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Guia Rápido de Urologia - GRU Rodolfo Borges dos Reis Jose Carlos Souza Trindade Filho Fabiano André Simões Copyright© 2012 da 1ª Edição pela Lemar – Livraria e Editora Marina Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, guardada pelo sistema “retrieval” ou transmitida de qualquer modo ou por outro meio, seja este eletrônico, mecânico, de fotocópia, de gravação ou outros, sem pré- via autorização escrita da Editora. Capa: Marina Domingos Tamaribuchi Projeto Gráfico e Diagramação: Rodney Vernacci Todos os direitos para a língua portuguesa são reservados pela: Lemar – Livraria e Editora Marina Fale Conosco Fone/fax (11) 3208-6182 www.lemarlivraria.com.br livraria.marina@uol.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil 1ª Edição, São Paulo, Lemar 2012. ISBN 978858665238-2 Guia Rápido de Urologia - GRU Rodolfo Borges dos Reis, Jose Carlos Souza Trindade Filho, Fabiano André Simões EDITORES: Rodolfo Borges dos Reis Jose Carlos Souza Trindade Filho Fabiano André Simões COLABORADORES DO PROJETO GRU: Luiz Carlos Maciel Ricardo Di Migueli DIRETORIA SBU-SP BIÊNIO 2012 - 2013 Presidente: Rodolfo Borges dos Reis Vice-Presidente: Roni de Carvalho Fernandes 1° Secretário: Fabiano André Simões 2° Secretário: Hudson de Lima 1° Tesoureiro: Wagner Eduardo Matheus 2° Tesoureiro: Renato Falci Júnior Delegados: André Pereira Vanni Fábio José Nascimento Felipe de Almeida e Paula Fernando Freitas Garcia Caldas José Carlos Souza Trindade Filho Marcos Lucon Maurício Costa Bestane Miguel Zerati Filho Leonardo Eiras Messina Luiz Carlos Maciel Ricardo Di Migueli Stênio de Cássio Zequi Editor do BIU: Rogério Simonetti Alves Conselho Editorial do BIU: Alexandre Soares Grieco Deusdedit Cortez Vieira da Silva Neto Fabrício Beltrame Ferreira Hamilton de Campos Zampolli José Carlos Souza Trindade Filho Rafael Mamprin Stopiglia Sérgio Félix Ximenes Colaboradores: Alexandre Danilovic Doutor pela Faculdade de Medicina da USP, médico Assistente do Setor de Litíase e Endourologia do Hospital das Clínicas da FMUSP. Adalberto Andriolo Júnior Membro Titular da SBU. Adriano João Nesrallah Assistente doutor da urologia do HCFMUSP, médico do instituto do câncer do esta- do de São Paulo. Álister de Miranda Cará Membro Titular da SBU e Doutor em Cirurgia pela UNICAMP. Ana Paula Barbério Bogdan Professora Doutora pela USP de Ribeirão Preto.Responsável pelas unidades: Urodi- nâmica, Incontinência Urinária e Disfunções Miccionais da disciplina de Urologia do Depto de Especialidades Cirúrgicas, e urologista do Lucy Montoro (unidade São José do Rio Preto). André Luiz Farinhas Tomé Assistente da Disciplina de Urologia da FMABC, Assistente do Departamento de Urologia do Hospital Ana Costa – Santos/SP. André Meirelles dos Santos Doutor em Urologia pela Faculdade de Medicina da USP, Coordenador do Serviço de Urologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Antonio João Tomaz de Aquino Membro Titular da SBU e assistente da Disciplina de Urologia do Hospital Brigadeiro. Beatriz Helena de Paula Cabral Médica Urologista do Hospital Municipal Infantil Menino Jesus - São Paulo - Mem- bro Titular da SBU. Mestrado em Urologia pela Universidade de São Paulo. Fello- wship em Urologia Pediátrica pela Universidade de Minnesotta. Caio César Cintra Professor Assistente Disciplina Urologia FMABC, Médico Urologista e responsável pelo serviço de Urodinâmica da AACD-SP, Mestre pela Faculdade de Ciências Mé- dicas da Santa Casa de SP. Carlos Alberto Monte Gobbo Prof. Assistente Dr. do Depto. de Urologia da Unesp Botucatu. Carlos Hermann Schaal Responsável pelo serviço de Disfunção Erétil do Departamento de Urologia do Hos- pital Amaral Carvalho. Celso de Oliveira Professor Assistente da Disciplina de Urologia da Santa Casa de SP e Responsável pelo Ambulatório de Urodinâmica. Celso Gromatzky Doutor em Urologia pela Faculdade de Medicina da USP. Médico Assistente da Dis- ciplina de Urologia da FMABC. Membro do Núcleo de Urologia do Hospital Sírio Libanês. César Nardy Zillo Membro titular da SBU, Urologista do Hospital Beneficência Portuguesa de SP. Cláudio Bovolenta Murta Médico assistente do Instituto do Câncer do Estado de SP. Coordenador do Centro de Referência de Saúde do Homem do Hospital Euryclides de Jesus Zerbini. Dalmo de Barros e Silva Urologista da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e Hospital Santa Isabel. Daniel Carlos da Silva Assistente de Urologia da UNICAMP. Deusdedit Cortêz Vieira da Silva Neto Membro Titular da SBU, Urologista do Hospital e Aeronáutica de SP, Médico Colabo- rador do Serviço de Urologia da FCMSCSP e Pós-Graduando da Fundação Antonio Prudente de Toledo, do Hospital A. C. Camargo. Edgar Yugue TSA/SBA - preceptor responsável pela residência médica do CET da PUC Campinas. Eduardo Berna Bertero Urologista-Hospital do Servidor Público Estadual de SP, Fellow Universidade de Bos- ton, EUA, Mestre Universidade de SP, Membro ISSM, SLAMS, AUA, SBU. Edwaldo Ednir Joviliano Professor Doutor do Departamento de Cirurgia e Anatomia Divisão de Cirurgia Vascular e Endovascular da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP, Membro Titular da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular. Élcio Dias Silva Mestre e Doutor em Urologia pela Unicamp, Chefe do Serviço de Urologia da Ma- ternidade de Campinas e Chefe do Departamento de Cirurgia da Maternidade de Campinas, e Coordenador de Laparoscopia da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas - SMCC. Fábio Carvalho Vicentini Assistente-Doutor do Setor de Endourologia da Divisão de Urologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, Chefe do Setor de Endourologia do Cen- tro de Saúde do Homem – Hospital de Transplantes do Estado de São Paulo. Fábio César M. Torricelli Médico Preceptor da Divisão de Urologia do Hospital das Clínicas da FMUSP. Fabrício Beltrame Ferreira Doutor em Ciências pela UNIFESP, Médico Assistente do Grupo de Próstata e Disfun- ções Miccionais Masculinas da UNIFESP. Fabrízio Magaldi Mezzetti Médico Assistente da Disciplina de Urologia, Preceptor dos Residentes da Disciplina de Urologia, Escola Paulista de Medicina - UNIFESP, ex-fellow no MD Anderson Can- cer Center - University of Texas. Fernando César Sala Membro Titular da SBU e urologista do Hospital Amaral Carvalho - Jaú. Fernando Nestor Fácio Júnior Prof. Adjunto Disciplina de Urologia Faculdade de Medicina de S.J. Rio Preto FAMERP. Responsavel pelo Ambulatorio de Andrologia do Hosp. Base - FUNFARME - Brasil. Research Fellow Johns Hopkins Hospital - Urology Depto - USA. Geovanne Furtado Souza Doutor em Urologia pela Universidade Federal de São Paulo Unifesp, Prof. Respon- sável Urologia Fac. de Medicina de Catanduva – SP. Urologista do Instituto de Uro- logia e Nefrologia de São José do Rio Preto - SP. Gilberto Saber Membro Titular da SBU, Chefe do Serviço Urológico da Santa Casa de Ribeirão Preto. Guilherme Becker Burmeister Médico urologista assistente do serviço de urologia do Hospital e Maternidade Cel- so Pierro da Puccamp. Gustavo Cuck Mestre em Oncologia, Chefe do Serviço de Urologia do Hospital de Aeronáutica de SP. Gustavo Xavier Ebaid Médico Assistente da Disciplina de Urologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Médico Assistente do Centro de Referên- cia da Saúde do Homem - Hospital de Transplantes do Estado de São Paulo, Médico do Corpo Clínico do Hospital Sírio Libanês - SP. Hamilto Akihissa Yamamoto Doutor pela Faculdade de Medicina de Botucatu - UNESP. Hamilton de Campos Zampolli Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, Chefe da Divisão de Urologia do Departamentode Cirurgia Oncológica do Instituto do Câncer Dr. Arnaldo Vieira de Carvalho – São Paulo - SP. Homero Gustavo de Campos Guidi Membro Titular da SBU. Hudson de Lima Médico Assistente do Grupo de Disfunções Miccionais Masculinas e HPB da Discipli- na de Urologia da UNIFESP/EPM. Isabel Cristina Albuquerque Feitosa Titular de Urologia pela Sociedade Brasileira de Urologia, Mestre pela UNICAMP, Urologista do Centro Médico Berrini. João Carlos Cardoso Alonso Membro Titular da SBU e Mestrando pela UNICAMP. João Paulo da Cunha Urologista da divisão de Endourologia da Disciplina de Urologia do HC -FMRP-USP; Graduação e residência pela FMRP -USP; Membro Titular da SBU. João Sérgio de Carvalho Filho Membro Titular da SBU e Urologista da Santa Casa de Ribeirão Preto. José Roberto Colombo Júnior Assistente Doutor do Instituto do Câncer do Estado de SP e Médico Assistente da Clínica Urológica do Hospital das Clínicas da FMUSP. Lorena Marçalo Oliveira Médica Assistente da Divisão de Urologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Luiz Carlos Maciel Mestre e Doutor em Ciências da Cirurgia pela FCM - Unicamp. Luiz Renato Montez Guidoni Mestre em Oncologia pela Fundação Antonio Prudente (Hospital AC Camargo), Chefe do serviço de Urologia do Hospital Geral de Guarulhos (da Santa Casa de São Paulo). Marcelo de Paula Galesso Membro Titular da SBU. Marcelo Hisano Médico Assistente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de São Paulo Marcelo Lopes de Lima Professor Assistente Doutor da Disciplina de Urologia da Faculdade de Ciências Mé- dicas da UNICAMP. Marcelo Vieira Mestrado em Urologia pela Santa Casa de SP, Andrologista do Hospital Pérola