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ATIVIDADE INDIVIDUAL 
 
Matriz de análise 
Disciplina: Seguro e Resseguro Módulo: 01 a 03 
Aluno: Yuri Brisola Gonçalves Turma: ONL021ZP-PODEMRS13T6 
Tarefa: Elaborar parecer com prognóstico de êxito, mormente considerando as 
condições contratuais padronizadas previstas na Circular Susep nº 477, de 30 de 
setembro de 2013, para o setor público (ramo 0775), especificamente as condições 
expressas no Capítulo II, Modalidade II – Seguro garantia para construção, 
fornecimento ou prestação de serviços. Ademais, abordar todas as questões 
jurídicas que possam ser utilizadas como tese de defesa. 
Introdução 
 
Trata-se de parecer jurídico solicitado pela Seguradora X, referente à 
sua recusa de cobertura de seguro-garantia e suas consequências, bem como as 
matérias de defesa que possam ser utilizadas em eventual judicialização. 
O ponto nodal deste parecer – recusa de cobertura de segura garantia - 
decorre do procedimento licitatório vencido pela Construtora XPTO, que firmou 
contrato administrativo com o Governo Federal para construção de uma nova 
rodovia interestadual. O Governo Federal, por sua vez, exigiu garantia com a maior 
cobertura prevista pela Nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos nº 
14.133/2021. A exigência foi cumprida e o seguro-garantia foi contrato pela 
construtora, cujas condições gerais seguem o texto padrão da Susep. 
Em 20 de fevereiro de 2025, a seguradora foi surpreendida, por meio 
de notificação do governo federal, pela informação de rescisão do contrato 
administrativo - após regular processo administrativo - que culminou na aplicação 
de uma multa à construtora, no valor de 120 milhões de reais, ressaltando a inércia 
 
 
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no pagamento por parte da construtora, direcionando, assim, a cobrança à 
Seguradora X, invocando o seguro garantia para tal fim. 
Ato contínuo, a seguradora negou cobertura, em notificação recebida 
pelo Governo Federal em 3 de março de 2025, com o argumento de que o segurado 
não cumpriu com as suas obrigações previstas em apólice. 
Destarte, o objetivo deste parecer é analisar a conduta adotada pela 
Seguradora X – recusa de cobertura – fundamentação para recusa e matéria de 
defesa em eventual judicialização. 
Tecidas essas breves considerações, passo a opinar. 
 
Desenvolvimento 
 
À vista do exposto supra, passo a tecer minhas considerações sobre o 
solicitado. 
De acordo com a Lei de Licitações e Contratos Administrativos nº 
14.133/2021, nas contratações de obras e serviços de engenharia de grande vulto, 
poderá ser exigida a prestação de garantia, na modalidade seguro-garantia, como 
foi no caso em discussão. 
O seguro-garantia, por sua vez, nada mais é do que uma proteção, 
uma garantia de adimplemento de uma relação principal, onde o tomador contrata 
a garantia em favor do segurado1. Trata-se de um contrato associado a um 
contrato principal. No caso, é a garantia do contrato administrativo firmado entre 
o Governo Federal e a Construtora XPTO para construção de uma rodovia 
interestadual. 
Outrossim, além de previsto pela Lei 14.133/2021, esse tipo de 
 
