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A obesidade é uma doença crônica com elevada taxa de recidiva e, na maioria das vezes, acompanha a pessoa por toda a vida. No Brasil, estima-se que mais de metade da população esteja com excesso de peso ou obesidade. A obesidade gera diversas consequências, como câncer, pressão alta, diabetes, doenças do coração e colesterol elevado. Fisiopatologia A fisiopatologia da obesidade envolve a infiltração e proliferação de macrófagos do tipo M1, que são macrófagos pró-inflamatórios que mediam uma inflação crônica secretando ou produzindo uma liberação alterada de adipocinas. Dessa forma, tem-se um aumento de citocinas pró-inflamatórias, como a IL-6 e TNF-alfa, diminuição da IL-10 (anti-inflamatória), aumento da proteína ligante do retinol do tipo 4 (RBP4), aumento de ácidos graxos livres (AGL), diminuição da adiponectina e aumento da leptina e resistina. A leptina está associada com saciedade alimentar, entretanto o seu excesso leva a uma resistência. Então o indivíduo terá um aumento da ingestão alimentar e da produção de glicose hepática, diminuindo o gasto energético, o que contribui para o aumento do peso. Essas adipocinas vão agir em diferentes órgãos, como o músculo, diminuindo a captação de glicose e oxidação de AGL, o que gera mais inflamação, acúmulo ectópico de lipídeos e resistência à insulina. No fígado, também vai ser caracterizado os mesmos efeitos, além de aumento da glicogenólise, gliconeogênese e consequentemente aumento da glicemia. Classificação IMC (kg/m2) Classificação Grau/classe Risco de doença <18,5 Magro ou baixo peso 0 Normal ou elevado 18,5-24,9 Normal ou eutrófico 0 Normal 25-29,9 Sobrepeso ou pré-obeso 0 Pouco elevado 30-34,9 Obesidade I Elevado 30-39,9 Obesidade II Muito elevado >40,0 Obesidade grave III Muitíssimo elevado Critérios para síndrome metabólica No critério brasileiro, a síndrome ocorre quando estão presentes três dos cinco critérios abaixo: Obesidade central: circunferência da cintura superior a 88cm na mulher e 102cm no homem; Hipertensão arterial: pressão arterial sistólica 130 e/ou pressão arterial diastólica 85mmHG; Glicemia alterada (110mg/dL) ou diagnóstico de diabetes; Triglicerídeos 150mg/dL; HDL colesterol £40mg/dL em homens e £50mg/dL. Tratamento O tratamento da obesidade é feito com medicamentos anorexígenos, como a Sibutramina, Orlistat, Liraglutida e Semaglutida. Existem medicamentos com uso off label, ou seja, medicamentos que foram sintetizados e lançados no mercado não para tratar obesidade, mas em algumas situações eles são utilizados, como a Fluoxetina, Topiramato e Naltrexona/Bupropiona. Dentro dos medicamentos anorexígenos, tem-se as substâncias inibidoras de apetite do tipo anfetamínicos. Desse grupo, a Anfepramona, Femproporex e o Mazindol foram retirados do mercado, visto que não apresentavam eficácia, com resultados absolutamente insatisfatórios no médio e longo prazo, além e trazerem efeitos colaterais que incluem risco de dependência, aumento da hipertensão arterial e problemas psiquiátricos, danos no cérebro e no sistema cardiovascular. No mercado ainda se tem disponível a Sibutramina, que tem um benefício maior que o risco, desde que utilizada adequadamente e para determinados perfis de pacientes. Medicamentos anorexígenos Sibutramina A Sibutramina inibe a reabsorção de neurotransmissores como a serotonina, norepinefrina e dopamina, promovendo um aumento da saciedade e reduzindo o gasto energético que acompanha a perda de peso. A imagem ao lado mostra uma membrana pré-sináptica com acúmulo do neurotransmissor (serotonina – 5HT e noradrenalina – NE) e a sibutramina (em verde) está inibindo o transportador que recapta esses neurotransmissores. Ou seja, promove um aumento desses neurotransmissores, que vai levar a saciedade. Efeitos adversos Boca seca; Obstipação intestinal; Cefaleia; Insônia; Aumento de pressão arterial e frequência dos batimentos cardíacos; Formigamentos; Dor em região lombar; Náusea; Aumento do suor; Modificação do paladar; Alterações da visão. apenas em 10 a 20% dos casos Indicação É indicada para pacientes com índice de massa corpórea (IMC) maior ou igual a 30kg/m2, ou seja, para obesidade tipo I. 15mg/dia. Orlistate O Orlistate promove uma inibição reversível de lipases gastrointestinais levando a redução na absorção de gorduras. A lipase degrada a gordura e o Orlistate (em azul) se liga a essa enzima, inibindo-a, consequentemente inibe também a absorção de gorduras, como representado na imagem ao lado. Efeitos adversos Fezes gordurosas; Urgência fecal; Flatulências; Aumento da frequência de evacuações. Esses efeitos ocorrem no início do tratamento e desaparecem após um curto período de tempo. Além disso, reduz a absorção de vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K). Dessa forma, pacientes em suplementação devem manter intervalo de 2h. Também tem efeito aditivo com hipolipemiantes e pode reduzir a absorção de outros fármacos. Análogos de GLP-1 (hipoglicemiantes) Outra classe de fármacos utilizada para o tratamento da obesidade é a dos análogos de GLP-1, que inclui a Liraglutida e a Semaglutida. O GLP-1 é um peptídeo semelhante ao glucagon 1 produzido pelas células intestinais do tipo L e sua forma ativa é o GLP-1 [7-36NH2]. Esse peptídeo atua no sistema nervoso central diminuindo o apetite, no pâncreas aumenta a liberação de insulina e diminui o glucagon e diminui o esvaziamento gástrico. O GLP-1 natural produzido pelo organismo é degradado pela enzima dipeptidil peptidase 4 (DPP-4) e tem um tempo de meia-vida extremamente curto, entre 1-2 minutos. Os análogos sintéticos (Liraglutida e Semaglutida) são fármacos que têm uma modificação estrutural que fazem com que eles tenham uma resistência a DPP-4, aumentando assim o tempo de circulação sistêmica. São fármacos administrados por via subcutânea com auxílio de uma caneta (1x/semana?). A dose inicial da Saxenda® (liraglutida) é de 0,6 até 3mg enquanto o Ozempic® (semaglutida) tem dose incial de 0,25 até 1mg. Efeitos adversos Enjoo (principalmente pelo retardo do esvaziamento do estômago); Cefaleia; Diarreia; Constipação; Fraqueza; Hipoglicemia; Reações no local de administração. Medicamentos off label Outros medicamentos são utilizados para um tratamento off label da obesidade, ou seja, esses medicamentos não tem indicação na bula para tratar obesidade. Fluoxetina A Fluoxetina é um antidepressivo que tem como efeito adverso a anorexia, visto que por aumentar os níveis de serotonina ela diminui o apetite. Dessa forma, pode beneficiar os pacientes obesos deprimidos. Topiramato O Topiramato é um anticonvulsivante, então não se conhece o mecanismo exato, mas acredita-se que esse fármaco diminui o apetite e aumenta a sensação de saciedade, interferindo com diferentes receptores, como o GABA, receptores excitatórios de glutamato ou anidrase carbônica. Bupropiona A Bupropiona também é um antidepressivo que diminui o apetite por aumentar os níveis de dopamina e noradrenalina. Em alguns países, a Bupropiona pode ser associada a um antagonista opioide (Naltrexona) para o tratamento da obesidade.
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