Byington, Projeto Alfa e Beta SP. Márcio Navarro Gianello Membro Titular da SBU e Assistente da Disciplina de Urologia da Escola Paulista de Medicina - UNIFESP. Mário Henrique Elias de Mattos Assistente do Grupo de Endourologia e Litíase Urinária da Disciplina de Urologia da Faculdade de Medicina do ABC. Maurício Costa Bestane Membro Titular da SBU, chefe serviço de urologia do hospital Ana Costa - Santos. Maurício José Bruschini Rodrigues Netto Urologista do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo. Mauro Miguel de Lima Sousa Barbosa Urologista pela Unifesp, Pós Graduando a Nível Doutorado pela Unifesp. Nelson Gattás Chefe do setor de Endourologia da Escola Paulista de Medicina. Oscar Eduardo Hidetoshi Fugita Professor da Faculdade de Medicina de Botucatu - UNESP e Assistente do Hospital Universitário da USP. Paulo Roberto Kawano Professor Assistente Doutor de Urologia da UNESP. Pedro Henrique Oliveira Cabral Chefe do serviço de Urologia do Hospital Check-Up, Manaus-AM. Rafael Bozzo Tacino Médico Assistente do Setor de Urologia Oncológica da Disciplina de Urologia do HC da FMRP - USP, Pós-Graduando em Urologia pela FMRP - USP. Rafael Ferreira Coelho Medico da Clínica Urológica do Hospital das Clínicas da faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Médico Assistente do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP). Rafael Mamprin Stopiglia Doutorando e membro do grupo de urologia Oncológica da Unicamp. Ravendra Ryan Moniz Mestre em Oncologia pela Fundação Antonio Prudente/A.C. Camargo, Coordena- dor do Serviço de Urologia do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer, Professor da Faculdade de Medicina do Centro Universitário São Camilo. Renato Careta Chambô Mestre em Bases Gerais da Cirurgia pela UNESP, Aluno de Pós-Graduação Douto- rado em Bases Gerais da Cirurgia pela UNESP, Assistente de Ensino da Disciplina de Urologia da FAMEMA. Ricardo Di Migueli Coordenador do Programa de Residência em Urologia, Chefe do Serviço de Urolo- gia e Diretor do Lithocenter do Hospital Nossa Senhora de Lourdes. Ricardo Miyaoka Fellow em Cirurgia Minimamente Invasiva - University of Minnesota - USA, Urologis- ta Assistente da UNICAMP - Endourologia e Transplante Renal. Roberto Dias Machado Médico Uro-Oncologista do Hospital de câncer de Barretos, Membro Titular da SBU, Mestrando pela USP de Ribeirão Preto. Rodrigo Guerra da Silva Médico Assistente Faculdade de Medicina de Botucatu - UNESP. Rodrigo Perrella Médico urologista formado na UNIFESP/EPM, Membro do Grupo de Endourologia e Litíase da Disciplina de Urologia da UNIFESP/EPM. Silvio da Ressurreição Pires Professor de Urologia da Santa Casa de SP. Victor Augusto Sanguinetti S. Leitão Urologista da Clínica Integra - Bauru, Doutor em Cirurgia pela UNICAMP e Fellow em Endourologia e Litíase pela Duke University, EUA. Vitor de Campos Pagotto Mestre em Urologia pela Universidade de Campinas, Professor Colaborador da Fa- culdade de Medicina de Jundiaí. Walter Antonio Melarato Júnior Membro Titular da SBU, Responsável Técnico pelo Serviço de Urologia do Hospital Guilherme Álvaro, de Santos e da Beneficência Portuguesa de Santos, e Urologista do ISO Hospital Dia. Yuri Tulio Dantas Andres Nobre Doutor em Ciências pela Unifesp, Médico Assistente da Disciplina de Urologia pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Sumário Infecção e Inflamação Urinária • 01 - Pielonefrite Aguda Simples no Adulto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .19 • 02 - Pielonefrite Aguda Complicada no Adulto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .23 • 03 - Infecção Febril na Infância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27 • 04 - Cistite Aguda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31 • 05 - Cistite na Gestação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .34 • 06 - Cistite de Repetição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37 • 07 - Cistite Intersticial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .40 • 08 - Infecção Fúngica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43 • 09 - Prostatite Aguda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .46 • 10 - Prostatite Crônica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .50 • 11 - Gangrena de Fournier. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .53 • 12 - Abscesso Renal e Perinefrético . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .57 Doenças Sexualmente Transmissíveis • 13 - Uretrite . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .63 • 14 - Lesão Ulcerosa Genital . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .66 • 15 - Lesão Verrucosa Genital . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .69 • 16 - Molusco Contagioso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .72 Urologia Pediátrica • 17 - Refluxo Vésico Ureteral - Profilaxia Antimicrobiana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .77 • 18 - Enurese . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .80 • 19 - Varicocele na Infância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .83 • 20 - Criptorquidia – Tratamento Hormonal e Cirúrgico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .85 •21 - Infecção Urinária na Infância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .89 Urgência Urológica • 22 - Priapismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .95 • 23 - Escroto Agudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .98 • 24 - Cólica Renal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .101 • 25 - Retenção Urinária Aguda. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .104 • 26 - Trauma Renal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .107 • 27 - Trauma Vesical . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .111 • 28 - Trauma Uretral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .114 • 29 - Trauma Testicular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .116 • 30 - Trauma Peniano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .120 • 31 - Hematúria Macroscópica Incoercível . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .123 Urologia Geral • 32 - Hiperplasia Prostática Benigna - Tratamento Clínico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .129 • 33 - Hiperplasia Prostática Benigna - Cuidados com Marcapasso em Cirurgia Urológica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .133 • 34 - Hiperplasia Prostática Benigna - Síndrome Pós-RTU . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .135 • 35 - Hiperplasia Prostática Benigna - Retenção Urinária Aguda Pós-Ablação Cirúrgica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .149 • 36 - Litíase Urinária - Terapia Expulsiva Clínica no Cálculo Ureteral . . . . . . . . . . . . .143 • 37 - Litíase Urinária - Investigação Metabólica Inicial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .146 • 38 - Litíase Urinária - Litotripsia Extracorpórea - Preparo do Paciente e Esquema de Sedação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .150 • 39 - Litíase Urinária - Duplo J Calcificado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .154 • 40 - Litíase Urinária - Complicação de Percutânea: Sangramento Agudo. . . . . . . .158 • 41 - Litíase Urinária - Complicação de Percutânea: Perfuração de Cólon . . . . . . . .161 • 42 - Litíase Urinária - Complicação de Percutânea: Hidrotórax . . . . . . . . . . . . . . . . . .163 • 43 - Orquialgia Crônica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .166 • 44 - Tratamento Clínico da Infertilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .170 • 45 - Azoospermia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .173 • 46 - Hemospermia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .177 • 47 - Bexiga Hiperativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .181 • 48 - Líquen Escleroso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .184 Urologia Oncológica • 49 - Câncer de Próstata - Compressão Medular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .191 • 50 - Câncer de Próstata - Perfuração do Reto na Prostatectomia. . . . . . . . . . . . . . . .194 • 51 - Câncer de Próstata - Complicações do Tratamento Hormonal . . . . . . . . . . . . . .198 • 52 - Câncer Vesical não Músculo Invasivo - Indicação e Opções de Terapia Adjuvante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .201 • 53 - Complicações do Uso do BCG . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .204 • 54 - Tumor Renal - Proteção da Função Renal na Nefrectomia Parcial . . . . . . . . . . .207 • 55 - Feocromocitoma - Cuidados Peri e Intraoperatórios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .210 • 56 - Incidentaloma Suprarenal - Análise Funcional. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .213 Andrologia • 57 - Disfunção Erétil: Drogas Orais e Esquema Intracavernoso. . . . . . . . . . . . . . . . . .219 • 58 - DAEM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .223 • 59 - Ejaculação Precoce. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .227 • 60 - Disfunção Orgásmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .229 • 61 - Peyronie - Tratamento Clínico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .233 Temas Gerais • 62 - Profilaxia de Trombose Venosa Profunda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .239 • 63 - Preparo para a Biópsia de Próstata. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .242 • 64 - Profilaxia Antimicrobiana em Cirurgia Urológica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .245 • 65 - Cateterismo Intermitente Limpo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .248 • 66 - Sonda Vesical de Demora (Complicações e estratégias de prevenção) . . . . . .251 • 67 - Terapia Antálgica de Pacientes com Câncer Terminal no Consultório . . . . . . .254 • 68 - Paciente Diabético no Perioperatório . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .258 • 69 - Paciente Anticoagulado no Perioperatório . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .261 • 70 - Choque Anafilático . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .265 • 71 - Tratamento da Cistite Actínica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .268 • 72 - Ressonância Magnética - Fibrose Nefrogênica Sistêmica. . . . . . . . . . . . . . . . . . .272 • 73 - Cuidados com Estomias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .275 • 74 - Medicamentos em Urologia - Dosagem e Posologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .278 Prefácio O projeto GUIA RÁPIDO DE UROLOGIA nasceu da percepção que muitas vezes as informações mais técnicas nos escapam naquele momento em que mais precisamos delas. Qual a dose? Qual a conduta, qual o próximo passo? Ih! Complicou. E agora? Normalmente, nestes momentos estamos nos corredores das enfermarias, nas salas de prescrição ou mesmo discutindo o caso com um colega ou residente e os livros de refência à distâncias intransponíveis. Mesmo na era digital, com os smartphones e tablets, o tempo que se perde para locali- zar esta informação não pode ser negligenciado. Para responder a estas indagações confeccionamos este livro de bolso, o GRU. Ele cabe no jaleco ou na calça, sem causar desconforto. É uma evolução do MANU, que fez muito sucesso na gestão anterior. Para o GRU focamos mais a confirmação diagnóstica, as condutas, as doses e os esquemas terapêuticos, exigindo dos autores mais concisão paraesclarecer as dúvidas urológicas e as não urológicas do dia a dia. Muito obrigado ao apoio da Comunidade Urológica Paulista e aos cole- gas de Diretoria que se prontificaram e cumpriram as tarefas solicitadas com muita qualidade. Espero que você, urologista, também goste e aprecie esta obra e que ela lhe seja muito útil. Rodolfo Borges dos Reis Presidente SBU-SP Infecção e Inflamação Urinária 01 - Pielonefrite Aguda Simples no Adulto 02 - Pielonefrite Aguda Complicada no Adulto 03 - Infecção Febril na Infância 04 - Cistite Aguda 05 - Cistite na Gestação 06 - Cistite de Repetição 07 - Cistite Intersticial 08 - Infecção Fúngica 09 - Prostatite Aguda 10 - Prostatite Crônica 11 - Gangrena de Fournier 12 - Abscesso Renal e Perinefrético 19 Confirmação Diagnóstica A pielonefrite aguda é uma infecção urinária que acomete o parên- quima renal e o sistema coletor. Os agentes infecciosos mais comuns são bactérias Gram negativas, incluindo E. coli (82% em mulheres e 73% em homens), Klebsiella (2,7% em mulheres e 6,2% em homens), Proteus, En- terobacter e Pseudomonas. As bactérias Gram positivas são menos fre- quentes, incluindo E. faecalis e S. aureus. A via de infecção renal pode ser ascendente, com bactérias Gram negativas provenientes do trato urinário inferior, ou hematogênica, mais rara, geralmente associada a foco infec- cioso extrarrenal como tuberculose pulmonar ou miliar, endocardite, di- verticulite ou abscesso oral. A pielonefrite aguda não complicada é o resultado de uma infecção do trato urinário que ascendeu da bexiga para o rim e ocorre tipicamente em mulher jovem previamente saudável. Sintomas: os sintomas incluem mal-estar, febre, dor lombar e cala- frios. A urgência miccional, aumento da frequência urinária e disúria es- tão presentes em 50% dos pacientes. Náusea, vômito e diarreia são fre- quentes e geralmente são secundários a íleo paralítico. Exame Físico: a febre (≥ 37,8°C) e taquicardia são fortemente relacio- nadas ao diagnóstico de pielonefrite aguda, portanto, devemos conside- rar outros diagnósticos em pacientes sem febre. A dor a punho-percussão lombar (sinal de Giordano) é pronunciada. Exames Laboratoriais: a urina tipo I demonstra pH tendendo a al- calino, leucocitúria e hematúria. O nitrito positivo tem sensibilidade de 35% a 80%. A cultura de urina com antibiograma deve ser realizada na suspeita de pielonefrite aguda. No caso de obstrução do sistema coletor, Capítulo 1 - Pielonefrite Aguda Simples no Adulto Alexandre Danilovic 20 os exames urinários podem resultar normais. O hemograma apresenta leucocitose com predomínio de neutrófilos. A hemocultura é recomen- dada, uma vez que um terço dos pacientes tem bacteremia. Diagnóstico por Imagem: o exame de ultrassom ou de tomografia (exame de escolha) deve ser feito em pacientes com febre ou sintomas persistentes após 72 horas de tratamento com antibiótico adequado ou em caso de pielonefrite aguda complicada. A resolução tomográfica de hipodensidades pode demorar até três meses após a resolução clínica. Pacientes diabéticos devem ser submetidos a, no mínimo, radiografia de abdômen para avaliar a presença de gás na localização do rim, o que indi- ca pielonefrite enfisematosa. Diagnósticos Diferenciais Doença inflamatória pélvica; pneumonia; apendicite; diverticulite; pancreatite; colecistite; epididimite; prostatite; psoíte tropical Conduta O tratamento inicial inclui cuidados de suporte com hidratação e analgesia e início de terapia antibiótica empírica. A maioria dos pacientes pode ser tratada sem internação, após 12 horas de observação, hidrata- ção e antibiótico parenteral, com sucesso de 97%. A internação deve ser considerada em: • Suspeita de complicação • Estado geral debilitado • Impossibilidade de hidratação oral • Gravidez • Aderência ao tratamento A seleção de antibiótico empírico deve ser orientada pelo conheci- mento epidemiológico da susceptibilidade antimicrobiana local. Deve-se evitar antibiótico usado recentemente pelo paciente. Pacientes com pie- 21 lonefrite aguda não complicada que toleram antibiótico via oral podem ser tratados de modo empírico com fluoroquinolonas (Levofloxacina 500 mg/d ou Ciprofloxacina 500 mg 12/12h - nível de evidência 2B). Preferimos o uso de Ceftriaxone (2g/d IV ou IM) ou Ciprofloxacina (400 mg IV 12/12h) para o tratamento empírico inicial de pacientes hos- pitalizados (nível de evidência 2B). Os aminoglicosídeos como a Genta- micina (2 mg/Kg de peso uma vez ao dia IV ou IM) são boas alternativas. Os pacientes, inicialmente tratados com antibióticos parenterais, que me- lhoram clinicamente podem continuar o tratamento com antibióticos via oral. Os pacientes sem complicações podem ser tratados por sete dias. No entanto, se o antibiótico for beta-lactâmico, o tratamento deve durar 14 dias. Os pacientes que demoram a apresentar resposta ao tratamento (> 72h) devem ser tratados por 14 a 21 dias, mesmo sem evidência de complicação. Deve ser feita uma cultura de urina após 4 a 6 semanas do tratamento para documentar a erradicação da infecção. Aqueles pacien- tes com sintomas recorrentes em poucas semanas após o tratamento de- vem ter a cultura de urina repetida e devem ser submetidos a exame de imagem. Mesmo no caso da suscetibilidade antimicrobiana ser idêntica a inicial, deve-se trocar o antibiótico. O prognóstico da pielonefrite aguda não complicada é bom desde que o diagnóstico seja rápido e o tratamento seja adequado para evitar complicações. 22 Tabela 1 - Tratamento antibiótico para pielonefrite aguda (função renal normal) Antibiótico Tratamento oral Levofloxacina Ciprofloxacina Ciprofloxacina XR Tratamento parenteral Ceftriaxone Ciprofloxacina Gentamicina Aztreonam Piperacilina-tazobactam Imipenem Posologia Tratamento oral 500-750 mg 24/24h* 500 mg 12/12h 1000 mg 24/24h Tratamento parenteral 2 g 24/24h 400 mg 12/12h 2 mg/Kg 24/24h 1 g 8/8h 3,375 g 6/6h 500 mg 6/6h Levofloxacina 750 mg uma vez ao dia por cinco dias é adequado para tratamento de pielonefrite aguda não complicada, mas não para casos complicados. Moxifloxacina deve ser evitada devido à concentra- ção urinária não efetiva. Leitura recomendada 1. Craig WD, Wagner BJ, Travis MD. Pyelonephritis: radiologic-pathologic review. Radiographics 2008; 28: 255. 2. Nicolle LE. Uncomplicated urinary tract infection in adults including uncomplicated pyelonephritis. Urol Clin North Am 2008; 35:1. 