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Métodos e técnicas em gestão de projetos Mírian Queiroz de Souza Daniel 1a Edição / Setembro / 2014 Impressão em São Paulo - SP Editora 81 UNIDADE 3 A Gestão Escolar da Educação Básica: Legislação, Planejamento e Novos Paradigmas 83 Caro(a) Aluno(a) Seja bem-vindo(a)! Nesta terceira unidade, faremos uma reflexão so- bre os processos da gestão escolar da Educação Básica através da legislação brasileira na condução de um modelo de gestão democrática numa estrutura descen- tralizada. A análise dos processos da gestão descentrali- zada e o perfil do gestor na implementação do Projeto Político-Pedagógico serão complementos desta análise. Bons estudos!!! 85 3.1. Introdução Esta unidade tem o objetivo de apresentar uma reflexão sobre os processos da gestão escolar da Edu- cação Básica instituída a partir da década de 90 e a in- strumentalização do papel da gestão na implementação de projetos educacionais considerados relevantes pela sociedade. Para construir esta reflexão é importante con- textualizar os processos da gestão escolar na década de 90, época de abertura democrática e ampliação do conceito de “educação como direito de todos e dever do Estado” (BRASIL, 1988). Analisar os processos da gestão escolar construídos na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/96) e na Constituição Federal de 1988, fruto deste movimen- to de luta pela institucionalização da educação como direito de todos. E ampliando este debate, trazer questões relacio- nadas às mudanças de paradigma nos processos da gestão escolar na promoção de uma estrutura descen- tralizada de gestão que acabam por instituir um novo cenário à gestão escolar. Para isso, pensar os proces- sos relacionados à gestão administrativo-financeira, à gestão pedagógica e à gestão social e sua relação com a gestão de projetos institucionais. Por fim, vale a pena pensar os processos de im- plementação do Projeto Político-Pedagógico (PPP) no espaço da escola, os desafios, as principais dificuldades encontradas e os benefícios construídos neste processo. 86 3.2. Contextualização da gestão escolar na década de 90 Os processos da Gestão Escolar ganham centrali- dade no cenário educacional a partir de demandas soci- ais que se impõem a este cenário. Assiste-se nas décadas de 70 e 80 um movimento de democratização do direito à educação pública e gratuita. Em fins da década de 80, as demandas educacionais crescem no país e há uma reivindicação de modernização no papel do Estado que se vê enredado de uma burocracia e lentidão no atendi- mento dos serviços à população. As demandas sociais por uma educação pública e gratuita ganham força e se estabelecem por forças dos movimentos populares através da ampliação dos serviços educacionais pelo Estado. “Até a Lei 5692/71 o direito à educação pública e gratuita, e consequente- mente a obrigação do Estado em ofertá-la, restringia-se a quatro anos de escolaridade” (OLIVEIRA, 2006, págs. 4-5). Mediante as demandas de expansão da educação, ampliou-se o conceito de Educação Básica, expressa no Art. 21 da LDB 9394/96: Art.21 A educação escolar compõe-se de: I – educação básica formada pela educação infantil, en- sino fundamental e ensino médio. (BRASIL, 1996) A década de 80 se caracterizou pela presença de movimentos educacionais, cuja pauta central era “a 87 abertura democrática da escola através da construção de um modelo e gestão que saísse do autoritário, bu- rocrático e distante da vida da escola para um modelo de gestão que conferisse a participação da comunidade escolar nos processos de decisão da escola”. (DANIEL, 2013, pág. 27) Percebe-se que mudanças no contexto político, social e econômico do Brasil acabam por interferir nos processos educacionais e nos processos da gestão esco- lar. A ampliação do conceito de Educação Básica traz novas questões para os processos de gerenciamento da escola. E o modelo de “administração escolar” centra- do na figura do diretor e na centralização dos processos administrativos começa ser apontado como um modelo de gestão autoritário. E a perspectiva dos processos democráticos al- cança o paradigma da gestão escolar ao reivindicar “a superação de processos centralizados e avança no entendimento de uma gestão compartilhada com auto- nomia nos processos pedagógicos, financeiros e admin- istrativos”. (DANIEL, 2013, pág. 27) O paradigma de uma gestão compartilhada e participativa ganha espaço enquanto perspectiva da gestão escolar básica. Segundo Lück (2000), a gestão escolar não é um fim em si mesma, mas constitui-se numa dimensão e enfoque de atuação: gerir uma escola na organização as demandas internas e externas a ela é apenas uma dimensão da gestão. Além desta organi- zação, a gestão escolar apresenta outras dimensões e enfoque, tais como a mobilização de ações e atitudes 88 no conjunto das demandas postas; a articulação das condições humanas e materiais para a o objetivo final que é a constituição produtiva dos processos de ensino- aprendizagem dos alunos (enfoque pedagógico): constitui uma dimensão e um enfoque de atuação que objetiva promover a organização, a mobilização e a articulação de todas as condições materiais e humanas necessárias para garantir o avanço dos processos soci- oeducacionais dos estabelecimentos de ensino, orien- tados para a promoção efetiva da aprendizagem pelos alunos, de modo a torná-los capazes de enfrentar adequ- adamente os desafios da sociedade globalizada e da eco- nomia centrada no conhecimento. (LÜCK, 2000, pág. 8) Para Cury (2002, pág. 165), gestão “(...) é a geração de um novo modo de administrar uma realidade e é em si mesma democrática já que traduz pela comunicação, pelo desenvolvimento coletivo e pelo diálogo”. Nesse sentido, a democratização das instâncias so- ciais, incluída a escola pública, implica “[...] não apenas o acesso da população a seus serviços, mas também a participação desta na tomada de decisões que dizem respeito a seus interesses [...] “ (PARO, 1996, pág. 27). Este conceito de uma gestão democrática efetivada através da participação da comunidade escolar nos pro- cessos decisórios advém do movimento de construção pela democracia. Este fundamento democrático con- struído na esfera educacional alcançou a gestão escolar 89 e baseia-se em pilares como o da participação, enquanto ação que desperta a consciência política (Bobbio, 1986). Este fazer