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Nefrologia – Amanda Longo Louzada 1 DOENÇA RENAL CRÔNICA DEFINIÇÃO: A definição e classificação da DRC são baseadas na medida da TFG, a melhor medida global da função renal. Os fatores que influenciam a TFG incluem doença renal funcional e estrutural, como também a idade do paciente. Em geral, o declínio anual da TFG com a idade é de 1 mL/min/l,73m2 de área de superfície corporal, começando após o paciente alcançar aproximadamente 20 a 30 anos de idade. Critérios: Lesão renal por 3 meses ou mais, definida por anormalidades estruturais ou funcionais com ou sem diminuição no RFG manifestada por: Anormalidade histopatológicas renais Marcadores de lesão renal, como anormalidade urinárias e sanguíneas, alterações de imagem RFG menor que 60 mL Qualquer doença renal crônica termina em morte do rim ESTADIAMENTO: Clearence abaixo de 60 indica maior gravidade, e maior chance do paciente possuir distúbios eletrolíticos e iônico Clearence abaixo de 30 já deve começar a preparar o paciente para a terapia de susbtituição renal Preparar o paciente para terapia de substituição renal é fazer um acesso, que pode ser por hemodiálise ou peritoneal Diálise peritoneal pode ser feita em casa já a hemodiálise o paciente precisa ir até o hospital no mínimo 3 vezes por semana Pacientes edemaciados não é indicado hemodiálise pois o aumento do volume gera uma sobrecarga cardíaca, pois o paciente só diálisa 3 vezes na semana, nesses casos é preferível drenagem peritoneal, pois ocorre perda de líquido todo o dia Diálise só é iniciada quando o Clearence está abaixo de 15 TAXA DE FILTRAÇÃO GLOMERULAR COMO INDÍCE DA FUNÇÃO RENAL: A concentração sérica de creatinina é empregada como um indicador da função renal. A Creatinina não é uma medida exata da TFG devido a creatinina é secretada pelos túbulos renais. À medida que a função renal diminui, a quantidade de creatinina secretada pelos túbulos aumenta e eleva o nível de creatinina na urina levando ao falso aumento da depuração da creatinina (DCr), resultando em uma superestimativa da TFG. A concentração sérica de creatinina também é influenciada pela massa corporal e massa muscular. A coleta de urina de 24 horas para a Clearence de Creatinina é a medida alternativa aceita da TFG, contudo, ela é difícil para os pacientes executarem de forma correta. Para simplificar a medida da função renal, utiliza- se a estimativa da TFG a partir das equações de previsão, e são melhores estimativas da TFG do que a concentração sérica de creatinina isolada. Há três equações disponíveis para estimar a DCr (fórmula de Cockcroft-Gault) ou a TFG (MDRD e CKD-EPI). A equação mais útil para estimar a TFG é a fórmula CKD-EPI. Os pacientes com DRC devem ser estadiados e, em seguida, avaliados e conduzidos de acordo com o seu estágio de DRC. O manuseio de pacientes com DRC deve focar na prevenção de doenças, tratamento de comorbidades e preparação para TSR. Creatinina acima de 1,5 possivelmente o clearence está abaixo de 60 Nefrologia – Amanda Longo Louzada 2 DOENÇA RENAL CRÔNICA Pequenas variações de creatinina levam a grande variação do clearence EXAME DE IMAGEM: Ultrassom ou tomografia para saber se é aguda ou crônica É possível ver a atrofia e as cicatrizes PROGRESSÃO DA DOENÇA RENAL CRÔNICA: A progressão da DRC pode ser considerada um processo de "adaptação glomerular”. Existem várias teorias que foram sugeridas para explicar esse fenômeno: Hipótese hemodinâmica. Permeabilidade anormal a macromoléculas. Hipótese do fator de crescimento. É uma doença terminal HIPÓTESE HEMODINÂMICA: Ao reduzir o número de néfrons, segue-se a redução da TFG. A redução da TFG ativa o reflexo tubuloglomerular devido a chegada de menos sódio na mácula densa no Túbulo Contornado Distal levando ativação do Sistema