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1 MARC 10 – Heloísa Paraíso 7ºP Transtornos do Humor INTRODUÇÃO O humor é o estado emocional basal do indivíduo e é expresso de forma difusa. A oscilação do humor ocorre em todos e é considerada normal. Porém, quando acontece de forma exagerada, intensa e duradoura de forma a causar prejuízo, é considerada patológica. Usamos alguns termos para designar o estado de humor do paciente. São considerados transtornos do humor as doenças que tem como principal alteração o estado de humor. Transtorno bipolar Depressão maior Distimia Transtorno disfórico pré-menstrual Ciclotimia Transtorno disruptivo da desregulação do humor. Humor x Afeto - Humor: disposição afetiva de fundo, que vai penetrar em toda experiência psíquica do indivíduo. - Afeto: qualidade do tônus emocional em resposta a um estímulo. Transtorno Depressivo Maior O transtorno depressivo maior é um transtorno de humor no qual o paciente apresenta episódios onde são percebidas alterações no afeto, na cognição e em funções neurovegetativas. Embora o diagnóstico seja dado com apenas um episódio depressivo, a doença geralmente apresenta recorrência se não tratada. Ela atinge cerca de 121 milhões de pessoas ao redor do mundo, com prevalência maior no sexo feminino na proporção de 3:1. O Brasil ocupa a quinta posição mundial de transtornos depressivos com prevalência de 9,3%. Um episódio depressivo é definido como uma alteração do estado basal do paciente por um período mínimo de 2 semanas, nas quais ele deve apresentar pelo menos 5 dos critérios abaixo, sendo obrigatório a presença do critério 1 ou do critério 2. Os sintomas devem causar sofrimento significativo, prejuízo funcional e estarem presentes quase todos os dias, na maior parte do dia. Além disso, deve-se ter ausência de doenças clínicas ou uso de substâncias. 1. Humor deprimido. 2. Acentuada diminuição do interesse ou prazer nas atividades (anedonia). 3. Perda ou ganho significativo de peso sem dieta ou aumento/redução do apetite. Não consegue engolir alimentos muito sólidos (sensação de bolo na garganta) 4. Alteração do padrão do sono Insônia terminal: paciente pega logo no sono e acorda durante a madrugada e fica pensando nos problemas, não consegue voltar a dormir. É a mais comum. Insônia inicial: não consegue pegar no sono. Pacientes que possuem insônia terminal e inicial. 5. Agitação ou retardo psicomotor. 6. Fadiga ou perda de energia. 7. Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva. 8. Capacidade diminuída de pensar ou se concentrar. 9. Pensamentos recorrentes de morte (ideação suicida). FATORES DE RISCO Fatores ambientais como situações estressoras na infância, abuso sexual e violência. História familiar de depressão e presença de doença orgânica que cause dor crônica aumentam a possibilidade de TDM. 2 MARC 10 – Heloísa Paraíso 7ºP SUBTIPOS DEPRESSIVOS Os subtipos depressivos são classificados de acordo com a sintomatologia (melancólica ou somática, psicótica, atípica), a polaridade (bipolar ou unipolar), o curso (recorrente, crônico), fatores desencadeantes (sazonal, puerperal) e gravidade (leve, moderada ou grave). GRAVIDADE É um critério pouco preciso. Avalia o grau de prejuízo funcional. Classificado: Leve: paciente continua trabalhando, estudando, se relacionando, mas com uma dificuldade maior para fazer tudo isso. Não parou as atividades do dia a dia. Moderado: paciente já parou as atividades do dia a dia. Não consegue trabalhar nem estudar Grave: quando existe um grau de prejuízo funcional muito forte. Não consegue trabalhar, estudar (parou as coisas da vida) e possui uma das três características: - Sintomas psicóticos (vozes que a pessoa escuta dizendo “você não presta”, “era melhor se você não existisse”) - Ideação e planejamento suicida - Catatonia (quando a pessoa não se comunica, não fala, não se alimenta e possui alguns sinais, como a flexibilidade séria ou sinal do travesseiro). OUTRAS