político alia uma articulação das demandas sociais postas à gestão escolar. O conceito de gestão escolar se alia ao processo de democratização da educação e associa-se a este enquanto processo de participação com vistas ao en- volvimento da comunidade escolar para viabilização de mudanças importantes. Lück (1997) traz esta análise sobre o conceito de gestão escolar: está associado ao fortalecimento da democratização do processo pedagógico, pela participação responsável de todos nas decisões necessárias e na sua efetivação me- diante seu compromisso coletivo com resultados educa- cionais cada vez mais efetivos e significativos. (LÜCK, 1997, pág. 1) Segundo Daniel (2013, pág. 25): “esta mudança de paradigma nos processos da gestão escolar tem por objetivo ampliar o fundamento da gestão escolar, antes circunscrita nos muros da escola, e torná-la um espaço de participação do coletivo, ou seja, vinculando-se a uma gestão democrática”. Neste cenário, a gestão escolar vem sendo con- struída: um modelo de gestão democrática vem se delineando através da caracterização de processos democráticos e a estrutura de uma gestão descentraliza- da. A construção de uma esta estrutura descentralizada 90 tem a intenção de promover maior autonomia para a gestão de seus recursos. Para garantir o avanço dos processos socioedu- cacionais a gestão escolar busca o modelo de gestão democrática que consiste no envolvimento, partici- pação através do diálogo nos processos decisórios: “A escola democrática é aquela que está abertaao diálogo intenso com toda comunidade escolar, sem distinção; pro- cura moldar as formas instituídas de organização da escola ao novo momento de democratização da sociedade e da educação escolar e, necessariamente, precisa criar novos meios de se adaptar ao paradigma da participação. Em uma escola democrática não pode faltar o comum acordo entre os diferentes membros da comunidade escolar, através, justamente, da participação ativa na construção de propostas e alternativas que fortaleçam a união em torno da gestão do ensino.” (STÜRMER, 2013, pág. 2) Uma gestão democrática se caracteriza pela con- strução do Projeto Político-Pedagógico (STÜRMER, 2013). E “a construção do Projeto Político-Pedagógico traz a importância de uma gestão coletiva para que o mesmo expresse as intenções político-pedagógicas da comunidade a que está organizada”. (DANIEL, 2013, pág. 39) Os desafios do (a) gestor (a) escolar se ampliam a neste modelo de gestão democrática numa estrutura descentralizada visto que, na gestão do Projeto Político- Pedagógico, por exemplo, terá que “gerir as intenções 91 locais e administrá-las num contexto sócio-global gera desafios para que o mesmo seja elaborado nessa cole- tividade”. (DANIEL, 2013, pág. 39) A perspectiva de uma gestão democrática amplia o campo da gestão escolar e traz novos elementos para o trabalho do (a) gestor (a) escolar. Este campo se amplia, e o gestor enquanto mero executor de tarefas sede espaço para um (a) gestor (a) enquanto líder político, líder que compartilha e delega funções, líder eficaz que produz re- sultados e líder de equipe (Daniel, 2013). Além de ser um educador, pois este profissional precisa ter experiências e embasamento teórico no campo educacional. A pesquisa de Passos et al (1988) traz a importância do (a) gestor (a) enquanto coordenador dos processos participativos. Ao se abrir aos processos democráticos a escola precisa ser gerida de forma coordenada e or- ganizada: “enfim, a abertura da escola à “comunidade”, a participação em sua gestão de todos os segmentos implica num processo de educação política que só é possível se existe um projeto claro orientando esta par- ticipação”. (PASSOS et al, 1988, pág. 91) Vieira (2005, pág. 49) também analisa as caracte- rísticas de perfil do (a) gestor (a) educacional enquanto líder capaz de desenvolver o trabalho coletivo, comuni- cativo, honesto, transparente, com capacidade de ouvir e de se fazer ouvido, e com capacidade de abstrair: capacidade de trabalhar em equipe; capacidade de ger- enciar ambiente complexo; capacidade de abstração; visão de longo prazo; disposição para assumir pelos re- 92 sultados; capacidade de comunidade(saber expressar e saber escutar); criatividade; honestidade e credibilidade; atuação por objetivos. (VIEIRA, 2005 apud VALOI 2007, págs. 48-49) As habilidades de líder agregam-se às habilidades de educador que profissionais da gestão escolar pre- cisam demonstrar para enfrentar os desafios postos à gestão. Há alguns desafios postos à gestão compartil- hada e segundo Daniel (2013, pág. 176) a participação tem sido um desafio a ser vencido: a promoção da participação da comunidade escolar constitui um desafio posto à gestão compartilhada. Este desafio é ainda maior na gestão do Projeto Político- Pedagógico (PPP). Esta participação com a finalidade de produzir uma proposta pedagógica é um elemento que precisa ser ampliado na consciência de uma participação que seja produtora de ações que viabilizarão respostas às demandas postas. O desafio de gerir o coletivo escolar na promoção de uma participação efetiva e capaz de concretizar ações viáveis às demandas está posto aos gestores escolares. Algumas questões vêm sendo estudada por pesquisa- dores do campo da gestão: • A efetivação da participação nos processos da gestão compartilhada; 93 • A necessidade de profissionalização de dirigentes escolares para implementação dos processos de de- manda da gestão escolar; • A formação continuada e em serviço como pro- cesso importante para efetivar a participação. O desafio posto aos dirigentes escolares enquanto liderança dos processos de participação na criação de mecanismos na gestão escolar viabilizando uma par- ticipação na elaboração, implementação e execução de decisões no âmbito escolar. Mendonça (2000, pág. 117) traz esta análise: “No entanto, mesmo sob a liderança marcante de um dirigente, uma gestão participativa vai ocorrer na me- dida em que mecanismos forem criados para permiti- la. Na escola, são muitas as possibilidades de abertura à participação, incluindo os procedimentos de escolha democrática dos dirigentes, a formação, implantação e funcionamento de colegiados consultivos e deliberativos. Estes últimos, em especial, são uma instância privilegiada da participação coletiva e, nesse sentido, possibilitadora da busca de interesses comuns que sejam capazes de in- tegrar os