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Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.2 -1 17.09.21 ANATOMIA Via biliar extra-hepática • Vesícula biliar • Via biliar principal o Ducto colédoco o Ducto hepático comum o Ductos hepáticos direito e esquerdo Vias biliares intra-hepáticas A vesícula faz parte da via biliar extra-hepática acessória, pois pode ser retirada sem maiores repercussões para o paciente. A função da vesícula é armazenar bile. A bile serve para emulsificar as gorduras. Se houver algum fator obstrutivo ocorre uma hiperconcetração da bile no primeiro momento. Cronicamente isso pode cursar com a formação de cálculos biliares. O maior estímulo a contração da vesícula é ingesta de alimentos gordurosos. No contexto alimentar, se o alimento é pouco gorduroso há uma contração débil, se for bastante gorduroso, através de colecistocinina há uma maior liberação de bile. Triangulo de Calot Não é um reparo anatômico inerente a vesícula. Ele é triângulo “causado” no peri-operatório, que é o que se quer quando se expõe a vesícula em uma cirurgia de colecistectomia. Realiza-se uma tração lateral à direita do infundíbulo que tem continuidade com o ducto cístico. A via biliar comum faz uma outra parte desse triângulo. E a borda hepática é a terceira parte. Na maioria dos casos nesse triângulo estará a artéria cística. Dessa forma, o triângulo de Calot é formado: • Ducto cístico; • Ducto hepático comum; • Borda hepática. Na cirurgia de colecistectomia eletiva é “tranquilo” dissecar essa região, tem tecido adiposo que envolve as vísceras, disseca-se um pouco e já aparece as estruturas. Porém, em um paciente com uma colecistite aguda, essa região é muito fibrosada, a dissecção é muito difícil, então é preciso se ater a reparos anatômicos fixos para evitar uma lesão iatrogênica de artéria hepática ou via biliar principal ANOMALIAS CONGÊNITAS AGENESIA DA VESÍCULA BILIAR • Rara: associada a várias malformações cardiovasculares O fluxo de qualquer cilindro é laminar, se eu tenho qualquer coisa que altere esse fluxo, vou ter um certo “turbilhonamento” e o turbilhonamento de líquido altera o fluxo laminar, lentificando-o. nas artérias ocorre formação de coágulos e trombose. Lentificar a bile é igual a estase biliar. Essa estase biliar causa icterícia, que agudamente pode complicar com infecção. A infecção da via biliar se chamada colangite. Estase cronicamente pode chegar a causar icterícia, mas a lentificação desse fluxo faz uma reabsorção aumenta de solventes e o soluto acaba precipitando formando litíase. Estase crônica é litogênica, predispondo a formação de cálculo podendo causar obstrução biliar. CISTOS DE COLÉDOCO • Raros → 80% diagnosticados durante a infância • Sintomas: dor abdominal, icterícia, massa palpável, colangite (isto porque o cisto altera o fluxo laminar da bile) • Risco de malignização (25%) – Colangiocarcinoma • Diagnóstico: US, cintilografia e colangiografia Toda “ite” de repetição, pode pelo processo de dano tecidual e reparo, ter mais chances de malignização. Então, toda colangite de repetição, pode ocorrer degeneração para um carcinoma de vias biliares, chamado colangiocarcinoma. Ou seja, isso precisa ser tratado na criança. Classificação de Todani • Tipo I → dilatação cística fusiforme (mais comum – 80 a 90%). • Tipo II → divertículo presente no ducto hepático comum ou em um dos dois ductos hepáticos • Tipo III → coledocele, envolve apenas o ducto intraduodenal • Tipo IV → múltiplos cistos intra e extra-hepáticos Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.2 -2 • Tipo V → múltiplos cistos intra-hepáticos (doença de Caroli – transplante hepático) Tratamento (cirurgia de Lilly): Ressecção do cisto + Hepaticojejunostomia em Y de Roux (anastomose biliodigestiva). Não basta desviar