Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 1. ESTUDAR O CONCEITO, ETIOPATOGENIA, QUADRO CLINICO, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA GOTA A entidade “gota” faz referência a um grupo amplo de situações como: Aumento dos níveis séricos de ácido úrico (hiperuricemia) Crises repetidas de artrite aguda típica Presença de cristais de urato monossódico nos leucócitos do liquido sinovial das articulações acometidas. Deposito confluente de urato monossódico nas articulações e tecidos periarticulares. Nefropatia intersticial e vascular Nefrolitiase por cálculos de ácido úrico. O ácido úrico esta solubilizado no soro sob a forma de urato solúvel. Quando os níveis séricos desse sal aumentam muito, o limite de solubilidade pode ser atingido, ocorrendo precipitação. Diz-se que há hiperuricemia quando os níveis forem > 7mg/dl. Os limites de referência para o ácido úrico sérico normais em homens são entre 3 e 7mg/dl. Já nas mulheres entre 2 e 6mg/dl. Obs: a crise de gota acomete preferencialmente articulações periféricas, em especial a primeira metatarsofalangiana. Isso ocorre porque a solubilidade do urato monossódico diminui progressivamente em temperaturas abaixo de 37º. Assim, nas articulações periféricas onde as temperaturas são menores, é mais fácil a formação de depósitos de urato. CUIDADO! Todos os indivíduos com gota apresentam hiperuricemia em algum momento. Mas apenas uma minoria daqueles que tem hiperuricemia desenvolvem gota, é o que chamamos de hiperuricemia assintomática. EPIDEMIOLOGIA A gota é uma doença que afeta principalmente homens adultos entre 40-50 anos. Ultimamente observou-se uma participação crescente das mulheres na incidência, principalmente após a menopausa (depois dos 50 anos). E isso é explicado pelo efeito uricosúrico dos estrogênios, ao inibirem a reabsorção tubular renal. A maioria dos pacientes que desenvolvem gota é idosos, em uso de diuréticos (tiazidicos) para tratamento da HAS. A prevalência da gota está aumentando nos países desenvolvidos. A maior longevidade da população, associada à elevada frequência de síndrome metabólica, obesidade, insuficiência renal crônica e tratamento da HAS com diuréticos tiazídicos (a droga hiperuricemiante mais importante da prática), são os principais fatores contribuintes. Outros fatores de risco são: dieta rica em carnes, frutos do mar e cerveja (das bebidas alcoólicas, é aquela que contém maior quantidade de purinas). Por outro lado, um importante fator de proteção é o consumo elevado de laticínios com baixos teores de gordura. ETIOLOGIA A hiperuricemia pode resultar tanto de um excesso na produção quanto de uma falha na eliminação do ácido úrico. (a maioria apresenta falha na eliminação de ácido úrico). PRODUÇÃO DE ÁCIDO ÚRICO: o ácido úrico costuma sem produzido no organismo a partir de purinas que são bases nitrogenadas. A enzima xantina oxidase metaboliza a hipoxantina em xantina e em seguida em ácido úrico. O ácido úrico sob a forma de urato, circula no sangue até ser eliminado do organismo. ELIMINAÇÃO DE ÁCIDO ÚRICO: cerca de 2/3 do ácido úrico produzido são eliminados pelos rins e o 1/3 restante pelo tubo digestivo. Nos rins após a etapa de manipulação do urato, em médio 10% dele vai ser filtrado. SP2: Ultima gota! DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS 2 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 HIPERURICEMIA PRIMÁRIA Cerca de 90% dos casos são decorrentes de um problema na eliminação renal do ácido úrico. A hiperprodução endógena de ácido úrico só é detectada em 10% dos casos, constatada pela existência de hiperuricemia num individuo com excreção urinaria espontânea de AU superior a 800mg/24h. HIPERURICEMIA SECUNDÁRIA Alguns fatores externos estão relacionados a hiperuricemia, sendo os principais: Álcool: o etanol resulta em hiperuricemia por 3 mecanismos: promove a conversão do piruvato em lactato (este estimula a reabsorção de urato no