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1 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 Reumatologia EXAME FÍSICO DO MEMBRO INFERIOR Quadril: O quadril é formado por um conjunto de ossos articulados entre si: vértebra L5, sacro, cóccix, íleo, ísquio, púbis e fêmur proximal. Os principais ligamentos do quadril são o ligamento sacro-ilíaco, o ligamento púbico (ligamento que forma a sínfise púbica), o ligamento inguinal e os ligamentos que formam a articulação entre a cabeça do fêmur e o acetábulo. A cabeça do fêmur articula-se com o acetábulo, estrutura formada pela fusão entre os ossos íleo, ísquio e púbis, por meio dos ligamentos íleofemoral, ísquiofemoral e pubofemoral. O quadril tem importância fundamental nas atividades diárias. A partir do quadril, a movimentação é iniciada e executada. Além disso, o quadril também é responsável pela transmissão e distribuição do peso do corpo para os membros inferiores. Anamnese: Na anamnese, deve-se avaliar idade, história de traumatismo do quadril, cuja ausência aumenta a probabilidade de doença degenerativa da articulação do quadril, prática de esportes e/ou outras atividades associadas a movimentos de rotação do quadril, geralmente associados a lesão de estruturas intra-articulares. Além disso, deve-se diferenciar sintomas relacionados à coluna vertebral, aos sistemas neurovascular, abdominal, genitourinário e aos membros inferiores, que podem se confundir com doenças exclusivamente relacionadas ao quadril. Exame Físico: O exame físico do quadril divide-se em inspeção, palpação, avaliação da mobilidade articular e realização de testes específicos. Além disso, o exame físico deve ser realizado com o paciente em pé, sentado e, finalmente, deitado. No exame físico com o paciente em pé, deve-se realizar: - Inspeção: avaliar possíveis desvios posturais, hipertrofias, hipotrofias e cicatrizes; quando o paciente relata dor na região anterior do quadril, deve-se suspeitar de doenças intra-articulares; quando o paciente relata dor na face lateral do quadril, deve-se suspeitar de doenças extra- articulares; quando o paciente relata dor na região posterior do quadril, deve-se suspeitar de doenças da coluna vertebral e da síndrome do músculo piriforme como possíveis diagnósticos diferenciais; deve-se observar o paciente ao caminhar com o objetivo de identificar possíveis alterações da marcha; na marcha antálgica, há diminuição do apoio no lado acometido por lesão 2 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 articular como mecanismo de autoproteção devido à dor. - Teste de Trendelenburg: solicita-se que o paciente permaneça apoiado em uma única perna por no mínimo 6 segundos e observa- se o paciente de costas; o teste é positivo quando há queda do quadril para o lado oposto ao que está apoiado, indicando atrofia ou hipotrofia do músculo glúteo médio. No exame físico com o paciente sentado, deve-se realizar: - Inspeção: avaliar lesões de pele, possíveis varizes e edema de membros inferiores. - Palpação: palpar pulsos das artérias dorsal do pé e tibial posterior para avaliação da vascularização do quadril. - Arcos de movimento: rotação interna e rotação externa do quadril; um dos principais sinais de doença intra-articular é a perda da rotação interna do quadril. - Exame neurológico: testes de força muscular de flexão, abdução e adução do quadril; testes de sensibilidade; reflexos, como o reflexo patelar. No exame físico com o paciente deitado, deve-se realizar: - Inspeção: mensuração da distância entre a espinha ilíaca anterossuperior e o maléolo medial, com o quadril e o joelho em extensão total, comparando com o lado contralateral, avaliando possível dismetria dos membros inferiores. - Palpação: palpação de articulações, músculos, tendões e ossos objetivando identificar lesão ligamentar, doença intra- articular, tendinite e fraturas ósseas; a presença de dor à palpação da articulação sacro-ilíaca é indicativa de sacroileíte; a presença de dor à palpação da região do nervo isquiático e do músculo piriforme é sugestiva de doenças da coluna vertebral, como hérnia discal que causa compressão do nervo isquiático, ou da síndrome do músculo piriforme. - Arcos de movimentos: flexão, extensão, rotação interna, rotação externa, abdução e adução. - Teste de Patrick-Fabere: flexão, abdução e rotação externa do quadril a ser examinado e extensão do quadril contralateral; o teste é positivo quando o paciente refere dor na articulação ipsilateral, indicando doença da articulação examinada, ou na articulação sacro-ilíaca contralateral, indicando sacroileíte. - Teste de Thomas: solicita-se que o paciente realize flexão ativa do quadril contra o tronco enquanto realiza extensão ativa do quadril contralateral; avalia-se o grau de contratura em flexão do quadril; o teste é positivo se não houver extensão completa do membro inferior enquanto o outro está fletido contra o tronco. - Teste de Gaenslen: com o paciente em decúbito dorsal na beira do leito, solicita-se 3 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 que ele realize a flexão do quadril e a extensão do quadril contralateral para fora da cama; o teste é positivo quando o paciente relata dor na articulação sacro-ilíaca à extensão do quadril, indicando sacroileíte. - Teste de Lasègue: o teste é positivo quando o paciente relata dor lombar à elevação passiva do membro inferior com o quadril e o joelho em extensão, indicando doenças da coluna lombar, como hérnia discal, que causa compressão de raízes nervosas lombossacrais e/ou ciatalgia; a dor geralmente inicia após 30º de elevação do membro inferior. - Teste de Ely: com o paciente em decúbito ventral, realiza-se flexão passiva do joelho em direção ao glúteo máximo; o teste é positivo se houver qualquer elevação da pelve, indicando contratura do músculo reto femoral. - Teste de Ober: com o paciente em decúbito lateral, realiza-se flexão e adução do quadril a ser examinado, depois abdução e, finalmente, extensão; o teste é positivo quando o paciente não é capaz de realizar a adução do quadril, indicando contratura do trato iliotibial. Joelhos: O joelho é formado por fêmur distal, tíbia proximal, fíbula proximal, patela e estruturas articulares. A articulação do joelho é formada por ligamento colateral medial, ligamento colateral lateral, ligamento cruzado anterior, ligamento cruzado posterior, menisco medial, menisco lateral, trato iliotibial, bursa anserina e tendões dos músculos da “pata de ganso”. A patela é o osso que protege a articulação do joelho. A patela desliza sobre as estruturas articulares do joelho associada à movimentação da articulação. A função patelar é determinada principalmente pelo tendão quadríceps femoral, que se insere na patela, e pelo tendão patelar, que se insere na tuberosidade tibial, articulando a patela à tíbia proximal. 4 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 Anamnese: Na anamnese, sempre deve-se avaliar dados importantes da identificação do paciente, como idade, sexo, profissão, atividade física principal, esporte e posição em que pratica o esporte. Muitas das doenças do joelho estão relacionadas à idade, como epifisites, osteocondrites, osteonecrose, lesões meniscais degenerativas ou traumáticas, doença femoropatelar, instabilidade articulares, etc. As lesões traumáticas do joelho mais comuns em adultos são as lesões ligamentares e em idosos são as fraturas. A doença do quadril pode, muitas vezes, causar sinais/sintomas no joelho. Na avaliação da queixa principal, sempre deve-se questionar qual é a queixa principal, como dor ou falseios/instabilidades, quando o sinal/sintoma iniciou, como o sinal/sintoma iniciou (mecanismo de trauma) e qual ou quais as atividades que desencadeiam a queixa principal. Além disso, também deve- se questionar os tratamentos já realizados e os seus resultados. A dor é uma das principais queixas relacionadasao joelho, havendo necessidade de avaliar sua localização (alta ou baixa, anterior medial ou lateral, posterior medial ou lateral), sua periodicidade (diurna ou noturna), sua relação com as atividades profissional, de lazer ou esportiva e seu início (agudo ou insidioso). Outra queixa comum é o estalo ou estalido do joelho, geralmente associada à