Renina Angiotensina Aldosterona (SRAA). A SRAA leva a vasoconstricção da arteríola eferente nos néfrons remanescentes desenvolvem hiperfiltração e hipertensão capilar glomerular, como uma tentativa de suprir a morte dos néfrons. Isso ao longo prazo leva glomeruloesclerose e perda da função renal, devido ao aumento da pressão que lesiona o rim Além disso a ativação do SRAA atua na suprarrenal, que libera aldosterona que atua no TCP, aumentando a retenção de sódio e a eliminação de potássio, gerando uma hipocalemia Pacientes em uso de IECA e BRA possuem hipercalemia, pois essa drogas inibem a ativação do SRRA, diminui a reabsorção de sódio (diminuindo a pressão) e diminui a liberação de potássio, fazendo hipercalemia Esse medicamento só é suspenso em caso de hipercalemia e clearence abaixo de 30 HIPÓTESE DA PERMEABILIDADE DA PROTEÍNA: A hipertensão do capilar glomerular, causada pela hiperfiltração e efeito da AII sobre as arteríolas eferentes, leva a um aumento da permeabilidade glomerular e filtração excessiva de proteína. Interação entre o SRAA e a nefrina levando ao aumento da permeabilidade glomerular à proteína, aumenta a perda de proteína As proteínas presentes na urina são tóxicas para os túbulos, e podem resultar em lesão tubular, em inflamação túbulo-intersticial e fibrose túbulo- intersticial renal e cicatrização glomerular. Esse aumento da perda de proteína, leva a uma maior taxa de reabsorção da proteína juntamente com o sódio, fazendo com que a quantidade de sódio no TCD diminua, ativando o SRAA HIPÓTESE DO FATOR DE CRESCIMENTO: Os efeitos pró-inflamatórios e pró-fibróticos de AII e aldosterona estão na base da lesão que se desenvolve no parênquima renal. Os produtos finais da glicação avançada (AGEs, do inglês advanced glycation end-products), acumulam-se na área mesangial e nas paredes dos capilares glomerulares, e podem contribuir para a perpetuação da lesão renal. Os AGEs são um grupo heterogêneo de compostos que são produzidos pelas reações sequenciais não enzimáticas de glicação e oxidação de açúcares com grupos aminas livres nas proteínas, peptídeos ou aminoácidos. Há várias vias pelas quais os AGEs causam lesão renal, como: interferem nas proteínas da matriz extracelular (colágeno, elastina e laminina) e levam à geração intracelular de espécies reativas de oxigênio (EROs). As EROs ativam vias de sinalização que desencadeiam efeitos pró-inflamatórios, como NF-KB, MCP-1, TNF-a e pró-fibróticos como TGF-P e PDGF. Esses vários mediadores promovem fibrose e cicatrização no rim levando glomeruloesclerose e Nefrologia – Amanda Longo Louzada 3 DOENÇA RENAL CRÔNICA a fibrose túbulo-intersticial que promovem a DRC. FATORES DE RISCO PARA PROGRESSÃO: Os fatores de risco para a progressão da DRC podem ser classificados em: Fatores de susceptibilidade: esses são os fatores que predispõem à DRC. Eles incluem predisposições genética e familiar, raça, fatores materno-fetais, idade e gênero. Fatores de iniciação: esses são os fatores que precipitam lesão renal. Fatores de progressão: esses são os fatores associados à progressão da lesão de doença renal estabelecida. Hipertensão, hiperfiltração, hiperglicemia, alto grau de proteinúria e hiperatividade do SRAA causam lesão renal e progressão da doença renal para DRT. HAS E PROTEINÚRIA: A inibição do SRAA é muito eficaz na redução da PA, diminuição da proteinúria e retardamento da progressão da doença renal em pacientes diabéticos e não diabéticos. As duas principais preocupações do uso dos inibidores do SRAA são o desenvolvimento de hipercalemia e/ou piora da função renal. Aumentos na concentração sérica de creatinina devem ser tolerados, desde que a concentração não se eleve mais que 30% acima da linha de base e se estabilize dentro dedois meses de terapia. IECAs e BRAs fornecem renoproteção