o trânsito da bile. Nesse caso, por conta da malignização do cisto, além da derivação biliodigestiva, é necessário ressecar o cisto de colédoco. COLELITÍASE • Prevalência nos EUA → 20 milhões de pessoas • Colecistectomias por ano → 500.000 • Brasil → 19,4% em pacientes > 20 anos PATOLOGIA • Formação de bile litogênica: solubilidade do colesterol saturada (concentração de colesterol muito alta por alguma patologia) • Estase biliar (absorção de água e formação de cálculo) • Hipersecreção de muco (pólipos na vesícula, muco mais viscoso interfere na homeostase da vesícula) • Lama biliar A principal causa é porque o paciente tem uma solubilidade do colesterol saturada, formando a lama biliar. Além de causar sintomas de cólica biliar, é um precursor da litíase biliar podendo ter suas complicações. Então, o colesterol precipita, coalesce, forma microcristais que vão se coalescendo e forma a litíase biliar. Da mesma forma, a estase biliar precipita a formação de cálculos porque há uma reabsorção da água pela mucosa e formação de cálculo. Exemplo – relativamente incomum, mas acontece: todo idoso tem uma hipotonia progressiva e dilatação da via biliar com o passar dos anos. Ele possui uma propensão relativamente maior do que o jovem de formar cálculo primário de via biliar por estase. Isso tudo gera uma bile hipersaturada com precipitação de cálculo. TIPOS DE CÁLCULO • Colesterol (mais comum) • Pigmentares (bilirrubinato de cálcio) o Castanho ou marrom → cálculos primários da via biliar (idosos ou pacientes com cirrose). o Negros → secundários a hemólise (anemia hemolítica). Todo quadro de anemia hemolítica pelo metabolismo do radical heme da hemoglobina pode predispor a formação de cálculos negros em vesícula e via biliar. Muitos pacientes com anemia hemolítica são diagnosticados na infância e tratados da hemólise, ocorrendo remissão e não tendo tantos cálculos. Se não tratar, praticamente 100% apresentará colelitíase. FATORES DE RISCO 4F’s (female, forty, fat e fertile) • Sexo: feminino. • Obesidade. • Multiparidade. • Idade: > 40 anos. • Fatores hereditários: tem envolvimento. • Anemias hemolíticas • Cirrose • Doença ou derivação ileal (íleo é responsável pela absorção dos sais biliares; se resseca o íleo isso não ocorre) A bile faz parte da circulação enterohepática. Ou seja, ela é produzida no fígado, jogada na segunda porção duodenal e o organismo não joga fora. No íleo terminal, ela é parcialmente reabsorvida. Então, quando se faz alguma cirurgia que faz derivação do íleo terminal, quebra-se a hemostasia da circulação enterohepática, predispondo a formação de cálculos. APRESENTAÇÃO CLÍNICA • Assintomáticos (70 a 80%) • Sintomáticos o Cólica biliar: obstrução transitória do ducto cístico, dor por causa da contração e distensão da vesícula por uma alimentação copiosa em gordura. Há uma hipercontratilidade. o Dor abdominal em HD o Náuseas e vômitos: toda distensão aguda faz com que ocorra reflexo vagal. o Intolerância a alimentos gordurosos Normalmente quando se come gordura (estímulo hormonal a contração e secreção da bile da vesícula), o paciente contrai a vesícula e o cálculo é impulsionado e obstrui transitoriamente o ducto cístico. Começa a ocorrer então uma hipercontratilidade da vesícula gerando dor. Víscera oca dói em 3 situações: hipercontratilidade, isquemia e dilatação/distensão aguda. Dessa forma: ingere gordura → hipercontratilidade → distensão da vesícula → dor. Toda distensão/contração aguda gera uma reflexão vagal que causa náuseas e vômitos. Complicada • Colecistite aguda • Colangite • Pancreatite aguda • Íleo-biliar (fístula, cálculo chega ao íleo terminal e faz obstrução) A principal causa de pancreatite aguda é de origem biliar. Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.2 -3 DIAGNÓSTICO • US → padrão ouro (95%). Vesícula com várias imagens hiperecogênicas com sombra acústica posterior. TRATAMENTO • Acompanhamentoclínico no caso de pacientes assintomáticos • Colecistectomia (sintomáticos) • Indicações de colecistectomia assintomática o DM → complicações mais graves o Vesícula em porcelana → risco de Ca de vesícula (vesícula fica toda calcificada). o Cirurgia abdominal por outra indicação. Relativa. o Cirurgia de obesidade mórbida (principalmente em Bypass que não tem acesso a papila para CPRE). Situações específicas. Emagrecimento acelerado é litogênico. o Anemias hemolíticas o Viagens a lugares ermos o Idade < 40 anos (relativa). Maior chance de ter sintomas e complicações. É melhor operar quando está hígido e assintomático do que posteriormente. COLECISTITE AGUDA • Acomete 10 a 20% da população É a segunda causa mais comum de abdome agudo inflamatório que chega no PS, atrás da apendicite. FISIOPATOLOGIA Impactação do cálculo no infundíbulo da vesícula. Há uma obstrução. Primeira coisa que ocorre é hipercontratilidade que causa dor, geralmente visceral. Não conseguindo obstruir, há uma distensão/dilatação do epitélio glandular (epitélio secretório), que continua produzindo muco. Quando começa a dilatação, há diminuição do retorno venoso, com isso chega sangue e não volta, piorando ainda mais a situação com mais edema e mais distensão. Quando chega em certa pressão intraluminal, pois gera uma compressão arterial, há diminuição do fluxo arterial e ocorre fenômeno isquêmico. ISSO SERVE PARA QUALQUER VISCERA OCA. Qual a conduta perante uma hérnia encarcerada? DEPENDE. Questionar o número de horas. Até 6 horas se realiza redução. Mais de 6 horas realizar cirurgia, pois se realizar a redução corre o risco de colocar um tecido necrosado de volta para dentro do abdome. APRESENTAÇÃO CLÍNICA • Dor no QSD: mais persistente. • Febre baixa ou inexistente. • Náuseas e vômitos. • Leucocitose com desvio a esquerda. • Massa palpável no HD. • Sinal de Murphy: não é um ACHADO de exame físico. Se a anamnese não for condizente com o quadro clínico. Abdome agudo inflamatório raramente cursa com febre alta, a não ser que tem perfuração de víscera oca, peritonite difusa ou abscesso em cavidade. A principal causa de vesícula palpável estatisticamente é a colecistite aguda. DIAGNÓSTICO • US o Parede > 4mm o Delaminação da parede da vesícula (edema – preto – entre o peritônio visceral e a parede da vesícula). • Colangioressonância → 97% de sensibilidade. Exame mais caro e demorado, não tem necessidade. Delaminação da parede da vesícula: O peritônio visceral (da vesícula) descola da vesícula e faz uma lâmina hipoecoica de edema/líquido. Sinal de colecistite aguda. Delaminação A vesícula possui o peritônio visceral cobrindo-a. O edema descola o peritônio visceral da parede da vesícula. O edema se traduz como a lâmina hipoecoica. Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.2 -4 TRATAMENTO • Medidas gerais (hidratação) • Antibioticoterapia ou apenas profilaxia • Cirurgia o Não é de emergência o Normalmente realizada precocemente o Convencional ou videolaparoscópica? Se tiver disponível no hospital realizar a cirurgia por vídeo, caso não, realizar de forma convencional. A literatura provou que esperar por muitos dias (15 dias) pra realizar a cirurgia aumenta os gastos hospitalares a morbidade do paciente, pois em um processo inflamatório há todas as fases de cicatrização de ferida e em uma fase mais tardia (2ª semana), as aderências já estão mais firmes. Dessa forma, a chance de causar sangramentos e/ou lesões iatrogênicas é maior. Assim, sempre se indica a cirurgia precoce. COLECISTITE ENFISEMATOSA • Grave (cirurgia precoce) • É uma colecistite com a produção de gás (anaeróbios e infecção microbiana) • Infecção mista, com rápida progressão para