Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Paralisia de Bell: um diagnóstico clínico com um tratamento desafiador Dra. Ushtar W. Amin; Dr. Selim R. Benbadis | 27 de setembro de 2016 A paralisia de Bell é a causa mais comum de paralisia facial. Mais especificamente, é a causa mais comum de paralisia facial do neurônio motor inferior (NMI).[1-3] Os músculos de um lado do rosto subitamente enfraquecem ou ficam paralisados. Embora a etiologia e a fisiopatologia permaneçam desconhecidas, pode haver envolvimento de causas como dano ou trauma do nervo facial (par craniano VII) por mecanismos infecciosos, imunológicos, isquêmicos ou traumáticos.[1-6] Essa condição é geralmente temporária, usualmente se resolvendo sem tratamento, dentro de poucos meses (70-80%).[1-3] A incidência anual de paralisia de Bell nos Estados Unidos é de 25-35 por 100.000 pessoas, com uma estimativa de 40.000 indivíduos afetados a cada ano.[3] Homens e mulheres são afetados igualmente. Indivíduos de qualquer idade podem apresentar paralisia de Bell, sendo mais comum em pessoas mais velhas, embora crianças não estejam imunes.[3] O pico de incidência é após os 40 anos.[4] A imagem à esquerda mostra uma mulher com paralisia facial à direita e assimetria dinâmica. A imagem à direita, da mesma paciente, revela a ausência de rugas do lado direito da testa. Imagens: cortesia de Cirpaciu D, Goanta CM, Cirpaciu MD. J Med Life. 2014;7 spec no. 3:68-77. [Open access.] PMID: 25870699, PMCID: PMC4391412. Anatomia O núcleo do nervo facial localiza-se na formação reticular da ponte, adjacente ao quarto ventrículo; sua raiz inclui fibras dos núcleos motor, solitário e salivar.[5] As fibras parassimpáticas pré-gangliônicas que se originam do núcleo salivar se juntam às fibras do núcleo solitário para formar o nervo intermédio. O nervo intermédio é composto de fibras sensoriais para língua, mucosa e pele retroauricular, assim como de fibras parassimpáticas para as glândulas salivares e lacrimais.[5] Essas fibras realizam sinapse com o gânglio submandibular, composto por fibras que suprem os gânglios sublingual e submandibular. Essas fibras do nervo intermédio também suprem o gânglio pterigopalatino, que tem fibras parassimpáticas para o nariz, palato e glândulas lacrimais. Essas fibras circundam o par craniano VI, deixam a ponte no ângulo ponto-cerebelar e atravessam o canal auditivo interno junto com a porção vestibular do VIII par craniano.[5] O nervo facial passa através do forame estilomastoideo no crânio e se divide nos nervos zigomático, bucal, mandibular e cervical, inervando os músculos da mímica facial, incluindo: frontal, orbicular do olho, orbicular da boca, bucinador e platisma.[5] O nervo facial também inerva os músculos estapédio, estilo-hióideo, ventre posterior do digástrico, occipital e auricular anterior e posterior. Todos os músculos inervados pelo nervo facial são derivados do segundo arco branquial.[5] Etiologia e fisiopatologia Como comentado, a causa precisa da paralisia de Bell idiopática não é conhecida. Uma teoria propõe que a inflamação inespecífica do nervo leva a edema focal, desmielinização e isquemia.[4] Existem evidências de que a infecção pelo herpes simples tipo 1 (HSV-1) pode ter alguma participação.[1,3,4,6] A paralisia de Bell é também mais comum em pacientes com condições que comprometem o sistema imunológico, como infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). Outros fatores de risco incluem gestação, diabetes, hipertensão, sarcoidose, tumores e doença de Lyme.[1-4] As ilustrações mostram os sinais da síndrome de Ramsay-Hunt (discutida no slide 7). Lesões vesiculares aparecem na orelha (imagem no topo à esquerda); queda facial, fenda palpebral estendida e sorriso descendente são evidentes no lado direito do rosto (imagem à direita). A fotografia (imagem inferior à esquerda) demonstra uma erupção cutânea delineada pela linha média em uma paciente de meia idade com síndrome de Ramsay-Hunt. Etiologia e fisiopatologia Como comentado, a causa precisa da paralisia de Bell idiopática não é conhecida. Uma teoria propõe que a inflamação inespecífica do nervo leva ● ● a edema focal, desmielinização e isquemia.[4] Existem evidências de que a infecção pelo herpes simples tipo 1 (HSV-1) pode ter alguma participação.[1,3,4,6] A paralisia de Bell é também mais comum em pacientes com condições que comprometem o sistema imunológico, como infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). Outros fatores de risco incluem gestação, diabetes, hipertensão, sarcoidose, tumores e doença de Lyme.[1-4] As ilustrações mostram os sinais da síndrome de Ramsay-Hunt (discutida no slide 7). Lesões vesiculares aparecem na orelha (imagem no topo à esquerda); queda facial, fenda palpebral estendida e sorriso descendente são evidentes no lado direito do rosto (imagem à direita). A fotografia (imagem inferior à esquerda) demonstra uma erupção cutânea delineada pela linha média em uma paciente de meia idade com síndrome de Ramsay-Hunt. Sinais/Sintomas Os sinais e sintomas da paralisia de Bell geralmente têm uma apresentação aguda e um pico em 48-72 horas. [1,6] Eles podem variar entre os indivíduos, podem ir de uma fraqueza leve a uma paralisia completa, e incluem as seguintes características:[1,4,6] Contratura facial, fraqueza ou paralisia unilateral (comum) ou bilateral (raro; exemplo: síndrome de Guillain-Barré) Queda da pálpebra e do canto da boca ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● Salivação e/ou lacrimejamento excessivo em um dos olhos Olho seco e/ou boca seca Prejuízo do paladar Dor e desconforto ao redor da mandíbula e atrás da orelha Zumbido unilateral ou bilateral Cefaleia Hiperacusia do lado afetado Prejuízo da fala Tontura Dificuldade para comer ou beber As fotografias mostram um paciente com um provável diagnóstico de leptospirose, acometido simultaneamente por miocardite e paralisia de Bell grave. O envolvimento do músculo frontal esquerdo e o desvio da boca para o lado de direito estão presentes (ou seja, paralisia facial à esquerda) (imagem à esquerda). A imagem à direita é do mesmo paciente após seis meses; é possível observar remissão total da paralisia do nervo facial à esquerda. Imagens: cortesia de Kumarihamy KW, Ralapanawa DM, Jayalath WA. BMC Res Notes. 2015;8:26. [Open access.] PMID: 25648561, PMCID: PMC4322451 Essa imagem mostra uma paciente idosa com sincinesia (movimento involuntário acompanhando um movimento voluntário) depois de uma paralisia de Bell à esquerda grave. Imagem a: rosto da paciente em repouso. Imagem b: a boca da paciente está franzida, acompanhada por uma sincinesia involuntária de fechamento do olho esquerdo. Note a assimetria da boca, que não é puxada para o lado esquerdo, assim como a relativa ausência de rugas no lado esquerdo da fronte. Imagem c: tratamento da sincinesia com injeção de toxina botulínica no músculo orbicular do olho. Imagens: cortesia de Volk GF, Pantel M, Guntinas-Lichius O. Head Face Med. 2010;6:25. [Open access.] PMID: 21040532, PMCID: PMC29845 Essas fotografias são de uma paciente grávida com paralisia facial pelo neurônio motor inferior e síndrome hemolítica, aumento das enzimas hepáticas e queda de plaquetas [HELLP]. Imagem no topo à esquerda: O sulco nasolabial está flácido do lado direito do rosto. Ao mesmo tempo, a paciente é incapaz de enrugar a testa do mesmo lado (não mostrado). Imagem no topo à direita: Ela é incapaz de mostrar os dentes do lado direito. Imagem inferior esquerda: A paciente não consegue franzir os lábios do lado direito. Imagem inferior direita: Ela apresenta o fenômeno de Bell (rolamento superior do olho do lado afetado com fechamento parcial da pálpebra quando solicitada a ● ● ● ● ● ● fechar os dois olhos). Imagens: cortesia de Aditya V. Case Rep Obstet Gynecol. 