DENOMINAÇÕES DA DEPRESSÃO: Depressão psicótica → depressão grave, em que o indivíduo tem sintomas psicóticos: delírios – alterações do pensamento (acham que estão sendo perseguidos ou que estão fazendo alguma coisa contra eles) ou alucinações – alterações de um dos 5 sentidos (ouve vozes, ver vultos, sente gosto, sente alguém mexendo nele ou cheiro que outras pessoas não sentem) Depressão atípica → a pessoa possui uma hipersonia (quer dormir muito para passar logo o tempo), come muito (compulsivamente) e depressão ansiosa (agitação psíquica maior). Depressão x Pseudodemência depressiva Pseudodemência depressiva: quando o paciente (principalmente > 60 anos) começa a ter alteração cognitiva de atenção, memória e concentração, mas ele já tinha um quadro depressivo anterior e não procurou tratamento. DEPRESSÃO PÓS-PARTO Puerpério: 6 semanas (42 dias) que sucedem um parto Blues puerperal (disforia): período de tristeza, melancolia, choro fácil que ocorre alguns dias após o parto e dura no máximo 15 dias. Muito comum, inclusive pela própria flutuação hormonal. A conduta é tranquilizar a paciente. Depressão pós-parto: tem as mesmas características da depressão, porém ocorre nesse período especifico. Psicose puerperal: acontece nos primeiros dias do pós-parto, mas pode ter início até 2 a 3 semanas após o parto. Acomete menos do que 1% dos casos. A fica psicótica em relação ao bebê (Ex: ela olha o filho e enxerga um monstro). É muito perigoso, pois pode levar ao infanticídio (2% dos casos) e ao suicídio (1% dos casos). A primeira coisa a se fazer é separar a mãe do bebê. DEPRESSÃO SAZONAL A evidência mais robusta das anormalidades dos ritmos biológicos é a depressão sazonal, caracterizada pela ocorrência de episódios depressivos em determinadas estações do ano, mais comumente no início do outono e do inverno, com remissão na primavera e no verão. Sua prevalência foi estimada em 1% a 10% das depressões e é comum no transtorno bipolar, em que (hipo) manias e depressões se repetem em determinadas estações a cada ano. Os transtornos do humor sazonais provavelmente resultam da falha na adaptação à mudança na duração do fotoperíodo (1 dia) que acompanha a mudança das estações, levando a um desajuste nos ritmos circadianos. Ocorre predominantemente em mulheres e os sintomas atípicos (hipersônia, hiperfagia, letargia, ganho de peso e avidez por carboidratos) são frequentes\ sugerindo tratar-se de um subtipo depressivo bipolar. Respondem ao tratamento com fototerapia e antidepressivos. 3 MARC 10 – Heloísa Paraíso 7ºP DISTIMIA É o estado depressivo leve e prolongado, por no mínimo, 2 anos. Sintomas como na depressão, porém leves (o indivíduo continua trabalhando, estudando e fazendo todas as suas obrigações). DEPRESSÃO SECUNDÁRIA A PATOLOGIAS CLÍNICAS Hipotireoidismo Lúpus eritematoso sistêmico Parkinson AVC próximos ao lobo frontal Dependência de álcool Abstinência de cocaína DEPRESSÃO SECUNDÁRIA A MEDICAMENTOS TRATAMENTO Biopsicosocial Psicoterapia com terapia cognitivo-comportamental Prática regular de atividade física Escolha de hábitos de vida saudável (higiene do sono) Farmacológico Inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS) Inibidores de recaptação de serotonina e noradrenalina (IRSN) Antidepressivos tricíclicos: bastante usados antigamente são considerados de segunda linha e menos prescritos hoje em dia devido aos efeitos colaterais (principalmente anticolinérgicos, como boca seca, constipação intestinal e retenção urinária) e a grande interação medicamentosa. Não existe evidencia forte com relação a superioridade de uma droga inibidora de recaptação em relação a outra. Na prática clínica, a escolha da medicação é baseada nos efeitos colaterais,no custo, na tolerabilidade do paciente e presença de comorbidades. Os principais efeitos colaterais dos ISRS e IRSN são: Insônia Sedação Cefaleia tremor alterações gastrointestinais. 