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1 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MINEIROS UNIDADE BÁSICA DAS BIOCIÊNCIAS CURSO DE MEDICINA SP3: “POR ESSA EU NÃO ESPERAVA” Ana Paula Lazarin Bernardes Gabriela Pereira Valadares Giovanna Casagrande Moreli Jéssica Thaynna Resende Figueiredo João Otávio Leal Farina Laís Corrêa Marques Luiz Fernando Yabumoto Maria José Alves Macedo Marina Teixeira Silva Mayra Fernandes Martins Rones Dias da Costa Filho MINEIROS/GO 2021 2 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MINEIROS UNIDADE BÁSICA DAS BIOCIÊNCIAS CURSO DE MEDICINA Relatório apresentado à disciplina de Tutoria da Unidade II, do 8º período, do curso de medicina, como requisito parcial para obtenção de nota, sob orientação da Professora Dr Geraldo Eustáquio. MINEIROS/GO 2021 3 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 4 2. DISCUSSÃO ......................................................................................................................... 4 2.1 Estudar Síndrome Coronariana Aguda (Definição, Epidemiologia, fatores de risco, manifestações clinicas, diagnóstico e tratamento) .................................................................. 4 2.2 Caracterizar infarto agudo do miocárdio .......................................................................... 7 2.3 Descrever o algoritmo diagnóstico e protocolo de tratamento ......................................... 7 2.4 Identificar as possíveis complicações do infarto agudo do miocárdio (Arritmias, choque cardiogênico, edema agudo de pulmão, insuficiência cardíaca aguda) .................................. 8 2.5 Descrever os achados do eletrocardiograma .................................................................. 11 2.6 Descrever a farmacologia do Enalapril, Ácido acetilsalicílico, nitratos e amiodarona .. 12 2.7 Explicar o surgimento das bulhas cardíacas B3 e B4 ..................................................... 14 2.8 Compreender as medidas preventivas da reabilitação pós infarto agudo do miocárdio . 16 2.9 Correlacionar os achados do ECG com a topografia do infarto agudo do miocárdio .... 17 3.CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 18 4.REFERÊNCIAS................................................................................................................... 18 4 1. INTRODUÇÃO O reconhecimento da epidemiologia, manifestações clinicas, diagnóstico e tratamento da síndrome coronariana aguda é de suma importância para a formação médica, visto que é muito recorrente seu aparecimento nos atendimentos médicos hospitalares e ambulatoriais. Ao final dessa situação problema, por tanto, devemos saber reconhecer e diferenciar de forma imediata um infarto agudo do miocárdio com ou sem supra, uma angina estável ou instável, os achados no eletro cardiograma, bem como os diferentes tipos de exames complementares, tratamento preconizado para cada uma deles, indicações e contra indicações dos mesmos. 2. DISCUSSÃO 2.1 Estudar Síndrome Coronariana Aguda (Definição, Epidemiologia, fatores de risco, manifestações clinicas, diagnóstico e tratamento) A Síndrome Coronariana Aguda (SCA) consiste em uma das faces da doença aterosclerótica, a qual é oriunda da presença de placas ateromatosas na circulação arterial do coração. Ela se evidencia como um quadro instável, que se apresenta com sintomas anginosos que surgem aos mínimos esforços e até mesmo em repouso, estando associada a altos índices de morbidade e mortalidade. Em relação à sua epidemiologia, o infarto agudo do miocárdio é responsável por cerca de 8,8% dos óbitos no Brasil, sendo a mortalidade mais alta no sistema público do que no privado, decorrente de dificuldade de acesso ao serviço de terapia intensiva precocemente. Além disso, os fatores de risco incluem: (1) não modificáveis: idade, sexo masculino e história prévia de doença arterial coronariana; (2) modificáveis: dislipidemia, hipertensão arterial, diabetes mellitus, síndrome metabólica, tabagismo, obesidade, sedentarismo, etilismo. Ademais, há outros fatores de risco para o desenvolvimento de SCA, como sepse, anemia, vasoespasmo, vasculites e embolia coronária. Em relação à sua fisiopatologia, ao longo dos anos ocorre o depósito de colesterol do tipo LDL no subendotélio de vasos arteriais. Em associação com macrófagos, formam as chamadas células espumosas, quadro esse que configura a formação de um ateroma, o qual consiste em uma estrutura com core lipídico localizada na região subendotelial do vaso, recoberta por uma capa fibrosa. Os fatores de risco para a doença aterosclerótica se relacionam com a presença de um endotélio mais inflamado, o qual acaba por expressar moléculas de adesão, como VCAM-1. 