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VALUATION DR. ALEXANDRE MENDES DA SILVA PROFESSOR DR. ALEXANDRE MENDES DA SILVA Doutor em Administração na área de Economia das Organizações pela Faculdade de Economia Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP, 2017), mestre em Administração pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS, 2010), especialista em Controladoria pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2006), especialista em Finanças de Empresas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2001) e graduado em Administração também pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2000). Suas áreas de interesse incluem Varejo, Economia das Organizações, Finanças Empíricas e Corporativas, Métodos Quantitativos Multivariados e Econometria Financeira. Sumário AULA 1 INTRODUÇÃO ....................................................... 5 AULA 2 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E O OBJETIVO DA EMPRESA .............................................................. 12 AULA 3 LUCRO E VALOR .................................................. 21 AULA 4 FATORES A SEREM ANALISADOS PARA UMA BOA VALUATION .................................................. 25 AULA 5 FLUXO DE CAIXA DISPONÍVEL PARA AVALIAÇÃO .......................................................... 35 5.1 Fluxo de Caixa Disponível da Empresa (FCDE) ou Fluxo de Caixa Livre (FCL) .........................................38 5.2 Exemplo de cálculo do Fluxo de Caixa Disponível para a Empresa (FCDE) .............................................46 AULA 6 CUSTO MÉDIO PONDERADO DE CAPITAL (CMPC) OU WEIGHTED AVERAGE COST OF CAPITAL (WACC) .................................................................. 48 AULA 7 MOTIVOS E METODOLOGIAS EMPREGADAS PARA A AVALIAÇÃO DE EMPRESAS .................. 67 7.1 Metodologia do Valor Contábil (MVC) ..............71 7.2 Metodologia do Valor de Reposição (MVR) ......71 7.3 Metodologia do Valor de Negociação (MVN) ...73 7.4 Metodologia do Valor Patrimonial de Mercado (MVPM) ....................................................................73 7.5 Metodologia do Valor de Liquidação (MVL) .....75 7.6 Metodologia do Preço-Lucro (MPL) ..................76 7.7 Metodologia de Capitalização dos Lucros (MCL) ......................................................79 7.8 Metodologia dos Múltiplos de Faturamento (MMF) .......................................................................82 7.9 Metodologia dos Múltiplos de Lucros (MML) ...82 7.10 Metodologia dos Fluxos de Caixa Descontados (MFCD) ......................................................................83 7.11 Metodologia do Valor Presente Líquido (MVPL), da Taxa Interna de Retorno (TIR) e do tempo de retorno do investimento (payback) .........................94 REFERÊNCIAS ..................................................... 114 AULA 1 INTRODUÇÃO Para introduzir o tema deste livro, que é avaliação de empresas (valuation), vamos iniciar fazendo uma pergunta: Você já avaliou alguma coisa (carro, casa, moto etc.) para comprar ou para vender? Se fez isso alguma vez na vida, com 6 certeza tentou estabelecer um preço (valor) máximo para pagar pelo ativo, no caso de uma compra, ou de um valor mínimo que você concordaria em receber, caso você seja um vendedor (DAMODARAN, 2018). Em valuation, como você aprenderá, o principal objetivo é determinar, para um investidor, o preço justo do ativo que ele deseja. Além disso, entende- se por valor o preço mais alto que poderia ser obtido se as quotas ou ações de uma empresa fossem vendidas em uma transação real de mercado, isso sob uma perspectiva. Sob outra, os ativos financeiros devem ser adquiridos com base na expectativa dos fluxos de caixa a serem recebidos no futuro, sendo essa a abordagem mais utilizada (SANTOS, 2011; DAMODARAN, 2018). A avaliação de uma empresa não é uma ciência exata, que exige a comprovação absoluta dos resultados apurados. Os fatores levados em consideração para a avaliação – vários dos quais constam neste material – tentam retratar a realidade esperada do ambiente econômico em que a empresa está inserida (ASSAF NETO; LIMA, 2014). E por que você deve se empenhar em estudar essa disciplina? A estimativa do valor justo de uma empresa tem como objetivo orientar os 7 investidores em suas estratégias de compra e venda de ativos. Por isso, a avaliação de empresas é uma das mais difíceis tarefas realizadas pelos profissionais da área financeira, uma vez que depende da disponibilidade de informações detalhadas da atividade operacional da empresa (SANTOS, 2011). Apesar de existirem dezenas de modelos de avaliação, existem apenas duas abordagens quando falamos de valuation: a intrínseca e a relativa. Na avaliação intrínseca, parte-se de uma proposição simples: o valor intrínseco de um ativo é determinado pelos fluxos de caixa que, se espera, sejam gerados pelo bem durante sua vida útil e pelo grau de incerteza a eles associados. Dessa forma, ativos com fluxos de caixa altos e estáveis devem valer mais que ativos com fluxos de caixa baixos e voláteis. Assim, deve- se pagar mais por imóveis com aluguéis mais altos e locatários mais estáveis e duradouros que por outros mais especulativos, com aluguéis mais baixos e taxas de vacância com grande variabilidade (DAMODARAN, 2018). Embora o foco, em princípio, concentre-se na avaliação intrínseca, a maioria dos ativos é avaliada em bases relativas. Na avaliação relativa, o valor do ativo é estimado com base nos 8 preços de mercado de ativos semelhantes. Por isso, para se determinar quanto pagar por uma casa, verifica-se por quanto são vendidas casas semelhantes no bairro em que ela encontra-se situada. Quando se trata de ações, compara- se seu preço ao de ações similares, neste caso, geralmente em seu “grupo de pares”. Por exemplo, a Exxon Mobil será considerada uma ação a se comprar se ela estiver sendo negociada por preço correspondente a 8 vezes o lucro por ação, enquanto as ações de outras empresas de petróleo estão sendo negociadas a 12 vezes o lucro por ação. Isso significa que a ação da Exxon Mobil está subavaliada, razão pela qual os investidores devem investir, pois, no futuro, ela deverá ter desempenho semelhante ao das outras empresas do setor (DAMODARAN, 2018). O mesmo vale para outros tipos de ativos, como no exemplo da casa, já mencionado. Sabendo agora que existem duas abordagens, também é importante que você saiba que o melhor a fazer é adotar o meio-termo quando se trata de avaliação de empresas. A avaliação intrínseca oferece visão mais ampla dos fatores determinantes do valor de uma empresa ou ação, mas existem ocasiões em que a avaliação relativa proporcionará uma estimativa mais realista do valor de mercado. Em geral, não há 9 razão para escolher uma ou outra, pois nada impede que se adotem ambas as abordagens na avaliação do mesmo investimento. Na verdade, é possível melhorar as chances de sucesso investindo, por exemplo, em ações subavaliadas sob os dois pontos de vista, intrínseco e relativo (DAMODARAN, 2018). É por isso que se considera que a determinação do valor de uma empresa é uma tarefa complexa, pois avaliar a empresa não envolve somente o seu patrimônio líquido, estoques, ativos, passivos ou as informações que constam nos relatórios e demonstrativos contábeis, mas também se deve levar em consideração se a mesma possui credibilidade no mercado, uma marca sólida, uma boa carteira de clientes e fornecedores, o tempo de atuação no mercado em que ela está inserida, entre outros fatores que são relevantes no momento de fazer a valuation (ECKERT et al., 2011). Faz parte e é uma exigência de qualquer avaliação que exista uma coerência e rigor conceituais na formulação do modelo de cálculo. Como já mencionado, existem diversos modelos de avaliação e em todos eles existem certos pressupostos bem como níveis variados de subjetividade. Por isso, em Finanças, justamente 10 pelomaior rigor conceitual e coerência, a prioridade, quando se trata de avaliar uma empresa, é dada aos modelos de avaliação que são baseados na Metodologia dos Fluxos de Caixa Descontados (MFCD), que também será visto neste livro (ASSAF NETO; LIMA, 2014). Mas, antes de abordarmos os pontos que tratam da avaliação de empresas, vamos iniciar nosso estudo com alguns conceitos fundamentais que tratam da administração financeira e do objetivo da empresa, sendo esses os assuntos que veremos nos pontos a seguir. Bons estudos! 