em pacientes com DRC. A terapia combinada com esses medicamentos não é recomendada. A adição de antagonistas de aldosterona para esses dois bloqueadores do SRAA pode ser benéfica. DIABETES E PROTEINÚRIA: Buscar no DM uma HbAlc < 7% para prevenir ou retardar as complicações microvasculares, incluindo nefropatia diabética evidente. A restrição de proteínas na dieta reduz a lesão renal em situação experimental, diminuindo a hipertensão do capilar glomerular e reduzindo a produção de citocinas pró-fibróticas e fatores de crescimento. PROTEINÚRIA E DISLIPIDEMIA: A evidência atual sugere que não há benefício à restrição proteica na dieta de menos de 0,8 g/kg/ dia. No entanto, a ingestão elevada de proteína total (> 1,3 g/kg/dia), especialmente com alto teor de proteína animal não derivada do leite, pode aumentar a velocidade de declínio da TFG em pacientes com DRC, e por isso não é recomendada. Uma metanálise de 13 estudos revelou uma tendência para redução da proteinúria e uma menor velocidade na diminuição da perda da TFG com a redução de lipídeos. SAL E HIPERURICEMIA: Há correlação direta entre uma dieta rica em sódio e um aumento da pressão arterial, da proteinúria e diminuição na TFG. Evidências atuais apoiam a diminuição da ingestão de sal para menos que <2,4 g para alcançar tais desfechos clínicos. Em situação de DRC foi observada uma associação da hiperuricemia com desfecho cardiovascular negativo e progressão da DRC. HIPERURICEMIA: A redução da hiperuricemia sintomática ou assintomática, com o uso de inibidores da oxidase de xantina, como o alopurinol, pode retardar a perda da função renal em doentes com DRC com e sem diabetes melito. O BRA losartana, em virtude de sua capacidade de aumentar a excreção urinária de ácido úrico, reduziu os níveis séricos de ácido úrico e reduziu a duplicação da creatinina sérica ou o desenvolvimento de DRT. Nefrologia – Amanda Longo Louzada 4 DOENÇA RENAL CRÔNICA TABAGISMO E OBESIDADE: O tabagismo pode lesar o rim por meio de diversas vias: Desenvolve HAS. Aumenta a TFG e pode promover a progressão da doença renal por meio da hiperfiltração e hipertensão do capilar glomerular. Aumenta os níveis de aldosterona. A obesidade é considerada um fator de risco independente para a DRC. OBESIDADE: Uma metanálise das intervenções da perda de peso em pacientes obesos com DRC apresentou uma associação entre a perda de peso e uma diminuição na proteinúria e na pressão arterial sistêmica. Esses efeitos foram independentes da redução da PA. CONSEQUÊNCIAS CARDIOVASCULARES: A DCV é a principal causa de morte em pacientes com DRC. Há um aumento da prevalência global de DCV nesses pacientes. A hipertrofia ventricular esquerda (HVE) e a doença cardíaca isquêmica (DCI) são as manifestações mais comuns de DCV nessa população. Acredita-se que o ambiente urêmico também influencia a natureza das placas ateroscleróticas na população com DRC. A presença notável dos chamados fatores de risco não tradicionais, como estresse oxidativo, inflamação, calcificação vascular e AGEs, aumenta à medida que a TFG diminui. A hiper-homocisteinemia, um fator de risco independente para aterosclerose na população geral, é altamente prevalente nos pacientes com DRC. Aproximadamente, 90% dos pacientes com DRC apresentam níveis plasmáticos elevados de homocisteína, decorrente do metabolismo prejudicado da homocisteina. O tratamento desse distúrbio com suplementação de folato, vitamina B6 e vitamina B12 raramente corrige os níveis anormais de homocisteína observados em pacientes com DRC. Essas vitaminas reduzem os níveis de homocisteína em pacientes com DRC, embora ainda não estejam associadas a melhores desfechos DCV. A anemia aumenta o desenvolvimento de HVE, um fator de risco importante para eventos cardiovasculares adversos. No entanto, a correção