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Reumatologia FIBROMIALGIA Atualmente, a melhor nominação para a doença conhecida como fibromialgia é SAD (síndrome de amplificação dolorosa). O paciente com fibromialgia irá referir uma dor musculoesquelética crônica (causa mais comum de dor muscular crônica), generalizada (afeta membro superior e inferior, em ambos os lados do corpo). Com relação a sua epidemiologia, estima-se que afeta cerca de 5% da população, sendo mais comum em mulheres (6:1), entre os 20-55 anos (pico). É uma doença de etiologia e fisiopatogênese ainda desconhecidas, porém, acredita-se que ocorra uma alteração no processamento da dor no SNC. É predisposto por fatores genéticos e ambientais, resultando em dor crônica e hiperirritabilidade de SNP. Pode, também, se relacionar com uma diminuição de serotonina, fazendo com que ocorra o aumento dos níveis de substância P e, consequentemente, um limiar menor para a dor (essa hipótese explica a ocorrência associada de cefaleia tensional, bem como a eficácia de antidepressivos no tratamento). Dor difusa em tecidos moles, crônica (pelo menos 3 meses), de intensidade variável. Essa dor pode piorar com o exercício, sedentarismo, estresse e umidade do ar (aumenta a pressão atmosférica, causando mais dor). Rigidez matinal associada, cefaleia tensional, parestesia, cansaço e fadiga crônica. Também é comum alterações gastrointestinais, como a síndrome do intestino irritável e fenômeno de Raynauld. É muito comum a associação com distúrbios do sono, no qual o paciente relata ter insônia ou ter um sono não reparador (queixa de amanhecer cansado), isso ocorre pois há diminuição de ondas alfa e delta (frequência lenta). Podem ocorrer associações com outras doenças, como por exemplo, psiquiátricas, reumatológicas, ginecológicas, etc. O único achado do exame físico consiste em uma dor muscular à palpação da musculatura (principalmente na região dos tender points, com uma força de 4 kgs, ou seja, para deixar branco 1/3 da polpa digital). Além disso, tem-se ausência de sinovites, tendinites, sinais de inflamação, etc. Nos exames laboratoriais e de imagem não encontramos nenhuma alteração, configurando um diagnóstico de exclusão (porém lembrar que pode ocorrer sobreposição de doenças). Devemos suspeitar de AR, LES, polimialgia reumática, hipotireoidismo, miosite, SS, neuropatias periféricas e miastenia gravis. Na alteração de qualquer exame solicitado, como VHS, FAN, PCR, TSH, etc. devemos focar nos resultados, pois a fibromialgia não causa alterações laboratoriais. Envolve a educação do paciente a respeito de a doença ter curso benigno, de não ser uma questão apenas psicológica, entre outros fatores. Sempre deve-se tentar tornar o paciente fisicamente ativo, através de um plano de exercícios (preferencialmente aeróbicos), com uma abordagem multiprofissional, caso necessário. Os hormônios liberados após os exercícios físicos podem ter papel importante na analgesia. Apresentação clínica Exame físico e complementares Diagnóstico diferencial Tratamento Medicamentos: a primeira linha são os antidepressivos tricíclicos em doses baixas (preferencialmente amitriptilina), que irão aumentar o limiar da dor. A monoterapia sempre é preferível e deve ser tentada até que se atinja a dose máxima, associando um segundo medicamento apenas em ausência de respostas. Em uma segunda linha, podemos adicionar a pregabalina (ausência de respostas ou intolerância à medicação de primeira linha) ou a duloxetina (em casos de associação com depressão). Além disso, podem ser tentadas algumas terapias alternativas, como acumpuntura e biofeedback. ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL Envolve um grupo de doenças, com etiologia desconhecida, que ocorre em menores de 16 anos, sendo caracterizadas pela artrite crônica (mais de 6 semanas). A artrite é definida como edema, dor, calor, rubor e limitação do movimento, ou seja, é a inflamação articular. É importante frisar que apenas a artralgia (dor articular isolada) não define artrite. Antigamente era chamada de artrite reumatoide juvenil, porém, essa denominação entrou em desuso porque a AIJ tem um curso clínico bastante diferente da artrite reumatoide do adulto. É a doença reumática mais comum em crianças, acometendo cerca de 50-100 a cada 100 mil habitantes (tendo um acometimento similar ao DM1 em crianças, até 4 vezes mais prevalente que a fibrose cística e 10 vezes do que a leucemia). Artrite obrigatória = derrame sinovial e pelo menos 2 -> dor à mobilização, limitação do movimento, aumento de temperatura local e eritema. Pode ocorrer assimetria do membro acometido, pois a inflamação provoca a vasodilatação que, primeiramente acelera o crescimento, fazendo com que o membro fique mais longo. Porém com o avançar da doença a inflamação faz com que a placa de crescimento se feche antes, ficando mais curto do que deveria. Em todas as apresentações é comum a queixa de sono de má qualidade e de fadiga. É comum também anemia, leucocitose e trombocitose, FAN e FR negativos, aumento de PCR e VHS (proteínas de fase aguda). Não há preferência por sexo. Acomete mais meninas (3:1). FR pode estar presente em 10% dos casos (indicador de mau prognóstico, curso mais agressivo). O FAN pode ser positivo ou negativo. Quadro clínico lembra as artropatias soronegativas do adulto. O diagnóstico é difícil, pois como pode ter apenas uma articulação lesada a causa mais provável é por trauma, logo, muitos pacientes recorrem repetidas vezes ao ortopedista até que sejam encaminhados para o reumatologista. Geralmente o prognóstico é bom, com grande parte atingindo a remissão espontânea na idade adulta. 20% dos pacientes podem evoluir com uveíte ou iridociclite crônica, sendo necessário o acompanhamento com o oftalmologista. Classificação e apresentação clínica 1- Sistêmica: ocorre em 10% dos casos, também conhecida como doença de Still, cursa com poliartrite (mais de 5 articulações) e febre (> 2 semanas, em pelo menos 3 dias consecutivos, geralmente de pico matutino ou vespertino) e 1 ou mais -> rash evanescente (geralmente aparece junto com a febre e dura menos de uma hora, é um eritema central em tórax, não sintomático), linfadenopatia, hepato/esplenomegalia, serosite, dermografismo. 2- Poliarticular: corresponde a mais ou menos 30% dos casos, cursa com mais de 5 articulações acometidas, podem ocorrer alguns sinais e sintomas sistêmicos (diferentes dos anteriores e mais leves). 3- Pauci ou oligoarticular: é a forma mais comum e corresponde a 50% dos casos, entre 1 e 4 articulações acometidas, geralmente acomete as grandes articulações. Influência de alguns genes com predisposição ambiental (por exemplo infecções), que geram uma resposta imune exacerbada, causando a inflamação articular mediada por autoanticorpos. Laboratoriais: anemia de doença crônica (normocítica e normocrômica, que evolui para micro e hipo); leucocitose e trombocitose; aumento de PCR e de VHS; FAN pode ser positivo em oligo ou poliarticular em até 80% dos casos (aumenta risco de uveíte); FR presente em 10% das poliarticulares; pode ter anti-CCP nas poliarticulares. Na forma sistêmica, os exames costumam estar mais alterados, com uma anemia intensa, aumento acentuado de VHS e PCR, bem como da ferritina (proteína de fase aguda). Radiológicos: mesmas alterações da AR do adulto, ou seja, aumento de partes moles, osteopenia justa-articular progressiva, erosão de cartilagem e de osso subcondral, fusão articular. O tratamento deve ser individualizado, interdisciplinar e abordar aspectos sociais, psicológicos e a forma de apresentação. Os medicamentos entram para diminuir os sintomas, evitar a perda de função e de mobilidade e para prevenir o dano articular. Sistêmica: em quadros leves podemos iniciar com AINE em monoterapia. Se não ocorrer resposta, podemos associar com o metotrexato ou um biológico (melhora rápida e dramática do quadro). Os corticoides estão em desuso. Poliarticular: podemos usar os AINES para o alívio dos sintomas, porém não para o controleda doença. O ideal é iniciar precocemente o uso do metotrexato. Se refratário ao metotrexato, podemos usar os agentes biológicos, como os anti-Il-1 ou 6 ou anti-TNF-alfa. Os glicocorticoides não são muito usados nessa forma de doença devido a elevada gama de efeitos colaterais que podem provocar, principalmente em crianças, porém como as DARMDs podem demorar certo tempo para fazerem efeito, podem ser usadas nesse meio tempo. Oligoarticular: AINES entram como primeira escolha (menos efeitos colaterais que nos adultos), podem ser usados em monoterapia até a remissão. Se o paciente não responder em até 6 semanas e estiver com graves limitações de movimento, podemos usar glicocorticoides intrarticulares (triancinolona). Se refratário aos AINES e aos corticoides podemos tentar usar as DAMRDs (drogas antirreumáticas modificadoras de doença), o metotrexato é o mais usado (imunossupressor). Se feito o diagnóstico e o tratamento de maneira precoce, cerca de 70% dos pacientes não apresentam limitações de movimento após 10 anos de doença. Na fase adulta, a maioria atinge a remissão espontânea. Lembrar que os linfomas podem cursar com artrite e artralgia (diagnóstico diferencial). 