11 AULA 2 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E O OBJETIVO DA EMPRESA A administração financeira de uma organização geralmente orienta-se pelos princípios da livre empresa, que foram propostos por Adam Smith, em 1776, em seu livro A riqueza das nações. Para Smith, o empresário, ao procurar maximizar sua 13 riqueza, automaticamente propicia a realização dos objetivos da sociedade. O autor ainda explica que o empresário, ao perseguir seu próprio benefício, é guiado por uma mão invisível, fazendo com que todos – no caso, a sociedade – obtenham, por conseguinte, também os melhores resultados (ASSAF NETO, 2012; ASSAF NETO; LIMA, 2014). As ideias liberais de Smith constituem a base da moderna economia e fornecem os fundamentos teóricos que explicam o processo de globalização e da atual competitividade do mercado. Mas também existem críticas, pois os resultados apregoados por Adam Smith somente podem ser atingidos se o mercado for eficiente. Além disso, toda intervenção do Estado na economia ou quaisquer imperfeições no relacionamento entre os agentes econômicos acabam por reduzir a atuação da mão invisível (ASSAF NETO, 2012; ASSAF NETO; LIMA, 2014). Mas são as forças de mercado que atualmente decidem o que será produzido, como e para quem. E, por isso, a administração financeira estabeleceu que o objetivo principal de uma empresa é a maximização da riqueza (bem-estar econômico) dos proprietários. Essa abordagem mais liberal e contemporânea das finanças 14 corporativas foca sua atenção nas decisões de financiamento e de investimento, de forma a criar riqueza para os acionistas, minimizando ao mesmo tempo os riscos e tornando mais eficaz a alocação dos recursos disponíveis (ASSAF NETO; 2012; ASSAF NETO; LIMA, 2014). Mas como é medido o objetivo da empresa? • Objetivo: maximizar o lucro Antes do estabelecimento do objetivo de maximizar a riqueza dos proprietários – valor da empresa –, as entidades adotavam como seu objetivo principal a maximização do lucro. Isso, inclusive, tem suporte da teoria econômica, por denotar uma medida de eficácia econômica. No âmbito da administração financeira, o lucro não define a efetiva capacidade financeira de pagamento da empresa, por estar baseado no regime de competência (accrual basis), e não no de caixa (cash basis). Sob o ponto de vista contábil, o lucro não leva em consideração, quando ele é projetado para o futuro, os riscos que estão associados aos fluxos de caixa esperados de rendimentos (ASSAF NETO, 2012; ASSAF NETO; LIMA, 2014). Além disso, o lucro não representa o efetivo rendimento da empresa. Por isso, ele deve ser 15 considerado, mais corretamente, como um dos parâmetros para a medição desse desempenho, pois uma empresa deve ser avaliada pelo todo, ou seja, seu potencial de lucro, tecnologia empregada, qualidade de seus produtos, estratégias financeiras, preços praticados, imagem, participação de mercado etc., e não por apenas um componente (ASSAF NETO, 2012; ASSAF NETO; LIMA, 2014). Outra crítica ao lucro é de que essa medida de desempenho não leva em consideração a forma como seus resultados são distribuídos no tempo, ignorando o axioma do valor do dinheiro do tempo. Poupadores e investidores não são indiferentes à distribuição dos benefícios no tempo, pois atribuem, de forma racional, maior importância aos fluxos de caixa que proporcionem maior riqueza inicial. Além disso, retornos recebidos mais cedo podem ser reinvestidos para gerarem maiores ganhos no futuro (ASSAF NETO, 2012; ASSAF NETO; LIMA, 2014). • Objetivo: maximizar o valor de mercado (econômico) da empresa Esse é o critério mais indicado para a tomada de decisões financeiras. Assim, os benefícios operacionais produzidos pela empresa são 16 expressos tendo como base os fluxos de caixa, que são descontados a valor presente utilizando uma Taxa Mínima de Atratividade (TMA). Nessa taxa de desconto – que estudaremos com mais detalhes no item 6, “Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC) ou Weighted Average Cost of Capital (WACC)”, deste livro – está embutida a remuneração mínima exigida pelos proprietários de capital – no caso, acionistas e credores – diante do risco assumido (ASSAF NETO, 2012; ASSAF NETO; LIMA, 2014). Assim, o valor da empresa1 depende dessas duas variáveis: os fluxos de caixa futuros esperados e o custo de oportunidade dos proprietários de capital. Ao se trazer esses fluxos a valor presente, usando a taxa de desconto, o valor da empresa é apurado. É importante que fique claro também que o valor de um bem é determinado pela sua capacidade de gerar riqueza e não por seus resultados passados, acumulados em exercícios anteriores e registrados em contas patrimoniais (ASSAF NETO, 2012; ASSAF NETO; LIMA, 2014). 1 No caso de empresas de capital aberto, a riqueza dos acionistas é determinada pelo preço de suas ações (ordinárias e preferenciais). Assim, as decisões econômicas para essas empresas são tomadas seguindo a sua capacidade de valorizar o preço das ações, o que pode ser conseguido por meio da identificação de novas oportunidades de negócios ou de mercados, incorporação de avanços na gestão ou de tecnologia, o que demonstra capacidade de inovação (ASSAF NETO, 2012). 17 Esses parâmetros decisórios – os fluxos de caixa futuros esperados e o custo de oportunidade (custo do capital) dos proprietários de capital – são definidos com base nas expectativas do investidor com relação ao desempenho econômico esperado e ao seu grau de aversão ao risco (relação risco x retorno). Essas expectativas podem se modificar ao longo do tempo e geralmente são ditadas pelas variações nas taxas de juros e no comportamento da economia (ASSAF NETO, 2012; ASSAF NETO; LIMA, 2014). Para maiores riscos, os investidores esperam obter maiores retornos, e vice-versa. E essa premissa básica deve ser levada em consideração pelo administrador financeiro para a avaliação do impacto das decisões financeiras sobre o valor da empresa. Por isso, o objetivo da administração financeira está vinculado ao bem- estar econômico dos proprietários associado a um nível adequado de risco, de forma a maximizar o valor de mercado da ação da empresa e, por consequência, da própria organização (ASSAF NETO, 2012; ASSAF NETO; LIMA, 2014). 18 • Objetivo: maximização da riqueza do acionista e sustentabilidade Esse enfoque incorpora boas práticas sociais e ambientais, de forma a fazer com que a empresa use seus recursos para atender às necessidades da sociedade. Isso traz benefícios para a entidade, como valorização da imagem institucional, da marca, aumento na capacidade de recrutar e manter talentos, maior capacidade de adaptação e longevidade. A palavra-chave neste contexto é sustentabilidade empresarial (ASSAF NETO, 2012; ASSAF NETO; LIMA, 2014). A sustentabilidade é um conceito amplo e envolve aspectos culturais, econômicos, sociais e ambientais da humanidade. No ambiente empresarial, a sustentabilidade é formada junto com os stakeholders (partes interessadas), de forma a atender a suas expectativas. Isso também envolve a adoção pela empresa de maior transparência em suas atividades e da incorporação da ética em seus negócios (ASSAF NETO, 2012; ASSAF NETO; LIMA, 2014). Junto com a maximização da riqueza dos acionistas, a sustentabilidade visa à preservação dos recursos ambientais e culturais, bem como o respeito à diversidade e àredução 19 da desigualdade social. Mas, sem criação de valor, a continuidade da organização pode ser comprometida, o que impedirá o crescimento dos negócios da entidade e sua capacidade de gerar empregos, bem como de trazer os benefícios já descritos anteriormente (ASSAF NETO, 2012; ASSAF NETO; LIMA, 2014). 20 AULA 3 LUCRO E VALOR É um ponto importante o de que, dentro de um prazo considerado razoável, uma empresa pode agregar valor mesmo sem apresentar lucro no período. O lucro, conforme apurado pela Contabilidade, traz algumas limitações para ser usado como uma medida econômica de desempenho, pois: a) não incorpora o risco 22 do negócio; b) não inclui o custo de capital do acionista (ou seja, o custo de oportunidade); c) é apurado pelo regime de competência e não equivale a um resultado disponível de caixa (ou seja, não envolve o regime de caixa); d) ignora o conceito do valor do dinheiro no tempo (ASSAF NETO, 2019). O valor de um negócio (VE) é decorrência de expectativas futuras de desempenho, e a inexistência de lucros na Contabilidade em certo intervalo de tempo não interfere no valor da empresa calculado. Muitas empresas conseguem elevar o valor de suas ações no mercado (medida importante de criação de riqueza) mesmo em períodos de baixos lucros ou até mesmo de apuração de prejuízos (ASSAF NETO, 2019). A ausência de lucros em determinados anos pode ser compensada por resultados esperados positivos e elevados no futuro. Existem vários exemplos de novos negócios no ambiente econômico atual que apresentaram baixos resultados nos primeiros anos de existência, porém conseguiram, com base em desempenhos futuros esperados, promover fortes valorizações em seus preços de mercado. Podem ser citadas como exemplos bastante conhecidos a livraria virtual Amazon e diversas empresas do setor de 23 tecnologia e informática (ASSAF NETO, 2019). Não raro empresas em expansão sacrificam resultados (e mesmo fluxos de caixa) nos anos iniciais na expectativa de gerarem maiores retornos no futuro. Na visão de curto prazo os lucros das empresas deixam de ser importantes, pois se espera uma recompensa mais elevada dos investimentos no futuro (valor). No entanto, na visão de longo prazo, o lucro é uma medida importante; não há como admitir-se a criação de valor em empresas que projetam prejuízos futuros, sem qualquer previsão de resultados positivos (ASSAF NETO, 2019). Pode-se, portanto, concluir que a criação de valor por uma empresa é formada pela combinação de diversos fatores e estratégias, acionados pela entidade, como giro dos investimentos, planejamento tributário, margens de lucro e desempenho operacional, retorno dos investimentos, estrutura de capital, entre outros direcionadores de valor. Essas medidas devem ser identificadas e avaliadas no âmbito dos gestores de operações responsáveis (ASSAF NETO, 2019). 24 AULA 4 FATORES A SEREM ANALISADOS PARA UMA BOA VALUATION A Figura 1, a seguir, apresenta os fatores a serem observados em uma avaliação de forma a tornar eventuais riscos presentes conhecidos pelos avaliadores (SANTOS, 2011). 