túbulo proximal), aumenta a degradação de ATP no hepatócito, aumentando a produção de ácido úrico; e a cerveja contem quantidades significativas de purinas. Obesidade: está relacionada a uma redução na excreção urinaria de ácido úrico. Essa alteração pode ser reversível com a perda de peso. Diuréticos; aumentam a reabsorção tubular proximal de ácido úrico, induzida pela hipovolemia. É comum a crise de gota ser precipitada pelo uso de diurético, principalmente os tiazídicos. HAS Triglicerídeos: parece que ocorre uma maior síntese de ácido úrico a partir do excesso de acetato oriundo da quebra dos triglicerídeos. Síndrome metabólica: causada pela combinação de resistência insulínica + hiperinsulinemia se apresenta com um fenótipo de obesidade, HAS, intolerância à glicose, hipertrigliceridemia estando todos associados a hiperuricemia. O provável mecanismo seria a própria resistência a insulina, que induz maior reabsorção tubular renal de ácido úrico. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 1. Hiperuricemia assintomática Caracteriza-se pelo aumento dos níveis séricos de ácido úrico, sem que existam sintomas de atrite, tofos ou cálculos. Esses indivíduos tem um risco aumentado de desenvolverem artrite gotosa e nefrolitiase em função do grau e duração da hiperuricemia. O estágio de hiperuricemia assintomática termina quando tem início a primeira crise de artrite ou nefrolitíase. 2. Artrite gotosa aguda A patogênese da artrite gotosa aguda depende da fagocitose de cristais recém-liberados no espaço sinovial por neutrófilos, a partir de microtofos sinoviais. Ao serem fagocitados, os cristais de ureato monossódico provocam ativação desses leucócitos, fazendo liberarem grandes quantidades de substancias pró- inflamatórias na cavidade articular. A principal manifestação da crise aguda de gota é a artrite extremamente dolorosa, de início súbito. Em 80% dos pacientes temos uma monoartrite NÃO acompanhada de manifestações sistêmicas. Posteriormente, após repetidos episódios, o padrão se torna oligo ou mesmo poliarticular e sobrevém febre. Independentemente do tipo de acometimento articular, as crises perduram por tempo variado, mas sempre limitado, seguidas por intervalos assintomáticos: o período intercrítico. Geralmente, a primeira crise se localiza na primeira articulação metatarsofalangiana, localizada no grande artelho (podagra). E são comuns durante a noite. 3 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 Depois do grande artelho, os principais locais acometidos (em ordem decrescente) são: metatarsos, tornozelos, calcanhares, joelhos, punhos, dedos e cotovelos. A crise de artrite gotosa típica tem instalação explosiva, sem sintomas prodromicos. Frequentemente existem alguns fatores predisponentes como traumatismos, consumo de álcool ou qualquer droga que altere os níveis séricos de ácido úrico. 3. Gota intercrítico: A crise de gota aguda é geralmente autolimitada, resolvendo-se espontaneamente dentro de 3-10 dias. Após uma crise inicia-se um período em que completamente assintomático o paciente fica, denominado de período intercrítico. Com o tempo, as recaídas passam a ser mais frequentes e duradouras, e as resoluções começam a não ser mais totais, deixando comprometimento residual. As crises posteriores são mais graves, tendem a assumir um caráter poliarticular. 4. Gota tofosa crônica Quando ocorre hiperuricemia não tratada por longo prazo, pode haver formação e depósito de cristais de urato monossódico nas cartilagens, articulações, tendões e partes moles. O lugar clássico dos tofos é no pavilhão auricular externo. Lembrando que tofos são acúmulos de cristais de urato monossodico cercado por tecido granulomatoso. Muitas vezes os tofos se ulceram, eliminandouma substância de aspecto calcário ou pastoso, rica em cristais de urato monossódico. Eventualmente, os tofos se desenvolvem em órgãos; o principal exemplo é o interstício renal (esse é o mecanismo da