gangrena da vesícula • Mais comum em homens • DM (20%) Geralmente existe a presença de gás ao redor da vesícula, isso gera uma infecção polimicrobiana, que geralmente tem que ir para o centro cirúrgico com mais brevidade. Geralmente a colecistite aguda é pior em homens para operar; COLECISTITE ALITIÁSICA Colecistite aguda sem formação de cálculos • Subdiagnosticada - mortalidade de 6 a 7%. • Estase biliar + hipoperfusão tecidual + invasão bacteriana (isso decorre por um jejum prolongado + as causas abaixo) • CTI: é usado aminovasoativa para aumentar a perfusão, débito cardíaco e pressão. Toda aminavasoativa diminui a perfusão das vísceras abdominais. • Imunodeprimidos • Politraumatizados • NPT prolongada (30%) • Grandes queimados Quanto suspeitar: em piora clínica com suspeita de infecção deve-se pensar em colecistite aguda alitiásica e pedir US a beira do leito Tratamento • Antibioticoterapia • Colecistostomia (85 a 90%) → a beira do leito, com anestesia local, faz uma incisão no HD e drena com sonda o líquido da vesícula (não é 100% eficaz, pois o paciente pode ter gangrena, então tem que fazer colecistectomia) • Colangiografia pela sonda para avaliar patência do ducto cístico e avaliar se há litíase (colecistectomia) Insucesso • Gangrena de vesícula • Cateter mal posicionado • Diagnóstico incorreto • Coleperitônio com peritonite Ou seja, o paciente tem uma inflamação aguda na vesícula e não tem obstrução mecânica. Normalmente esse paciente está em jejum. A vesícula em jejum ela fica hiperestendida. Pessoas que ficam dias em jejum: paciente em estado grave, internado em CTI com nutrição parenteral total, grande queimado... Então, a hiperextensão da vesícula em um paciente hígido à princípio, não causa muito problema. Se há uma hiperextensão da vesícula em um paciente, por exemplo, com uma insuficiência arterial crônica (poderia ter fenômenos de angina coronariana, hipertenso, diabético, dislipidêmico, obeso), ou seja, se o paciente tem como doença de base algum fenômeno que pode cursar com grau de insuficiência arterial crônica... o paciente que está internado no CTI, normalmente, faz uso de aminovasoativas para aumentar a perfusão, débito cardíaco e pressão. Toda aminovasoativa diminui a perfusão das vísceras abdominais (vasoconstrictora esplâncnica), ou seja, mais um fator que pode contribuir com a colecistite aguda alitiásica. É uma doença subdiagnosticada, pois normalmente esse paciente está na CTI intubado e não consegue relatar dor..., mas ele vai ter alguma piora laboratorial principalmente, então deve-se realizar um ultrassom à beira do leito. Mas é um paciente grave, se levar para o centro cirúrgico, piora a sepse e gera mais SIRS, podendo causar o óbito pelo trauma cirúrgico. O tratamento padronizado é a colecistostomia percutânea à beira do leito. Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.2 -5 Localiza a vesícula com o ultrassom → anestesia local → incisão pequena → punciona a vesícula → dilata → colocação de um cateter. O objetivo é diminuir a pressão intravesicular, com esse procedimento, a vesícula pode ter a chance de voltar a ter algum grau de perfusão. COMPLICAÇÕES DE COLECISTECTOMIA • Sangramento (sangramento do leito hepático quando vai descolar a vesícula) • Perfuração da vesícula biliar. biliar (aspira a cavidade, lava com soro e está resolvido). • Fístula biliar (0,02 a 2,7%) – canalículos que drenam da vesícula direto para o fígado • Lesão da via biliar (0,2 a 0,5% - 0,2 a 3%) SÍNDROME DE MIRIZZI Obstrução extrínseca da via biliar (ducto hepático comum) por um cálculo impactado no ducto cístico ou no infundíbulo da vesícula biliar desencadeando um processo inflamatório com espasmo secundário do colédoco que se manifesta com icterícia obstrutiva • Pacientes do sexo masculino e diabéticos • Diabéticos tem menos processo inflamatório → menos dor → tratam em casa e faz episódio mais recorrentes • Diagnóstico é perioperatório • Tratamentocirúrgico • Cuidar para não fazer lesão iatrogênica de via biliar É um processo inflamatório crônico. Pode internar com episódio de agudização, mas é crônico. O diagnóstico geralmente é no peri-operatório. Como se reconhece? Normalmente um cálculo grande no infundíbulo, com uma distorção anatômica grande da vesícula biliar no pedículo da vesícula. COLEDOCOLITÍASE • Incidência de 3 a 6%. • Principal causa é colelitíase (95%). • 5 a 10% dos pacientes com colelitíase. É preciso ter cálculos pequenos, ducto cístico anatomicamente favorável para passar cálculo, via biliar dilatada... ou seja, não condiz com síndrome de Mirizzi QUADRO CLÍNICO • Assintomático • Cólica biliar • Icterícia obstrutiva • Colangite • Pancreatite aguda • Abscesso hepático O quadro clínico pode ser um achado de exame de imagem ou laboratorial com um aumento de enzimas canaliculares. Pode ser um quadro clínico igual a uma cólica biliar. Mas normalmente se faz diagnóstico de coledocolitíase quando o paciente se apresenta com uma dessas 4 alterações: icterícia obstrutiva, colangite (ictérico com dor importante, febre, alterações no leucograma), pancreatite aguda e abscesso hepático (origem biliar, secundários a colelitíase e coledocolitíase). EXAMES LABORATORIAIS Depende da forma clínica • Pancreatite → lipase e amilase • Icterícia → bilirrubinas, fosfatase alcalina e gama GT Geralmente quando o paciente está ictérico vai ter aumento da bilirrubina total, principalmente a custa de direta e enzimas canaliculares (fosfatase alcalina e gama GT). Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.2 -6 As transaminases podem estar aumentadas (100, 200...), por conta da dilatação dos canalículos que acabam comprimindo os hepatócitos. DIAGNÓSTICO POR IMAGEM • US → 50% dos cálculos são visualizados • TC → 60 a 73% dos cálculos são visualizados • Congiografia • Colangiorressonância é o padrão ouro. • CPRE: método invasivo que não é isento de complicações. TRATAMENTO • CPRE + Papilotomia • Duodenoscópio (endoscópio de visão lateral) → passa um fio guia pela papila maior do duodeno → faz uma colangiografia perioperatória → localiza o cálculo → retirar o cálculo → realizar papilotomia (abrir a papila para se gerar mais algum cálculo, ele possa sair e não obstruir mais) O que a CPRE faz? Ela olha a papila, cateteriza a papila maior do duodeno, faz a colangiografia, faz a extração dos cálculos e a papilotomia. A CPRE é muito efetiva, mas não consegue retirar todos os cálculos. Então, se não consegue retirar tudo, opera. Porém, o mais correto é realizar uma CPRE + colecistectomia, pois se fizer alguns dias após a CPRE, o abdome está todo “mexido” do procedimento, com presença de processo inflamatório. Então, comumente se faz no mesmo tempo cirúrgico (no mesmo ato operatório anestésico), a CPRE e colecistectomia. Exploração das vias biliares • Convencional x VL • Quando não tem CPRE ou a CPRE não funciona Anastomose biliodigestiva • Colédoco com diâmetro > 2cm. MANDATÓRIA. Um colédoco normalmente mede 3-4mm, de 2cm está muito dilatado e fica atônito. • Atonia de via biliar que é fator de risco para a formação de cálculos Pode ser feito uma coledocoduodenoanastomose ou uma coledocojejunostomia em Y de Roux. COLANGITE AGUDA Infecção bacteriana da árvore biliar Obstrução biliar • Coledocolitíase – 80% • Estenose pós operatória (iatrogenia de vias biliares) • Neoplasia (vias biliares ou pâncreas) • CPRE (gera edema de papila) • Parasitoses → ascaridíase (o áscaris tem um tropismo por via biliar) • Síndrome de Mirizzi Qualquer alteração que gere estase de via biliar pode potencialmente degenerar uma colangite. Ao contrário da maioria