 
1 Art 2°, Circular n° 477/13 da Susep - O seguro garantia tem por objetivo garantir o fiel cumprimento das 
obrigações assumidas pelo tomador perante o segurado. 
garantia é regulamentada pela Superintendência de Seguros Privados – Susep, 
autarquia responsável pelo controle do mercado de seguros. A Susep estabeleceu 
condições contratuais padronizadas para o seguro-garantia. E, no que tange o 
setor público, tais condições são previstas na Circular nº 477, de 30 de setembro 
de 2013. Em seu artigo 4°, define-se seguro garantia - Segurado - Setor Público – 
como o “seguro que objetiva garantir o fiel cumprimento das obrigações 
assumidas pelo tomador perante o segurado em razão de participação em 
licitação, em contrato principal pertinente a obras, serviços, inclusive de 
publicidade, compras, concessões ou permissões no âmbito dos Poderes da 
União, Estados, do Distrito Federal e dos Municípios…”. 
Já no Capítulo II, Modalidade II, a Circular2 estabelece que o seguro 
garante a indenização, até o valor da garantia fixado na apólice, pelos prejuízos 
decorrentes do inadimplemento das obrigações assumidas pelo tomador no 
contrato principal, para construção, fornecimento ou prestação de serviços, além 
dos valores das multas e indenizações devidas à Administração Pública. 
Contudo, para tanto, o mesmo Capítulo II, Modalidade II, determina 
o cumprimento de algumas exigências que o segurado deverá observar, sob pena 
de ser negada a cobertura. Confere-se: 
4.1. Expectativa: tão logo realizada a abertura do processo 
administrativo para apurar possível inadimplência do tomador, este 
deverá ser imediatamente notificado pelo segurado, indicando 
claramente os itens não cumpridos e concedendo-lhe prazo para 
regularização da inadimplência apontada, remetendo cópia da 
notificação para a seguradora, com o fito de comunicar e registrar a 
Expectativa de Sinistro. 
4.2. Reclamação: a Expectativa de Sinistro será convertida em 
Reclamação, mediante comunicação pelo segurado à seguradora, da 
finalização dos procedimentos administrativos que comprovem o 
inadimplemento do tomador, data em que restará oficializada a 
Reclamação do Sinistro. 
4.2.1. Para a Reclamação do Sinistro será necessária a apresentação 
dos seguintes documentos, sem prejuízo do disposto no item 7.2.1. 
das Condições Gerais: 
 
 
2 Circular n° 477/13 da Susep – Capítulo II, Modalidade II, item 1.1 e 1.2. 
 
 
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a) Cópia do contrato principal ou do documento em que constam as 
obrigações assumidas pelo tomador, seus anexos e aditivos se houver, 
devidamente assinados pelo segurado e pelo tomador; 
b) Cópia do processo administrativo que documentou a inadimplência 
do tomador; 
c) Cópias de atas, notificações, contra notificações, documentos, 
correspondências, inclusive e-mails, trocados entre o segurado e o 
tomador, relacionados à inadimplência do tomador; 
d) Planilha, relatório e/ou correspondências informando da existência 
de valores retidos; 
e) Planilha, relatório e/ou correspondências informando os valores 
dos prejuízos sofridos; 
4.2.2. A não formalização da Reclamação do Sinistro tornará sem 
efeito a Expectativa do Sinistro; 
4.3. Caracterização: quando a seguradora tiver recebido todos os 
documentos listados no item 4.2.1. e, após análise, ficar comprovada a 
inadimplência do tomador em relação às obrigações cobertas pela 
apólice, o sinistro ficará caracterizado, devendo a seguradora emitir o 
relatório final de regulação; 
 
No presente caso, nota-se que a segurado não cumpriu com a 
expectativa de sinistro, pois deixou de apresentar a cópia da notificação enviada 
ao segurado, isso presumindo que ela existiu, contrariando o aludido item 4.1 da 
circular 477 de 30/09/2013. 
Ademais, além da expectativa de sinistro não cumprida, o governo 
federal deixou de enviar à Seguradora os demais documentos dispostos no item 
4.2 da Circular indicado supra. 
Destarte, pelo exposto, o segurado perdeu o direito de indenização 
no descumprimento das obrigações previstas no contrato, conforme 
estabelece o Capítulo I – Condições Gerais - Ramo 0775 da Circular 477 da 
Susep, item 11, inciso V.3 
Art 97 licitaçO õesDe outro giro, exige-se da seguradora e do segurado a mais 
 
 
3 11. Perda de Direitos: O segurado perderá o direito à indenização na ocorrência de uma ou mais das seguintes 
hipóteses: (…) V – O segurado não cumprir integralmente quaisquer obrigações previstas no contrato de 
seguro. 
estrita boa-fé e veracidade na formulação do negócio, sendo que se o segurado 
deixar de honrar com seu dever de boa-fé e agravar o risco objeto de contrato, 
perderá o direito á garantia, conforme dispõe o artigo 7684 do Código Civil. 
No caso em tela, é cristalino a ausência de boa-fé do segurado ao 
deixar de comunicar imediatamente o sinistro ocorrido, agravandodemasiadamente o risco a ser suportado pela seguradora. 
Ademais, o artigo 771 do Código Civil estabelece que o segurado 
comunicará o sinistro ao segurador, logo da sua ciência, sob pena de perder o 
direito à indenização, e tomará as providências imediatas para minorar as 
conseqüências. 
Assim, é patente o dever de comunicação do Governo Federal, o que 
de fato não ocorreu. Deveria a Seguradora X ter sido comunicada a tempo de 
acompanhar o processo administrativo, inclusive para diminuir as consequências 
do inadimplemento da Construtora XPTO. 
Esse é o entendimento dos nossos Tribunais. Confere-se: 
 
CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO MONITÓRIA. SEGURO-GARANTIA. 
CONTRATO ADMINISTRATIVO. DESCUMPRIMENTO DO DEVER 
CONTRATUAL. PERDA DO DIREITO À INDENIZAÇÃO. 
EXPECTATIVA DE SINISTRO. 1. O descumprimento do dever do 
segurado em comunicar à seguradora tão logo ocorra a inadimplência 
do tomador do serviço, a fim de registrar a expectativa do sinistro, 
acarreta a perda do direito ao pagamento do seguro. 2. A deflagração 
do procedimento administrativo para apurar falhas cometidas no 
curso do contrato administrativo deveria ser objeto de informação 
imediata à seguradora, a fim de possibilitar a minoração do sinistro. 
3. Recurso desprovido. 
(TJ-DF 0703103-84.2019.8.07.0018, R. Mario Zam Belmiro, j. 
04/12/2019, 8ª Turma Cível). 
 
 
4 “Art. 768. O segurado perderá o direito à garantia se agravar intencionalmente o risco objeto do contrato. 
 
 
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SEGURO-GARANTIA. INADIMPLEMENTO DA TOMADORA. FALTA 
DE COMUNICAÇÃO. ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE DA 
SEGURADORA. 1. Ao deixar de ter conhecimento acerca do 
inadimplemento contratual por parte da Tomadora, a seguradora 
apelada se viu impossibilitada de tomar providências para minorar as 
consequências, tanto para a segurada, como para a própria 
seguradora, trazendo prejuízo à apelada. Sabendo da inadimplência 
da Tomadora, a Seguradora ré poderia ter adotado os seguintes 
procedimentos: acompanhar os procedimentos de apuração das 
infrações contratuais cometidas pela Tomadora; realizar, por meio de 
terceiros, o objeto do contrato principal, e minorar as consequências 
do inadimplemento impugnado pela apelante. 2. Não há em ponto 
algum das Condições Gerais qualquer dúvida acerca das obrigações 
assumidas pela Segurada, tampouco acerca das condições que levam à 
isenção de responsabilidade ou à perda do direito à garantia 
securitária. 3. A cláusula que isenta a responsabilidade da seguradora, 
bem como a que exige a comunicação imediata do sinistro, são 
plenamente válidas e aplicáveis ao caso concreto, não havendo falar 
em abusividade das mesmas. 4. Improcedência do pedido de 
condenação da ré ao pagamento do valor de apólice de seguro-
garantia relativo ao contrato de prestação do serviço de vigilância. 
(TRF-4 AC: 5028768-91.2013.404.7000, R. Fernando Quadros Da 
Silva, j. 24/02/2016, TERCEIRA TURMA). 
 
Desta forma, imperioso concluir que a Seguradora X agiu 
corretamente ao se recusar em cobrir o seguro-garantia firmado, ante o 
descumprimento do dever do segurado em comunicar à inadimplência da 
tomadora, a fim de registrar a expectativa do sinistro, acarretando a perda 
do direito ao pagamento do seguro. 
 
 
 
Conclusão 
 
Por todo exposto, posso concluir que o Governo Federal descumpriu 
com suas obrigações contratuais previstas na Circular Susep nº 477, além de 
agravar o risco objeto do contrato, fato este que viola o seu dever de boa-fé que 
necessariamente permeia toda relação securitária e, assim, descumprindo as 
normas cogentes estabelecidas no Código Civil em seus artigos 768 e 771. 
Portanto, a falta de cumprimento do Governo Federal com suas 
aludidas obrigações, afasta o dever da Seguradora X em pagar a indenização 
securitária. 
 
É o parecer. 
 
 
 
 
 
 
Referências bibliográficas 
 
BRASIL. Circular 477/2013 - Superintêndencia de Seguros Privados – Susep; 
BRASIL. Lei nº 10.406/2002. Código Civil; 
FREITAS, João Paulo Sá de; GOLDBERG, Ian. Direito do Seguro e do 
Resseguro. Apostila Online. Rio de Janeiro Fundação Getúlio Vargas – FGV.

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