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P á g i n a | 1 Gota Definição É um distúrbio metabólico manifestado por níveis elevados de ácido úrico sérico, crises recorrentes de artrite aguda, formação crônica de agregados de cristais de urato monossódico nas articulações, bainhas sinoviais, bursas, tecido subcutâneo e outros, como o rim, por exemplo, envolvendo o interstício, os túbulos renais e a formação de cálculos renais. É considerada uma artropatia inflamatória. Pode se apresentar como: • Artrite aguda (uma crise de gota) • Artrite crônica • Artrite crônica com tofos Fisiopatologia Gota primária ocorre por um erro no metabolismo na produção de ácido úrico (pelas purinas) e/ou excreção dele (maioria). Frequentemente está associado a obesidade, etilismo, HAS, hipertrigliciridemia. Gota secundária ocorre em decorrência de outra doença ou pelo uso de medicamentos. Condições associadas a Gota Doenças mielolinfoprotiferativas: leucemias, metaplasia mieloide, policitemia vera, linfomas etc. Hemoglobinopatias: drepanocitose, anemias hemolíticas. Drogas: diuréticos, salicilatos em baixas doses, pirazinamida, etambutol, L-dopa, quimioterápicos, ciclosporina, tacrolimo, ácido nicotínico Outras: dietas ricas em purinas, inanição, saturnismo, cetose, estados de hiperinsulinemia ou resistência à insulina, psoríase, sarcoidose, hiperparatireoidismo, insuficiência renal, depleção de volume plasmático Hiperuricemia e Gota A hiperuricemia pode ser causada por baixa excreção de urato renal, superprodução de ácido úrico e/ou consumo excessivo de alimentos ricos em purina que são metabolizados para urato: A hiperuricemia (normalmente definida como concentração sérica de urato >7mg/dL) é um fator patogenético comum e necessário no desenvolvimento da gota, porém a maioria dos pacientes com hiperuricemia não desenvolve gota. Fatores relacionados com a hiperprodução: Idiopático Defeito enzimático Alto turn over de ácidos nucleicos. Dieta rica em proteínas, purinas e frutos. Isabela Terra Raupp Hiperuricemia Cristais Inflamação Contribuem para a formação de cristais: ↓pH e temperatura (frio) articular Desidratação e traumas articulares Rápidas flutuações nos níveis de urato P á g i n a | 2 Estresse oxidativo (trauma, cirurgia, infecção). Fatores relacionados a Hipoexcreção: Eliminação renal de ureia Independe da função renal Epidemiologia Homens tem maior prevalência de gota (3- 4:1 entre 30-60 anos) Estrógeno: efeito uricosúrico – mulher pós menopausa tem mais. Incidência duplicou no últimos 20 anos, pela crescente prevalência de comorbidades: obesidade e síndrome metabólica (62% dos pacientes com gota), diabetes, hipertensão arterial e doenças cardiovasculares. Além disso, a dieta e estilo de vida facilitam. • Idade: Raramente se apresenta antes dos 45 •História Familiar: Positiva em aproximadamente 40% dos pacientes. Fatores de risco Não modificáveis Sexo masculino Idade avançada Etnia caucasiana Múltiplas mutações genéticas e polimorfismos Modificáveis: Obesidade Dietas ricas em carne vermelha e frutos do mar Bebidas alcoólicas. Refrigerantes e sucos de fruta com alto teor de frutose ou sacarose. HAS, DRC, diuréticos tiazídicos ou de alça (Hidroclortiazida), pós menopausa, transplante de órgão. Quadro clínico -Mono/oligoartrite, de início súbito, contínua em duração, geralmente de forte intensidade (não suporta o peso do lençol); -Articulação mais frequentemente acometida: metatarsofalangiana do hálux (“podagra”); A duração da crise aguda é curta, geralmente de horas a poucos dias e depois o paciente entra em fase assintomática, denomidade período intercrítico. Período Intercrítico de duração variável: – Semanas; – 6 meses a 2 anos; – Mais de 10 anos; – Alguns nunca terão nova crise; A crise de gota começa devagar, com crises monoarticulares (principalmente podragra) e com um período intercrítico grande. Com o passar do tempo as crises vão se tornando mais frequentes e acometendo um maior número de articulações. Gota poliúrica crônica Crises de gota aguda mal/não tratadas: – Instalação de períodos intercríticos cada vez menores; – Ataques subsequentes mais graves e prolongados e em mais articulações; Desaparecem os períodos intercríticos: – Gradualmente, há resolução incompleta