nefropatia crônica por urato). Os tofos, assim como as manifestações articulares, tendem a regredir completamente com o tratamento adequado contra a hiperuricemia. NEFROLITÍASE POR ÁCIDO ÚRICO: Cerca de 20% dos pacientes com gota apresentam nefrolitíase pela precipitação de cálculos de ácido úrico (e não de urato monossódico) na urina. Quando a urina é acidificada nos túbulos coletores, a forma ionizada (urato) é convertida na forma não ionizada (ácido úrico). Os principais fatores que contribuem para a formação de cálculos renais na gota são: 1. pH urinário ácido (< 5,5); 2. Aumento da eliminação urinária de ácido úrico (> 800 mg/dia para o homem; > 750 mg/dia para a mulher). DIAGNÓSTICO Suspeita-se de gota qualquer paciente que desenvolva monoartrite de instalação súbita, sobretudo se localizada em uma das articulações distais de um membro inferior. MONOARTRITE = SEMPRE PUNÇÃO DO LÍQUIDO ARTICULAR O diagnóstico de gota só pode ser confirmado pela presença dos cristais típicos de urato monossódico no interior dos leucócitos do líquido sinovial da articulação afetada. Obs: Caso não sejam encontrados tais cristais em exame minucioso, não se pode excluir gota. Quando não se consegue colher o líquido sinovial para demonstração dos cristais, o diagnóstico de gota pode ser considerado altamente provável caso o paciente apresente: 1. Hiperuricemia; 2. Quadro clínico característico (conforme descrito acima); 4 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 3. Resposta significativa à administração de colchicina. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Artrite séptica Quando um indivíduo apresenta uma primeira crise de monoartrite, é fundamental a punção articular para descartar um processo infeccioso, o qual também se manifesta como monoartrite aguda. Pode também ocorrer concomitantemente à crise aguda de gota. Artrite reumatóide Na artrite reumatóide, o processo inflamatório é poliarticular, simétrico e crônico. Mais frequente em mulheres. O fator reumatóide é positivo e a imagem radiográfica mostra cistos e erosões nas margens articulares, uma osteopenia periarticular e perda do espaço articular já nas primeiras fases da doença. TRATAMENTO 1. TRATAMENTO DA CRISE GOTOSA AGUDA Os medicamentos que podem ser usados para o tratamento da crise aguda de gota são: 1. AINE (primeira linha); 2. Colchicina (segunda linha); 3. Corticoides intra-articulares (terceira linha); 4. Corticoide sistêmico. A artrite gotosa aguda deve ser manipulada inicialmente com qualquer um dos anti- inflamatórios não esteroidais como indometacina (mais utilizada), ibuprofeno, diclofenaco, etc. A colchicina 0,5mg está reservada para aqueles que possuem contraindicação aos AINES, e foi rebaixada a segunda linha por apresentar efeitos adversos mais frequentes (diarreia e vômitos). Os corticoides-intra-articulares (ex.: triamcinolona 20-40 mg) também são uma opção para a artrite gotosa aguda monoarticular, quando não se pode usar AINE ou colchicina (ex: insuficiência renal ou hepática). Se a opção for corticoide sistêmico costuma-se usar prednisona 40-60mg/dia com desmame em 7-14 dias. O Ácido Acetilsalicílico (AAS) está contraindicado (em qualquer dose), por variar abruptamente os níveis de urato sérico e articular, podendo exacerbar a crise Uma recomendação importante, que deve ser feita para aqueles que já tiveram uma primeira crise, é ter a medicação (qualquer que seja) sempre disponível, para que possa ser utilizada ao primeiro sinal de um ataque agudo. Medidas não farmacológicas costumam ser úteis para aliviar o desconforto da articulação inflamada: repouso articular e aplicação de compressas geladas. A alteração da hiperuricemia NÃO deve fazer parte do tratamento da crise aguda de gota. De acordo com as últimas diretrizes, não há indicação de terapêutica hipouricemiante em pacientes com hiperuricemia, sem tofos e com menos de uma crise de gota por ano 2. PROFILAXIA DE CRISES Os principais esquemas capazes de reduzir o perigo de recaída, após resolução de uma crise aguda são: I. Administração profilática diária de 1 mg de colchicina; II. Regime de emagrecimento, sob supervisão médica, no caso de pacientes obesos; III. Eliminação de possíveis fatores predisponentes, como álcool, alimentação rica em purinas, etc.; IV. Instituição do tratamento contra a hiperuricemia. 