das “ites” (colecistite, diverticulite, apendicite), a colangite seja uma das poucas exceções de paciente com patologia de abdome agudo que cursa com processo inflamatório muito exacerbado. Geralmente, a febre é muito elevada com presença de calafrios (sugere bacteremia). FISIOPATOLOGIA • Estase biliar que gera uma dilatação • Hipertensão intra-ductal que gera uma quebra da barreira mucosa • Translocação bacteriana QUADRO CLÍNICO • Dor em hipocôndrio direito; • Febre (calafrios); • Icterícia; • Depressão do sensório; • Hipotensão. Tríade de Charcot → dor em HD, febre (Calafrios) e icterícia. Colangite aguda não complicada/simples. Pêntade de Reynolds → dor em HD, febre (Calafrios) e icterícia, depressão do sensório e hipotensão. Quadro clínico séptico. Colangite supurativa tóxica. Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.2 -7 EXAMES LABORATORIAIS • Leucocitose com desvio à esquerda • Elevação de bilirrubinas, fosfatase alcalina e gama GT Aumento de PCR. EXAMES DE IMAGEM • Em primeiro momento não serve • Importante para saber o diagnóstico etiológico • US, TC, colangiorressonância O diagnóstico da colangite começa nos exames laboratoriais. Exame de imagem não é fundamental para o diagnóstico e nem para início de tratamento, mas é fundamental para programar o que fazer e o que esperar desse paciente. TRATAMENTO Formas leves • Antibioticoterapia, faz CPRE para desobstruir e quando o paciente estiver melhor faz a retirada da vesícula • Cirurgia eletiva Investigação etiológica é importante para programar o tratamento. Formas graves (Colangite supurativa tóxica) • Descompressão imediata da via biliar (CPRE ou drenagem biliar externa – punciona o canalículo biliar extra-hepático guiado por US, coloca um dreno ou cateter na via dilatada) • Antibioticoterapia Se for possível realizar uma CPRE, caso não, realizar drenagem biliar externa. E por último estaria indicado a cirurgia, pois paciente séptico, grave, se operar ele, gera mais SIRS. Então, sempre pensar dos métodos menos agressivos para os mais agressivos. *CPRE ou drenagem biliar externa – punciona o canalículo biliar extra-hepático guiado por US, coloca um dreno ou cateter na via dilatada. Se não tem acesso a CPRE ou a drenagem biliar externa, tem que operar o paciente e descomprimir usando um dreno de Kerr (dreno em forma de T que molda a via biliar para evitar estenose).* ÍLEO BILIAR Obstrução intestinal por cálculo biliar • Fístula bilio-entérica o Duodenal (inflamações de repetição, crônica, com fibrose → geram uma fístula entre a vesícula e o duodeno e um cálculo sai da vesícula e impacta no íleo fazendo um quadro de obstrução intestinal, para isso acontecer tem que ser um cálculo grande – pacientes idosos). ▪ Mais comum ▪ Impactação íleo-cecal • Gástrica (síndrome de Bouveret) • Colônica Processo inflamatório → fibrose → fístula (comunicação entre duodeno e vesícula). Paciente com quadro único de colecistite aguda pode te íleo biliar? Não, precisa ter um processo inflamatório crônico para esses dois órgãos se aderirem e formar uma fístula entre eles. O cálculo cai no duodeno normalmente. Pode fistulizar para o estômago e cólon – infrequente. Pode causar um quadro de obstrução intestinal baixa com obstrução de delgado e ílio distal. Normalmente são cálculos grandes que erodem a parede do duodeno e obstruem o íleo distal. APRESENTAÇÃO CLÍNICA • Pacientes geralmente idosos • Obstrução intestinal • História de cólica biliar de repetição • Aerobilia (indicação de fístula) TRATAMENTO • Cirúrgico: ver o ponto de obstrução do delgado. Se o delgado estiver viável sem isquemia, realiza-se uma enterotomia (abre o delgado, retira o cálculo e fecha o delgado). Se tiver algum grau de isquemia realiza-se enterectomia. O tratamento é unicamente e exclusivamente destinado a