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IBMR - Microeconomia 2 - 2021 2 - Aula 13

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MICROECONOMIA 2
Professor: Felipe Gil
felipe.costa@ibmr.br
AULA 13:
- Ineficiência econômica e falhas de mercado: poder de
mercado, externalidades, bens públicos e assimetria de
informação
INEFICIÊNCIA ECONÔMICA E FALHAS DE MERCADO
Há 2 interpretações diferentes das condições exigidas para a existência de eficiência. A 1ª enfatiza que os
mercados competitivos funcionam e nos diz que é necessário assegurar que os requisitos de competição
vigorem para que os recursos possam ser eficientemente alocados. A 2ª enfatiza que os pré requisitos para a
competição não se sustentam, pois é preciso se concentrar nas maneiras de tratar as falhas de mercado. A
microeconomia é fundamentada na 1ª interpretação. Os mercados competitivos apresentam falhas devido a
4 razões básicas:
i. Poder de mercado
Já vimos que a ineficiência surge quando um fabricante de algum fator de produção possui poder de
mercado. Suponha que um ofertante seja um monopolista; logo, ele determina a quantidade produzida igual
à sua RMg (ao invés do preço) no ponto de encontro com a curva de CMg, vendendo por uma quantidade
menor e preço mais elevado do que aquele que seria vigorado em CP. Esse nível mais baixo de produto
representa um CMg mais baixo na produção, e enquanto isso os insumos não utilizados podem ser alocados
na produção de outros bens, cujo CMg aumenta.
A produção de uma quantidade muito pequena de um bem e quantidades excessivas de outro significa uma
ineficiência que surge porque as empresas com poder de mercado usam, na hora de produzir, preços
diferentes dos usados pelos consumidores em suas decisões de aquisição.
ii. Externalidades (EXT)
Se um mercado joga lixo em uma rua próxima para economizar dinheiro com coleta de lixo, ele é sem dúvida
responsável pela poluição. Contudo, quando o dano é menos óbvio e custa para sociedade (como uma fábrica
poluir o ar), o sistema de mercado tem uma solução ótima?
- Tributação de poluidores
Usando a poluição como exemplo, nos anos 1950 passou-se a referir a esses custos como EXT, pois não se
refletem nos preços de mercado e afetam terceiros. Isso é uma falha de mercado: já que a fábrica não precisa
arcar com os custos sociais reais de suas ações, ela produz poluição a mais em relação ao que é socialmente
aceito. Arthur Pigou disse que o jeito era tributar o poluidor. Esse "imposto pigouviano" tinha a intenção de
garantir que os custos totais da poluição fossem computados nas decisões do poluidor, de modo que a
empresa só poluiria se os compradores estivessem dispostos a pagar pelos danos (embutidos no preço). Os
governos hoje usam essa ideia em políticas como impostos para reduzir as emissões de carbono.
Muitos acham que, além da eficiência econômica, é moralmente correto fazer o poluidor pagar e transferem
a responsabilidade pelo problema à empresa. Todavia, não é simples impor esse imposto de Pigou, visto que
estimar corretamente o custo real da poluição não é fácil. Segundo Pigou, "as indústrias não estão
interessadas não no social, mas somente no produto líquido privado de suas operações".
- EXT e eficiência
O sistema de preços funciona de maneira eficiente porque os preços de mercado transmitem informações
tanto a produtores como a consumidores. Porém, às vezes os preços de mercado não refletem o que
realmente acontece entre produtores e consumidores. Uma EXT ocorre quando alguma atividade de
produção ou consumo possui um efeito indireto sobre outras atividades de consumo ou de produção, que
não se reflete diretamente nos preços. Ou seja, o termo "EXT" é empregado porque os efeitos de custo ou
benefícios são externos ao mercado.
Exemplo: uma usina de aço despeja seus efluentes em um rio, tornando um local de recreação situado rio
abaixo inadequado para atividades de pesca e com crianças. Se isso ocorre, há uma "EXT negativa", pois a
usina não está pagando o verdadeiro custo gerado por seus efluentes: está poluindo a água com sua
produção. Se essa EXT prevalecer, o preço do produto (= CMg de produção) será mais baixo do que se ele
refletisse também o custo do efluente. Assim, pode estar sendo produzida uma quantidade excessiva de aço,
havendo ineficiência da produção.