4- Outras: artrite psoriásica, artrite relacionada à entesite e indiferenciada. Etiopatogenia Exames complementares Tratamento Prognóstico ARTRITE INFECCIOSA A artrite séptica, que será abordada é causada por bactérias, ao passo que as artrites infecciosas podem ser causadas por qualquer outro tipo de microrganismo. Os microrganismos podem atingir a articulação por via hematogênica (em casos de bacteremia, forma mais comum), inoculação direta (traumas, artrocentese), por contiguidade (osteomielite, celulite). A passagem das bactérias pelo sangue é facilitada porque os capilares sinoviais não têm membrana basal. As bactérias entram na articulação e se nutrem do líquido sinovial, isso faz com que a velocidade de reprodução aumente e, consequentemente, mais rapidamente o quadro evoluirá. Ao entrar na articulação, as bactérias provocam uma resposta inflamatória mediada por neutrófilos, com liberação de citocinas e aumento de pressão intra-articular. O derrame sinovial purulento irá predispor a isquemia local, intensificando a destruição. Esse processo culmina com perda de matriz extracelular da cartilagem, abcessos cartilaginosos e necrose, tanto sinovial, quanto do osso (pode acontecer em até 48 horas depois da instalação do quadro). A etiologia mais comum no geral é a infecção por S. aureus, porém o ideal é fazer a cultura do microrganismo. Lesão articular prévia, DM, > 60 anos, uso de drogas intravenosas, imunossupressão, infecções subcutâneas, cateter venoso profundo, prótese articular e hemoglobinopatias. Acomete mais homens do que mulheres (3:2). A articulação mais comumente acometida é o joelho (90%) ou as outras grandes articulações. O inicio é agudo e de evolução rápida, podendo ser confundido com um quadro de gota. Cursa com febre alta (pela infecção bacteriana), flogose articular (dor, calor, rubor, tumor e limitação do movimento = muito sugestivo). Lembrar que imunocomprometidos podem ter menos sinais flogísticos, portanto, em suspeita (dor e limitação do arco de movimento), sempre realizar a artrocentese o mais precocemente possível. Em articulações não facilmente acessíveis é mais difícil de realizar a punção articular, por isso, podem ser usados exames de imagem, para avaliar derrame articular. História clínica de artrite, sempre pesquisar na história a ocorrência de traumas e os fatores de risco, bem como a HPP de artrite gotosa. Proceder com a artrocentese (punção articular) e encaminhar para análise. O aspecto normal do líquido sinovial é hialino (similar ao aspecto da urina), nos casos sépticos estará turvo, opaco e/ou purulento. Na suspeita iniciar com antibiótico antes do resultado da cultura (vancomicina, 80% dos casos são por S. aureus). Pode ser solicitado uma cintilografia (em casos de prótese de quadril) e um RX para afastar traumas. Basicamente, o tratamento consiste de antibioticoterapia precoce por no mínimo 7 dias, lavagem e drenagem da articulação e repouso. Fatores de risco Clínica Diagnóstico e tratamento OSTEOPOROSE É definida como a redução da densidade e perda da microarquitetura óssea, com diminuição da resistência e aumento das fraturas. É responsável por uma grande parcela dos gastos em saúde, pois é comum em idosos e assintomática, culminando com fraturas e hospitalizações. O osso é dividido em parte compacta (80% da massa óssea, mais comum perifercamente, sustenta e protege o esqueleto) e trabecular (20%, comum no esqueleto axial e em epífises de ossos longos, atua na proteção das forças compressivas). A osteoporose será caracterizado por um dano nas trabeculações. Ocorre com o desequilíbrio entre a formação e reabsorção de osso, com uma maior ativação e recrutamento de osteoclastos. Idade (> 65 anos ou mulheres a partir da idade da menopausa), uso de álcool, tabagismo, uso de corticoides, valores baixos de cálcio e estrogênio, sedentarismo. HPP de fraturas de baixo impacto antes dos 40 anos, HF de fratura materna, instabilidade postural, fraqueza em quadríceps, quedas no último ano, raça caucasiana, diminuição de acuidade visual e sexo feminino. Fatores de risco É assintomática, apresentando as primeiras manifestações quando tem-se uma perda de cerca de 40% da massa óssea. As fraturas geralmente são vertebrais ou de quadril e são caracterizadas por: dor, incapacitação, hospitalização e afastamento de atividades. Sequelas incluem degeneração articular, tendinites e distrofias. O principal exame é a densitometria óssea, que avalia a quantidade de cálcio por área de osso. Geralmente iremos solicitar de coluna lombar e de fêmur proximal. Porém, poderá ser solicitado do antebraço em casos de artrose ou de próteses. Está indicado para todas as mulheres com + de 65 anos e após a menopausa ou antes com fatores de risco (adultos com fratura por fragilidade, patologia associada com perda de massa óssea ou baixa massa óssea, mulheres que interrompem estrogenioterapia) e para homens com + de 70 anos. É calculada em DP, de 0 até -1 é normal, entre -1 e -2,5 é considerada osteopenia (diminuição de massa óssea) e abaixo de -2,5 consideramos osteoporose. Avaliaremos pelo T-escore, porém, pode ser usado o Z-escore para causas secundárias. A partir da densitometria usaremos o FRAX, escore para cálculo de possibilidade de fraturas em 10 anos, ajustando a densitometria e os fatores de risco, bem como a região onde a pessoa vive (site ABRASSO). Na parte laboratorial poderá ser solicitado o Ca total, fósforo, albumina, 25-hidróxi-vitamina-D, creatinina, hemograma, VHS e PCR. Além disso, EQU e Ca urinário. Também podem ser solicitados marcadores osteoclásticos, como o NTX ou CTX (N/C- telopeptídeo). Indicação: pós-menopausa com osteoporose, mulher com fratura por fragilidade e massa óssea < -1,5 DP, mulheres com osteopenia e fatores de risco, homens com osteoporose. Farmacológico: Suplementação de Ca - avaliar necessidade de acordo com a ingestão, usa-se o carbonato de cálcio. Suplementação de vitamina D - quando abaixo de 35, usamos aproximadamente 800 UI/dia. Antireabsortivos: Bisfosfonados: alendronato (semanal, disponível no SUS, ingerir de jejum pela manhã e aguardar 30 minutos, sem deitar e sem fazer refeições), risendronato, ácido zolendrânico (anual, EV). Atuam no osteoclasto, seu tempo médio de uso é entre 5-7 anos, dai será interrompido por 2 anos e feita nova densitometria para avaliação. Ibandronato (não previne fraturas além da coluna) e calcitonina. Anabólicos: usados em casos refratários e muito graves. Teriparatida (muito cara, não pode ser usada por mais de 2 anos, é um análogo de PTH). Características clínicas Exames: Tratamento: Anticorpo monoclonal: donosumabe (antirreabsortivo, atua no RANK-L, é a primeira linha de tratamento em países desenvolvidos, aplicado de 6/6 meses, via SC). Não-farmacológico:atividade física aeróbica regular, alimentação rica em Ca, exposição solar adequada, eliminação de riscos modificáveis (prevenção de quedas - adaptação doméstica, cessar tabagismo e etilismo, redução de xantinas). POLIMIALGIA REUMÁTICA É uma síndrome inflamatória caracterizada por dor, rigidez muscular e fraqueza de cintura escapular e pélvica. É uma doença praticamente exclusiva de pacientes mais velhos (> 50 anos), acomete mais mulheres, 50% de associação com arterite de células gigantes (mecanismo fisiopatológico similar). A incidência depende de fatores ambientais, genéticos, sendo mais comum em caucasianos e descendentes dos norte-europeus. É uma doença multigênica, associada com o HLA-DR4, com ativação da imunidade inata, aumentando a circulação de macrófagos e monócitos e, consequentemente, de IL-6. Possui início súbito, com envolvimento simétrico e bilateral, provoca uma dor intensa, que pode ser incapacitante. Além disso, os pacientes apresentam piora matinal, com rigidez prolongada e piora aos movimentos. Sintomas sistêmicos de fadiga, mal estar, anorexia, emagrecimento e febrículas. Pode ocorrer poliartrite de pequenas articulações da mão, confundindo o quadro com AR, porém, é soronegativa (não possui autoanticorpos). O tratamento é feito com doses baixas de corticoide, que causam uma melhora exponencial rapidamente no paciente, usados por um período de 4-8 semanas. ARTRITE REUMATOIDE É um dos tipos de artrites, sendo uma doença inflamatória crônica, sistêmica, de etiologia desconhecida e patogenia complexa. É relativamente comum, presente em cerca de 0,5-1% da população. Possui curso intermitente, com alternância de períodos de remissão e exacerbação, seguindo um processo contínuo de dano tecidual, principalmente com destruição de cartilagem e erosão óssea. Afeta principalmente a membrana sinovial e as cartilagens que envolvem as articulações diartrodiais. Acomete mais mulheres (3:1) jovens (período pré-menopausa, 2-40 anos). Sua ocorrência parece ter relação com genes do HLA, principalmente o HLA-DRB1 e DR4, além de ter relação com o MHC2. Além disso, seu fator genético é comprovado pela alta prevalência em parentes de primeiro grau. Possui influência ambiental também, podendo ser desencadeada após algumas infecções virais, como micoplasma, EBV, CMV, rúbeola e COVID. Ocorre uma lesão no endotélio dos vasos da membrana sinovial, aumentando líquido sinovial e gerando edema. Com isso, será desencadeada a inflamação, culminando com os sinais flogísticos, a chamada sinovite. A sinovite (proliferação inflamatória da membrana sinovial) é a responsável pelo início de todos os eventos destrutivos. O tecido inflamatório sinovial de inflamação é chamado de "Pannus", sendo um "manto" que recobre as estruturas intra-articulares. Após iniciada, a resposta imune não desaparece. As citocinas inflamatórias liberadas, além de perpeturarem a inflamação, estimulam a proliferação das células sinoviais, expandido o pannus. Os linfócitos B passam a secretar autoanticorpos, principalmente anticorpos IgM contra a porção Fc do IgG, esses anticorpos são chamados de FATOR REUMATOIDE. Rigidez articular, erosão nas bordas do osso, perda de espaço articular e destruição. Costuma ser uma doença insidiosa, com queixas intermitentes de rigidez articular, podendo ser ou não acompanhada de sintomas constitucionais (fadiga, mal estar, mialgia, anorexia). Em semanas ou meses, a doença irá se apresentar com a forma clássica -> artrite simétrica de pequenas articulações, começando pelas mãos e punhos. Os pés podem ser acometidos também. Patogênese Clínica A doença preserva as articulações interfalangianas distais -> isso contribui no diagnóstico diferencial de outras espécies de artrite. Existe uma minoria de pacientes que já iniciam com uma poliartrite em grandes e pequenas articulações com evolução rápida. Conforme a doença evolui, ocorre uma deterioração progressiva das articulações, podendo causar, em casos