dos sintomas entre as crises e evolução para a gota poliarticular crônica; – Dor contínua em várias articulações, de moderada intensidade. GOTA TOFÁCEA CRÔNICA Mesma gota poliarticular crônica, só que com TOFOS: Monoartite/podagra súbito Período intercrítico (assintomático) Fase crônica: doença renal/tofos Apresentação com sinais flogísticos: P á g i n a | 3 Dor contínua em várias articulações, de moderada intensidade e com poucos sinais inflamatórios e aparecem deformidades. Variação de 3-42 anos (média de 11,6 anos) Prevalência: 3-21% Tofos: geralmente indolores, mas podem causar limitação e destruição articular. Superficiais podem sofrer ulceração com drenagem de secreção, favorecendo a instalação de infecção secundária; Localização: extremidades dos membros e orelhas (regiões mais frias), mas podem se desenvolver em qualquer articulação do corpo. Hiperuricemia e DRC DRC acompanha geralmente: HAS, DM, obesidade, aterosclerose ou uso crônico de AINES. NEFROPATIA POR URATOS: Deposição de AU nos túbulos renais → deposição crônica de urato no interstício renal → pielonefrite crônica LITÍASE RENAL POR AU E/OU ASSOCIAÇÃO COM OUTROS CRISTAIS: É a nefropatia mais frequente associada a gota. 10-40% dos paciente Risco cálculo renal é 2x maior em pacientes com gota. Cálculos de urato puro são radiotransparentes → diagnóstico por US. Diagnóstico Clínica: o Ataques agudos. o Dor forte, edema e eritema (artrite) o Geralmente com história de podagra o Paciente não tolera peso do lençol o Duram 6-12 horas. Dosagem sérica de ácido úrico: geralmente elevado. o Homens: >7mg/dL o Mulheres > 6mg/dL Pesquisa de cristais de urato monossódico no líquido sinovial (artrocentese) e/ou tofos: o Microscopia de luz polarizada compensada: birrefringência negativa forte. o Confirma o diagnóstico mas não é obrigatória. Radiografia: o Nas fases iniciais é normal ou apresenta aumento das partes moles o Com a repetição das crises, apresenta erosões ósseas em saca- bocado o Nos casos mais crônicos, apresenta: 1. Redução de espaços articulares 2. Erosões grosseiras 3. Deformidades 4. Anquilose 5. Imagens tofáceas Ultrassonografia: o Espessamento sinovial com depósito hiperecóicos (Sinal do duplo contorno) AU isolado não confirma ou exclui gota → TEM QUE TER CLÍNICA. Paciente pode ter níveis séricos normais durante a crise. P á g i n a | 4 o Depósitos tofáceos (áreas hiperecóicas). o US de rins e vias renais – litíase renal Exames complementares para descartar outras doenças: glicemia de jejum, perfil lipídico, Hb glicada. o Ácido úrico na urina de 24 horas: 300-800mg – define como hipoexcretor. o Clearence de ácido úrico: 6-7 mL/min. Tratamento Não farmacológico: em todos os pacientes! Medidas dietéticas: o Cortar bebidas alcoólicas o Reduzir carne vermelha e frutos do mar. Gelo local Tratamento na exacerbação aguda: Colchicina 0,5mg – 1cp de 12/12 h até sair da crise. AINE – pode ser usado junto com a colchicina se dor refratária. Prednisona – 20 a 40 mg por 3-5 dias se dor refratária, assocas a colcicina em pacientes com CI aos AINEs. Corticoide intra-articular. Tratamento crônico: Indicações: baixar o urato em paciente com: o Surtos recorrentes > 2/ano o Sinaisclínicos ou radiológicos de dano estrutural da articulação (erosão óssea gotosa ou artropatia gotosa); o Tofos o Gota + Insuficiência Renal (Cretainina < 60mL/min); o Nefrolitíase recorrente por ácido úrico. Alvo do tratamento: AU< 6 ou AU < 5 se tofos. ALOPURINOL – inibidor da xantina oxidase o 1ª linha o Não inicia durante a crise, mas se já usa, manter. o Começar com dose baixa (100 mg/dia) e aumentar 100 mg a cada 2-4 semanas, se necessário até 800mg. o Reações adversas: Rash cutâneo, mal estar, mialgia, cefaleia, intolerância gastrointestinal, vertigem, hipersensibilidade FEBUXOSTAT – inibidor da xantina oxidase (XOI) o Uso se falha ou efeito adverso ao alopurinol URICOSÚRICOS – Inibem a reabsorção de AU nos túbulos renais proximais o ↑ excreção AU – bom em hipoexcretores. o Probenecida (1ª escolha se contraindicação ao uso de XOI – dce > 50) o Benzobromarona (Naracaricina) – 50-100mgdia o Sulfimpirazona, fenofibrato, losartana e anlodipino Podem aumentar crise de litíase. P á g i n a | 5
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