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FISIOPATOLOGIA DAS DISLIPIDEMIAS E ATEROSCLEROSE (INCLUINDO HIPERCOLESTEROLEMIA) DISLIPIDEMIAS OU HIPERLIPIDEMIA As dislipidemias são caracterizadas pela presença de níveis elevados de lipídios/ colesterol. Quando estes níveis ficam elevados, é possível que placas de gordura se formem e se acumulem nas artérias, o que pode levar à obstrução parcial ou total do fluxo sanguíneo que chega ao coração e ao cérebro Níveis elevados de colesterol no sangue (hipercolesterolemia) estão implicados no desenvolvimento da aterosclerose, acompanhada do risco de ataque cardíaco e de acidente vascular encefálico. LIPOPROTEÍNAS Como o colesterol e os triglicerídeos são insolúveis no plasma, eles são encapsulados por uma capa estabilizante de fosfolipídios e proteínas hidrossolúveis (chamadas de apoproteínas). Essas partículas, que são chamadas de lipoproteínas, transportam o colesterol e os triglicerídeos para vários tecidos para utilização de energia, deposição de lipídios, produção de hormônios esteroides e formação de ácidos biliares. Existem cinco tipos de lipoproteínas, classificadas de acordo com suas densidades, medidas por ultracentrifugação: quilomícrons, lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL), lipoproteínas de densidade intermediária (IDL), lipoproteínas de baixa densidade (LDL) e lipoproteínas de alta densidade (HDL). As VLDLs carreiam grandes quantidades de triglicerídeos que têm densidade menor do que o colesterol. As LDLs são os principais transportadores de colesterol e as HDLs são na verdade formadas por 50% de proteínas Cada tipo de lipoproteína consiste em um grande complexo molecular de lipídios combinado com apoproteínas. Os principais constituintes lipídicos são ésteres de colesterol, triglicerídeos, colesterol não esterificado (ou livre) e fosfolipídios. Os ésteres de colesterol insolúveis e os triglicerídeos estão localizados no centro hidrofóbico da macromolécula de lipoproteína, circundados por fosfolipídios solúveis, colesterol não esterificado e apoproteínas. O colesterol não esterificado e os fosfolipídios fornecem uma carga negativa que permite que a lipoproteína seja solúvel no plasma. Existem quatro classes principais de apoproteínas: A (i.e ., apoA-1, apoA-11 e apoA-lV), B (i.e., apoB-48, apoB-100), C (i.e., apoC-1, apoC-11 e apoC-111) e apoE. As apoproteínas controlam as interações e o destino metabólico final das lipoproteínas. Algumas das apoproteínas ativam as enzimas lipolíticas que facilitam a remoção dos lipídios das lipoproteínas; outras servem como um local reativo que receptores celulares podem reconhecer e usar na endocitose e no metabolismo das lipoproteínas. A principal apoproteína nas LDLs é a apoB- 100, enquanto nas HDLs é a apoA-1. Achados de pesquisas sugerem que defeitos genéticos nas apoproteínas possam estar envolvidos na hiperlipidemia e na aterosclerose acelerada. Existem dois locais de síntese de lipoproteínas: o intestino delgado e o fígado. Os quilomícrons, que são as maiores moléculas de lipoproteínas, são sintetizados nas células de revestimento da mucosa do intestino delgado. Eles estão envolvidos no transporte de triglicerídeos obtidos da dieta (via exógena) e do colesterol que foram absorvidos pelo trato gastrointestinal. Os quilomícrons transferem seus triglicerídeos para as células do tecido adiposo e do tecido muscular estriado esquelético. As partículas de quilomícrons restantes, que contêm colesterol, são em seguida capturadas pelo fígado e pelo colesterol usado na síntese de VLDLs ou excretado na bile. O fígado sintetiza e libera VLDLs e HDLs. As VLDLs contêm grandes quantidades de triglicerídeos e menores quantidades de ésteres de colesterol. Elas fornecem a principal via para o transporte de triglicerídeos endógenos produzidos no fígado, ao contrário daqueles obtidos da dieta. Elas também são a principal fonte de energia do corpo durante o jejum prolongado. Igual aos quilomícrons, as VLDLs carreiam seus triglicerídeos para a gordura e para células musculares, onde os triglicerídeos são removidos. Os resultantes fragmentos de IDLs têm seu conteúdo de triglicerídeos reduzido e enriquecido em colesterol. Elas são capturadas pelo fígado e recicladas para formar VLDLs, ou convertidas a LDLs no compartimento vascular. As IDLs são a principal fonte de LDLs. As LDLs, às vezes chamadas de "mau colesterol", são os principais carreadores de colesterol. As LDLs são removidas da