5 Tais moléculas atraem elementos presentes no plasma, com ênfase nos monócitos, os quais, ao entrarem em contato com essas proteínas de adesão, se internalizam na camada subendotelial, local onde essas células se diferencial em macrófagos. Uma vez instalados, os macrófagos subendoteliais fagocitam moléculas de gordura, principalmente, colesterol do tipo LDL, de modo a gerar as chamadas de células espumosas, os quais se acumulam na camada subendotelial ao longo do tempo, comprimindo o endotélio contra a luz do vaso. Logo, toda essa lesão gera uma capa fibrótica que recobre essas células, em decorrência da migração de células da camada muscular lisa do vaso, que pode se calcificar ao longo do tempo. Basicamente, as placas ateromatosas se dividem em placa estável, que possui capa fibrótica mais espessa e menor core lipídico, e a placa vulnerável ou instável, a qual possui maior core lipídico e uma capa fibrótica mais delgada. Essa última é mais suscetível à ocorrência de rotura e erosão de sua capa, o que pode levar a um processo inicial de agregação plaquetária pela exposição do core lipídico, processo esse que gera o chamado trombo branco, o qual pode evoluir para um acúmulo de trombina e por consequência, de eritrócitos, o chamado trombo vermelho, que leva à trombose. Dessa forma, o quadro em questão é desencadeado pelo instabilização aguda de placa aterosclerótica localizada em campos coronarianos, propiciando a agregação plaquetária, de modo a formar um trombo na luz arterial, o que gera um agravamento agudo da obstrução vascular. O grau de obstrução determinará o aparecimento de diferentes sintomas clínicos, bem como o grau de isquemia ao qual o miocárdio for submetido. Nos casos em que o trombo promover uma obstrução parcial, com fluxo sanguíneo residual (seja pela porção ainda não ocluída ou por circulação colateral), ou com a ocorrência de uma oclusão transitória da luz vascular, temos dois quadros possíveis mais brandos da doença: o infarto agudo do miocárdio sem supradesnivelamento do segmento ST (IAMSSST) e a angina instável. Por outro lado, quando ocorre a obstrução total da luz arterial, sem o suprimento por circulação colateral, ocorre uma privação completa da irrigação do miocárdio, levando ao infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST (IAMSST). No quesito do quadro clínico, é uma dor precordial, constritiva ou opressiva, irradiando- se para o membro superior esquerdo, pescoço e/ou mandíbula associada às náuseas, vômitos, sudorese ou palidez com duração > 30 minutos. Portanto, o diagnóstico é feito por meio de história clínica, eletrocardiograma (ECG em até 10 minutos) e dosagem laboratorial de marcadores de necrose miocárdica. 6 7 2.2 Caracterizar infarto agudo do miocárdio O infarto é definido patologicamente como morte celular devido à isquemia prolongada. A injúria miocárdica é detectada quando há elevação de biomarcadores sensíveise específicos, como troponina ou CK-MB. A maioria dos casos de IAM é causada pela oclusão de um ramo coronariano principal. A obstrução e consequente redução do fluxo coronariano se devem comumente à ruptura física de uma placa aterosclerótica com subsequente formação de trombo oclusivo. A SCA se apresenta sob duas formas clínicas: com supradesnivelamento do segmento ST (SCACSSST), ou infarto agudo do miocárdio com supra de ST (IAMCSST), e aquela sem supradesnivelamento do segmento ST (SCASSST). Esta diferenciação é fundamental para o tratamento imediato da SCACSST através da reperfusão miocárdica, seja com trombolíticos ou com angioplastia primária. No IAMSSST pode aparecer alterações no ECG como infradesnivelamento ≥ 0,5 mm (0,05mV) em 2 ou mais derivações contínuas e/ou inversão de onda T ≥ 2 mm em derivações sem onda Q. 2.3 Descrever o algoritmo diagnóstico e protocolo de tratamento O diagnóstico deve ser realizado rapidamente para fornecer o melhor prognóstico ao paciente. Realizar o eletrocardiograma e dosagem de troponina é fundamental e eleva-se após 3 horas, portanto deve ser realizada no momento da admissão e monitorada constantemente, de 2 em 2 