diversos segmentos e superar as propostas indi- vidualistas ou corporativistas. Para que haja uma partici- pação plena é necessário que exista uma descentralização na tomada de decisões, ultrapassando sua dimensão meramente executiva.” (MENDONÇA, 2000, pág. 117) 94 Além da função de coordenar a escola e desta função decorrem questões pedagógicas, institucionais, sociais, e especialmente políticas locais (SOUZA, 2007, pág. 7), são demandas que estão postas aos gestores es- colares e para geri-las precisará de habilidades na gestão dos processos que terá que coordenar. Neste sentido, a apreensão de conceitos relacionados ao planejamento e à gestão de projetos torna-se importante. A gestão entendida como “o fruto da ciência re- sponsável pelo planejamento organizado, avaliação e controle de recursos materiais, financeiros, tecnológicos e humanos” (VALOI 2007, pág. 40) e associados à de- mocratização do processo pedagógico, à participação de todos no compromisso coletivo (FIGUEIRAS, 2005). E em meio a tantas demandas a serem implementadas e executadas, põe-se ao gestor (a) escolar novas com- petências e habilidades relacionadas desde à capacidade de gestão de equipes à capacidade de elaborar, executar e monitorar os projetos que integram o curso da gestão. 3.3. Processos da gestão descentralizada: principais elementos e legislação Os processos da descentralização da Gestão Es- colar vivenciados a partir da década de 90 ganha ampli- tude de acordo com Oliveira (2006) através da reforma educacional manifesta na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/96). Esta autora analisa 95 a condução da reforma na busca da eficiência e eficácia do Estado na gestão da Educação brasileira: “A tentativa por parte do Estado de capitanear o pro- cesso de mudanças na educação, que ocorre na década de 90, será fundada no discurso da técnica e na agilidade administrativa. Para tanto, as reformas implementadas na educação no período mencionado serão implantadas de forma gradativa, difusa e segmentada, porém com rapi- dez surpreendente e com mesma orientação. A lógica as- sumida pelas reformas estruturais que a educação pública vai viver no Brasil em todos os âmbitos (administrativo, financeiro, pedagógico) e níveis (básica e superior) tem um mesmo vetor. Os conceitos de produtividade, eficá- cia, excelência e eficiência serão importados das teorias administrativas para as teorias pedagógicas.” (OLIVEI- RA, 2006, pág. 3) Esta estrutura descentralizada de gestão escolar que ganha espaço nos movimentos educacionais, cuja pauta central era a abertura democrática da escola através da construção de um novo modelo de gestão que deixasse o centralismo e dialogasse com as questões presentes no “chão da escola”. O modelo de gestão democrática ganha força e a estrutura descentralizada o meio de viabilizá-la. O artigo 206 da Constituição Federal, no inciso VI, define o modelo de gestão democrática em termos de legislação para as escolas. A LDB 9394/96A Lei 96 9394/96, a qual estabelece as Diretrizes de Bases da Educação Nacional também define no Artigo 3.º, in- ciso VIII, “a gestão democrática do ensino público na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino” (Brasil, 1996). Caracteriza-se um novo paradigma para gerir as escolas: participação da comunidade escolar nos processos decisórios através de espaços institucio- nais definidos (Conselhos Escolares). O Art.14 da LDB 9394/96 garante a participação da comunidade escolar e local nos Conselhos Escolares. O conceito de gestão definido por Souza et al (2005) compreende a gestão democrática “como sendo o processo político através do qual as pessoas na escola discutem, deliberam e planejam, solucionam problemas e os encaminham, acompanham, controlam e avaliam o conjunto das ações voltadas ao desenvolvimento da própria escola.” (SOUZA et al, 2005, pág. 1). Esta par- ticipação precisa ser bem planejada e conduzida pelo (a) gestor (a) escolar, pois este mesmo autor chama a atenção para os riscos de se ir pela lógica da maioria. É preciso pensar coletivamente os benefícios e os ganhos com determinado projeto. A LDB 9394/96 em seu Art.15.º aborda a descen- tralização confirmando a autonomia que os sistemas escolares terão nesta estrutura: “Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de Educação Básica que os integram progressivos graus de autono- mia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro públi- co”. (BRASIL, 1996) 97 Augusto (2004) aponta que a “descentralização para a escola é conhecida como autonomia escolar” (AU- GUSTO, 2004, pág. 31). E a escola “deveria funcionar como centro de decisões nas áreas, financeira, adminis- trativa e pedagógica. O objetivo da descentralização seria a dinamização da prática escolar e a flexibilização das diretrizes, para permitir que o projeto pedagógico tenha sentido para os usuários” (AUGUSTO 2004, pág. 31). O conceito de descentralização se alia ao de autonomia, desde a LDB9394/96, no artigo 15 ao afirmar que: “Art. 15.º. Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e admin- istrativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro público.” (BRASIL, 1996). Segundo Lück (2000), só haverá autonomia quan- do houver uma mudança mentalidade e de atitude, uma mudança de postura de todos os educadores no chão da escola, abrindo-se para os processos da participação da comunidade escolar, e um envolvimento do conjunto de pessoas interessadas em realizar a educação numa es- cola, um envolvimento da comunidade escolar interna e externa, na soma de objetivos comuns para solução dos desafios postos: “As questões da gestão democrática, da descentralização e da autonomia da escola estão presentes, sobretudo, na 98 literatura dirigida à escola pública. É relativamente grande a produção sobre a gestão democrática e a participação. A ênfase é a de subsidiar a escola para uma mudança de men- talidade e atitude, sem a qual essa organização não poderia ser efetiva em seu papel social.” (LÜCK, 2000, pág. 27) A mesma autora destaca outra observação impor- tante sobre a autonomia estabelecida nos processos da gestão escolar, favorecendo a contínua promoção dos resultados a que se almeja, busca de metas e de proces- sos de avaliação constante: “As ideias não têm valor por si próprias, mas por sua capacidade de impulsionar a ação para promover resul- tados desejados. E estas devem ser monitoradas e