da anemia com medicamento estimulador da eritropoiese (MEE) não melhorou os desfechos da DCV. Não está claro se essa não melhora é o resultado da própria terapia com MEE ou do alvo mais elevado de Hb. A calcificação da vasculatura decorrente da hiperfosfatemia, do elevado cálcio-fósforo, e talvez a ingestão excessiva de cálcio também podem contribuir para DCV. As calcificações das artérias coronárias, válvulas e tecido miocárdico, bem como a fibrose miocárdica difusa são achados patológicos comuns em corações urêmicos. A hiperfosfatemia está fortemente associada à mortalidade em pacientes com DRT. A correção da hiperfosfatemia com três quelantes de fosfato (acetato de cálcio, carbonato de sevelamer, carbonato de lantânio) em pacientes com DRT esteve associada com mais calcificação coronária em comparação ao placebo. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Geral: noctúria, fadiga, perda de apetite, soluções, redução na massa muscular, caquexia, edema, HAS e câimbras Neurológico: distúrbios do sono, redução da atenção e da capacidade cognitiva, alterações de memória, lentificação, mioclonias, convulsões, confusão mental e coma Periférico: neuropatia sensitivo-motora, síndrome das pernas inquietas Cardiovascular: pericardite, tamponamento cardíaco, miocardiopatia urêmica, aceleração da ateroclesrose Pulmonar: pleurite, pneumonite, edema pulmonar, respiração de Kusmaull Gastrintestinal: náuseas, vômitos, gastrite erosiva, pancreatite, ascite, paroidite Hematológico: anemia por deficiência de eritropoietina, disfunção plaquetária, alteração de função neutrofílica Nefrologia – Amanda Longo Louzada 5 DOENÇA RENAL CRÔNICA Endócrino-metabólica: hiperparatireoidismo secundário, alteração no metabolismo ósseo, calcificações vasculares em partes moles e vasos, impotência e redução da libido, alteração de ciclo menstrual, hiperprolactenemia, dislipidemias, intolerância à glicose Dermatológico: hiperpigmentação, prurido, pele seca, pseudoporfiria cutânea Hidroeletrolíticos: hiponatremia, hipercalemia, hipocalemia, hiperfosfatenemia, acidose metabólica Glândulas: Hipotálamo-hipófise: aumenta da produção de GH e prolactina Tireóide: aumento de T4 e TSH, diminuição de T4 e T3 livre Pâncreas: aumenta de insulina e glucagon Gônadas: diminuição de testosterona, estrogênio e progesterona, aumenta de LH e FSH Adrenais: diminuição de aldosterona, aumento de cortisol, ACTH e catecolaminas Rins: diminuição de eritropoietina, renina e vitamina D3 DOENÇA CARDIOVASCULAR: Hipertrofia Ventricular Esquerda: HVE excêntrica em vez de concêntrica é duas vezes mais prevalente, o que sugere um papel de destaque para a anemia na gênese dos ventrículos esquerdos hipertrofiados em pacientes com DRC. Doença Arterial Coronariana. Doença Vascular Periférica: calcificação vascular da média das grandes artérias periféricas é comumente observada. Doença Vascular cerebral. Fibrilação Atrial: isso tem sido atribuído aos fatores de risco compartilhados, como idade avançada, hipertensão, ICC e obesidade. ANEMIA: É caracterizada por hemácias normocíticas e normocrômicas. O grau de anemia foi mais acentuado nos pacientes com os menores TFGs. A anemia, porém, pode se desenvolver em pacientes com níveis de TFG abaixo de 60 mL/min. A hipóxia é um fator que estimula a liberação de eritropoetina A principal causa de anemia em pacientes com DRC é um estado de deficiência de eritropoietina "relativa” em pacientes com DRC, uma vez que os níveis são inadequadamente baixos para o grau de anemia em comparação com indivíduos normais. Uma causa secundária comum de anemia é a deficiência de ferro. A perda de sanguepelas flebotomias associadas a exames laboratoriais, sangramento gastrintestinal oculto, diminuição da absorção de ferro, restrição dietética e uso de ferro por eritropoiese estimulada