 – 24,9 35 – 39,9 ADAPTADO DE: Diretrizes Brasileiras de Obesidade. ABESO (2016) 8OBESIDADE (NUTROLOGIA) SE LIGA! O IMC não faz a distinção de massa magra e massa gor- durosa, o que pode superestimar o grau de adiposidade em indivíduos muito musculosos (atletas profissionais e fisiculturistas), idosos com es- tatura reduzida (por exemplo, por cifose, osteoporose) ou em indivíduos edemaciados. Já em pessoas idosas sem estatura reduzida, devido a perda de massa muscular associada ao envelhecimento, o grau de adiposidade pode ser subestimado. Outro aspecto é que o IMC não reflete a distribui- ção da gordura visceral (intra-abdominal), que corresponde a um fator de risco potencial para doença (independente da gordura corporal total). Por isso, realizar o IMC junto ao CA reduz essas limitações. SAIBA MAIS: Existem gráficos de IMC padronizados para faixa etária pediátrica, uma vez que em crianças, além da variação do peso, o IMC também varia com a altura e com a idade, não sendo ade- quada a sua aplicação direta. Circunferência abdominal (CA) A gordura abdominal é influencia- da pelo sexo, sendo em homens, em média, o dobro da quantidade de gor- dura abdominal em relação a mulher antes da menopausa. A fita métrica para medição da CA deve estar po- sicionada entre a margem inferior do rebordo costal e a crista ilíaca, na al- tura do maior perímetro abdominal, de forma que não comprima a cintura do paciente, esteja paralela ao chão e com paciente sob expiração normal (Recomendação da OMS). FIgura 2. Disponível em: https://www.uptodate.com/ contents/image?imageKey=ENDO%2F77584&topicKe- y=PULM%2F4316&search=obesity&rank=2~150&- source=see_link 9OBESIDADE (NUTROLOGIA) FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE DIABETES (FDA) CRITÉRIOS DE OBESIDADE VISCERAL CONFORME ETNIA Europídeos ≥ 94 cm (H); ≥ 80 cm (M) Sul-africanos, Mediterrâneos Ocidental e Oriente Médio Idem aos europídeos Sul-asiáticos e Chineses ≥ 90 cm (H); ≥ 80 cm (M) Japoneses ≥ 90 cm (H); ≥ 85 cm (M) Sul-americanos e América Central Usar referências dos sul-asiáticos SE LIGA! Outras medidas de circunfe- rências que podem ser usadas são: bra- quial, coxa, cervical e panturrilha. A cir- cunferência braquial (ponto médio entre o acrômio e o olecrano) e a da panturrilha são bons marcadores de estados de defi- ciência nutricional, sendo que esta última indica sarcopenia em idosos se < 31 cm. A circunferência da coxa (medida logo abaixo da prega glútea) tem alta correla- ção com o IMC, com gordura periférica, e tem correlação inversa com doença CV. A Federação Internacional de Diabe- tes (FDA) e OMS adotaram para eu- ropídeos o ponto de corte de 94 cm em homens e 80 cm em mulheres. Já de acordo com o National Cholesterol Education Program (NCEP) – Adult Treatment Panel III (ATP-III), o ponto de corte deve ser de 102 cm para ho- mens e 88 cm para mulheres. SAIBA MAIS! A relação circunferência abdominal/quadril (RCQ) foi inicialmente a medida mais comum para avaliação da obesidade central, mas há aproximadamente 20 anos reconheceu-se que pode ser menos válida como medida relativa. A medida da circunferência abdominal (CA) reflete melhor o conteúdo de gordura visceral que a RCQ e também se associa muito à gordura corporal total. Outras formas de avaliar peso e com- posição corporal são por somató- ria de medidas de pregas cutâneas (subescapular, tricipital, bicipital, su- prailíaca e da coxa), ultrassonografia e análise de bioimpedância. Essas são alternativas mais disponíveis e menos onerosas, em comparação às técnicas de imagem como ressonân- cia magnética e tomografia computa- dorizada. A ultrassonografia tem sido documentada para avaliar a gordura visceral e apresenta excelente corre- lação com a ressonância magnética e a tomografia computadorizada, po- dendo medir a espessura do tecido adiposo e tecidos mais profundos nas diferentes regiões corporais. Conside- ra-se bom método para quantificar o tecido adiposo intra-abdominal, com a vantagem de ser uma alternativa menos dispendiosa. A bioimpedância, 10OBESIDADE (NUTROLOGIA) ou impedanciometria elétrica baseia- -se no corpo humano ser composto por água e íons condutores elétricos (o tecido adiposo impõe resistência a passagem da corrente elétrica ao passo que o tecido muscular esque- lético, rico em água, é um bom condu- tor). A calorimetria indireta é um mé- todo muito pouco disponível, mas que pode ser útil na avaliação de desequi- líbrios do balanço energético. Pode identificar indivíduos com taxa me- tabólica de repouso baixa, que seria um indicador de risco para ganho de peso, em pacientes hipometabólicos, que podem necessitar de tratamento mais intensivo. Em uma avaliação, os objetivos e in- tervenções são diferentes de acordo com o tipo de prevenção (primária se- cundária ou terciária). Essas informa- ções estão dispostas na tabela abaixo. FASES DE IN- TERVENÇÃO DEFINIÇÃO E OBJETIVOS MÉTODOS DE PREVENÇÃO Primária Práticas gerais: Prevenir uma doença de ocorrer. Obesidade: Prevenir o desenvolvimento de sobrepeso e obesidade. Práticas gerais: Eliminar fatores de risco, remover causas ou aumentar resistência à doença. Obesidade: Educar o público, promover alimentação saudável e atividade física regular. Construir meio ambiente propício. Secundária Práticas gerais: Impedir progressão da doença na sua fase inicial antes de progredir para um estágio mais grave. Deter o processo da doença para prevenir com- plicações ou sequelas. Obesidade: Prevenir ganho de peso futuro e desenvolvimen- to de complicações relacionadas ao peso em pacientes com sobrepeso e obesidade. Práticas gerais: Usar um teste de rastreamento e diagnósti- co seguido por tratamento. Obesidade: Rastrear e diagnosticar usando IMC; avaliar a presença de complicações; tratar com in- tervenção de estilo de vida sem/com medi- camentos antiobesidade. Terciária Práticas gerais: Usar atividades clínica que reduzam complica- ções e previnam deterioração posterior. Obesidade: Tratar com terapia e medicamentos para perda de peso visando aliviar complicações relacionadas à obesidade e prevenir a progressão de doença. Práticas gerais: Usar estratégias de tratamento que limitem consequências adversas da doença. Obesidade: Tratar com intervenção de estilo de vida/ comportamental e medicamentos antiobesi- dade. Considerar cirurgia bariátrica. 