horas. O eletrocardiograma deve ser feito e interpretado em 10 minutos, buscando achados de IAM. Na respectiva situação problema o foco é voltado para o IAM sem supra de ST, portando, sem alterações eletrocardiográficas, sendo assim o comprometimento cardíaco será avaliado pela troponina. A atenção à sintomatologia é fundamental, a dor característica em aperto na região retroesternal e precordial com a mão sob a região como descrita por levene é um indicativo muito frequente em pacientes com IAM. Temos que coletar a história do paciente descrevendo o tipo de dor, fatores de risco; ao exame físico procurar sinais de gravidade (má perfusão, congestão pulmonar, arritmias ventriculares); realizar o ECG e interpreta-lo em até 10 minutos; realizar também troponina. O tratamento do IAM sem supra de ST atualizado pela nova diretriz de 2020: 8 2.4 Identificar as possíveis complicações do infarto agudo do miocárdio (Arritmias, choque cardiogênico, edema agudo de pulmão, insuficiência cardíaca aguda) INSUFICIÊNCIA CARDÍACA Os sinais clínicos de insuficiência cardíaca usualmente envolvem presença de taquicardia, desconforto respiratório, pulsos finos, diminuição da perfusão periférica com extremidades frias e oligúria, podendo aparecer uma 3a bulha e estertores pulmonares. Os estertores podem atingir campos médios e ápices pulmonares. É importante e prático classificar o estado atual e o prognóstico do paciente usando a classificação de Killip. Entre as medidas gerais, incluem-se a monitorização contínua para avaliação de variações do segmento ST e o controle de arritmias. A pesquisa de distúrbios eletrolíticos, acidose metabólica, disfunção renal ou anemia faz parte da avaliação de rotina nesses pacientes. CHOQUE CARDIOGÊNICO Choque cardiogênico é um estado de hipoperfusão tecidual, caracterizado por pressão arterial sistólica < 90 mmHg, índice cardíaco < 1,8 l/min/m² e pressões de enchimento elevadas. O paciente em choque cardiogênico necessita monitorização mais agressiva, utilizando controle intra-arterial de pressão, sondagem vesical, usualmente ventilação mecânica e instalação precoce do balão intra-aórtico. Especialmente para os pacientes que já apresentam Killip IV na 9 instalação do infarto agudo do miocárdio, o estudo hemodinâmico imediato é imperativo para consideração de angioplastia de emergência ou de cirurgia de revascularização miocárdica. Se o paciente estiver em um centro que não dispõe dessas opções, a terapêutica fibrinolítica deve ser utilizada sem demora e a transferência para um centro de maiores recursos deve ser providenciada imediatamente EDEMA AGUDO DE PULMÃO O edema agudo de pulmão (EAP) é uma síndrome clínica em que ocorre acúmulo de fluido nos espaços alveolares e intersticiais dos pulmões, podendo ser decorrente de causas diversas. O resultado do processo é caracterizado por hipoxemia, aumento no esforço respiratório, redução da complacência pulmonar e redução da relação ventilaçãoperfusão1. Está relacionado, na maioria das vezes, a causas cardíacas. O Paciente deve ser tratado com medidas iniciais, suporte respiratório. Deve ser analisado o uso de diuréticos, vasodilatadores, morfina, agentes inotrópicos. TAQUICARDIA SINUSAL A taquicardia sinusal é definida como aumento na frequência sinusal acima de 100 bpm comumente causada por ansiedade, dor persistente, disfunção ventricular, febre, pericardite, hipovolemia, tromboembolismo pulmonar e ação de agentes farmacológicos, como atropina, epinefrina ou dopamina. Raramente é ocasionada por infarto atrial. Muito frequente no infarto de parede anterior, associada à disfunção ventricular. ECG: FC > 100 bpm, Uma onda P para cada QRS Onda P positiva em DI, DII e aVF e negativa em aVR Tratamento: identificar a patologia associada e tratá-la. Betabloqueador pode ser útil na taquicardia sinusal por estresse emocional. TAQUICARDIA SUPRAVENTRICULAR PAROXISTICA A denominação supraventricular significa que a participação de uma estrutura atrial. O termo paroxístico refere-se a uma particularidade do quadro clínico que se caracteriza por início e término súbitos da taquiarritmia. ECG: FC > 100bpm, Complexo QRS estreito (< 120ms), Ausência de onda P, intervalos RR regulares Tratamento: Se hemodinamicamente estável, a primeira medida é a manobra vagal. Se não houver sucesso, devemos adotar medidas farmacológicas para reverter a arritmia. A 10 droga de escolha é a adenosina