exogenamente, tudo contribui para o desenvolvimento e manutenção da deficiência absoluta de ferro. As condições inflamatórias agudas e crônicas (incluindo infecções) são outra causa comum de anemia e/ ou resposta reduzida à terapia MEE em pacientes com DRC e DRT. A produção de citocina estimulada pela inflamação/infecção diminui a produção das hemácias por meio da redução da produção de eritropoietina, diminuição da resposta medular à eritropoietina e aumento da produção de hepcidina, que sequestra ferro no sistema reticuloendotelial, induzindo uma deficiência de ferro "funcional". A avaliação da anemia em pacientes com DRC deve incluir os seguintes exames: Hemoglobina e Hematócrito Índices hematimétricos (VCM / HCV / CHCM). Contagem de reticulócitos. Teste para sangue oculto nas fezes. Parâmetros de ferro: índice saturação de transferrina e ferritina sérica A deficiência funcional de ferro, que se refere ao desequilíbrio entre o ferro necessário para prover a eritropoiese e a quantidade liberada a partir dos locais de armazenamento, frequentemente está presente. A ferritina sérica é uma proteína de fase aguda e pode ser afetada por processos inflamatórios. Nefrologia – Amanda Longo Louzada 6 DOENÇA RENAL CRÔNICA A ferritina pode estar elevada em pacientes com DRC, nos quais a inflamação subclínica é comum. Uma concentração de ferritina abaixo de 100 ng/mL geralmente é diagnóstico de deficiência de ferro; no entanto, o nível de ferritina pode ser elevado secundário à inflamação crônica ou à infecção. O Índice de Saturação da Transferrina (SAT) geralmente reflete a quantidade de ferro disponível necessária para prover a eritropoiese, se refere ao transporte de ferro A dosagem de ferritina serve para ver o armazenamento de ferro Uma SAT inferior a 20% geralmente indica deficiência funcional de ferro. A anemia está associada de forma independente com a presença de HVE em pacientes com DRC. Um declínio da Hb de 1 g/dL foi associado a um aumento independente de 6% do risco para HVE. A correção da anemia retardou a progressão da DRC e especulou-se que os potenciais mecanismos para um tal benefício desejável tenha sido o resultado da correção da anemia/fibrose intersticial induzida pela hipóxia e o efeito antiapoptótico de eritropoietina. O aumento da PA que se desenvolve com o MEE é causado por um aumento da resistência vascular sistêmica, bem como pelos efeitos pressores diretos e indiretos do medicamento. Essas preocupações podem ser atenuadas quando reduz a velocidade de correção da Hb para uma média de 01g/dL/mês. Os níveis ideais de Hb na DRC são desconhecidos. As diretrizes recomendam iniciar o tratamento com MEE quando a Hb for inferior a 10 g/ dL, e diminuir ou interromper o uso de MEE quando ela for superior a 13 g/ dL. Iniciar MEE após todas as outras formas reversíveis de anemia tenham sido resolvidas. Terapias adjuvantes para a anemia, como as vitaminas C, D, e E, ácido fólico, carnitina-L e pentoxifilina não são recomendadas. A injeção subcutânea é a via preferida em relação a endovenosa para administração do MEE. A dose inicial recomendada de Eritropoetina Recombinante Humana (rHuEpo) é de 50 a 100 U/kg. A medida que a eritropoiese é estimulada e a medula produz hemácias, os estoques de ferro são usados rapidamente. Os índices de ferro como a SAT e a ferritina devem ser monitorados regularmente para orientar a administração de ferro, seja oral ou venoso. A terapia com ferro não forneçe benefícios adicionais ao exceder os limites superiores de normalidade e pode levar ao risco de sobrecarga de ferro e talvez infeccioso. A resposta abaixo do ideal à terapia com MEE inclui estados inflamatórios, perda gastrintestinal de sangue e doenças hematológicas primárias. A deficiência de ferro é a causa mais comum de resistência à eritropoietina