23 Capítulo 2 - Pielonefrite Aguda Complicada no Adulto Paulo Roberto Kawano A Pielonefrite Complicada (PC) é uma infecção renal sintomática gra- ve, frequentemente associada à alterações funcionais e/ou estruturais do trato geniturinário, responsáveis pelo aumento do risco de infecção ou falha do tratamento. Caracteriza-se por um amplo espectro de apresenta- ções clínicas e de complexidade variável, podendo ser causada por diver- sos microorganismos. O manejo da PC deve ser individualizado respeitan- do-se as particularidades de cada caso e suas possíveis interferências na efetividade do tratamento antimicrobiano. As infecções urinárias complicadas apresentam maior risco de evo- luírem para complicações graves e septicemia, sendo responsáveis por cerca de 10% dos pacientes com choque séptico internados em unidades de cuidados intensivos. Dentre os vários fatores predisponentes ao de- senvolvimento da PC, destacam-se: • Patologias crônicas: diabetes, insuficiência renal, transplante renal e imunodeficiências. • Patologias Urológicas: litíase, tumores do trato urinário, hiperpla- sia prostática benigna, estenose de ureter ou uretra, estenose de junção uretero-piélica ou uretero-vesical, refluxo vésico-ureteral, anomalias con- gênitas, divertículos vesicais, cistos renais,bexiga neurogênica, rins poli- císticos, nefrocalcionose e rim espongiomedular. • Outros: uso crônico de cateteres ou sondas, instrumentação uriná- ria frequente, ampliação vesical, derivações urinárias. Diagnóstico O exame do sedimento urinário e a urocultura com antibiograma constituem importante instrumento de avaliação inicial e acompanhamen- to das infecções complicadas. Embora não seja consenso, o uso seletivo da hemocultura em pacientes com PC é apropriado onde sua positividade po- 24 deria ter significância prognóstica. A função renal deve ser avaliada e mo- nitorada para identificar o grau de comprometimento dos rins bem como orientar na correção da dose e escolha dos antibióticos (Tabela 1). Apesar da Escherichia coli apresentar-se como principal agente, ou- tros germes são isolados, tais como: Klebsiella, Enterobacter, Citrobacter, Serratia, Proteus mirabilis, Morganella morganii, Providencia stuartii, Pseu- domonas aeruginosa, maltophilia e espécies de Acinetobacter. Dentre os gram-positivos destacam-se o estreptococos do grupo B, Enterococcus e Staphylococcus coagulase-negativo. Espécies de Cândida são comuns em pacientes diabéticos, imunossuprimidos, usuários crônicos de cateteres ou recebendo antibióticoterapia de amplo espectro. Os exames de imagem, particularmente a tomografia computado- rizada (TC), são fundamentais para o diagnóstico e identificação dos fa- tores predisponentes. Este fato é de suma importância uma vez que tal associação pode exigir condutas mais agressivas, como veremos a seguir. Pionefrose: hidronefrose infectada associada à destruição supura- tiva do parênquima renal com perda parcial ou total da função renal. O diagnóstico rápido e o tratamento imediato evitam o dano permanente à função renal bem como a sépsis. O diagnóstico ultrassonográfico é feito pela demonstração de ecos (“debris”) no sistema pielocalicial dilatado. A TC é pouco específica, po- dendo revelar apenas espessamento da pelve renal, borramento da gor- dura perirrenal ou mesmo nefrograma heterogêneo. O tratamento é iniciado com drogas antimicrobianas e drenagem da pelve infectada com cateter ureteral. Em caso de insucesso, uma nefros- tomia percutânea deve ser providenciada. Quando o paciente torna-se estável hemodinamicamente, outros procedimentos podem ser necessá- rios para identificar e tratar a causa da obstrução. Abscesso renal e peri-renal A TC constitui o método preferencial para diagnosticar abscesso re- nal, caracterizando a extensão da infecção e auxiliando na identificação 25 de sua origem. Embora o US também seja útil, pode não distinguir uma massa inflamatória de um abcesso renal verdadeiro. O manejo inclui o diagnóstico precoce, instituição da terapia an- timicrobiana eficaz e drenagem, tanto para fins terapêuticos quanto diagnóstico. A cultura do fluido identifica o agente etiológico e orienta a escolha do antibiótico. Abscessos pequenos (1 a 3 cm de diâmetro) frequetemente respondem à terapia antimicrobiana sem drenagem. Entretanto, para abcessos maiores que três centímetros a drenagem é geralmente necessária. Se a drenagem for ineficaz ou mal sucedida, deve-se converter para a via aberta ou considerar a nefrectomia nos casos mais graves. A resolu- ção do abcesso deve ser monitorizada por estudos de imagem e a terapia antimicrobiana continuada até que o abcesso seja completamente resol- vido ou reduzido a uma cicatriz residual estável. Pielonefrite xantugranulomatosa Trata-se de processo supurativo grave, pouco frequente (1% - 8%), caracterizado pela destruição e substituição do parênquima renal por te- cido granulomatoso histiocitário contendo células espumosas. Não rara- mente, este processo estende-se para o espaço perirenal, músculo psoas, diafragma e baço. A TC é a modalidade diagnóstica de escolha, identificando anormali- dades em 74 % a 90% dos casos. Os achados característicos incluem: rins aumentados; substituição do parênquima por múltiplas cavidades cheias de líquido espesso e frequentemente associado à urolitíase. A ultrassono- grafia revela anormalidades inespecíficas, incluindo o alargamento renal e múltiplas massas hipoecóicas arredondadas. O diagnóstico diferencial inclui neoplasias e tuberculose renal. O tratamento clássico é a nefrectomia, em que a terapia antimicrobiana tem apenas um papel secundário. Se o diagnóstico é feito precocemen- te, quando só há acometimento renal focal, a nefrectomia parcial pode ser curativa. 26 Pielonefrite enfisematosa Infecção grave com presença de gás no sistema coletor que geral- mente poupa o parênquima renal. Os pacientes afetados frequentemen- te são diabéticos com controle glicêmico ruim. A obstrução é outro fator predisponente comum. A tomografia é considerada ideal para a confirmação do quadro e ca- racterização do grau de envolvimento. Tradicionalmente, a nefrectomia de emergência era considerada necessária para todos os casos. Atualmente, a drenagem percutânea constitui abordagem inicial recomendada, uma vez que relatos recentes sugerem menores taxas de mortalidade (13,5%) que o tratamento clínico isolado (50%) ou nefrectomia de emergência (25%). Tabela1 - Recomendações da Associação Européia de Urologia (EUA)* sobre a terapia antimicrobiana para pacientes com pielonefrite complicada GRUPO DE PACIENTES GESTANTES TRANSPLANTADOS CISTOS RENAIS INFECTADOS PATOLOGIAS UROLÓGICAS DROGAS RECOMENDADAS Cefalosporinas (2ª ou 3 ª geração) Aminopenicilina/inibidor β-lactamase Aminoglicosídeos Fluoroquinolonas empíricas Droga de escolha: fluoroquinolonas Evitar:cefalosporinas, ampicilina e gentamicina Terapêutica empírica inicial: fluoroquinolonas com excreção renal Outras opções: aminopenicilina / inibidor β-lactamases,) cefalosporina(2ª geração ou 3), aminoglicosídeos Falha na terapia inicial: fluoroquinolonas (se não usada inicial- mente), inibidor β lactamases, cefalosporina (com cobertura Pseudomonas), carbapenem; todos com ou sem aminoglicosídeos * Naber et al. Guidelines on the management of urinary and male genital tract infections. European Association of Urology; 2006. Leitura recomendada 1. Taal MW, Chertow GM, Marsden PA, Skorecki K, Yu ASL, Brenner BM. Brenner & Rector’s The Kidney , Ninth Edition. chapter 36, 2012, p.1356-82. 2. Alan J. Wein, Louis R. Kavoussi, Andrew C. Novick, Alan W. Partin, and Craig A. Peters Campbell-Walsh Urology , Tenth Edition. chapter 10, 2012; p.257-326. 27 Capítulo 3 - Infecção Febril na Infância Fabrício Beltrame Ferreira A infecção do trato urinário (ITU) na criança é a infecção sistêmica mais frequente antes dos 2 anos de idade, e em sua maioria são bacte- rianas. Somente no primeiro ano de vida são mais frequentes no sexo masculino, principalmente em meninos não postectomizados, com inci- dência de 2,7% nos meninos e 0,7% nas meninas. Na idade escolar, 3% das meninas e menos de 1% dos meninos apresentam algum episódio de ITU. As ITUs são causa comum de síndrome febril e principal causa de perda de função renal na infância, o que demanda diagnóstico precoce, tratamento adequado e investigação de fatores de risco para lesão renal, desde o primeiro episódio. Sendo assim, a Academia Americana de Pedia- tria (AAP) propôs, após revisão sistemática da literatura, uma padroniza- ção das condutas a fim de uniformizar a abordagem para os casos de ITU. Deve-se sempre pensar em ITU frente a uma criança com febre de origem indeterminada. Trata-se de uma doença sistêmica e se apresenta como quadro séptico. O quadro clínico pode variar de acordo com a fai- xa etária. Neonatos e crianças pequenas apresentam sinais inespecíficos como febre, irritabilidade, vômito, diarreia e inapetência. Crianças acima de dois anos também podem apresentar sintomas específicos do trato urinário como disúria, polaciúria, dor supra púbica, urgênciae inconti- nência urinária. O exame físico não apresenta sinais muito específicos, podendo ocorrer dor a palpação de região supra púbica ou lombar. Sempre que houver suspeita de ITU deve ser colhida amostra de urina. A coleta deve ser feita após antissepsia da genitália, a partir do jato médio nas crianças com controle esfincteriano e por cateterismo vesical ou pun- ção supra púbica nas demais. A coleta por bolsa coletora, apesar de simples e não invasiva, apresenta índice muito elevado de falsos positivos, e deve ser usada apenas como método de rastreamento em crianças não sépticas. 