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Tema 4 - 29/07/2021 - Conservação pelo uso do frio e importância na prevenção de alterações em alimentos Principal preocupação da indústria: Necessidade de inibir a ação dos microrganismos, que se multiplicam em quantidades elevadas em altas temperaturas Microrganismos deteriorantes Microrganismos produtores de substâncias tóxicas (ex.: botulismo) Principais causas de alterações nos alimentos por ação microbiológica: Consumo dos nutrientes no alimento através do seu metabolismo (bolores, leveduras e bactérias) Alteração dos alimentos pelos produtos finais do metabolismo microbiano, características sensoriais e de composição do alimento - produtos se tornam impróprios ao consumo Desenvolvimento de microrganismos de acordo com as faixas de temperatura: Psicrotróficos ainda podem deteriorar alimentos em baixas temperaturas Mesófilos têm faixa ótima de crescimento que inclui a temperatura corporal de muitos mamíferos Temperatura Fator extrínseco, um dos mais importantes na atividade bioquímica dos microrganismos (Menor temperatura - Menor velocidade das reações bioquímicas) Refrigeração e congelamento Pode ser um bom método de conservação, mas depende do tipo de alimento - alguns não são bem- armazenados em baixas temperaturas (injúria pelo frio) Classificação das temperaturas de conservação Frias: 5-15°C (para frutas e hortaliças 10 a 15°C - mais sensíveis à injúria pelo frio) De refrigeração: 0-7°C (5-7°C observadas nos aparelhos domésticos) (produtos lácteos, carnes e pescados frescos) Congelamento: Igual ou menor (inferiores) a -18°C Refrigeração Inibe a multiplicação da maioria dos mesófilos e termófilos; reduz a velocidade de multiplicação dos psicrotróficos quanto menor a temperatura Atenção! Ainda são capazes de se multiplicar e produzir toxinas sob refrigeração: Yersinia enterocolitica (mesófilo) Listeria monocytogenes (mesófilo) Clostridium botulinum tipo E (termófilo) Métodos de resfriamento Choque pelo frio Reduz a temperatura do alimento, mas sem congelar seu substrato Ocorre injúria direta à células (danifica especialmente vegetais) Exemplo da banana, que fica horrível se for congelada - as membranas perdem uma ou mais barreiras de permeabilidade, o conteúdo intracelular da banana é exposto ao oxigênio, e a polifenoxidase é ativada, causando escurecimento enzimático da casca da banana Extravasamento do conteúdo celular - aminoácidos e nucleotídeos Resfriamento Rápido Resfriadores industriais - resfriamento rápido para alimentos que serão conservados sob refrigeração Resfriadores de Contato - Contato direto com placas resfriadas (ex.: leite, na pasteurização; passa durante 25 segundos pelas placas vermelhas, depois pelas placas em azul, e será imediatamente refrigerado após a pasteurização) Resfriadores de passagem de ar frio (alimentos sólidos e semi-sólidos - frutas, hortaliças, ovos e carnes; área de ventilação que permite a circulação de ar) Refrigerados em porções pequenas - Mais rápido e em tempo mais curto (maior eficiência) (carnes são partidas em porções menores, e frutas/hortaliças são agrupadas em conjuntos pequenos) Métodos associados ao uso do frio para melhorar a conservação Retirada do O2 por embalagens à vácuo, ou com CO2 - inibe a maioria dos psicotróficos, que são aeróbios (a inibição dos anaeróbios é feita por adição de conservantes químicos, como os nitritos e/ou nitratos - ex.: produtos cárneos) Salga, cura, defumação, agentes químicos, tratamento térmico brando (pasteurização) (produtos lácteos ou cárneos) - inibem ou reduzem a população microbiana (bacteriostáticos ou bactericidas) Temperaturas de congelamento Alguns microrganismos ainda se multiplicam em temperaturas menores que -18°C, mesmo que em velocidade reduzida Alimentos que ainda permitem a multiplicação de microrganismos em temperatura <0°C: multiplicação de bolores (sucos), bactérias e leveduras (sorvete, alto conteúdo de nutrientes), leveduras e bactérias láticas (bacon, alto conteúdo de nutrientes) Congelamento Útil para prolongar a vida de prateleira (do inglês shelf-life) por maior tempo, em relação às temperaturas de refrigeração Temperaturas baixas o suficiente para interromper a atividade microbiana, enzimática, e do oxigênio (O2) Além de apenas a redução na temperatura já inibir boa parte das reações bioquímicas, o congelamento também reduz a atividade de água [Aw] dos alimentos Quando adequado ao alimento escolhido, é um dos melhores métodos para manutenção da cor, aroma e aparência (não podem sofrer injúria ou alteração pelo processo de congelamento) Alimentos não devem apresentar quaisquer