3. REDUÇÃO DA HIPERURICEMIA A prevenção das complicações consiste em manter os níveis de ácido úrico abaixo do limiar de saturação sérica, ou seja, < 7mg/dl. 5 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 A redução da concentração de ácido úrico pode ser conseguida por 2 mecanismos: ESTÍMULO A SUA EXCREÇÃO RENAL - URICOSÚRICOS Só podem ser usados em pacientes com hiperuricemia comprovadamente provocada pela redução da excreção renal de urato (90% dos casos). Os agentes uricosúricos são a probenecida, a sulfimpirazona e a benzbromarona. Como os uricosúricos causam aumento da excreção renal de ácido úrico, esses pacientes acabam desenvolvendo cálculos renais. Para amenizar esse efeito, os uricosúricos devem ser administrados em doses baixas no início do tratamento e um aumento de ingestão hídrica. A alcalinização urinaria com bicarbonato de sódio pode ajudar a prevenir a nefrolitiase. O candidato ideal para o tratamento com uricosúricos tem menos de 60 anos, rins com função normal, eliminação diária de ácido úrico inferior a 600 mg e não apresenta antecedentes de nefrolitíase. A losartana, a amlodipina, o fenofibrato e a atorvastatina possuem discreto efeito uricosúrico, e talvez sejam benéficos como drogas de associação, caso o paciente tenha indicação de usá-las (HAS e hipertrigliceridemia). REDUÇÃO DA SÍNTESE - ALUPURINOL A hiperuricemia também pode ser controlada pelo alopurinol (Zyloric®), substância que diminui a síntese de ácido úrico, ao inibir a xantina oxidase. A dose inicial é de 100 mg/dia em uma ou duas tomadas, devendo ser aumentada até atingir níveis de ácido úrico ≤ 7 mg/dl. Os principais efeitos adversos do alopurinol são: febre, exantemas, necrólise tóxica da epiderme, aplasia de medula, vasculite e síndrome de hipersensibilidade ao alopurinol (nefrite intersticial aguda + hepatite granulomatosa). Existem indicações específicas para a preferência do alopurinol em relação aos uricosúricos: 1. Eliminação urinária de ácido úrico acima de 800 mg/dia (ou 600 mg, naqueles pacientes que estiverem fazendo dieta pobre em purinas); 2. Comprometimento da capacidade funcional dos rins; 3. Presença de calculose renal por ácido úrico; 4. Intolerância ou ineficácia dos uricosúricos. Assim, antes de prescrever um antiuricêmico (tanto alopurinol quanto uricosúrico) é fundamental que o paciente não esteja em crise aguda, e que tenha iniciado um tratamento profilático com colchicina (0,5 mg, VO, 12/12h), o qual deve ser mantido por pelo menos seis meses após o controle dos níveis séricos de ácido úrico 4. TRATAMENTO DA HIPERURICEMIA ASSINTOMÁTICA Não existe indicação formal para o tratamento medicamentoso dos pacientes com hiperuricemia assintomática. Não obstante, alguns autores RECOMENDAM considerar o tratamento em pacientes assintomáticos com níveis séricos de ácido úrico muito aumentados (> 9 mg/dl) ou quando a excreção urinária de ácido úrico ultrapassar 1.100 mg em 24h. 1. CARACTERIZAR A SÍNDROME METABÓLICA, SUA FISIOPATOLOGIA E QUADRO CLINICO A Síndrome Metabólica (SM) é um transtorno complexo representado por um conjunto de fatores de risco cardiovascular usualmenterelacionados à deposição central de gordura e à resistência à insulina. No Brasil, estudos mostram que a incidência em homem é em torno de 18% e em mulheres de 30%. Pode-se dizer, assim, que ela é mais prevalente nos idosos e mulheres. FISIOPATOLOGIA A obesidade visceral ou central (abdominal) é caracterizada por uma distribuição da gordura corporal do tipo andróide, ou seja, conhecida como corpo em