2014;2014:626871. [Open access.] PMID: 24772359, PMCID: PMC3977111 Síndrome de Ramsay-Hunt A síndrome de Ramsay-Hunt é uma condição rara que consiste em uma paralisia de Bell típica após uma reativaçãodo vírus varicela zoster (VVZ). [7] Ela inclui características adicionais como as seguintes:[7] Erupção cutânea eritematosa, vesicular, dolorosa no pavilhão auricular e, geralmente, no conduto auditivo externo; a erupção e as vesículas também podem afetar boca, palato mole, e esôfago proximal Zumbido e otalgia podem ser graves e pode haver dor referida para o pescoço Perda auditiva neurossensorial é geralmente transitória mas pode se tornar permanente em casos raros Hiperacusia Vertigem ou tonteira mais graves que na paralisia de Bell idiopática Perda do paladar, boca seca e/ou olhos secos (raramente) A incidência anual de síndrome de Ramsay-Hunt nos Estados Unidos é de cinco para cada 100.000 pessoas, primariamente em indivíduos com mais de 60 anos.[7] É a segunda causa mais comum de paralisia facial periférica não traumática, e ambos os sexos são igualmente afetados.[7] Imagem do acometimento otológico por Herpes zoster no 6º dia de evolução em paciente com síndrome de Ramsay-Hunt. Cortesia: Manolette Roque, MD, ROQUE Eye Clinic A paralisia facial bilateral com fenômeno de Bell ocorre em cerca de 1% dos pacientes.[4,6,8] Quando os pacientes afetados tentam fechar os olhos, as pálpebras não fecham totalmente e os globos oculares giram para cima (imagem à esquerda). Embora as causas de paralisia facial unilateral também possam causar a condição bilateralmente, é muito menos provável que uma paralisia facial bilateral seja uma paralisia idiopática de Bell. Assim, deve-se buscar uma etiologia, incluindo síndrome de Guillain-Barré, doença de Lyme, carcinomatose e linfoma.[4,6,8] Imagens de um paciente com síndrome de Ramsay-Hunt bilateral e diabetes na apresentação (esquerda) e após oito semanas de acompanhamento (direita). Cortesia: Syal R, Tyagi I, Goyal A. BMC Ear Nose Throat Disord. 2004;4(1):3. [Open access.] PMID: 15575957, PMCID: PMC535933 Diagnóstico O diagnóstico de paralisia de Bell é geralmente realizado de forma clínica, depois da exclusão de outras causas potenciais de paralisia facial. [1,3-6,8,12-14] Assim, exames laboratoriais de rotina geralmente não estão indicados. Uma consideração inicial é identificar se a paralisia facial ocorreu devido a uma lesão central ou periférica. Qualquer lesão que afete a via motora cortico-pontina acima do núcleo do VII par craniano pode causar fraqueza facial central, resultando em paralisia facial baixa no lado contralateral da lesão.[9,10] Acidente vascular encefálico (mais comum[11]), tumores e desmielinização também podem produzir paralisia facial central. Lesões que ocorrem no nível da ponte ou distalmente ao longo do curso do VII par craniano podem causar paralisia facial periférica, na qual ocorre paralisia facial total ipsilateral.[9,10] Causas de paralisia facial periférica incluem fraturas faciais, síndrome de Ramsay-Hunt, diabetes, sarcoidose, doença de Lyme, infecções do ouvido médio ou mastoide, carcinomatose, linfoma, meningite crônica e tumores do ângulo ponto-cerebelar ou do glomo jugular. Ilustração simplificada das fibras da via cortico-bulbar do cortex cerebral até o núcleo motor do nervo facial. Cortesia: Ushtar W. Amin, MD, e Selim R. Benbadis, MD. MM = músculos Enrugamento da testa Um teste simples para diferenciar as paralisias faciais central e periférica é pedir ao paciente para enrugar a testa.[9,10] A lesão é central se toda a testa enrugar; e é periférica de apenas um lado da testa formar rugas. Essa imagem exibe a diferença entre as paralisias faciais central e periférica. Imagem: cortesia Medscape
Compartilhar