6. AVALIAÇÃO DO PACIENTE OBESO Em pacientes com sobrepeso (IMC ≥ 25 km/m2) ou obesidade abdominal (Homem ≥ 94 cm; mulher ≥ 80 cm) deve ser avaliado a etiologia do ga- nho de peso e seu risco à saúde as- sociado. Essa investigação inclui uma 11OBESIDADE (NUTROLOGIA) história, exame físico, medição da glicemia em jejum ou hemoglobina glicada (Hb1Ac), colesterol HDL e tri- glicerídeos, podendo também solici- tar hormônio estimulador da tireoide (TSH) e enzimas hepáticas. A inter- venção subsequente, quando neces- sária será baseada nos resultados da história, exames físico e laboratorial. DADOS CLÍNICOS E LABORATORIAIS PARA AVALIAÇÃO DE PACIENTES COM SOBREPESO Sintomas de apneia do sono? Atividade física regular? Uso de medicações que aumentam o peso? Fatores de risco etiológicos Altura Triglicérides Peso HDL-c Circunferência abdominal IMC Glicemia jejum jejum Pressão arterial DISPONÍVEL EM: https://www.uptodate.com/contents/image?imageKey=ENDO%2F69717&topicKey=PC%- 2F5372&search=obesity&rank=2~150&source=see_link A investigação da etiologia deve se basear no comportamento do paciente, como sedentaris- mo e aumento de ingesta ca- lórica. Além disso, é importante tambémbuscar causas secun- dárias de obesidade, embora não sejam tão comuns, devem ser consideradas e descarta- das. É importante na investiga- ção o médico avaliar em relação ao ganho de peso e comporta- mento do paciente: Idade de início de ganho de peso Eventos associados ao ganho de peso Tentativas anteriores de perda de peso Mudança de padrões dietéticos Histórico de exercícios Medicamentos atuais e passados Histórico de tabagismo (cessação?) 12OBESIDADE (NUTROLOGIA) SE LIGA! É importante lembrar que medicamentos são uma causa co- mum de ganho de peso, em particular insulina, sulfonilureias, tiazolidinedio- nas, glicocorticoides, antipsicóticos e antidepressivos. Os achados do exame físico que po- dem apontar para uma causa secun- dária ou relacionada à obesidade in- cluem bócio (disfunção da tireoide); fraqueza muscular proximal, fácies lunar e/ou estrias roxas (síndrome de Cushing); e acne e/ou hirsutismo (sín- drome dos ovários policísticos [SOP]). A partir desses achados, testes adi- cionais podem ser necessários. FIgura 3, 4 e 5. Ganho de peso cursando com fácies lunar, acne, hirsutismo e estrias decorrente de síndrome de Cushing iatrogênica; (B) ganho de peso decorren- te de disfunção da tireoide; (C) ganho de peso com hirsutismo e acne decorrente de SOP. DISPONÍVEL EM: https://www.researchgate.net/figure/a-Patient- s-facial-appearance-3-months-after-therapy-wi- th-inhaled-fluticasone_fig2_230835669, https:// salud-salud-salud-saludsalud.blogspot.com/2017/01/ cancer-de-tiroides-sintomas-y.html, https://www. dermatologyadvisor.com/home/decision-support-in- -medicine/dermatology/polycystic-ovarian-syndrome- -stein-leventhal-syndrome-polycystic-ovarian-disease- -functional-ovarian-hyperandrogenism-ovarian-hyper- thecosis-sclerocystic-ovary-syndrome/ Avaliação do risco à saúde relacio- nado à obesidade é feito por meio do IMC, CA, identificação de fatores de risco cardiovascular (hipertensão, dislipidemia, hiperglicemia/diabetes, tabagismo), apneia do sono, doen- ça hepática gordurosa não alcoólica, osteoartrite sintomática e outras co- morbidades relacionadas à obesida- de. A coexistência de várias doenças, incluindo doença coronariana (DAC) estabelecida, outra doença ateros- clerótica, diabetes mellitus tipo 2 e 13OBESIDADE (NUTROLOGIA) apneia do sono, coloca os pacientes em uma categoria de risco muito alto para mortalidade subsequente. Além disso, a relação entre o IMC e o risco permite a identificação de categorias de IMC que podem ser usadas para orientar a seleção da terapia de perda de peso. 6. COMORBIDADES E SÍNDROME METABÓLICA A obesidade, particularmente a ab- dominal, está associada à resistência aos efeitos da insulina na utilização periférica da glicose e dos ácidos gra- xos, geralmente levando ao diabetes mellitus tipo 2. A resistência à insuli- na, a hiperinsulinemia e hiperglicemia associadas e as citocinas de adipóci- tos (adipocinas) também podem levar à disfunção endotelial vascular, um perfil lipídico anormal, hipertensão e inflamação vascular, todos promo- vendo o desenvolvimento de doença cardiovascular aterosclerótica (DCV). A co-ocorrência de fatores de risco metabólicos para diabetes tipo 2 e DCV (obesidade abdominal, hipergli- cemia, dislipidemia e hipertensão) su- gere a existência de uma “síndrome metabólica”. Segundo a Federação Internacional de Diabetes (IDF), os critérios de Síndrome Metabólica são: SÍNDROME METABÓLICA CRITÉRIO OBRIGATÓRIO MAIS 2 CRITÉRIOS DE 4 Circunferência abdominal ≥ 94 cm (H); ≥ 80 cm (M) (Europídeos, Sul-africanos, Mediterrâneos Oci- dental e Oriente Médio) ≥ 90 cm (H); ≥ 80 cm (M) (Sul-asiáticos e Chineses, sul-americanos e América Central) ≥ 90 cm (H); ≥ 85 cm (M) (Japoneses) Triglicerídeos: ≥ 150 mg/dl ou em tratamento HDL: < 40 mg/dl (H); < 50 mg/dl (M) PAS: ≥ 130 mmHg ou PAD: ≥ 85 mmHg ou tratamento Glicemia em jejum: ≥ 100 mg/dl ou diagnóstico prévio de diabetes. (Se glicemia > 99 mg/dl, o teste de tolerância à glicose é recomendado, mas não é necessário para diagnós- tico da síndrome metabólica). Algumas manifestações clínicas que pacientes com Síndrome Metabólica podem apresentar são: • Acantose nigricans: lesões hiper- pigmentadas e hiperceratósicas na pele. Podem se localizar, si- metricamente, nas axilas, virilhas, pescoço; • Esteatose hepática (EH): acúmulo de gotículas de lipídeos nos hepa- tócitos, podendo levar a hepato- megalia e alterações no USG (hi- perecogenicidade). A EH, caso não haja uma intervenção principal- mente nos hábitos comportamen- tais do paciente, pode culminar em 14OBESIDADE (NUTROLOGIA) cirrose hepática; • Hiperandrogenismo: apresen- ta-se com hirsutismo, acne, im- plantação masculina dos pelos, podendo vim acompanhado de SOP (múltiplos cistos ovarianos, amenorreia, esterilidade e o pró- prio hiperandrogenismo) FIgura 6 e 7. Acantose nigricans. DISPONÍVEIS EM: https://drasuzanavieira.med.br/2015/05/05/acantose-nigricante/, https://mipmed.com/Acanthosis-nigricans-axilas-dobras-cutaneas-escurecidas SAIBA MAIS: Outras manifestações da Síndrome Metabólica são hiperuricemia e a síndrome da apneia do sono • Resistência insulínica: O que você precisa saber do mecanismo normal para entender a resistência insulínica na obesidade é que os receptores de insulina são do tipo tirosina-quinase e que a ligação da insulina com esse receptor fosfo- rila resíduos de tirosina dentro do próprio receptor, levando a glico- gênese, lipogênese e proteogêne- se (por transporte da glicose pela GLUT-4). Em pacientes obesos, ocorre um estado de inflamação sistêmica com altas concentrações de ácidos