26 FIGURA 1 – FATORES A SEREM OBSERVADOS EM UMA AVALIAÇÃO DE EMPRESAS Objeto social Quadro administrativo Quadro funcional Carteira de clientes Carteira de fornecedores Participação de mercado Situação Financeira Dívidas Contingenciais Ativos Intangíveis VALOR DA EMPRESA Fonte: Adaptado de Santos, 2011. Correções na figura: em todos os termos, manter em caixa alta apenas a inicial da primeira palavra. • Objeto social – Trata-se de conhecer a natureza da atividade operacional da empresa, ou seja, quais são seus produtos e serviços – além de seus níveis de rotatividade em épocas de 27 crescimento, estabilidade ou recessão econômica. Isso é importante para que se possa elaborar uma projeção de resultados. Por exemplo, quando estamos trabalhando com produtos classificados como essenciais, como itens do setor alimentício e de limpeza, independentemente de existir recessão ou não, são itens que sempre irão gerar fluxo de caixa, ao contrário dos itens classificados como supérfluos, por exemplo calçados e roupas (SANTOS, 2011). • Quadro administrativo – Conhecer a administração é o primeiro passo para a avaliação (qualitativa e quantitativa) dos resultados financeiros da empresa. Até porque a má gestão é a grande responsável pela falência de empresas. As informações importantes neste tópico são as relacionadas à experiência, à sucessão administrativa e à idoneidade. Quanto à experiência, é importante verificar a data de início da atividade operacional da empresa e o tempo de atuação dos administradores no negócio. Em relação à sucessão administrativa, é necessário saber se as decisões estratégicas sempre são tomadas por uma única pessoa ou se por um quadro de administradores também experientes. Em relação à idoneidade, é preciso estabelecer se os administradores honram pontualmente suas dívidas pessoais no mercado de crédito (SANTOS, 2011). 28 Um ponto importante a ser lembrado é que empresas novas possuem riscos mais elevados em relação a empresas maduras, não apenas por causa da potencialidade, que é desconhecida, como também pela intangibilidade de um novo produto mais a pouca experiência gerencial do empresário (ou pequeno grupo de empresários) e da possível insuficiência de garantias reais. Ou seja, os riscos administrativos e de mercado são maiores nas empresas menores, mas são reduzidos à medida que a empresa for crescendo (SANTOS, 2011). • Quadro funcional – Dados sobre os funcionários da administração, produção e comercialização devem ser obtidos de forma detalhada, para se conhecer os desembolsos salariais, benefícios complementares (como planos de carreira, gastos com alimentação, educação, transporte etc.) e índice de rotatividade funcional. Também deve-se analisar a relação custo-benefício em contratos de terceirização de mão de obra, bem como os resultados da atuação de sindicatos de categorias profissionais da região (SANTOS, 2011). • Carteira de clientes – A carteira de clientes possibilita para os avaliadores o conhecimento do grau de diversificação e concentração de negócios da empresa. Nesse ponto, o ideal é que as vendas 29 sejam detalhadas em termos de produtos, valores, regiões geográficas, direcionamento (setores privado e público e mercados interno e externo) e formas de recebimento. Quanto maior for a diversificação, menor será a exposição aos riscos sistemáticos, ou seja, àqueles de natureza externa e, por isso, não controláveis, como os decorrentes de ações econômicas, governamentais e concorrenciais (SANTOS, 2011). • Carteira de fornecedores – Da mesma forma que na carteira de clientes, a abertura da carteira de fornecedores possibilita avaliar o grau de diversificação e concentração de negócios da empresa. Espera-se que as compras sejam detalhadas em termos de produtos, valores, regiões geográficas, direcionamento (mercados interno e externo) e formas de pagamento. Quanto maior for a diversificação nesses itens, menor será a exposição aos riscos sistemáticos, como, por exemplo, os representados pela oscilação cambial e escassez de matéria-prima ou mercadoria no mercado (SANTOS, 2011). • Participação de mercado – Avaliações de empresas adequadas baseiam-se no monitoramento da participação histórica da empresa no mercado. Nesse ponto deve-se averiguar se existe evolução, manutenção ou involução da participação de mercado, sendo 30 importante fazer o diagnóstico preciso das causas, para que os cenários e projeções sejam simulados de forma correta (SANTOS, 2011). É importante também avaliar o histórico do setor em que a empresa atua, bem como o nível de concorrência no setor, que envolve desde a rivalidade entre as organizações, passando pela ameaça de novos entrantes e pela ameaça de produtos substitutos. Por fim, deve-seproceder com a análise da estratégia corporativa da empresa. Para isso, pode-se utilizar as estratégias genéricas de Porter, que são: liderança de custos, diferenciação ou enfoque. Enfim, procurar identificar a vantagem competitiva da empresa e se ela é sustentável (PALEPU; HEALY, 2016). • Situação financeira – Envolve o levantamento e a análise da situação contábil-financeira da empresa, com base em informações extraídas do Balanço Patrimonial, da Demonstração de Resultados e da Demonstração do Fluxo de Caixa do Exercício. Essas informações são analisadas diretamente nas demonstrações financeiras e/ou após serem convertidas para os seguintes indicadores de desempenho: de liquidez, endividamento, lucratividade, entre outros (SANTOS, 2011). Também deve-se coletar informações financeiras acerca da empresa no mercado, como em birôs de crédito e associações comerciais (PALEPU; HEALY, 2016). 31 • Dívidas contingenciais – Dívidas ou responsabilidades contingenciais são exi- gibilidades que podem ou não ocorrer, derivadas de eventos que ocorrerão no futuro. São dívidas contingenciais os avais, as ações legais e as garantias prestadas em favor de terceiros (como bancos, fornecedores etc.). Embora representem riscos assumidos por assinaturas em contratos, essas dívidas podem afetar a situação financeira da empresa quando os valores são desembolsados diretamente do caixa da organização. Por isso, o investidor deve avaliar o risco do negócio, sempre considerando as dívidas “fora balanço”, ou seja, as que não estão presentes numericamente nas demonstrações financeiras (SANTOS, 2011). • Ativos intangíveis – são os recursos não materiais controlados pela organização, mas não refletidos nas demonstrações financeiras, e que são capazes de trazer benefícios futuros ao negócio. São exemplos tradicionais de ativos intangíveis: marcas, patentes, softwares, direitos autorais, razão social, franquias, localização, conhecimento técnico, capacidade de inovação do capital humano etc. Há casos em que o valor atribuído aos ativos intangíveis é superior ao valor dos ativos tangíveis (como o refrigerante Coca- Cola, por exemplo). Por isso, sua quantificação é importante para a determinação do valor 32 total da empresa, uma vez que, com os demais ativos de natureza tangível, os ativos intangíveis contribuem para a geração de fluxos de caixa futuros (SANTOS, 2011). Com base no conhecimento do risco da atividade operacional da empresa, bem como de seus índices de desempenho, de seu custo de capital e das expectativas relacionadas aos rumos da macro e microeconomia, podemos projetar os resultados para as vendas, custos e despesas, considerando os cenários de crescimento, estabilidade e recessão econômica. Seguem outras situações que também devem ser levadas em consideração (SANTOS, 2011). • Crises financeiras em economias de países, tanto desenvolvidos quanto emergentes, e que possuem relacionamento comercial significativo com o Brasil. Neste caso, ocorre redução dos negócios entre empresas, governos e investidores (SANTOS, 2011). • Guerra de incentivos fiscais entre governos, o que pode gerar desemprego e fechamento de empresas, quando seus principais clientes decidem transferir suas instalações (administrativas e operacionais) para outros locais, com o objetivo de reduzir custos, aumentar receita e obter benefícios fiscais (SANTOS, 2011). 33 • Valorização da moeda local em relação ao dólar. Para as empresas exportadoras, essa é uma condição é desfavorável, visto que seus produtos se tornam mais caros que os de concorrentes sediados em países cujas moedas são estáveis em relação ao dólar (SANTOS, 2011). • Desvalorizações da moeda local em relação ao dólar. Para as empresas importadoras, esta também é uma condição desfavorável, uma vez que o produto importado torna-se mais caro para ser adquirido (SANTOS, 2011). A realização de visitas à empresa que será avaliada é um recurso complementar e importante para a determinação do valor justo do negócio. Por meio desse recurso, os avaliadores podem levantar informações complementares e/ou esclarecer dúvidas gerais sobre a atividade operacional da empresa (SANTOS, 2011). 34 AULA 5 FLUXO DE CAIXA DISPONÍVEL PARA AVALIAÇÃO A partir das informações de conjuntura econômica, desempenho esperado do mercado e da empresa em avaliação, são elaboradas as previsões para os benefícios econômicos de caixa em um determinado horizonte de tempo. O fluxo 36 de caixa utilizado na avaliação de empresas é denominado Fluxo de Caixa Disponível ou Livre (Free Cash Flow). E existem essencialmente dois tipos de fluxos de caixa para se fazer uma avaliação de empresas (ASSAF NETO; LIMA, 2009): • Fluxo de Caixa Disponível da Empresa (FCDE) ou Free Cash Flow to the Firm (FOCF); • Fluxo de Caixa Disponível do Acionista (FCDA) ou Free Cash Flow to Equity (FCFE). O FCDA é o resultado de caixa que sobra para os proprietários depois que são deduzidas as necessidades de investimentos em ativo fixo e capital de giro com o objetivo de financiar seu crescimento e após os pagamentos de juros e amortizações do principal de dívidas de credores (ASSAF NETO; LIMA, 2009). Os FCDAs são descontados pelo custo de oportunidade do capital próprio (custo do capital próprio), e o seu resultado equivale ao valor do patrimônio líquido (PL) da empresa, isto é, o valor da empresa para o acionista. Ao se somar o PL com o montante do passivo (dívidas de empréstimos e financiamentos), chega-se ao valor total da empresa. Assim (ASSAF NETO; LIMA, 2009): 37 Valor total da empresa = Valor da empresa para o acionista (PL) + Valor das dívidas O FCDA tem aplicações específicas e não é uma medida de larga utilização na avaliação de empresas. O fluxo de caixa mais adotado é o FDCE (ASSAF NETO; LIMA, 2009). 