Um exemplo clássico de EXT positiva na produção surge quando um apiário (produção de mel) é instalado
perto de uma região que produz flores para venda.
Até agora temos pressuposto implicitamente que cada agente poderia tomar decisões de consumo \
produção sem se preocupar com o que outros agentes fazem. Todas as interações entre consumidores \
produtores davam-se por meio do mercado, de modo que tudo que os agentes precisavam conhecer eram os
preços de mercado e as FPP. Vimos que o mecanismo de mercado era capaz de alcançar alocações eficientes
no sentido de Pareto na ausência de EXT (se houver EXT, o mercado NÃO apresentará necessariamente uma
provisão de recursos eficientes de Pareto – o governo pode "imitar" o mecanismo de mercado em algum grau
para obter tal eficiência).
Exemplo: fumantes e não fumantes. Imagine 2 colegas de quarto,
C e D, que tenham preferências sobre cigarros e dinheiro. Ambos
gostam de dinheiro, mas C gosta mais de cigarros e D gosta mais
de ar puro.
Podemos representá-los no diagrama de Edgeworth:
Acabamos de ilustrar as possibilidades de consumo dos 2 colegas de quarto e suas preferências. Para
descobrir exatamente onde as dotações se localizam no diagrama, temos de conhecer a dotação inicial de
fumaça \ ar limpo. A resposta a essa questão depende dos direitos dos fumantes e não fumantes. Pode ser
que C tenha o direito de fumar o quanto quiser e D tenha de suportar. Ou pode ser que D tenha o direito ao
ar puro. Ou o direito legal entre cigarro e ar puro pode se situar em algum lugar entre esses 2 extremos. Um
dos aspectos de possuir direito à propriedade de ar puro é ter o direito de trocar parte dele por dinheiro.
Pode ocorrer com facilidade que D prefira trocar parte do direito ao ar puro por dinheiro (pontos X e X').
O único problema surge se os direitos de propriedade (DP) não estiverem bem definidos. Se C acreditar que
tem direito de fumar e D acreditar que tem direito ao ar puro, temos dificuldades. Problemas práticos com
EXT geralmente surgem devido à má definição dos DP. Meu vizinho pode acreditar que tem direito de tocar
música alta até às 3h da manhã, eu posso acreditar que tenho direito ao silêncio. Uma empresa pode
acreditar que tem direito de poluir a atmosfera que respiro, enquanto posso acreditar que ela não tem. Os
casos em que os DP estiverem bem definidos e se houver mecanismos que permitam a negociação entre as
pessoas, elas poderão negociar seus direitos de produzir EXT da mesma forma que trocam direitos de
produzir e consumir bens comuns.
- Preferências quase lineares e Teorema de Coase
Se os DP estiverem bem definidos, a troca entre os agentes resulta em uma alocação eficiente da EXT.
A quantidade desta que será gerada na solução eficiente dependerá da distribuição dos DP (no caso dos
colegas de quarto, a quantidade de cigarros dependerá de quem tenha os DP, o fumante ou o não fumante).
Há um caso especial em que o resultado da EXT independe da
distribuição dos DP: se as preferências dos agentes forem quase
lineares, toda solução eficiente deverá ter a mesma quantidade de EXT.
Assim, o Teorema de Coase afirma que na circunstância de preferências
quase lineares (a demanda do bem independe da distribuição de renda) e
a quantidade eficiente do bem envolvida na EXT independe da distribuição
dos DP. Assim, a realocação de dotações NÃO afeta a quantidade eficiente
das EXT (o Teorema de Coase é válido se NÃO houver "efeito-renda").
Coase afirma que para lidar com as EXT deve-se atentar para os DP, de
modo que a poluição tem dono e seus custos são negociáveis.
iii. Bens públicos (BP)
Até numa economia de mercado que funcione bem, há áreas em que os mercados falham.
Um exemplo disso é o fornecimento de BP (bens que são gratuitos indiretamente para todos ou podem ser
usados mesmo por quem não paga por eles). É difícil uma empresa privadaou uma pessoa ter lucro ao
fornecer esses bens, como a Defesa Nacional, saúde e educação públicas, faróis (são BP que não podem ser
tirados de quem não paga por eles e são usados por muita gente ao mesmo tempo, logo são invariavelmente
fornecidos a todos), etc.