4 MARC 10 – Heloísa Paraíso 7ºP Depressão leve → psicoterapia ou antidepressivo (psicoterapia tem o mesmo resultado do antidepressivo) Depressão moderada ou grave → deve entrar com o antidepressivo e a psicoterapia Tempo de tratamento 1º episódio depressivo: pelo menos 12 meses em doses terapêuticas Deve-se avisar o paciente que demora 2 semanas para começar a fazer efeito e que mesmo depois que ele estiver bem deve tratar por 12 meses para prevenção de recaída, pois depressão é uma doença crônica. 2º episódio: 2 a 5 anos Três ou mais episódios: considerar tratamento permanente. OBS: Quando o tratamento antidepressivo é interrompido, a dose do medicamento deve ser diminuída gradualmente ao longo de 1 a 2 semanas, dependendo da meia- vida do composto em particular. Transtorno Afetivo Bipolar – TAB TB é uma doença crônica cíclica na qual os pacientes apresentam episódios de mania, hipomania e depressão ao longo da vida. A presença de um desses episódios caracteriza a fase aguda da doença. Porém, o paciente também experimenta momentos de eutimia entre um episódio e outro. Durante a eutimia, eles tem funcionalidade normal. As manifestações iniciam-se normalmente no final da adolescência e início da vida adulta, com idade média de início de 25 anos. FATORES DE RISCO História familiar de TB é o fator de risco mais importante História familiar de esquizofrenia Acredita-se que a esquizofrenia e TB compartilham a mesma origem genética. Episódio maníaco Exaltação ou irritação persistente do humor com duração de pelo menos 1 semana, presente quase todos os dias, na maior parte do dia. Precisa ser diferente do comportamento normal do paciente e causar prejuízo no seu funcionamento. O paciente precisa apresentar pelo menos 3 dos seguintes critérios: Autoestima inflada ou grandiosidade. Redução da necessidade do sono. Falar mais que o habitual. Fuga de ideias ou sensação de pensamento acelerado. Mais distraído que o habitual. Aumento da agitação psicomotora. Envolvimento em atividades com potencial para consequências dolorosas (como comprar excessivamente, investimentos financeiros de risco, atividade sexual de risco). Episódio de hipomania Período de exaltação do humor ou humor irritável persistente com duração de pelo menos 4 dias consecutivos presente quase todos os dias, na maior parte do dia, de forma diferente do funcionamento basal do paciente em um grau significativo. O paciente precisa apresentar pelo menos 3 dos seguintes critérios: Autoestima inflada ou grandiosidade. Redução da necessidade do sono. Falar mais que o habitual. Fuga de idéias ou sensação de pensamento acelerado. Mais distraído que o habitual. Aumento da agitação psicomotora. Envolvimento em atividades com potencial para consequências dolorosas (como comprar excessivamente, investimentos financeiros de risco, atividade sexual de risco). NA PRÁTICA! Observe que, fora a quantidade de dias, os critérios para mania e hipomania são semelhantes. Para diferenciar os dois episódios é preciso analisar a gravidade dos 5 MARC 10 – Heloísa Paraíso 7ºP sintomas e do comprometimento funcional do paciente. Quando há maior gravidade e incapacidade de funcionamento é considerado um episódio de mania. Quando a gravidade é menor e, apesar das dificuldades, o indivíduo consegue funcionar na sociedade é considerado um episódio de hipomania. Uma outra forma de diferenciar, que não está entre os critérios diagnósticos, é a presença de psicose. Se o paciente juntamente aos outros sintomas apresentar psicose, é considerado episódio de mania. Episódio depressivo Obedecem aos mesmos critérios do episódio depressivo do transtorno depressivo maior. Algumas características da depressão ajudam a diferenciar uma depressão bipolar de uma depressão unipolar (transtorno depressivo maior), mas não são suficientes para diagnóstico. TIPOS Tipo 1 → mania alternada com depressão Tipo 2 → hipomania alternada com depressão TAB estado misto Ciclotimia Flutuação de humor que não fecha