avançados, incapacidades funcionais graves. A principal causa de morte dos pacientes com AR são as doenças cardiovasculares. A osteoporose ocorre em 30-50% dos pacientes. Ocorre maior incidência de linfoma nesses pacientes. A dor articular é o principal sintoma, associada com o aumento de volume nessas regiões, com rigidez matinal prolongada (> 1 h). Inicia nas mãos e nos pés, evolui para punhos, joelhos, tornozelos, quadril e ombros, com os estágios muito avançados, pode ir para coluna, ATM e cricoaritnoides (pode causar PCR). O tumor articular ocorre devido ao acúmulo de líquido sinovial, hipertrofia de membrana sinovial e espessamento de cápsula. O paciente tende a manter-se em uma posição de flexão, ou seja, uma posição antálgica (principalmente no cotovelo), pois ela provoca menos dor. Com a progressão da doença ocorre fibrose dos tecidos periarticulares, anquilose de superfíces ósseas e contratura/atrofia muscular. O calor local pode ser evidente, ao passo que o eritema é incomum. Mãos -> tumefação de interfalangianas proximais, simetricamente. Ao longo da doença, ocorre frouxidão de tecidos moles metacarpofalangianos, gerando um desvio ulnar dos dedos. Ao mesmo tempo, ocorre subluxação e proeminências ósseas, hiperextensão das interfalangianas proximais e flexão das distais (pescoço de cisne, dedos em abotoadura, dedos fusiformes). Punhos -> comprometimento simétrico, com prejuízo de extensão e flexão, as deformidades causam um aspecto de "punhos em dorso de camelo". Joelhos -> os derrames articulares podem ser identificados pela compressão da patela (sinal da tecla), a percepção da flutuação da patela indica a presença de um excesso de líquido sinovial. A membrana sinovial pode gerar uma bolsa que invade os músculos da panturrilha, causando o cisto de Baker, que pode evoluir para TVP. Pés -> além das alterações estéticas, os pacientes podem apresentar dores para caminhar e com o uso dos calçados (pé em cabeça de martelo). Coluna -> não acomete o esqueleto axial, exceto em casos avançados pode causar a subluxação atlanto-axial (C1-C2) é grave e pode levar ao óbito. Cotovelos -> o paciente permanece em posição antálgica, podendo ter encarceramento de nervos ulnar e radial. É comum o aparecimento dos nódulos reumatoides nessa região. São mais comuns em pacientes com altos títulos de FR e anti-CCP. Cutâneos -> nódulos subcutâneos (derivam da vasculite de pequenas veias, necrose fibrinoide e proliferação de fibroblastos, refletem o nível de atividade da doença), eritema palmar, infartos acastanhados distais e vasculite necrosante. Oftalmológicas -> síndrome de Sjögren, episclerite, escleromalácia. Pulmonares -> derrame pleural (exsudativo; aumento de LDH e proteínas; complemento baixo, mas normal no soro; leucócitos < 5000; presença de FR; glicose reduzida), nódulos reumatoides no parênquima, cavitação, pneumotórax, fibrose intersticial difusa com pneumonite, bronquiolite constrictiva e síndrome de Caplan. Cardíacas -> perdicardite, IAM por vasculite de coronárias, nódulos reumatoides no miocárdio, distúrbios de condução. Neurológicas -> nódulos reumatoides nas meninges, síndrome de túnel do carpo ou do tarso, neuropatia cervical, mononeurite múltipla, vasculite cerebral. Sintomas articulares: Manifestações extra articulares: Renais -> nefropatia membranosa associada à AR, nefropatia pelos medicamentos, glomerulonefrite e amiloidose. ACR (American College): 4 ou +, por pelo menos 6 semanas -> rigidez matinal prolongada; artrite simultânea de 3 ou + articulações; artrite de mão ou punho, poupando as interfalangianas distais; artrite simétrica; nódulos reumatoides nas superfícies extensoras e regiões periarticulares; FR positivo; alterações no RX de mão e punho (erosões ou descalcificação). Diagnóstico precoce difícil. EULAR (European League): são avaliados diversos critérios, cada um com uma determinada pontuação. Permite o diagnóstico em fases precoces (tratamento mais rapidamente e menor evolução). FR (fator reumatoide) - pode ser encontradoem até 80% dos pacientes com AR, logo, o resultado negativo não descarta o diagnóstico (baixa sensibilidade). Também tem baixa especificidade, pois pode ser positivo em várias outras condições, incluindo em 1-5% da população saudável, até 20% dos saudáveis e > 65 anos. Favorece o diagnóstico aliado com um quadro clínico sugestivo e tem valor prognóstico (quanto mais alto o título, pior o prognóstico). Anti-CCP (autoanticorpo antipeptídeos citrulinados cíclicos) - possui a mesma sensibilidade, porém, elevada especificidade (95%), seu valor fisiopatológico ainda não é bem entendido. Podem ser encontrados FAN e ANCA também. Aumento de VHS, PCR e ceruloplasmina - marcadores de fase aguda, marcam a atividade da doença, ou seja, o nível de inflamação. Anemia de doença crônica (normo normo), proporcional à gravidade da doença, além de trombocitose e leucocitose. Pode ter leucopenia secundária ao tratamento. Função hepática e renal - antes de instituir e para acompanhar o tratamento. Artrocentese - aspecto turvo; viscosidade reduzida; aumento de proteínas; concentração normal ou baixa de glicose; leucometria com predomínio de PMN; anti-CCP geralmente positivo e complemento (c3 e c4) reduzido. Radiografia - no início mostram apenas aumento de partes moles e derrame articular (mais espaço articular), com o avançar da doença aparece a osteopenia justarticular. Após alguns meses, cursa com perda de cartilagem articular (menos espaço sinovial), cistos subcondrais e erosões ósseas marginais. Ajuda a estimar a extensão e monitorar o tratamento. A RNM e a USG pode detectar inflamação e edema sinovial de forma mais precoce, respectivamente, pois permitem a avaliação de partes moles. Os fatores de pior prognóstico incluem -> mais de 20 articulações acometidas, aumento de VHS, erosões ósseas no RX, presença de nódulos reumatoides, aumento de FR e anti-CCP, inflamação persistente, doença com início em idade avançada, alelos HLA-DRB1. Os portadores de AR tem expectativa de vida reduzida em cerca de 3-7 anos, sendo a principal causa de morte as doenças cardiovasculares. O objetivo é colocar a doença em remissão, com o menor grau de atividade que for possível. A remissão é: ter menos de uma articulação acometida; menos de uma articulação edemaciada; PCR < 1; auto avaliação do paciente sobre a doença < ou igual a 1. O tratamento deve ser precoce e agressivo pois 80% do dano articular ocorre nos dois primeiros anos da doença, deve ser reavaliado em intervalos curtos, individualizado e devemos sempre utilizar uma DARMD (droga antirreumática modificadora de doença). Diagnóstico Exames complementares Prognóstico Tratamento Medidas gerais: acompanhamento multidisciplinar é necessário, dado o curso crônico e incapacitante da doença. Inclui repouso articular nos surtos agudos, fisioterapia e vacinas antipneumocócica e anti influenza. AINES: adjuvantes, tratamento imediato, não alteram o curso da doença, promovem analgesia das articulações envolvidas. Deve-se evitar o uso a longo prazo, devido aos efeitos colaterais. Corticoides: para um rápido alívio sintomático, são úteis em surtos agudos e para auxiliar até que DAMRD's comecem a fazer efeito (demoram algumas semanas). Sempre deve ser administrado na menor dose possível. Seu uso em longo prazo parece diminuir as erosões ósseas. Porém, deve ser evitado devido aos efeitos colaterais. Em casos muito graves, a pulsoterapia pode ser necessária. Podem ser feitas injeções intra-articulares de depósito em casos de artrite limitada a poucas articulações. DARMDs convencionais: são anti-inflamatórios ou analgésicos diretos, que demoram cerca de 6-12 semanas para iniciarem seus efeitos. A primeira escolha é o metotrexate, seguido da leflunomida, cloroquina e hidroxicloroquina, sulfalssalazina. Metotrexato -> faz a inibição de enzimas que atuam no metabolismo das purinas e pirimidinas. Suas vantagens incluem o baixo custo (cerca de 20 reais mensais), possibilidade de escalonamento da dose e associação com qualquer outra DARMD, além de causar a remissão em cerca de 50% dos pacientes. Seus efeitos colaterais incluem alterações gastrointestinais, hepato e nefrotoxicidade, aumento de risco de infecções. Deve ser suplementado ácido fólico para redução de toxicidade. É contraindicado na gravidez (teratogênico). Devemos monitorar a função renal bi ou trimestralmente. A dose inicial é de 7,5 mg por semana, incrementando 2,5 mg semanalmente, o máximo é de 25 mg. Cloroquina e hidroxicloroquina -> são antimaláricos com efeito imunomodulador, geralmente não são usados em monoterapia, apenas em casos leves e precoces. Podem causar toxicidade retiniana dose-dependente, repetir avaliação oftalmológica a cada 6 meses (hidroxicloroquina tem menos efeitos oculares). Não reduzem a progressão das erosões ósseas, geralmente são empregadas como terceira opção (metotrexate + sulfalssalazina + hidroxi/cloroquina). Sulfassalazina -> acredita-se que ao contrário da ação da RCU, a sulfassalazina intacta seja o princípio ativo útil no tratamento da AR. As doses variam de 0,5-3 g/dia. Os principais efeitos colaterais incluem hipersensibilidade à sulfa, alterações gastrointestinais e cefaleia. É uma verdadeira DARMD, porque reduz a progressão das erosões ósseas. Biológicos (podem ser usados, porém, não podemos usar dois anti-TNF ao mesmo tempo) e imunossupressores (não são mais empregados). Em alguns casos muito avançados pode ser feita terapia cirúrgica. LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO É uma doença autoimune, multissitêmica e crônica, com o desenvolvimento de focos inflamatórios em vários tecidos. Possui períodos de exacerbação e remissão. Epidemiologia: assim como as outras doenças autoimunes, é mais comum em mulheres jovens (10:1), geralmente se manifestando entre os 15 e 45 anos, também é mais comum em caucasianos (?). Ocorre a produção de vários autoanticorpos, por um desequilíbrio do sistema imunológico, formando imunocomplexos, que ativam o sistema