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1 FUNDAMENTOS ANTROPO-FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO PALHANO, Tânia Rodrigues. In PEREIRA, M. L. (org.). Ciências Naturais. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2009.alavras Aula I.I – O SABER MITOLÓGICO E O SABER FILOSÓFICO Na Grécia antiga o homem se revela ao mundo como ser questionador, ao buscar no uso de sua razão a origem das coisas e da natureza. Mas, antes que o homem venha questionar sobre a origem do universo e o princípio originário de todas as coisas, o povo grego acreditava nos mitos e recebia das explicações mitológicas, através dos deuses e dos seres da mitologia, a compreensão para o entendimento da origem das coisas, das forças da natureza e das ações existentes na vida do ser humano. Veja bem o tema do texto pressupõe o entendimento da palavra mito, que em sua etimologia, vem do grego mythos e designa uma palavra formulada, quer se trate de uma narrativa, de um diálogo ou da enunciação de um projeto (VERNANT, 1999). Inicialmente, mito não se opõe ao lógos, termo que tem valores semânticos unidos na origem grega. Aos poucos, o discurso narrado que se espalha é anunciado, apresenta características narrativas de seres imaginários, deuses que simbolizam aspectos como forças da natureza, sentimentos da vida humana. Nesta compreensão identifica-se a oposição entre mito e lógos. PRIMEIRO: O MITO Fonte: Disponível em http://www.fotosearch.com.br Acesso em 05 de novembro 2014 Resumo Aula I.I – Nesta aula, abordaremos as concepções de homem e trabalho no pensamento mitológico e filosófico. Na narrativa do mito de Prometeu, o homem se apresenta como ser inferior aos deuses, e o trabalho como como tarefa punitiva e prazerosa; e no saber filosófico, pela visão de Aristóteles, o homem é compreendido como um animal político e o trabalho como manual e intelectual. http://www.fotosearch.com.br/ 2 Você já ouviu falar de algum mito grego, como o mito de Prometeu ou o mito da Caixa de Pandora? Através destes mitos vamos mostrar agora como se explica a importância do trabalho na sociedade atual. Escolhemos identificar o tema trabalho enquanto atividade exercida pelo humano como componente essencial da sua vivência para o bem estar na vida cotidiana. Na mitologia grega o mito de Prometeu narrado por Hesíodo em “Teogonia” e “Os Trabalhos e os Dias” elucida a importância do trabalho na formação do homem europeu do qual herdamos pela cultura da civilização, os valores, por estes, a nós apresentados. Prometeu é conhecido por sua métis entre os homens, ou seja, sua astúcia ou arte de embustear, e na presença de deuses e homens disputa com Zeus, também conhecido por sua métis, no caso, de soberano e divino que tem a astúcia e inteligência de senhor do relâmpago e do céu. Instaura-se o duelo entre a astúcia humana e a astúcia divina. Muito bem, siga em frente com as seguintes indagações: Quem será o vencedor? Quem conseguirá enganar o outro? O fogo roubado por Prometeu Fonte: Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Jan_ Cossiers_-_Prometheus_Carrying_Fire.jpg. Acesso em 08 fev. 2009. A narrativa grega do mito prometéico em Hesíodo consiste num duelo entre o titã e o olímpico. “Num jogo de ofertas recíprocas de presentes ardilosos, de doações com armadilhas, que podem ser aceitos ou recusados.” (VERNANT, 1999, p. 155). A métis de Prometeu, feita de astúcia previdente, ardil e embuste, associa-se a ausência de métis em Epimeteu, o qual só compreende algo posteriormente, e se deixa sempre enganar. O par dos dois irmãos gêmeos, opostos e complementares, isto é, a união da previdência sutil e da irreflexão estúpida, caracteriza a condição humana (VERNANT, 1999, p. 155). Crie no seu computador uma pasta específica da disciplina e nesta pasta transcreva o significado para as palavras do ícone ao lado. Por algum motivo, não tenha acesso ao computador, a pasta digital pode ser substituída por um caderno para escrever nele o solicitado. Seguimos então com o mito de Prometeu, em uma versão de Wulf (2005, p.67). Durante o duelo os dois oferecem presentes “falsificados” um ao outro. É Zeus quem triunfa. Os humanos e seu representante Prometeu são punidos pela ousadia de se compararem aos deuses. Eles acabam sendo colocados num patamar intermediário entre os animais e os deuses. Segundo