graxos, fator de necrose tumoral (TNF) e outras citocinas inflama- tórias (IL-1, IL-6, INF-1), que cau- sam a ativação de uma enzima (PKC) que passa a fosforilar uma das subunidades do receptor de insulina, porém não em resíduos de tirosina, mas de treonina e se- rina. Esse padrão de fosforilação inadequado faz com que a sinali- zação da insulina também se torne deficiente, configurando um estado de resistência insulínica. Além dis- so, no indivíduo obeso, há um de- pósito de gordura visceral grande, 15OBESIDADE (NUTROLOGIA) a qual é naturalmente mais resis- tente a ação da insulina (adipócitos grandes com metabolismo desvia- do para lipólise, e não lipogêne- se). Dessa forma, liberam grandes quantidades de ácidos graxos li- vres (AGL) para a circulação portal e estes alcançam diretamente o fí- gado. Os AGL circulantes aumen- tam diretamente a produção de ci- tocinas inflamatórias no organismo e acentuam a resistência insulínica. Assim, o fígado vai se tornando re- sistente e, pela proximidade do te- cido adiposo visceral, ocorre uma inundação de AGL promovendo uma inflamação hepática precoce, resistência insulínica local e inca- pacidade de lidar com excesso de AGL, sendo depositado sob forma de esteatose hepática. • Falência pancreática: Além do comprometimento da ação da in- sulina, nos obesos também há re- dução da sua capacidade de sinte- tizar esse hormônio. Quanto maior a concentração de interleucinas e citocinas inflamatórias, maior o índice de apoptose e necrose das células beta-pancreáticas, decor- rente do depósito pancreático de substância amiloide. • Hipertensão Arterial Sistêmica: O tecido adiposo é capaz de pro- duzi muitas substâncias, como o angiotensinogênio e angiotensi- na II. Desta forma, a angiotensi- na II age diretamente causando vasoconstrição e, indiretamente, promovendo aumento da secreção de aldosterona, que levará a reab- sorção tubular renal de sódio. Além disso, no obeso, há maior ativação do sistema nervoso simpático por meio da leptina, insulina e ácidos graxos livres, levando a maior libe- ração de catecolaminas que pro- movem vasoconstrição periférica e elevação da pressão. Outros me- canismos, como a compressão re- nal devido a gordura visceral acar- retar um efeito mecânico sobre as artérias renais, levando a chegada de menos sangue no rimtambém contribuem para a instalação da hipertensão no obeso. • Hipertrigliceridemia: A concen- tração de triglicerídeos plasmática depende do somatório principal- mente de triglicerídeos presentes nas moléculas de quilomícrons (QM) e triglicerídeos presentes nas moléculas de VLDL sintetiza- das pelo fígado. Ressalta-se que, na obesidade, ambas as situações favorecem a elevação dos níveis de triglicerídeos séricos. Os QM são as moléculas de lipoproteínas que nosso organismo produz para transportar os triglicerídeos que são absorvidos pelo intestino. Os QM vão sendo metabolizados na corrente sanguínea pela enzima endotelial chamada de lipoprote- ína lipase (LPL), que vai retiran- do as moléculas de triglicerídeos, 16OBESIDADE (NUTROLOGIA) transformando-as em AGL e glicerol, que podem ser utilizadas para ge- rar energia ou são depositadas como tecido adiposo (lipogênese). Em situações de obesidade a LPL não funciona adequadamente, assim as QM não são adequada- mente metabolizadas e não são retiradas da circulação pelo fígado, levando a elevação do nível séri- co de triglicerídeos, às custas de hiperquilomicronemia. Na obesida- de, devido aos níveis elevados de AGL, há maior produção de VLDL, que são moléculas riquíssimas em triglicerídeos. A partir desses mecanismos, podem ocorrer acometimento de diversos sistemas do organismo, como os des- critos abaixo: AVE Depressão Distúrbios alimentares Distorção corporal HA S DAC Cardiomiopatia Fibrilação atrial ICC Trombose venosa profunda Insuficiência venosa Asma Dispneia Apneia do sono Glomerulopatias Incontinência urinária Osteoartrite Gota Discopatias Resistência insulínica Diabetes Melito 2 Hiperinsulinemia e SOP Dislipidemia CA de rim CA de fígado CA de mama Distorção corporal Fibrilação atrial Incontinência urinária CA de fígado Resistência insulínica Trombose venosa profunda CA de mama Hiperinsulinemia e SOP Dislipidemia Distúrbios alimentares Cardiomiopatia Glomerulopatias CA de rim Diabetes Melito 2 Insuficiência venosa Apneia do sono Osteoartrite AVE H DAC ICC Asma Gota Depressão Dispneia Discopatias 17OBESIDADE (NUTROLOGIA) 7. CONDUTAS Por conta de todos os riscos relacio- nados à saúde associados ao excesso de peso corporal, pessoas com IMC >25 kg/m2 são candidatas a interven- ções para perda de peso. O objetivo da terapia é prevenir, tratar ou rever- ter as complicações da obesidade, incluindo diminuição na qualidade de vida. Assim, para pacientes com: • IMC entre 24,9 e 30 kg/m2 que não apresentam fatores de risco para DCV ou outras comorbidades re- lacionadas à obesidade, o aconse- lhamento sobre a redução do peso é importante. Isso inclui conselhos sobre hábitos alimentares e atividade física. • IMC ≥30 kg/m2 ou entre 24,9 e 30 kg/m2 e com um ou mais fatores de risco para DCV (diabetes, hipertensão, dis- lipidemia), ou com apneia obstrutiva do sono ou os- teoartrite sintomática, de- vem ser aconselhados so- bre redução do peso (dieta, atividade física, modificação comportamental). O tratamento da obesidade deve ser sempre baseado em um conjunto de elementos: die- ta; exercício físico; tratamento medicamentoso (quando ne- cessário); tratamento cirúrgico (para casos refratários); e apoio psicoterápico, reestruturação cogniti- va e apoio social. Dieta A orientação dietética é fundamen- tal no tratamento da obesidade, sen- do o principal e fundamental fator no sucesso terapêutico, uma vez que a perda de peso será a consequência de uma ingestão calórica quantitati- vamente menor que o gasto energé- tico diário. Para iniciar um planejamento alimen- tar para o paciente, deve-se aplicar um questionário alimentar, conforme abaixo: 1. Qual a alimentação habitual e os horários? 2. Faz fracionamento das refeições? 3. Quais as quantidades, preferências, intolerân- cias, aversões e alergias alimentares? 4. Em que condições se alimenta? (come por que está com fome, por que está na hora de comer, por estar ansioso ou como válvula de escape?) 5. O que sente após ter comido? (saciedade, empachamento, sensação de ter comido de- mais, arrependimento?) 6. Como é o funcionamento do trato gastrintes- tinal: tem constipação intestinal? Intolerância a algum tipo de alimento? 