formato de “maçã”, representando o aspecto principal da SM. Diversos problemas metabólicos plasmáticos, característicos da SM, sendo eles: - Hipersensibilidade aos glicocorticóides; O aumento da hipersensibilidade do tecido adiposo aos glicocorticóides (cortisol, cortisona, etc) está associada à maior capacidade de vasoconstrição arterial e, consequentemente, à hipertensão arterial em pacientes com resistência à insulina, obesidade e síndrome metabólica. - Elevados níveis plasmáticos de glicose que induzem o pâncreas a liberar excesso de insulina 6 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 (hiperinsulinemia) que, a longo prazo, culmina com resistência à insulina e diabetes mellitus tipo II; Durante vários anos, esta hiperglicemia prolongada estimula o aumento da secreção de insulina, induzindo uma hiperinsulinemia que aliada à hipersecreção de glicocorticóides do tecido adiposo visceral exercem um feedback negativo sob o pâncreas, inibindo a secreção de insulina e contribuindo para a resistência a este hormônio na SM e no diabetes mellitus tipo. - Aumento da secreção de angiotensina que pode aumentar o risco de hipertensão; - Aumento da secreção de interleucina-6 (IL-6), citocina inflamatória; - Aumento de triglicerídeos (TG) que pode comprometer a viscosidade sanguínea, aumentando o risco cardiovascular; Neste caso, também há aumento da secreção hepática de TG para o sangue, aumentando seus níveis séricos. O excesso de TG no sangue, outro componente da síndrome metabólica10, diminui a secreção hepática de HDL e promove alteração da viscosidade sanguínea, favorecendo o processo de agregação de plaquetas e o risco de trombose. Além disso, o excesso de TG estimula a secreção do colesterol VLDL e de partículas de LDL pequenas e densas que são prontamente oxidadas e fagocitadas pelos macrófagos da parede arterial, formando depósitos citoplasmáticos de gordura, transformando-os em células espumosas, que vão progressivamente dando origem às lesões ou estrias gordurosas até a formação de placas de gordura no processo de aterogênese. - Redução do colesterol HDL, fundamental para realizar o transporte reverso do colesterol e que apresenta também efeitos anti-inflamatórios, antioxidantes e vasodilatadores (aumenta a síntese de óxido nítrico pelo estímulo da isoforma endotelial da enzima sintase do óxido nítrico – eNOS) MANIFESTAÇÕES ASSOCIADAS Acantose nigricans: dermatose caracterizada por lesões hiperpigmentadas, aveludadas e hiperceratósicas, localizadas simetricamente nas axilas, dorso cervical e/ou virilhas. Esteatose hepática: acúmulo de gotículas lipídicas nos hepatócitos, provocando hepatomegalia e hiperecogenicidade característica à USG. Alguns desses pacientes evoluem com esteato-hepatite não alcoólica (NASH), uma desordem com potencial de evolução para cirrose hepática; Hiperandrogenismo: manifestando-se com hirsutismo, acne e implantação masculina dos pelos. Pode vir como um componente da síndrome dos ovários policísticos (Stein-Leventhal), caracterizada por múltiplos cistos ovarianos, amenorreia, esterilidade, além do hiperandrogenismo. Outros achados: hiperuricemia, síndrome da apneia do sono. DIAGNÓSTICO São objetivos da investigação clínica e laboratorial: confirmar o diagnóstico da síndrome metabólica (SM) de acordo com os critérios do NCEP-ATP III9 e identificar fatores de risco cardiovascular associados. De acordo com a I Diretriz Brasileira para Síndrome Metabólica (I-DBSM) e o NCEP-ATP III para confirmar a síndrome, o paciente deve ter pelo menos três dos cinco critérios: 1. História clínica - idade, tabagismo, prática de atividade física, história pregressa de hipertensão, diabetes, diabetes gestacional, doença arterial coronariana, acidente vascular encefálico, síndrome de ovários policísticos (SOP), doença hepática gordurosa não alcoólica, hiperuricemia, história familiar de hipertensão, diabetes e doença cardiovascular, uso de medicamentos hiperglicemiantes (corticosteroides, betabloqueadores, diuréticos). 