28 A cultura quantitativa é o principal exame diagnóstico. No entanto, como o resultado leva no mínimo 24 horas, a análise de rotina (urina I) pode ser realizada inicialmente. As principais alterações que sugerem infecção são: leucocitúria (>5 leucócitos por campo), presença de bac- térias, esterase leucocitária positiva e nitrito positivo. Em caso de pro- vável ITU, o tratamento pode ser instituído até a confirmação diagnós- tica pela urocultura. A cultura é positiva, para jato urinário médio, na presença de 100 mil unidades formadoras de colônia/mL (UFC/mL); no cateterismo vesical, acima de mil a 5 mil UFC/mL; e na punção vesical, presença de 1 UFC/mL. A Escherichia coli é o microorganismo mais frequentemente envolvi- do (de 70% a 80%) e os Staphilococcus e enterococos são os microorga- nismos Gram-positivos mais prevalentes. Diagnóstico diferencial Faz parte dos diagnósticos diferenciais, qualquer causa de síndrome febril na infância. Conduta O diagnóstico precoce e tratamento apropriado são fundamentais na prevenção de lesão renal permanente. O primeiro passo é determinar a gravidade do quadro. Crianças com toxemia, febre alta, vômitos e de- sidratação, independente da idade, devem ser hospitalizados e iniciada antibioticoterapia endovenosa. Geralmente esses pacientes apresentam melhora do quadro em até 48 horas, o que possibilita mudança para te- rapia oral. Os antibióticos mais recomendados são as cefalospirinas, amo- xacilina e as sulfas em ciclos de 10 a 14 dias. A nitrofurantoína e ácido na- lidíxico devem ser evitados nos quadros febris, visto que são de excreção urinária e não apresentam níveis séricos adequados. Após o término do tratamento as crianças devem receber profilaxia até realização dos exa- mes de imagem. A Tabela demonstra os principais antibióticos utilizados no tratamento de ITU na infância. 29 O sucesso do tratamento das ITUs na infância requer conscientiza- ção e motivação familiar, além de aderência à conduta medicamentosa e à medidas comportamentais de higiene adequada, ingesta hídrica e hábitos intestinais e miccionais regulares. A investigação é altamente recomendável já no primeiro episódio de ITU em todas as crianças abaixo de dois anos de idade independente do sexo, e em meninos em qualquer idade. Meninas com mais de dois anos de idade devem ser investigadas a partir do segundo episódio. A ultras- sonografia é um exame seguro e não invasivo que permite uma avaliação morfológica do trato urinário. A uretrocistografia investiga refluxo vesico- -ureteral e anomalias infravesicais, e deve ser realizada somente após o sétimo dia de antibioticoterapia. Cintilografia renal deve ser realizada em casos específicos, a fim de avaliar a função renal relativa e presença de ci- catrizes renais (DMSA), ou obstrução ao fluxo urinário (DTPA). Os estudos urodinâmicos devem ser indicados criteriosamente em casos com suspei- ta de disfunção miccional. 30 Tabela - Antibióticos e doses para tratamento de ITU na infância Antibiótico de uso parenteral Ceftriaxona Cefotaxima Ceftazidima Cefazolina Gentamicina Tobramicina Ticarcilina Ampicillina Antibiótico de uso oral Amoxacilina Sulfametoxazol + Trimetoprima Sulfisoxazol Cefixime Cefpodixime Cefprozil Cefalexina Loracarbef Antibiótico de uso profilático Sulfametoxazol + Trimetoprima Nitrofurantoína Sulfisoxazol Ácido Nalidíxico Mandelato Metenamina Dose 75 mg/kg 150 mg/kg/dia 150 mg/kg/dia 50 mg/kg/dia 7.5 mg/kg/dia 5 mg/kg/dia 300 mg/kg/dia 100 mg/kg/dia Dose 20–40 mg/kg/dia 6–12 + 30–60 mg/Kg/dia 120–150 mg/kg/dia 8 mg/kg/dia 10 mg/kg/dia 30 mg/kg/dia 50–100 mg/kg/dia 15–30 mg/kg/dia Dose 2 mg/Kg + 10 mg/Kg 5 mg/Kg + 25 mg/Kg 1–2 mg/kg 10–20 mg/kg/dia 30 mg/kg/dia 75 mg/kg/dia Frequência (1x/24h) (6/6 h) (6/6 h) (8/8 h) (8/8 h) (8/8 h) (6/6 h) (6/6 h) Frequência (8/8h) (12/12h) (6/6 h) (12/12h) (12/12h) (12/12h) (6/6 h) (12/12h) Frequência (DU noturna) (2x/sem) (1X/dia) (12/12h) (12/12h) (12/12h) Leitura recomendada 1. American Academy of Pediatrics - Committee on Quality Improvement. Practice Parame- ter: The diagnosis, treatment and evaluation of the initial urinary tract infection in febrile infants and young children. Pediatrics, 1999, 103 (4): 843-52. 2. Shortlife LMD. Infection and Inflamation of the Pediatric Genitourinary Tract. In: Wein AJ, editor. Campbell-Walsh Urology. 9th ed. Philadelphia: Saunders Elsivier; 2007. p. 3232. 31 Capítulo 4 - Cistite Aguda Renato Careta Chambô A cistite aguda é a inflamação superficial da mucosa vesical cau- sada por infecção decorrente da penetração de bactérias. Febre, cala- frios e outros sinais de disseminação não estão presentes. Cada ano, cerca de 10% das mulheres relatam um episódio de cistite e mais de 50% de todas as mulheres têm pelo menos uma infecção durante a sua vida. E. coli é o organismo causador em 75% a 90% dos casos de cistite aguda em mulheres jovens. S. saprophyticus, um organismo comen- sal da pele, é a segunda causa mais comum, sendo responsável por 10% a 20%. Outros organismos geralmente menos envolvidos incluem Klebsiella, Proteus e Enterococcus. Os sintomas de cistite são variáveis, mas geralmente incluem disúria, polaciúria, urgência, dor supra pú- bica, hematúria e mau cheiro na urina. A probabilidade de cistite em uma mulher com estes sintomas, isoladamente ou em combinação é de 50% a 90%, respectivamente. Diagnóstico Na maioria dos casos de cistite aguda em mulheres adultas o sim- ples exame clínico pode autorizar o início do tratamento sem a necessi- dade de coleta de exames complementares. O EAS mostra leucocitúria ou piúria em 94% das cistites, mais de 10 leucócitos por campo de gran- de aumento ou oito piócitos por milímetro cúbico de urina. A cultura de urina continua a ser o teste definitivo, a presença de 102 ufc/ml ou mais geralmente indica infecção. As culturas de urina de rotina muitas vezes não são necessárias, porque as decisões de tratamento são feitas muitas vezes antes do resultado da cultura. Esta posição foi sustentada por um estudo de custo-eficácia, no qual foi estimado que a utilização de rotina de culturas de urina pré-terapêutico para cistite aumenta os custos de 40%, mas diminui a duração total de sintomas de apenas 10%. 32 Diagnóstico Diferencial Cistite deve ser diferenciada de outras condições inflamatórias infec- ciosas em que disúria pode ser o sintoma mais proeminente, incluindo vaginite, infecções uretrais causadas por patógenos sexualmente trans- missíveis e diversas causas não-inflamatórias de desconforto uretral, tal como um divertículo. Outros diagnósticos diferenciais: pielonefrite, pros- tatite, doença inflamatória pélvica, cálculo renal ou ureteral, carcinoma de bexiga, cistite intersticial, bexiga hiperativa, disfunção psicogênica e bacteriúria assintomática. Tratamento Medidas gerais como boa hidratação e esvaziamento adequado da bexiga podem ser orientados e analgésicos podem ser utilizados para o alí- vio da dor e dos sintomas irritativos. É opção para o tratamento da infecção do trato urinário baixo em mulheres adultas o esquema com antibioticote- rapia oral com dose única oucom duração de três a sete dias. O esquema de tratamento com duração de três dias é mais eficaz do que com dose única; tem o mesmo efeito e menos evento adverso do que o tratamento com sete dias. Antibióticos Orais para o tratamento da cistite aguda não complicada estão listados na Tabela 1. As Diretrizes da Sociedade Americana de Doenças Infecciosas e as da União Europeia recomendam a TMP-SMX por três dias como o tratamento de primeira linha para cistite, caso a prevalência de resistência na região seja menor do que 20%. Atualmente tem se observado, em certas regiões, um aumento de cepas de Escherichia coli resistentes ao TMP-SMX, o que tem limitado a utilização desta droga como primeira escolha no tratamen- to da ITU nestas regiões. A nitrofurantoína manteve um nível excelente de eficácia ao longo de 4 décadas e é bem tolerada. As fluoroquinolonas ofe- recem uma excelente eficácia e são bem toleradas. Resistência as fluoroqui- nolonas permanece abaixo de 5% na maioria dos locais, no entanto, está aumentando em determinadas áreas, no Brasil devido ao seu uso indiscri- minado a resistência vem aumentado nos últimos anos. Aproximadamente 90% das mulheres ficam assintomáticas dentro de 72 horas após o início 33 da terapia antimicrobiana. Cultura de urina não é necessária em mulheres jovens que são assintomáticas após a terapia. Análise de urina e cultura de urina são recomendadas em mulheres mais velhas ou com fatores de risco potenciais e nos homens. Tabela 1 - Antibióticos Orais para o tratamento da cistite aguda não complicada Antibiótico fosfomicina/trometamol Norfloxacina Ciprofloxacina Levofloxacina TMP- SMX Cefuroxima Nitrofurantoína Norfloxacina Ciprofloxacina Levofloxacina TMP- SMX Cefuroxima Nitrofurantoína Amoxacilina Cefalexina Nitrofurantoína Norfloxacina Ciprofloxacina Levofloxacina TMP- SMX Cefuroxima Nitrofurantoína Circunstâncias Mulheres Saudável Sintomas mais que 7 dias, ITU recente, idade maior que 65 anos, diabetes, uso de diafragma Gravidez Homens Saudável e idade menor que 50 anos Dosagem 3g 400 mg 500 mg 500 mg 160 – 800 mg 250 mg 100 mg 400 mg 500 mg 500 mg 160 – 800 mg 250 mg 100 mg 500 mg 500 mg 100 mg 400 mg 500 mg 500 mg 160 – 800 mg 250 mg 100 mg Frequência 3g Dose única 2x/dia 2x/dia 1x/dia 2x/dia 3x/dia 4x/dia 2x/dia 2x/dia 1x/dia 2x/dia 3x/dia 4x/dia 3x/dia 4x/dia 4x/dia 2x/dia 2x/dia 1x/dia 2x/dia 3x/dia 4x/dia Duração (dias) 1 3 5 7 7 7 Leitura recomendada 1. Campbell-Walsh Urology. W. Scott McDougal, Alan J. Wein, Louis R. Kavoussi, Andrew C. Novick, Alan W. Partin, Craig A. Peters, Parvati Ramchandani, Saunders, 10ª edição – 2011. 