18OBESIDADE (NUTROLOGIA) Após o questionário, avaliar o gasto energético do paciente para se pro- gramar a quantidade calórica da dieta a ser orientada. O gasto energético pode ser estimado, segundo a OMS, por meio da fórmula de Harris-Bene- dict que é feito da seguinte forma: Homens: 66,5 + 13,7 × (peso em kg) +5 × (altura em cm) – 6,8 × (idade em anos) Mulheres: 655,1 + 9,6 × (peso em kg) + 1,7 × (altura em cm) – 4,7 × (idade em anos) Multiplicar o valor final pelo fator de atividade: • 1,1, se sedentário • 1,3, se pratica exercícios físicos le- ves 1 a 3 vezes/semana • 1,5, se pratica exercícios físicos moderados 3 a 5 vezes/semana • 1,7, se pratica exercícios físicos in- tensos 6 a 7 vezes/semana • 1,9, se pratica exercícios físicos intensos 2 vezes/dia ou é atleta profissional SAIBA MAIS: Apesar da praticidade da fórmula, muitas vezes podem superestimar ou subestimar o gas- to energético de um indivíduo, uma vez que não levam em consideração a genética, nem a composição corporal, mas apenas o peso, altura, idade e sexo. Dessa forma a aplicação da fórmula em obesos superestima o gasto se utilizar o peso real e subestima se utilizar o peso ideal. Assim, aparelhos com a função de avaliação da composição corporal, como os de bioimpedância, conseguem mostra o gasto energético com uma acurácia maior do que as fórmulas isoladamente. SE LIGA! Para redução de peso, redu- zir 500kcal/dia, a perda esperada é de 0,5kg/semana. Ao se reduzir 1000 kcal/ dia, redução esperada de 1 kg/semana. Deve-se manter o tipo de alimento que o paciente gosta, com uma die- ta que seja mais familiar e próxima de suas preferências alimentares, ade- quando as calorias e fornecendo os macro e micronutrientes necessários. Segundo o Guia Alimentar para a Po- pulação Brasileira, publicado pelo Mi- nistério da Saúde, a alimentação bra- sileira deve ser composta de diversos grupos alimentares, respeitando as seguintes proporções: 19OBESIDADE (NUTROLOGIA) CARBOIDRATOS GORDURAS PROTEÍNAS OUTROS COMPONENTES 55 a 75% (< 10% de açúcar simples) 15 a 30% (< 7% saturada e <1% trans) 10 a 15% 6 porções ricas em carboidratos ao dia para dietas de 2000 kcal, sendo, pelo menos, uma de leguminosas e duas a três de frutas A maior parte da gordura consumida deve ser mono ou poli-insaturada, de preferência ômega-3. Incluem: carnes, aves, peixes, soja, leite e derivados, leguminosas, embutidos (presunto, peito de peru), ovos, cereais integrais e castanhas Incluem: pão, torrada, bolachas, arroz, massa, batatas, mandioca, grãos e cereais. Leguminosas: feijão, lentilha, ervilha, grão de bico Incluem: azeite de oliva, oleaginosas (castanha, nozes, amêndoas), abacate, óleo de peixe, óleo de soja, óleo de canola HORTALIÇAS: folhas, saladas, legumes, vegetais (3 porções/dia) FITOESTEROIS VEGETAIS (2 g/dia) COLESTEROL (< 200 a 300 mg/dia) FIBRAS (10 a 25 g/dia) SÓDIO (< 2,4 g/dia) 20OBESIDADE (NUTROLOGIA) Algumas dietas de emagrecimento são nutricionalmente corretas e con- sistentes com bons hábitos alimen- tares. Outras se apresentam como dietas milagrosas, que encorajam práticas irracionais, algumas vezes perigosas. Na percepção popular, a velocidade e a quantidade de perda de peso geralmente se confundem com o sucesso da dieta. Deve-se me- dir esse sucesso pela condição de se atingir e manter perda de peso clini- camente significativa. As dietas reco- mendadas pela ABESO são as dietas: balanceadas, de muitas baixa calorias, de substituições de refeições, DASH. Já as dietas da moda, sem evidências científicas de longo prazo de efetivi- dade englobam as dietas: “low carb”, “low fat”, do mediterrâneo, jejum in- termitente, sem glúten, sem lactose.Dietas recomendadas: • Dietas balanceadas: composta por 55 a 60% de carboidratos, 20 a 30% de gorduras e 15 a 20% de proteínas. As dietas balanceadas e suas variantes foram calculadas para promover um déficit de 500 a 1000 kcal, com um mínimo de 1000 a 1200 kcal/dia para mulhe- res e 1200 a 1400 kcal/dia para homens. O objetivo das dietas ba- lanceadas é permitir ao consumi- dor a escolha de maior variedade de alimentos, adequação nutricio- nal, maior aderência, resultando em perda de peso pequena, mas sustentada. Dietas com 1.000 a 1.200 kcal/dia resultam em perda de 7 a 13 kg (média de 8%) e re- dução na gordura abdominal me- dida pela circunferência abdominal em média de 10 cm, no período de seis semanas a seis meses. Quando a escolha de alimentos é apropriada, as dietas hipocalóricas balanceadas são nutricionalmente adequadas. Dietas hipocalóricas balanceadas, com quantidades moderadas de gorduras, reduzem o LDL colesterol, normalizam os triglicerídeos e diminuem a pres- são arterial. CHO Proteínas 55-60% 20-30% 15-20% Gorduras • Dietas de muito baixas calorias: Feitas com 400 a 800 kcal por dia e devem conter 0,8 a 1 g por kg/ peso ideal/dia de proteínas de boa qualidade e quantidades diárias recomendadas de minerais, vita- minas e ácidos graxos essenciais. São utilizadas como única fonte de nutrição durante 4 a 16 sema- nas e, em geral, são efetivas para pacientes que não obtiveram su- cesso com outros tratamentos ou 21OBESIDADE (NUTROLOGIA) que tenham comorbidades, sen- do necessária intensa supervisão. Bastante efetivas, principalmente inicialmente, com redução de 9 a 26 kg em 4 a 20 semanas. A lon- go prazo, não é efetiva, podendo cursar com ausência da redução do peso ou redução de até 4 kg. As dietas de muito baixas calorias são úteis para induzir rápida perda de peso e motivar o paciente mui- to obeso, mas devem ser seguidas por outro tratamento para manter a perda de peso. Os efeitos cola- terais são pode ser fadiga, fraque- za, tonturas, constipação, alope- cia, alterações menstruais, dentre outros. Atenção!! Essa dieta é contrain- dicada caso o paciente apresente doença cardiovascular, renal, he- pática e transtornos psiquiátricos que impeça a compreensão da dieta. • Substituições de refeições: Al- guns estudos foram feitos asso- ciados a substituições de refeições com acompanhamento médico, substituindo-as por shakes, so- pas e barras de cereais. A média de perda de peso foi de 6 kg, com redução variando de 3 a 9,5 kg, equivalente a 6,2%. Essa perda de peso associou-se à melhora na cir- cunferência abdominal, glicemia, hemoglobina glicosilada, insuline- mia, trigliceridemia, colesterolemia, nível da pressão arterial e quali- dade de vida. A longo prazo, de- monstrou resultados positivos no tratamento de diabetes, auxiliando no controle e manutenção da per- da de peso. SAIBA MAIS: A Herbalife vende suplementos nutricionais e fitoterápicos em comprimidos, cápsulas, be- bidas e barras energéticas para controle de peso, melhora da nutrição, bem estar e estética, através de estratégias de mercado on-line ou agentes de venda independente. Existem rela- tos publicados sobre lesões hepáticas após ingestão desses produtos em pelo menos 30 ca- sos de 5 países (Suíça, Israel, Espanha, Argentina e Islândia), com padrão de lesão predomi- nante hepatocelular, mas também observados padrões mistos e de colestase. A intensidade de lesão variou desde leve até lesão hepática grave, incluindo cirrose e insuficiência hepática aguda com necessidade de transplante de fígado em dois casos, com um desses pacientes evoluindo com óbito. A causalidade entre a ingestão de produtos Herbalife e evolução da le- são hepática foi avaliada em 5 de 6 relatórios e considerada como correta em, pelo menos, 5 pacientes por uma reação de reexposição positiva e provável na maioria dos casos restantes. 