5.1 FLUXO DE CAIXA DISPONÍVEL DA EMPRESA (FCDE) OU FLUXO DE CAIXA LIVRE (FCL) O FDCE representa o resultado operacional líquido de caixa da empresa que pode ser sacado por seus credores e acionistas. Esse fluxo financeiro não inclui os fluxos financeiros que envolvem dívidas da empresa, como juros e amortizações (ASSAF NETO; LIMA, 2014). Quando positivo, o FDCE tem como destino remunerar os proprietários de capital (credores a acionistas), por meio do pagamento de juros e dividendos. Quando negativo, a empresa irá buscar novos recursos no mercado para financiá- lo, por intermédio de novas dívidas ou de nova integralização de capital pelos acionistas (ASSAF NETO; LIMA, 2014). 38 Os FCDEs futuros previstos, por incorporarem os resultados de todos os proprietários de capital, devem ser descontados pelo CMPC, que é calculado levando em consideração os custos e a participação tanto do capital de terceiros quanto do próprio, assunto que será visto mais adiante neste livro (ASSAF NETO; LIMA, 2014). O valor presente do FCDE, portanto, nada mais é do que o valor total da empresa (VE), pois incorpora o valor do patrimônio líquido (PL) e as dívidas. Outro ponto importante é que os fluxos operacionais de caixa devem ser projetados para um determinado horizonte de tempo. A partir dessa estrutura de entradas e saídas de caixa, calcula-se a riqueza líquida expressa em moeda atual, ou seja, o valor presente. O FDCE, que é um fator necessário para a elaboração de uma avaliação de empresas, é calculado conforme demonstrado no Quadro 1 (ASSAF NETO; LIMA, 2014). 39 QUADRO 1 – CÁLCULO DO FLUXO DE CAIXA LIVRE (FCDE) Receita operacional bruta (−) Deduções e impostos = Receita operacional líquida (−) Custos e despesas operacionais (exceto depreciação e amortização) = EBITDA – Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (−) Depreciação = EBIT – Lucro antes dos juros e dos impostos (lucro operacional bruto) (−) Imposto de renda sobre EBIT = NOPAT – Lucro operacional líquido de imposto de renda (−) CAPEX – Gastos de capital (−) Variaçõesnas necessidades de capital de giro (+) Depreciação = Fluxo de caixa disponível da Empresa (FCDE) ou Fluxo de Caixa Livre (FCL) Fonte: Assaf Neto e Lima, 2009, p. 753. 40 A base para a avaliação de uma empresa são seus fluxos de caixa disponíveis (FCDE) ou livres (FCL), definidos em termos operacionais, e onde são excluídos os fluxos de remuneração do capital de terceiros (despesas financeiras). Os valores relevantes para a avaliação, são aqueles cuja origem decorre da atividade operacional da empresa e disponíveis a todos os provedores de capital: próprios e de terceiros (ASSAF NETO; LIMA, 2014). Além do FDCE, outros fatores devem ser conhecidos para uma boa valuation, e que serão visto a seguir. 5.1.1 EBITDA e EBIT O EBITDA é o lucro antes dos juros, imposto de renda, depreciação, amortização e exaustão. É a receita operacional de vendas menos os custos e as despesas, não considerando as despesas não desembolsáveis como depreciação, amortização e exaustão. A depreciação (e a amortização e a exaustão) pode ser vista como o gasto que a empresa tem quando investe, com a expectativa de ser recuperado ao longo dos anos. É uma despesa que não implica em saída de caixa e tem como 41 objetivo recuperar o capital investido no ativo, que será utilizado em mais de um exercício social (ASSAF NETO; LIMA, 2014). O lucro antes dos juros e do imposto de renda e após as despesas de depreciação é o que se denomina Lucro Operacional Bruto (antes do IR). É muito conhecido pela sua sigla em inglês, EBIT, que significa Earnings Before Interest and Taxes. O EBIT é o EBITDA menos a depreciação (ASSAF NETO; LIMA, 2014). 5.1.2 NOPAT – Lucro operacional líquido do Imposto de Renda Quando se deduz o imposto de renda do EBIT, encontramos o Lucro Operacional Líquido de Imposto de Renda, que, em inglês, é denominado Net Operating Profit After Taxes (NOPAT). Esse indicador mostra o valor que poderia ser distribuído para os acionistas caso a empresa não tivesse dívidas. Seu cálculo é feito da seguinte forma (ASSAF NETO; LIMA, 2014): NOPAT = EBIT – Imposto de Renda 42 5.1.3 CAPEX – Gastos de capital CAPEX (Capital Expenditures) representa as variações nos gastos que implicam em acréscimos nos investimentos em ativos fixos previstos (ou seja, na aquisição de novos ativos) no horizonte de tempo. Esses gastos de capital são realizados com máquinas, equipamentos, edificações, pesquisa e desenvolvimento, entre outros. E inclui todas as necessidades de reinvestimento previstas em bens fixos e que exercerão influências sobre os fluxos de caixa futuros (ASSAF NETO; LIMA, 2014). Como exemplo pode-se colocar o capital dispendido pelas companhias aéreas comerciais, que são previstos e que ocorrem em reposição de aeronaves, ampliação ou renovação da frota, construção de hangares, manutenção etc. (ASSAF NETO; LIMA, 2014). Em períodos de forte crescimento ou de implantação de novos projetos de investimentos por uma entidade, o fluxo de capital costuma ser elevado. Em anos de maior estabilidade ele tende a diminuir (ASSAF NETO; LIMA, 2014). 43 5.1.4 Variações nas necessidades de capital de giro Outros acréscimos de investimentos são as necessidades incrementais de capital de giro, que são calculadas com base na variação projetada no volume de atividade (produção e vendas) da empresa. Aumentos na necessidade de giro reduzem o caixa e, por conseguinte, os fluxos de caixa previstos. Reduções no giro, por sua vez, liberam recursos financeiros, elevando os fluxos de caixa (ASSAF NETO; LIMA, 2014). Ao se definir, por exemplo, em 10% as necessidades de capital de giro, projeta-se que a empresa precisa manter investido em giro, com o objetivo de preservar seu equilíbrio financeiro, o equivalente a 10% de seu volume de vendas previsto. Ao aplicar este montante no primeiro ano, para os demais períodos, deve-se somente calcular o investimento sobre as variações verificadas nas vendas (ASSAF NETO; LIMA, 2014). Exemplo ilustrativo: sendo fixada em 10% das receitas de vendas a necessidade calculada de investimento em giro, devem ser previstos no fluxo de caixa disponível de cada ano os 44 investimentos calculados sobre os incrementos esperados de vendas. Assim, sendo de R$ 50 milhões as receitas anuais de vendas e de R$ 70 milhões, R$ 90 milhões e R$ 100 milhões, respectivamente, as projeções para cada um dos próximos 3 anos, têm-se os investimentos em giro da Tabela 1 (ASSAF NETO; LIMA, 2014). TABELA 1 – EXEMPLO DE CÁLCULO DA VARIAÇÃO DE INVESTIMENTO EM GIRO R$ Milhões Ano 0 (atual) Ano 1 Ano 2 Ano 3 Receita de vendas R$ 50 R$ 70 R$ 90 R$ 100 Variação – R$ 20 R$ 20 R$ 10 Necessidade de investimento em Giro – R$ 2 R$ 2 R$ 1 Fonte: Adaptado de Assaf Neto e Lima, 2009. 45 5.2 EXEMPLO DE CÁLCULO DO FLUXO DE CAIXA DISPONÍVEL PARA A EMPRESA (FCDE) A Figura 2 mostra um caso de projeção dos resultados operacionais disponíveis em moeda constante referentes da Cia. Valor (empresa fictícia) para cada um dos próximos 10 anos. O período de projeção (denominado período explícito) é de 10 anos e a perpetuidade (ou continuidade) seria a projeção dos fluxos de caixa livres além desse horizonte de tempo (ASSAF NETO; LIMA, 2014). O comportamento crescente esperado dos fluxos de caixa livres da empresa revela otimismo com relação ao desempenho futuro do mercado interno. A evolução projetada dos custos foi menos que proporcional à das receitas de vendas, motivadas principalmente por uma expectativa de queda dos preços das matérias-primas utilizadas pela empresa (premissa) no mercado mundial (análise do ambiente econômico) (ASSAF NETO; LIMA, 2014). As despesas operacionais foram previstas para cada um dos anos com base em padrões de comportamento verificados em anos precedentes (variações). Não se prevê que esses valores sofram alterações que possam ser importantes no período de previsão (premissa). Os valores 46 projetados dos impostos consideram as isenções fiscais nas áreas de atuação da Cia. Valor, conforme a Figura 2 (ASSAF NETO; LIMA, 2014). FIGURA 2 – PROJEÇÕES DE FDCE DA CIA. VALOR PARA O PERÍODO DE 10 ANOS (R$ 1.000) Fonte: Assaf Neto e Lima, 2009, p. 755. Em relação ao item variações no investimento total, observe que o sinal é negativo, indicando que haverá investimento tanto em capital de giro quanto em ativos fixos (gastos de capital). 