2. Gupta K, Hooton TM, Naber KG, Wullt B, Colgan R, Miller LG, Moran GJ, Nicolle LE, Raz R, Schaeffer AJ, Soper DE. International clinical practice guidelines for the treatment of acute uncomplicated cystitis and pyelonephritis in women: A 2010 update by the Infectious Diseases Society of America and the European Society for Microbiology and Infectious Diseases. Clin Infect Dis. 2011 Mar 1;52(5):e103-20. 34 Capítulo 5 - Cistite na Gestação Ricardo Miyaoka Confirmação diagnóstica A infecção do trato urinário (ITU) no período gestacional requer atenção especial, pois implica em risco no prognóstico materno e perina- tal. Isoladamente, as alterações anatômicas e fisiológicas da gestação não aumentam a incidência de ITU na gestante, mas naquelas que apresen- tam bacteriúria assintomática (BA) com incidência de 2% a 10%, o risco de evolução para um quadro de pielonefrite é maior e pode ocorrer em 30% dos casos. Tendo em vista que uma ITU complicada é definida como aquela que ocorre em indivíduos com alterações funcionais ou estruturais do trato urinário, qualquer ITU durante a gravidez deve ser considerada complica- da e, portanto, conduzida como tal. A cistite incide em 1% a 1,5% das gestantes. O diagnóstico baseia-se na confirmação laboratorial e deve ser suspeitado em qualquer gestante com sintomas irritativos do trato urinário inferior (disúria, polaciúria, ur- gência miccional, dor suprapúbica, hematúria macroscópica e urina con- centrada e/ou de odor desagradável). Alguns sintomas de infecção são difíceis de caracterizar, a exemplo da disúria e polacíuria, que podem es- tar presentes na gestante sem infecção. A triagem de BA é recomendada no pré-natal com a urocultura de duas amostras urinárias em momentos distintos. Amostra única pode implicar em resultado falso-positivo em até 40% das vezes. O teste do nitrito tem sensibilidade de 50% e especificidade de 97% a 100%. Pode ser falso positivo quando há urina contaminada por germes vaginais ou concentrada, pois se baseia em princípios colorimétricos. O teste da esterase de leucócitos tem sensibilidade e especificidade próxi- 35 mas de 25% e não deve ser usado de forma isolada para o diagnóstico. Alterações menos específicas como leucocitúria, hematúria, proteinúria e cilindros no sedimento urinário também sugerem o diagnóstico, mas podem representar somente a existência de inflamação do trato urinário. A urocultura é o padrão-ouro para o diagnóstico laboratorial. Em casos sintomáticos, são consideradas positivas culturas com até 102 colônias/ ml. Em casos assintomáticos, são necessárias 105 colônias/ml. Valores entre 104 e 105 correspondem à infecção em 50% dos casos. Quando colhida por cateterismo vesical, valores acima de 103 indicam infecção; se por punção suprapúbica, a infecção é confirmada por qualquer nú- mero de bactérias. A Escherichia coli responde por 80% dos casos sendo o patógeno mais incidente. Em casos de infecção de repetição, falha de resposta ao tratamento após 72 horas e identificação de germes inco- muns neste tipo de infecção recomenda-se a realização de exame ultras- sonográfico, seguro para o binômio mãe-feto, capaz de identificar dilata- ções patológicas do trato urinário além de outros fatores complicadores, como doença calculosa. Diagnóstico Diferencial O diagnóstico diferencial da cistite na gestação inclui poucas condições e incluem: sintomas fisiológicos da gestação, na ausência de infecção; bacteriúria assintomática, na qual apesar dos sintomas ausentes, há confirmação laboratorial de bactérias na urina em quan- tidade anormal; disfunções miccionais que compartilham os mesmos sintomas, como a síndrome da bexiga hiperativa, síndrome da bexiga dolorosa e cistite intersticial; uretrites; e outras infecções vulvo-vaginais (candidíase, vaginose etc.). Conduta O tratamento deve ser iniciado imediatamente após a confirmação diagnóstica da infecção. Em casos de dúvida, ou quando não é possível a confirmação laboratorial, recomenda-se o tratamento empírico baseado na presença de sinais e sintomas sugestivos do quadro, na expectativa 36 de reduzir a morbidade que pode decorrer de um diagnóstico tardio ou ignorado. O tratamento deve ser feito preferencialmente por via oral e com duração de sete dias no mínimo. A urocultura com antibiograma fa- cilita a escolha do antibiótico mais adequado. Os antimicrobianos mais utilizados são: - Cefuroxima 250 mg 8/8 horas; - Norfloxacin 400 mg 12/12 horas; - Nitrofurantoína 100 mg 6/6 horas; - Sulfametoxazol/ trimetoprima 320/ 1600 mg uma vez ao dia. As preocupações com o uso da norfloxacina para tratamento da ITU em gestantes têm se mostrado infundadas. O uso de ampicilina 500 mg 6/6 horas e cefalexina 500 mg 6/6 horas é desaconselhado pela alta taxa de resistência bacteriana. O tratamento com dose única ou de curta du- ração (três dias) relaciona-se a altos índices de falhas e não é indicado para gestantes. Em casos de suspeita de pielonefrite, a terapêutica é pre- ferencialmente por via parenteral, passandopara via oral após remissão do quadro agudo. Cefuroxima 750 mg 8/8 horas e ceftriaxona 1g uma vez ao dia são boas opções. O tratamento deve estender-se por 14 dias. Leitura recomendada 1. Vazquez JC, Villar J. Treatments for symptomatic urinary tract infections during pregnancy. [update of Cochrane Database Syst Rev. 2000; (3): CD002256; PMID: 10908537]. Cochrane Database Syst Rev 2003;(4):CD00256. 2. Duarte G, MarcolinAC, Quintana SM, Cavalli RC. Infecção urinária na gravidez. Rev Bras Ginecol Obstet 2008; 30(2): 93-100. 37 Capítulo 6 - Cistite de Repetição Isabel Cristina Albuquerque Feitosa As infecções do trato urinário inferior são muito comuns, ocorrendo em no mínimo 60% das mulheres, em algum momento de suas vidas. Por ser muito frequente, merece destaque os cuidados com o tratamento. Cerca de 95% dos casos de infecção recorrente em mulheres são resul- tantes de reinfecções e não estão relacionadas a anormalidades anatô- micas do trato urinário. Nos tecidos do trato urinário de mulheres com predisposição a infecções recorrentes foram identificados carboidratos complementares a proteínas expostas na superfície bacteriana. Esta ca- racterística é responsável por facilitar a adesão bacteriana à mucosa vesi- cal, através de fímbrias e filamentos presentes na superfície das bactérias. Para o diagnóstico mais adequado as reinfecções devem ser di- ferenciadas das persistências bacterianas, para que o tratamento seja estabelecido. Diagnóstico 1) Clínico: estão relacionados aos fatores de risco, como início da ati- vidade sexual, menopausa, genética, alterações do trato gastrointestinal e gravidez. 2) Laboratorial: urocultura com antibiograma no início dos sinto- mas e uma semana após o término do tratamento, para confirmar a cura. O agente que mais frequentemente provoca as infecções é a Es- cherichia Coli. 3) Imagem: ultrassonografia dos rins e vias urinárias pode avaliar al- terações relacionadas a cálculos, hematúria e alterações anatômicas. 4) Cistoscopia: auxilia no diagnóstico dos casos suspeitos de tumo- res e fístulas do trato urinário inferior. 38 Conduta O tratamento da cistite recorrente consiste em tratar a infecção vi- gente e iniciar imediatamente a profilaxia para as reincidências. Durante a gravidez, ocorre um aumento na frequência de bacteriúria assintomática, que em até 40% dos casos leva a pielonefrite aguda grave, sendo responsável por desencadear trabalho de parto prematuro, baixo peso ao nascer e aumento da taxa de mortalidade neonatal. O antibiótico de escolha continua sendo a família das fluorquino- lonas, apesar do aumento da resistência bacteriana ao longo dos anos, decorrente do uso indiscriminado. Com a terapia profilática é possível reduzir a recorrência em mais de 90% das mulheres com esta predisposição. Os antibióticos mais utilizados são nitrofurantoína, cefalosporinas de primeira geração e fluorquinolonas, por terem menor efeito sobre a flora intestinal. A prevenção pode ser iniciada com antimicrobianos com metade ou um quarto da dose habitual, preferencialmente à noite por 6 a 12 meses. Nos casos em que o intercurso sexual é o principal causador das re- corrências, pode ser estabelecida uma dose de antimicrobiano pós-coito. Antimicrobiano Nitrofurantoína Sulfametoxazol-Trimetoprim Cefalexina Norfloxacin Fosfomicina Dosagem 100mg 160mg/80mg 250mg 400mg 3g Frequência Noite Noite Noite Noite A cada 10 dias 39 Situações especiais: em pacientes idosos o uso da nitrofurantoína pode causar alterações hepáticas e pulmonares, e as funções destes ór- gãos devem ser monitoradas. Nas gestantes, as fluorquinolonas não de- vem ser utilizadas e a nitrofurantoína pode ser utilizada até no máximo 34 semanas de gestação, por estar relacionada ao aumento do risco de hipoglicemia neonatal. Nesta situação podemos substituí-la por fosfomi- cina, com posologia de fácil aceitação. Nas crianças, o uso da sulfameto- xazol-trimetropim é o mais frequente, apesar de haver um risco maior de alteração da flora intestinal. Além dos antimicrobianos, outras opções terapêuticas têm surgido, principalmente nas situações onde há resistência ou dificuldade de uso dos antibióticos por parte dos pacientes. Em 2008, uma Revisão Sistemática pelo banco de dados Cochrane, com 10 trabalhos randomizados, com um total de 1.049 pacientes con- cluiu que o uso do suco do Cranberry diminui a incidência de infecções recorrentes. Substâncias existentes no Cranberry impediriam a adesão das fimbrias e filamentos das bactérias na mucosa da bexiga, evitando as infecções. Outros vários trabalhos foram realizados com Cranberry na forma de suco, cápsulas e placebo, demonstrando que o uso de cápsulas na dose de 1.200mg diários demonstram os melhores resultados quanto à profilaxia. Leitura recomendada 1. Dům zdraví Marty Hartlové, Brno. Urinary tract infections in pregnancy: when to treat, how to treat, and what to treat with. Ceska Gynekol. 