2. Exame físico necessário para diagnóstico da SM: Medida da circunferência abdominal; 7 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 Níveis de pressão arterial; Peso e estatura. Devem ser utilizados para o cálculo do índice de massa corporal; Exame da pele para pesquisa de acantose nigricans. Examinar pescoço e dobras cutâneas. Exame cardiovascular. 3. Exames laboratoriais necessários para o diagnóstico da SM: • Glicemia de jejum; • Dosagem do HDL e dos triglicerídeos. Outros exames laboratoriais adicionais poderão ser realizados para melhor avaliação do risco cardiovascular global, tais como: colesterol total, LDL-colesterol, creatinina, ácido úrico, microalbuminúria20, proteína C reativa, TOTG, eletrocardiograma. 3. ELUCIDAR AS ALTERAÇÕES DOS EXAMES COMPLEMENTARES E O TRATAMENTO DA SÍNDROME METABÓLICA, DESTACANDO A FARMACOLOGIA DAS DROGAS UTILIZADAS NA SP (METFORMINA, ATORVASTATINA, ENALAPRIL, ATENOLO, AAS, ALUPURINOL E NAPROXENO). TRATAMENTO O tratamento da síndrome metabólica inclui melhoria do estilo de vida pela introdução de exercícios físicos regulares (trinta minutos diários de atividades aeróbicas, como a caminhada, dança, subida de escadas, esportes ou corrida, e pelo menos duas seções de exercícios de força com pesos) e modificações nos hábitos alimentares (redução da ingestão calórica, do sal, da ingestão de lipídeos e de carboidratos refinados e aumento da ingestão de fibras) para promover controle ou redução de peso corporal, melhoria do sono, melhor controle lipêmico (aumento de HDL e redução de LDL na presença de redução de 10% do peso corporal), glicêmico e pressórico. A redução do peso corporal mediante dieta hipocalórica ou exercício físico diminui a produção de mediadores inflamatórios (PCR e IL- 6) e aumenta a síntese de mediadores anti- inflamatórios, como a IL-10 e o antagonista do receptor de IL-1 (IL-1ra) na SM. ATORVASTATINA Pertence à classe dos inibidores da redutase. São mais efeitos na redução dos níveis de LDL. Além disso, diminuem o estresse oxidativo e da inflamação vascular, com aumento da estabilidade das lesões ateroscleróticas. Tornou-se padrão usar imediatamente após a ocorrência de síndromes coronarianas agudas. Como a síntese de colesterol ocorre predominantemente a noite, os inibidores da redutase deve ser administrado à noite. Sua dose varia de 10 a 80mg/dia. AAS (ÁCIDO ACETILSALICÍLICO) Farmacocinética: os saliciláticos são ácidos orgânicos rapidamente absorvidos no estomago e porção superior do intestino delgado, produzindo níveis plasmáticos máximos de salicilato em 1 a 2 horas. Mecanismo de ação: o AAS inibe a COX plaquetária, de modo que o efeito antiplaquetário tem duração de 8 a 10 dias (tempo de sobrevida da plaqueta). Usos clínicos: o AAS diminui a incidência de ataque isquêmico transitório, angina instável, trombose da artéria coronária com infarto do miocárdio. Efeitos colaterais: os principais efeitos colaterais consistem em desconforto gástrico e ulceras gástricas e duodenais. A ação antiplaquetária contraindica seu uso em pacientes com hemofilia. NAPROXENO Trata-se do único AINE atualmente comercializado como enatiomero isolado. Esse fármaco mostra-se efetivo para as indicações reumatológicas habituais e estádisponível em uma formulação de liberação prolongada. ALOPURINOL Farmacocinética: após administração oral, ocorre absorção de cerca de 80% do fármaco, cuja meia vida sérica é de 1 a 2 horas. À semelhança do ácido úrico, o alupurinol é metabolizado pela xantna-oxidase, porem o composto resultante, conserva a capacidade de inibir a xantina-oxidase e apresenta uma duração de longa ação suficiente para que o alopurinol possa ser administrado apenas uma vez ao dia. 8 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 Farmacodinâmica: o alupurinol vai inibir a conversão da purina em xantina, hipoxantina e ácido úrico, resultando em