do complemento e provocam inflamação tecidual. Patogênese e fatores de risco Os autoanticorpos são produzidos por influência conjunta de fatores genéticos e ambientais. Os fatores genéticos incluem a deficiência de alguns fatores do complemento, deficiência de receptor Fc das imunoglobulinas, IRF5, HLA-DR2 e/ou DR3 e deficiência dos mecanismos de autorregulação do sistema imune. Os fatores ambientais incluem a exposição à radiação UV (possuem efeitos imunogênicos nos queratinócitos, provocando apoptose dessas células, lesão direta ao DNA, modificação de proteínas nucleares, que se tornam antigênicas, aumento de citocinas inflamatórias e produção de LB autorreativos), hormônios sexuais (estrogênios são imunoestimulantes, ao passo que os androgênios e progestágenos tem ação oposta, por isso, mulheres em uso de ACO ou de TRH tem riscos aumentados). Medicamentos (alguns medicamentos fazem estimulação direta do sistema imune, causando uma síndrome lúpus-like, como a hidralazina, isoniazida, metildopa, etc.). Tabagismo, exposição à sílica, agentes microbiológicos (algumas infecções virais podem desencadear o quadro, como o EBV por exemplo). Esses fatores irão fazer com que o sistema imunológico seja ativado pelos TRL (receptores de reconhecimento de padrões moleculares), eles estão presentes em todos, porém, no caso do lúpus, eles passam a reconhecer algumas proteínas nucleares como antígenos, desencadeando uma resposta imune, com a produção de autoanticorpos contra o núcleo das células -> FAN (fator antinuclear). Além disso, os autoanticorpos também reconhecem partes da membrana plasmática como antígenos, provocando a destruição do sistema retículo-endotelial. Também podem bloquear o complexo fosfolipídio-beta-2-glicoproteína-I, inibindo a função de anticoagulante fisiológico dessa proteína, aumentando a trombogenicidade plasmática -> SAAF (síndrome do anticorpo anti-fosfolipídio). Pode iniciar de maneira aguda ou insidiosa, sendo crônica, remitente e recidivante. É muito frequente o aparecimento de sintomasconstitucionais. Inicialmente, pode comprometer apenas um sistema, dificultando seu reconhecimento clínico. Manifestações gerais: incluem fadiga (90%), febre (80%) e emagrecimento (60%). Pele e mucosas: fotossensibilidade (70%), eritema malar, alopecia não discoide, úlceras mucosas, erupção discoide, lúpus cutâneo subagudo, lesão bolhosa e paniculite. Vascular: fenômeno de Raynauld, vasculite purpúrica, urticária, alopecia, livedo reticular, teleangiectasias, úlceras cutâneas, infartos digitais e nódulos subcutâneos. Asa de borboleta -> acomete as bochechas e o dorso do nariz, podendo ser dolorosa ou pruriginosa, precipitada pela exposição solar, podendo durar horas a dias. Como diagnóstico diferencial de outras alterações dermatológicas, possui a característica de poupar o sulco nasolabial. Subagudo -> é uma entidade cutânea distinta, que pode ou não se associar à forma sistêmica, são lesões eritematodescamativas difusas, não-ulcerativas, em MS e parte superior do tronco, poupando a face e não deixam sequelas. Anti-Ro é um autoanticorpo associado ao lúpus subagudo e à fotossensibilidade. Crônicas -> lúpus discoide, pode ocorrer na ausência de manifestações sistêmicas, ocorre em 20% dos pacientes com LES, ocorre em face, pescoço, couro cabeludo e pavilhão auricular, são placas eritematosas, infiltradas, hiperpigmentadas, que evoluem com uma cicatriz despigmentada e atrófica no centro da lesão, aumenta o risco de carcinoma epidermoide de pele. Articulares e musculares: artralgia e mialgia (95%), artrite não erosiva, artropatia de Jaccoud, onteonecrose e miosite. Artrite lúpica possui padrão simétrico, distal e migratório, não causa erosão articular. Renais: proteinúria, cilindros celulares na urinálise, síndrome nefrítica ou nefrótica, nefrite intersticial e IR. Clínica A maioria dos portadores da doença irá desenvolver algum grau de nefropatia, o principal alvo da doença são os glomérulos. A base da nefrite lúpica é pela deposição de imunocomplexos anti-DNA e ativação do complemento. A presença de IgA nos glomérulos por imunofluorescência indica perda de função renal - nefrite. Pumonares: pleurite, derrame pleural, pneumonite, fibrose intersticial, hipertensão arterial pulmonar, síndrome do pulmão contraído, TEP e hemorragia alveolar. Derrame pleural pode ser uni ou bilateral, sendo um exsudato, com glicose normal, redução de complemento, pode ser detectado FAN. A pneumonite lúpica cursa com tosse, dispneia, febre, hemoptise e no RX de tórax ocorre um infiltrado alveolar difuso, principalmente nas bases. Cardíacas: perdicardite, miocardite, endocardite de Libmann-Sacks, coronariopatia. Psiquiátricas: disfunção cognitiva leve, alteração de personalidade, depressão, demência, psicose lúpica. A psicose lúpica geralmente ocorre no primeiro ano da doença, é um delirium associado a um quadro de confusão, ilusões persecutórias, alucinações e flutuação do nível de consciência. São causadas pela vasculite cerebral. A presença do anticorpo anti-P sugere que a alteração psiquiátrica seja resultante da própria atividade lúpica. Neurológicas: cefaleia, convulsões, AVE isquêmico ou hemorrágico, neuropatia periférica, mielite transversa e meningite asséptica. Hematológicas: anemia, leucopenia, linfopenia, trombocitopenia, esplenomegalia, linfadenopatia, anemia hemolítica e coagulopatia. Pode ocorrer anemia de doença crônica ou hemolítica autoimune. Pode cursar com a produção de anticorpos anti-fator VIII, gerando uma coagulopatia adquirida que cursa com um TP alargado e um INR normal. Gastrointestinais: elevação de enzimas hepáticas, anorexia, náuseas, vômitos, diarreia, hepatomegalia, pancreatite, vasculite mesentérica, peritonite ou ascite, hepatite autoimune (lipoide). Oculares: síndrome de Sjögren (ceratoconjuntivite sicca), conjuntivite/episclerite, vasculite retiniana. Anemia de doença crônica (normo normo), pode ser um marcador de gravidade da doença, indicando remissão com melhora da anemia. Aumento de VHS (acompanha a elevação de fibrinogênio) e PCR (normal ou levemente aumentada). Hipocomplementenemia (principalmente em casos renais). FAN -> muito sensível (98% dos pacientes com lúpus tem FAN +), porém, não necessariamente significa que a pessoa tenha lúpus, pode estar presente em qualquer outra condição autoimune e até mesmo em pessoas normais (10%), Anti-DNA (75% dos pacientes, altos títulos se relacionam com a gravidade da nefrite lúpica). Anticorpo anticardiopilina e anticoagulante lúpico (relação com a SAAF). ACR -> 4 ou + critérios, simultâneos ou intercalados ao longo do tempo (apenas 3 = Lúpus provável): Erupção malar, erupção discoide, fotossensibilidade, úlceras orais, artrite, serosite, distúrbio renal, distúrbio neurológico, distúrbio hematológico, distúrbio imunológico, anticorpo antinuclear. Não permitem confirmação padronizada da doença em situações em que ela pode ser evidente. Exames laboratoriais Diagnóstico SLICC (Systemic lupus international colaboration) -> 4 ou +, tendo pelo menos 1 clínico e 1 imunológico (ou biópsia renal demonstrando padrão de nefrite lúpica e positividade para FAN ou anti-DNA). Lúpus cutâneo agudo, lúpus cutâneo crônico, alopecia, úlceras orais ou nasais, doença articular, serosite, nefrite, manifestações neurológicas, anemia hemolítica, leucopenia ou linfopenia, plaquetopenia. FAN, anti-DNA, anti-Sm, antifosfolipídios, hipocomplementenemia, Coombs direto +. O tratamento deve promover o controle do sintomas, redução das complicações e aumento da sobrevida. Lembrar que no lúpus iremos tratar o DOENTE (complicações variadas e individuais) e não a DOENÇA em si. Cerca de 90% dos pacientes sobrevive em 10 anos. Medidas gerais: repouso relativo (10 h de sono à noite + cochilo à tarde), atividades físicas apropriadas sempre evitando a exaustão, proteção solar (FPS mínimo de 30 e evitar exposição), evitar tetraciclinas e psoralenos. Por aumento de risco cardiovascular, controlar PA e perfil metabólico, associado com hábitos saudáveis. Antimaláricos: hidroxicloroquina (até 400 mg/dia) e cloroquina (250-500 mg/dia), são a primeira escolha, possuem mecanismo de ação ainda não compreendido. Bom resultado principalmente nas manifestações dermatológicas, deve ser feito acompanhamento oftalmológico regular pela toxicidade dose-dependente. Reduzem as recidivas e poupam os corticoides, são antitrombóticos e hipolipemiantes (menor risco DCV). Parecem ser seguras durante a gestação. AINES: controle de manifestações musculoesqueléticas e serosites. Pode ocorrer meningite asséptica, toxicidade hepática e renal, HAS induzida ou aumentada por AINES. Devem ser evitados sempre que possível e, principalmente, em longo prazo, devendo ser interrompidos ao menor sinal de nefrite lúpica. Corticoides: podem ser tópicos, orais, intralesionais e parenterais. Sua ação é dose-dependente, logo, para um efeito anti-inflamatório devemos prescrever 0,5 mg/kg/dia, para imunossupressão aumentar as doses para 1-2 mg/kg/dia. A suspensão abrupta da corticoterapia pode exacerbar a doença, exigindo altas doses posteriormente e causar insuficiência suprarrenal aguda. Paciente com LES em uso de corticoides, recomenda-se a suplementação de vitamina D, cálcio e bisfosfonado profilático para prevenção de osteoporose. Na pulsoterapia, usa-se cerca de 1000 mg de corticoide em 1 hora, por 3-5 dias, esses pacientes ficarão com a imunidade praticamente zerada, possuindo muito risco de infecção. Devem ser administrados antiparasitários antes de iniciarmos a terapia. Podem ser usados a ivermectina ou tiabendazol, por 2 dias. Citotóxicos: ciclofosfamida, micofenolato e azatrioprina. São associados aos corticoides no tratamento das formas graves. Tratamento Prova 2 ESPONDILOARTRITES Podem ser divididas em espondilite anquilosante, artrite psoriásica, artrite reativa e artropatias enteropáticas. Além disso, acometem as articulações axiais (coluna e sacroilíaca), as enteses (local de inserção dos tendões e