critério para transtorno bipolar do tipo 1 nem do tipo 2. Perdura por 2 ou mais anos. IMPORTANTE! TIPO 1 – Pode ser diagnosticado só com a mania. TIPO 2 – Para ser diagnosticado deve apresentar o episódio de depressão e hipomania. TRATAMENTO O tratamento de TB é individualizado de acordo com as características que o paciente apresenta, como a polaridade. O tratamento é dividido em fase aguda (para tratar as exacerbações) e fase de manutenção (quando o paciente encontra- se assintomático). É muito importante que o paciente tome as medicações mesmo quando assintomático para prevenir novos episódios, pois TB é uma doença crônica com alto índice de recorrência das exacerbações. Assim, o tratamento objetiva abolir os sintomas de fase aguda, previnir exacerbações e evitar recorrências. As principais drogas utilizadas são: 1. Estabilizadores de humor: representam essa classe o lítio, o valproato, a lamotrigina e carbamazepina. Os principais efeitos colaterais dessa classe incluem tremores involuntários, hipotireoidismo e polidipsia. 2. Antipsicóticos atípicos: são efetivos principalmente em episódios de mania. São eles quetiapina, aripiprazol e risperidona. Os principais efeitos colaterais são ganho de peso, dislipidemia e alterações gastrointestinais. 3. Inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS): Apesar de serem contraindicados para TB 1, podem ser utilizados para tratamento da depressão na TB 2 ou se o paciente tiver um transtorno de ansiedade como comorbidade. Deve estar associado a um antipsicótico atípico. Os principais efeitos colaterais de ISRS são alterações gastrointestinais, fadiga e ansiedade. OBS: No primeiro momento evita-se antidepressivo para paciente com transtorno bipolar na fase depressiva, porque pode virar para mania ou hipomania. Utiliza-se quando já faz uso de estabilizador do humor e os sintomas de depressão permanecem, mas jamais se usa isoladamente. OBS: Inibidores de recaptação dupla e antidepressivos tricíclicos são contraindicados em todos os tipos de TB, devido ao grande risco de virada maníaca. Para tratar a fase aguda de mania a primeira linha de tratamento pode ser em monoterapia com antipsicóticos atípicos ou estabilizadores de humor como, aripiprazol, quetiapina, risperidona, vaproato e lítio. Ou pode sem em terapia combinada com lítio ou valproato + risperidona ou quetiapina ou aripiprazol. 6 MARC 10 – Heloísa Paraíso 7ºP Para tratamento da depressão bipolar tipo 1 os estabilizadores de humor e antipsicóticos compõem a primeira linha de tratamento. Também podem ser utilizados em monoterapia ou em terapia combinada. Além do efeito de estabilização do humor, o lítio é eficaz na ideação suicida e é a única droga comprovada que diminui o risco de suicídio. Para tratamento da depressão bipolar tipo 2 somente a quetiapina está aprovada como tratamento de primeira linha. Como segunda linha, pode-se acrescentar lítio, lamotrigina, sertralina ou venlafaxina. Para tratamento da hipomania, não existem estudos que apresentem medicações com forte evidencia de efetividade. Na prática clínica, as medicações usadas para tratamento de mania são utilizados para hipomania. O tratamento de manutenção deve respeitar as medicações que foram efetivas na fase aguda e após estabilidade deve-se obter o menor número de drogas em menor dose possível para manter o paciente em remissão. Além das medicações, psicoeducação é muito importante para o tratamento do paciente. Ensinaro paciente a reconhecer sinais precoce de exacerbações, administração de situações estressantes, aderência terapêutica e estilo de vida saudável ajuda a minimizar quadros agudos. SAIBA MAIS: O Transtorno disruptivo da desregulação do humor é uma patologia na qual o paciente apresenta explosões de raiva recorrentes de forma desproporcional à situação vivenciada, pelo menos 3 ou mais vezes na semana. REFERÊNCIAS Compêndio de Psiquiatria Medcel Sanarflix 7 MARC 10 – Heloísa Paraíso 7ºP