Esse problema, que veremos adiante, é chamado de "carona" (em que consumidores aproveitam os produtos
sem pagar por eles) e implica a inexistência do incentivo do lucro. Porém, existe uma demanda por esses
bens, e, já que o mercado privado não consegue satisfazê-la, os BP são em geral fornecidos pelo governo e
pagos com impostos. A falha de mercado no fornecimento desses bens foi reconhecida pelo filósofo David
Hume no século XVIII. Influenciado por Hume, Adam Smith (ardente defensor do livre mercado) admitiu que
cabia ao governo fornecer BP, cuja produção não seria lucrativa para pessoas ou empresas.
Os BP têm 2 características que os fazem não ser fornecidos pelo mercado: a não exclusividade (é difícil
impedir as pessoas que não pagam por eles de usá-los) e a não rivalidade (pois seu consumo por uma pessoa
não reduz a capacidade das outras de consumi-lo). Um exemplo clássico é a iluminação pública: seria
impossível impedir os não pagadores de aproveitá-la, e o uso que um indivíduo faça dela não impede que
outros se beneficiem.
Com o desenvolvimento das economias industriais no século XIX, os países
tiveram de superar o problema da carona em áreas como a propriedade
intelectual. Os bens intangíveis, como o conhecimento e as descobertas,
têm as características de um BP (não exclusividade e não rivalidade) e,
portanto, correm o risco de não serem fornecidos pelo mercado. Isso
poderia desestimular a criação de novas tecnologias se não fossem
protegidas de algum modo. Assim, os países fizeram leis de patentes e
direitos reservados e marcas registradas, protegendo os ganhos obtidos
com conhecimento e invenções.
Um BP é uma mercadoria \ serviço que pode ser disponibilizada a baixo
custo para muitos consumidores e, no momento que é ofertada para alguns, torna-se difícil evitar que outros
também a consumam (não exclusivos e não excludentes). Suponha que uma empresa esteja considerando a
possibilidade de empreender uma pesquisa sobre uma nova tecnologia para a qual não consegue obter
patente. Logo após a invenção se tornar pública, outros podem copiá-la. Por ser difícil impedir que outras
empresas produzam e vendam o produto, a pesquisa não será lucrativa.
Assim, os mercados ofertam quantidades insuficientes de BP. Em alguns casos, o governo pode resolver o
problema por meio do fornecimento do bem ou estimular empresas privadas para que o produzam.
Em vez dos colegas de quarto, pense em todos os habitantes do país. O quanto de poluição deveria ser
permitido? A EXT de fumaça com 2 ou mais pessoas é um exemplo de BP (bem que tem que ser fornecido na
mesma quantidade para todos os consumidores envolvidos). Nesse caso, a quantidade de fumaça gerada será
a mesma para todos e cada pessoa pode atribuir-lhe um valor diferente, mas todas tem de consumir a mesma
quantidade.
Vários BPs são fornecidos pelo governo. Por exemplo, ruas, calçadas, educação pública e gratuita, saúde
pública, defesa nacional proporcionado a cada habitante do país etc. Cada cidadão pode avaliá-lo de modo
diferente (uns podem querer mais, outros menos), mas todos recebem a mesma quantidade do bem.
- O problema do carona (free rider)
Suponha que você seja um empreendedor que esteja considerando a possibilidade de fornecer um serviço de
combate a mosquitos Aedes Aegypti para diminuir a taxa de infecção por Dengue e Zyka em uma
comunidade. Você sabe que o programa tem para a comunidade um valor maior que seu custo, que é de R$
100 mil. Será que você pode lucrar se ofertar esse programa de forma privada? Você já estaria atingindo seu
ponto de equilíbrio se cobrasse R$ 5 de cada uma das 20 mil famílias que moram na comunidade. Entretanto,
não pode obrigá-las a pagar esse preço e muito menos poderia inventar um sistema no qual as famílias que
não pagaram, não seriam contempladas pelo serviço. Infelizmente, o programa de combate aos mosquitos é
não exclusivo: não há maneiras de oferecer esse serviço sem que todos sejam beneficiados por ele.