Hesíodo, Prometeu tentou enganar Zeus oferecendo pedaços bem embalados de bovino sacrificado, mas pouco nutritivos. http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Jan_%20Cossiers_-_Prometheus_Carrying_Fire.jpg http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Jan_%20Cossiers_-_Prometheus_Carrying_Fire.jpg 3 Mas, Zeus descobre a tempo a intenção de Prometeu. Encolerizado Zeus proíbe os homens de usar o fogo divino ao qual eles teriam direito até então. Sem que Zeus percebesse Prometeu rouba o fogo e o leva até os homens. Na luta pela vida, Prometeu desafia Zeus roubando-lhe o fogo. Isto faz emergir a ira de um Deus diante da afronta de um ser hierarquicamente inferior. Ocorre então, a punição, os deuses não deixam a afronta impune. Zeus proíbe o uso do fogo; os deuses escondem o trigo dos homens, um dos alimentos mais necessários. Antes os homens precisavam apenas de se abaixar para apanhar o trigo, que crescia espontaneamente em todos os lugares, agora que este, estava escondido, eram obrigados a cultivá-lo. Desde então os homens tiveram que se submeter ao trabalho pesado, o ponos; eles precisavam laborar, semear e colher para poder se alimentar. Trabalhar é portanto, a punição pela ousadia de desafiar os deuses. Os deuses não precisam se alimentar; os animais encontram sua comida sem trabalhar, apenas os homens são obrigados a trabalhar para ter o que comer. (WULF, 2005, p.68). E a ira de Zeus prossegue oferecendo aos homens um presente caracterizado por um duplo sentido, por um lado fadigoso e por outro prazeroso. Continuamos com a seguinte passagem em Wulf (2005, p.68). Ele manda um presente aos homens, que não poderia ser mais sedutor e ao mesmo tempo mais perigoso: Pandora, o presente de todos os deuses, ou seja, a mulher. Ela é uma isca cuja natureza animal fica escondida. Seu estômago engole o alimento produzido pelo trabalho. Os homens são escravos do estômago de Pandora, de suas necessidades que são a origem de suas preocupações e de seus esforços. Ela representa também o fogo que Zeus deu aos homens no lugar do fogo roubado, e pelo qual eles serão consumidos. Por fim o seio de Pandora corresponde ao seio da terra. Para produzir a vida e a conservar, é necessário cultivar a terra e fecundar a mulher. Eis uma síntese apresentada por Wulf (2005), sobre o aspecto de ambigüidade, identificado no presente divino ligados aos elementos do mito. Todos os presentes são ambíguos: por um lado se dá alguma coisa, por outro, retira- se algo. O bem e o mal se confundem. Todos os elementos do mito estão ligados de forma contingente: o fogo (roubado), a mulher e o casamento, o cultivo do trigo e o trabalho. Todos esses elementos servem para lembrar ao homem o seu lugar entre os deuses e os animais. E qual o lugar do homem no contexto do mito de Prometeu? Como é definido esse lugar? Os homens são seres que devem obediência aos deuses e para obter seus favores devem oferecer sacrifícios. Precisam sobreviver, necessitam do fogo para comer, para trabalhar. Para se alimentar precisam cultivar a terra, plantar, colher o produto para sua subsistência. E para a reprodução da espécie têm necessidade de mulheres. Este mito apresenta o trabalho por um lado como algo fastidioso, como algo que exige sacrifício diante da punição a ser realizada, ao tempo em que apresenta a oportunidade que o humano tem de desenvolver-se. Por outro lado, apresenta o aspecto prazeroso o ser oferecido aos homensum presente sedutor, na figura de Pandora, que irá engolir o alimento produzido pelo trabalho do homem. 4 O caráter de ambiguidade do presente é demonstrado por parte dos presentes divinos na Grécia antiga. Vale destacar, o grande cavalo de madeira, citado na obra A Ilíada do poeta grego Homero que trata da guerra de Tróia, um presente oferecido pelos gregos aos troianos, com esse aspecto ambíguo. Agora que você já aprendeu sobre o saber mitológico na Grécia, ficará mais fácil compreender a importância da mitologia para o surgimento da filosofia. DO MITOLÓGICO AO LÓGICO Em Aristóteles, no seu livro Política, o trabalho surge como uma atividade penosa e não valorizada, e cabe aos escravos este tipo de atividade. Essa idéia segue com os gregos no período da pólis grega, momento de apogeu da democracia ateniense, da arte grega e sua tragédia, e da filosofia de Sócrates, Platão