avali- adas, a fim de que se possa evidenciar ao público os seus resultados e se ter parâmetros para o prosseguimento das ações.” (LÜCK, 2000, pág. 28) Por outro lado há que se pensar nesta lógica de resultados que, muitas vezes, está impregnada nos processos da gestão escolar, uma lógica que promove a competitividade e a eficiência, e implica alterações nas relações sociais do trabalho de gestores escolares e instaura um processo de individualização das relações sociais. (Fidalgo e Fidalgo, 2007) A análise de Draibe (2003) sobre este impacto nas relações sociais se traduz como fruto de uma política 99 neoliberal vivenciada em âmbitos internacionais, decor- rente das transformações do Capitalismo ao efetivar as reformas do Estado de Bem-Estar Social (Welfare State), conferindo a este Estado um papel conserva- dor no caso de experiências brasileiras, “o que é, em parte, coerente com a natureza mais geral do modelo ou o regime de Welfare State aqui construído, de tipo conservador, pautado por uma concepção de inter- venção social do Estado meramente sancionadora da distribuição primária da renda e da riqueza”. (DRAIBE, 2003, pág. 67) Há, sim, que pensar os elementos que envolvem os processos de descentralização e de autonomia da gestão escolar da Educação Básica refletindo sobre as impli- cações destes processos na prática diretiva da escola: “Os processos da gestão escolar constituídos pelos processos da descentralização e autonomia da gestão implicam nesse cenário a constituição de novos elemen- tos presentes nesta gestão: a gestão administrativa dos processos que lhe são atribuídos. Administrar nesse novo modelo implica gerir toda a demanda administrativa que se apresenta. O ato de gerir engloba a gestão dos proces- sos administrativos, a gestão dos recursos financeiros que estarão sendo definidos a partir das reais necessidades da escola (gestão das contas da escola); a gestão dos recursos humanos, pois há nesse modelo uma transfer- ência para a escola em termos de contratação de pessoal, terceirização da equipe de limpeza, por exemplo, que é realizada pelo gestor escolar.” (DANIEL, 2013, pág. 37) 100 E frente às especificidades de cada dimensão da gestão escolar, apontadas pela autora acima (dimen- são administrativa, dimensão financeira, a dimensão pedagógica) é preciso que se pense numa autonomia escolar que estabeleça uma interlocução, ampliando a circunscrição dos processos de autonomia aos muros da escola: entre a gestão política, a administrativa e a pedagógica. Ou seja, a gestão escolar não começa nem termina nos estabelecimentos escolares, tanto que não se trata de uni- dades autossuficientes para promover uma educação de qualidade com equidade. (KRAWCZYK 1999, pág. 147) Segundo Lima (2000), para que a autonomia dos processos da gestão se efetive é necessário haver par- ticipação efetiva do coletivo escolar, o que muitos au- tores chamam de responsabilidade, comprometimento (LÜCK, 2000; SOUZA, 2009; LIMA, 2000). Para falar de autonomia pressupõe envolvimento político. Nas palavras de Lima: autonomia da escola, a autonomia dos professores e dos alunos, e de outros atores educativos, concretizando-se através de processos democráticos de tomada de de- cisões, incidindo sobre todas as áreas político-educativas (curriculares, didáticas, avaliativas, organizacionais, ad- ministrativas etc.), ainda que em graus variáveis, consub- stancia-se no exercício de uma pedagogia da autonomia, 101 assegurando-lhe condições para a sua realização livre e democrática mas, sobretudo, traçando-lhe um quadro de valores, objetivos e projetos político-educativos de refer- ência. (LIMA,2000, pág. 2) O envolvimento da comunidade escolar nos pro- cessos pedagógicos, administrativos e financeiros é um desafio para gestores escolares para a concretização da autonomia escolar. Este desafio é devido a uma cultura autoritária que ainda se vive nos processos de tomada de decisão no chão da escola e de uma cultura incipiente que busca os processos de decisão coletivos, e ainda desconhece o fazer desta prática. (OLIVEIRA, 2006) 3.4. Processos da gestão descentralizada: gestão pedagógica, gestão administrativo-financeira e gestão social A gestão democrática pressupõe também “au- tonomia administrativa, financeira e pedagógica,na participação da comunidade nos desígnios da escola (elaboração dos projetos pedagógicos e definição dos calendários) e na criação de instâncias mais democráti- cas de gestão (eleição de diretores e constituição dos colegiados)”. (OLIVEIRA, 2004, pág. 1135) A autonomia nos processos administrativos, finan- ceiros e pedagógicos pressupõe uma gestão participa- 102 tiva. E esta participação consiste na abertura de espaços na gestão para a identificação do problema, acom- panhamento e monitoramento até que seja resolvido. (SOUZA, 2009) As demandas postas aos gestores escolares no de- senvolvimento dos processos administrativos, financei- ros e pedagógicos da gestão escolar apresentam como possibilidade “diminuir a estrutura hierárquica dentro do sistema, possibilitando decisões mais próximas ao local de execução, reduzindo, portanto a distância entre concepção e execução”. (FARAH, 1995, págs. 48-49 apud CABRAL NETO; ALMEIDA, 2000, pág. 38) A prática da gestão não se esgota no interior da escola, porém o ponto de partida é o âmbito escolar. E a construção desta prática demanda um conjunto complexo de relações que a norteiam, por exemplo, a legislação estabelecida, os projetos relacionados e que deverão ser implementados e desenvolvidos, ou seja, as demandas internas da escola se estabelecem a partir de um conjunto de relações externas. 3.4.1. Processos Pedagógicos da Gestão Escolar A esfera pedagógica da gestão escolar constitui-se na esfera mais importante, pois a gestão dos demais processos da gestão escolar são organizados e imple- mentados tendo em vista a promoção dos processos de ensino e aprendizagem para o desenvolvimento e 103 aprimoramento destes processos. Os processos ped- agógicos constituem no foco central da gestão escolar da Educação Básica. Estes processos são identificados na LDB9394/96 através da definição da elaboração do Projeto Político-Pedagógico (PPP) com a participação da comunidade escolar: Art. 14.º. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I - participação dos profissionais da educação na elabo- ração do projeto pedagógico da escola. (BRASIL, 1996) A elaboração, acompanhamento e execução do PPP de forma coletiva é um desafio da esfera ped- agógica: gerir este processo é um desafio que precisa ser vencido na prática escolar, pois constituem em deman- das complexas e intensas relacionadas à coordenação do planejamento pedagógico de longo prazo com vistas a possibilitar aos alunos a construção dos conhecimen- tos respectivos de cada área, os processos avaliativos internos e externos, à construção de parâmetros após os resultados avaliativos. (DANIEL, 2013) A coordenação do planejamento pedagógico co- letivo na prática da gestão escolar vem sendo discutido por diversos pesquisadores, a importância do papel do (a) gestor (a) na articulação dos processos pedagógicos coletivos através da promoção de momentos coletivos de 104 produção. Tres (2011) citado por Santos; Rodrigues (2011) apontam a importância destes momentos pedagógicos: “Por falar em questões pedagógicas, Tres (2011) ressalta que o gestor escolar tem o dever de organizar reuniões com os demais profissionais, para que todos possam sugerir novas ideias de como melhorar o acesso, a so- cialização e a produção do conhecimento entre os profis- sionais e os alunos da escola, colocando o conhecimento, como o centro da atividade pedagógica.” (TRES, 2011, pág. 8 apud SANTOS E RODRIGUES, 2011, pág. 127) A autonomia pedagógica disponível às instituições escolares, muitas vezes, responsabiliza dirigentes esco- lares por todo este processo de produção da proposta pedagógica, uma dinâmica que para se operacionalizar precisa de maior participação do Estado. Pois, é sabido que o bom desempenho dos alunos depende da dinâmi- ca das instituições escolares. (TEDESCO, 1998 apud KRAWCZYK, 1999, pág.119) E esta dinâmica da gestão pedagógica do Projeto Político-Pedagógico precisa refletir os processos de tem- po e espaço para viabilizar este processo tão importante na vida escolar de inúmeras crianças e adolescentes. Outro ponto que precisa ser considerado ao falar de elaboração, implementação e avaliação do Pro- jeto Político-Pedagógico concebendo este plano, esta proposta pedagógica além de um simples documento. Há projetos pedagógicos que identificam uma prática 105 educativa que não condiz com a realidade daquela in- stituição. Serrat (2008) traz esta análise reafirmando a importância de uma proposta pedagógica que dará à equipe gestora uma direção, um planejamento ped- agógico a partir de sua prática pedagógica real: “El resultado de este subproceso debe ser la consecución de um proyecto educativo em um documento único y genuíno, para esse cen- tro em el que se cuenta com um alumnado, um profesorado y unos médios concretos. Por ello, dicho proyecto reflejará la personalidad del centro, identificando, defendiendo y reconociendo sus prácticas cotidianas; debe dotar de coherenciaaltrabalo em sudimensión hori- zontal (del mismo nível o ciclo) y vertical (por áreas o asignaturas). No exitem Buenos ni malos proyectos, sino realistas o no. es la di- rección quien debe liderar este proceso y hacer lo relacionándolo com su próprio proyecto de dirección.” (SERRAT, 2008, pág. 133) Muitas vezes, este planejamento pedagógico acaba sendo produzido através de processos de terceirização via contratação de assessorias externas para a realização dos mesmos, e neste sentido os processos coletivos al- cançados pelo advento da democratização são fragmen- tos e desconstruídos. (DANIEL, 2013, pág. 72) Outra proposta de efetivação da proposta ped- agógica é analisa por Dalberio (2008) através da con- strução do PPP através do Colegiado Escolar: “Ressaltamos, ainda, a importância do Colegiado Escolar na construção coletiva do Projeto Político-Pedagógico – 106 ao participar na sua elaboração, aprovação, acompanha- mento e execução –, fazendo com que esse documento realmente seja significativo para a vida e o direciona- mento dos rumos da escola.” (DALBERIO, 2008, pág. 6) Percebe-se que o discurso da autonomia pedagógi- ca não se efetiva conforme planejado, e este processo de planejamento precisam ser estudados com o objetivo de propor ações concretas para o avanço destes desa- fios postos, uma vez que o papel do (a) gestor (a) está na condição de facilitador da proposta pedagógica com fins de garantir “(...) a qualidade do ensino, acompanhar o corpo docente, fazer o acompanhamento, a super- visão, a orientação de modo que dê garantia à proposta, à formação (...)”. (VALOI, 2007, pág. 100) O desafio de gerir a proposta pedagógica, muitas vezes, esbarra-se em questões relacionadas a diferentes dimensões de atuação do gestor: as demandas de atu- ação do gestor nas áreas administrativo-financeiras e sociais acabam por exigir tempo deste profissional; a complexidade das demandas pedagógicas que são in- tensas e complexas e retratam a especificidade de cada área do conhecimento que deverá ser expresso no con- teúdo das disciplinas; e a organização do tempo cole- tivo para a construção, implementação e avaliação de uma proposta pedagógica. Construir estratégias de atuação de gestores esco- lares na esfera pedagógica significa abrir espaço de re- flexão no campo da gestão escolar para a relevância da 107 proposta pedagógica com vistas a possibilitar as alunos avanços nos processos sociais e cognitivos. 3.4.2. Processos Administrativo-financeiros da Gestão Escolar As atividades no âmbito administrativo-financeiro numa gestão descentralizada são intensificadas, pois muitas funções foram incorporadas ao trabalho deste di- rigente, tais como aquisição de bens, contratação de obras, gestão de pessoal e de recursos financeiros que deverão ser geridos e coordenados no estabelecimentoescolar. Alguns pesquisadores (PARO, 2008, SOUZA, 2005, DOS SANTOS, 2006): a gestão escolar no âm- bito administrativo organiza-se para atender questões postas no âmbito pedagógico com o objetivo de desen- volvimento de uma educação de qualidade. Porém, o que se observa na prática da gestão escolar é que as demandas da esfera administrativa sobrepõem-se às do pedagógico, conforme analisa Silva (2012) ao ana- lisar que “prática nas escolas públicas brasileiras, o gestor limita-se às questões administrativas havendo um dis- tanciamento do planejamento pedagógico propriamente dito” (SILVA, 2012, pág. 60). Em algumas já vem se de- lineando um modelo de gestão que promove um gestor para o exercício de atividades administrativo-financeiras e outro gestor