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MATERIAIS PROTETORES DO COMPLEXO DENTINO PULPAR 2017 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto Departamento de Materiais Dentários e Prótese Pós-graduandos: Ana Beatriz Vilela Teixeira Denise Tornavoi de Castro Mariana Lima da Costa Valente Orientação: Profa. Dra. Andréa Cândido dos Reis 1 Materiais Protetores do Complexo Dentino Pulpar Os materiais utilizados como protetores do complexo dentinho pulpar são especializados e usados na cavidade para proteger a polpa de irritantes térmicos ou químicos. Restaurações metálicas, por exemplo, são boas condutoras de calor, e causam sensibilidade térmica quando em contato com alimentos quentes ou gelados. Cimentos contendo ácido fosfórico e resinas compostas utilizadas para restauração direta podem causar irritação química. Assim, essa apostila abordará os seguintes materiais de proteção do complexo dentinho pulpar: Verniz Cavitário, Hidróxido de Cálcio, Óxido de Zinco e Eugenol, Fosfato de Zinco, Policarboxilato e Agregado de Trióxido Mineral. Verniz Cavitário Vernizes cavitários são materiais para forramento e base usados sob materiais restauradores para proteger a polpa de injúrias. Aplicações Clínicas Indicado para a proteção do complexo dentino pulpar contra estímulos térmicos, elétricos e químicos. Reduz a infiltração de fluidos irritantes através de pequenas fendas marginais na restauração. Diminui a irritação pulpar. Protegem o dente da penetração de produtos da corrosão do amálgama nos túbulos dentinários, reduzindo a alteração de cor do dente associada a esse tipo de restauração. Forma de Apresentação Apresenta-se na forma de frasco, contendo um líquido. Composição Os vernizes são compostos de gomas naturais (copal ou resinas sintéticas) dissolvidas em solventes orgânicos (acetona, clorofórmio, éter). 2 Materiais Protetores do Complexo Dentino Pulpar Manipulação e aplicação na cavidade O verniz deve ser aplicado no assoalho da cavidade com o auxílio de um pincel ou uma pequena bolinha de algodão. Deve-se aguardar a evaporação do solvente, em torno de 30 segundos, e conforme ocorre a evaporação, o verniz forma uma fina camada. Uma segunda camada deve ser aplicada, para produzir uma camada contínua, uma vez que o verniz tem alta concentração de solventes que evaporam e uma única camada promoveria uma cobertura incompleta. Contraindicação Os vernizes são contraindicados quando materiais adesivos, como o Cimento de Ionômero de Vidro (CIV) e adesivos dentinários para restaurações de resina composta, são utilizados. Hidróxido de Cálcio O hidróxido de cálcio é o componente principal de vários materiais para forramento e base de cimentos, pois apresenta propriedades antimicrobianas, devido ao seu alto pH (básico, alcalino). Além disso, estimula a formação da dentina secundária (ou reacional) sobre a polpa traumatizada, protegendo-a a longo prazo. Hidróxido de Cálcio P.A. Aplicações Clínicas Material de forramento para aplicação em cavidades profundas, e/ou com exposição pulpar, capeamento pulpar direto e indireto, curativo após pulpotomia em dentes decíduos. Composição Hidróxido de Cálcio P.A. (99 a 100,5%) 3 Materiais Protetores do Complexo Dentino Pulpar Forma de apresentação Apresenta-se na forma de pó que pode ser adicionado à água destilada ou solvente com agente espessante. Pode ser manipulado na forma de: Solução Pasta Manipulação e aplicação na cavidade Solução: Segundo o fabricante (Biodinâmica), para o preparo da solução de Hidróxido de Cálcio P.A. na concentração de 0,2%, deve-se adicionar 100 mL de água destilada ao conteúdo de 1 frasco (10 g de Hidróxido de Cálcio P.A.). Manter essa mistura em repouso, para que o excesso de Hidróxido de Cálcio P.A. fique sedimentado no fundo do recipiente. Para