exógena em pacientes com DRC. O ferro intravenoso não deve ser administrado para pacientes com infecções sistêmicas ativas. As diretrizes do KDIGO observam que os benefícios das transfusões de hemácias podem às vezes superar os riscos em pacientes nos quais a terapia com MEE é ineficaz (hemoglobinopatias, insuficiência da medula óssea, resistência aos MEEs) e naqueles que os riscos da terapia com MEE podem superar seus benefícios (malignidade anterior ou atual, acidente vascular cerebral anterior). DISTÚRBIOS DO METABOLISMO MINERAL ASSOCIADOS: Em pacientes com DRC, a incidência de hiperfosfatemia, a hipocalcemia e o hiperparatireoidismo secundário aumentam à medida que a TFG diminui. Esses distúrbios metabólicos acabam por levar a um grupo de doenças ósseas conhecido coletivamente como osteodistrofia renal. O fósforo sérico aumenta à medida que a TFG diminui para menos de 60 mL/min/1,73 m2. O PTH aumenta a excreção renal de fósforo. A curto prazo, isso serve para manter a homeostase de fósforo. Quando a TFG cai para menos de 30 mL/min/l,73m2, a excreção renal de fosfato atinge um máximo. A hiperfosfatemia aumenta diretamente a secreção de PTH e estimula a proliferação e a hiperplasia das células da paratireoide. A hiperfosfatemia também diminui a expressão do receptor sensor de cálcio. O receptor sensor de cálcio é expresso nas células da paratireoide e detecta a concentração de cálcio no fluido extracelular (FEC). Existe uma relação sigmoidal inversa entre o cálcio e o PTH séricos com um componente não suprimível da secreção de PTH, mesmo com altos níveis séricos de cálcio. Nefrologia – Amanda Longo Louzada 7 DOENÇA RENAL CRÔNICA A diminuição da sensibilidade ao cálcio nos pacientes com DRC e hiperparatireoidismo secundário pode ser um resultado de expressão reduzida do receptor sensor de cálcio na glândula paratireoide. A diminuição da função renal, diminui a ativação da vitamina D, prejudicando a absorção de cálcio no intestino, diminuindo o cálcio sérico, fazendo com que haja um aumento da produção de PTH, causando um hiperparatireoidismo secundário Ao retirar o cálcio do osso retira junto o fosfato, fazendo com que ocorra uma hiperfosfatenemia, pois o rim não consegue eliminar o excesso de fósforo Paciente renal crônica normalmente possui hiperfosfatenemia e hipocalcemia Parar tratar esse distúrbio deve dar quelante de fósforo e vitamina D A conversão da 25(0H) Vit D para seu metabólito ativo 1,25(0H)2 Vit D ocorre principalmente no túbulo proximal por meio da enzima hidroxilase-1 alfa e está diminuída nos pacientes com DRC. A hiperfosfatemia inibe diretamente a atividade da hidroxilase-1 alfa e impede a síntese de vitamina D ativa. A oferta de 25(0H) Vit D para o local da hidroxilase- 1 alfa no túbulo proximal é limitado na situação da TFGs muito baixos. A 1,25(0H)2 vit D3 é um potente supressor da transcrição gênica de PTH, do crescimento da paratireoide e da proliferação celular. O receptor de vit D e o receptor sensor de cálcio na paratireoide são infrarregulados na DRC. A expressão do receptor sensor de cálcio também é regulada pela 1,25 (OH)2 Vit D3. Uma diminuição na expressão do receptor sensor de cálcio, diminui a capacidade de resposta da glândula paratireoide de ser inibida pelo cálcio. A hipocalcemia ocorre tardiamente no curso da doença renal, geralmente, após alteração de fósforo, 1,25(OH)2 Vit D3 e PTH séricos. Hipocalcemia aumenta a concentração de PTH e exacerba o hiperparatireoidismo secundário. A combinação de todas as anormalidades bioquímicas mencionadasanteriormente, em particular a hiperfosfatemia e outros fatores presentes no soro urêmico induzem as células do músculo liso vascular a sofrer transdiferenciação em células semelhantes a osteoblastos/condrócitos. Tais células subsequentemente aumentam a expressão