Consequentemente, as famílias não se sentem estimuladas a pagar o valor que o programa realmente tem
para elas. Assim, os indivíduos podem atuar como "caronas" (free-rider – consumidor ou produtor que não
paga por um bem não exclusivo na expectativa de que outros o façam), subestimando o valor do programa de
tal forma que possam usufui-lo sem pagar por isso.
Elaboremos um problema numérico: suponha que 2 amigos queiram colocar uma TV na sala de R$ 2.000,
obviamente cada um deveria fornecer R$ 1.000 ("perder" R$ 1.000 em troca da TV). Suponha que não haja
como um colega de quarto proibir o outro de ver TV e que cada um deles decidirá por si mesmo se a TV deve
ser comprada ou não.
O equilíbrio estratégico deste jogo está em "não comprar a TV"
para ambos os jogadores. Se o jogador X decidir comprar a TV, é do
interesse do Y pegar carona: ver TV sem contribuir com nada para
adquiri-la e vice-versa. A situação se complica caso haja mais de 2
pessoas envolvidas – uma vez que haverá mais gente em quem pegar carona. A atitude de deixar a tarefa para
o outro pagar \ fazer pode ser ótima do ponto de vista individual, mas é ineficiente no sentido de Pareto do
ponto de vista da sociedade como um todo.
No caso dos BPs, a presença de caronas torna difícil ou até mesmo impossível que os mercados ofertem os
produtos eficientemente.
Talvez, se poucas pessoas estivessem envolvidas e o programa fosse relativamente barato, todas as famílias
poderiam voluntariamente concordar em repartir os custos. Porém, quando muitos grupos estão envolvidos,
arranjos voluntários privados em geral tornam-se ineficazes. Por isso, o BP acaba tendo que ser subsidiado ou
fornecido pelo governo, caso tenha de ser produzido de maneira eficiente.
iv. Informações assimétricas
- Incerteza
Até os anos 1960, os economistas achavam que os mercados deixariam qualquer um que quisesse vender
produtos por certo preço fazer negócio com qualquer um que quisesse comprar produtos por certo preço.
George Akerlof mostrou que em muitos casos isso não ocorre. Em seu estudo "The market for lemons", ele
explica como a incerteza causada por informação restrita pode levar a uma falha de mercado. Akerlof afirmou
que os compradores e vendedores têm uma quantidade diferente de informação e essas diferenças (ou
assimetrias) podem ter efeitos desastrosos no funcionamento dos mercados.
Se os consumidores não tiverem informações exatas a respeito dos preços de mercado ou da qualidade do
produto, o sistema de mercado não pode operar eficientemente. A falta de informações pode estimular
produtores a ofertar quantidades excessivas de certos produtos e quantidades insuficientes de outros.
Exemplo: os consumidores podem adquirir remédio para emagrecer e descobrir que eles não possuem valor
medicinal algum. Assim, a falta de informações pode impedir que certos mercados apresentem bom
desenvolvimento. Outro exemplo: as apólices de seguro são apenas estimativas pelo fato de os fornecedores
não possuírem todas as informações claras, adequadas e completas a determinados clientes sujeitos a
determinados tipos de risco.
Cada problema de informações entre agentes resulta na ineficiência do mercado competitivo. Antes
presumimos que demandantes e ofertantes tinham acesso às mesmas informações sobre a qualidade dos
bens vendidos no mercado. Na vida real, existem N mercados nos quais pode ser inviável \ caro obter
informações precisas sobre a qualidade dos bens. Um exemplo é o mercado de trabalho, visto que nos
modelos econômicos, trabalho é apenas uma variável homogênea (L), em que todos tem o mesmo tipo \ nível
de trabalho e ofereciam a mesma quantidade de esforço, uma simplificação drástica, visto que nem uma
empresa pequena consegue avaliar de fato a produtividade de seus empregados.
- Exemplo de incerteza:o mercado de carros ruins
O custo da informação é alto. Dificuldades semelhantes ocorrem por ex. no mercado de carros usados:
quando um consumidor compra um carro usado, pode ser muito difícil pra ele saber se o carro é bom ou não.
O vendedor do carro usado, pelo contrário, provavelmente tem uma idéia boa da qualidade do veículo. Tais
informações assimétricas podem causar problemas significativos ao funcionamento eficiente do mercado.