ligamentos, ao redor da articulação),possuem tendência hereditária relacionada com o HLA-B27, e são soronegativas (FR negativo). É definida etimologicamente como fusão e inflamação vertebral. Ou seja, é uma condição inflamatória crônica, com acometimento do esqueleto axial, mais comumente a sacroilíaca e, posteriormente, a coluna, além de poder se associar com entesite. Seu acometimento tem caráter ascendente com eventual ossificação das articulações sacroilíacas e vertebrais. ESPONDILITE ANQUILOSANTE Geralmente acomete adultos jovens (raro > 40 anos), caucasianos, com distribuição equivalente entre os sexos, o HLA-B27 está presente em até 90% dos casos, sendo muito comum o histórico familiar positivo. Entesite - é uma erosão inflamatória crônica com lesão do osso adjacente, seguido por um processo de reparação crônica dos tecidos, provocando neoformação óssea e anquilose. A articulação mais precocemente acometida é a sacroilíaca, ascendendo para a coluna lombar, torácica e cervical, respectivamente. Porém também pode estar presente na sínfise púbica, calcâneo, patela, etc. Na coluna, acomete os discos intervertebrais, com o tempo a neoformação óssea gera protuberâncias, os SINDESMÓFITOS, que são como pontes presentes entre os corpos vertebrais, que com o tempo irá formar a imagem da "coluna em bambu". Além disso, é muito comum o desenvolvimento de osteoporose nesses pacientes. Com o tempo, os pacientes adquirem uma postura clássica da coluna, com cifose exagerada e perda da lordose lombar. Artrite periférica - predomina em MI, geralmente assimétrica. Pode ter erosões cartilaginosas centrais, com proliferação do tecido de granulação subcondral. Um dos primeiros sinais é a dor lombar, geralmente unilateral, insidiosa e profunda, acompanhada de rigidez matinal. A rigidez e a dor tendem a melhorar com atividades físicas e piorar com o repouso. É importante diferenciar a dor inflamatória da dor mecânica, de acordo com o ASAS a dor inflamatória ocorre quando: presente em < 40 anos, de início insidioso, melhora com o exercício, piora com o repouso, dor noturna que melhora ao levantar. Quando presentes 4 dos 5 critérios a dor é classificada como inflamatória. Dor mecânica -> pode ocorrer em qualquer idade, porém é mais comum em mais velhos; é aguda e dura menos de 4 semanas; pode ter rigidez matinal, mas dura menos de 30 minutos; não cursa com dor noturna, os exercícios são agravantes; não ocorre desconforto da junção sacroilíaca; a única perda de movimento costuma ser uma redução da capacidade de fletir as costas, com expansão torácica preservada e possibilidade de alterações neurológicas. Dor inflamatória -> mais comum em < 40 anos; início insidioso, com duração > 3 meses; rigidez matinal presente e prolongada; comum dores noturnas que aliviam com o exercício; é comum o desconforto da sacroilíaca; a mobilidade das costas está diminuída em grande parte dos movimentos, com acometimento da capacidade de expansão torácica; os déficits neurológicos tendem a estar ausentes. Com o passar do tempo, a dor se torna bilateral e persistente, com redução do movimento da coluna lombar (teste de Schober -> marcar 10 cm nas costas do paciente, a partir da apófise espinhosa de L5, o normal é que quando a coluna é flexionada esse espaço se torne > de 15 cm). Epidemiologia: Patogenia: Clínica É comum a hipersensibilidade óssea, pela osteíte ou entesite, isso pode provocar dor à digitopressão (cuidar para não confundir com fibromialgia). O envolvimento do tórax provoca dor e cifose progressiva, culminando com redução da expansibilidade torácica (podendo prejudicar a respiração). Consideramos reduzido quando < 2 cm. A coluna cervical é acometida com dor e rigidez, porém é um quadro que ocorre após anos de evolução da doença, culmina com perda quase completa da extensão cervical, fazendo com que os pacientes não consigam encontar o osso occipital na parede (teste occipito-parede). Atualmente uma minoria evolui para a postura clássica presente em quadros muito avançados, com uma postura encurvada, perda da lordose lombar fisiológica e cifose dorsal exagerada ("postura do esquiador"). A marcha se torna cambaleante com comprometimento de campo visual anterior. Os pacientes, quando não bem manejados tendem a apresentar uma sobrevida reduzida. Prognóstico Uveíte anterior aguda - é a mais comum, ocorrendo em 30-40% dos pacientes, principalmente nos portadores do HLA-B27. Geralmente é unilateral, com sintomas de dor, lacrimejamento, fotofobia e turvação visual, sendo os episódios geralmente limitados e recorrentes. Fibrose bolhosa de lobos superiores. Insuficiência aórtica e BAVT. Amiloidose e nefropatia por IgA. Deslocamento e fratura de cervical, síndrome da cauda equina (perda sensorial dos dermátomos sacrais, dor e fraqueza de MI, com hiporreflexia e flacidez, o diagnóstico é feito por TC ou RNM). Atualmente o ASAS substituiu os critérios de NY de 1968. Dor lombar por > de 3 meses em pacientes com < de 45 anos. Sacroileíte em imagem (RNM com inflamação sacroilíaca ou RX com sacroileíte definitiva) e pelo menos UM sintoma de espondiloartrite axial. HLA-B27 positivo e pelo menos DOIS sintomas de espondilite axial. Dor lombar crônica de caráter inflamatório; artrite; entesite (calcâneo); dactilite; psoríase; DC ou RCU; boa resposta aos AINES; HF positiva; HLA-B27 +; aumento de PCR. Alívio de sintomas, melhora da capacidade funcional, minimização de manifestações extra-articulares, prevenção de deformidades e complicações. Orientação para manter postura ereta, dormir em decúbito dorsal em colchão firme, realização de exercícios de baixo impacto (natação e hidroginástica são boas opções). A abordagem deve ser multidisciplinar, com inclusão de fisioterapia associada. AINES -> são a primeira linha de tratamento, sendo úteis no controle da dor e da rigidez, pode ser dada qualquer classe, de acordo com o perfil do paciente. Podem ser prescritos contínuos ou sob demanda. Podem ajudar a reduzir o dano reumático (DARMD), porém com o uso contínuo esse mecanismo pode falhar. Como segunda linha podemos usar um anti-TNF-alfa ou anti-IL1, provoca melhora radiográfica e de sintomas. Possuem elevado sucesso terapêutico, porém devemos atentar para o maior risco de desenvolvimento de infecções e os distúrbios hematológicos, além disso, antes de iniciar o tratamento devemos pedir sorologias de infecções e prova tuberculínica. Devemos usar em pacientes com doença ativa e que não tiveram resposta com o uso de dois AINES diferentes. Para melhora de sintomas de dor podemos associar o uso de analgésicos, simples ou opiáceos, conforme a necessidade. A sulfassalazina pode ser prescrita para o tratamento da artrite periférica, com benefício discreto. Em casos muito avançados podemos indicar cirurgia para melhora de sintomas. É uma artropatia inflamatória crônica, que pode estar presente em até 4-30% dos portadores de psoríase. Em cerca de 80% dos casos, as manifestações da pele precedem as articulares. Acomete geralmente os pacientes com quadro cutâneo grave e lesões extensas. Manifestações extra-articulares Diagnóstico Tratamento ARTRITE PSORIÁSICA Todo paciente com diagnóstico recente de artrite deve realizar um exame dermatológico cuidadoso. Epidemiologicamente acomete de maneira similar ambos os sexos, geralmente entre os 20-40 anos, mais comum em brancos. A presença do HLA-b27 se associa com acometimento axial e presença de sacroileíte. Podem coexistir no mesmo paciente, assim como pode ocorrer transformação de um padrão em outro. Poliartrite periférica simétrica -> lembra a AR, é o mais frequente (40% dos casos), acomete as pequenas articulações das mãos e punhos, poupando as interfalangianas distais, o que norteia o diagnóstico é o FR tipicamente negativo. FR negativo -> artrite psoriásica. FR positivo -> AR + psoríase cutânea concomitante. Padrões articulares Oligoartrite periférica assimétrica -> parece artrite reativa, ocorre em 30% dos casos, sendo uma oligoartrite de uma grande articulação (mais comumo joelho), podendo acometer as metatarsofalangianas e interfalangianas dos pés. Pode ser comum o aparecimento de dactilite (dedo em salsicha), evidenciando a entesite. Forma clássica -> ocorre em apenas 15% dos casos e cursa com o acometimento das interfalangianas distais, assimétrica, acompanhada de lesões ungueais adjacentes. Artrite mutilante -> ocorre em 5-10% dos casos. É uma poliartrite periférica destrutiva, com osteólise, principalmente nas mãos e nos pés. No RX observamos o aspecto de "cálice invertido" ou "ponta de lápis", com afilamento distal e alargamento proximal das falanges. Nos casos avançados há a destruição quase completa das falanges, gerando os "dedos engavetados", que corresponde ao encurtamento pela destruição articular, com o retorno passivo do dedo a posição original. Envolvimento de esqueleto axial -> lembra a espondilite anquilosante, é a forma mais rara ocorrendo em 5% dos casos. As alterações costumam ser simétricas e aleatórias, com sacroileíte ou espondilite. O grau de comprometimento vertebral tende a ser menor e pode ser encontrado o HLA-B27 em 50% dos casos. Laboratoriais -> aumento de VHS. Pode ser encontrado hiperuricemia e depleção de Fe e ácido fólico. RX -> erosões ósseas marginais, progressivas e irregulares, com as "deformidades em ponta de lápis" nas falanges. Proliferação óssea felpuda, na inserção das enteses. Sacroileíte assimétrica e sindesmófitos vertebrais aleatórios. É por exclusão de quadros similares que podem ocorrer em pacientes com lesões cutâneas. O ideal é tentar usar o mesmo fármaco para controle cutâneo e articular. Para casos leves podemos usar os AINES. Já em casos mais graves ou refratários podemos usar o metotrexato, que é útil para as lesões de pele. Em pacientes que não respondem ao metrotrexato, podemos associar os anti-TNF. Se ainda assim o paciente não responder podemos usar os imunobiológicos, o mais usado é o ustekinumabe. Além disso, o tratamento deve abordar a questão