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Os produtos secretados pela tireoide são: 90%: tetraiodotirosina (tiroxina, T4); 9%: tri-iodotironina (T3); 1%: T3 reverso (rT3). Nas concentrações plasmáticas normas, tem-se entre 4,5 - 11µg/dL de T4 e 60 – 180ng/dL de T3. Síntese e secreção dos hormônios As células foliculares da tireoide vão concentrar o iodeto através do transportador NIS, que também transporta sódio. O iodeto vai ser transportado através da membrana apical com ajuda da proteína pendrina, então o iodeto é oxidado através da ação da enzima tireoperoxidase. Também através da tireoperoxidase o iodo se liga a resíduos de tirosina na molécula da tireoglobulina (Tg). A iodação da tireoglobulina é chamada de organificação. As moléculas de tireoglobulina contém MIT, DIT, T3, rT3 e T4 e ficam armazenadas no lúmen na forma de coloide. Quando a tireoide é estimulada, as células fazem a endocitose do coloide e, no citoplasma da célula, proteases liberam T3, T4, MIT e DIT da Tg. T3 e T4 são secretados no plasma, enquanto MIT e DIT sofrem ação de deiodinases que liberam iodeto e tirosina para nova síntese de hormônios tireoidianos. I2 + tirosina = monoiodotirosina (MIT) 2 I2 + tirosina = diiodotirosina (DIT) DIT + DIT = T4 DIT + MIT = T3 ou rT3 Regulação da síntese e secreção de T3 e T4 Em um paciente saudável, o hormônio liberador de tireotropina (TRH) estimula a adenohipófise a liberar o hormônio estimulante da tireoide (TSH), o qual estimula a síntese e liberação dos hormônios tireoidianos. Esses hormônios fazem uma retroalimentação (feedback negativo), inibindo a liberação de TSH e TRH. Já em um paciente com doença de Graves há a formação de anticorpos que estimulam ativação do receptor de TSH na tireoide e isso aumenta a síntese e liberação de T3 e T4, ocasionando um maior feedback negativo. Com isso, tem-se uma menor liberação de TRH e TSH. Enquanto em pacientes com tireoide de Hashimoto, a principal causa de hipotireoidismo, tem- se a produção de anticorpos destrutivos que causam insuficiência da tireoide, com isso tem-se uma baixa produção de T3 e T4, comprometendo também o feedback negativo, havendo maior secreção de TRH e TSH. Farmacocinética T3 e T4 T4 é a forma circulante predominante. A maior parte de T3 é convertida a partir de T4 em tecidos como fígado e rins. Dessa forma, T4 funciona basicamente como um reservatório de T3. Esses hormônios são muito ligados a proteínas plasmáticas, assim apenas 0,03% de T3 e T4 plasmáticos totais estão na forma livre, que é responsável pela atividade biológica e feedback negativo. A principal proteína ligadora desses hormônios é a globulina ligadora de tiroxina (TBG – 70%), porém a transtirretina (TTR – 10-15%), albumina (15-20%) e lipoproteínas (3%) também têm papel importante. A TBG é considerada um reservatório circulante de T3. O tempo de meia-vida do T3 é de 1-3 dias, enquanto o do T4 é de 6-8 dias. Entretanto, no hipertireoidismo a meia-vida do T4 é reduzida para 3-4 dias e no hipotireoidismo é aumentada para 9-10 dias. Deiodinases As deiodinases são as enzimas que convertem T4 em T3, no caso a D1 e a D2, e T4 em rT3, a D3. Farmacodinâmica T3 e T4 A maior parte de T4 é convertida a T3 pois T3 é 5 vezes mais potente que T4. Esses hormônios atuam em receptores intracelulares que modulam a transcrição gênica de uma série de proteínas. Além disso, esses hormônios têm uma importância para diversas funções no organismo, como mostrado na imagem ao lado. Fármacos que afetam a função tireoidiana Lítio o Inibe a liberação do T3 e T4, gerando uma maior liberação de TSH, causando bócio. Amiodarona o Cada comprimido de 200mg contém 75mg de iodo, o que causa sobrecarga de iodo. o A sobrecarga de iodo inicialmente pode gerar o efeito Wolff-Chaikoff, que é a inibição da tireoide. o Inibição da D1, causando diminuição do T3 e aumento do rT3. Salicilatos o O AAS, medicamento mais utilizado, é capaz de afetar a função tireoidiana se utilizada uma dose maior que 2g/dia.] o Compete com T4 e T3 pela ligação às proteínas TBG e TTR, aumentando a fração livre de T4. Glicocorticoides o O excesso de glicocorticóides pode suprimir a secreção do TSH pela adeno-hipófise, além de alterar o transporte de T3 e T4 no soro. Hipotireoidismo Etiologia A Tireoidite de Hashimoto é a causa mais frequente de hipotireoidismo, mas também pode- se ter a tireoidite pós-parto, tireoidite subaguda, inibição farmacológica da função tireoidiana, hipotireoidismo pelo tratamento com iodo radioativo e hipotireoidismo cirúrgico. Sintomas Diminuição da taxa metabólica; Aumento do peso; Diminuição da temperatura; Diminuição da sudorese; Pele seca e fria; Diminuição da atividade adrenérgica; Bradicardia; Sonolência; Letargia; Constipação; Perda de cabelo; Disfunção menstrual; Alterações da memória; Coma mixedematoso (hipotermia, depressão respiratória, instabilidade cardiovascular e estado mental alterado). Tratamento Reposição hormonal com levotiroxina sódica (L-T4) em comprimidos que variam de 25 a 200 mcg. Durante o tratamento, é necessário monitorar os níveis de TSH e T4 livre para ajuste da dose. As principais indicações da levotiroxina sódica são o tratamento do hipotireoidismo, cretinismo (hipotireoidismo congênito ou deficiência de iodo na dieta) e supressão TSH em pacientes com câncer de tireoide. Em pacientes em coma mixedematoso, são utilizadas altas doses de levotiroxina sódica ou liotironina sódica (L-T3). A L-T4 pode ser utilizada durante a gravidez. Ocorrem normalmente quando a dose não está bem ajustada. Reações adversas Insônia; Irritabilidade; Dor de cabeça; Sudorese; Emagrecimento rápido; Palpitações; Diarreia. Precauções Hipertensão; Diabetes; Doenças cardíacas; Idosos. Interações Colestiramina reduz a absorção da levotiroxina; O aumento do pH gástrico altera a dissolução e diminui a absorção da levotiroxina; Na presença de alimentos a absorção da levotiroxina também é reduzida. Dessa forma, precisa ser administrada 1h antes do café da manhã ou 2h após. Indutores enzimáticos (fenitoína, carbamazepina, fenobarbital) podem acelerar o metabolismo da levotiroxina. Uso indiscriminado Uma utilização que é comum, embora seja um uso inadequado, é a associação da levotiroxina com anfetaminas, por exemplo, em fórmulas para emagrecimento. Hipertireoidismo Etiologia 50 a 70% dos casos de hipertireoidismo estão relacionados com a Doença de Graves, onde se tem anticorpos contra os receptores TSH. Porém esses anticorpos ativam o receptor, então a tireoide é estimulada independente do TSH. É a causa mais comum em populações com consumo normal de iodo e afeta principalmente mulheres. O bócio nodular tóxico é a causa mais comum em populações com baixo consumo de iodo. Além disso, também se pode ter adenomas tireoidianos, onde existem receptores de TSH mutantes ou proteínas G constitutivamente ativadas., o que gera secreção independente de TSH. O hipertireoidismo também pode ocorrer na gravidez. A produção excessiva de T3 e T4 suprime a secreção de TSH. Sintomas Nervosismo; Sudorese excessiva; Intolerância ao calor; Palpitação; Fadiga; Perda de peso; Dispneia; Fraqueza; Aumento do apetite; Queixas oculares; Edema de membros inferiores; Hiperdefecação; Diarreia; Distúrbios menstruais; Anorexia; Ganho ponderal; Taquicardia; Bócio; Tremor; Pele quente e úmida; Sopro na tireoide; Alterações oculares; Fibrilação atrial; Ginecomastia; Eritema palmar. Tratamento O tratamento do hipertireoidismo é feito com inibidores da captação de iodeto, como os ânions perclorato e tiocianato. Entretanto, hoje em dia o uso é incomum, visto que tem potencial para produzir anemia aplásica. Os bloqueadores beta-adrenérgicos (propranolol, atenolol, esmolol) podemser utilizados para o tratamento sintomático dos efeitos cardiovasculares. Além disso, tem-se os inibidores da síntese e liberação, os iodetos e tioaminas. Iodetos O iodeto inorgânico estável em altos níveis inibe a síntese e liberação dos hormônios, causando o efeito Wolff-Chaikof. Entretanto, não é utilizado a longo prazo pois o efeito é reversível. É mais utilizado, por exemplo, antes de cirurgias para diminuir o tamanho e vascularização da tireoide. O iodo 131 (131I) é um isótopo radioativo que emite partículas gama e beta toxicas para as células, gerando uma destruição seletiva da tireoide. É captado no lugar do 127I e administrado por via oral. Porém pode levar a hipotireoidismo. O 131I pode ser utilizado para hipertireoidismo em pacientes idosos e cardiopatas, pacientes sem remissão após tratamento com tioaminas e pacientes com bócio nodular tóxico. É contraindicado na gravidez. Tioaminas Em relação as tioaminas, tem-se o propiltiouracil e o tiamazol (metimazol). . O propiltiuracil tem dois mecanismos de ação combinados, inibe a tireoperoxidase, competindo com a tireoglpbulina pelo iodo, e inibe a conversão periférica de T4 em T3 ao inibir a deiodinase. O tiamazol inibe a tireoperoxidase e compete com a tireoglobulina pelo iodo. As tioaminas são os fármacos de escolha no tratamento da hiperglicemia na gestação. Como na tireoide se tem uma quantidade de hormônio já produzido que ficam armazenados no colóide, os efeitos das tioaminas são observados após algumas semanas de tratamento. Normalmente o tratamento leva a formação de bócio, visto que a inibição da síntese dos hormônios tireoidianos resulta em uma maior secreção de TSH. propiltiouracil metimazol Os pacientes geralmente têm remissão do hipertireoidismo em 6 meses a 1 ano de tratamento. As tioaminas são indicadas para o tratamento da doença de Graves,, preparação para tratamento cirúrgico, tireotoxicase na gravidez, tempestade tireoidiana (propiltiouracil) e em associação com iodo radioativo. O propiltiouracil tem uma meia-vida de 75 minutos, sendo necessário ser administrado 3 vezes ao dia. Enquanto o tiamazol tem meia-vida entre 4 e 6 horas e pode ser administrado apenas 1 vez ao dia, sendo o fármaco de escolha de forma geral. São bem tolerados, mas no inicio do tratamento podem ocorrer efeitos adversos como rash cutâneo, urticária e artralgia. Podem ocorrer alguns efeitos adversos que são mais graves, porém são raros, como a agranulocitose, hipoprotrombinemia, hepatotoxicidade e vasculite. Na gravidez é indicado o uso do propiltiouracil no primeiro trimestre, visto que o tiamazol pode causar aplasia de pele congênita, e depois trocar para o tiamazol.
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