aplicação na cavidade, essa solução não deve ser agitada, e com auxílio de uma seringa, irriga-se a cavidade com a solução antes da colocação de outro material de proteção pulpar e da restauração. Após sua aplicação no assoalho da cavidade, o solvente (água destilada) evapora, deixando uma fina camada de Hidróxido de Cálcio. Pasta: o Hidróxido de Cálcio P.A. depositado no fundo do recipiente, após a evaporação da água destilada, forma uma pasta que pode ser utilizada como material de proteção direta. Ou então para confecção da pasta Hidróxido de Cálcio P.A. pode ser adicionado, à uma porção do pó, água destilada ou outros solventes (como o Paramonoclorofenol Canforado, utilizado na Endodontia), até obter-se a consistência de uma pasta, que será aplicada diretamente no assoalho da cavidade. IMPORTANTE! O Hidróxido de cálcio não deve nas margens da cavidade, pois a mesma perderá o selamento com a dissolução do material em contato com os fluidos orais. Propriedades Baixa resistência à compressão Baixa capacidade de isolamento térmico Alta solubilidade Neutraliza ácidos que migram em direção à polpa 4 Materiais Protetores do Complexo Dentino Pulpar Induz formação de dentina secundária (reacional) Biocompatível Capacidade antimicrobiana (pH básico) Cimento de Hidróxido de Cálcio Aplicações Clínicas Material protetor pulpar indicado para base de restaurações em cavidades profundas e capeamento pulpar direto e indireto. É utilizado abaixo de materiais restauradores para proteger a polpa de traumas térmicos, choques galvânicos e irritação química. Forma de apresentação Apresenta-se na forma de duas pastas: pasta base e pasta catalisadora. Composição Pasta Base: Salicilato glicólico, Fosfato de Cálcio, Tungstato de Cálcio, Óxido de Zinco e Corantes Minerais. Pasta Catalisadora: Etiltolueno Sulfonamida, Hidróxido de Cálcio, Óxido de Zinco, Dióxido de Titânio, Estearato de Zinco e Corantes Minerais Componentes responsáveis pela presa: Hidróxido de cálcio e salicilato Componentes responsáveis pela radiopacidade: Tungstato de Cálcio (ou sulfato de bário) Manipulação e aplicação na cavidade Sobre uma placa de vidro ou bloco de papel para manipulação, deve-se dispensar comprimentos iguais da pasta base e da pasta catalisadora (proporção de 1:1), e com o auxílio de um aplicador de hidróxido de cálcio, mistura-se rapidamente as duas pastas, em torno de 10 segundos, até obter-se um material homogêneo. Com o aplicador de hidróxido de cálcio, uma fina camada do cimento é aplicada no assoalho da cavidade, que deverá estar seca. 5 Materiais Protetores do Complexo Dentino Pulpar IMPORTANTE! Após a presa, o cimento de Hidróxido de cálcio deve ser removido das margens da cavidade para não comprometer a adesão e retenção do material restaurador. ATENÇÃO! O tempo de trabalho desse material é curto, devendo ser manipulado e aplicado na cavidade rapidamente. A proporção de 1:1 deve ser obedecida para não comprometer as propriedades desse material, como: a radiopacidade, resistência, durabilidade, tempo de presa. Propriedades Baixa resistência à compressão Baixo módulo de elasticidade Alta solubilidade Radiopaco Bom isolante térmico Isolante contra a penetração de irritantes químicos de materiais restauradores Biocompatível Capacidade antimicrobiana (pH básico) Cimento de Fosfato de Zinco É o mais antigo dos agentes cimentantes, apresentando um longo tempo de uso na vida clínica odontológica o que o torna padrão de comparação com os demais cimentos odontológicos. Aplicações Clínicas Indicado para a proteção do complexo dentino pulpar contra estímulos térmicos, elétricos e micro infiltração e como agente cimentante de estruturas protéticas e bandas ortodônticas. 