de proteínas associadas ao tecido ósseo e reguladoras da mineralização, e aumentam a deposição de matriz extracelular. A concentração PTH começa a subir quando a TFG cai abaixo de 40 mL/min. A produção e secreção de PTH são regulados pelo fosfato, 1,25(0H)2 Vit D3 e cálcio. As alterações nesses parâmetros estimulam o desenvolvimento do hiperparatireoidismo secundário. DMO-DRC: Um distúrbio sistêmico do metabolismo mineral e ósseo causado pela DRC, manifestado por um dos seguintes aspectos ou uma combinação deles: Anormalidades do metabolismo de cálcio, fósforo, PTH ou vitamina D Anormalidades da remodelação mineralização, volume, crescimento linear ou força do osso Calcificação vascular ou de outro tecido mole Osteodistrofia Renal: Uma alteração na morfologia óssea em pacientes com DRC A morfologia óssea é uma medida do componente esquelético do distúrbio sistêmico DMO-DRC que é quantificável apenas por histomorfonometria da biópsia óssea A osteodistrofia renal é um grupo de distúrbios metabólicos do osso que se desenvolvem como consequência da doença renal. Ela inclui osteíte fibrosa, osteomalácia, osteodistrofia urêmica mista e doença óssea adinâmica. A osteíte fibrosas se desenvolve como resultado do aumento da concentração de PTH, que aumenta o número e a atividade dos osteoblastos e osteoclastos (remodelação óssea elevada). A osteomalácia é causada por deficiência de 1,25 (OH)2 Vit D3 sendo caracterizada por remodelação óssea baixa com amplos rebordos osteoides desmineralizados e a ausência de osteoclastos e superfícies erosivas. A osteodistrofia urêmica mista apresenta características de ambas a osteíte fibrosa e a osteomalácia. A doença óssea adinâmica distingue-se por uma redução na formação e na reabsorção do osso e é manifestada histologicamente por estreitos rebordos osteoides, com pouca ou nenhuma evidência de atividade celular. Prevalência na DRC avançada: Osteíte fibrosa em 40 a 56% Osteomalácia em 2 a 11% Doença óssea adinâmica em 27 a 48% Prevalência na DRC leve: Osteíte fibrosa em 39,6% Osteodistrofia urêmica mista em 28,7% Doença óssea adinâmica em 5,7% Nefrologia – Amanda Longo Louzada 8 DOENÇA RENAL CRÔNICA Osteomalácia em 4,5% O PTH intacto (PTHi) é o biomarcador mais utilizado para a avaliação da remodelação óssea e classificação da osteodistrofia renal. Níveis de PTH – I menores que 65 pg/mL estão frequentemente associados à doença óssea adinâmica. Níveis de PTH – I maiores que 200 pg/ mL são frequentemente associados com osteíte fibrosa. O PTH liga rim e osso. O calcitriol conecta rim, glândula paratireoide, osso e intestino O FGF-23 e klotho fornecem uma conexão entre osso e rins, e osso e glândulas paratireoides. A fosfatonina, fator de crescimento 23 do fibroblasto (FGF-23), secretada pelos osteócitos, os quais são derivados dos osteoblastos. Os níveis séricos de FGF-23 estão elevados na DRC, e os níveis séricos de FGF-23 intacto aumentam com a diminuição da TFG. O FGF-23 é estimulado em resposta a um aumento do calcitriol, aumento do PTH, níveis séricos de fósforo aumentados A produção de FGF-23 reflete uma alça de retroalimentação que inibe a síntese de calcitriol e aumenta a degradação do calcitriol, inibe a secreção do PTH e aumenta a excreção renal de fósforo. No rim e na glândula paratireoide, o FGF-23 se liga a seu receptor e a um correceptor, klotho. Os fatores predisponentes incluem o meio DMO- DRC e a inflamação crônica. A fetuína-A sérica, que é um potente inibidor da calcificação extraesquelética, está reduzida em pacientes com DRC com grave calcificação vascular. Os níveis reduzidos de proteína da matriz GLA (varfarina), pirofosfatos, proteínas morfogenéticas ósseas e osteoprotegerina também podem aumentar a calcificação vascular. A hiperfosfatemia é inicialmente controlada com restrição