47 AULA 6 CUSTO MÉDIO PONDERADO DE CAPITAL (CMPC) OU WEIGHTED AVERAGE COST OF CAPITAL (WACC) O custo de capital é a taxa de retorno que uma empresa precisa obter em seus projetos de investimentos para manter seu valor de mercado. Também pode ser considerado a taxa de retorno exigida pelos fornecedores de capital no mercado para que seus recursos sejam investidos na empresa (GITMAN, 2010). Ele é um instrumento 49 utilizado para trazer os fluxos de caixa livres projetados a valor presente, refletindo dessa forma o risco do negócio (SANTOS, 2011). O aumento do custo de capital para a empresa pode decorrer de imposições do Banco Central para conter a inflação e/ou de resultados negativos da sua atividade operacional que acaba deteriorando seus indicadores de desempenho – liquidez, endividamento, lucratividade, cobertura de juros e rentabilidade (SANTOS, 2011). Via de regra, que quando ocorre aumento das taxas de juros e câmbio, em épocas de recessão ou de forte queda do nível de atividade econômica, empresas com elevados índices de endividamento (interno e externo) passam a enfrentar dificuldades para gerar fluxos de caixa suficientes para pagar dívidas com instituições financeiras e fornecedores. Como consequência do aumento do risco do negócio, os supridores de capital aumentam o custo do financiamento às empresas e/ou passam a exigir garantias reais como condição para a concessão de crédito destinado às necessidades de capital de giro e imobilização. Trata-se de um prêmio adicional para cobrir o aumento dorisco. São exemplos de garantias reais: bens patrimoniais (móveis e imóveis); bens escriturais (duplicatas a receber); e bens financeiros (aplicações financeiras). (SANTOS, 2011, p. 84) Por sua importância, o custo de capital deve ser 50 estudado cuidadosamente, pois ele funciona como um vínculo básico entre as decisões de investimento de longo prazo e a riqueza dos proprietários. Por isso, considera-se que ele é um “número mágico”, usado para se decidir se um investimento proposto poderá aumentar ou diminuir o preço da ação e, concomitantemente, o valor de uma organização. Assim, somente serão escolhidos investimentos que aumentem o preço da ação (VPL > R$ 0 ou TIR > Custo de Capital) (GITMAN, 2010). • Premissas fundamentais O custo de capital é um conceito considerado dinâmico, pois é afetado por diversos fatores econômicos gerais e específicos de uma empresa. Para que se possa identificar a estrutura do custo de capital – que é a combinação ótima de capital de terceiros e capital próprio que a maioria das empresas procura manter – têm-se as seguintes premissas quanto ao risco e ao imposto de renda (GITMAN, 2010): — Presume-se que o risco econômico, que é o risco de que a empresa seja incapaz de pagar os custos operacionais, seja constante. Essa premissa implica que a aceitação de um determinado projeto de 51 investimento não pode afetar a capacidade da empresa de bancar o custo operacional. — Presume-se que o risco financeiro, que é o risco de que a entidade seja incapaz de pagar as obrigações financeiras – como juros aluguéis, dividendos preferenciais etc. – seja constante. Essa premissa implica que os projetos de investimento serão financiados de tal forma que a capacidade da empresa de honrar seus custos de financiamento seja constante. — Custos relevantes são aqueles que são apurados depois do imposto de renda. Em outras palavras, é o custo de capital que é medido após o imposto de renda. Essa premissa condiz com o contexto pós- imposto que é adotado na tomada de decisões de orçamento de capital. • Conceito básico Ao avaliar um investimento, uma empresa irá estimar os fluxos de caixa futuros associados ao projeto e, em seguida, irá apurar sua taxa interna de retorno (IRR) ou calcular seu valor presente líquido (NPV) para decidir se aceita ou rejeita o projeto. Para qualquer método de decisão escolhido, a organização deve ainda definir uma 52 remuneração mínima sobre o capital investido. Esta taxa de retorno exigida é o que se denomina custo de capital (ASSAF NETO; LIMA, 2014). O custo de capital é formado a partir das informações sobre as expectativas mínimas de retorno exigidas pelas fontes de financiamento (credores e acionistas). Por exemplo, ao fixar em 10% o custo de capital, assume-se que o investimento deve produzir um retorno mínimo igual ou maior que esta taxa, visando remunerar adequadamente os proprietários do capital usado como financiamento (ASSAF NETO; LIMA, 2014). O custo de capital é usado como taxa de desconto dos fluxos previstos de caixa do investimento. Se o retorno apurado for superior ao custo de capital, temos um valor presente líquido positivo; em caso contrário, a decisão não é capaz de remunerar os proprietários de capital, o que implica em destruição de valor e, por isso, o projeto não deve ser aprovado (ASSAF NETO; LIMA, 2014). O custo de capital é formado por uma taxa livre de risco mais um prêmio associado ao projeto em avaliação, ou seja (ASSAF NETO; LIMA, 2014): 53 Custo de capital = Taxa livre de risco + Prêmio pelo risco Quanto mais risco um investimento tiver, maior o custo de capital pela exigência de um prêmio de risco maior. O custo de capital é determinado principalmente pelo risco associado ao investimento, e não pela forma como este investimento é financiado. Por exemplo, ao se tomar recursos de mercado para expandir um produto que já existe e que está bem consolidado entre os consumidores ou para se fazer um lançamento de um novo produto, os retornos exigidos serão diferentes. Isso acontece porque um novo produto traz mais incerteza (risco) de sucesso que a expansão da oferta de um produto existente, que já foi testado e aprovado no mercado (ASSAF NETO; LIMA, 2014). Como a empresa possui diversas fontes de financiamento (próprias e de terceiros), o custo total de capital é obtido pela média ponderada dos custos que estão associados a cada alternativa. É o que se denomina Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC) ou Weighted Average Cost of Capital (WACC). O CMPC é a taxa mínima de retorno exigida sobre todos os investimentos da empresa, refletindo tanto o custo do capital próprio como o custo do capital de terceiros (ASSAF NETO; LIMA, 2014). 54 • Custo de capital de terceiros No estudo do custo total de capital, é preciso inicialmente conhecer o custo de cada fonte de recursos (própria e de terceiros) utilizada pela empresa e, então, mensurar-se, a partir desses valores, a taxa de retorno desejada para as decisões de investimentos. O custo médio ponderado de capital (CMPC) reflete a remuneração mínima exigida tanto por acionistas como por credores da empresa (ASSAF NETO; LIMA, 2014). O custo de capital de terceiros é definido com base nos passivos onerosos identificados nos empréstimos e financiamentos obtidos pela empresa. Este custo de terceiros é representado por Ki e, diante da dedutibilidade fiscal que é permitida aos encargos financeiros, pode também ser apurado após a respectiva provisão para Imposto de Renda, o que reduz seu custo final. A expressão de cálculo é (ASSAF NETO; LIMA, 2014): Ki (após IR) = Ki (antes IR) × (1 – IR) em que: IR = alíquota de Imposto de Renda. 55 Para ilustrar como se trabalha com o custo de capital de terceiros, temos o exemplo a seguir. Admita que uma empresa fez um financiamento de R$ 200.000,00 com uma taxa de 15% a.a. Sendo 34% a alíquota do Imposto de Renda, tem- se o seguinte cálculo (ASSAF NETO; LIMA, 2014): Despesas financeiras brutas = R$ 200.000,00 x 15% = R$ 30.000,00 Economia de IR = R$ 30.000,00 x 34% = R$ 10.200,00 Despesas financeiras líquidas de IR = R$ 30.000,00 − R$10.200,00 = R$ 19.800,00 Relacionando os encargos financeiros com o passivo gerador dessas despesas, tem-se o custo de captação líquido do Imposto de Renda, ou seja (ASSAF NETO; LIMA, 2014): Ki = $ 19.800,00/$ 200.000,00 = 9,90%. Esse resultado é idêntico ao apurado pela fórmula já colocada: Ki = 15% x (1 − 0,34) = 9,90% a.a. 56 Os resultados indicam que existe uma redução dos juros de 15% para 9,90%, determinada pelo benefício fiscal promovido pelos encargos financeiros (ASSAF NETO; LIMA, 2014). Seguem outros pontos que devem ser levados em consideração. — Risco do capital de terceiros: a relação entre o capital de terceiros (dívidas) e capital próprio (patrimônio líquido) é o que geralmente se entende por estrutura de capital da empresa. Quanto maior a participação de capital de terceiros na estrutura de capital, mais elevado é o risco financeiro da empresa (ASSAF NETO; LIMA, 2014). — Fluxos de caixa e taxas de desconto líquidas: ao se trabalhar com custos de capital mensurados após o Imposto de Renda, os fluxos de caixa em avaliação também devem apresentar-se expressos em valores líquidos do referido tributo (ASSAF NETO; LIMA, 2014). 57 • Custo de capital próprio é mais caro que o do capital de terceiros O custo do capital de terceiros é menor que o do capital próprio. Essa diferença é explicada por duas razões (ASSAF NETO; LIMA, 2014). O retorno do acionista está ligado ao sucesso dos negócios, ou seja, à geração de lucros em volume suficiente para remunerar o custo do capital investido. Caso a empresa apure prejuízo, o acionista não terá ́direito algum de pleitear pagamento pelo dinheiro que foi aplicado. Isso significa que ele assume o risco do negócio. E, por consequência, exige um prêmio pelo risco maior(ASSAF NETO; LIMA, 2014). O credor, ao contrário, recebe garantias efetivas da devolução do capital emprestado, como aval, hipoteca etc., e tem os pagamentos da dívida livres de qualquer relação formal com os resultados apurados pela organização. A empresa tomadora de recursos não tem como justificar sua eventual inadimplência por um resultado negativo em seus negócios (ASSAF NETO; LIMA, 2014). A outra razão que justifica ser o custo da dívida menor que o do capital próprio é o benefício fiscal. A remuneração devida ao capital próprio 58 é o lucro líquido, calculado após a dedução do Imposto de Renda. Já ́a remuneração paga ao credor são os juros, os quais são dedutíveis para cálculo de Imposto de Renda. Na verdade, a empresa devedora usufrui de um benefício (economia) fiscal ao calcular os encargos financeiros de suas dívidas (ASSAF NETO; LIMA, 2014). • Custo de capital próprio O custo de capital próprio, que é representado por Ke, revela o retorno desejado pelos acionistas de uma empresa quando da aplicação de capital próprio. Constitui, junto com o tema de estrutura de capital, o segmento de estudo mais complexo das finanças corporativas, assumindo diversas hipóteses e abstrações teóricas em seus cálculos (ASSAF NETO; LIMA, 2014). A determinação do custo do capital próprio envolve uma dificuldade prática. Para companhias de capital aberto a definição do custo de capital próprio não pode ser efetuada diretamente com os proprietários de capital, requerendo a aplicação de algum método direcionado a esse cálculo (ASSAF NETO; LIMA, 2014). Um procedimento bastante utilizado na prática 59 de determinação do custo de capital próprio é o método do fluxo de caixa descontado dos dividendos