22OBESIDADE (NUTROLOGIA) o ganho. Defendem que a dieta rica em carboidratos deixa o indi- víduo menos satisfeito, resultan- do em mais fome, maior ingesta de carboidratos, maior produção de insulina, inibindo a liberação de serotonina cerebral e aumento de apetite. Em curto prazo, dietas cetogênicas, ricas em gorduras e escassas em carboidratos, causam maior perda de água do que de gor- dura corporal. As dietas escassas em carboidratos e ricas em gordu- ras, especialmente saturadas em colesterol, são também ricas em proteínas animais e deficientes em vitaminas A, B6 e E, folato, cálcio, magnésio, ferro, potássio e fibras. Portanto, requerem suplementa- ção. Pacientes nesse tipo de dieta podem cursar com halitose, dor de cabeça e litíase renal por oxalato, questionando-se a segurança car- diovascular do seu emprego a lon- go prazo. 10-20% 30-65% 20-30% Gorduras ProteínasCHO • Dieta “low fat”: historicamente foram desenvolvidas para preve- nir ou reverter doença cardiovas- cular e não para perder peso. São dietas ovolactovegetarianas, com- postas por vegetais, frutas, grãos • Dieta DASH (dietary approach to stop hypertension): Foi uma die- ta desenvolvida especificamente para pacientes obesos e hiperten- sos, a qual incentiva o consumo de frutas, legumes, cereais integrais, nozes, sementes, lácteos com bai- xo teor de gordura, carnes magras e, principalmente, limitando o con- sumo de sal, bebidas cafeinadas e alcoólicas. Não há limite diário de calorias, mas costuma cursar com perda de peso aliada a redução da pressão arterial. SE LIGA! O aumento da ingesta calóri- ca no início do dia, ao invés do final do dia, pode contribuir para o controle do peso, por influência do ritmo circadiano. Um estudo mostrou que o aumento da ingesta pela manhã promoveu uma per- da de peso de cerca de 6 kg a mais que uma ingesta ao final do dia. Dietas da moda • Dieta “low carb”/cetogênica: composta de 55% a 65% de gor- dura (variando em algumas lite- raturas de 30-50%), 25% a 30% de proteínas e menos de 20% de carboidratos (até 100 g por dia). A mais famosas delas são a Dieta Revolucionária do Dr. Atkins, publi- cada em 1972, e, a mais recente, Duncan e a dieta paleolítica. Essas dietas ignoram o conceito de que a ingesta calórica é importante tanto para a perda de peso, quanto para 23OBESIDADE (NUTROLOGIA) integrais, feijão, moderada quan- tidade de ovos, laticínios escassos em gorduras, produtos de soja e pequenas quantidades de açúcar e farinha. São dietas que promovem menor ingestão de calorias, levan- do a perda de peso (a quantidade de calorias ingeridas é mais impor- tante que a composição dietética). Dietas escassas em gorduras, ri- cas em carboidratos complexos, em fibras e hipocalóricas resultam em diminuição da pressão arterial, da glicemia e dos níveis de insulina em pacientes obesos e diabéticos. <20% Gorduras Proteínas 55-60% 15-20% CHO • Dieta mediterrânea: Existem evi- dências de que a substituição de gordura saturada por gorduras monoinsaturadas, como azeite de oliva, abacate e nozes, pode me- lhorar o perfil lipídico e o contro- le glicêmico, além de auxiliar na perda de peso (por diferenças na captação, oxidação e efeito sobre o apetite). Composta tipicamente por 40% de energia de gorduras, principalmente monoinsaturadas, e 40% de carboidratos. Um estudo concluiu que essas dietas são efi- cientes na perda de peso, podendo ser utilizada como alternativa às dietas hipocalóricas. A longo prazo não há evidências. 30-40% > 40% 20-30% Gorduras ProteínasCHO SE LIGA! O guideline de sobrepeso e obesidade da AHA/ACC/TOS (2013) recomenda qualquer dieta que promova déficit calórico e que forneça < 30% do total de calorias de fonte de gordura e < 10% de gordura saturada. Exercício físico O exercício físico é fundamental não só para a obtenção da perda de peso desejada, mas, principalmente, para a manutenção do peso perdido. Vá- rios estudos mostram que a ativida- de física é um dos principais fatores que determinam se a pessoa conse- guirá manter ou não o peso perdido.O exercício físico favorece o balanço energético negativo, promove lipólise, aumenta a sensibilidade à insulina e a produção de adiponectina, assim como reduz a síntese de adipocinas pró-inflamatórias. A realização de ati- vidade física aeróbica em moderada quantidade produz aumento da taxa metabólica basal, que pode perma- necer mais elevada por até 48 h após a realização do exercício físico. Além disso, há todos os benefícios cardio- metabólicos dos exercícios físicos em 24OBESIDADE (NUTROLOGIA) reduzir o risco cardiovascular, diabe- tes, hipertensão arterial, dislipidemia, entre tantos outros fatores de risco. Para prevenir o ganho de peso e fa- vorecer a manutenção de peso, a re- alização de 150 a 200 min semanais de atividade física de intensidade moderada são suficientes (ex., 1 h de exercício 3 vezes na semana), o que corresponde a um gasto de 1.000 a 2.000 kcal/semana pela atividade físi- ca. Já para promover perda de peso, a quantidade de exercício físico pres- crita deve ser maior, algo em torno de 225 a 420 min/semana de exercício de intensidade moderada (p. ex., 1 h de exercício 5 a 7 vezes na semana). Estudos mostram que há maiores be- nefícios cardiovasculares e metabóli- cos quando são realizadas atividades físicas intervaladas, que consistem naquelas em que os exercícios aeró- bicos de intensidade moderada são intercalados com intervalos mais cur- tos de exercícios aeróbicos de inten- sidade maior (chamados “tiros”). Os tiros causam liberação de epinefrina, norepinefrina e aminas que ativam o sistema adrenérgico do indivíduo, promovendo elevação da taxa