e Aristóteles nos séculos V e IV antes da era cristã. Aristóteles (384-322 a. C.) Fonte: Disponível em http://www.suapesquisa.com/aristoteles/ Acesso em 08 fev.2009. A verdadeira atividade do homem ocorria em função do trabalho do escravo, a este cabia a lida do trabalho manual, ao grego pertencia a participação na vida pública – bios politikos. Vejam como Aristóteles define o escravo ao estabelecer o seu lugar na família grega. (ARISTÓTELES, Política, 2005, p.144-149) Anote em sua pasta ou caderno, a compreensão da lógica da condição natural para explicação da divisão do trabalho, exposta por Aristóteles, na citação abaixo. Aquele que pode antever, pela inteligência, as coisas, é senhor e mestre por natureza; e aquele que com a força do corpo é capaz de executá-la é por natureza escravo. [grifos nosso]. Portanto, entre senhor e escravo existem interesses em comum. (...) Contudo a natureza fez distinção entre a mulher e o escravo. Mesmo não sendo sovina como o ferreiro que modela a faca délfica para vários usos, a natureza determina a utilidade de cada coisa, e cada instrumento é mais bem feito quando determinado para atender a uma e não a muitas finalidades. Aristóteles define a família do ponto vista natural. Hesíodo tem razão ao dizer: “Primeiro o lar, a esposa e um boi para o arado”, uma vez que o boi é o escravo dos pobres. (...) A família é a associação estabelecida por natureza para suprir as necessidades diárias dos homens, e seus membros são chamados, por Charondas, “companheiros do pão”; já Epimênides, o Cretense, denomina-os “companheiros de comer”. Mas, quando várias famílias estão unidas em certo número de casas, e essa associação aspira a algo mais do que suprir as necessidades cotidianas, constitui-se a primeira sociedade, a aldeia. http://www.suapesquisa.com/aristoteles/ 5 Prossegue Aristóteles com a definição de Estado. Quando várias aldeias se unem numa única comunidade, grande o bastante para ser auto-suficiente (ou para estar perto disso), configura-se a cidade, ou Estado – que nasce para assegurar o viver bem. Portanto, a cidade-Estado é uma forma natural de associação, assim como o eram as associações primitivas das quais ela se originou. A cidade-Estado é a associação resultante daquelas outras, e sua natureza é, por si, uma finalidade; porque chamamos natureza de um objeto, o produto final do processo de aperfeiçoamento desse objeto, seja ele homem, cavalo, família ou qualquer outra coisas que tenha existência. Na linha de pensamento de condição natural, Aristóteles elucida o dom da palavra no homem, e o apresenta como um animal político. Veja na citação abaixo, como Aristóteles, explica o seu entendimento sobre a concepção de homem e anote em sua pasta ou caderno: Por conseguinte, é evidente que o Estado é uma criação da natureza e que o homem é, por natureza, um animal político. [grifo nosso]. (...) É evidente que o homem é um animal mais político do que as abelhas ou qualquer outro ser gregário. A natureza, como se afirma freqüentemente, não faz nada em vão, e o homem é o único animal que tem o dom da palavra. E mesmo que a mera voz sirva para nada mais do que uma indicação de prazer ou de dor, e seja encontrada em outros animais (uma vez que a natureza deles inclui apenas a percepção de prazer e de dor, a relação entre elas é não mais que isso), o poder da palavra tende a expor o conveniente e o inconveniente, assim como o justo e o injusto. Ao expor sobre o entendimento das partes da administração da família, Aristóteles ressalta que a família para ser completa deve consistir de escravos e homens livres. Ao definir a situação do escravo na família, Aristóteles identifica-o como uma ferramenta de manejo. Na relação senhor e escravo, Aristóteles apresenta a seguinte compreensão: Um escravo não é apenas um servo de seu senhor como pertence totalmente a ele, enquanto o senhor é senhor de seu escravo mas não lhe pertence. Essas considerações mostram quais são a natureza e a função do servo; qualquer ser humano que, por natureza, pertença não a si mesmo mas a outro é, por natureza, escravo; e um ser humano pertence a outro sempre que fizer parte da propriedade, ou seja, um instrumento que tem uma existência separada e útil para os propósitos da vida. E se perguntarmos se alguém quer ser escravo por natureza, que resposta daria