educacional e os aspectos emocionais do paciente, pois as lesões cutâneas podem gerar um estigma social no paciente. Além disso, devemos lembrar que os corticoides sistêmicos são contraindicados em pacientes com psoríase, pois causa rebotes da doença na pele, também devemos ter cuidado com os salicilatos. São artrites não supurativas, originadas de um processo infeccioso à distância, podendo ser por trato digestivo ou por doença venérea. É um distúrbio crônico, de etiopatogenia desconhecida. é mais comum em homens (10:1). Exames complementares Diagnóstico Tratamento ARTRITE REATIVA A presença do HLA-B27 aumenta em 5 vezes o risco de desenvolvimento, estando presente em cerca de 60-85% dos pacientes. Acredita-se que o gene prolongue a sobrevida dos leucócitos portadores de bactérias, que atingem as articulações e deflagram a artrite. Além disso, sua presença tem relação com pior prognóstico. Intestinal/epidêmica-> Shigella, Salmonella, Campylobacter e Yersinia. Venérea/endêmica -> Clamídia. Acomete mais adultos jovens sendo muito comum após episódios de uretrite e cervicite. Síndrome de Reiter -> ARTRITE + CONJUNTIVITE + URETRITE. É mais encontrada nas infecções por clamídia e shigella. Etiologia Clínica e exames Pode ser desde uma monoartrite efêmera até um quadro grave e multissistêmico. A artrite se desenvolve entre 1-4 semanas após a diarreia ou relação sexual. A artrite tende a ser oligoarticular, assimétrica, aditiva, principalmente em MI (joelho). Também pode ocorrer dactilite e tendinite do tendão de Aquiles, fasciíte plantar e outras entesopatias. Quando presentes, as alterações sacroilíacas radiográficas tendem a ser assimétricas. Manifestações associadas -> balanite circinada, ceratoderma blenorrágico, cercivite/prostatite, uveíte anterior e úlceras orais. Encontramos nos exames laboratoriais um aumento de VHS, anemia, pode ser feito cultura bacteriana (raro). No RX observamos osteoporose justarticular, erosões marginais, perda de espaço articular e periosite, são comuns osteófitos na fáscia plantar. É clínico e de exclusão, exigindo história de oligoartrite inflamatória com história de uretrite ou diarreia. Pode ser feita hemocultura ou cultura de lesões de pele. O HLA-B27 pode ser medido para prognóstico. Além disso, devemos testar todos os pacientes para HIV. Podem ser usados AINES em doses máximas, por pelo menos duas semanas. Além disso, em presença de infecção ativa devemos usar antibiótico para a bactéria em questão. Em casos refratários, podemos usar sulfassalazina, metotrexato ou azatioprina. É assim definida sempre que pudermos responsabilizar condições intestinais inflamatórias pela origem da artropatia. Artropatia periférica -> em cerca de 20% dos pacientes com DC grave e 7% das RCU, caracterizada por uma poliartrite migratória aguda, de início abrupto (pico em 24 horas) em grandes articulações de MI (joelhos, tornozelos, IF proximal de mão), que pode evoluir de maneira assimétrica. Comum em pacientes que já possuem manifestações extraintestinais das doenças. O tratamento deve abranger o controle da doença intestinal primária. Espondiloartropatia -> ocorre em cerca de 20% dos pacientes, que desenvolvem sacroileíte e espondilite grave, é quase indiferenciável da espondilite anquilosante e o HLA-B27 pode estar presente em 50-70% dos casos. Pode anteceder a doença intestinal e evolui independente da remissão da doença. Tende a ser crônico e tem FR negativo. No tratamento podem ser usados agentes biológicos, que são úteis no tratamento das duas condições ao mesmo tempo. Não devem ser dados AINES, pois podem provocar sangramento intestinal agudo. Diagnóstico Tratamento ARTROPATIA ENTEROPÁTICA Padrões clínicos SÍNDROME DE SJÖGREN Essa síndrome foi descoberta por Herik Sjögren, um ofltalmologista sueco ao estudar as causas de olhos secos em seus pacientes. Afeta entre 3-11 a cada 100000 pessoas e é mais prevalente em mulheres. É uma doença autoimune e inflamatória, de progressão lenta, que afeta as glândulas exócrinas (exocrinopatia), no qual um infiltrado de linfócitos substitui o epitélio funcional, afetando as funções glandulares. Podemos encontrar os autoanticorpos anti-Ro (SSA) e anti-La (SSB). O quadro clínico comum envolve a síndrome sicca, com xeroftalmia (ceratoconjuntivite sicca), xerostomia, secura traqueal, constipação e secura vaginal (evolui com atrofia). As glândulas salivares se encontram aumentadas, devido ao quadro inflamatório das mesmas. Pode se associar com poliartrite não-erosiva, fenômeno de Raynaud, porém sem teleangiectasias e úlceras digitais. As manifestações extraepiteliais incluem vasculite cutânea, neuropatia periférica, glomerulonefrite com consumo de C4, além do risco aumentado de desenvolvimento de linfoma (40x). A secura ocular pode ser medida pelo teste de Schirmer (mede as lágrimas), positivo quando < 5 mm em 5 min. Podemos também usar a coloração rosa-bengala para avaliar a presença de lesões corneanas pela falta de lubrificação. Podemos observar um aumento bilateral acentuado das parótidas. No diagnóstico diferencial devemos pensar, quando bilateral em infecções virais, sarcoidose, DM, cirrose, pancreatite crônica, acromegalia, hipofunção gonadal e parotidite recorrente da infância. Já quando unilateral, pensamos em neoplasia de glândula salivar, infecções bacterianas, sialoadenite crônica e sialolitíase. São muito comuns lesões dentais, como cáries e erosões, pois a saliva possui um papel protetor da saúde bucal. Pode ser primária ou secundária, quando associada a outras doenças autoimunes. Apesar de xerostomia ser presente nos pacientes, ela é uma parcela muito pequena das queixas, logo devemos excluir antes: causas psicogênicas, desidratação (DM, trauma), drogas (psicoterápicos, parassimpaticolíticos, anti-hipertensivos), irradiação, malformações glandulares congênitas, infecções virais. Sintomas oculares (olho seco > 3 meses, sensação de areia ou CE nos olhos, uso de lubrificantes oculares > 3 x ao dia) E/OU sintomasbucais (sensação diária de boca seca por > 3 meses, inchaço de glândulas salivares recorrente ou persistente, uso de líquidos para ajudar a deglutir comidas secas). Procura de autoanticorpos -> anti-Ro e anti-La, FAN e FR. Se positivos -> sinais oculares (teste de Schirmer + ou rosa-bengala > 4) OU sinais orais (resultado positivo em pelo menos um -> cintilografia salivar, sialografia de parótidas ou fluxo inestimulado de saliva < 1,5 ml em 15 min). Se presentes confirmam diagnóstico,. Se ausentes, biópsia de glândula salivar (padrão-ouro). Se negativos analisar os mesmos sinais anteriores. Se positivos, iremos fazer a biópsia. Se negativos, excluímos o diagnóstico. Consiste em manter a hidratação bucal, evitar açúcares e alimentos cítricos (estimulam a salivação, aumentando a inflamação). Uso de lubrificantes nos locais ressecados. Nos fármacos, podemos usar hidroxicloroquina (primeira linha, boa no tratamento), metotrexato, azatioprina. Nos casos de falhas ou ausência de resposta, tentaremos um imunobiológico, como o rituximabe. Algoritmo de diagnóstico Tratamento ESCLEROSE SISTÊMICA Também conhecida como esclerodermia, tem como significado literal "pele endurecida". É uma doença de caráter autoimune, caracterizada por uma ativação inflamatória que desregula a ativação dos fibroblastos, provocando depósito de colágeno na pele e nos órgãos internos. A proliferação de fibroblastos inicia na camada íntima das arteríolas das extremidades cutâneas (endurecimento progressivo da pele, com perda das pregas cutâneas), evoluindo para o resto da pele e dos órgãos, principalmente pulmão, intestino, rins e coração. Acredita-se que vírus ou agentes químicos auxiliem no processo de ativação da autoimunidade, sendo desencadeantes. É mais comum entre os 30-50 anos, principalmente em mulheres. Esclerodermia localizada: acomete somente a pele, o tratamento é limitado e geralmente feito pelo dermatologista, podem ser usados infiltrados de corticoides ou o uso de alguns cremes específicos. Morfeia: mais comum, área circunscrita na pele, com alterações fibróticas. Formas de apresentação Linear: mais comum no início da infância, comum em membros, com caráter assimétrico e prejuízo do membro afetado. Golpe de sabre: lesão esclerótica linear, geralmente em face ou couro cabeludo, lembrando um golpe, envolve pele e tecidos mais profundos. Sistêmica: envolve os órgãos internos, sendo tratadas pelo reumatologista. Limitada: acomete mãos, pés e face. Pode também ser chamada de síndrome de CREST (calcinose, Raynaud, esofagopatia, esclerodactilia e teleangiectasia). Difusa: acomete qualquer região do corpo. Sine esclerodermia: apenas lesões orgânicas internas, com pele poupada. Overlap: associada comumente com LES, AR ou dermatomiosite, é uma sobreposição de doenças. É uma doença monofásica, ou seja, a partir do início segue uma única onda de lesão tecidual, com tempo variável. Manifestações vasculares: O fenômeno de Raynaud costuma ser o primeiro a aparecer (90-99% dos casos), é a obstrução de pequenas artérias e arteríolas das mãos e pés, por vasoespasmo desencadeado pelo frio ou por estresse. É caracterizado pela sequência de palidez (vasoespasmo), cianose (hipóxia) e rubor (vasodilatação de rebote). Pode ser primário ou secundário, o primário é uma alteração da normalidade, não estando relacionada com outra doença de base e diferenciamos pelo fato de o paciente possuir desde a infância essa vasoconstrição ocasionada pelo frio. Manifestações cutâneas: Esclerodactilia: dedos edemaciados, com pele espessa, brilhosa e ligada firmemente ao tecido cutâneo subjacente. Desaparecimento das pregas da pele interfalangiana, com incapacidade para pinçar tecidos moles, ocorre limitação da extensão completa dos dedos, com queda de pelos, redução de sudorese e contraturas de flexão. Fácies típica: na face ocorre perda das pregas cutâneas de expressão, com microstomia e incapacidade para abrir completamente a boca (dentes à mostra), os lábios ficam delgados