circulação por receptores de LDLs ou por células fagocitárias, tcomo monócitos ou macrófagos. Aproximadamente 70% das LDLs são removidas através da via dependente de receptores para LDLs, e o resto é removido pela via de células fagocitárias. Embora os receptores para LDLs estejam amplamente distribuídos, aproximada mente 75% estão localizados nos hepatócitos; então, o fígado desempenha um papel importante no metabolismo das LDLs. A remoção de LDLs mediada por receptores envolve a ligação das LDLs a receptores da superfície celular, seguida de endocitose, um processo de englobamento no qual as LDLs são intemalizadas e movimentadas dentro da célula no interior de uma vesícula de endocitose revestida por membrana. Dentro da célula, as vesículas de endocitose se fundem com lisossomas, e as moléculas de LDLs são enzimaticamente degradadas, fazendo com que o colesterol livre seja liberado para o citoplasma. Outros tecidos não hepáticos (i.e., glândulas suprarrenais, células musculares lisas, células endoteliais e células linfoides) também utilizam a via dependente de receptores para LDLs para obter o colesterol necessário para a síntese de membranas e de hormônios. Esses tecidos podem controlar sua incorporação de colesterol através da adição ou da remoção de receptores para LDLs. A via fagocítica envolve a ingestão por monócitos e macrófagos fagocíticos. Essas células fagocitárias apresentam receptores que se ligam às LDLs que foram oxidadas ou quimicamente modificadas. A quantidade de LDLs que é removida pela via fagocítica está diretamente relacionada aos níveis plasmáticos de colesterol. Quando existe uma diminuição nos receptores de LDLs ou quando os níveis de LDLs excedem a disponibilidade dos receptores, a quantidade de LDLs que é removida pelas células fagocitárias é grandemente aumentada. A captura de LDLs por macrófagos na parede arterial pode resultar no acúmulo de ésteres de colesterol insolúveis, na formação de células espumosas e no desenvolvimento de aterosclerose. As HDLs são sintetizadas no fígado e frequentemente são referidas como o "bom colesterol". As HDLs participam no transporte reverso do colesterol através do carreamento do colesterol dos tecidos periféricos para o fígado. Considera-se que as HDLs, que têm baixo conteúdo de colesterol e são ricas em fosfolipídios de superfície, facilitem a eliminação de colesterol da periferia (incluindo placas ateromatosas) e o transportem para o fígado, onde ele pode ser excretado em vez de ser reutilizado na formação de VLDLs (transporte reverso de colesterol). O mecanismo pelo qual as HDLs promovem a movimentação de colesterol das células periféricas para as HDLs pobres em lipídios envolve um transportador de lipídios especializado denominado ABCAl (ATP- binding cassete transporter A class J). Defeitos nesse sistema (resultantes de mutações no transportador ABCAl) são responsáveis pela doença de Tangier, que se caracteriza por aterosclerose acelerada e pouca ou nenhuma HDL. Acredita-se também que as HDLs inibam a captura celular de LDLs através da diminuição da oxidação, consequentementeprevenindo a captura das LDLs oxidadas pelos receptores de remoção nos macrófagos. Observou-se que o exercício regular, o consumo moderado de álcool e certos medicamentos lipídicos aumentam os níveis de HDLs. O tabagismo e a síndrome metabólica, que são propriamente fatores de risco para a aterosclerose, também estão associados a níveis reduzidos de HDLs. HIPERCOLESTEROLEMIA A hiperlipidemia descreve os níveis de ideais a muito altos de colesterol-LDL, níveis de desejáveis a altos de colesterol total e níveis baixos a altos de colesterol-HDL O NCEP recomenda que todos os adultos com mais 20 anos de idade tenham um perfil de lipoproteínas em jejum (colesterol total, colesterol-LDL, colesterol-HDL e triglicerídeos) medido uma vez a cada 5 anos. Se a testagem é feita em estado de não jejum, apenas o colesterol total e as HDLs são considerados úteis. Um acompanhamento do perfil das lipoproteínas deve ser feito em pessoas com níveis de colesterol total sem estar em jejum de 200 miligramas por decilitro ou mais, ou níveis de HDLs menores que 40 miligramas por decilitro. As medições de lipoproteínas são particularmente importantes em pessoas em alto risco de desenvolvimento de doença cardíaca coronária (DCC) Os níveis séricos de colesterol podem estar elevados como resultado de um aumento de qualquer um dos tipos de lipoproteínas - quilomícrons, VLDLs, IDLs, LDLs