2012 Apr;77(2):167-71. 2. Hisano M, Bruschini H, Nicodemo AC, Srougi M. Cranberries and lower urinary tract infection prevention. Clinics. 2012;67(6):661-667. 40 Capítulo 7 - Cistite Intersticial Maurício J. Bruschini Rodrigues Netto Cistite intersticial, atualmente também conhecida como Síndrome da Bexiga Dolorosa, é uma doença de definição e diagnóstico difícil. A definição mais usada é a da SUFU (the Society for Urodynamics and Female Urology): “Uma sensação desagradável (dor, pressão, desconforto) rela- cionada com a bexiga, associada com sintomas do trato urinário inferior com mais de seis semanas de duração, na ausência de infecção ou outras causas identificáveis”. Ocorre com frequência nove vezes maior em mu- lheres do que em homens. A caracterização da doença se baseia na sinto- matologia clínica, não existem marcadores específicos. Por isso devemos realizar uma história detalhada sobre os sintomas que mais comumente se apresentam como frequência aumentada (diurna e noturna), urgência e dor suprapúbica ou perineal geralmente relacionada com enchimento vesical. Caracterizar com detalhes início, duração, periodicidade das cri- ses, tentar associar o aparecimento da dor com algum alimento, bebida ou atividade específica. Fazer exame físico detalhado, além dos exames laboratoriais de urina e citologia urinária, descartando infecção urinária e tumor de bexiga. A cistoscopia e a urodinâmica devem ser utilizadas apenas nos casos mais complexos e não são necessárias nas apresentações mais simples. A quantificação inicial dos sintomas urinários e níveis de dor devem ser anotados para podermos acompanhar o resultado dos tratamentos realizados. Diagnóstico diferencial Entre os principais diagnósticos diferenciais precisamos excluir: in- fecção urinária, tumor de bexiga, hiperatividade do detrusor, tuberculose urinária , cálculo vesical e divertículo uretral. 41 Conduta Existem vários tratamentos que podem ser oferecidos, divididos em grupos considerando o balanço entre os potenciais riscos e benefícios para o paciente, severidade dos efeitos colaterais e reversibilidade do tra- tamento. A escolha do tratamento depende do nível de sintomas, julga- mento do médico assistente e preferências do paciente. Primeira linha – explicar o funcionamento normal da bexiga, a do- ença com suas possíveis causas e sua apresentação insidiosa e crônica. Orientar sobre a possibilidade de que vários tratamentos precisam ser re- alizados antes de se conseguir o controle adequado do problema. Na me- dida do possível, tentar reduzir o stress que costuma piorar os sintomas, além da modificação de hábitos e comportamentos que podem melhorar o quadro clínico. Segunda linha – evitar exercícios de fortalecimento do assoalho pél- vico, como Kegel. Usar medicamentos sistêmicos como: 1) amitriptilinaem doses de 25 mg a 100 mg ao dia preferencialmente a noite, pois os prin- cipais efeitos colaterais são sonolência e náuseas; 2) cimetidina na dose de 400 mg duas vezes ao dia com poucos efeitos colaterais; 3) hidroxizina na dose de 10 mg a 75 mg uma vez ao dia com poucos efeitos colaterais como fraqueza e discreta sonolência; 4) pentosan polissulfato na dose de 100 mg três vezes ao dia com baixa incidência de efeitos colaterais. Usar medicamentos intravesicais como: 1) DMSO (RIMSO) o esque- ma mais usado é a instilação vesical quinzenal de 50 ml na concentração de 50% com retenção na bexiga por 15 minutos. Depois de quatro aplica- ções, espaçar o tratamento; 2) Heparina com alguns esquemas descritos variando de 10 mil a 40 mil UI diluídos em 10 ml de água destilada até três vezes por semana; 3) Lidocaína vários esquemas utilizados inclusive associado com heparina e triancinolona. Terceira linha – cistoscopia sob anestesia realizando hidrodistensão de curta duração (10 minutos) e com baixa pressão (60 cm a 80 cm de H2O). Se for encontrada úlcera de Hunner, realizar a cauterização do local (laser ou eletrocautério) ou injeção de triancinolona. 42 Quarta linha – neuromodulação realizar o teste de neuroestimula- ção, se houver melhora, implante definitivo do estimulador. Quinta linha – ciclosporina A ou toxina botulínica tipo A, podem ser administradas se outros tratamentos não foram eficientes e o paciente aceitar, lembrando a possibilidade do paciente precisar de cateterismo intermitente após injeção da toxina. Sexta linha – tratamento cirúrgico como cistoplastia ou derivação urinária. Tratamentos que não devem ser utilizados: antibioticoterapia de longa duração, BCG intravesical, hidrodistensão de longa duração com alta pressão e resinferatoxina, corticoide oral de longa duração. Leitura recomendada 1. Philip M. Hanno e cols. Diagnosis and treatment of Interstitial Cystitis/Bladder Pain Syndrome, American Urological Association (AUA) Guidelines 2011. 43 Capítulo 8 - Infecção Fúngica do Trato Urinário Caio Cesar Cintra Candidúria: diagnóstico bastante controverso. Embora a maioria dos estudos se baseie em cultura de urina, a visualização do fungo também é utilizada para este fim. Não existe consenso sobre a melhor técnica de coleta, nem do critério diagnóstico baseado em cultura. Em adultos, eles variam de 103 a105 UFC/ml de urina, podendo ser diferentes entre os sexos. Estudos clínicos têm usado 103 UFC/ml de urina como critério de inclusão. Os meios de cultura normalmente utilizados para a identificação de infecções bacterianas não apresentam a mesma sensibilidade para identificar espécies de Candida sp. Estudos que utilizam meios de cul- tura específicos para a identificação de espécies de Candida (Sabaroud destrose-agar) têm maior sensibilidade. Diagnóstico diferencial / Considerações gerais Infecções fúngicas invasivas, outrora raras, têm se tornado cada vez mais frequentes. O principal diagnóstico diferencial da candidúria é a in- fecção urinária bacteriana. Estudo prospectivo identificou um aumento de cinco vezes na inci- dência de infecções fúngicas em pacientes internados, nos EUA entre as décadas de 80 e 90. Envolvimento do trato urinário foi identificado em 46% das vezes, classificando-o como o principal sítio desta infecção. No Brasil, relatos de fungemia em hospitais terciários têm sido publi- cados assim como o acometimento crescente do trato urinário por fun- gos em pacientes críticos. O resultado final da infestação fúngica depende de uma série de fatores, sendo a condição do hospedeiro e o seu status imunológico os mais importantes deles. 44 Imunodeficiência, senilidade, permanência em UTI, uso de cateteres ve- sicais, antibioticoterapia de amplo espectro, prematuridade com baixo peso e pós-operatório de grandes cirurgias são seus principais fatores de risco. A C. albicans é o agente mais comum. Sua transmissão se dá, habitu- almente, por contato sexual. Atualmente, infecções por espécies não albicans têm se tornado mais frequentes. Estas espécies se relacionam a quadros mais complexos disseminados e a uma maior mortalidade. C. glabrata e C. krusei são espe- cialmente importantes, uma vez que apresentam resistência conhecida ao fluconazol. Alguns autores demonstraram que esta realidade também é encontrada no Brasil. A candidúria pode se manifestar de maneira diversa. A simples pre- sença de Candida sp. na urina não significa, necessariamente, infecção. Contaminações são frequentes. Na maioria das vezes, ela é assintomática e ocorre tardiamente durante a internação. Leucocitúria normalmente não é evidenciada e, na maioria dos ca- sos, não se observa evolução para septicemia. Apenas 1% a 8% dos pa- cientes com candidúria evoluem para candidemia. A diferenciação entre acometimento dos tratos urinários superior e inferior é difícil, podendo haver acometimento renal em até 50% dos casos, mesmo sem sintomas. A presença de cilindros fúngicos pode ser importante nesta diferenciação. Prostatite e epididimite fúngica também podem se associar à can- didúria. Pneumatúria pode indicar invasão tissular e/ou a formação de abcesso peri renal. Mesmo na ausência de sintomas, a candidúria é um fator de risco para mortalidade. Conduta Os esquemas utilizados compreendem a anfotericina B tópica ou sistêmica e o fluconazol oral ou endovenoso. O itraconazol não deve ser 45 utilizado para este fim devido suas características farmacocinéticas e à experiência limitada com seu uso para tal. A dose preconizada do fluconazol varia de 100 mg a 400 mg/dia por 7 a 14 dias, a depender do estado do paciente, do sítio da infecção e do agente isolado, assim como da sua sensibilidade a esse fármaco. Em casos mais críticos, recomenda-se dose máxima, por 14 dias. As infecções resistentes devem ser tratadas com anfotericina B. Qua- dros sistêmicos podem ser conduzidos por meio da prescrição de 0,5 mg a 1 mg por kg/dia, por pelo menos 2 semanas, e as cistites fúngicas po- dem ser controladas por meio da instilação vesical de 50 mg/dia diluída em água destilada por 48 a 72 horas. A fim de definir a melhor estratégia terapêutica, é necessário definir o grupo de risco: - Em pacientes sãos, sem fatores de risco: solicitar nova coleta, afastar contaminação por mucosite fúngica e não utilizar antifúngicos sistêmicos. - Em pacientes assintomáticos, mas com fatores de risco e candidemia improvável: retirar fatores de risco (incluindo cateter vesical) e reavaliar. Na persistência do fungo considerar instilação vesical de anfotericina B. - Em pacientes sintomáticos, recém-nascidos de baixo peso, trans- plantados, neutropênicos ou naqueles assintomáticos mas com neces- sidade de instrumentação urológica: prescrever antifúngicos sistêmicos. Leitura recomendada Ackar JM, Fries BC.Candida Infections os the Genitouri nary Tract. Clin Microbiol Reviews 2010:253-73. 