Aristóteles. Para este, a escravatura não é uma violação da natureza, mas uma situação natural de necessidade, apresenta com facilidade uma resposta, “é conveniente e não apenas necessário, que alguém faça as leis e outros as obedeçam; desde o momento em que nascem, os homens estão determinados uns para a sujeição, outros para o comando”. (ARISTÓTELES, 2005, p. 150) Aqui você encontra uma visão geral acerca do significado de homem e trabalho na visão do “MITO” e da “LÓGICA”. Uma apresentada pela mitologia, especificamente o mito de Prometeu, revela o lado punitivo do trabalho, justificado pela ira de Zeus, ao ser contrariado por um ser inferior, no caso, Prometeu. Pela mitologia os homens não são senhores de seu destino. São seres que devem obediência aos deuses e para obter seus favores devem oferecer sacrifícios. Há a necessidade por parte do superior que seu poder 6 seja reconhecido, por isso os homens só receberão os favores dos deuses se a estes oferecer os seus sacrifícios. A outra é uma explicação lógica por parte da filosofia de Aristóteles. Este elabora a divisão entre trabalho manual e trabalho intelectual, ao conceber que pela natureza humana há o mestre e escravo. E considera o homem como um animal político, ao afirmar que pela natureza o homem é o único animal que tem o dom da palavra. A explicação mitológica sugere a narrativa, a crença religiosa e deste modo, se desenha em oposição ao lógos. A explicação lógica ou filosófica enfatiza a argumentação, a razão humana, ou seja, dá a razão o fundamento de alguma coisa. AULA I.II – A ORIGEM DA FILOSOFIA E OS PRIMEIROS FILÓSOFOS O saber filosófico surge da influência do pensamento mitológico, significando para alguns pensadores uma continuidade e não uma ruptura destes tipos de saberes. Veja como Chauí (2002, p. 35-38) apresenta a linha da continuidade, pelos estudiosos em filosofia grega, Jaeger e Vernant Para Werner Jaeger, pensador alemão: O que aprendemos? 1. O Saber mitológico: Significado da palavra mito; O mito de Prometeu; Concepção de homem e trabalho no mito de Prometeu. 2. O Saber filosófico A lógica da condição natural em Aristóteles para explicar a natureza do senhor e do escravo. A concepção de homem e de trabalho em Aristóteles. 3. A explicação mitológica sugere a narrativa, a crença religiosa e deste modo, se desenha em oposição ao lógos. A explicação lógica ou filosófica enfatiza a argumentação, a razão humana, Resumo AulaI.II – Esta aula discorrerá sobre as condições históricas da origem da filosofia na Grécia e do surgimento dos primeiros filósofos enquanto filósofos da physis e da metafísica, questionadores da origem das coisas e do universo. 7 a filosofia nasce passando pelo interior da epopéia homérica e dos poemas de Hesíodo. o mito recebe da filosofia a forma lógica, enquanto a filosofia recebe dos mitos os conteúdos que precisam ser pensados. (unidade arquitetônica ou conexão orgânica). Para Jean-Pierre Vernant, helenista francês: o mito é essencialmente uma narrativa mágica ou maravilhosa. Sua função é conservar a realidade social, e num plano imaginativo diluir tensões, conflitos e dificuldades. a filosofia nasce como racionalização e laicização da narrativa mítica, superando-a e deixando-a como passado poético e imaginário. DO DIVINO (MITO) PARA O NATURAL (FILOSOFIA) A filosofia surge com o questionamento do homem grego sobre a origem das coisas e do universo, buscando a explicação através de elementos existentes na natureza, como o ar, a água, a terra e o fogo, elementos que também encontram-se presentes na narrativa dos deuses e seres apresentados por Homero e Hesíodo. Em Chauí (2002, p. 40) identificamos algumas explicações sobre as condições históricas do nascimento da filosofia na Jônia, tais como: Navegações e as transformações técnicas – tiveram o poder de desencantar o mundo Invenção do calendário, da moeda e da escrita alfabética – leva a capacidade de abstração e ao surgimento da filosofia. Principal condição: surgimento da pólis – Cidade-Estado. Na pólis a filosofia surge ligada a alétheia (verdade) e a doxa(opinião). A alétheia como verdade do poeta, adivinho, sábio da Grécia arcaica, convive com a doxa, na realidade da pólis, onde a decisão política é tomada em assembléia, aquele que fala para fazer com que sua opinião e escolha sejam a decisão de todos. As indagações