Imagine que um mercado com 100 pessoas que queiram vender seu carro usado e 100 pessoas que queiram
comprar um carro usado. Todos sabem que 50 carros são bons e que 50 são ruins. Os proprietários atuais dos
carros conhecem sua qualidade, mas os possíveis compradores não sabem se qualquer um dos carros é bom
ou ruim. Pressupostos: o proprietário de um carro ruim está disposto a desfazer-se dele por R$ 10 mil e o de
um bom por R$ 20 mil. Os compradores de automóveis estão propensos a pagar R$ 24 mil por um carro bom
e R$ 12 mil por um ruim.
Se fosse fácil observar a qualidade dos carros, não haveria problemas nesse mercado: os carros ruins seriam
vendidos por um preço entre R$ 10 mil e R$ 12 mil e os bons por um preço entre R$ 20 mil e R$ 24 mil. Mas o
que acontece ao mercado se os compradores NÃO puderem observar a qualidade do carro?
Assim, os compradores tem que adivinhar quanto o carro vale. Como a probabilidade de escolher um carro
ruim ou um bom é a mesma (50%), o comprador estaria disposto a pagar o valor esperado do carro. Isso
significa que o comprador estaria propenso a pagar 0,5 x 12.000 + 0,5 x 24.000 = 6.000 + 12.000 = R$ 18.000!
Mas quem estaria propenso a vender seu carro por esse preço seriam somente os proprietários de carros
ruins (os donos dos carros bons precisam de + pelo menos R$ 2.000 pra se desfazerem de seus automóveis).
Ou seja, o preço que os compradores estão propensos a pagar por um carro "médio" < preço que os
vendedores dos carros bons querem pra se desfazerem do carro.
Mas se o comprador tivesse certeza de que compraria um carro ruim, ele não estaria propenso a pagar R$ 18
mil, O preço de equilíbrio nesse mercado teria de ser entre R$ 10 mil e R$ 12 mil. Para um preço entre esses
limites, apenas os donos de carros ruins ofereceriam seus carros para venda e compradores esperariam obter
um carro ruim. Assim, no mercado não se venderia nenhum carro bom! Embora o preço ao qual compradores
estariam propensos a comprar carros bons excedesse o preço ao qual os vendedores estariam propensos a
vendê-los, não ocorreria nenhuma transação desse tipo.
Examinemos a origem desta falha de mercado: o problema é que existe uma EXT entre os vendedores de
carros bons e ruins. Quando uma pessoa tenta vender um carro ruim, ela afeta as percepções dos
compradores sobre a qualidade do carro médio no mercado. Isso reduz o preço de reserva do carro médio e,
portanto, prejudica as pessoas que tentam vender bons carros.
Os carros com maior probabilidade de serem oferecidos para venda são aqueles dos quais as pessoas mais
querem se livrar. O simples fato de pôr algo à venda envia um sinal para o provável comprador sobre a
qualidade desse bem. Se itens demais de baixa qualidade forem colocados à venda, isso traz dificuldades para
que os proprietários de itens de alta qualidade vendam seus produtos. Resumindo: o comprador de um carro
usado tem menos informação sobre a qualidade dele do que o vendedor que o possui. O vendedor já pôde
verificar se o carro está pior que outro parecido (se ele é um abacaxi) cheio de defeitos. Um comprador que
acabe com um abacaxi se sente enganado.
A existência de abacaxis desconhecidos no mercado cria incerteza
na cabeça do comprador, que passa a se preocupar com a
qualidade de todos os carros usados à venda. Essa incerteza faz o
comprador baixar o preço que deseja pagar por qualquer carro e os
preços caem no mercado. Os vendedores com carros melhores que
a média se retirarão do mercado por não conseguirem um preço
justo de um comprador incapaz de dizer se o carro é ou não um
abacaxi. Isso significa que a maioria dos carros negociados vai ser
um abacaxi, Em tese, isso poderia baixar tanto o preço que o
mercado faliria e não haveria comércio por preço nenhum, ainda
que haja negociantes dispostos a comprar e vender.
- Seleção adversa (SA)
Outro mercado em que os abacaxis influem é o de seguros. Nos seguros-saúde, os compradores sabem mais
sobre seu estado de saúde que os vendedores. Então, as seguradoras se vêem negociando com pessoas que
elas prefeririam evitar: as menos saudáveis. Como os prêmios de seguro aumentam com a idade, um % maior
de abacaxis compra apólices, mas as empresas não conseguem identificá-los com precisão. Isso é SA e sua
probabilidade significa que as seguradoras acabam, na média, com riscos maiores que os cobertos pelos
prêmios.
O exemplo anterior é um exemplo de SA. Vimos que os itens de baixa qualidade expulsaram do mercado os
de alta qualidade em razão do custo \ impossibilidade de obter informação. Esse problema pode ser grave a
ponto de destruir completamente o mercado.
Suponha que uma companhia de seguros queira oferecer seguro contra furto de bicicletas. Esta faz uma
pesquisa de mercado e descobre que a ocorrência de furto varia muito de um bairro para outro. Em algumas
áreas há probabilidade alta de furto e em outras o furto é raro. Imagine que a cia decida oferecer o seguro
com base na taxa média de furto.
O que acontecerá? Certamente a cia vai quebrar em algum momento! Pense em quem comprará o seguro à
essa taxa média. As pessoas dos bairros seguros não irão, pois não precisam. As pessoas de bairros com alta
taxa de incidência de furtos irão querer o seguro, pois são elas que precisam dele. Ou seja, os pedidos de
pagamento de seguro serão feitos principalmente pelos consumidores que moram em áreas de alto risco.
As taxas baseadas na probabilidade média de furtos serão uma indicação enganosa da experiência real de
pedidos e pagamentos feitos à empresa. A cia não obterá uma seleção imparcial de clientes, mas sim uma SA.
Perceba que para alcançar o equilíbrio, a cia tem que basear suas taxas nas piores previsões e que os
consumidores com risco de furto baixo não estarão propensos a comprar o seguro de preço alto.
Algo semelhante acontece com os planos de saúde: as cias não podem basear suas taxas na incidência média
de problemas de saúde da população. Elas podem apenas basear suas taxas na incidência média de
problemas de saúde no grupo de potenciais compradores. Mas as pessoas que mais querem comprar planos
de saúde são as que mais precisam deles, e as taxas têm de refletir essa disparidade. Nessa situação, as
pessoas de alto risco estarão melhor porque poderão comprar planos a taxas menores do que o risco real com
que se defrontam e as pessoas de baixo risco poderão comprar um plano mais favorável que o oferecido.
- Risco moral (Moral hazard)
Outro problema que surge nos seguros é conhecido como problema do risco moral. Suponha novamente o
exemplo do seguro de bicicletas e agora, que todos os consumidores morem em áreas com probabilidades
idênticas de furto (não há SA). Porém, a probabilidade de furto pode ser afetada pelas ações dos donos de
bicicletas: Se estes não se preocuparem em trancar suas bicicletas, esta estará mais sujeita a ser roubada dos
que usarem uma tranca (no caso dos seguros de vida, é menos provável que o consumidor precise do seguro
se ele agir de acordo com um estilo de vida mais saudável).
Quando estabelece suas taxas, as seguradoras levam em consideração os incentivos que os consumidores
têm para tomar uma quantidade apropriada de cuidado. Se não houvesse a disponibilidade de seguros, as
pessoas teriam mais incentivo para tomar o maior de cuidado possível. Se fosse impossível comprar um
seguro contra furto, todos os ciclistas usariam trancas grandes e caras.
Mas se o consumidor pode adquirir um seguro, o custo infligido à pessoa de ter sua bicicleta furtada é bem
menor. Se esta for furtada, a pessoa só terá de avisar à cia mediante BO, que lhe forneceráo $ para adquirir
outra. No caso extremo, em que a cia reembolsa completamente a pessoa pelo furto, a pessoa não tem
nenhum incentivo para tomar cuidado. É essa falta de incentivo para o cuidado que chamamos de moral
hazard.
Observe o dilema: seguro de menos = pessoas suportam muito risco; seguro de mais = pessoas tomarão
pouco cuidado. Mas as cias de seguros não podem observar todas as ações daqueles que elas seguram. Por
isso, as cias não quererão oferecer aos consumidores um seguro "completo". Elas sempre irão querer que o
consumidor assuma parte do risco (franquia – quantia que a parte segurada terá de pagar ao requerer o
pagamento do seguro). Ao fazer isso, as cias podem assegurar que eles tenham sempre um incentivo para
tomar um pouco mais de cuidado.

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