futuros esperados pelo mercado. Este modelo de cálculo baseia-se na premissa de que o valor de uma ação é igual ao valor presente de todos os fluxos futuros esperados de dividendos, considerando um período indeterminado (infinito) (ASSAF NETO; LIMA, 2014). A grande dificuldade na aplicação desse método é a estimativa de valores futuros esperados de caixa (dividendos previstos), principalmente a da taxa de crescimento dos dividendos para prazos indeterminados. Outro método de mensuração do custo de capital próprio que também é utilizado é derivado da aplicação do modelo de precificação de ativos (CAPM) (ASSAF NETO; LIMA, 2014). • Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC) Como os investimentos são financiados pelo capital próprio e pelo capital de terceiros, a quantidade de cada um na estrutura de capital terá impacto no valor da empresa. O CMPC de uma entidade reflete o custo médio ponderado de todas as fontes de financiamento da empresa. Esse custo total representa a taxa de atratividade 60 da empresa, ou seja, o quanto a empresa deve exigir de retorno de seus investimentos com o objetivo de maximizar seu valor de mercado (SANTOS, 2011; ASSAF NETO; LIMA, 2014). O calculo do CMPC é feito por meio da média ponderada dos custos das fontes de financiamento de capital, de acordo com a seguinte expressão (ASSAF NETO; LIMA, 2014): 𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶 = � 𝑊𝑊𝑖𝑖𝑥𝑥𝐾𝐾𝑖𝑖 𝑛𝑛 𝑖𝑖=1 em que: CMPC = Custo Médio Ponderado de Capital, identificado na literatura financeira por Weighted Average Cost of Capital (WACC); Ki = custo específico de cada fonte de financiamento (capital próprio e capital de terceiros); Wi = participação (proporção) de cada fonte de capital no financiamento total. No Balanço Patrimonial, essas fontes são classificadas como itens do exigível a longo prazo, do passivo circulante, quando incluir 61 transferências de dívidas onerosas e/ou bancárias de longo prazo, e do patrimônio líquido (capital próprio), como demonstrado na Figura 3 (SANTOS, 2011). FIGURA 3 – LOCALIZAÇÃO DAS FONTES DE FINANCIAMENTO DE LONGO PRAZO NO BALANÇO PATRIMONIAL Ativos Passivo circulante Exigível a longo prazo Patrimônio líquido Recursos de longo prazo Fonte: Adaptado de Santos, 2011. O passivo circulante operacional livre de juros, representado principalmente pela fonte de financiamento às atividades operacionais (fornecedores), é retirado do cálculo do CMPC para evitar inconsistências, uma vez que seu custo está implícito no preço pago pelas mercadorias que geraram a dívida. A dívida bancária de curto prazo deve ser computada no cálculo do CMPC quando se referir à parcela da dívida bancária de longo prazo (SANTOS, 2011). 62 Quando o passivo circulante incluir empréstimos bancários representando transferências de dívidas de longo prazo, seus custos deverão ser colocados no cálculo do Custo Total do Capital de Terceiros e CMPC (SANTOS, 2011). O CMPC tem que ser consistente com o método de avaliação e com a definição do fluxo de caixa livre a ser descontado. Por isso, os avaliadores devem seguir os seguintes passos para calculá-lo (SANTOS, 2011, p. 85): • considerar a média ponderada dos custos de todas as fontes de capital (dívidas, ações etc.), pois o fluxo de caixa livre representa o caixa disponível para remunerar todos os provedores de capital; • ser calculado depois de todos os impostos, uma vez que o fluxo de caixa livre também é calculado depois dos impostos; • usar taxas de retorno nominais derivadas de taxas de juros reais e da inflação esperada; • levar em conta os riscos sistemáticos assumidos pelos investidores, tendo em vista que cada um deles espera um retorno que compense o risco assumido; • empregar valores de mercado ao se ponderar o custo de cada fonte de capital, pois os valores de mercado refletem a verdadeira composição do capital empregado, o que não ocorre com o valor 63 contábil; e • poder variar ao longo do período de projeção do fluxo de caixa livre, em função de mudanças esperadas nos fatores de natureza sistemática (inflação, juros, câmbio etc.) e na estrutura de capital da empresa. Para ilustrar como se trabalhar com o CMPC, temos o exemplo a seguir. Vamos supor que uma empresa tenha apresentado a seguinte estrutura de capital e seus respectivos custos, que foram levantados dos relatórios contábeis e constam na Tabela 2 (ASSAF NETO; LIMA, 2014). TABELA 2 – CÁLCULO DO CMPC Fonte de capital Montante Proporção de cada fonte Custo após IR Capital ordinário 200.000 ações X R$ 1,00 = R$ 200.000,00 25% 25% a.a. Capital preferencial 200.000 ações x R$ 1,00 = R$ 200.000,00 25% 20% a.a. Financiamentos R$ 400.000,00 50% 16% a.a. Total R$ 800.000,00 100% Fonte: Adaptado de Assaf Neto e Lima, 2014. 64 Pelos valores apresentados, podemos agora mensurar o CMPC das fontes de capital da empresa da seguinte forma (ASSAF NETO; LIMA, 2014): CMPC = (25% x 0,25) + (25% x 0,20) + (50% x 0,16) = 19,25% De outra forma, a remuneração que é exigida pelos proprietários de capitais alocados pela empresa assume a forma de cálculo apresentada na Tabela 3 (ASSAF NETO; LIMA, 2014): TABELA 3 – OUTRA MANEIRA DE CALCULAR O CMPC Fonte de capital Montante Remuneração exigida Capital ordinário R$ 200.000,00 x 25% R$ 50.000,00 Capital preferencial R$ 200.000,010 x 20% R$ 40.000,00 Financiamentos R$ 400.000,00 x 16% R$ 64.000,00 Total R$ 800.000,00 R$ 154.000,00 Fonte: Adaptado de Assaf Neto e Lima, 2014. 65 A empresa deve obter um resultado operacional mínimo de R$ 154.000,00 no exercício para cobrir o retorno mínimo exigido por suas fontes de financiamento. O valor econômico somente é criado se o lucro operacional for superior a R$ 154.000,00. A remuneração exigida representa 19,25% do volume total de recursos colocados à disposição da empresa, ou seja (ASSAF NETO; LIMA, 2014): CMPC = R$ 154.000,00 / R$ 800.000,00 = 19,25%. 66 AULA 7 MOTIVOS E METODOLOGIAS EMPREGADAS PARA A AVALIAÇÃO DE EMPRESAS São diversos os motivos que fazem com que seja necessário elaborar uma estimativa (total ou parcial) do valor de mercado de uma empresa. Entre as razões mais comuns podemos colocar (SANTOS, 2011):68 • compra ou venda; • partilha entre herdeiros; • determinação do valor das participações sociais; • fusão de duas ou mais empresas; • divisão de uma sociedade em duas ou mais empresas; • privatização; • dissolução societária. Essas situações ocorrem periodicamente no mundo dos negócios, mas existe uma outra que é mais importante para os executivos: a de realizar periodicamente a avaliação da empresa com o objetivo de se verificar se efetivamente está havendo criação de riqueza para os acionistas. Entre as diversas metodologias de avaliação de empresas que são empregadas para a determinação do valor do negócio, destacam-se (SANTOS, 2011): 69 MVC Metodologia do Valor Contábil MVR Metodologia do Valor de ReposiçãoMVN Metodologia do Valor de Negociação MVPMMetodologia do Valor Patrimonial de MercadoMVL Metodologia do Valor de Liquidação MPL Metodologia do Preço/LucroMCL Metodologia de Capitalização dos Lucros MMFMetodologia dos Múltiplos de FaturamentoMML Metodologia dos Múltiplos de Lucro MFCD Metodologia dos Fluxos de Caixa DescontadosMVPL Metodologia do Valor Presente Líquido TIR Metodologias da Taxa Interna de Retorno e do Payback 70 7.1 METODOLOGIA DO VALOR CONTÁBIL (MVC) Essa metodologia assume que o Valor da Empresa (VE) corresponde ao valor do Patrimônio Líquido (PL) registrado no balanço patrimonial (SANTOS, 2011), ou seja, o valor da empresa para os acionistas é o patrimônio líquido. Como a metodologia é baseada no valor de custo, ela não considera o mercado para a realização dos ativos ou para a amortização das dívidas. Também não considera necessidades de investimentos de capital de giro, nem avanços da tecnologia ou imobilizações para a manutenção da capacidade competitiva da empresa para o próximo período (SANTOS, 2011). 7.2 METODOLOGIA DO VALOR DE REPOSIÇÃO (MVR) O valor da empresa (VE) nesta metodologia equivale ao preço de repor todos os ativos em uso da empresa, ou seja, o custo baseado nos valores de mercado dos diversos ativos em avaliação, porém em estado de novo (ASSAF NETO; LIMA, 2014). A importância desta metodologia baseia- 71 se no pressuposto de continuidade do empreendimento, preocupando-se, assim, com as variações nos preços específicos dos ativos. Uma vantagem que também é apontada neste método de custo de reposição é a possibilidade de apropriação dos resultados de uma forma independente de sua realização, ou seja, o reconhecimento do lucro antes da venda dos estoques (ASSAF NETO; LIMA, 2014). É importante frisar que os valores de reposição podem diferenciar dos valores históricos registrados pela Contabilidade, gerando informações importantes como resultados (ganhos ou perdas) de estocagem e de capital (ASSAF NETO; LIMA, 2014). Outro aspecto importante e central nesta metodologia é que o ativo total de uma empresa avaliada pelo custo corrente deve reproduzir o valor que se deveria pagar para montar outra empresa igual (o mais próxima possível da atual) em estado de nova (ASSAF NETO; LIMA, 2014). Isso permite que se proceda uma avaliação da organização no momento atual, como se fosse constituída na presente data, evidenciando todo o capital (investimento) necessário para obter uma empresa igual à que está sendo avaliada (ASSAF NETO; LIMA, 2014). 72 Essa análise é importante principalmente do ponto de vista de um investidor potencial que esteja considerando uma eventual participação acionária no capital da empresa. Os resultados da avaliação seriam comparáveis, para efeitos de tomada de decisão, com os que seriam apurados caso o investidor investisse seus recursos numa nova empresa similar (ASSAF NETO; LIMA, 2014). 