ou HDLs. O sistema de classificação comumente usado para hiperlipidemia é baseado no tipo de lipoproteína envolvida (Tabela 22.3). Vários fatores, incluindo nutrição, genética, medicamentos, condições de comorbidade e doenças metabólicas, podem elevar os níveis sanguíneos de lipídios. A maioria dos casos de níveis elevados de colesterol é provavelmente multifatorial. Algumas pessoas podem ter uma sensibilidade aumentada ao colesterol da dieta, outras podem ter falta de receptores para LDLs, e outras ainda têm uma síntese alterada de apoproteínas (incluindo a síntese excessiva de apoB-100, a principal apoproteína nas LDLs) A hipercolesterolemia pode ser classificada como hipercolesterolemia primária ou secundária. A hipercolesterolemia primária descreve níveis elevados de colesterol que se desenvolvem independentemente de outros problemas de saúde ou de comportamentos de estilo de vida, enquanto a hipercolesterolemia secundária está associada a outros problemas de saúde e comportamentos. Muitos tipos de hipercolesterolemia primária têm base genética. Pode haver uma síntese defeituosa das apoproteínas, uma falta de receptores, receptores defeituosos ou defeitos no manejo de colesterol na célula que são geneticamente determinados. Por exemplo, o receptor para LDLs é deficiente ou defeituoso na doença genética conhecida como hipercolesterolemia familiar (do tipo 2A). Esse tipo de hipercolesterolemia autossômica dominante resulta de uma mutação no gene que especifica o receptor para LDLs. Como a maior parte do colesterol circulante é removida por mecanismos dependentes de receptores, os níveis sanguíneos de colesterol estão marcadamente elevados em pessoas com essa doença. A doença é provavelmente uma das doenças mendelianas mais comuns. Os níveis plasmáticos de LDLs em heterozigotos variam entre 250 e 500 miligramas por decilitro, enquanto em homozigotos os níveis de colesterol-LDL podem- se elevar a 1.000 miligramas por decilitro. Embora os heterozigotos comumente tenham um elevado nível de colesterol desde o nascimento, eles não desenvolvem sintomas até a vida adulta, quando frequentemente desenvolvem xantomas (i.e., depósitos de colesterol) ao longo dos tendões, e quando a aterosclerose aparece. O infarto do miocárdio antes dos 40 anos de idade é comum. Os homozigotos são muito mais gravemente afetados; eles têm xantomas cutâneos na infância e podem experimentar um infarto do miocárdio até mesmo com 1 ou 2 anos de idade. Causas da hiperlipoproteinemia secundária incluem a obesidade com ingesta de altas calorias e o diabetes mellitus. Dietas de altas calorias aumentam a produção de VLDLs, com a elevação dos triglicerídeos e a alta conversão de VLDLs em LDLs. A ingestão excessiva de colesterol pode reduzir a formação de receptores para LDLs e consequentemente diminuir a remoção das LDLs. Dietas que são altas em triglicerídeos e gorduras saturadas aumentam a síntese de colesterol e suprimem a atividade dos receptores de LDLs. No diabetes mellitus e na síndrome metabólica, a típica dislipidemia é vista com a elevação dos triglicerídeos, baixo teor de HDLs e mínima ou modesta elevação das LDLs. Outras doenças sistêmicas que podem elevar os lipídios incluem o hipotireoidismo, a síndrome nefrótica e a doença hepática obstrutiva. Medicamentos tais como betabloqueadores, estrógenos e inibidores de proteases (usados no tratamento da infecção pelo vírus da imunodeficiência humana [HIV]) também podem aumentar os níveis lipídicos. Vários elementos dietéticos afetam o colesterol e suas frações lipoproteicas: (1) ingesta excessiva de calorias, (2) gorduras saturadas e trans e (3) colesterol. As calorias em excesso reduzem de forma consistente as HDLs e elevam de forma menos consistente as LDLs. As gorduras saturadas na dieta podem influenciar fortemente os níveis de colesterol. Cada 1 % da gordura saturada relativo à ingesta calórica aumenta o nível de colesterol em uma média de 2,8 miligramas por decilitro. Dependendo de diferenças individuais, ela aumenta as VLDLs e as LDLs. As gorduras trans, fabricadas a partir de óleos vegetais e utilizadas para aumentar o sabor e estender a data de validade dos alimentos perecíveis, são mais aterogênicas do que as gorduras saturadas. O colesterol da dieta tende a aumentar o colesterol-LDL. Em média, cada 100 miligramas de colesterol ingerido aumenta o colesterol sérico em 8 a 10 miligramas por decilitro.
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