para o exercício de atividades pedagógicas. Estas atividades no âmbito administrativo con- somem muitas horas de trabalho destes profissionais, pois são tarefas que exigem atenção no cumprimento 108 de prazos estabelecidos. E a análise de Souza (2007) sobre este processo revela-se que há um consenso en- tre os professores de que os processos administrativos consomem grande parte do trabalho da gestão escolar: “Não é incomum os professores avaliarem que os aspec- tos administrativos escolares são complexos e demand- am alto grau de conhecimento e experiência para se lidar com eles. Esse conhecimento técnico, porém não parece recair sobre o domínio técnico-pedagógico, ou melhor, também recai, mas aparentemente em menor proporção, ao ponto de os professores identificarem que os dire- tores se dedicam mais empenhadamente nas atividades de natureza administrativa. O que os professores desejam de um diretor? Que ele tenha conhecimentos e poder suficiente para dar, no limite das suas possibilidades, as condições adequadas de trabalho aos professores.” (SOUZA, 2007, págs. 5-6) A gestão administrativa inclui desde os processos de gestão do dia a dia escolar como a verificação da limpeza das salas de aula, a ausência de professores, o funcionamento da merenda escolar, o atendimento aos professores, a recepção aos alunos e comunidade es- colar até as funções externas relacionadas às condicio- nantes do trabalho estabelecido em nível institucional. Quanto à especificidade da gestão dos recursos fi- nanceiros alocados diretamente à escola e coordenados também pelos dirigentes escolares, sob algumas regras 109 já estabelecidas previamente. Esta autonomia financeira traz uma responsabilidade para as instituições escolares quanto aos resultados educativos obtidos. Nora Krawc- zyk (1999) reflete sobre esse ponto: “No caso da educação pública, isso implica um novo modelo de gestão que tem como proposta reestruturar o sistema por intermédio da descentralização financeira e administrativa, dar autonomia às instituições esco- lares e responsabilizá-las pelos resultados educativos. A inovação vem acompanhada de políticas voltadas para a compensação das desigualdades extremas.” (KRAWC- ZYK, 1999, pág. 116) Esta autonomia administrativo-financeira pres- supõe ao trabalho de gestão a construção de uma proposta que precisa estar clara para tais dirigentes escolar. Segundo Lück (2009) no âmbito desta gestão cabe a estes profissionais a correta aplicação dos recur- sos financeiros, a organização da escola como um todo. Para se implicar na gestão destes processos há que se ter uma interlocução entre as esferas de trabalho macro (sistema) e a esfera micro (escola) e será preciso de flexibilidade para conduzir estes processos. A promoção da flexibilidade na gestão dos aspec- tos administrativos e financeiros atrela a estes processos uma cumplicidade da comunidade escolar através do estabelecimento de parcerias com vistas à participação desta nos processos decisórios. (Daniel, 2013). Muitas 110 vezes, gestores escolares em função das demandas da escola efetuam parcerias com a comunidade escolar para provimento de recursos necessários para questões que urgem. Segundo Valoi (2007, pág. 43) gestores deparam- se com grandes desafios não apenas no Brasil, mas no mundo inteiro. Dentre eles, podem-se destacar os seguintes pontos: “a) há um aumento progressivo do efetivo de estudantes nas instituições de ensino e b) há insuficiência de fundos para provir e manter toda essa gama de transformações”. Para coordenar todas estas questões administra- tivas e financeiras da gestão no interior dos sistemas de ensino, gestores escolares poderão contar com a institucionalização de conselhos escolares, espaços para que a comunidade escolar tome parte dos processos decisórios e delibere sobre questões pedagógicas, ad- ministrativas e financeiras. A Lei de Diretrizes e Bases n.º 9394/96 (art. 14, inciso II) afirma a “participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes”. (BRASIL, 1996) Nessa perspectiva, o Conselho Escolar constitui-se em um espaço para a viabilização de “discussão, nego- ciação e encaminhamento das demandas educacionais” (CADERNO 1, pág. 33). Estes órgãos representativos como Colegiado, Conselho Escolar, Grêmios Estudantis e Associações de Pais e Mestres constituem em instru- mentos da gestão compartilhada. Segundo Daniel (2013) a efetivação destes instrumentos de gestão compartilhada ainda constitui-se um desafio para a gestão escolar. 111 Estas instâncias representativas são instrumentos importantes de uma gestão democrática, pois amplia as condições de participação da comunidade escolar nos processos decisórios de natureza pedagógica, adminis- trativa e financeira. Segundo Navarro (2004) é responsabilidade do gestor escolar criar espaços representativos como os Conselhos Escolares para a participação da comunidade escolar, e estes deverão ser compostos por pais, profes- sores, alunos, funcionários da escola, comunidade local e diretor, com função consultiva, deliberativa, de fiscali- zação e de mobilização. Segundo Wittmann (2004) uma das funções do Conselho Escolar é acompanhar as questões pedagógi- cas, focalizando a prática pedagógica e as demandas desta. A institucionalização destes espaços de represen- tação são medidas importantes de democratização para aproximar os diferentes segmentos presentes na escola e favorecer o trabalho coletivo. Este novo modelo de gestão escolar insere gestores frente a um conjunto de decisões que precisará tomar, e a socialização destas decisões em conselhos escolares, favorecem tomar decisões mais assertivas, uma vez que serão pensadas coletivamente. Esta prática participativa nos processos decisórios da gestão escolar da educação básica ainda é incipiente uma vez que temos uma cultura da não participação em instituições como a escola. Trazer a comunidade escolar para participar dos processos decisórios da escola ainda é um desafio para gestores escolares, pois significa 112 romper com uma cultura autoritária que institucional- izou a não-participação. Através do exercício proces- sual de uma prática participativa romperemos estes construtos tradicionais. 