meta- bólica basal, da lipólise, além de se- rem mais eficientes na promoção de melhor capacidade física aeróbica a longo prazo no indivíduo. Já o exer- cício físico de resistência (anaeróbi- co) promove pouca oxidação lipídica, pois tem como principal fonte ener- gética os carboidratos, sobretudo o glicogênio muscular. Estudos mos- tram que a realização desse tipo de exercício físico isoladamente não é capaz de reduzir a quantidade de gordura corporal, mas sim de promo- ver aumento da massa magra. Resumindo: Para os pacientes obe- sos ou com sobrepeso almejando a perda de tecido gorduroso, o princi- pal tipo de exercício a ser prescrito é o aeróbico de moderada intensidade, idealmente intercalado com períodos de intensidade mais elevada, confor- me a capacidade física do paciente. Algo em torno de 300 min/semana para perda de peso, e 180 min/sema- na para manutenção do peso perdido. Caso seja possível, a associação com atividade física de resistência 2 a 3 vezes/semana seria o ideal, para evi- tar grandes perdas de massa magra. Outras medidas úteis • Automonitoramento da dieta por meio de diário alimentar • Conhecer o valor energético dos alimentos • Ler os rótulos alimentares • Prestar atenção no modo de pre- paro dos alimentos • Fracionar refeições (5 a 6x/dia) • Tomar café da manhã diariamente • Realizar atividade física frequentemente 25OBESIDADE (NUTROLOGIA) • Se alimentar antes e depois da ati- vidade física • Comer devagar e mastigar bem os alimentos • Não se alimentar assistindo à televisão • Automonitoramento do peso por meio de balança (1x/semana, nas mesmas condições, preferencial- mente pela manhã após esvaziar a bexiga) • Não fazer compras no mercado de estômago vazio • Comer em casa antes de eventos sociais Tratamento medicamentoso Como toda doença crônica, o tra- tamento farmacológico inicia-se na prevenção secundária para impe- dir a progressão da doença para um estágio mais grave e prevenir com- plicações e deterioração posterior. O tratamento medicamentoso é uma arma que pode ajudar determinados tipos de pacientes a controlar melhor o seu padrão alimentar, para que si- gam a dieta prescrita com mais faci- lidade e menos sofrimento, tornando a adesão à dieta e, portanto, o suces- so terapêutico muito maior em casos específicos. Vale sempre lembrar aos pacientes que o medicamento sozi- nho não é suficiente para emagrece- -lo. É necessário basear-se no tripé: mudanças dietéticas, atividade físi- ca, associados ou não a tratamento medicamentoso. São indicados para o tratamento me- dicamentoso, quando falha no trata- mento não farmacológico em pacien- tes com: IMC ≥ 30 kg/m2 IMC ≥ 25 kg/m2 + comorbidades IMC normal + aumento de CA + comorbidades Considera-se um sucesso da terapia medicamentosa quando atinge uma perda de peso clinicamente útil que resulte em benefícios sobre as doen- ças associadas, como diabetes tipo II, hipertensão e dislipidemia. SE LIGA! Uma perda de peso sustenta- da de 5% em 3 a 6 meses é um critério mínimo de sucesso, pois leva a melhora de doenças associadas. A meta de perda de peso inicial deve ser realista, mas sig- nificativo, estimando-se entre 5 a 10% do peso inicial em 6 meses. A longo pra- zo, o sucesso depende da vigilância na adequação do nível de atividade física e de controle de ingestão de alimento, além de outros fatores, como apoio so- cial, familiar e automonitorização. Os fármacos aprovados no Brasil para uso especificamente para diabe- tes, ou seja, as medicações on label, são: sibutramina, orlistate, liraglutida 26OBESIDADE (NUTROLOGIA) e lorcaserina. As anfetaminas, como mazindol, anfepramona, femporpo- rex, foram suspensas pela ANVISA, em 2011, devido aos efeitos adver- sos serem maiores que os benefícios, dentre eles hipertensão, ansiedade e psicose. Porém, em 2014 a ANVISA liberou novamente a comercialização desde que “sejam apresentados da- dos que comprovem a eficácia e se- gurança, de acordo com as normas sanitárias vigentes”. Outras medicações que podem ser utilizadas no tratamento da obesida- de foram inicialmente desenvolvidas para o tratamento de outras doenças, sendo utilizados off label para obesi- dade. O Conselho Federal de Medici- na (CFM) considera que o uso de me- dicamentos off label é ético quando há evidência de potencial benéfico e a terapia padrão foi ineficaz. Tais me- dicações são: topiramato, bupropiona + naltrexona, lisdexanfetamina e ini- bidores de recaptação de serotonina. ON LABEL Sibutramina A sibutramina é uma droga sacietó- gena e anorexígena, que atua bloque- ando a recaptação de noradrenalina e serotonina no SNC. Apresenta be- nefícios tanto para sobrepeso, obesi- dade, quanto para as comorbidades, sendo eficaz em melhorar parâme- tros da síndrome metabólica, como glicemia em jejum, triglicerídeos e HDL-c. Os efeitos colaterais ocorrem em 10 a 20% dos casos, podendo cursar com boca seca, obstipação, cefaleia e insônia; irritabilidade, an- siedade, náuseas e taquicardia são menos comuns. Há algumas contro- vérsias em relação ao uso dessa dro- ga, sendo já proibida em alguns pa- íses, em relação às modificações na pressão arterial (pequenas diminui- ções e aumentos), aumento de fre- quência cardíaca e aumento dos des- fechos cardiovasculares, como IAM e AVC. Por esse motivo, pacientes hi- pertensos devem ser acompanhados com controles constantes dos níveis pressóricos e da frequência cardíaca e é contraindicada em pacientes com história de doença cardiovascular, in- cluindo doença arterial coronariana, acidente vascular cerebral ou ataque isquêmico transitório, arritmia cardía- ca, insuficiência cardíaca congestiva, doença arterial periférica ou hiperten- são não controlada (acima de 145x90 mmHg). 