dos primeiros filósofos surgiam em torno da origem, nascimento, desenvolvimento e morte das coisas e dos seres, como também do próprio universo. Eles buscavam um princípio fundamental que constituísse todas as coisas. Assim, se especulava sobre a contradição, a identidade. Os filósofos perguntavam sobres os seres e sua essência, com a decisão de não aceitarem como respostas as obviedades apresentadas pelas explicações mitológicas. Os primeiros filósofos buscam a explicação da ordem do mundo, por um princípio originário. A filosofia nasce como racionalização e laicização da narrativa mítica, superando-a e deixando-a como passado poético e imaginário. [...] A filosofia ao nascer como cosmologia, procura ser a palavra racional, a explicação racional, a fundamentação 8 pelo discurso e pelo pensamento da origem e ordem do mundo, isto é, do todo da realidade, do ser. (CHAUI, 2002, p. 37). Na filosofia nascente, nos séculos VII e VI aC, nas colônias gregas da Ásia Menor, Tales de Mileto, Anaximandro, Anaxímenes, os físicos da Jônia são considerados os primeiros filósofos, denominados de pré-socráticos. Anote em sua pasta ou caderno, a compreensão da palavra grega physis exposta na frase abaixo. Buscavam a physis, a fonte de originária de todas as coisas, o que abarca a totalidade, para a compreensão da arkhé, ou seja, o princípio de tudo o que existe. Tales de Mileto era matemático, comerciante, político, homem curioso da época. Em seus estudos conclui que a origem de tudo o que existe está na água, a substância de que todas as coisas são feitas. Para Anaximandro o universo era composto de água, ar, terra e fogo com um elemento fundamental chamado de apeíron. Um elemento “indeterminado e ilimitado” é o que dá origem a todas as coisas. É do apeíron que decorre o frio, a terra e o ar. Anaxímenes apresenta o ar como o elemento que dá origem a tudo. “Todas as coisa dele provém e todas as coisas nele se dissipam”. (BORNHEIM, 1988, p. 28). Ao contrário de Anaximandro, a physis para Anaxímenes exige ser determinada, isto se liga ao pensamento, pois, o pensar para ele exige determinações. Na figura de Pitágoras, os gregos se aproximam do pensamento metafísico que busca uma filosofia universalista ao supor que “os elementos dos números são os elementos de todas as coisas do universo e que todo o universo é harmonia e número”. (BORNHEIM, 1988, p. 50). PARMÊNIDES E HERÁCLITO Estes filósofos são considerados os mais importantes dos pré-socráticos e tidos como fundadores da filosofia ao colocarem “os problemas e as soluções, as questões e as respostas, as interrogações e os impasses que definiram, no século seguinte, a reflexão filosófica”. (CHAUI, p. 80). Heráclito escreve em prosa, enquanto Parmênides em verso, o primeiro abdica da vida política o outro participa ativamente, embora diferentes no agir e no pensar, entre estas e outras características, ambos apresentaram aos contemporâneos, os caminhos que fizeram nascer a filosofia num sistema coerente de pensamentos acerca da imutabilidade e da mudança do ser. Como os primeiros filósofos, Tales, Anaximandro, Anaxímenes e Pitágoras, que buscam o princípio de tudo o que existe, estes filósofos seguem em busca dos princípios e 9 da verdadeira natureza das coisas e do universo e se afastam de elementos materiais ao apresentarem um pensamento metafísico para compreensão da realidade das coisas. HERÁCLITO Fonte: Disponível em http://projetophronesis.com/Heráclito Acessso em 07/11/2014 Faz parte de uma geração anterior a Parmênides, nascido entre 504 e 500 a.C. Foi interpretado como enigmático e chamado de obscuro, talvez por buscar no logos, “compreendido como inteligência divina que governa o real”, (In BORNHEIM, 1988, p. 35) os sinais de verdade que são o pensamento e a palavra, e estas fontes de sinais se manifestam como pontos básicos de interpretação. No parágrafo abaixo você encontra uma visão geral sobre a concepção de mudança em Heráclito. “Todas as coisas estão em movimento” (In BORNHEIM, 1988, p. 35). Esta é a lei da mudança em Heráclito. Este fragmento dos poucos escritos que restou de seu pensamento expressa que a mudança e a contradição são características do processo do movimento. Nada permanece igual nada é fixo e parado. Vejamos o que fala Chaui (2002, p.81). O mundo como devir eterno. “Nos mesmos rios entramos e