46 Capítulo 9 - Prostatite Aguda Roberto Dias Machado Introdução • Doença aguda e infecciosa da próstata, geralmente afeta os ho- mens dos 20 aos 40 anos de idade, com segundo pico após os 60 anos. Vias de infecção • Ascensão dos micro-organismos pela uretra • Refluxo de urina infectada para os ductos prostáticos • Transrretal, devido à biópsia prostática • Linfática e hematogênica são raras Confirmação diagnóstica É clínica por meio da história e do exame físico. Dor abdominoperi- neal e sintomas do trato urinário inferior como disúria e urgência, associa- dos à febre com calafrios geralmente estão presentes. O toque retal é doloroso e mostra flutuações prostáticas em mais de 90% dos casos, devendo ser feito com a máxima cautela. A massagem e a biópsia da próstata são contraindicadas na fase aguda, devido ao risco de disseminação bacteriana.Os exames de sangue e urina I com urocultura (jato médio) auxiliam na confirmação diagnóstica. O hemograma mostra leucocitose (células imaturas). O PSA geralmente está elevado, retornando ao basal de 4 a 8 sema- nas após o tratamento. O exame de urina tipo I mostra piúria, nitritos positivos e hematúria. 47 A coloração de Gram pode guiar o tratamento empírico até a confir- mação microbiológica pela urocultura. A hemocultura pode ser solicitada em pacientes internados com infecção sistêmica grave, porém apresenta apenas 21% de positividade. Diagnótico diferencial Etiológico Bactérias enterococus gram negativas respondem por 85% dos ca- sos. A E. coli é a mais comum, seguida por Proteus, Pseudomonas e Kle- bsiella ssp. Em pacientes jovens e sexualmente ativos deve-se considerar a Neis- seria gonorreia e a Clamydia spp. Pacientes com imunodeficiência são susceptíveis a agentes atípicos (Fungos e M.tuberculosis etc.). Fatores de risco Intercurso sexual sem proteção, fimose, instrumentação cirúrgica do trato urinário inferior, cateterismo vesical, estenose de uretra, HPB e biópsia de próstata. O risco de prostatite aguda é de 0,6% a 2,1% na primeira biópsia e de 4,1% na segunda biópsia. Causas de confusão diagnóstica Pielonefrite e epididimite aguda podem ocorrer isoladamente ou como consequência da prostatite aguda. Patologias orificiais e diverticulite aguda. Condutas Tratamento ambulatorial É uma opção em pacientes sem complicações e capazes de tolerar a ingestão oral das drogas. 48 As fluoroquinolonas têm a preferência inicial pelo seu espectro de ação contra gram negativos e positivos e alguns patógenos atípicos como Clamydia e Mycoplasma. As mais usadas são: ciprofloxacino 500 mg duas vezes ao dia, levofloxacino 500 mg uma vez ao dia e gatifloxaci- no 400 mg uma vez ao dia. A associação de sulfametoxazol 400/800 mg + trimetoprima 80/160 mg duas vezes ao dia é usada em casos de reações adversas às quinolonas. O mínimo de 10 dias de tratamento é necessário para casos leves, variando de 2 a 4 semanas. Tratamento hospitalar Em casos graves e complicados, a antibioticoterapia parenteral deve ser iniciada com o paciente internado logo após a coleta dos exames. Lembrar que o padrão de resistência bacteriana aos antibióticos va- ria de acordo com as regiões geográficas. Altas doses de antibióticos de largo espectro como cefalosporinas de segunda e terceira gerações (ex: cefuroxima 50 mg -100 mg/kg/dia de 8/8h com máximo de 6g/d, cefoxitina 1-2g de 4/4h ou 6/6h, ceftriaxona 1g de 12/12h) associados ou não aos aminoglicosídeos (ex.: amicacina e gentamicina) são recomendados. Os aminoglicosídeos associados a um beta lactâmico (ampicilina e penicilina) ou a uma fluoroquinolona têm sua eficácia aumentada. Uma vez o paciente estável e afebril o antibiótico oral é iniciado ba- seado nos exames de sangue e na cultura de urina. Conduta nas complicações A bacteremia é uma complicação grave, nestes casos a hemocultura pode auxiliar no diagnóstico microbiológico. Os abscessos prostáticos devem ser investigados se houver piora clí- nica ou falha terapêutica, mesmo com o antibiótico apropriado. 49 O ultrassom transrretal e a tomografia computadorizada auxiliam na confirmação diagnóstica e na terapêutica dos abscessos. Retenção urinária ocorre devido à dor, espasmo do colo vesical e/ou edema prostático. O cateterismo uretral prolongado deve ser evitado na presença de abscessos e a cistostomia torna-se imperativa. Prognóstico Geralmente é bom com o tratamento rápido e adequado. Assim, a maioria dos pacientes não desenvolverá prostatite crônica. Leitura recomendada 1. Brede.C.M e col. The etiology and management of acute prostatitis. Nat.Rev.Urol. 2011,8:223-45. 2. Etienne. M e col. Acute bacterial prostatitis. BMC Infect Dis.2008,30:8-12. 50 Capítulo 10 - Prostatite Crônica Cláudio Bovolenta Murta Prostatite é a patologia prostática mais comum em homens com menos de 50 anos e sua incidência chega a 12%. Sua gênese é pouco compreen- dida e multifatorial, mas parece seguir a seguinte sequência: fator iniciador (infecção, trauma, toxinas e estresse), uma resposta exacerbada (inflamação ou neurológica), facilitação (mecanismos neuroendócrinos) e propagação (mediadores imunológicos e neurogênicos), resultando em dor neuropática. Cerca de apenas 10% dos casos de prostatite crônica tem cultura positiva, o restante deve ser classificado como síndrome da dor pélvica crônica. Confirmação diagnóstica As prostatites foram inicialmente classificadas em quatro categorias: bacteriana aguda, bacteriana crônica, não bacteriana e prostatodinia. Em 1999, o National Institutes of Health (NIH) reclassificou as prostatites e, atualmente, é a mais utilizada (Tabela 1). O diagnóstico é feito por meio de história e exame físico, e é definida como sintomas persistentes ou recorrentes de dor perineal (na região da próstata) por pelo menos três meses nos últimos seis meses. Na prostatite tipo II deve haver confirmação de um uropatógeno, enquanto nas cate- gorias IIIA e IIIB as culturas são negativas. Na avaliação deve-se incluir o tipo de dor e a localização. A dor pode ser referida em outras áreas como períneo, reto, pênis, testículos e abdômen inferior. Podem estar presentes sintomas do trato urinário inferior, alterações sexuais, em outros órgãos (sd. miofascial, sd. do intestino irritável) e psicológicos. Diagnóstico diferencial A avaliação dos sintomas pode ser realizada por meio do índice de sintomas de prostatite crônica do NIH, que abrange as principais quei- 51 xas do paciente: dor, função urinária e qualidade de vida. O exame di- gital da próstata deve ser realizado após coleta da urina pré-massagem prostática e é limitado quanto ao diagnóstico definitivo de prostatite ou sua classificação. Diagnóstico laboratorial tem sido classicamente baseado no teste dos quatro frascos. São colhidas as urinas do primeiro jato, urina do jato médio, expressão da secreção prostática e urina pós-massagem prostá- tica. As amostras são analisadas quanto à contagem de leucócitos após centrifugação e cultura. Entretanto, este teste é de difícil realização na prática clínica e foi substituído pelo teste dos dois frascos. Neste, a urina pré-massagem prostática e pós-massagem são analisadas. Na prostatite tipo II, encontram-se bactérias na urina pós-massagem. Na do tipo IIIA, encontram-se apenas leucócitos e na IIIB todas as amostras são normais. As bactérias mais comumente encontradas são a Escherichia coli (80%), outras bactérias gram-negativas como Pseudomonas, Serratia, Klebsiella (15%) e enterococos (5%). Infecções por Corynebacteria, clamídia, urea- plasma e outras infecções não cultiváveis têm sido implicadas na prosta- tite crônica não bacteriana. Outros testes como PSA, citologia urinária, estudo urodinâmico, cis- toscopia, ultrassonografia transrretal e biópsia devem ser reservados para situações específicas. Conduta Os estudos clínicos permitem concluir que os tratamentos para pros- tatite crônica devem ser multidisciplinares, principalmente nos casos de prostatites tipo III. O tratamento inicial é feito com antibioticoterapia. Os antibióticos mais utilizados são as fluoroquinolonas por 4 a 6 semanas. A utilização de trimetropim é uma alternativa, mas deve ser feita por tempo maior (3 meses). O uso de alfa-bloqueador tem benefício naqueles pa- cientes com menos de um ano de sintomas. Anti-inflamatórios, relaxan- tes musculares, polissulfato de pentosam e fitoterápicos também podem ser utilizados no tratamento desses pacientes. Além dos tratamentos tra- dicionais, terapia comportamental cognitiva para dor, massagem prostá- 52 tica, biofeedback, acupuntura e terapia extracorpórea por ondas de cho-
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