e com pregas verticais e nariz afinado. Lesão em sal e pimenta: a pele tende a ficar seca e áspera com algumas áreas hiperpigmentadas, porém pode poupar a região perifolicular, com aspecto salpicado também conhecido como leucomelanodermia. Necrose de polpas digitais: por estar muito tensa a pele pode ficar com aspecto de um papel fino, podendo ocasionar úlceras, principalmente na ponta dos dedos, que geralmente se infectam, culminando com perda de tecidos moles. Teleangiectasias: o número de capilares da pele é reduzido pela fibrose, com dilatação dos remanescentes. Manifestações clínicas Calcinose: depósito de cálcio no tecido subcutâneo, podendo romper a pele drenando o material calcificado, são assintomáticos e mais comum nas falanges distais. Manifestações sistêmicas Constitucionais: perda ponderal e fadiga. Músculo-esqueléticas: poliartralgia e mialgia são achados comuns e precoces, pode ocorrer atrofia e fraqueza muscular incapacitante (retração fibrótica dos tecidos moles, expansão da fibrose, superposição de polimiosite 10-15% dos casos). Gastrointestinais: ocorre por dano na invervação, causando esofagopatias (muito comum em 90% dos casos, com refluxo gastroesofágico e evolução para esôfago de Barrett, dismotilidade esofágica distal, hipotonia), alterações intestinais (pseudo-obstrução, má-absorção, supercrescimento bacteriano do intestino delgado e divertículos de boca larga). Pulmonares: as complicações pulmonares constituem a principal causa de morte por esclerodermia atualmente. Alveolite com fibrose intersticial: típica da esclerose difusa, se apresenta com tosse seca e dispneia de esforço, no RX de tórax (tardio) vemos infiltrado reticulonodular inferior com favos de mel e elevação diafragmática, pode também ser feita TC de alta resolução com aspecto de vidro fosco ou LBA, com celularidade aumentada, predomínio de neutrófilos e eosinófilos. Hipertensão arterial pulmonar: clássica da forma limitada, ocorre por obstrução dos vasos pulmonares, pode-se ter um quadro assintomático ou com dispneia aos esforços, tonteira e síncope. Pode ter instalação súbita com quadro clínico grave, sendo uma emergência médica. No RX de tórax vemos abaulamento do segundo arco esquerdo e proeminência do hilo pulmonar. Cardíacas: miocardiopatia difusa fibrótica, bloqueios e arritmias, pericardite e derrame pericárdico. Renal: crise renal da esclerose sistêmica, ocorre em 15% dos pacientes, com evolução rapidamente progressiva, hipertensão maligna e IRA. FAN, anti-Scl70 (forma difusa) ou anti-centromêro (limitado). Deve ser feita capilaroscopia peri-ungueal, com achados de formações arbóreas, microhemorragias, megacapilares (no início) e depleção (fases tardias). Não existem testes ou exames específicos, sendo o diagnóstico clínico por critérios (2013): Espessamento cutâneo dos dedos de ambas as mãos, acometendo a região proximal (9 pontos). Espessamento da pele dos dedos - esclerodactilia (4) ou puffy fingers (edemaciados - 2). Lesões nas pontas dos dedos - cicatrizes (3) ou úlceras (2). Teleangiectasias (2). Alteração de capilaroscopia (2). Hipertensão pulmonar ou pneumopatia intersticial (2). Raynaud (3). Autoanticorpos (anticentromêro, anti-topoisomerase I, anti-RNA polimerase III - 3). Assim como no LES, não existe um tratamento específico, mas ele vai ser baseado no acometimento dos órgãos. Metotrexato - impede progressão cutânea, porém não tem ação sistêmica. Ciclofosfamida - age no pulmão (diminuição da fibrose) e na pele. Fenômeno de Raynaud - não farmacológico (interrupção do tabagismo, aquecimento de extremidades, proteção contra o frio) e farmacológico (BCC - nifedipina, anlodipina, diltiazem; nitroglicerina tópica ao longo das artérias; hidralazina, antagonistas de angiotensina II; simpaticolíticos - prazosin; inibidores de fosfodiestarase - sildenalfila/viagra; ISRS - fluoxetina; análogo da prostaciclina - iloprost; antagonista endotelina I - bosentam). Exames Diagnóstico Tratamento:Doença pulmonar - alveolite (somente doença em andamento no momento apresenta benefícios - prednisona e ciclofosfamida por 3 meses) e hipertensão pulmonar (oxigenioterapia, anticoagulação com warfarina; vasodilatadores - nifedipina; antagonistas endotelina I; análagos prostaciclina por 1- 2 anos; sildenafil). Renal: IECA ou BRA, iniciando em doses baixas e aumentando progressivamente até a normalização da pressão arterial, podem ser usados antagonistas do cálcio. O uso de diuréticos é contraindicado, bem como os corticoides e imunossupressores, que podem agravar o dano renal. Em alguns casos pode ser necessário o transplante e não existe benefício com o uso de IECA profilático. FEBRE REUMÁTICA Diferentemente da maioria das outras patologias reumáticas, a febre reumática não se trata de uma doença autoimune, mas sim de uma reação imunológica cruzada. O sistema imune produz anticorpos contra uma infecção estreptocócica (streptococco beta- hemolítico do grupo A), porém esses anticorpos acabam identificando moléculas do hospedeiro como antígenos bacterianos, atacando o organismo. É uma reação que ocorre após 2-4 semanas de uma infecção estreptocócica (fator obrigatório), mais comumente a faringoamigdalite. Esse tempo condiz com o tempo para a produção de anticorpos. É mais comum em crianças e adolescentes (5-15 anos), coincidindo com a epidemiologia da faringoamigdalite. É mais comum em meninas negras. O quadro clínico cursa com uma febre de início abrupto e um quadro articular (poliartrite migratória de grandes articulações, quadro autolimitado, que não causa deformidades após resolução). Além disso, o acometimento cardíaco é a complicação mais temida (cardite, ICC, insuficiência valvar), envolvimento de SNC (coreia de Sydeham), lesões cutâneas (eritema marginado e nodoso). Não existem testes específicos, sendo o diagnóstico clínico. É feito pelos critérios de Jones, para a confirmação, podemos ter: 2 maiores ou 1 maior e 2 menores ou 3 menores. Podemos solicitar exames - VHS, PCR (primeira a aumentar), ECG (avaliar acometimento cardíaco) e ASLO (anti-streptolisina O). O ASLO não faz o diagnóstico, são anticorpos contra o Streptococco, ou seja, é usado apenas para confirmar infecção prévia, seu valor pode ser prognóstico, quanto maiores os títulos, maior a gravidade da doença. O tratamento se baseia inicialmente na erradicação da infecção bacteriana, com antibioticoterapia. FRA (febre reumática aguda): corticoides (cardite, evita inflamação e calcificação das valvas cardíacas, em sequelados pode ser necessária cirurgia cardíaca), anti-inflamatórios (melhora abrupta da inflamação articular, prefere-se o uso de salicilatos) e antiepilépticos. Profilaxia secundária: Bezentacil, IM, dose única a cada 3 semanas, por 5-10 anos ou até os 21 anos (optar pelo tempo mais longo). A profilaxia de 5 anos pode ser feita nos casos de ausência de envolvimento cardíaco e em casos de ICC a profilaxia deve ser vitalícia. Diagnóstico Tratamento MIOPATIAS INFLAMATÓRIAS AUTOIMUNES São divididas em polimiosite, dermatomiosite e miosite por corpos de inclusão. São miopatias autoimunes caracterizadas pela inflamação do músculo esquelético. Sua autoimunidade possui fatores humorais e celulares. São relativamente raras, afetando cerca de 1 a cada 100000 pessoas ao ano, possuem dois picos de incidência, o primeiro dos 10 aos 15 anos e o segundo dos 45-60 anos. Possuem um potencial de associação com malignidades, em até 3 anos do diagnóstico da doença, devendo ser feito o rastreio e a pesquisa de neoplasias. Ocorre mais comumente com a dermatomiosite, sendo o risco maior em idosos e em adultos < de 45 anos. Principalmente ovário, cabeça e pescoço. Inicialmente, na maioria dos casos, se manifesta com fraqueza muscular proximal e simétrica, ou seja, deltoides, flexores de quadril e quadríceps. Em casos graves pode ocorrer o enfraquecimento da musculatura diafragmática, cervical e faríngea. A fraqueza da musculatura distal ocorre somente em casos graves. Pode cursar com artralgias, mialgias, artrite e fenômeno de Raynaud. Sinais e sintomas Pode ocorrer síndrome de superposição com outras doenças reumatológicas, como LES e esclerose sistêmica. Manifestações cutâneas - DERMATOMIOSITE: Pápulas de Gottron - é o mais específico, presente em cerca de 60-80% dos pacientes. Caracterizado por espessamento e descamação, de coloração violeta, simetricamente distribuídas sobre os nós dos dedos ou cotovelos, joelhos e maléolos. Heliotrópo - presente em aproximadamente 50% dos pacientes, sendo considerado também um sinal específico. É uma erupção eritematoviolácea na região das pálpebras superiores. Sinal do xale ou do manto - pode formar um V em região anterior do tórax ou se estender para o dorso, é fotossensível. Sinal de Holster - eritema do quinto dedo da mão. Hiperemia e aumento do crescimento cuticular. Mãos de mecânico - fissuras e lesões ásperas e escuras em região lateral palmar das mãos. Laboratoriais: Provas de dano muscular aumentadas - creatinofosfoquinase (CPK), aldolase, LDH, TGO e TGP. Presença de autoanticorpos (em 60-80% dos casos): FAN - indica DAI. Anti-Jo1 - associação com doença pulmonar (infiltrado), fraqueza muscular grave e mãos de mecânico, é uma forma grave da doença. Anti-Mi-2 - dermatomiosite clássica, sinal do xale ou do V, hipertrofia cuticular. Anti-SRP - fraqueza muscular aguda e severa, envolvimento cardíaco e mialgia. É mais rara e pode também cursar com necrose tubular aguda. Aumento de PCR e VHS (provas inflamatórias) e anemia de doença crônica. Exames de imagem RNM - geralmente é feita de coxas, é um exame diagnóstico que permite avaliar o nível de infiltração muscular. Eletromiografia - não é específico para a doença, revelando um padrão irritativo, auxilia a afastar causas neurológicas. Biópsia muscular - padrão-ouro para o diagnóstico, mas não é necessário (difícil realização, invasivo), devendo ser feito em casos duvidosos. Dermatomiosite - infiltrado inflamatório perifascicular (ao redor da fibra). Polimiosite - infiltrado inflamatório diretamente na fibra muscular (mais comprometimento). Critérios de Bohan e Peter - 1 (fraqueza de musculatura proximal simétrica); 2 (biópsia muscular evidenciando miosite); 3 (aumento sérico de enzimas marcadoras de dano muscular); 4 (padrão eletromiográfico característico); 5 (rashes típcos de dermatomiosite). Polimiosite - definitivo, todos de 1 a 4; provável, qualquer 3 de 1 a 4; possível, 2 de 1 a 4. Dermatomiosite - definitivo, 5 + qualquer 3 de 1 a 4; provável, 5 + 2 de 1 a 4; possível, 5 + 1 de 1 a 4. Exames complementares Diagnóstico Diagnósticos diferenciais: miopatias metabólicas (uremia, falência hepática), miopatias endócrinas (alteração de tireoide, Cushing, alteração de paratireoide, deficiência de vitamina D), miosite ossificante, paralisia periódica, miopatias congênitas, doenças miotônicas, distrofias genéticas (Duchenne), alterações de junção neuromuscular (ELA), miopatias tóxicas (drogas, alcoolismo, penicilina, cloroquina), miopatias nutricionais, neuromiopatia carcinomatosa, rabdomiólise aguda, neuropatias proximais (SGB), polimialgia reumática, doenças vasculares ou do colágeno (AR, ES, LES), infecções. Glicocorticoides - início, quadros agudos, não é recomendado seu uso em longo prazo (pode contribuir com a doença por causar sarcopenia). Tratamento Em casos graves pode ser feita pulsoterapia. Imunossupressores - tratamento de longo prazo. Metotrexato e azatioprina, melhor uso em casos de não envolvimento de parênquima pulmonar. Ciclofosfamida e micofenolato, bons em casos de envolvimento do parênquima pulmonar. Hidroxicloroquina - possui efeito muito fraco e pode causar toxicidade muscular, não sendo recomendada. Rituximabe - usado em casos refratários. Imunoglobulina humana EV. Preditores de mau prognóstico - diagnóstico em idade avançada; atraso no diagnóstico e na instituição do tratamento; quadros de miosite severa; envolvimento pulmonar, cardíaco ou gastrointestinalrelevante; HP de ausência de resposta com terapia imunossupressora; associação com malignidade; miosite de corpos de inclusão (MCI); anti-Jo1 ou anti-SRP. Difere das anteriores em alguns aspectos, provoca uma fraqueza muscular distal, assimétrica, muitas vezes unilateral e associada com atrofia. Porém, possui pouca manifestação extramuscular. A biópsia muscular tem padrão semelhante à polimiosite, mas com vacúolos à coloração. Possui resposta insatisfatória ao tratamento imunossupressor. Prognóstico MIOSITE POR CORPOS DE INCLUSÃO OSTEOARTRITES É uma doença articular degenerativa, sendo a entidade reumatológica mais prevalente na população. É caracterizada por perda progressiva da superfície articular, com posterior proliferação óssea e tecidos moles nas margens articulares e osso subcondral. É uma doença idade-dependente, sendo rara antes dos 40 anos e muito frequente após os 70 anos. Sua distribuição é universal. A prevalência radiológica supera a prevalência clínica (65% após os 70 anos tem alterações radiológicas). A HF positiva configura um fator de risco. Em mulheres é mais comum OA de mãos e em homens de quadril. Pode acometer qualquer articulação (apofisárias cervicais, interfalangianas, joelhos, quadris, etc.). A cartilagem fica mais amolecida e a pressão, assim como a resistência, diminuem, causando danos na rede de colágeno. Ocorre basicamente por um desequilíbrio entre a síntese e a destruição da cartilagem. História natural - perda progressiva da cartilagem, espessamento subcondral, formação de osteófitos marginais e redução de espaço articular (último estágio, causa limitação funcional). Primária - idiopática, sem causa conhecida. Localizada - mãos, joelhos, quadris, coluna. Difusa. Secundária - relação com outra causa de base que provocou o desgaste. Podem ser infecções, alterações metabólicas (Charcot, hemocromatose, Paget). Sem região específica, dependem do local acometido. FISIOPATOLOGIA Classificação Dor por demanda (com a realização dos movimentos), que piora ao longo do dia, rigidez matinal breve (dura < de 30 minutos), rigidez de repouso pré-cinética, limitação dos movimentos, instabilidade articular, deformidades ósseas, crepitações. Pode ter edema, dor e calor. Bem como fraqueza e hipotrofia muscular. Mão artrósica: Nódulos de Heberden - ID distais (mais comuns). Nódulos de Bouchard - ID proximais. Risartrose - pode ocorrer acometimento da trapézio-metacarpeana. Na palpação os nódulos são frios e duros (diferenciar de AR). Hálux valgo - acometimento da parte lateral do dedão do pé, conhecida popularmente como "joanete". Sinais e sintomas Espondiloartrose - diz respeito ao envolvimento da coluna. É mais frequente o acometimento das porções cervical (faz mais movimentos) e lombar (suporta mais peso). Os osteófitos da coluna vertebral, são popularmente conhecidos como "bico de papagaio". Medidas não-farmacológicas - acabam sendo a principal linha de tratamento, visto que ainda não foram desenvolvidos fármacos que alterem a progressão da doença (tratamento sintomático). Perda de peso em casos de obesidade, uso de órteses (joelho). Exercícios de baixo impacto, por 15-30 minutos, 3 x na semana - caminhadas, hidroginástica/natação, musculação de baixa carga (se paciente não for à academia, podem ser feitos exercícios extensores de coxa com caneleiras em casa, para o fortalecimento de quadríceps), bicicleta ergométrica. Analgésicos e AINES Para quadros leves, sem inflamação associada, tecnicamente a primeira linha seriam anti- inflamatórios simples como o paracetamol ou a dipirona, além de que a longo prazo possuem menos efeitos colaterais do que os AINES. Usa-se cerca de 500 mg, 4 x ao dia. Porém, como irão fazer o alívio sintomático, devemos prescrever o AINE ou analgésico com o qual o paciente se adapta melhor, sempre aconselhando cautela devido aos possíveis efeitos colaterais do uso exacerbado. Capsaícina tópica, mentol, cânfora. Em casos refratários, podemos tentar analgesia com opioides, sendo os mais recomendados o tramadol (50-100 mg de 8/8 h) e a codeína (30 mg de 8/8 h). Injeção intra-articular de corticoide - trimestral, em casos graves e refratários, devemos ter cautela pois o corticoide impede a regeneração articular. Podem ser tentados o uso de condroprotetores, porém são medicações caras e que não possuem eficácia comprovada com relação a diminuição da progressão da doença, ficando a escolha do uso a critério do paciente. Sulfato de glicosamina, sulfato de condroitina, diacereína, extrato de cúrcuma longa, colágeno hidrolisado. Em últimos casos, de acordo com a condição do paciente podem ser implantadas próteses articulares cirurgicamente. Estima-se que essa seja a medida que mais efetivamente altera o curso da doença. Tratamento ARTRITE GOTOSA A artrite gotosa está inserida no grupo das artropatias por cristais, que são entidades que depositam minerais no tecido musculoesquelético, cursam com inflamação aguda ou crônica, dano articular, provocando osteoartrose secundária. Causa inflamação articular, porém com origem metabólica, cursa com hiperuricemia e deposição de cristais de monourato de sódio nos tecidos e articulações. Acomete entre 2-18% da população, sendo mais comum em homens de meia-idade e em mulheres após a menopausa (estrogênio funciona como fator protetor estimulando a eliminação de ácido úrico pela urina). Se relaciona principalmente com excessos alimentares e alcóolicos, sendo por isso, uma doença metabólica. Além disso, se associa com função renal, peso, altura, pressão arterial, ingestão alcóolica, IMC e fatores genéticos. A uricemia é o principal determinante para o desenvolvimento de gota, pois a elevação dos níveis de ácido úrico irá saturar o plasma, fazendo com que ocorra o acúmulo de cristais nas articulações. O LSN para o ácido úrico é de 7 mg/dl. Aumento da produção - 10% dos casos; consumo de purinas, álcool, alterações mieloproliferativas, policitemia, psoríase, agentes citotócixos, ácido nicotínico. Pode ser um gatilho para uma hiperuricemia cronicamente aumentada. Diminuição da excreção - 90%; relacionado com resistência periférica à insulina, drogas (salicilatos, etanol, diuréticos - principalmente tiazídicos), doença renal, diminuição de volume urinário, acidose láctica, IAM, diminuição de volume plasmático. Fatores metabólicos, como obesidade, dieta (rica em carnes e álcool), sedentarismo, fatores genéticos, HAS e dislipidemias -> irão provocar aumento da insulinemia -> aumentando a reabsorção de uratos nos rins -> provocando hiperuricemia. Nos pacientes com HAS devemos atentar para o uso de HCTZ, pois ela também diminui a excreção de urato, podendo ser um desencadeante. HIPERURICEMIA ASSINTOMÁTICA - é um achado laboratorial isolado (uma pessoa pode ter hiperuricemia a vida toda e nunca apresentar um episódio de artrite gotosa ativa, porém toda pessoa com gota já esteve em um estado de hiperuricemia assintomática). Consideramos a fase como finalizada quando o paciente apresenta o primeiro episódio de gota ou de nefrolitíase. GOTA AGUDA - o acometimento geralmente é monoarticular (90%), sendo o mais comum o acometimento metatarsofalangiano (podagra - hálux ou região do joanete), mas também pode acometer os joelhos, bursa do olécrano e tornozelos. Geralmente se manifesta com dor intensa, súbita, à noite, progressiva e com intensa flogose articular (eritema importante). Pode cursar com febre, leucocitose e aumento de VHS. No diagnóstico diferencial se enquadra a artrite séptica. As características flogísticas e a dor podem ascender para os tecidos moles próximos ao local acometido. Quando recorre, tende a atingir articulações previamente acometidas. Os ataques poliarticulares ocorrem mais comumente em casos de doença avançada, idosos e mulheres. PERÍODO INTERCRISE - já teve crises anteriores, mas no momento é assintomático. GOTA TOFOSA CRÔNICA - caracteriza-se pela formação de nódulos tofosos (que podem drenar o monourato de sódio, lembrando um aspecto
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