6 Materiais Protetoresdo Complexo Dentino Pulpar Forma de Apresentação Apresenta-se na forma de pó e líquido, em dois recipientes separados. Composição O pó é constituído de óxido de zinco (90%), funcionando como reagente básico, e o óxido de magnésio (10%), exercendo o papel de retardador. O líquido contém ácido fosfórico, água e sais metálicos. Reação Química O cimento de fosfato de zinco tem reação química exotérmica, ou seja, durante a mistura do pó ao líquido, a superfície do pó é dissolvida, resultando em uma reação que libera calor. Nessa reação, o ácido fosfórico ataca as partículas liberando zinco para o líquido, e o alumínio, por sua vez, forma um complexo com o ácido fosfórico, atacando o zinco e formando um gel de aluminofosfato de zinco ao redor das partículas de óxido de zinco que permaneceram não dissolvidas. ATENÇÃO! Por ser água um componente importante da reação química do cimento de fosfato de zinco, sua evaporação do frasco do líquido pode dificultar a reação do material. Um líquido turvo apresenta sinal de degradação. Manipulação Assim como todo material que necessita de mistura, o cimento de fosfato de zinco requer cuidados especiais na sua manipulação para que resulte em um produto com propriedades adequadas e não agrida a estrutura dental pelo calor gerado de sua reação química. Desse modo, os seguintes cuidados devem ser tomados: Utilizar uma placa de vidro grossa e espátula número 24; Utilizar toda a extensão da placa na espatulação, a fim de dissipar o calor ao máximo; 7 Materiais Protetores do Complexo Dentino Pulpar Acrescentar o pó ao líquido de maneira lenta e proporcional, como mostra a Figura 1, para permitir que a neutralização do líquido durante a reação ácido-base ocorra aos poucos, dissipando o calor da reação; Evitar a adição de água (por exemplo, placa de vidro úmida), pois atrapalha a reação. Figura 1. Sequência e tempos indicados para a espatulação do cimento de fosfato de zinco. A porção do cimento deve ser dividida em 6 partes (1/16, 1/16, 1/8, 1/4, 1/4 e 1/4), as quais devem ser misturadas nesta ordem e respectivamente por 10,10,10,15,15 e 30 segundos, totalizando um tempo de 90 segundos. IMPORTANTE! Verificar as instruções do fabricante em relação à quantidade de pó e líquido necessária. O líquido não deve ser dispensado na placa antes do pó pois a água na composição do líquido tende a evaporar. Depois que todo o pó for incorporado e uma mistura cremosa for obtida, o cimento deve ser recolhido na placa e a espátula usada para puxar um fio de cimento (com movimento para cima). Propriedades Resistência: A resistência mínima à compressão para os cimentos de fosfato de zinco deve ser de 70 MPa após 24 horas, podendo chegar a 104 MPa ou seja, quando adequadamente manipulados, atingem valores altos. 30 s 15 s 15 s 10 s 10 s 10 s 8 Materiais Protetores do Complexo Dentino Pulpar Solubilidade e Desintegração: Todos os cimentos são solúveis em algum grau, e essa solubilidade pode aumentar no caso de o cimento ter contato prematuro com água ou saliva durante o período de presa. Em geral, os cimentos de fosfato de zinco apresentam solubilidade relativamente baixa em água em comparação com os demais cimentos. Módulo de elasticidade: 13 GPa, tornando-o relativamente resistente e rígido em comparação com outros cimentos. Resistência diametral: 5,5 Mpa, são muito menos resistentes à tração. Retenção: Não existe nenhuma adesão do cimento de fosfato de zinco com a estrutura do dente ou com qualquer material. Porém existe um embricamento mecânico. Tempo de presa: O tempo de trabalho do cimento é constituído pelo tempo utilizado para a manipulação do material e pelo tempo de presa, os quais devem ser suficientes para permitir um correto assentamento das peças. De acordo com as especificações, esse tempo fica entre 2,5 a 8 minutos, para uma temperatura corporal de 37ºC. Como controlar o tempo de trabalho? A extensão do tempo de trabalho pode ser até certo ponto controlada para se adequar a situações clínicas específicas. Quatro técnicas podem estender o tempo de trabalho: 1- A relação P/L pode ser reduzida para produzir uma mistura mais fina. Entretanto, essa alteração vai resultar em um pH inicial mais baixo no cimento e afetar negativamente as propriedades mecânicas. 