dietética, podendo der necessário os quelantes orais de fosfato. O objetivo pacientes com DRT é manter o produto de cálcio-fósforo igual a ou inferior a 55. Na DRC estágios 3 e 4, a meta para o fósforo sérico é igual ou inferior a 4,6 mg/ dL, enquanto a meta é igual ou inferior a 5,5 mg/dL para o estágio 5 da DRC. O uso de quelantes de fosfato contendo cálcio, ex: carbonato de cálcio e acetato de cálcio, resultam em balanço de cálcio real positivo em pacientes com DRT, podendo levar a calcificações vasculares. O cloridrato de sevelamer, um polímero sintético livre de cálcio, tem um perfil favorável de efeitos colaterais, porém seu custo é alto. O alumínio é o quelante mais eficiente e é relativamente barato, no entanto, tem uma toxicidade significativa em longo prazo (osteomalácia e demência relacionadas ao alumínio), só devendo ser usados no manejo em curto prazo da hiperfosfatemia grave (fosfato > 8,5 mg/dL). O carbonato de lantânio, outro quelante de fosfato que não contém cálcio fornece um controle geralmente seguro e eficaz da hiperfosfatemia, porém seu custo é alto. A hipocalcemia é um potente estimulador da secreção de PTH. O cálcio sérico deve ser corrigido para o limite inferior da normalidade, já que aumenta o risco de calcificação vascular e o desenvolvimento de doença óssea adinâmica quando quantidades excessivas são consumidas. A acidose metabólica é comum em pacientes com DRC, aumentando a perda de osso, pois potencia o efeito do PTH e diminui a produção da 1,25(0H)2 Vit D3• A correção da acidose metabólica ajuda no estado nutricional e retarda a progressão do Nefrologia – Amanda Longo Louzada 9 DOENÇA RENAL CRÔNICA hiperparatiroidismo secundário e a progressão de DRC. Uma meta para o bicarbonato sérico igual ou superior a 22 mEq/L pode ser alcançada com 1 a 4 g de bicarbonato de sódio diariamente, com um controle rigoroso para a hipertensão e sobrecarga hídrica. Controle dos níveis do PTH-I: O primeiro passo é a correção da hiperfosfatemia e da hipocalcemia. Se o PTH permanecer elevado ou se aquelas condições estão ausentes, então a terapia com vitamina D será necessária em pacientes com baixos níveis de 25(0H) vitamina D, como colecalciferol ou ergocalciferol pode diminuir os níveis de PTH-I. Contudo, se o PTHi não melhorar ou continuar a aumentar, a terapia com vitamina D ativa, como calcitriol (0,25-0,50 g/dia) frequentemente estabilizam e diminuem os níveis de PTH-I. Controle dos níveis do PTH-I: O primeiro passo é a correção da hiperfosfatemia e da hipocalcemia. Se o PTH permanecer elevado ou se aquelas condições estão ausentes, então a terapia com vitamina D será necessária em pacientes com baixos níveis de 25(0H) vitamina D, como colecalciferol ou ergocalciferol pode diminuir os níveis de PTH-I. Contudo, se o PTHi não melhorar ou continuar a aumentar, a terapia com vitamina D ativa, como calcitriol (0,25-0,50 g/dia) frequentemente estabilizam e diminuem os níveis de PTH-I. O calcimimético cinacalcet é um medicamento que ajuda reduzir tanto o PTH-I como a concentração sérica de cálcio. No entanto, ele pode causar hiperfosfatemia quando empregado nos estágios precoces da DRC. O cinalcacet pode ser particularmente útil em pacientes com DRC com hiperparatireoidismo secundário que seja refratário à terapia convencional (p. ex., análogos da vitamina D e quelantes de fosfato). A paratireoidectomia total ou subtotal com autotransplante é frequentemente reservada parao tratamento de pacientes com hiperparatireoidismo secundário grave refratários ao tratamento medicamentoso. Quando a paratireoidectomia cirúrgica é considerada necessária, mas o paciente tem risco operatório alto, a ablação das glândulas percutânea com etanol pode ser realizada guiada por ultrassonografia PREPARAÇÃO DO PACIENTE COM DRC PARA TERAPIA DE SUSBTITUIÇÃO RENAL: