Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
AM���I��S� O amilóide é um depósito tecidual composto por uma fibrila proteica (95%), glicosaminoglicanos e o amilóide sérico P. As fibrilas são derivadas de proteínas que sofrem alterações estruturais genéticas ou adquiridas (aumento na concentração do precursor, transformação amiloidogênica por células imunológicas ativadas, alterações na matriz extracelular que facilitem a deposição, disfunção do sistema proteolítico endógeno), favorecendo a agregação e a precipitação de polímeros insolúveis em um tecido à distância. O amilóide sérico P catalisa a ligação da fibrila aos glicosaminoglicanos da matriz extracelular. As fibrilas amiloides são agregadas de folha beta pregueada e podem ser identificadas com o corante Vermelho Congo em um microscópio com luz polarizada, quando a substância adquire um brilho verde. O tipo de fibrila amilóide pode ser identificado pela imunofluorescência. Alguns sinais que apontam para amiloidose são: proteinúria nefrótica, cardiomiopatia restritiva, hepatomegalia inexplicada e neuropatia periférica idiopática. Outros sinais característicos, porém raros, são: espessamento cutâneo, com formação de equimo- ses, e pseudo-hipertrofia muscular (macroglossia, ombro do jogador de futebol americano). A deposição amilóide causa atrofia do parênquima dos tecidos acometidos. A amiloidose afeta os rins pela deposição de amilóide na matriz mesangial dos glomérulos, com obliteração das alças capilares e ruptura da barreira de filtração. O quadro apresenta síndrome nefrótica, nefromegalia e insuficiência renal, com EAS inocente e predisposição à trombose da veia renal. A amiloidose afeta o coração pela infiltração amilóide, com espessamento do miocárdio (CMPR), das valvas e do pericárdio (derrame pericárdico). O quadro apresenta dissociação massa-voltagem (baixa voltagem nas derivações periféricas apesar da pseudo-hipertrofia) e pseudo infartos. A amiloidose afeta o TGI pelo espessamento de suas paredes, com hemorragias, dismotilidade (disfagia, gastroparesia, proliferação bacteriana jejuno-ileal, pseudo-obstrução colônica), má absorção e enteropatia perdedora de proteína. A amiloidose afeta o fígado com FA elevada. O sistema nervoso é afetado com polineuropatia e sintomas disautonômicos (disfunção erétil, gastroparesia, constipação, retenção vesical). O sistema músculo-esquelético é afetado com com espessamento muscular (pseudo- hipertrofia), poliartrite crônica simétrica, aumento de partes moles periarticulares e osteopatia. Os pulmões são afetados com infiltração submucosa traqueobrônquica (disfonia) e derrame pleural. A pele é afetada com espessamento e púrpuras. O diagnóstico de amiloidose é confirmado pela biópsia, exceto em casos típicos de amiloidose associada à diálise. O órgão biopsiado deve ser a gordura subcutânea abdominal ou a mucosa retal nas amiloidoses sistêmicas ou o órgão acometido nas amiloidoses localizadas. O tipo é identificado por imunofluorescência ou ensaio imunoenzimático. Amiloidose AA: A amiloidose secundária ou reativa ocorre em estados inflamatórios crônicos (tuberculose, hanseníase, osteomielite crônica, AR, AIJ, artrite psoriásica, doença de Crohn, EA, febre familiar do mediterrâneo) pela deposição de Amilóide sérico A e é a único que afeta crianças. O quadro apresenta síndrome nefrótica e hepato- esplenomegalia em pacientes com doença crônica, poupando o coração e os nervos periféricos. O tratamento é o controle da doença de base. Amiloidose AL: A amiloidose primária ocorre em discrasias plasmocitárias pela deposição de cadeias leves de IG em pacientes com > 40 anos. O quadro apresenta sintomas constitucionais, síndrome nefrótica, ICC diastólica, polineuropatia periférica, hepatomegalia, macroglossia e sinal do guaxinim, mas o diagnóstico exige a presença de uma para- proteína (imunoeletroforese plasmática e urinária). O tratamento é o melfalano e o transplante autólogo de células hematopoiéticas. Amiloidose ATTR: A principal forma de amiloidose familiar ocorre pela deposição de transtirretina, proteína produzida pelo fígado que carrega o hormônio tireoidiano e a vitamina A no plasma, em pacientes com 20-40 anos. O quadro apresenta manifestações neurológicas, cardíacas, renais e oculares (deficiência de vitamina A). Uma forma endêmica é a paramiloidose familiar, que apresenta polineuropatia sensitivomotora. O tratamento é o transplante ortotópico hepático. Amiloidose Beta-2-M: A artropatia relacionada à diálise ocorre em pacientes em diálise por mais de 15 anos com membranas derivadas de celulose pela não eliminação e deposição de beta-2-microglobulina, preferencial- mente em ossos e articulações. O quadro apresenta síndrome do túnel do carpo, periartrite escapuloumeral, cistos ósseos, fraturas patológicas, derrames articulares, espondiloartropatia. O tratamento é o transplante renal. Os candidatos ao transplante de medula óssea devem preencher os critérios. Aqueles que não preenchem podem ser tratados com melfalano + prednisona, talidomida, lenalidomida, bortezomib. ● Doença sintomática comprovada; ● Ausência do diagnóstico de MM; ● Idade ≤ 70 anos; ● Espessura do SIV cardíaco ≤ 15 mm; ● Fração de ejeção > 55%; ● Creatinina ≤ 2,0 mg/dl; ● Bilirrubina total ≤ 2,0 mg/dl. Filipy Rocha FE��� R�U�ÁTI�� (F�) A FR é uma doença inflamatória sistêmica aguda, que ocorre como sequela tardia de uma infecção das vias aéreas superiores pelo S. pyogenes (estreptococo beta-hemolítico grupo A). A prevalência em países desenvolvidos é de 10-40 casos a cada 100 mil crianças em idade escolar, enquanto a prevalência no Brasil é de 100-700 casos a cada 100 mil crianças em idade escolar, predominante entre 5 e 15 anos. A FR é causada pela produção de anticorpos contra antígenos estreptocócicos que induzem uma reação cruzada com componentes do tecido cardíaco e de outros órgãos, exacerbada a cada nova infecção não tratada de forma aguda. O quadro de FR aguda apresenta febre, sintomas constitucionais e poliartrite migratória, com ou sem sopro cardíaco. A poliartrite (60-80%) é assimétrica e migratória e dura 1-5 dias em cada articulação, acometendo principalmente tornozelos, joelhos, punhos e cotovelos por 2-4 semanas, com dor desproporcional mas resposta dramática ao AAS. A cardite (50-60%) acomete principalmente os folhetos endocárdicos (valvulite), mas também o miocárdio (miocardite) e o pericárdio (pericardite); os surtos iniciais são brandos (insuficiência) e duram 2 meses, mas evoluem com surtos cada vez mais graves e sequelas cumulativas (dupla lesão com insuficiência e estenose), com sopros de insuficiência mitral, de Carey-Coombs e de insuficiência aórtica. A gravidade da artrite é inversamente proporcional à gravidade da cardite. O eritema marginado (1%) e os nódulos subcutâneos (1%) são raros, mas geralmente se associam à cardite grave. A coreia de Sydenham (20%) se instala 1-6 meses após o quadro de FR aguda, com movimentos bruscos e fora de propósito em mãos, pés e faces, associado a disartria, hipotonia, inconsistência no apertar de mão, disgrafia, fasciculações de língua e labilidade emocional, durando 3-4 meses. O paciente apresenta os reagentes de fase aguda proteína C reativa, VHS e mucoproteínas estão elevados. O FAN e o FR não estão presentes, enquanto o ASLO e o Anti-DNAse B estão elevados. Outros achados são anemia inflamatória (microcítica e hipocrômica) e leucocitose. O diagnóstico é confirmado pelos critérios de Jones em dois cenários epidemiológicos: populações de baixo risco (incidência ≤ 2 casos por 100.000 crianças em idade escolar OU prevalência de cardiopatia reumática crônica ≤ 1 caso por 1.000 habitantes) e populações de moderado/alto risco (incidência > 2 casos por 100.000 crianças em idade escolar OU prevalência de cardiopatia reumática crônica > 1 caso por 1.000 habitantes). Critérios maiores Critérios menores ● Artrite ● Cardite ● Eritema Marginado ● Nódulos Subcutâneos ● Coreia de Sydenham ● Artralgia, febre ● VHS elevado ● PCR elevada ● Intervalo PR aumentado ao ECG Critérios obrigatórios Diagnóstico ● Culturapositiva para S. pyogenes no swab de orofaringe OU; ● Teste rápido positivo para S. pyogenes no swab de orofaringe OU ● Anticorpos anti exoenzimas estrepto- cócicas elevados ● 2 critérios maiores + 1 critério obrigatório ● 1 critério maior + 2 critérios menores + 1 critério obrigatório ● 3 critérios menores + 1 critério obrigatório A profilaxia primária é a erradicação do S. pyogenes em até 9 dias do início dos sintomas com penicilina G benzatina em dose única ou outras drogas por 10 dias, exceto a azitromicina, que é feita por 5 dias. A profilaxia secundária é feita com penicilina G benzatina a cada 28 ou 21 dias. Droga Criança Adulto Penicilina G benzatina IM em dose única 1.200.000 U se > 20 kg 600.000 U se ≤ 20 kg Penicilina V oral 250mg 3x dia 500mg 3x dia Amoxicilina 50 mg/kg/dia 500 mg 2x dia Cefalexina 25-50 mg/kg/dia 500 mg 2x dia Claritromicina 7,5 mg/kg 2x dia 250 mg 2x dia Clindamicina 7 mg/kg 3x dia 300 mg 3x dia Azitromicina 2 mg/ kg 1x dia 500 mg, depois250 mg/dia Categoria Duração da profilaxia FRA sem cardite Até 18 anos ou pelo menos 5anos (o mais longo) FRA com cardite leve Até a idade de 25 anos FRA com cardite e comprom. bivalvar Por toda a vida O tratamento da poliartrite, da febre e dos sintomas constitucionais é feito com AAS, AINES (2ª escolha) ou prednisona (adultos). O tratamento da cardite é feito com prednisona associada ao AAS durante o desmame para evitar o rebote. ● AAS 50-70 mg/kg/dia em 4 tomadas por 3-5 dias, seguido de 50 mg/kg/dia em 4 tomadas, por 3 semanas, seguido de 25 mg/kg/dia em 4 tomadas por 2-4 semanas. ● Prednisona 1 mg/kg/dia. ● Prednisona 2 mg/kg/dia em 4 tomadas por 2-3 sem, seguido de 1 mg/kg/dia por 2-3 semanas, com desmame progressivo + AAS 50 mg/kg/dia em 4 tomadas por 6 semanas. Filipy Rocha FI���M�A���� A fibromialgia é um distúrbio do processamento central dos estímulos álgicos, caracterizado pela dor musculoesquelética crônica generalizada e alterações neuropsicológicas, como fadiga, distúrbios do sono, cefaléia tensional ou enxaqueca (50%), parestesias, síndrome do cólon irritável (50-80%) e distúrbios do humor (depressão, ansiedade) (25-60%). A prevalência é de 2-3%, com predominância em mulheres entre 35-55 anos. O exame físico tem como objetivos: (1) afastar outras doenças reumáticas, com ausência de sinovite, tenossinovite e tendinite, força muscular normal e ausência de alterações de neuropatia periférica; e (2) revelar a presença de tender points, 18 pontos sensíveis à digitopressão com a polpa do polegar: (1) região suboccipital; (2) cervical lateral; (3) ponto médio da borda superior do trapézio; (4) região supraescapular; (5) junção condrocostal da 2ª costela; (6) epicôndilo lateral; (7) região glútea laterossuperior; (8) região do trocânter maior; (9) região medial acima do joelho. O diagnóstico de fibromialgia é confirmado com os novos critérios do ACR. Os principais diagnósticos diferenciais são AR, LES, polimialgia reumática e hipotireoidismo. Novos critérios para fibromialgia - ACR (2010) Presença dos três critérios: ● IDG ≥ 7 + ESS ≥ 5 OU IDG entre 3-6 e ESS ≥ 9; ● Presença dos sintomas há pelo menos três meses; ● Ausência de outra doença que explique o quadro. Índice de dor generalizada (IDG) Soma do número de regiões com dor na última semana Valor máximo = 19 ● Pescoço ● Mandíbula DIR/ESQ ● Ombro DIR/ESQ ● Braço DIR/ESQ ● Antebraço DIR/ESQ ● Tórax, Abdômen ● Dorso SUP/INF ● Quadril DIR/ESQ ● Coxa DIR/ESQ ● Perna DIR/ESQ Escala de severidade dos sintomas (ESS) Somar da gravidade dos 3 sintomas principais + gravidade dos sintomas somáticos gerais. Ausente = 0, Leve = 1, Moderado = 2, Grave = 3 Valor máximo = 12 ● Fadiga; ● Sono não reparador; ● Alterações cognitivas. ● Nenhum sintoma = 0 ● Poucos sintomas = 1 ● Médios sintomas = 2 ● Muitos sintomas = 3 O tratamento é feito com terapia cognitivo comportamental, atividades físicas aeróbicas diárias e moduladores centrais da dor: antidepressivos (amitriptilina, duloxetina, milnacipran), relaxantes musculares (ciclobenzaprina), analgésicos (paracetamol, dipirona), anticonvulsivantes (gabapentina, pregabalina). PO����N��IT� ���ID����TE A policondrite recidivante é uma doença rara que acomete as cartilagens com episódios inflamatórios agudos e geralmente está associada a outras doenças de origem autoimune, como vasculites, colagenoses, DII e cirrose biliar primária. A policondrite é causada por um pequeno insulto (infeccioso, tóxico, traumático) cartilaginoso, com exposição de autoantígenos da matriz, para os quais não foi desenvolvida autotolerância pelo caráter avascular da cartilagem, e ativação da resposta imune (anticolágeno tipo II), com reação inflamatória (pericondrite) formação de um infiltrado neutrofílico e mononuclear que causa degeneração progressiva da cartilagem. O quadro apresenta policondrite, com condrite auricular (85%), condrite nasal (55%), oligo ou poliartrite (50-70%) não erosiva assimétrica, que pode acometer as cartilagens costocondrais, e condrite laringotraqueobrônquica (48%), acompanhadas de complicações decorrentes da progressão da inflamação para as regiões adjacentes. Outros tecidos podem ser afetados, causando manifestações oculares (50-55%), cutâneas (30-35%), cardiovasculares (5-10%), renais (25%) e vasculites (10%). Os achados laboratoriais são inespecíficos: anemia de doença crônica, leucocitose, trombocitose, VHS e proteína C reativa elevados. O diagnóstico é confirmado pela presença de pelo menos 3 critérios, ou pela presença de biópsia com condrite associada a pelo menos um critério, mas a condrite auricular é um dos achados mais específicos. Critérios para policondrite recidivante ● Condrite auricular bilateral; ● Condrite nasal; ● Poliartrite não erosiva, soronegativa; ● Inflamação ocular; ● Condrite laringotraqueobrônquica; ● Disfunção vestibulococlear; ● Biópsia da cartilagem com condrite. O tratamento dos casos leves (condrite auricular, nasal, poliartrite) é feito com prednisona 0,5 mg/kg/dia ou AINES. O tratamento dos casos potencialmente graves (condrite laringotraqueo- brônquica) é feito com prednisona 1 mg/kg/dia, associada a metotrexate 7,5-20 mg/semana em paciente que necessitam de tratamento prolongado. Os citotóxicos estão indicados quando existe uma vasculite necrosante sistêmica associada. Filipy Rocha FE��� F��I���R �O ME����R�ÂNE� (F��) A FFM é uma herança AR que afeta principalmente judeus Sefarditas, armênios, turcos e árabes. O quadro se inicia na infância ou adolescência e apresenta episódios febris recorrentes e irregulares acompanhados de peritonite, pleurite ou monoartrite de joelhos, tornozelos e quadris, com resolução em 3-7 dias. Os pacientes também podem apresentar eritema e semelhante à erisipela, amiloidose AA, escrotite, mialgias e vasculites. O diagnóstico é de exclusão (apendicite, pancreatite, colecistite, obstrução intestinal) e deve ser suspeito em pacientes com quadro típico e história familiar. O tratamento é feito com colchicina 1-2 mg/dia VO e pode causar remissão completa (60%) ou parcial (30%), mas 5% dos pacientes não respondem ao tratamento. Critérios maiores ● Episódios febris recorrentes acompanhados por peritonite pleurite ou sinovite; ● Amiloidose do tipo AA sem causa predisponente; ● Boa resposta ao tratamento contínuo c/ colchicina. Critérios menores ● Episódios febris recorrentes; ● Eritema semelhante à erisipela; ● FFM em parente de 1º grau. Diagnóstico ● Diagnóstico definitivo: 2 critérios maiores OU 1 critério maior + 2 critérios menores; ● Diagnóstico presuntivo: 1 critério maior + 1 menor. Filipy Rocha
Compartilhar