não entramos, somos e não somos”. Esse fragmento, possivelmente um dos mais conhecidos e citados, costuma ser assim traduzido: “Não podemos entrar duas vezes no mesmo rio: suas águas não são nunca as mesmas e nós não somos nunca os mesmos”. Neste fragmento expressa-se a idéia mestra de Heráclito, a saber, que o mundo é mudança contínua e incessante de todas as coisas e que a permanência é ilusão. Quando Platão escreve sobre Heráclito, destaca que para este “tudo flui”. Quer dizer que tudo passa e em tudo há um movimento que não cessa. O processo de mudança em Heráclito é ressaltado por Chaui (2002, p.81) na seguinte expressão: “o úmido seca, o seco umedece, o quente esfria, o frio esquenta, a vida morre, a morte renasce, o dia anoitece, a noite amanhece, a vigília adormece, o sono desperta, a criança envelhece, o velho se infantiliza”. A mudança que ocorre em tudo, não permite a permanência da identidade, a verdade reside no movimento da realidade. http://projetophronesis.com/Heráclito 10 PARMÊNIDES Nasce por volta de 500 a. C. em Eléia, no sul da Itália. Participou ativamente da política de sua cidade e supõe-se que pertenceu a uma família rica e de alta posição social. Para ele há dois caminhos de investigação filosófica: “o primeiro (diz) que o (ser) é e que o não ser não é”; (BORNHEIM, 1988, p.55), este é imutável, é o caminho da perfeição e que conduz a verdade. O caminho da verdade (aletheia) não seconfunde com o caminho da opinião (doxa), este último está associado “com a confusa experiência individual das realidades sensíveis é o caminho do Não-Ser, dominado pelo movimento”. (NUNES, 1997, p. 27). O que Parmênides quer dizer? Que o ser é e o nada não é. Ou seja, que o ser é e o não-ser não pode ser. Que o pensar e o ser são o mesmo. Ou seja, só é verdadeiro aquilo que é produzido pelo exercício do pensamento. Que o nada é não-ser, é o caminho da opinião (doxa). Ou seja, o caminho do não ser é dominado pelo movimento. Que o único caminho é o ser. Ou seja, que o verdadeiro ser é imóvel, uno e eterno. Com estas teses inauguram-se as categorias racionais do pensamento grego: imutabilidade e mutabilidade; identidade e contradição; são termos que perduram na problemática filosófica, uma dando origem ao idealismo e à compreensão idealista do mundo, e outra dando origem ao materialismo e compreensão materialista do universo. O que aprendemos? 1. Origem da filosofia: A filosofia nasce como racionalização e laicização da narrativa mítica; A filosofia surge com o questionamento do homem grego sobre a origem das coisas e do universo; Principal condição histórica do surgimento da filosofia: surgimento da pólis – Cidade-Estado. 2. Heráclito Todas as coisas estão em movimento. A concepção de homem e de trabalho em Aristóteles. 3. Parmênides O caminho da verdade é imutável. 11 AULA I.III – FILOSOFIA HUMANISTA: OS SOFISTAS E O HOMEM GREGO Com a pólis surge uma nova forma de pensar o mundo, este desponta como uma nova ideologia, a nova visão de mundo, mais racional, mais organizada, mais sistematizada. A filosofia sai do espaço geográfico das colônias jônias para o centro cultural da Grécia, para Atenas do século V. Com esta mudança, ocorre uma modificação na temática filosófica: da Natureza para o Humano! Do discurso cosmológico e materialista à discussão do humano na pólis. Com os sofistas a questão incide sobre o humano, é necessário agora um discurso moral e político. Para Nunes (1997, p. 31), “na pólis a convivência humana precisa ser fundamentada, bem como será preciso um modelo de enquadramento social efetivo: a “Paidéia”, o ideal educativo”. Aqui você encontra uma visão geral sobre o significado de Pólis. Pólis em grego é: Cidade; Cidade-Estado; reunião dos cidadãos em seu território e sob suas leis. Dela se deriva a palavra política (politikós: o cidadão, o que concerne ao cidadão, os negócios públicos, a administração pública). (Chauí, 2002, p.509). A Paidéia como formação do homem grego, onde a idéia de educação se alia a todo esforço humano, seja como indivíduo, seja na vivência em sociedade. OS SOFISTAS OU A ARTE DE ENSINAR Não há escritos dos sofistas, apenas fragmentos dos dois representantes principais, Protágoras de Abdera (481-411 aC) e Górgias de Leontini (483-375 aC). Estes filósofos não possuíam as preocupações cosmológicas dos jônios. Preocuparam-se