3.4.3. Processos Sociais da Gestão Escolar A gestão escolar da Educação Básica tem assumido demandas sociais a partir da ampliação do ato de gerir, envolvendo os processos mais amplos da educação. A caracterização de uma gestão escolar que rompe com os muros da escola e se abre para um pensar coletivo dos processos que envolvem a educação acaba por incluir os processos sociais. Tais mudanças são concebidas a partir de uma concepção de educação como prática social mais ampla que envolve a gestão escolar. Dourado (2007, pág. 23) traz esta análise ao conceber educação “como prática social, portanto, constitutiva e constituinte das relações sociais mais amplas, a partir de embates e processos em disputa que traduzem distintas concepções de homem, mundo e sociedade”. Esta concepção de educação como prática social caracterizou um paradigma de gestão escolar com um modelo de gestão democrática e uma estruturadescen- tralizada num movimento “em direção à “ponta” do sistema, para a instituição responsável diretamente pela prestação de serviços – no caso a escola” (CABRAL NETO; ALMEIDA, 2000, pág. 38) 113 A gestão de questões sociais insere o papel de dirigentes escolares num paradigma que vai além do administrativo-financeiro e do pedagógico. Considera- se que “(...) o diretor de escola é, antes de tudo, um educador. Enquanto tal possui uma função primordial- mente pedagógica e social, que lhe exige o desenvolvi- mento de competência técnica, política e pedagógica”. (RODRIGUES; SANTOS, 2011, pág. 128) A gestão de demandas sociais circunscreve o tra- balho de gestores escolares num âmbito que demanda “novas competências e aptidões cognitivo-atitudinais são necessárias, para que os educadores e, em especial os gestores cumpram sua função nesta nova realidade socioeducativa”. (WITTMANN, 2000, pág. 88) A prática gestora exige destes profissionais atenção aos processos sociais através dos quais a escola precisa reconhecer e preparar-se para responder com prontidão. 3.5. Processos de elaboração, implementação e execução do projeto político-pedagógico Quando objetivamos empreender alguma mudan- ça na escola só podemos realizá-la quando lançamos mão do planejamento. O planejamento educacional é um ato de intervenção técnica e política (CALAZANS, 1990). Para que os objetivos pensados venham ser concretizados precisamos que eles se transformem em ações concretas visíveis para toda a equipe escolar. 114 Um planejamento precisa ser “abraçado” por to- dos da escola, numa construção técnica e política, ou seja, técnica porque precisa construir metodologias que beneficiarão a concretização deste. E política no sentido do fazer político, comprometido e responsável de todo o grupo, uma vez que significa uma construção coletiva, ou seja, consistem em um planejamento participativo entre professores, gestor e os demais funcionários (OL- IVEIRA, 2008, pág. 138). A liderança do gestor é muito importante na me- dida em que promoverá a interação entre o grupo. Se- gundo DANIEL (2013, pág. 162): “o gestor enquanto um líder que constrói relacionamentos no interior da gestão escolar precisa estar aberto ao convívio com diferentes personalidades, tendo clareza das relações humanas que perpassam no interior da escola”. O conceito de gestão implica segundo CURY (2007) em um ou mais interlocutores para o diálogo em busca de respostas às questões postas no ambiente edu- cacional. Neste sentido, a liderança do gestor precisa construir estes relacionamentos para efetivar o diálogo entre a equipe escolar. Vale lembrar que o planejamento escolar precisa dialogar também com o planejamento sistêmica a que a escola está inserida. Segundo SOUZA et al (2005, pág. 37) este planejamento educacional se efetiva em três níveis distintos e que se inter-relacionam: o plane- jamento no âmbito dos Sistemas e Redes de Ensino; o planejamento no âmbito da Unidade Escolar e o plane- jamento no âmbito do Ensino. 115 E a gestão e planejamento de projetos no âm- bito escolar não poderão desconsiderar as redes macro (MEC) e micro (Rede Estadual, Municipal ou Federal) a que a escola está integrada (DANIEL, 2013, pág. 163). Neste sentido, pensar e desenvolver projetos na escola significa ter em mente um projeto que articule as finali- dades sistêmicas às finalidades da realidade escolar. O Planejamento no âmbito da unidade escolar efetiva-se com a construção do Projeto Político-Ped- agógico (PPP). Este deve pautar-se na interlocução da teoria com a prática, e constitui-se como momento privilegiado de tomada de decisão sobre as finalidades da educação. O PPP tem dimensões: Pedagógica, Administra- tiva, Financeira e Jurídica. A dimensão Pedagógica con- siste na definição de todo o processo pedagógico, suas finalidades, abordagem curricular, forma de gerir este processo e a relação com a comunidade. A dimensão Administrativa refere-se aos aspectos gerais da organização da escola como a gestão de pes- soal, gestão dos processos administrativos gerais. A dimensão Financeira refere-se à captação, apli- cação e avaliação dos recursos financeiros. Enquanto a dimensão Jurídica diz respeito à legalidade das ações da instituição e sua relação com as demais instâncias do sistema de ensino. O Art. 12, inciso I, da LDB 9394/96 estabelece que as instituições de ensino, considerando as normas comuns do seu sistema de ensino terão a incumbên- cia de elaborar e executar sua proposta pedagógica, de 116 maneira coletiva. Na expressão e registro da proposta pedagógica, a equipe gestora juntamente com a comuni- dade escolar precisar identificar os seguintes elementos: • O diagnóstico da realidade escolar e as priori- dades decorrentes dela; • O conhecimento da realidade para a qual se planeja; • A definição de objetivos de forma consistente e articulada às ações; • Acompanhamento sistemático e coletivo das ações implementadas. O diagnóstico poderá ser obtido através de da- dos coletados no PDE, nos resultados de avaliações externas, e na busca de informações advindas da realidade através de questionários, entrevistas etc.. Conhecer a realidade é importante na medida em que dá ao planejamento a identificação de lacunas que precisam ser fechadas. A definição dos objetivos educacionais, justifi- cativa, metas, atividades e recursos. Esta fase consiste na elaboração do Plano de Ação do PPP. Este plano consiste num relato sintético sobre as finalidades edu- cativas: apresentam os conhecimentos, habilidades, hábitos, atitudes, competências que serão incorporados pelos grupos de estudantes. Os Meios de Execução consistem na indicação dos meios através dos quais as tarefas serão realizadas. E a definição de critérios de avaliação tem por objetivo monitorar o desenvolvimento das ações durante o pro- cesso de implementação. 