uma queda dos níveis plasmáticos de urato. Indicações: é o fármaco de primeira linha para o tratamento da gota crônica durante o período e entre os ataques e tem por objetivo prolongar o período intercritico. O tratamento é indicado com a expectativa de que deverá ser mantido por vários anos, talvez por toda a vida. Quando se inicia o alupurinol, a colchicina ou um AINE deve ser usado até que o nível sérico de ácido úrico seja normalizado. Além da gota, o alupurinol é utilizado como fármaco antiprotozoario e está indicado para a prevenção de uricosúria maciça após tratamento de discrasias sanguíneas. Efeitos colaterais: pode ocorrer intolerância GI, incluindo náuseas, vômitos, diarreia, neurite periférica e vasculite necrosante. Interações: o alupurinol inibe o metabolismo da probenecida e dos anticoagulantes orais e podem aumentar a concentração hepática de ferro. Dosagem: a dose inicial é de 100mg/dia. Deve ser titulada para cima até que o nível sérico de ácido úrico seja inferior a 6mg/dl, esse nível costuma ser alcançado com 300mg/dia. ATENOLOL É da classe da beta bloqueadores adrenérgicos. É cardiosseletivo, sendo um dos betabloqueadores mais usadas no tratamento de hipertensão. A cardiosseletividade relativa pode ser vantajosa no tratamento de pacientes hipertensos que também apresentam asma, diabetes ou doença vascular periférica. O atenolol não sofre metabolismo extenso e é excretado principalmente pela urina, com meia -via de 6 horas, em geral, administrado em uma única dose ao dia. ENALAPRIL É um anti-hipertensivo da classe dos Inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA). Só está disponível para uso intravenoso (CONFIRMAR ISSO?), principalmente para emergências hipertensivas. Os inibidores da angiotensina II reduzem a pressão arterial principalmente ao diminuir a resistência vascular periférica. Não ocorre alteração significativa do debito cardíaco e da frequência cardíaca. Ao contrário dos vasodilatadores diretos, esses agentes não resultam em uma ativação simpática reflexa e podem ser utilizados com segurança em indivíduos portadores de cardiopatia isquêmica. Os inibidores da ECA desempenham um papel útil no tratamento de pacientes com doença renal crônica. As doses típicas de enalapril são de 10 a 20mg, uma ou duas vezes ao dia. É um medicamento eliminado pelo rim, e por isso, é preciso reduzir dose em pacientes com insuficiência renal. Efeitos colaterais: pode ocorrer hipotensão grave pacientes com hipovolemia. Além de hipopotassemia principalmente em pacientes com insuficiência renal ou diabetes. Também, tosse seca as vezes acompanhada de sibilo e angioedema. METFORMINA Mecanismo de ação: o principal efeito da ação das biguanidas, consiste em reduzir a produção hepática de glicose pela ativação da enzima proteinocinase ativada por AMP. Outros mecanismos incluem redução da gliconeogênese renal, retardando a absorção de glicose no trato gastrointestinal. A ação das biguanidas sobre a redução da glicemia não depende da presença de células beta funcionais do pâncreas. Metabolismo e excreção: a metformina não se liga as proteínas plasmáticas, não é metabolizadaa e é excretada pelos rins na forma de composto ativo. Em consequência do bloqueio da gliconeogenese, pode comprometer o metabolismo hepático do ácido láctico. Uso clinico: são recomendadas como terapia de primeira linha para DM2. Como é um agente poupador de insulina, que não aumenta o peso corporal, nem provoca hipoglicemia ela tem amis vantagens do que as sulfoniureias. A dose da metformina varia de 500mg até 2550mg por dia. Efeitos adversos: os efeitos mais comuns são GI como náuseas, vomito, desconforto abdominal e diarreia e tendem a ocorrer no início da terapia. A absorção de B12 parece ser reduzida durante a terapia a longo prazo, por isso a necessidade de uma triagem anual de b12serica. É contraindicada em pacientes com doença renal, alcoolismo, doença hepática.
Compartilhar