sinais de alteração antes do congelamento Lavagem -> Branqueamento (tratamento térmico brando, para inativação da polifenoxidase) -> Embalagem -> Congelamento Congelamento rápido Industrial Diminuição da temperatura para - 20°C (em no máximo 30 min) Correntes de ar frio OU imersão direta no fluido refrigerante Formação de grande número de pequenas cristais de gelo (microorganismos congelados no interior deles; seu tamanho minúsculo não danifica os tecidos, sejam musculares de animais ou tecidos vegetais) Choque térmico, imediato: não há janela de tempo para a adaptação dos microrganismos às temperaturas baixas - não induz resistência microbiana Bloqueio ou supressão do metabolismo em tecidos vegetais/animais - evita-se a perda do equilíbrio metabólico destes alimentos Exposição rápida e imediata à concentração de constituintes adversos, sem injúria aos tecidos e às células que compõem o alimento Congelamento lento Doméstico ou em estabelecimentos comerciais, como supermercados Temperaturas desejadas alcançadas entre 3h a 72h Formação de grandes cristais de gelo, em poucas e irregulares regiões no alimento - perfuram os tecidos, rompem das células e extravasam seu conteúdo, quebra da harmonia metabólica; Descongelamento gera acúmulo de líquido na embalagem, perda de nutrientes e constituintes de sabor, levando à grande perda da qualidade do alimento congelado Janela de adaptação para microrganismos às temperaturas baixas se torna possível, pois não ocorre choque térmico Maior exposição à concentração de constituintes adversos A concentração de solutos como sal e açúcares beneficia o crescimento microbiano, neste caso, pois conseguem se adaptar Perda da estrutura física dos tecidos (destruição da arquitetura tecidual pelo gelo, deixa os alimentos “murchos”), produto congelado de menor qualidade Exudação de sucos ricos em nutrientes por gotejamento após o descongelamento Ocorre em estabelecimentos em que alimentos foram descongelados acidentalmente (ou não) durante o desligamento dos freezers Diferenças entre os processos de congelamento rápido e lento, e seus efeitos nos tecidos que compõem alimentos: Rápido: Forma cristais pequenos e numerosos, de distribuição uniforme, dentro e fora das células Lento: líquido extracelular congela primeiro e os solutos migram para a parte ainda líquida, desequilíbrio osmótico e migração de líquido intracelular; forma poucos cristais de gelo, que se expandem entre as células e vasos - perfuração celular e maior extravasamento do conteúdo Materiais sólidos ficam presos entre ou dentro dos cristais de gelo (A água remanescente não-congelada a - 20°C está ligada a outras moléculas - indisponível para a atividade biológica [sem Aw]) Congelamento das soluções aquosas em tecidos animais/vegetais: 0 a -10°C Sistemas de congelamento Correntes de Ar Frio (salas, ambientes fechados, túneis) Imersão/Pulverização - líquidos ou gases congelantes (congelamento criogênico - choque térmico imediato) CO2 - P(Fusão) = -78°C [gás em forma fluida]; P(Ebulição) = -57°C N2 - P(Fusão) = -210°C [gás em forma fluida]; P(Ebulição) = -195°C Congelador de Placas ou de Contato Alimentos em embalagens plásticas, mais longilíneas, esticadas na placa: molhos, cremes, purês, sucos de fruta, entre outros As porções passam pela esteira e pelo contato com placa resfriante, ao sair, estão completamente congeladas Congeladorde Leito em Espiral Economia de espaço em ambientes de processamento (especialmente agroindústria) Mesmo funcionamento do congelador de esteira tradicional, exceto pela forma Congelador Criogênico com Múltiplas Esteiras À base de CO2 ou N2 líquidos Aplicação: Alimentos que possuem tamanhos de porções maiores, que não poderiam ser congelados pelo contato com as placas (carne, pescado, frutos do mar, frango, produtos de confeitaria, sorvetes, refeições prontas) 2 a 3 esteiras de tamanho padrão (600, 915, 1200 ou 1500 mm de largura); Comprimento: 4 a 20 m Tempo de armazenamento sob congelamento Tipo de produto Tratamentos realizados antes do congelamento Tipo de embalagem Outros fatores Período de armazenamento (em meses) em congelamento, a diferentes temperaturas Aumento da temperatura - Redução considerável do tempo de conservação Respeitar a temperatura indicada pelo congelamento (freezers DEVEM atender à temperatura requisitada, a fim de manter o tempo real de validade) Em freezers domésticos, o tempo de validade real será reduzido (potência insuficiente Vantagens do congelamento Não adiciona nem remove compostos presentes no alimento (preserva suas características intrínsecas e descarta o uso de conservantes químicos) Não