lesão do ligamento cruzado anterior. O falseio é um sintoma muito comum que está associado a muitas doenças do joelho, como as lesões meniscais, os corpos livres articulares, as instabilidades femoropatelares e, principalmente, as lesões ligamentares. Outro sinal/sintoma relacionado ao joelho é o derrame articular, que, quando ocorre logo após traumatismo, sugere hemartrose, quando ocorre tardiamente, sugere sinovite reacional e, quando ocorre de forma crônica e insidiosa sem história de problemas mecânicos envolvendo a articulação do joelho, sugere doença sinovial pura, como doença reumática. Exame Físico: O exame físico do joelho divide-se em: - Inspeção: avaliar alinhamento, presença de edema, derrame articular, equimoses, atrofias ou hipotrofias musculares, deformidades e alterações da marcha na inspeção dinâmica; as principais alterações de alinhamento do joelho são o geno valgo (desvio medial dos joelhos) e o geno varo (desvio lateral dos joelhos); na inspeção dinâmica com o paciente sentado realizando flexão e extensão do joelho, avalia-se a posição da patela e o seu movimento de deslizamento sobre a articulação do joelho, objetivando identificar possível crepitação. - Palpação: palpação dos tendões dos músculos da “pata de ganso” (grácil, sartório e semitendíneo), que se inserem na face medial da tíbia e são dolorosos à palpação nos casos de bursite ou tendinite anserina; palpação da fossa poplítea buscando identificar a presença de cistos, dos quais o mais comum é o Cisto de Baker; palpação do tendão quadríceps femoral, formado pelos músculos reto femoral e vastos medial, intermédio e lateral, buscando identificar a presença de atrofias ou hipotrofias; palpação da articulação do joelho, objetivando identificar possível derrame articular; palpação da patela, buscando mobilizá-la para palpar as estruturas articulares do joelho, dolorosas em pacientes com artrite ou artrose; a presença de mobilização em excesso da patela indica luxação ou subluxação patelar. Para avaliar a integridade da articulação do joelho e dos músculos do tendão quadríceps femoral, realiza-se flexão e extensão do joelho. Os pacientes que apresentam artrite do joelho não são capazes de realizar flexão e extensão completa do joelho. 5 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 - Testes Específicos: → Teste de estresse em abdução (valgo): com o paciente sentado e a coxa completamente apoiada sobre a mesa de exame, realiza-se movimento de abdução da perna, provocando valgo do joelho, e avaliando o ângulo de abertura da linha interarticular à palpação digital; o teste é positivo quando há aumento do ângulo de abertura da linha interarticular, indicando a presença de lesão do ligamento colateral medial. → Teste de estresse em adução (varo): semelhante ao teste de estresse em abdução, exceto que o movimento realizado é de adução da perna, provocando varo do joelho; o teste é positivo quando há aumento do ângulo de abertura da linha interarticular, indicando a presença de lesão do ligamento colateral lateral. → Teste de Lachman: com o paciente em decúbito dorsal e o joelho em flexão de 30º, o examinador palpa com uma das mãos a região supracondilar do fêmur e, com a outra, a região superior da tíbia, realizando movimentos opostos com cada uma das mãos, uma para frente e outra para trás, com o objetivo de deslizar uma superfície articular sobre a outra; quando a tíbia desloca-se para frente, o teste é positivo para lesão do ligamento cruzado anterior; quando a tíbia desloca-se para trás, o teste é positivo para lesão do ligamento cruzado posterior. → Teste da Gaveta Anterior: com o paciente em decúbito dorsal e o joelho em flexão de 90º, o examinador palpa com ambas as mãos a região posterior do terço superior da tíbia, tracionando-a para frente (movimento de gaveta); o teste é positivo quando a tíbia desloca-se para frente, indicando lesão do ligamento cruzado anterior. → Teste da Gaveta Posterior: semelhante ao teste da gaveta anterior, exceto que o examinador palpa com ambas as mãos a região anterior dos planaltos tibiais, empurrando a perna para trás; o teste é positivo quando a tíbia desloca-se para trás, indicando lesão do ligamento cruzado posterior. 