7.3 METODOLOGIA DO VALOR DE NEGOCIAÇÃO (MVN) A metodologia pressupõe que o valor da empresa (VE) pode ser entendido como o valor máximo que um comprador estaria disposto a pagar e, ao mesmo tempo, seria o valor mínimo que um vendedor estaria disposto a aceitar para realizar a venda (ASSAF NETO; LIMA, 2014). 7.4 METODOLOGIA DO VALOR PATRIMONIAL DE MERCADO (MVPM) Essa metodologia exige que os valores contábeis do ativo, passivo e patrimônio líquido sejam compatíveis ou muito próximos a seus valores de mercado. Isso pressupõe uma reavaliação e/ ou atualização do valor dos ativos e passivos, considerando efeitos de fatores como 73 depreciação, amortização, exaustão, inflação, taxa de juros, paridade cambial etc (SANTOS, 2011). Os três primeiros fatores aplicam-se aos elementos do ativo imobilizado (SANTOS 2011): • depreciação: bens físicos que perdem valor devido a desgastes ou perda de utilidade por uso, acaso da natureza ou obsolescência; • amortização: refere-se a perda de valor decorrente da aquisição de direitos da propriedade industrial ou comercial e quaisquer outros com existência ou exercício de duração limitada, ou cujo objeto sejam bens de utilização por prazo legal ou contratualmente limitado; • exaustão: a perda de valor decorre da exploração de direitos cujo objeto sejam recursos minerais ou florestais, ou bens aplicados nessa exploração. Já os ajustes da inflação, taxa de juros e a paridade cambial são aplicados tanto a itens do ativo como do passivo até a data de publicação do balanço. Por exemplo, as obrigações em moeda estrangeira, que tenham uma cláusula de paridade cambial, serão convertidas em moeda nacional à taxa de câmbio em vigor na data do balanço. Assim, o valor da empresa (patrimônio líquido) será igual ao valor do ativo total ajustado menos o valor do ativo total (SANTOS, 2011). 74 7.5 METODOLOGIA DO VALOR DE LIQUIDAÇÃO (MVL) Essa metodologia pressupõe a descontinuidade da empresa. O valor da empresa corresponde ao preço possível de ser obtido em uma eventual venda dos bens e direitos no mercado, no estado em que se encontrarem, caso as atividades sejam encerradas. No caso dos passivos, envolve também as denominadas obrigações ocultas, ou seja, aquelas não registradas normalmente pela contabilidade, como passivos trabalhistas e contingências fiscais (SANTOS, 2011; ASSAF NETO; LIMA, 2014). O uso desta metodologia é recomendado apenas em duas situações: 1. quando as mercadorias ou outros ativos tenham perdido sua utilidade normal, ou tenham se tornado obsoletos, ou de algum modo tenham perdido seu mercado normal; 2. quando a empresa espera encerrar suas atividades em um futuro próximo, tornando-se assim incapaz de vender em seu mercado normal. Dessa forma, é bastante comum que os ativos da empresa sejam realizados em valores inferiores aos registrados nos relatórios gerenciais e demonstrações contábeis. Isso é uma decorrência 75 do poder de barganha dos compradores e das necessidades imediatas de caixa dos proprietários (SANTOS, 2011). 7.6 METODOLOGIA DO PREÇO-LUCRO (MPL) Essa metodologia baseia-se na condição de que, se duas empresas atuam no mesmo setor e possuem estrutura e porte semelhantes (material, humana e financeira), pode ser feita uma comparação direta entre seus resultados, usando, neste caso, o Índice Preço/Lucro ou P/L (SANTOS, 2011). Amplamente utilizado em análises e relatórios de investimento, o Índice Preço/Lucro (P/L) pode ser entendido como a medida do preço pago pela ação em relação ao lucro por ação (LPA) gerado por uma da empresa. Um alto índice P/L significa que o investidor está pagando mais a cada R$ 1,00 de lucro gerado (BREALEY MYERS; ALLEN, 2008; ALBERTO; VIEIRA, 2011). É calculado pela fórmula (SANTOS, 2011, p. 114): Índice P/L = 𝐶𝐶𝑃𝑃𝑃𝑃ç𝑜𝑜 𝑑𝑑𝑃𝑃 𝐶𝐶𝑃𝑃𝑃𝑃𝑀𝑀𝑀𝑀𝑑𝑑𝑜𝑜 𝑑𝑑𝑀𝑀 𝐴𝐴çã𝑜𝑜 𝐿𝐿𝐿𝐿𝑀𝑀𝑃𝑃𝑜𝑜 𝐶𝐶𝑜𝑜𝑛𝑛𝐶𝐶á𝑏𝑏𝑖𝑖𝑏𝑏 𝑝𝑝𝑜𝑜𝑃𝑃 𝐴𝐴çã𝑜𝑜 76 O Lucro Contábil por Ação (LPA), necessário para o cálculo do P/L é calculado pela fórmula (SANTOS, 2011, p. 114): LPA = Lucro Líquido Número de Ações Emitidas O Quadro 2, a seguir, mostra como se processa a análise em um período de 2 anos. QUADRO 2 – EXEMPLO USANDO O ÍNDICEPL Índice Ano 1 Ano 2 Situação técnica Preço/ lucro 1,50 3,75 Favorável Fonte: Adaptado de Santos, 2011. A interpretação do Quadro 2 é muito simples: para cada R$ 1,00 de lucro contábil no ano 2 um investidor paga R$ 3,75. Outra explicação bastante utilizada é que o preço de mercado da ação corresponde a quase 4 vezes o valor contábil da ação, o que significa que os investidores estão considerando que a empresa possui baixo risco e, 77 por isso, têm expectativas favoráveis em relação à capacidade de geração de fluxos de caixa futuros da entidade (SANTOS, 2011). Essa metodologia possui algumas limitações, no entanto, ao considerar: o lucro contábil; ignorar o conceito do valor do dinheiro no tempo; e considerar que o mercado é eficiente (SANTOS, 2011). Outro ponto que não deve ser esquecido é que o indicador também mostra o tempo necessário para o lucro corrente da empresa repor o preço da sua ação, ou seja, o tempo para recuperar o capital investido. Geralmente utiliza-se o lucro anual e, neste caso, o P/L é medido em anos. Quanto mais baixo for o índice P/L, mais atraente é a ação, e, assim, o lucro corrente da empresa pagaria o investimento em um número menor de anos (SANTOS, 2011). Essa análise, todavia, não leva em consideração as expectativas dos investidores, baseadas em projeções de cenários, no que tange à capacidade futura de geração de fluxos de caixasoperacionais da empresa (SANTOS, 2011). 78 7.7 METODOLOGIA DE CAPITALIZAÇÃO DOS LUCROS (MCL) O valor da empresa é obtido por meio da ponderação média e capitalização dos lucros históricos, usando para isso uma taxa de retorno ou de custo de capital (i) que corresponda ao risco do negócio e reflita as incertezas de mercado. Em seguida, são somados o valor dos ativos não operacionais2 ao valor operacional, para se chegar ao valor total da empresa (SANTOS, 2011). Temos, por conseguinte, dois valores para a empresa: o primeiro, baseado na capitalização do lucro operacional (lucro antes dos juros e do Imposto de Renda) e o segundo, baseado na capitalização do lucro líquido (lucro após o Imposto de Renda) (SANTOS, 2011). Vamos demonstrar como se faz. Esse exemplo 2 Ativos não operacionais são aqueles que não geram receitas para a empresa, por exemplo, terrenos ociosos ou alugados ou empréstimos a empresas coligadas ou controladas, entre outros exemplos. Entende-se por ativos “não operacionais” todos aqueles itens que, se vendidos, não produziriam alterações na atividade operacional em avaliação da empresa. São investimentos realizados em ativos que não se destinam (ou não são necessários) à atividade objeto da empresa considerada na avaliação. Como exemplos gerais podem ser citados, entre outros, excessos de caixa e títulos negociáveis, participações acionárias em outras sociedades e imóveis que não se destinam ao negócio (ASSAF NETO, 2019, p. 229). 79 baseia-se no lucro operacional, uma vez que corresponde à geração de receitas diretamente relacionadas com a atividade principal da empresa (SANTOS, 2011). A Delta Corporation (empresa fictícia) gerou os lucros operacionais demonstrados na Tabela 4 nos últimos 5 anos (SANTOS, 2011). TABELA 4 – LUCROS OPERACIONAIS Lucro (R$ Milhões) Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 100 101 110 120 130 Fonte: Adaptado de Santos, 2011. Considerando uma taxa de capitalização histórica ou custo de capital de 10% e ativos não operacionais avaliados em R$ 38 milhões, teríamos o valor estimado para a Delta Corporation que consta nas Tabelas 5 e 6 (SANTOS, 2011): 80 TABELA 5 – LUCROS PONDERADOS Período Lucro operacional (R$ milhões) Fator de ponderação Lucro ponderado (R$ milhões) Ano 1 100 1 100 Ano 2 101 2 202 Ano 3 110 3 330 Ano 4 120 4 480 Ano 5 130 5 650 Fonte: Adaptado de Santos, 2011. TABELA 6 – CÁLCULO DO VALOR DA EMPRESA (VE) (R$ MILHÕES) Soma dos lucros operacionais ponderados 1,762 ÷ Soma dos fatores de ponderação 15 = Lucros operacionais médios ponderados 117,47 ÷ Taxa de capitalização histórica 13% = Valor operacional da empresa (117,47 ÷ 0,13) 903,59 + Ativos operacionais 38 = Valor total da empresa 941,59 Fonte: Adaptado de Santos, 2011. 81 A limitação do método é que ele parte do lucro apurado pela contabilidade tradicional (SANTOS, 2011). 7.8 METODOLOGIA DOS MÚLTIPLOS DE FATURAMENTO (MMF) O valor da empresa é calculado com base na multiplicação da Receita Líquida de Vendas (RLV) do último ano de atividade operacional, ou de uma média histórica, pelo fator Preço das Ações/ Receita Líquida Média (FP/RLV), extraído de empresas concorrentes de porte e com atividades similares. Em seguida, soma-se o valor dos ativos não operacionais ao valor operacional do último ano de atividade da empresa para se chegar ao valor da empresa (SANTOS, 2011). A limitação deste método é que ele parte da receita líquida de vendas, que é apurada pela contabilidade tradicional (SANTOS, 2011). 7.9 METODOLOGIA DOS MÚLTIPLOS DE LUCROS (MML) Nessa metodologia o Valor da Empresa (VE) é calculado com base na multiplicação do Lucro Operacional (LO) do último ano de atividade 82 operacional, ou por meio de uma média histórica, pelo fator Preço das Ações/Lucro Operacional (FP/LO) médio extraído de empresas similares de porte e atividades. Em seguida, soma-se o valor dos ativos não operacionais ao valor operacional do último ano de atividade da empresa para se chegar ao Valor Total da Empresa (VE). O método possui como limitação o fator de que ele parte do lucro operacional, que é apurado pela contabilidade tradicional (SANTOS, 2011). 