com a educação voltada para a formação do cidadão na democracia ateniense. Iniciaram uma nova sistemática para o ensino na vida da pólis voltado para a ética e a política. Até antes do século XIX, os sofistas eram conhecidos como mentirosos e demagogos por parte de seus inimigos como Platão e outros, os quais deixaram relatos sobre esses. Os pesquisadores que, atualmente estudam sobre a filosofia e educação na Grécia consideram os sofistas fundadores da pedagogia democrática, mestres da arte da educação do cidadão. O cidadão da pólis carecia de uma nova educação. A sua finalidade era a superação dos privilégios da antiga educação aristocrática rural, em que a capacitação da virtude, a Resumo da Aula I.III – A aula tratará da educação do ponto de vista dos primeiros filósofos que abordam a questão do humano, da educação e da filosofia na pólis grega, dando ênfase a formação do homem pelo ideal educativo da retórica na democracia. 12 arete, residia na formação do guerreiro e “para a qual a arete só era possível aos que tinham sangue divino”. (JAEGER, 2001, p.337). Estas palavras são de Werner Jaeger, em sua obra Paidéia: a formação do homem grego, que aponta que o grande movimento educativo do séc. V, no Estado grego é integralmente político-pedagógico. “Foi das necessidades mais profundas da vida do Estado que nasceu a idéia da educação, a qual reconheceu no saber a nova e poderosa força espiritual daquele tempo para a formação de homens, e a pôs a serviço dessa tarefa”. (2001, p.337). Os sofistas quando chegam na pólis vindos da Jônia e da Magna Grécia, ressaltam como objetivo da educação a formação do cidadão e do político na democracia ateniense. O que quer dizer a palavra sofista? Refere-se ao mestre ou professor de uma arte ou técnica ou ofício. Na expressão de Chauí (2002, p.161), “é um erudito – possui todos os conhecimentos úteis sobre e para o objeto de seu ensinamento – e é um virtuoso – sabe escolher e apresentar seus temas de maneira atraentes”. Os sofistas se empenham em ensinar a arete política buscando a formação do espírito na vida democrática pelo ideal educativo da retórica. Para isto forneciam seu saber aos jovens em troca de pagamento. Deste modo, os sofistas tornam-se os primeiros professores pagos na história da educação. Vejamos em Chauí (2002, p.167), a explicação sobre o que é a retórica. “Para os sofistas, a retórica, tékhne rhetoriké, é a arte de persuadir oferecendo os lógoi, isto é, as razões ou os argumentos e definições de uma coisa, tendo como base não o que a coisa seria em si mesma ou por natureza (phýsei), mas tal como ela nos parece e nos aparece e tal como nos será útil. Em outras palavras, a retórica parte de nossas opiniões sobre as coisas e nos ensina a persuadir os outros de que nossa opinião é a melhor.” A retórica como arte da persuasão, tem por base a argumentação, e apóia-se na dialética, arte da discussão. O uso de argumentos na retórica, pressupõe o direito de todos à opinião. Como educadores e mestres da retórica, os sofistas buscavam a preparação do cidadão para a participação na vida política. “Apresentavam-se como professores de dialética e retórica, ensinando, com a primeira a dizer sim e não para uma mesma questão, isto é, a defender e a atacar o mesmo assunto com argumentos igualmente fortes, e com a segunda, a encontrar expediente verbais e emotivos para fortalecer um argumento, fazendo-o melhor ou mais persuasivo, superior aos demais” (CHAUI, 2002, p. 168). O alvo da crítica aos sofistas reside no fato de não aceitarem o costume, a lei não- escrita como naturais, mas, sim como nómos (convenção acordada por um grupo e que se torna lei para esse grupo), é aquilo de se faz uso, ou seja, o costume com força de lei. 13 Para os aristocratas valores e idéias eram naturais ou instituídos por natureza porque concebiam a vida social e política a partir de laços de sangue. O modo de vida independente dos sofistas, não ter cidadania fixa, andar de cidade em cidade ensinando aos jovens, faz emergir um “tipo de educação completamente novo, individualista na sua raiz mais íntima, por mais que se falasse de educação para a comunidade e das virtudes dos melhores cidadãos” (JAEGER, 2001, p. 347). O HOMEM, A FILOSOFIA, A EDUCAÇÃO Neste tópico, apresentamos uma síntese dos conceitos presentes no nome da disciplina em