EV Caso ainda não ocorra a reversão, a próxima medida é administrar bloqueadores do canal de cálcio ou betabloqueadores. se o paciente está hemodinamicamente instável, deve-se realizar cardioversão elétrica sincronizada. FIBRILAÇÃO OU FLUTTER ATRIAL A FA é uma arritmia cardíaca caracterizada pela completa desorganização da atividade elétrica dos atrios e consequente perda da contração atrial. o flutter, em contraste com a fibrilação atrial, é uma arritmia organizada e regular que habitualmente se expressa de forma típica no eletrocardiograma. ECG: O flutter pode apresentar Ativação atrial contínua com padrão serrilhado, RR irregular e FC aumentada. Já a fibrilação ausência de onda P é substituída por um tremor de alta frequência na linha de base, ritmo irregular, taquicardia, presenças de ondas f. Tratamento: Como controle das taquicardias em pacientes estáveis e com RR regular pode-se optar por realizar manobra vagal, adenosina, betabloqueador (BB) ou bloqueador do canal de cálcio. em caso de instabilidade a cardioversão elétrica sincronizada com 50-100J em bifásicos e 100-200J nos monofásicos. BRADIARRITIMIAS E BAVT São as arritmias cardíacas nas quais a frequência cardíaca está abaixo de 60bpm. A bradicardia sinusal é um ritmo normal, cuja única diferença é frequência cardíaca diminuída. O BAV de 1º grau é uma bradiarritmia benigna. A frequência está menor que 60 BPM com o intervalo PR é MAIOR que 200ms. O BAV de 2º grau é considerado um bloqueio verdadeiro, já que, existem algumas ondas P que não produzem QRS. São divididos em Mobitz I, Mobitz II, BAV 2:1 e BAVT. A característica do Mobitz I é o intervalo PR alargado progressivamente para então falhar e não produzir QRS. Ou seja, o intervalo PR não é constante. É uma bradicardia benigna. No Mobitz II o intervalo PR é alargado, porém fixo. É como se você tivesse um PR constante até chegar um momento que a onda P é bloqueada e não produz complexo QRS. É uma bradicardia maligna. No BAV 2:1 A cada duas ondas P apenas uma produz complexo QRS. Na imagem, cada complexo QRS se situa entre duas ondas P. No BAV avançado temos uma sequência de ondas P bloqueadas seguidamente. Várias ondas P sem gerar um complexo QRS.Também é uma bradicardia maligna. 11 O BAV3º grau ou Total (BAVT) é um ritmo completamente assíncrono. O átrio bate em uma frequência, o ventrículo em outra. Tratamento: No caso de bradicardia sinusal ou outra bradicardia benigina com o paciente estável deve-se procurar a causa base. Já nos casos de bradicardia maligna, deve-se considerar avaliação com especialista e necessidade de marcapasso transvenoso. Quando o paciente está instável, a conduta inicial é ofertar oxigênio e iniciar atropina. como terapia de segunda linha, podemos usar Adrenalina 2-10 mcg/min, EV, Dopamina 2-10 mcg/kg/min, EV e marcapasso transcutâneo. 2.5 Descrever os achados do eletrocardiograma Existem, de um lado, alterações eletrocardiográficas patognomônicas de IAM, o qual são representadas pelo supradesnível do SST em 2 (duas), ou mais derivações contíguas. E de outro lado, por exemplo, alterações de distúrbios de condução elétrica, como bloqueios de ramo, ou átrio-ventriculares, os quais podem indiretamente representar isquemia miocárdica. Em relação a onda T, podem existir precocemente inversão da onda T, devido à modificação do eixo elétrico, associado a alterações das propriedades fisico-químicas da membrana celular dos miócitos, o qual traduz numa redução parcial da perfusão miocárdica, o qual é relacionado a obstruções subtotais coronárias, ou até mesmo a oclusões antigas, já acompanhadas por circulação colateral. Por outro lado, as obstruções coronárias agudas, determinam alterações do SST, o qual é fundamental na classificação das SCA, refletindo o fenômeno fisiopatológico adjacente; isto é, de forma geral, as lesões subtotais, as quais cursam com lesão subendocárdica, determinam infradesnível do segmento ST e oclusões agudas, determinando isquemia transmural, cursam com supradesnível do segmento ST. Sendo assim, recentemente, houve uma atualização na nominata do IAM, o qual foi tendendo a ser substituída em IAM com supra ST e IAM sem supra ST, devido ao fato que tanto o infra, como o supra do segmento ST, podem evoluir com ondas Q. Finalmente, o fim do processo isquêmico é a necrose miocárdica. Nestas condições, o miocárdico relacionado ao processo necrótico, passa a representar uma área eletricamente silenciosa, produzindo ondas Q no ECG. No ECG do paciente com IAMSSST, o eletrocardiograma pode estar normal ou apresentar alterações como: Infradesnivelamento de ST>0,5 mm; inversão da onda T em derivações precordiais (>2mm) e mudanças inespecíficas no ST e onda T. Além disso, o ECG pode evidenciar onda Q patológica, que indica uma isquemia prévia, o que pode aproximar do diagnóstico de um novo episódio. 