6 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 → Teste de McMurray: com o paciente em decúbito dorsal, o quadril em flexão de 90º e o joelho em flexão de 90º, o examinador palpa as interlinhas articulares com uma das mãos e, com a outra mão, segura o pé do paciente, realizando movimentos de rotação interna e externa da perna; a presença de dor, com ou sem estalos/estalidos, na interlinha articular medial após rotação externa indica lesão do menisco medial e na interlinha articular lateral após rotação interna indica lesão do menisco lateral. → Teste de Appley: semelhante ao teste de McMurray, porém realizado com o paciente em decúbito ventral; o objetivo é o mesmo, ou seja, identificar lesão do menisco medial e/ou lateral. → Teste de Steinmann: com o paciente sentado e os joelhos em flexão de 90º pendentes, realiza-se rotação interna e externa da perna, segurando pelo pé; a presença de dor ou estalo/estalido na interlinha articular indica lesão do menisco correspondente (medial ou lateral). Tornozelo e Pé: A anatomia óssea do pé é dividida em retropé, formado por calcâneo e tálus, mediopé, formado pelos ossos cuboide, navicular e cuneiformes medial, intermédio e lateral, e antepé, formado pelos ossos metatarsais e pelas falanges proximais, médias e distais. Anamnese: Na anamnese, deve-se avaliar dados como sexo, idade, profissão, atividades físicas habituais e necessidade de uso de calçados especiais. Deve-se investigar a data de início da queixa principal, sua evolução e sua relação com doenças pessoais ou familiares (artrites, infecções, alterações vasculares, DM, neuropatias, traumatismos, anomalias congênitas, etc), localização da dor, relação com atividades desenvolvidas, fatores de melhora ou piora, tratamentos prévios e seus resultados e sinais e sintomas associados, como edema, rigidez articular, fraqueza, instabilidade, lesões cutâneas, etc. Exame Físico: O exame físico do pé divide-se em: - Inspeção: avaliar alinhamento dos pés, presença de alterações cutâneas e deformidades e observar pontos anatômicos 7 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 (antepé, mediopé, retropé, maléolo medial ou tibial, maléolo lateral ou fibular, tendão de Aquiles, etc). As principais deformidades do pé estão relacionadas à sua pisada e são: - Pé cavo ou varo. - Pé plano ou valgo. As principais deformidades do hálux são: - Hálux valgo (Joanete): desvio medial do hálux, resultando em deformidades na base do I metatarso e em lesão da articulação metatarsofalângica do hálux. - Hálux varo: desvio lateral do hálux. - Palpação: palpar dorso do pé, planta do pé, pulso pedioso (pulso da artéria dorsal do pé, palpável lateralmente à proeminência dorsal da base do I metatarso) e pulso tibial posterior (palpável imediatamente posterior ao maléolo medial ou tibial); atentar para alterações de temperatura da pele, presença de edema, inflamação, hiperidrose ou anidrose, úlceras e calos; avaliar sensibilidade cutânea do dorso e da planta do pé; palpar tendões e ligamentos do tornozelo, buscando a presença de pontos dolorosos. - Movimentos Articulares: → A presença de dor e/ou diminuição dos movimentos de inversão e eversão do pé indicam lesão do complexo articular subtalar. → A presença de dore/ou diminuição dos movimentos de adução e abdução do pé indicam lesão das articulações calcaneocubóidea e talonavicular. → A presença de dor e/ou diminuição dos movimentos de flexão plantar e dorsiflexão do pé indicam lesão da articulação tarsometatársica. → A presença de dor, rigidez e/ou diminuição dos movimentos de flexão plantar e dorsiflexão dos dedos indicam lesão das articulações metatarsofalângicas e interfalângicas. A gota ou artrite gotosa caracteriza-se por deposição de cristais de ácido úrico nas articulações, principalmente na articulação metatarsofalângica do hálux, que causa processo inflamatório da articulação (artrite), resultando em dor e diminuição da mobilização articular. - Testes Específicos.
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