2- Porções menores de pó devem ser aglutinadas nos primeiros incrementos. Pequenos incrementos iniciais de pó são dissolvidos no líquido e isso retarda a taxa de reação dos incrementos subsequentes. Nesse meio tempo, o calor gerado pela reação pode ser dissipado suficientemente durante a espatulação. Se uma porção grande de pó é usada inicialmente, a quantidade de calor gerado não consegue ser dissipada rápido o suficiente par prevenir a aceleração precoce da reação. 9 Materiais Protetores do Complexo Dentino Pulpar 3- Prolongar o tempo de espatulação do último incremento de pó. A espatulação efetivamente destrói a matriz em formação, o que significa que mais tempo é necessário para que ela se reconstrua. Este método não é muito recomendável. 4- Uma temperatura de mistura mais baixa retarda a reação química entre o pó e o líquido, portanto atrasando a formação da matriz. O uso da placa resfriada é o melhor método de estender o tempo de trabalho e deve ser aplicado sempre que peças protéticas de vários elementos estão sendo cimentadas. O ácido fosfórico presente no líquido torna a mistura bastante ácida e portanto, citotóxica. Conforme a presa evolui, a acidez é parcialmente neutralizada, mas os cimentos permanecem ácidos por 24 horas, com o pH aumentando de aproximadamente 3 para 6. Pacientes jovens são especialmente suscetíveis pois seus túbulos dentinários tem maior diâmetro, enquanto que pacientes mais velhos com dentina esclerótica apresentam túbulos mais tortuosos, o que restringe a penetração de ácidos em direção ao tecido pulpar. Cimento de Mineral Trióxido Agregado (MTA) Forma de apresentação O mineral tróxido agregado (MTA) é um pó branco ou cinza de partículas hidrofílicas finas que endurecem na presença de umidade. Aplicações Clínicas Indicado para aplicações endodônticas e capeamento pulpar (para o tratamento de exposições pulpares, a consistência do MTA pode ser mais fluida) Composição A composição do MTA é similar à do cimento de construção Portland. O pó do cimento de MTA é composto principalmente por silicato tricálcico, silicato dicálcico, e cargas radiopacas. Dentre os agentes radiopacos, presentes em sua composição podemos citar o óxido de bismuto, zircônia ou óxido de tantálio, sem os quais não seria possível distinguir o MTA em uma radiografia. 10 Materiais Protetores do Complexo Dentino Pulpar Reação Química O MTA toma presa pela reação com água, e forma um cimento altamente alcalino com pH em torno de 12, composto de uma matriz rígida de hidrato de silicato de cálcio e hidróxido de cálcio. Esses hidratos se formam na superfície das partículas de silicato de cálcio originais e a hidratação gradualmente progride em direção ao interior da partícula. Manipulação O MTA toma presa em uma vasta gama de relações P/L, entre 4:1 e 2:1, embora a maioria dos produtos use uma relação P/L de 3:1. Para misturar o MTA, o pó deve ser dispensado em uma placa de vidro, com uma gota do líquido próximo da medida de pó. Uma espátula de metal rígida deve ser usada para incorporar o pó gradualmente no liquido. Para aplicações endodônticas, uma espátula, um porta-amálgama pequeno ou um condensador são comumente usados para transportar o MTA até o local de interesse e para capeamento pulpar, um aplicador de hidróxido de cálcio pode ser utilizado. ATENÇÃO! Se o MTA espatulado não é utilizadoimediatamente