adiciona sabor ou aroma novos, nem altera o sabor e aroma naturais Não diminui a digestibilidade, nem causa perda significativa do valor nutritivo (congelamento rápido) Desvantagens do congelamento Microrganismos não são destruídos totalmente (os esporos microbianos são muito resistentes a este processo e as toxinas produzidas não são destruídas; ex.: toxina botulínica) Deteriorações anteriores ao congelamento são também preservadas Alimentos congelados, embalados de maneira inadequada, desidratam muito rapidamente e têm seu aroma e aparência geral alterados (precisam ser bem- acondicionados antes do congelamento) Descongelamento Eleva rapidamente a temperatura, até a liquefação da água do alimento Pode oferecer oportunidade para a ocorrência de: Reações químicas Recristalização Multiplicação microbiana Maior velocidade de descongelamento <-> Maior número de microrganismos remanescentes (criação de ambiente favorável, ativação metabólica microbiana, multiplicação ativa) Programar o uso dos alimentos congelados com antecedência, antes do descongelamento Descongelamento adequado: ainda sob refrigeração (em geladeira)(ex.: carnes e frango) Exceção: Fabricante deixa explícito que o alimento pode imediatamente ser levado ao cozimento Controle - Alterações indesejáveis de natureza química e bioquímica Conhecer alterações indesejáveis às quais alimentos estão suscetíveis -> Criar mecanismos para prevení-las Exemplos de alterações que necessitam de controle: Autoxidação lipídica, escurecimento não-enzimático ou enzimático, etc Causas de rancidez lipídica Oxirredução: Rancidez oxidativa (catalisadores: metais, oxigênio, luz, enzimas lipoxigenases e lipoxidases) Lipases e Esterases: Rancidez hidrolítica (não-oxidativa) Fatores que favorecem a autoxidação lipídica (sem enzimas): Matriz do alimento Velocidade de oxidação: Lipídios puros (óleos) < Lipídeos com outros constituintes do alimento (gordura em carne) O2 Oxidação não ocorre na ausência de oxigênio (maior O2, maior velocidade) Luz / Material da embalagem Acelera reações de oxidação (proteção por embalagens opacas e pigmentos) Temperatura de armazenamento Velocidade aumenta com o aumento da temperatura (2x a cada +10°C) Pró-oxidantes Catalisam a oxidação: Grupos heme (hemo ou mioglobina), enzimas lipoxidases/lipases (hidrolisa e deixa AG livre suscetível a oxidação), metais (Cu, Fe), traços de gordura oxidada Atividade de água Aw < 0,2: risco de oxidação elevado; Aw = 0,2: risco pequeno; 0,55 > Aw > 0,85: risco volta a ser elevado Antioxidantes naturais Tocoferóis evitam a formação de radicais lipídeos e peróxidos Aminoácidos Metionina, tirosina e triptofano têm atividade antioxidante e interagem com metais catalíticos, evitando a deterioração (!) Congelamento não impede a ocorrência das reações, apenas as tornam mais lentas; a extensão de cada reação depende dos outros fatores Fatores que favorecem a Reação de Maillard (sem enzimas): pH Menor pH - menor velocidade de reação (alimentos mais ácidos se possível) Atividade de água Reação máxima: 0,6 < Aw < 0,85 (deve ser controlada se possível) Íons metálicos Cu, Fe3+ - uso de agentes sulfídicos como SO2 e SO3- evita oxidação dos metais e minimiza escurecimento Natureza do açúcar Velocidade de acordo com os açúcares redutores: Pentoses > Hexoses > Dissacarídeos (uso de enzimas para eliminação pode ser útil) Tipo de aminoácido Pequenos > Grandes; mais de 1 grupo amino > apenas 1 grupo amino Temperatura Menor temperatura - menor velocidade de reação (evitar temperaturas elevadas de armazenamento) Fatores que favorecem a degradação da vitamina C (sem enzimas): O2 Oxidação facilitada na presença de oxigênio (anaerobiose: menores perdas) pH Estável em meios ácidos, elevação do pH favorece a degradação (Dhidro: 2,5 < pH < 5,5; estabilidade muito baixa a partir do pH 5,5) Temperatura Menor temperatura - maior estabilidade (máxima: menor que -18°C, temp. de congelamento); desc. rápido favorece enzimas oxidativas; tratamentos térmicos degradam vit. C Atividade de água Aw baixa - degradação muito lenta Íons metálicos Maiores perdas de ácido ascórbico (catálise) Dióxido de enxofre (SO2) e sulfitos Seu caráter redutor exerce efeito protetor sobre o ácido ascórbico Outros Ex.: presença ou ausência de enzimas (!) Reversível: o ácido dehidroascórbico pode ser convertido de volta em ácido ascórbico (vit C ativa) (!) Perda irreversível da atividade vitamínica se o ácido ascórbico/dehidroascórbico for convertido em ácido 2,3-dicetogulônico (forma inativa) (!) Enzimas oxidativas são favorecidas pelo descongelamento rápido
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