12 Sobre a elevação do seguimento ST: pode-se dizer que ela está presente quando ST ≥ 1 mm (acima do ponto J) (Figuras 1 e 2) em duas ou mais derivações contíguas (formam uma parede). Como exceção, em V2 e V3, a elevação deve ser ≥ 2,5 mm em homens < 40 anos, ≥ 2 mm em homens ≥ 40 anos e ≥ 1,5 em mulheres. Alguns autores relataram tentativas de medir qualitativamente a área final do infarto pelo ECG, baseado no seguinte grau de isquemia. Em pacientes sem sinais de necrose (ondas Q), ou reperfusão (ondas T invertidas), a seguinte definição foi proposta: • Grau I de isquemia: Ondas T altas, simétricas e apiculadas • Grau II de isquemia: Supradesnível do segmento ST sem distorção final do QRS • Grau III de isquemia: Mudanças na porção final do QRS Em relação ao Grau III de isquemia, vale aqui explicitar que tal modificação na morfologia do QRS, também é chamado de bloqueio da lesão. Tal alteração consiste na distorção da porção terminal do complexo QRS em duas, ou mais derivações consecutivas (emergencia do ponto J em um nível acima da metade da onda R, ou o desaparecimento da onda S em derivações com configuração RS). O significado fisiopatológico desta alteração é a mudança na velocidade de condução nas fibras de Purkinje, em função de isquemia severa, uma vez que estas são menos sensíveis à isquemia que as células contrateis. Tal alteração é preditora de disfunção ventricular severa, aumento da mortalidade intra-hospitalar e aumento da mortalidade após um ano 2.6 Descrever a farmacologia do Enalapril, Ácido acetilsalicílico, nitratos e amiodarona ENALAPRIL Enalapril é utilizado no controle da hipertensão leve, moderada e grave, tanto como droga isolada quanto em associação com outras classes de anti-hipertensivos. A eficácia anti- hipertensiva do enalapril é semelhante à dos demais inibidores da ECA (como o captopril) e à dos β-bloqueadores. Na abordagem do paciente hipertenso é preciso ter em mente a necessidade de se individualizar a terapêutica, considerando-se a gravidade dos níveis pressóricos e também aspectos do estilo de vida, exposição aos fatores de risco, existência de comorbidades, tolerabilidade às diversas drogas antihipertensivas e resposta ao tratamento instituído. Nome Genérico: maleato de enalapril. Classe Química: inibidor da enzima conversora de angiotensina (não sulfidrílico). Classe Terapêutica: anti-hipertensivo. Forma Farmacêutica e Apresentação: Enalapril 5 mg, envelope com 10 comprimidos. Indicações: Hipertensão arterial; Infarto agudo do miocárdio; Insuficiência cardíaca congestiva. 13 Outros usos: nefropatia, retinopatia, artrite reumatóide; eritrocitose; hiperaldosteronismo. ÁCIDO ACETILSALICÍLICO (AAS): Realiza a inibição irreversível da atividade das isoenzimas cicloxigenase – COX 1 (plaquetas, estômago e rim) e COX 2 (SNC, traqueia, rim, células endoteliais, testículos, ovários etc), que propiciam a transformação do ácido araquidônico em prostaglandina H2, que é o precursor imediato das Prostaglandinas: D2, E2, F2a, I2 e do tromboxano A2 (TXA2), ocorrendo bloqueio da produção de tromboxano A2. Indicações: redução do risco de mortalidade em pacientes com suspeita de infarto agudo do miocárdio (IAM); redução do risco de morbidade e mortalidade em pacientes com antecedente de infarto do miocárdio; prevenção secundária de acidente vascular cerebral; prevenção do risco de ataques isquêmicos transitórios (AIT) e acidente vascular cerebral em pacientes com AIT; Contraindicado em casos de hipersensibilidade, úlceras gastrointestinais agudas, diátese hemorrágica. NITRATOS Os nitratos produzem o relaxamento vascular em artérias e veias. Baixas concentrações de nitratos produzem uma vasodilatação predominantemente mais venosa do que arteriolar. A venodilatação predominante produz diminuição do volume das câmaras cardíacas e da pressão diastólica final, ocorrendo pouca alteração na resistência vascular sistêmica. A pressão arterial pode cair pouco e a frequência cardíaca normalmente se