7.10 METODOLOGIA DOS FLUXOS DE CAIXA DESCONTADOS (MFCD) O valor da empresa (VE) é calculado a partir dos Fluxos de Caixa Livres (FCL) da atividade principal descontados a uma taxa de retorno (i) que envolva tanto o risco do negócio quanto reflita as incertezas de mercado. Em seguida, soma-se o valor dos ativos não operacionais ao valor operacional para se chegar ao valor total da empresa (SANTOS, 2011). A avaliação da empresa, portanto, volta-se para seu valor intrínseco, pois envolve os benefícios econômicos esperados de caixa, o risco associado e a taxa requerida pelos proprietários. Esse método é o que apresenta maior rigor técnico e conceitual (ASSAF NETO; LIMA, 2009). A taxa de desconto empregada corresponde ao Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC) 83 ou, em inglês, Weight Average Cost of Capital (WACC), que é a média ponderada das diferentes formas de financiamento presentes na estrutura de capital da empresa (capital de terceiros + capital próprio) (SANTOS, 2011). Essa é a técnica mais utilizada em cálculos de valoração de empresas, pois incorpora os fatores que interessam o cálculo do valor: os fluxos de caixa (em vez de medidas contábeis) e o custo de capital. A Figura 4, a seguir, mostra como o método é empregado (SANTOS, 2011). FIGURA 4 – FLUXOS DE CAIXA DESCONTADOS i- Taxa de desconto (custo médio ponderado e capital) FCLs (entradas de caixa) ... Diagrama de fluxo de caixa ($) períodos Investimento (saída de caixa) FLC1 1 0 FLC2 2 FLC3 3 FLC4 4 FLC5 5 FLCn + VR n Fonte: Adaptado de Gitman, 2010: p.371. 84 Como se pode observar na Figura 4, no instante t igual a zero, tem-se o investimento (uma saída de caixa), seguida do período 1 ao n das entradas de caixa. No período n aparece também o valor residual, que é incorporado na avaliação. A Figura 4 é uma forma de representar, graficamente, os fluxos de caixa, tanto de entrada quanto de saída. As linhas em formato de curva mostram quando os fluxos de caixa futuros são descontados a uma taxa i e trazidos para valor presente. Observe que, para existir o desconto dos fluxos de caixa, aparece a taxa i, que precisa ser determinada. O Valor da Empresa (VE) é, então, calculado considerando-se o valor dos ativos não operacionais registrado no último ano de atividades da empresa (Ano 0), os Fluxos de Caixa Livres (FCL)projetados e o Valor Residual (VR) no último ano projetado – os dois últimos descontados para o Ano 0 com a taxa (i) (SANTOS, 2011, p. 118). 𝑉𝑉𝑉𝑉 = � 𝐹𝐹𝐶𝐶𝐿𝐿1 (1 + 𝑖𝑖)1 + 𝐹𝐹𝐶𝐶𝐿𝐿2 (1 + 𝑖𝑖)2+ + ⋯ + 𝐹𝐹𝐶𝐶𝐿𝐿 𝑀𝑀𝑛𝑛𝑜𝑜 𝑛𝑛 + 𝑉𝑉𝑀𝑀𝑏𝑏𝑜𝑜𝑃𝑃 𝑃𝑃𝑃𝑃𝑟𝑟𝑖𝑖𝑑𝑑𝐿𝐿𝑀𝑀𝑏𝑏 (1 + 𝑖𝑖)𝑛𝑛 � +𝐴𝐴𝐶𝐶𝑖𝑖𝐴𝐴𝑜𝑜𝑟𝑟 𝑛𝑛ã𝑜𝑜 𝑜𝑜𝑝𝑝𝑃𝑃𝑃𝑃𝑀𝑀𝑀𝑀𝑖𝑖𝑜𝑜𝑛𝑛𝑀𝑀𝑖𝑖𝑟𝑟 O valor residual representa o valor da empresa no final do último ano projetado, ou seja, o 85 valor presente dos fluxos de caixa livres após o período de previsão determinado. Em condições de crescimento constante, o Valor Residual/ Perpetuidade (VR) poderá ser calculado usando- se o Modelo de Gordon (SANTOS, 2011, p. 118). 𝑉𝑉𝑉𝑉 𝑀𝑀𝑛𝑛𝑜𝑜 𝐿𝐿 = 𝐹𝐹𝐶𝐶𝐿𝐿 𝑀𝑀𝑛𝑛𝑜𝑜𝐿𝐿 𝑥𝑥 (1 + 𝑔𝑔) (𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶 − 𝑔𝑔) em que: VRAno u = Valor residual para o último ano do período projetado; FCLAno u = Fluxo de caixa livre para o último ano projetado; g = Taxa de crescimento constante para os fluxos de caixa livres do período pós-projetado; CMPC = Custo médio ponderado de capital (ou taxa de desconto). Uma alternativa é calcular o valor residual para o último ano projetado considerando os Lucros Operacionais Ajustados (LOA) (SANTOS, 2011, p. 118). 86 𝑉𝑉𝑉𝑉 𝑀𝑀𝑛𝑛𝑜𝑜 𝐿𝐿 = 𝐿𝐿𝐿𝐿𝐴𝐴 𝑀𝑀𝑛𝑛𝑜𝑜𝐿𝐿 𝑥𝑥 (1 + 𝑔𝑔) 𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶 O crescimento dos resultados decorre do reinvestimento e do retorno esperados. Para os fluxos de caixa operacionais, a taxa de crescimento (g) é o produto do percentual de reinvestimento dos resultados operacionais de caixa (b) pela taxa de retorno deste capital aplicado (ROI), ou seja (ASSAF NETO; LIMA, 2009): g = 𝑏𝑏 𝑋𝑋 𝑉𝑉𝐿𝐿𝑅𝑅 e ROI = Lucro operacional / Investimento A taxa de reinvestimento (b) é o percentual do resultado de caixa gerado pela empresa no exercício e que permaneceu no próprio negócio. Por exemplo, se uma empresa investe 70% dos seus fluxos operacionais apurando uma taxa de retorno de 10% sobre o investimento, admite-se que o percentual de crescimento esperado dos resultados de caixa atinja 7% (g = 70% x 10%) (ASSAF NETO; LIMA, 2009). Assim, para um lucro operacional (líquido de 87 IR) – NOPAT - podem ser projetados os fluxos de caixa disponíveis na Tabela 7 (ASSAF NETO; LIMA, 2009). TABELA 7 – FLUXOS DE CAIXA DISPONÍVEIS (R$ 1.000) Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Lucro operacional 100 107 114,49 – Reinvestimento (70%) 70 74,90 80,14 – Fluxo de Caixa Operacional Disponível (FOD) 30 32,1 34,35 – Taxa de crescimento – 7% 7% 7% Fonte: Adaptado de Assaf Neto e Lima, 2009. 88 Uma formulação mais ampla de avaliação e que fornece melhor entendimento por meio de direcionadores de valor pode ser vista da seguinte forma (ASSAF NETO; LIMA, 2009, p. 762): 𝑉𝑉𝑀𝑀𝑏𝑏𝑜𝑜𝑃𝑃 𝑑𝑑𝑀𝑀 𝑉𝑉𝐸𝐸𝑝𝑝𝑃𝑃𝑃𝑃𝑟𝑟𝑀𝑀 = 𝐿𝐿𝐿𝐿𝑀𝑀𝑃𝑃𝑜𝑜 𝑜𝑜𝑝𝑝𝑃𝑃𝑃𝑃𝑀𝑀𝑀𝑀𝑖𝑖𝑜𝑜𝑛𝑛𝑀𝑀𝑏𝑏 𝑏𝑏í𝑞𝑞𝐿𝐿𝑖𝑖𝑑𝑑𝑜𝑜 𝑥𝑥 (1 − 𝑏𝑏) 𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶 − 𝑔𝑔 Como g = b X ROI, podemos concluir que: b = g/ROI. Logo, a equação final será: 𝑉𝑉𝑀𝑀𝑏𝑏𝑜𝑜𝑃𝑃 𝑑𝑑𝑀𝑀 𝑉𝑉𝐸𝐸𝑝𝑝𝑃𝑃𝑃𝑃𝑟𝑟𝑀𝑀 = 𝐿𝐿𝐿𝐿𝑀𝑀𝑃𝑃𝑜𝑜 𝑜𝑜𝑝𝑝𝑃𝑃𝑃𝑃𝑀𝑀𝑀𝑀𝑖𝑖𝑜𝑜𝑛𝑛𝑀𝑀𝑏𝑏 𝑏𝑏í𝑞𝑞𝐿𝐿𝑖𝑖𝑑𝑑𝑜𝑜 𝑥𝑥 (1 − 𝑔𝑔𝑉𝑉𝐿𝐿𝑅𝑅) 𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶 − 𝑔𝑔 em que: g = Taxa de crescimento constante para os fluxos de caixa livres do período pós-projetado; CMPC = Custo médio ponderado de capital; ROI = Retorno sobre o investimento. Com essa formulação, o direcionador de valor da taxa de crescimento dos resultados operacionais (g) é o mais relevante, influenciado, dessa forma, 89 o valor da empresa. Outro ponto importante refere-se ao Return Over Investment (ROI) ou Retorno sobre o Investimento, que é um indicador que retrata a rentabilidade do capital operacional que é aplicado no negócio (ASSAF NETO; LIMA, 2009). As estratégias usualmente empregadas para incrementar este direcionador são formadas pelo giro do investimento – ajustes dos níveis de estoque, redução de capacidade ociosa, políticas de cobrança etc. – e pela margem operacional, que inclui políticas de preços, custos de distribuição, escala de produção, qualidade etc. (ASSAF NETO; LIMA, 2009). A fórmula desse indicador é: 𝑉𝑉𝐿𝐿𝑅𝑅 = 𝐿𝐿𝐿𝐿𝑀𝑀𝑃𝑃𝑜𝑜 𝑜𝑜𝑝𝑝𝑃𝑃𝑃𝑃𝑀𝑀𝑀𝑀𝑖𝑖𝑜𝑜𝑛𝑛𝑀𝑀𝑏𝑏 𝑅𝑅𝑛𝑛𝐴𝐴𝑃𝑃𝑟𝑟𝐶𝐶𝑖𝑖𝐸𝐸𝑃𝑃𝑛𝑛𝐶𝐶𝑜𝑜 O valor da perpetuidade (residual) depende do comportamento dos direcionadores de valor, que são o Retorno sobre o Investimento (ROI), Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC) e Crescimento das Operações (ASSAF NETO; LIMA, 2009). Um exemplo de cálculo usando taxa de reinvestimento pode ser visualizado a seguir 90 (ASSAF NETO; LIMA: 2009). Exemplo Uma empresa projeta um ROI anual de 12% para os próximos 5 anos. O lucro operacional líquido (NOPAT) atual atinge R$ 90.000,00. Espera-se um crescimento anual de 4% e seus resultados operacionais. O CMPC da empresa é de 13%. Pede-se determinar a taxa de reinvestimento e o valor da empresa. Solução g = b x ROI b = g/ROI b = 4%/12% = 33,34% Cálculo do valor da empresa 𝑉𝑉𝑀𝑀𝑏𝑏𝑜𝑜𝑃𝑃 𝑑𝑑𝑀𝑀 𝑉𝑉𝐸𝐸𝑝𝑝𝑃𝑃𝑃𝑃𝑟𝑟𝑀𝑀 = 𝐿𝐿𝐿𝐿𝑀𝑀𝑃𝑃𝑜𝑜 𝑜𝑜𝑝𝑝𝑃𝑃𝑃𝑃𝑀𝑀𝑀𝑀𝑖𝑖𝑜𝑜𝑛𝑛𝑀𝑀𝑏𝑏 𝑏𝑏í𝑞𝑞𝐿𝐿𝑖𝑖𝑑𝑑𝑜𝑜 𝑥𝑥 (1 − 𝑔𝑔𝑉𝑉𝐿𝐿𝑅𝑅) 𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶 − 𝑔𝑔 Valor da Empresa = (R$ 90.000,00 x (1 - 0,3334)) / (0,13 – 0,04) =R$ 666.600,00 91 7.10.1 Exemplo de cálculo do valor da empresa (VE) usando a Metodologia dos Fluxos de Caixa Descontados Considere que a empresa Alfa Corporation (empresa fictícia) teve os fluxos de caixa livres apresentados na Figura 5 nos últimos cinco anos (SANTOS, 2011): FIGURA 5 – FLUXOS DE CAIXA LIVRES DA ALFA CORPORATION FCLs ($ Milhões) Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Projetado 94 100,58 106,82 112,90 120,47 Fonte: Santos, 2011, p. 119. A empresa não possui ativos não operacionais. Com base no seu desempenho histórico, a empresa está projetando o crescimento dos fluxos de caixa livres a uma taxa de 5,5% para os próximos 5 anos. A Figura 6, a seguir, mostra os fluxos de caixa livres projetados (SANTOS, 2011). 92 FIGURA 6 – FLUXOS DE CAIXA LIVRES PROJETADOS DA ALFA CORPORATION FCLs ($ Milhões) Ano 6 Ano 7 Ano 8 Ano 9 Ano 10 Projetado 127,10 137,09 141,46 149,24 157,45 Fonte: Santos, 2011, p. 119. Para o período pós-projetado, foi assumida uma taxa de crescimento constante de 5%. Com isso, o valor residual para o final do último ano projetado é de R$ 2.543,41 milhões, considerando um custo de capital de 11,50% (SANTOS, 2011). 𝑉𝑉𝑉𝑉 𝑀𝑀𝑛𝑛𝑜𝑜 10 = $157,45𝑥𝑥 1,05 𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶(0,115 − 0,05) = $2.543,41 𝐸𝐸𝑖𝑖𝑏𝑏ℎõ𝑃𝑃𝑟𝑟 𝑉𝑉𝑉𝑉 = � 127,10 (1,115)1 + 134,09 (1,115)2+ + + 141,46 (1,115)3+ + 149,24 (1,115)4+ + (157,45 + 2,543,41) (1 + 1,115)𝑛𝑛 � = 𝑉𝑉$ 1.987,67 𝐸𝐸𝑖𝑖𝑏𝑏ℎõ𝑃𝑃𝑟𝑟 O valor da empresa total (VE) é, portanto, de R$ 1.987,67 milhões. 93 7.11 METODOLOGIA DO VALOR PRESENTE LÍQUIDO (MVPL), DA TAXA INTERNA DE RETORNO (TIR) E DO TEMPO DE RETORNO DO INVESTIMENTO (PAYBACK) Os métodos de análise econômica de investimentos são classificados em dois grupos: a) os que não levam em consideração o conceito do valor do dinheiro no tempo (o método payback); e b) os que consideram essa variação por meio do fluxo de caixa descontado. Em virtude de maior rigor conceitual, dá-se preferência para os métodos que compõem o segundo grupo, que são o valor presente líquido (VPL) e a taxa interna de retorno (TIR). Para o desenvolvimento de ambos os métodos, seguiremos o fluxo de caixa incremental apresentado na Tabela 8 (ASSAF NETO; LIMA, 2009). 94 TABELA 8 – EXEMPLO ILUSTRATIVO Períodos FCx (R$ 1.000) Ano 0 (150,00) Ano 1 72,00 Ano 2 78,00 Ano 3 85,00 Ano 4 50,00 Fonte: Adaptado de Assaf Neto e Lima, 2009. O fluxo da Tabela 8 é decorrente do interesse da Delta Corporation de analisar a viabilidade de aquisição de uma empresa da área de autopeças.
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