27OBESIDADE (NUTROLOGIA) Nome comercial: BioMag Uso: As doses habituais de cloridrato de sibutramina estão entre 10 e 15 mg/dia e dose máxima de 20 mg/dia em casos selecionados Custo: 30 a 60 reais/mês SE LIGA! A prescrição da sibutramina deverá ser realizada por meio da Noti- ficação de Receita tipo B2, com assina- tura do termo de responsabilidade do prescritor. Orlistate Apresenta ação intestinal, inibindo li- pases pancreáticas e reduzindo em 30% a absorção das gorduras que são eliminadas com a excreção fecal. Menos de 1% da medicação é absor- vida e não há ação em SNC. Possui benefícioem sobrepeso, obesidade e síndrome metabólica, com redução da circunferência abdominal, IMC, pressões arteriais sistólica e diastó- lica, glicemia em jejum, hemoglobina glicada, colesterol total e LDL-c. Não apresentou benefícios na redução de triglicérides, nem aumento do HDL-c. Os efeitos adversos foram fezes amo- lecidas, presença de óleo nas fezes, urgência fecal, incontinência fecal, fla- tulências e, menos frequentemente, dores abdominais e retais. Esses são sintomas que ocorrem mais no início do tratamento e são reduzidos com a continuidade do mesmo e com a redução da quantidade de gorduras ingeridas. Apesar de ser uma droga pouco absorvida, pode interferir com a absorção de drogas lipofílicas, como amiodarona, varfarina, ciclosporina, la- motrigina e anticonvulsivantes. Alguns estudos estabeleceram relação entre o orlistate e insuficiência hepática aguda grave. Por esses motivos essa droga é contraindicada para pacientes com síndrome de má absorção crônica, co- lestase ou em pacientes em uso das medicações supracitadas. Nome comercial: Xenical Uso: Iniciar com 1 comprimido por dia. Pode ser utilizado 3 vezes ao dia, antes ou até uma hora após as principais refeições, em cápsulas de 120 ou de 60 mg. Indivíduos que ingerem pouca gordura no café da manhã podem utilizar apenas no almoço e no jantar. Custo: 200 reais/mês (80 a 120 reais caixa 42 comp) 28OBESIDADE (NUTROLOGIA) SAIBA MAIS: Estudos clínicos em indivíduos com sobrepeso e obesos indicam que doses de 60 mg de orlistate, 3 vezes ao dia, nas principais refeições, promovem perda de peso de aproximada- mente 85% da dose de 120 mg. e perfil lipídico. Os efeitos adversos foram relacionados ao trato gastroin- testinal, como náuseas, vômitos, diar- reia e, particularmente em indivíduos que perderam mais peso, colelitíase. Há um possível aumento do número de casos de pancreatite e neoplasia de pâncreas pelo uso de terapias ba- seadas em incretinas, mas que, até o momento, não há associação causal com a droga. É uma droga contraindi- cada em gestantes. Nome comercial: Saxeneda Uso: Dose inicial de 0,6 mg, titulada em 4 semanas, sendo até 3 mg/dia via subcutânea. Custo: 500-800 reais SE LIGA! O orlistate, sendo um medica- mento que não tem ação central, pode ser associado às demais drogas an- tiobesidade. Inclusive a associação com sibutramina é a mais utilizada por espe- cialistas. Alguns estudos concluíram que a redução de peso com a combinação de orlistate e sibutramina foi mais efetiva do que a monoterapia com orlistate, mas não foi superior ao uso de sibutramina isoladamente. O orlistate também pode ser utilizado associado ao femproporex e à anfepramona (quando provado o be- nefício superior ao risco para o paciente) Liraglutida É um agonista do peptídeo seme- lhante ao glucagon-1 (GLP-1), que possui ação hipotalâmica em neurô- nios envolvidos no balanço energé- tico, em centros ligados ao prazer e recompensa e uma ação menor na velocidade de esvaziamento gástri- co. Apresenta benefícios na redução do peso, da glicemia em jejum, he- moglobina glicada, insulina, melhora dos parâmetros de pressão arterial SAIBA MAIS: É uma droga aprovada para tratamento de DM2 (2010), sendo benéfica em até 1,8 mg/dia. Foi aprovada para tratamento da diabetes em pacientes não diabéticos, em 2014, pelo FDA e, em 2016, pela ANVISA. 29OBESIDADE (NUTROLOGIA) Locarsserina Foi aprovada pela ANVISA em 2016. É um agonista seletivo de ação central, que age no receptor 5-HT2C, aumen- tando a saciedade e inibindo a fome. Apresentou melhora estatisticamente significativa de pressão arterial, fre- quência cardíaca, perfil lipídico, glice- mia em jejum, insulina e hemoglobina glicada (de 0,9%). Mostrou seguran- ça em relação ao risco de valvopatias (presente em outras medicações ago- nistas não seletivos de 5-HT). Os efei- tos adversos relatados foram cefaleia, náuseas, vertigem, boca seca, consti- pação, fadiga, hipoglicemia, dorsalgia e tosse. É contraindicado para pacien- te em uso de medicações antidepres- sivas ou com efeito serotoninérgico, gestantes e menores de 18 anos. Nome comercial: Belviq Uso: Dose de 10 mg, 2x/dia. Custo: 300 reais/mês OFF LABEL Topiramato Age sobre diversos neurotransmis- sores, tendo efeitos inibitórios so- bre receptores de glutamato. É uma medicação aprovada para tratamento de epilepsia e enxaqueca. Tem uma eficácia comprovada na redução de peso com continuação da perda por até mais de um ano de tratamento, po- rém apresenta um número elevado de efeitos adversos. Tais efeitos são: pa- restesias, alterações de memória, di- ficuldade de concentração, alterações do humor, teratogenicidade (fendas orais), potencial de interferência com a farmacocinética de contraceptivos orais, litíase renal (eleva levemente o pH urinário), acidose metabólica, mio- pia aguda. É contraindicado e pacien- tes com glaucoma de ângulo fecha- do, nefrolitíase, insuficiência hepática e mulheres em idade fértil devem ser alertadas sobre toxicidade fetal. Nome comercial: Topamax Uso: Iniciar com 25 mg à noite, aumentando de forma progressiva até 1 a 2 semanas, conforme tolerado. Evitar dose acima de 200 mg/dia. Custo: 200 reais (genérico 25 mg – 40 reais, 50 mg – 65 reais, 100 mg – 125 reais). Bupropiona + naltrexona A bupropiona atua sobre os recepto- res adrenérgico e dopaminérgicos no hipotálamo, enquanto a naltrexona é um antagonista do receptor opioide. Isoladamente apresentam efeitos mí- nimos na perda de peso, mas a com- binação, principalmente nas formas de liberação lenta de ambos fármacos 30OBESIDADE (NUTROLOGIA) leva a sinergismo por ação do neurô- nio da POMC. Apresentou benefícios em estudo com obesos e diabéticos de perda de peso e melhora da he- moglobina glicada. As reações ad- versas mais comuns foram: náuseas, constipação, dor de cabeça, vômitos e tonturas. Apresenta um potencial de interação medicamentosa com os ISRSs ou inibidores da MAO. É con- traindicado em epilepsia, em uso de inibidores da MAO nos últimos 14 dias, anorexia ou bulimia, uso de an- tidepressivos serotoninérgicos, cate- colaminérgicos, tentativa de cessar alcoolismo, uso crônico de opioides. Nome comercial: Contrave Uso: 1 comprimido (naltrexona 8 mg/ bupropiona 90 mg) pela manhã na 1ª semana. Na 2ª semana, 1 comprimido 2x/ dia, sendo 1 comprimido pela manhã e 1 à noite. Na 3ª semana, 1 comprimido 3x/dia, sendo 2 comprimidos pela manhã e 1 comprimido à noite. E na 4ª semana, 2 comprimidos, 2x/dia, sendo 2 pela manhã e 2 pela noite. A dose total diária deve ser naltrexona 32 mg/ bupropiona 360 mg. Custo: 330 reais SE LIGA! A titulação da droga é feita com 90 mg de bupropiona SR e 8 mg de naltrexona SR. Entretanto, no Brasil, dispomos apenas de bupropiona de li- beração lenta na dose de 300 mg e da naltrexona na dose de 50 mg de libera- ção convencional, o