estudo, para a compreensão da relação entre eles e sua contribuição no campo da educação. FILOSOFIA O mundo da filosofia é acessível a todo ser pensante, pois, a atitude filosófica é uma atitude que passa pelo pensamento reflexivo, refletir vem do latim reflectere que quer dizer pensar o já pensado, voltar ao já pensado e elaborar um novo pensamento, o que ocorre pela razão ligada a ação. A filosofiacomo conhecimento sistemático é um modo de conhecer, questionar, construir conceitos e buscar verdades, como ajuda ao processo de compreensão da realidade através do agir, pensar e sentir do homem. E no questionamento com a natureza e a realidade, o homem constrói e critica verdades. EDUCAÇÃO O debate sobre a educação aborda um campo de interpretações sobre o homem. O homem é enigmático. O homem fala e se compreende pelo pensamento. A essência do homem é mutação, pois há evolução do homem na história. O homem está ligado à natureza, história, cultura, economia e sociedade. A concepção de homem envolve uma crise em torno de sua compreensão. O conhecimento de si mesmo é a mais alta meta da indagação filosófica. Todos os homens, por natureza, desejam conhecer. Para encontrar a verdadeira natureza do homem os filósofos argumentam em torno da alma, do sujeito, do objeto, da razão, da ideia, da matéria. ANTROPOLOGIA A antropologia filosófica apresenta a questão: o que é o Homem? Em Vaz (2006, p.5), a resposta a esta questão “fica distendida entre os dois polos da natureza e 14 da cultura, cada um exercendo poderosa atração sobre os conceitos com os quais a Antropologia filosófica pretende explicar o homem”. Ao tratarmos sobre o homem no campo da educação uma imensa extensão de saberes envolve o homem como objeto de estudo. Há um acúmulo de conhecimentos sobre o homem, que percorre as vias de três pólos epistemológicos fundamentais, destacados em Vaz (2006) como, os das formas simbólicas, o do sujeito e o da natureza. O primeiro situado nas ciências da cultura, o outro nas ciências que envolvem a ação do indivíduo no contexto social e histórico, e o terceiro nas ciências naturais do homem. Ao ser lançado na pólis grega a temática filosófica sobre o humano, a questão incide na felicidade do homem, e no modelo de uma nova educação a serviço do bem da comunidade. Quando o homem começa a se comunicar no momento da pólis grega ocorre o fato pedagógico articulado ao poder político. Quais seriam as tarefas da educação hoje diante das diferentes imagens sobre o que é a vida humana? O problema da educação é o problema do homem; A educação leva a humanização; A educação exige o respeito ao outro, seja o ser humano, o animal, o meio ambiente. A educação exige o cuidado com a natureza. Entre outros saberes, a filosofia ajuda a perceber além do que é aparente. Pela reflexão filosófica, você pode se aproximar de um alcance mais significativo para a realidade, afastando-se do mundo da obviedade. O que aprendemos? 1. Os sofistas e a formação do homem: Do tema da natureza para o humano; Significado da palavra sofista; A Paidéia e a formação do cidadão da pólis; O método de ensino dos sofistas. 2. Como educadores e mestres da retórica, os sofistas se empenharam em ensinar a arete politica ao buscar a formação do espírito na vida democrática. Para isto forneciam seu saber aos jovens em troca de pagamento, deste modo, os sofistas tornam-se os primeiros professores pagos na história da educação. 3. Filosofia, antropologia, educação. Relação entre filosofia, antropologia e educação; Conceito de antropologia; Algumas tarefas da educação hoje. 15 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARISTÓTELES. Política. Trad. Therezinha Monteiro e Baby Abrão. São Paulo: Nova Cultural, 2004. (Os Pensadores). p.144-150. BORNHEIM, Gerd. Os filósofos pré-socráticos. São Paulo: Cultrix, 1988. CHAUI, Marilena. Introdução à História da Filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles. Vol. 1. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. P. 36-37 e 46-47. ____, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2005. JAEGER, Werner. Paidéia: a formação do homem grego. Trad. Artur M. Parreira. São Paulo: Martins fontes, 2001. LARA, Tiago Adão. A Filosofia nas suas origens gregas. Petrópolis: Vozes, 1989. p. 79 - 166. MARCONDES, Danilo. 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