após a manipulação, uma gaze umedecia pode ser colocada sobre o cimento para prevenir a desidratação. Se o cimento secar, o material pode ser reconstituído com água dentro da primeira hora pois o seu tempo de presa é bastante longo. Propriedades Tempo de presa: 165 minutos (presa inicial) e 6 horas (presa final), o que consiste em uma grande desvantagem deste cimento. Expansão de presa: menor que 0,1%, o que ajuda a criar uma barreira que é especialmente importante em aplicações endodônticas. Biocompatibilidade: Após a espatulação com água, o pH do cimento de MTA sobe rapidamente em virtude da liberação de hidróxido de cálcio. O grande sucesso deste cimento como material biocompatível foi atribuído ao hidróxido de cálcio no MTA endurecido, o que o torna antimicrobiano e antifúngico. O cimento de MTA é 11 Materiais Protetores do Complexo Dentino Pulpar menos citotóxico que o cimento de ionômero de vidro (CIV). É um material bioativo. Propriedades mecânicas: A reação de hidratação do MTA continua por até 28 dias, e a resistência aumenta durante este período até alcançar aproximadamente 50 MPA. A resistência à compressão em 24 horas é significantemente menor que aquela do amálgama e de restaurações provisórias de óxido de zinco e eugenol. Entretanto, em três semanas, não são mais observadas diferenças significativas entre cimentos de óxido de zinco e eugenol, hidróxido de cálcio e MTA. Solubilidade: O MTA endurecido e bastante insolúvel (<3% de solubilidade) Mudanças na composição do MTA, incluindo polímeros, sais (como o cloreto de sódio), e agentes de redução de água tem sido propostas visando superar algumas de suas características físico-químicas adversas. Cimento de Óxido de Zinco e Eugenol (OZE) O cimento OZE é frequentemente utilizado em cimentações e restaurações provisórias devido à sua facilidade de uso, ação antibacteriana, pH neutro e efeito analgésico (anódino) sobre a polpa dentária. Aplicações Clínicas O óxido de zinco e eugenol tem diversas aplicações na odontologia, tais como cimentos endodônticos, materiais retrobturadores radiculares, curativo periodontal (cimento cirúrgico), bases de restaurações e restaurações temporárias, também são usados para cimentação temporária e fixação permanente de coroas e próteses metálicas e metalocerâmicas. Forma de Apresentação O cimento OZE apresenta-se na forma de pó-líquido ou duas pastas. O pó contém óxido de zinco e o líquido o eugenol. Para o sistema de duas pastas, a pasta base contém o pó de óxido de zinco e a pasta catalisadora ou aceleradora, o eugenol. 12 Materiais Protetores do Complexo Dentino Pulpar Composição No sistema pó-líquido, o pó é constituído basicamente pelo óxido de zinco, com até 8% de outros sais de zinco como aceleradores, já o líquido contém eugenol, um ácido fraco, o ácido acético (até 2%) é adicionado como acelerador. No sistema pasta-pasta, a base contém o óxido de zinco misturado com óleos minerais ou vegetais, e na catalizadora são incorporadas cargas ao eugenol. Os materiais livres de eugenol utilizam ácidos alifáticos de cadeia longa ou ácido butírico contendo um grupo arila para reagir com as partículas de óxido de zinco. Além da formulação básica do cimento de OZE, existem outras, desenvolvidas a fim de melhorar as propriedades desse cimento, como por exemplo a adição de ácido 2- etoxibenzóico (EBA) ao líquido de eugenol, isso permite o uso de proporções pó-líquido muito altas (6:1) aumentando a resistência do cimento após a presa. Alumina e poli (metacrilato de metila) também são adicionados ao pó como reforço pata melhorar as propriedades mecânicas. Nos produtos chamados cimento de óxido de zinco sem eugenol, adiciona-se vários tipos de ácidos carboxílicos em substituição ao eugenol, pois este interfere com a polimerização de resinas compostas ou cimentos resinosos. Reação Química e Presa A reação química do óxido de zinco e eugenol é do tipo ácido-base, a água desempenha um papel muito importante nessa reação, pois reage com o óxido de zinco formando íons hidróxido de zinco, os quais se dissociam em Zn+2 e OH-. Os cátions de Zn reagem com o eugenolato, complexo no qual um átomo de Zn se liga a duas moléculas de eugenolato, e os ânions hidroxila com o H+ formando água. O início da reação de presa se dá quando a água presente no eugenol hidrolisa o óxido de zinco para formar hidróxido de zinco. Em seguida, o hidróxido de zinco e eugenol sofrem quelação e solidificam. Manipulação Para a manipulação dispensa-se na placa de vidro 1 porção do pó para 1 gota do líquido. O início da espatulação deve ser realizado adicionando-se grande quantidade do pó ao líquido, aproximadamente o dobro do volume de líquido e a incorporação do pó deve ser 13 Materiais Protetores do Complexo Dentino Pulpar realizada aplicando-se grande pressão com a espátula. Quando se observa que o material já está homogêneo, acrescenta-se o restante do pó, em porções menores até ajustar a consistência. A consistência final irá depender da forma como ele será usado: 1. Cimentação provisória; 2. Cimentação provisória de longa duração de próteses fixas; 3. Obturação provisória e bases isolantes térmicas; 4. Obturação provisória. Quando o cimento OZE é misturado até se alcançar uma consistência rígida, semelhante a uma “massa de vidraceiro”, ele serve efetivamente como material restaurador provisório com duração de até um ano. ATENÇÃO! A espatulação em placa de vidro resfriada retarda a presa e permite a obtenção de consistência mais espessa, mas a placa não deve apresentar temperatura abaixo do ponto de orvalho; caso contrário, a condensação de água no cimento pode acelerar a reação. Propriedades Biocompatibilidade: Os cimentos OZE são biocompatíveis, apresentam pH neutro, ação antibacteriana e efeito analgésico no tecido pulpar hiperêmico, que associado a um bom selamento marginal favorece a recuperação da polpa. Entretanto, o eugenol não pode ser dispensado diretamente em contato com o tecido conjuntivo, pois devido à sua citotoxicidade pode aumentar a resposta inflamatória. Resistência Mecânica: Esse material apresenta baixa resistência mecânica, por isso, é adequado apenas para cimentação temporária, sua resistência máxima à compressão em 24 horas é de 35 Mpa. Em temperaturas elevadas, 37º C por exemplo, a resistência pode ser 20% menor do que em temperatura ambiente, 23º C. Já os cimentos EBA-eugenol podem ser muito mais resistentes (72 MPa) que a formulação básica, mas, apesar da maior resistência, não são adequados para a cimentação permanente. Solubilidade: O OZE apresenta solubilidade alta e, por isso, desintegra rapidamente quando exposto às condições orais. Tempo de Trabalho: O tempo de trabalho do OZE é longo, pois necessita de umidade para endurecer. 14 Materiais Protetores do Complexo Dentino Pulpar Tempo de Presa: Materiais comerciais possuem tempo de presa que varia de 2 a 10 minutos. A resistência adequada para restaurações de amálgama serem colocadas é atingida com aproximadamente 10 minutos. Cimento de Policarboxilato de Zinco O policarboxilato de zinco foi o primeiro cimento odontológico a exibir adesão química ao dente. Esses cimentos não são usados para procedimentos restauradores por conta de sua opacidade. Aplicações Clínicas Cimentação de bandas ortodônticas, cimentação final ou provisória de coroas, bases. Forma de Apresentação Apresentados como sistema pó-líquido. Composição O líquido é uma solução aquosa de ácido poliacrílico ou um copolímero de ácido acrílico com outros ácidos carboxílicos, tais como o ácido itacônico. O pó contém