que faz as reações adversas serem mais intensas. Lisdexanfetamina Atua inibindo a recaptação de do- pamina e norepinefrina e promove a liberação de neurotransmissores de monoamidas. É aprovado para o tratamento de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) a partir de 6 anos de idade. O FDA aprovou esta medicação para o tra- tamento de transtorno de compulsão alimentar periódica (TCAP) em ja- neiro de 2015. Os doentes tratados com essa medicação apresentaram 2,6 vezes mais chances de não apre- sentar episódios de compulsão ali- mentar com maior redução dos dias de compulsão por semana, melhores resultados em questionários de psi- copatologia alimentar de obsessão e compulsão, além da redução do peso. Mostrou tais eficácias nas doses de 50 e 70 mg. Como efeitos colaterais pode ocorrer exacerbação de psico- ses pré-existentes, sintomas psicó- ticos, agitação/agressividade, possí- vel indução de episódio maníaco em paciente bipolar, maior risco de crises convulsivas, aumento potencial do risco cardiovascular. SE LIGA! Essa é uma medicaçãoque faz parte da lista A3 de substâncias psi- cotrópicas sujeitas a Notificação de Re- ceita “A”. 31OBESIDADE (NUTROLOGIA) Nome comercial: Venvanse Uso: 1º mês, 30 mg/ dia. 2º mês , 50 mg/ dia. 3º mês, 70 mg/ dia. (usar sempre pela manhã para evitar insônia) Custo: 30 mg – 270 reais, 50 mg – 330 reais, 70 mg – 360 reais (caixas com 28 comprimidos). Inibidores de recaptação de serotonina (ISRSs) Principalmente fluoxetina e sertrali- na. São utilizados no tratamento da depressão, mas podem proporcio- nar efeito de perda de peso no curto prazo, embora não tenham indicação formal no tratamento de obesidade. A fluoxetina demonstrou efeito transitó- rio de perda de peso, presente, prin- cipalmente, nos 6 primeiros meses de uso, após o qual ocorre recuperação do peso perdido, não sendo por isso indicada para tratamento em longo prazo da obesidade. Sertralina: 50 a 200 mg/dia. Fluoxeti- na: 20 a 80 mg/dia. Usar pela manhã para evitar insônia Nome comercial: Prozac 20 a 80 mg/dia. Usar pela manhã para evitar insônia Custo: 10 mg – 30 reais, 20 mg – 70 reais (caixa com 28 cápsulas). 20 mg/ ml – 40 reais (frasco 20 ml) A tabela abaixo dispõe a perda de peso estimada com cada medica- ção, o tempo de efeito máximo, chan- ces de reganho de peso e a taxa de abandono em 1 ano, principalmente decorrente dos efeitos adversos. MEDICAÇÃO PERDA DE PESO EFEITO MÁX. REGANHO DE PESO ABANDONO EM 1 ANO Orlistate - 2,94 kg 60 sem 0,51 kg/ano 29% Lorcarcerina - 3,06 kg 54 sem 0,48 kg/ano 40,9% Liraglutide - 5,5 kg 65 sem 0,91 kg/ano 24,3 NAL / BUP NAL / BUP NAL / BUP 1,27 kg/ano 49,1 Disponível em: Aula Sanar 32OBESIDADE (NUTROLOGIA) Os mecanismos de ação das principais medica- ções estão descritos abaixo: MECANISMO DE AÇÃO DOS MEDICAMENTOS FÁRMACOS AÇÃO SIBUTRAMINA Inibição direta no centro da fome no hipotálamo (ativação da via anorexígena e ini- bição da via orexigênica) e aumento do gasto energético basal (efeito termogênico) ORLISTATE Inibição da absorção de gorduras pelo trato gastrointestinal LIRAGLUTIDA Retardando o esvaziamento gástrico (sensação de saciedade e redução da ingesta alimentar por refeição) LOCARSSERINA Inibição direta no centro da fome no SNC LISDEXANFETAMINA Inibição da compulsão alimentar e ansiedade Recomendações finais A sibutramina e o orlistate são con- siderados medicamentos de primei- ra linha para o tratamento crônico da obesidade e do sobrepeso. Qualquer uma das medicações po- dem ser associadas entre si e tam- bém com as medicações on label/off label. Deve-se ter um cuidado a mais para combinação entre sibutramina e locarserina. Para sucesso no tratamento da obe- sidade e do sobrepeso, independente do medicamento escolhido, é obri- gatória a manutenção das medidas não-farmacológicas, com a orienta- ção dietoterápica, incentivo à prática de atividade física e às mudanças no estilo de vida. 33OBESIDADE (NUTROLOGIA) DEFINIÇÃO FISIOPATOLOGIA ETIOLOGIAS COMORBIDADES AVALIAÇÃO OBESIDADE FÁRMACOS MANEJO MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS DIETAS RECOMENDADAS On label: sibutramina, orlistat, liraglutida e lorcaserina Síndrome metabólica Anamnese Resistência insulínica Hábitos de vida HAS História medicamentosa Distorção corporal Exame físico Distúrbios alimentares Triglicérides, HDL-c, glicemia jejum Fatores exógenos Primárias Secundárias “genótipo econômico” Acúmulo excessivo de gordura decorrente de balanço energético positivo Falência pancreática Comorbidades Hipetrigliceridemia Medidas antropométricas Depressão Exames laboratoriais Neoplasias Fatores endógenos Predisposição familiar: genes FTO e MC4R Endocrinopatias, insulinoma, SOP, genéticas, drogas Mudança de estilo de vida (MEV) IMC < 18,5: baixo peso 18,5 até <24,9: normal 25 até < 30: sobrepeso 30 até < 35: obesidade I 35 até < 40: obesidade II ≥ 40: obesidade III CA ≥ 94 cm (H); ≥ 80 cm (M) Tratamento farmacológico SBEM e ABESO: dietas balanceadas, hipocalóricas AHA/ACC/TOS: qualquer dieta de déficit calórico + < 30% de calorias de gordura e < 10% de gor- dura saturada. Off label: topiramato, BUP/NAL, lisdexanfeta- mina e ISRSs *anfetaminas CA + 2 critérios História do peso Hormônios periféricos: grelina (orexígeno), GLPP-1, leptina (an- orexígenos) Moduladores centrais: PYY, AGRP, noradrena- lina (orexígeno), sero- tonina, ocitocina, TRH, MSH (anorexígenos) Dieta e exercício físico Medidas de circunferência: braquial, coxa, cervical e panturrilha Outras: Pregas cutâneas, bioimpedân- cia, calorimetria indireta, USG IMC ≥ 30 kg/m2 OU IMC ≥ 25 kg/m2 + co- morbidades OU IMC normal + aumento de CA + comorbidades MAPA MENTAL 34OBESIDADE (NUTROLOGIA) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Diretrizes Brasileiras de Obesidade. Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO). 4ª Ed. São Paulo, 2016. MANCINI, MC. et al. Tratado de Obesidade. 2ª Ed. Editora Guanabara Koogan Ltda. Rio de Janeiro, 2015 PERREAULT, L. Obesity in adults: Prevalence, screening, and evaluation. Uptodate, 2020. MEIGS, JB. Metabolic syndrome (insulin resistance syndrome or syndrome X). Uptodate, 2020. PERREAULT, L. Obesity in adults: Dietary therapy. Uptodate, 2020. O essencial em endocrinologia / Patrícia Sales, Alfredo Halpern, Cintia Cercato. 1. ed. Rio de Janeiro : Roca, 2016. MARTINS, MV. Why Roux-em-Y Gastric bypass is Nowadays the Best Surgery to Treat Obesity. Revista Brasileira de Videocirurgia. Vol.3 Nº 2 - Abr/Jun 2005 35OBESIDADE (NUTROLOGIA)
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