mantém inalterada ou pouco aumentada por ação reflexa. A resistência vascular pulmonar diminui, bem como o débito cardíaco. Mesmo doses que não alterem a pressão arterial levam à dilatação arteriolar nos vasos meníngeos, induzindo a flush facial e à cefaleia. Doses elevadas podem causar maior sequestro venoso, hipotensão e baixo débito. Tolerância: O uso contínuo dos nitratos leva à redução do seu efeito farmacológico com o passar do tempo. Esta tolerância pode ser diminuída se o uso do nitrato for interrompido por cerca de 8 a 12 horas entre a última dose de um dia e a primeira dose do dia seguinte. O 5- mononitrato deve ser prescrito com horário excêntrico (ex: 08h00 e 16h00) para evitar esse fenômeno, não devendo ser usado em intervalos regulares (ex: 12/12h). 14 Efeitos colaterais: Cefaleia é um efeito comum e pode ser severa. Normalmente diminui após alguns dias de tratamento. Pode ocorrer hipotensão postural em pacientes imobilizados por longos períodos. AMIODARONA A amiodarona é considerada um antiarrítmico de classe III pela classificação de Vaughan Williams. Isso significa que seu principal mecanismo de ação é pelo bloqueio de canais de potássioem células do marca-passo cardíaco. Dessa forma, o fármaco prolonga o período refratário e o potencial de ação das células auto excitáveis, o que permite o reestabelecimento do ritmo normal do coração. Apresentação da amiodarona: a amiodarona pode ser encontrada como cloridrato de amiodarona e pelos nomes comerciais: Ancoron®, Atlansil®, Miodon®. Ela está disponível no mercado na forma de comprimidos orais (200mg/comprimido) e ampolas injetáveis (150mg/3ml). Mecanismos de ação: a amiodarona é classificada como um antiarrítmico de classe III. Ela atua bloqueando os canais de potássio das células auto excitáveis do coração. A diminuição do efluxo desse íon durante a fase de repolarização prolonga o período refratário efetivo e o potencial de ação, o que pode ser observado no eletrocardiograma pelo alargamento do intervalo QT. Esse efeito da amiodarona permite que as células do marca-passo cardíaco sejam capazes de reestabelecer o ritmo de normal de contração desse órgão. Indicações: A amiodarona é indicada em arritmias associadas à síndrome de Wolff Parkinson White, em taquiarritmias ventriculares sintomáticas e taquiarritmias supraventriculares sintomáticas, como flutter e fibrilação atrial. 2.7 Explicar o surgimento das bulhas cardíacas B3 e B4 Terceira Bulha cardíaca (B3) A presença de terceira bulha (B3) é um achado eventual durante a asculta cardíaca, sobretudo para quem costuma atender pacientes com insuficiência cardíaca. Durante a diástole o enchimento dos ventrículos depende de três fases sequenciais: enchimento rápido, enchimento lento e contração (ou kick) atrial. Em um indivíduo hígido, cada fase é responsável respectivamente por aproximadamente 75%, 10% e 15% do volume de sangue que chega aos ventrículos direitos e esquerdos. 15 A terceira bulha ocorre durante a fase de enchimento rápido, após a abertura das válvulas atrioventriculares. O sangue que estava sendo represado nos átrios chega rapidamente ao ventrículo e é ‘freado’ ou ‘desacelerado’. Quando a desaceleração da coluna de sangue é muito abrupta essa desaceleração causa dissipação da energia cinética (da massa de sangue em movimento), essa dissipação de energia causa vibração das estruturas adjacentes, que quando transmitida pela caixa torácica é audível, formando a terceira Bulha. Entendendo o mecanismo de formação da B3 percebe-se que ela pode originar-se tanto de condições hemodinâmicas que aumentem o fluxo de sangue durante a fase de enchimento rápido como de condições que façam que a desaceleração do sangue seja muito abrupta (por diminuição da complacência ventricular) ou de uma soma dos dois componentes. Aumentam a velocidade do sangue na fase de enchimento rápido: PVC elevada; (onda v do pulso venoso); Relaxamento do VE (aumenta a diferença de pressão entre AE-VE); Hipervolemia; estados Hiperdinâmicos ( febre, tireotoxicose, anemia, …) Principais determinantes da complacência ventricular esquerda: espessura da parede; composição da parede miocárdica (fibrose, inflamação, isquemia, infiltrado); presença ou não de restrição pericárdica; diâmetros da câmara; grau de relaxamento do VE (isquemia ou hipertrofia miocárdica causam défict do relaxamento) e curva de pressão/volume do VD (disfunção de VD com