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1 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 Reumatologia GOTA Definição: A gota é uma doença articular inflamatória causada por depósito de cristais de monourato de sódio no tecido articular e periarticular, associada ao aumento da concentração sérica de ácido úrico (hiperuricemia). A artrite gotosa é classificada como uma artrite microcristalina, visto que a inflamação articular deve-se ao depósito de cristais no interior das articulações. As principais características clínicas da gota são: - Crises recorrentes de artrite inflamatória aguda. - Artropatia crônica. - Acúmulo de cristais de monourato de sódio na forma de tofos, causando, ao longo do tempo, deformidades articulares. - Nefrolitíase por ácido úrico, devido à precipitação de cristais de monourato de sódio no interior dos túbulos renais. - Nefropatia por ácido úrico. Epidemiologia: A gota acomete principalmente homens a partir da 5ª década de vida. Entretanto, após os 60 anos de idade, a prevalência da doença é equivalente em homens e em mulheres. A gota é rara em mulheres na pré- menopausa, pois o estrogênio apresenta efeito uricosúrico, exceto nos casos de erros inatos do metabolismo, em que a gota desenvolve-se tanto em homens quanto em mulheres jovens. A incidência da gota aumenta com a idade e com o aumento da incidência da hiperuricemia na população geral. As crises de artrite gotosa aguda são mais frequentes durante a primavera e o verão. Fatores de Risco: - Idade. - Hiperuricemia. - Alcoolismo. - Dieta rica em carne vermelha. - HAS e doenças cardiovasculares. - Diabetes mellitus. - Obesidade. - Dislipidemia. - Síndrome metabólica. - Uso de medicamentos, como diuréticos tiazídicos e AAS. - Doença renal crônica. - Uso de imunossupressores, como ciclosporina. - Doenças hematológicas. Etiologia e Fisiopatologia: A quantidade total de ácido úrico do organismo resulta do equilíbrio entre a produção e a excreção de urato. Aproximadamente 80% da quantidade total de urato é produzida a partir do metabolismo das purinas endógenas que, ou são produzidas de novo, ou são formadas a partir do catabolismo dos ácidos nucleicos (DNA e RNA) celulares. Aproximadamente 20% da quantidade total de urato é produzida a partir do metabolismo das purinas exógenas que, por sua vez, são formadas a partir do catabolismo das proteínas da dieta. Quanto à excreção de ácido úrico, aproximadamente 1/3 da quantidade total de urato apresenta excreção intestinal e aproximadamente 2/3 da quantidade total de urato apresenta excreção renal. 2 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 Assim, o desequilíbrio entre a produção e a excreção de ácido úrico, ou seja, a hiperprodução e/ou a hipoexcreção de urato, resulta em hiperuricemia. Aproximadamente 90% dos pacientes com hiperuricemia são hipoexcretores de ácido úrico, definido como uricosúria < 800 mg/24 horas, e 10% dos pacientes com hiperuricemia são hiperprodutores de ácido úrico, definido como uricosúria > 800 mg/24 horas. O excesso de monourato de sódio no plasma sanguíneo (hiperuricemia) causa supersaturação dos fluidos que contêm ácido úrico, resultando em precipitação do monourato de sódio na forma de cristais, que se depositam principalmente nos tecidos articulares e periarticulares. A precipitação dos cristais de ácido úrico associa-se aos níveis séricos de monourato de sódio e ao tempo em que o paciente permanece com hiperuricemia. As principais causas de hiperprodução de ácido úrico (uricosúria > 800 mg/24 horas) são: - Hipóxia tecidual. - Doenças que causam aumento do catabolismo de ácidos nucleicos ou aumento do turnover celular (doenças inflamatórias e/ou proliferativas): → Hemólise. → Doenças mieloproliferativas. → Doenças linfoproliferativas. → Neoplasias malignas. → Psoríase. → Obesidade. → Hipertireoidismo. → Síndrome da lise tumoral. - Doenças que causam aumento da produção de ácido úrico de novo por alteração enzimática (erros inatos do metabolismo): → Glicogenoses. → Deficiência de G6PD. → Deficiência de HGPRT. → Excesso de PRPP. - Drogas que causam aumento do catabolismo celular: → Álcool. → Varfarina. → Deficiência de vitamina B12. → Ácido nicotínico. As principais causas de hipoexcreção de ácido úrico (uricosúria < 800 mg/24 horas) são: - Insuficiência renal aguda. - Insuficiência renal crônica. - HAS. - Desidratação. - Hipotireoidismo. - Hiperparatireoidismo. - Obesidade. - Drogas: → Álcool. → Diuréticos tiazídicos. → AAS. → Ciclosporina. - Acidose láctica. - Cetoacidose diabética. Classificação: A gota pode ser classificada, quanto à etiologia, em: - Gota Primária: causada por erros inatos do metabolismo que resultam em hiperprodução de ácido úrico e/ou por defeitos intrínsecos da excreção renal de urato que resultam em hipoexcreção de ácido úrico. - Gota Secundária: causada por doenças e/ou medicamentos que resultam em hiperuricemia, por hiperprodução ou por hipoexcreção de ácido úrico. Hiperuricemia Assintomática: A hiperuricemia assintomática é definida como o aumento dos níveis séricos de ácido úrico não associado às manifestações clínicas de gota, como artrite inflamatória aguda, artropatia crônica/tofos gotosos, nefrolitíase e/ou nefropatia. A hiperuricemia 3 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 é caracterizada por níveis séricos de ácido úrico > 6,8 mg/dL, que já resultam em supersaturação do monourato de sódio nos fluidos corporais e em precipitação de cristais. A hiperuricemia é um achado bioquímico comum e a maioria dos pacientes não apresenta manifestações clínicas associadas. A hiperuricemia geralmente é secundária ao uso de diuréticos tiazídicos ou à síndrome metabólica e é fator de risco para HAS e doenças cardiovasculares. Apresentação Clínica: Artrite Gotosa Aguda: A artrite inflamatória aguda causada pela gota geralmente é precedida por anos de hiperuricemia assintomática. Em homens, a primeira crise de artrite gotosa aguda geralmente ocorre entre a 4ª e a 6ª década de vida, já em mulheres, a primeira crise geralmente é mais tardia, devido ao efeito protetor do estrogênio durante a pré- menopausa, sendo frequentemente associada ao uso de diuréticos tiazídicos. A artrite gotosa aguda caracteriza-se por rápido desenvolvimento de dor, calor, edema e eritema da articulação. A dor geralmente é intensa, com pico máximo entre 12 e 48 horas. As crises iniciais geralmente são monoarticulares e a articulação mais acometida é a 1ª metatarsofalângica, em quadro denominado podagra. As crises artrite gotosa aguda podem durar de algumas horas até algumas semanas. Além da 1ª articulação metatarsofalângica, outras articulações que também podem ser acometidas pela artrite gotosa aguda são articulações do antepé, tornozelos, calcanhares e joelhos. As articulações menos comumente afetadas são os punhos, os dedos, os ombros e o quadril. Além das manifestações clínicas articulares, a artrite gotosa aguda também pode apresentar manifestações clínicas sistêmicas, como febre, calafrios e mal-estar. O eritema cutâneo que envolve a articulação apresenta-se de forma semelhante à celulite bacteriana. Os principais fatores precipitantes das crises de artrite gotosa aguda são: - Abuso de álcool. - Cirurgias. - Traumas. - Infecções/Sepse. - Medicamentos: diuréticos tiazídicos, AAS. Imagem: Podagra. O período assintomático entre uma crise de artrite gotosa aguda e outra é denominado período intercrítico e sua duração é variável (de dias até anos). Entretanto, ao longo do tempo, nos casos em que a hiperuricemia não é tratada, as crises tornam-se mais frequentes, com maior duração e com acometimento poliarticular. Apesar da ausência de sintomas durante o período intercrítico, os cristais de monourato de sódio são frequentemente identificados no líquido sinovial. A ausência de resolução completados sintomas articulares entre as crises e a presença de dor articular persistente indica que houve evolução para gota tofácea crônica. Gota Tofácea Crônica: A artropatia crônica causada pela gota geralmente desenvolve-se após 10 anos ou mais de gota aguda intermitente. A transição da gota aguda intermitente para a gota tofácea crônica ocorre quando os períodos intercrítico não estão mais livres de dor. A inflamação articular torna-se persistente, embora a intensidade da dor seja menor do que a das crises agudas. O acometimento geralmente é poliarticular e simétrico, com comprometimento de pequenas articulações das mãos e dos pés, podendo haver confusão com artrite reumatoide. A inflamação crônica das articulações caracteriza-se por formação de tofos e deformidades articulares. Os tofos resultam da deposição crônica de monourato de sódio nos tecidos articulares e periarticulares e, inicialmente, podem não ser palpáveis. O desenvolvimento dos tofos 4 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 gotáceos crônicos depende da gravidade da hiperuricemia. As localizações mais frequentes de tofos gotosos são: - Dedos das mãos. - Punhos. - Orelhas. - Joelhos. - Olécranos. - Tornozelos. Eventualmente, os tofos gotáceos crônicos inflamam, causando crises de artrite gotosa aguda. Os tofos são lesões de consistência dura e quando puncionados, liberam secreção rica em cristais de monourato de sódio. Associações Clínicas: Doença Renal: A hiperuricemia pode causar várias formas de doença renal: - Nefropatia aguda por ácido úrico: a principal causa é a síndrome da lise tumoral, caracterizada por liberação de grandes quantidades de ácido úrico devido à morte de células neoplásicas/tumorais em resposta à quimioterapia, principalmente nos casos de leucemia e linfoma; as grandes quantidades de ácido úrico precipitam-se na forma de cristais, que se depositam no túbulo contorcido distal e no ducto coletor dos rins, causando insuficiência renal aguda. - Nefropatia crônica por ácido úrico: caracteriza-se por deposição crônica de cristais de ácido úrico na medula renal, causando insuficiência renal crônica com albuminúria; a perda progressiva da função renal é comum em pacientes com gota e geralmente associa-se a HAS, DM, obesidade e/ou doença arterial aterosclerótica, que também contribuem para essa complicação. - Nefrolitíase por ácido úrico: presente em 10-25% dos pacientes com gota; a incidência associa-se diretamente aos níveis séricos de ácido úrico; os cálculos renais por deposição de ácido úrico desenvolvem-se em aproximadamente 50% dos pacientes quando a concentração sérica de ácido úrico é de 13 mg/dL. Hipertensão Arterial: A HAS está presente em aproximadamente 25-50% dos pacientes com gota. A concentração sérica de ácido úrico associa- se diretamente à resistência vascular periférica e à resistência vascular renal. Obesidade: A hiperuricemia e a gota associam-se diretamente ao peso corporal tanto em homens quanto em mulheres. A obesidade aumenta o risco de hiperuricemia e gota, assim como o de outras comorbidades, como HAS, DM e dislipidemia. Dislipidemia: Os níveis séricos de triglicerídeos estão aumentados em 80% dos pacientes com gota. A associação entre hiperuricemia/gota e concentração sérica de colesterol é controversa. Achados Laboratoriais: - Níveis séricos de ácido úrico: > 7 mg/dL em homens e > 6 mg/dL em mulheres. O aumento dos níveis séricos de ácido úrico, entretanto, não faz o diagnóstico de gota, uma vez que muitos pacientes podem apresentar hiperuricemia assintomática. Além disso, muitos pacientes com gota, durante as crises de artrite gotosa aguda, podem apresentar níveis séricos de ácido úrico normais, devido à precipitação tecidual dos cristais de monourato de sódio. - Níveis de ácido úrico na urina (uricosúria): → Hipoexcreção de ácido úrico (90% dos casos): < 800 mg/24 horas. → Hiperprodução de ácido úrico (10% dos casos): > 800 mg/24 horas. - Análise do líquido sinovial e/ou do conteúdo dos tofos: cristais de monourato de sódio, em 5 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 forma de agulha, com intensa birrefringência negativa ao microscópio de luz polarizada; nas crises de artrite gotosa aguda, os cristais de ácido úrico geralmente são intracelulares e, nos períodos intercríticos, são extracelulares; o líquido sinovial geralmente apresenta infiltrado inflamatório com predomínio de células polimorfonucleares (neutrófilos); deve-se realizar cultura do líquido sinovial para excluir artrite séptica. Achados Radiográficos: Nas fases iniciais da gota, não há achados radiográficos. Nas crises de artrite inflamatória aguda, pode-se observar aumento de partes moles nas articulações, devido à inflamação aguda e, consequentemente, ao edema articular. Entretanto, a maioria das alterações radiográficas desenvolve-se após anos de doença, na gota tofácea crônica. Os principais achados radiográficos na gota avançada são: - Depósitos de cristais de monourato de sódio nas articulações. - Deformidades articulares. - Deformidades ósseas: erosões nas margens ósseas, denominadas lesão em “saca-bocado”. Diagnóstico: Os critérios diagnósticos da gota baseiam-se em achados clínicos, laboratoriais e radiográficos. O diagnóstico de gota é confirmado por: - Presença de cristais de monourato de sódio no líquido sinovial intra-articular na presença de crise aguda. OU - Presença de cristais de monourato de sódio nos tofos articulares. OU - Presença de ≥ 6 de 12 critérios: → Inflamação articular de início abrupto. → Mais de uma crise de artrite aguda. → Artrite monoarticular. → Eritema local. → Comprometimento da 1ª articulação metatarsofalângica. → Comprometimento da 1ª articulação metatarsofalângica unilateralmente. → Comprometimento de articulações do tarso unilateralmente. → Suspeita da presença de tofos. → Hiperuricemia. → Edema articular assimétrico na radiografia. → Cistos subcondrais sem erosões na radiografia. → Cultura do líquido sinovial negativa na presença de crise aguda. A maioria dos pacientes diagnosticados com gota têm história de monoartrite aguda, hiperuricemia e melhora importante dos sintomas com o uso de colchicina e AINES. A resposta clínica à colchicina é altamente sugestiva de gota. Diagnóstico Diferencial: Os principais diagnósticos diferenciais são: - Condrocalcinose ou pseudogota: depósito de cristais de pirofosfato de cálcio nas articulações. - Artrite reumatoide. - Artrite séptica. 6 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 - Artrite psoriásica. - Esclerose sistêmica: depósito de cristais de hidroxiapatita nas articulações. Tratamento: Os objetivos do tratamento da gota são: - Tratamento da crise aguda, com alívio rápido da dor e da inflamação. - Prevenção de novas crises agudas. - Prevenção de formação de novos tofos. - Prevenção de nefrolitíase por ácido úrico. - Prevenção de desenvolvimento de artropatia crônica. - Reabsorção de tofos gotáceos. - Redução da concentração sérica de ácido úrico com consequente diminuição da deposição de cristais de monourato de sódio nas articulações. Artrite Gotosa Aguda: O tratamento da artrite gotosa aguda baseia- se no uso de colchicina, AINES, corticoides sistêmicos e/ou corticoides intra-articulares. Os pacientes que apresentam quadros de monoartrite ou oligoartrite devem utilizar apenas colchicina ou AINES, não havendo necessidade de associar medicações. Os pacientes que apresentam quadros de poliartrite, entretanto, devem associar medicações. O uso de drogas hipouricemiantes, como alopurinol, não é recomendado no tratamento da crise aguda de gota, exceto em pacientes que já fazem uso da medicação, que devem mantê-lo. Os AINES representam o tratamento de primeira escolha na crise aguda de gota, devendo ser mantidos em dose plena até 48 horas apósa resolução dos sintomas. Os principais efeitos adversos são gastrointestinais. Os AINES devem ser evitados em pacientes que apresentam HAS não controlada e doença renal crônica. Os corticoides sistêmicos representam o tratamento de primeira escolha na crise aguda de gota em pacientes que apresentam contraindicações ao uso de AINES. Os corticoides sistêmicos podem ser utilizados em doses baixas por curto intervalo de tempo em pacientes que apresentam contraindicações ao uso de AINES ou em associação aos AINES em pacientes que apresentam persistência dos sintomas articulares. Geralmente, utiliza-se prednisona 30-60 mg/dia durante 7-10 dias. Em pacientes que apresentam quadro de monoartrite associada à insuficiência renal, a administração de corticoide intra-articular é uma alternativa útil. A colchicina representa o tratamento de segunda escolha na crise aguda de gota, sendo indicada para pacientes que apresentam contraindicações ao uso de AINES e de corticoides. A colchicina causa alívio da dor em até 48 horas na maioria dos pacientes com gota. Recomenda-se doses orais de 1,5 mg/dia de colchicina na posologia de 1 comprimido de 0,5 mg de 8/8 horas durante 3-6 dias. Os principais efeitos adversos são gastrointestinais (diarreia, náuseas, vômitos e dor abdominal). A colchicina pode ser administrada VO ou EV, entretanto, a apresentação EV têm maior risco de efeitos adversos, não sendo mais recomendada. A administração de doses excessivas da droga associa-se à supressão da medula óssea, coagulação intravascular disseminada, convulsões e morte. Além disso, a colchicina deve ser evitada em pacientes com insuficiência renal. A colchicina também pode ser utilizada para a prevenção de crises agudas de gota, especialmente em pacientes com crises de repetição, na dose baixa de 0,5-1,0 mg/dia. 7 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 Gota Tofácea Crônica: O tratamento da gota tofácea crônica baseia- se em medidas de prevenção das crises agudas de gota e de redução dos níveis séricos de ácido úrico. O tratamento divide- se em farmacológico e não farmacológico. O tratamento não farmacológico baseia-se em mudanças de estilo de vida, tais como: - Cessar o tabagismo. - Evitar o consumo de bebidas alcoólicas. - Perder peso. - Substituir o diurético tiazídico por outro anti- hipertensivo. - Evitar refeições ricas em calorias e em carnes vermelhas. É importante destacar que as crises agudas de gota podem ser desencadeadas ou exacerbadas por qualquer alteração abrupta dos níveis séricos de ácido úrico, tanto para mais quanto para menos, ou seja, o início do tratamento com hipouricemiantes pode desencadear ou piorar a crise de artrite gotosa aguda. As principais indicações para o tratamento com drogas hipouricemiantes são: - Crises recorrentes de artrite gotosa aguda. - Presença de artropatia gotosa/tofo gotoso. - Nefrolitíase por ácido úrico recorrente. O alopurinol é o medicamento de primeira escolha para o tratamento da gota tofácea crônica. A droga inibe a enzima xantina oxidase, responsável pela síntese de ácido úrico. Assim, o alopurinol é especialmente indicado para pacientes hiperprodutores de ácido úrico, pois causam diminuição de sua produção. O alopurinol geralmente é iniciado em doses baixas, de 100 mg/dia, entretanto, a dose plena recomendada é de 300 mg/dia, devendo haver ajuste de dose em pacientes idosos e/ou com insuficiência renal. O tratamento contínuo com alopurinol promove resolução dos tofos gotosos e previne o desenvolvimento de novas crises de artrite gotosa aguda de forma secundária à redução dos níveis séricos de ácido úrico. O alvo terapêutico do alopurinol é a concentração sérica de ácido úrico < 6 mg/dL. Os principais efeitos adversos do alopurinol são diarreia, náuseas, vômitos, dor abdominal, cefaleia, hipersensibilidade menor, com rash cutâneo, dermatite e prurido, e hipersensibilidade maior, com febre, eosinofilia, urticária, hepatite e IRA. Além do alopurinol, que diminui a produção de ácido úrico, há os agentes uricosúricos, que aumentam a excreção renal de ácido úrico na urina. Os principais agentes uricosúricos são benzbromarona e probenecida. Os agentes uricosúricos são indicados para pacientes hipoexcretores de ácido úrico (uricosúria < 800 mg/24 horas) que não têm história de nefrolitíase por ácido úrico. Estas drogas não devem ser administradas em pacientes hiperprodutores de ácido úrico (uricosúria > 800 mg/24 horas), devido ao risco aumentado de nefrolitíase. Os agentes uricosúricos podem ser administrados em pacientes com insuficiência renal crônica com TFG > 50-60 mL/min. Algumas drogas que apresentam efeito uricosúrico menos potente são losartana, alopurinol e fibratos. Às vezes, há indicação de associação de alopurinol + agente uricosúrico em pacientes com tofos gotosos extensos e/ou resistentes à monoterapia, desde que apresentem função renal preservada. Outras drogas hipouricemiantes menos utilizadas são febuxostate e oxipurinol, que podem ser utilizadas como alternativa terapêutica em pacientes com contraindicação ao uso de alopurinol e/ou agentes uricosúricos ou ainda em pacientes que não alcançam a meta terapêutica.
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