obstrução intestinal sem mexer na vesícula e duodeno. Já que é um processo inflamatório crônico com fibrose, e se mexer a chance de evoluir para uma fístuladuodenal, vazar secreção duodenal e o paciente vir a óbito é razoavelmente grande. NEOPLASIAS CARCINOMA DE VESÍCULA BILIAR • Sexto tumor maligno mais comum no trato digestivo • Maior incidência em mulheres (3:1) • Idade → 6ª a 7ª década de vida ETIOLOGIA Associação com litíase biliar (92%) (mas não significa que litíase biliar é fator de risco para câncer de vesícula, mas algumas situações são): • Cálculos > 3cm (indicação relativa de colecistectomia, mesmo em paciente assintomático) • Cálculos de colesterol • Pólipos adenomatosos > 1cm Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.2 -8 • Vesícula em porcelana: indicação de colecistectomia mesmo em pacientes assintomáticos. Conduta relacionado ao pólipo: • Conservadora: pólipos < 1 cm acompanhar com US anual. Ou até oferecer para o paciente para operar a vesícula (muitos pacientes preferem). PATOLOGIA • Adenocarcinoma (lesão de mucosa glandular) QUADRO CLÍNICO • Sintomas inespecíficos • Dor em HD • Icterícia (tumor avançado que já comprimiu as vias biliares e não tem tratamento cirúrgico) • Emagrecimento Geralmente se faz diagnóstico quando o paciente tem icterícia e emagrecimento. DIAGNÓSTICO • Elevação de bilirrubinas, fosfatase alcalina, transaminases • Dosagem de CA 19-9 (marcador tumoral aumentado – elevado em câncer de pâncreas e vias biliares). • US → operador dependente • TC e RM → acurácia semelhante (vesícula heterogênea com lesão infiltrativas) 1. Obstrução da papila, cabeça do pâncreas, segunda porção duodenal, colédoco distal → quadro topográfico de um tumor periampular – diagnóstico sindrômico (dilatação de vesícula, via biliar intra-hepática e extra-hepática). 2. Via biliar intra-hepática dilatada, via biliar extra-hepática normal e a vesícula murcha. A bile não chega. Colangiocarcinoma de bifurcação. 3. Via biliar extra-hepática normal, via biliar intra-hepática dilatada e uma vesícula heterógena/esquisita. Tumor de vesícula. Tratamento cirúrgico • Colecistectomia → câncer restrito a mucosa (T1, N0, M0) • Colecistectomia + Hepatectomia central (segmento IV e V) + linfadenectomia Quimio e radioterapia • Raramente utilizadas e não aumentam a sobrevida CARCINOMA DE VIA BILIAR ESTRA-HEPÁTICA (COLANGIOCARCINOMA) • Tumores raros (0,01 a 0,46%) • Idade → 5ª a 7ª década de vida • Maior incidência em homens (3:2) • 50 a 60% localizados em região hilar (Tumor de Klatskin – Tumores da confluência da via biliar) ETIOLOGIA • Colangite Esclerosante Primária (8%) → associação com retocolite ulcerativa • Cistos de colédoco • Infecções biliares crônicas PATOLOGIA • Adenocarcinoma QUADRO CLÍNICO • Semelhante ao câncer de vesícula, porém com icterícia mais acentuada e precoce DIAGNÓSTICO • TC e RM ESTADIAMENTO PRÉ-OPERATÓRIO • Classificação de Bismuth Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.2 -9 TRATAMENTO • Cirurgia radical + linfadenectomia + anastomose bilio- digestiva • Ressecção curativa < 30% • Tratamento paliativo com endo próteses (feito por CPRE) ou derivação biliar externa • Quimio e radioterapia → sem resposta satisfatória comprovada Em resumo, os tumores originários de via biliar são tumores agressivos, de diagnóstico tardio, baixa taxa de ressecabilidade e prognóstico sombrio. Geralmente vai a óbito por complicações de colangite. Colangite secundárias a neoplasias tem uma evolução mais satisfatório ao quadro clínico? Ou menos satisfatória? Menos satisfatório. Quando há uma obstrução benigna de vias biliares, há um fator mecânico associado a um grau de edema. Quando existe uma obstrução neoplásica, a carapaça é de câncer (fixa e persistente).
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