regimes pressóricos elevados podem afetar a complacência do VE). Portanto patologias que afetam a complacência do coração (que pode ser explicada como a capacidade do ventrículo de acomodar o fluxo de sangue que recebe na diástole) por qualquer um destes mecanismos podem levar a formação de B3 por levar a desaceleração abrupta da coluna de sangue Nem toda B3 é patológica. Condições de hipervolemia (ex: gestação) ou indivíduos jovens com grande capacidade de relaxamento ventricular podem ter B3 audível e fisiológica. Diversos estudos já demonstraram que mesmo com múltiplos exames complementares disponíveis (ECO, Cateterismo direito, RNM) a presença de B3 ainda é um fator prognóstico importante e independente, sobretudo para pacientes com IC descompensada. 16 Quarta Bulha (B4) A B4 é provocada pelo enchimento ventricular aumentado, o qual é desencadeado por contração atrial, próxima à telediástole. É semelhante à B3, sendo mais bem ou somente auscultada com a campânula do estetoscópio. Durante a inspiração, a B4 do ventrículo direito aumenta e a B4 do ventrículo esquerdo diminui. Ausculta-se B4 com frequência muito maior que B3, o que indica um grau menor de disfunção ventricular, geralmente diastólica. B4 está ausente na fibrilação atrial (pois o átrio não se contrai), mas está quase sempre presente na isquemia miocárdica ativa ou logo após infarto do miocárdio. B3, com ou sem B4, é comum na disfunção sistólica significativa do ventrículo esquerdo, e B4 sem B3 é comum na disfunção diastólica do ventrículo esquerdo. O galope de soma ocorre quando existem B3 e B4 e em um paciente com taquicardia, o que encurta a diástole e provoca a fusão dos 2 sons. Quando intensas, é possível palpar B3 e B4 no ápice, com o paciente em decúbito lateral esquerdo. O ruído diastólico ocorre ao mesmo tempo que a B3, na protodiástole. Não é acompanhado de B4, sendo um som mais intenso e surdo, o que indica interrupção abrupta do enchimento ventricular por pericárdio constritor e não complacente. 2.8 Compreender as medidas preventivas da reabilitação pós infarto agudo do miocárdio Segundo a Organização Panamericana de Saúde (2003), os conhecimentos atuais derrubaram o mito da impossibilidade de prevenção das doenças não transmissíveis e demonstraram que a maioria delas pode ser prevenida ou retardada pela prevenção primária, com a identificação dos fatores de risco envolvidos. Em relação à doença cardíaca e hipertensão arterial sistêmica, oito fatores de risco que podem ser prevenidos foram selecionados: tabagismo, consumo de álcool, nutrição, inatividade física, obesidade, pressão arterial elevada, glicemia elevada e níveis elevados de lipídios sangüíneos, ao que Giannotti (2002) acrescenta o estresse. Estudos realizados no Brasil revelaram a presença destes mesmos fatores de risco (Piegas e colaboradores, 2003). Reconhecendo a importância dos benefícios da atividade física para a prevenção das doenças cardiovasculares, surgem, a partir da década de 90, os programas de condicionamento físico para a modificação dos fatores de risco. A atividade física é de grande importância neste contexto, pois, segundo Oliveira (2004), além de se constituir na principal forma de combate ao sedentarismo, estimula a retomada de alguns hábitos de vida. Uma metanálise de 95 estudos concluiu que o exercício determina uma redução de 6% do colesterol total, 10% do LDL colesterol e o aumento de 5% no HDL colesterol. A atividade física regular associada à perda 17 de peso corporal tem resultado em redução significativa de triglicérides. A longo prazo o exercício pode ajudar a controlar o hábito de fumar, a hipertensão arterial, dislipidemias, diabete mellitus, obesidade e a tensão emocional. Após o infarto agudo do miocárdio, programas de condicionamento físico resultam em melhora da capacidade funcional, além da redução da freqüência cardíaca, pressão arterial sistólica e melhora no fluxo sanguíneo coronário (Sociedade Brasileira de Cardiologia - SBC, 2000). Além disso, o efeito benéfico do exercício físico parece resultar de interações complexas de efeitos psicológicos e fisiológicos (Bosco, Demarchi, Rebelo & Carvalho, 2004). 