principalmente óxido de zinco e pequenas quantidades de óxido de magnésio, óxido de estanho, óxido de bismuto e/ou alumina. Em algumas formulações são usadaspequenas porções de fluoreto de estanho para ajustar o tempo de presa, aumentar a resistência e melhorar as características de manipulação. Nestes casos, a quantidade de flúor liberada é muito pequena, em torno de 15 a 20% da quantidade liberada por cimentos ionômero de vidro. Reação química e presa A presa desse cimento se dá por uma reação ácido-base semelhante à do fosfato de zinco. O ácido dissolve as partículas do pó que libera íons zinco, magnésio e estanho, que por sua vez se ligam aos grupos carboxílicos formando ligações cruzadas. O cimento 15 Materiais Protetores do Complexo Dentino Pulpar endurecido de policarboxilato e uma matriz de gel amorfa na qual as partículas de pó que não reagiram ficam dispersas, assim como ocorre no fosfato de zinco. Mecanismo de Adesão A capacidade de adesão química à estrutura dental é a característica mais importante do cimento de policarboxilato. O ácido poliacrílico se liga aos íons cálcio da superfície do esmalte e dentina, embora, a adesão ao esmalte seja melhor devido à maior concentração de íons cálcio. Manipulação Apesar da ótima adesão, os cimentos policarboxilato de zinco não são superiores aos de fosfato de zinco em termos de retenção de peças protéticas de ligas nobres. A superfície interna da prótese deve ser limpa para aumentar o molhamento e a adesão mecânica da interface cimento-metal, isso pode ser feito por meio de abrasão ou jato de óxido de alumínio. Na superfície externa da coroa deve-se passar vaselina, para evitar que excessos de cimento fiquem aderidos a essa superfície. Além da superfície interna da prótese, o dente também deve ser limpo. Para isso aplica-se uma solução de 10% de ácido poliacrílico ou maleico no dente por 10 a 15 segundo, seguido do enxague com água, ele deve ser isolado para prevenir a contaminação com fluidos orais e seco com bolinha de algodão. Para a mistura, a proporção pó-líquido pode variar entre os diferentes fabricantes, mas em geral é de 1,5 em peso. O líquido deve ser dispensado sobre a placa de vidro apenas na hora do uso, para evitar que a água evapore e o pó deve ser rapidamente aglutinado ao líquido. A manipulação não deve ser prolongada, o que poderia resultar em um cimento viscoso demais para ser usado. O cimento deve ser usado antes de perder o brilho, pois isso significa que ainda há grupos ácido policarboxílico livres na superfície para garantir a boa adesão ao dente. Propriedades Tempo de presa: O tempo de presa varia de 6 a 9 minutos, faixa aceitável para materiais de cimentação. 16 Materiais Protetores do Complexo Dentino Pulpar Tempo de Trabalho: O tempo de trabalho do policarboxilato varia é em torno de 5 minutos. O uso de placa de vidro resfriada aumenta o tempo de trabalho, embora a viscosidade do líquido aumente, o que dificulta a espatulação. Uma opção é refrigerar o pó, retardando a reação sem aumentar a viscosidade. Propriedades mecânicas: Resistência à compressão de aproximadamente 55 MPa. Propriedades biológicas: Produzem irritação mínima à polpa, apresenta excelente biocompatibilidade e baixa sensibilidade pós-operatória. Solubilidade: A redução na relação pó-líquido aumenta a solubilidade. Referências Bibliográficas ANUSAVICE, K. J. Phillips, Materiais Dentários. 11. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.572p. CHAIN, M. C. Materiais dentários. São Paulo: Artes Médicas, 2013. 160p. SAKAGUCHI, R. L., POWERS, J.M. Craig Materiais Dentários Restauradores. 13 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. 456p. Biodinâmica Química e Farmacêutica Ltda. Ibiporã – Paraná – Brasil.
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