117 A escrita de um Projeto Político-Pedagógico poderá se organizar em eixos norteadores visando construir de maneira clara a definição dos principais elementos deste projeto. Segue, abaixo, um exemplo de eixos de escrita do PPP que poderá servir de base para a elaboração, im- plementação e avaliação deste documento importante. 1. INTRODUÇÃO; 2. OBJETIVOS; 3. ESTRUTURA ADMINISTRATIVA; 4. ESTRUTURA PEDAGÓGICA; 5. ESTRUTURA JURÍDICA; 6. DIRETRIZES CURRICULARES; 7. PROCESSOS DE GESTÃO; 8. TEMPO ESCOLAR; 9. AVALIAÇÃO. a) Introdução: consiste na identificação dos da- dos gerais da escola: nome, situação legal, localização, número de turmas, número de alunos e de professores, modalidade de ensino, quadro de pessoal, relação com a comunidade escolar. b) Objetivos: este eixo precisa definir uma síntese dos referenciais que representam a opção filosófica, sócio-antropológica e pedagógica. É preciso que o cole- tivo escolar defina quais objetivos estabelecidos na leg- islação em vigor a escola tem buscado alcançar. E quais serão os objetivos culturais e a finalidade da formação humanística que nortearão esta proposta pedagógica. 118 c) Estrutura Pedagógica: refere-se às interações políticas e às questões de ensino e aprendizagem. Neste eixo, precisa-se definir como estão organizados os gru- pos nesta escola, nomenclatura, número de educadores, número de educando, e a formalização do planejamento pedagógico em si. d) Diretrizes Curriculares: deve expressar a con- cepção de currículo a que a instituição escolar está rela- cionada. A produção, construção e assimilação dos pro- cessos que compõem a metodologia do conhecimento. e) Processos de Gestão: consistem na definição da forma de organização, funcionamento, composição e atribuições da estrutura administrativo-financeira da es- cola. Neste eixo, é importante dizer se há na escola espaços de representatividade como o Colegiado escolar e como este se articula com os processos decisórios na gestão. f) Tempo escolar: consiste em identificar a organi- zação do planejamento escolar por níveisde abrangên- cia. Descrever e justificar a organização dos educandos por grupos. g) Avaliação: este eixo analisa os processos de avaliação: avaliação e monitoramento dos educandos; avaliação do corpo docente; critérios de avaliação, pro- moção e recuperação; avaliação institucional. O planejamento coletivo do PPP ainda é um desa- fio a ser vencido por gestores escolares. A construção de espaços coletivos de planejamento no âmbito escolar abre a possibilidade de diálogo efetivo com a comuni- dade e estabelece relações para ganhos dos processos de ensino-aprendizagem. 119 3.6. Conclusão Os processos de uma gestão escolar descentrali- zada e democrática exigem de gestores escolares dis- posição para repensar e instituir novas práticas. Para isto, a formação continuada e a abertura para o con- hecimento de práticas gestoras que compartilham os processos da gestão com a comunidade escolar, a fim de encontrar soluções para questões complexas que se põe à gestão. Para gerir os processos pedagógicos, adminis- trativo-financeiros e sociais no paradigma de gestão escolar democrática e descentralizada é preciso que gestores escolares construam referenciais referente ao planejamento pedagógico, ao planejamento administra- tivo-financeiro e ao planejamento social. E este plane- jamento precisa construir-se a partir do coletivo a que este se refere. As demandas de planejamento no desenvolvimen- to da gestão demandam destes profissionais capacidades de liderança, proatividade, flexibilidade, comunicação, capacidade de ouvir e de se fazer ouvir, e, sobretudo habilidades e competências para “o monitoramento e auto-avaliação”. (LÜCK, 2000, pág. 28) Neste paradigma de gestão exigem-se profission- ais que monitorem os processos instituídos com vistas à promoção de soluções para eventuais questões que surgirem. A prática gestora ao agregar elementos de au- tonomia, descentralização e democracia se complexifica e exige um novo perfil dos profissionais que a exercem. 120 Questões 1. a) Escreva, no quadro abaixo, características que identificam os processos de uma gestão centralizadora e de uma gestão democrática: b) Comente em qual perspectiva de gestão você situ- aria sua prática gestora, numa gestão centralizadora ou democrática? Justifique sua resposta. 2. O conceito de gestão escolar apresentado nesta unidade envolve os diferentes enfoques de atuação da gestão: a dimensão administrativa, a dimensão da mo- bilização de ações e atitudes ante às demandas postas, a dimensão da articulação das condições humanas e materiais para o objetivo final da constituição produtiva dos processos de ensino e aprendizagem. A partir deste conceito de gestão escolar, in- dique, de acordo com suas experiências na gestão, qual dimensão demanda maior presença do gestor escolar. Justifique sua escolha. 3. Leia abaixo os artigos 14 e 15 da LDB 9394/96. Art. 14 - Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme Gestão Centralizadora Gestão Democrática 121 os seguintes princípios: I - participação dos profissionais da educação na elabo- ração do projeto pedagógico da escola; II - participação das comunidades escolar e local em con- selhos escolares ou equivalentes. Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e admin- istrativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro público. O artigo 14 refere-se aos princípios da gestão democrática (participação) e o 15 referem-se à descen- tralização dos processos da gestão escolar (autonomia). Relacione gestão escolar democrática e autonomia escolar. 4. Complete o quadro preenchendo as principais fun- ções desempenhadas e os maiores desafios enfrentados pelo gestor, considerando os diferentes aspectos da gestão escolar. Para esta resposta, considere suas ex- periências na gestão da escola. 5. Para a elaboração, implementação e avaliação dos processos do PPP em sua comunidade escolar precisam considerar: a) o diagnóstico e o conhecimento da re- alidade escolar; b) definição do Plano de Ações e do meio de executá-las; d) processos de acompanhamento e avaliação. Elabore um texto identificando como você construiria cada fase deste processo do PPP.
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