2.9 Correlacionar os achados do ECG com a topografia do infarto agudo do miocárdio O ECG indica eletrocardiograma com 12 derivações. Elas são: • 3 derivações bipolares: DI, DII, DIII. • 3 derivações unipolares: aVR, aVL, aVF • 6 Derivações precordiais: V1-V2 – V3 – V4 – V5 – V6 O IAM SSST indica infarto agudo do miocárdio sem supradesnivelamento de segmento ST e IAM CSST indica infarto agudo do miocárdiocom supradesnivelamento de segmento ST. O sinal eletrocardiográfico de necrose é uma onda Q patológica em derivações próximas à necrose. No caso de isquemia, a repolarização do miocárdio é alterada e ocorre de maneira inversa em relação à situação normal, por isso, a onda T é invertida na fase pós-aguda (as semanas após o infarto). Na fase aguda (a primeira semana), a onda T mantém a direção normal. Normalmente, a onda R do complexo QRS “cresce” passando de V1 para V6. A ausência de tal progressão fisiológica é um sinal de ataque cardíaco. A razão é que, movendo-se para a esquerda (de V1 para V6), você chega à área mais próxima do ventrículo esquerdo. Geralmente, a elevação do segmento ST é causada por isquemia transmural e aparece na fase aguda (primeiros dias) de um infarto do miocárdio. Quanto à evolução de um infarto do miocárdio agudo no ECG, na fase aguda, ocorre: 1. Uma alteração da onda T, 2. Subsequentemente, ocorre o desnivelamento do segmento ST, 3. Então a onda T torna-se invertida, 4. Nas fases tardias aparece a onda Q patológica que permanece como um sinal indelével de um ataque cardíaco prévio. https://www.fisioterapiaparatodos.com/p/coracao/infarto-agudo-do-miocardio-o-que-e/ 18 Dado que não há atividade elétrica na área infartada, todos os vetores se afastam e isso causa a sua negatividade, por exemplo, se houver uma onda Q anormal em V5 e V6, o paciente pode ter tido um infarto lateral esquerdo. E para diagnóstico diferencial, a angina normalmente responde aos nitratos (isso pode ajudar no diagnóstico). 3.CONSIDERAÇÕES FINAIS Tempo é músculo, por tanto, diante de uma suspeita clínica de infarto agudo do miocárdio, o médico deve agir de forma imediata, com a solicitação e interpretação do ECG e marcadores laboratoriais de necrose miocárdica, sendo preconizada a troponina, logo em seguida deve ser instituído tratamento medicamentoso, podendo ser utilizado nitratos, anti- agregantes plaquetário, anti-hipertensivos (IECA, BRA, Beta bloqueadores) e cateterismo quando há indicação, junto a isso, paciente deve ser orientado a modificar fatores de risco, adotando hábitos de vida saudáveis, assim diminuindo a incidência de reinfartos e suas possíveis complicações. 4.REFERÊNCIAS DE ANDRADE, Jadelson Pinheiro et al. IV Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Tratamento do Infarto Agudo do Miocárdio com Supradesnível do Segmento ST. 2009. ESC. 2020 Acute Coronary Syndromes (ACS) in Patients Presenting without Persistent ST- Segment Elevation (Management of) Guidelines. Disponível em: https://www.escardio.org/Guidelines/Clinical-Practice-Guidelines/Acute-Coronary- Syndromes-ACS-in-patients-presenting-without-persistent-ST-segm Formiga, Andréa Soares de Castro, Dias, Mardonio Rique e Saldanha, Ana Alayde WerbaAspectos psicossociais da prevenção do infarto: construção e validação de um instrumento de medida. Psico-USF [online]. 2005, v. 10, n. 1 [Acessado 12 Novembro 2021] , pp. 31-40. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1413-82712005000100005>. Epub Martins HS; Neto RAS; Velasco IT - Emergências Clínicas Abordagem Prática – 11a Edição, Editora Manole, 2016. Nicolau JC, Timerman A, Marin-Neto JA, Piegas LS, Barbosa CJDG, Franci A, Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Angina Instável e Infarto Agudo do Miocárdio sem Supradesnível do Segmento ST. Arq Bras Cardiol 2014; 102(3Supl.1):1-61. Piegas LS TA, Feitosa GS, Nicolau JC et al. V Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Tratamento do Infarto Agudo do Miocárdio com Supradesnível do Segmento ST. Arq Bras Cardiol 2015;105(2):1-105 https://www.fisioterapiaparatodos.com/p/coracao/angina-pectoris/ https://www.escardio.org/Guidelines/Clinical-Practice-Guidelines/Acute-Coronary-Syndromes-ACS-in-patients-presenting-without-persistent-ST-segm https://www.escardio.org/Guidelines/Clinical-Practice-Guidelines/Acute-Coronary-Syndromes-ACS-in-patients-presenting-without-persistent-ST-segm 19 Robbins e Cotran, bases patológicas das doenças / Vinay Kumar... [et al.]; [tradução de Patrícia Dias Fernandes... et al.]. - Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Angina Instável e Infarto Agudo do Miocárdio sem Supradesnível do Segmento ST – 2021. ABC Cardiol, julho de 2021.