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SÍNDROMES DOLOROSAS CENTRAIS O que é a dor? “Uma experiência sensitiva e emocional desagradável associada, ou semelhante àquela associada, a uma lesão tecidual real ou potencial”. Anatomia e fisiologia da dor - 2 tipos de nociceptores • Mecanorreceptores de limiar alto: respondem à deformação mecânica • Nociceptores polimodais: respondem a uma variedade de estímulos (íons H2, 5-HT, citocinas, bradicininas, histamina, PGs e LTs Vias de dor Tratos ascendentes • 2° neurônios para centros mais altos (tálamo) • Feixes espinotâlamico e espinoreticular Tratos descendentes • Papel na modulação da dor • Noradrenalina e Serotonina (5- hidroxitriptamina = 5-HT) • Partem da substância cinzenta periductal e núcleo magno da rafe (este é rico em 5-HT) Síndrome de dor generalizada - Características • Hiperalgesia, Alodinia. • Alteração do processamento sensorial da dor no SNC (córtex somatossensorial e ínsula). • Sintomas não dor: fadiga, memória, sono e humor • Sem resposta a medicamentos para dor aguda e dor por dano ou inflamação tecidual (AINEs, opioides, injeções ou procedimentos cirúrgicos) • Dor nos 4 quadrantes e que envolve esqueleto axial FIBROMIALGIA A fibromialgia (FM) é uma síndrome dolorosa crônica, caracterizada principalmente por dor musculoesquelética generalizada, fadiga, distúrbios do sono e distúrbios cognitivos. Frequentemente associa-se com outras síndromes funcionais, como intestino irritável, migrânea etc. “Rótulos” • Dores crônicas sem mecanismo causal subjacente: lombalgia mecânica, cefaleia, disfunção de ATM… • Dores que podem ou não estar relacionadas a causa da dor: endometriose, síndrome facetaria. • “Está tudo na cabeça”: transtorno de somatização A FM apresenta prevalência alta; é a 2° doença reumática mais frequentem (1°é AO) A FM acomete mais mulheres, com idade de início variando entre 25 e 65 anos, pode acometer qualquer idade. Geralmente começa com dor locorregional que se generaliza. Prevalência dor musculoesquelética crônica 30%. Geralmente existe história familiar de dor crônica. Parentes de 1° grau com FM tem 8,5x-13,6x mais chance de FM que controles. ~30% obterá melhora de 50% na dor com tratamento. Genética • Parentes de 1° grau 8x mais risco • Parentes têm maior risco de DII, desordens ATM, cefaleia e sd de dor regional • Polimorfismos de genes do metabolismo e quebra de neurotransmissores • Polimorfismos de nucleotídeo único (SNP): SLC6A4 (gene transportador de serotonina), catechol-o-methyltransferase (COMT) (enzima que degrada dopamina, norepinefrina e epinefrina)… • Epigenética: modula função do genoma e fenótipo sem alterar sequência de DNA Fatores ambientais e estressores • Infecção por EBV, parvovírus B19, brucelose e Lyme • Trauma físico (coluna) • Mais comum em pessoas com dor periférica: AR, EpA, hipermobilidade • Estressores psicológicos: trauma na infância e abuso, guerra, eventos catastróficos e persecutórios Doenças psiquiátricas • Depressão, ansiedade, TOC, transtorno de estresse pós-traumático são mais comuns • Gatilhos comuns entre FM e doenças psiquiátricas (ex: estresse no início da vida, trauma) • Patofisiologia compartilhada: neurotransmissores que afetam transmissão da dor, também afetam humor, memória, fadiga e sono • 38% dos pacientes com transtorno depressivo preenchem critérios para FM Doenças endócrinas • 62% dos pctes com Hashimoto preenchem critérios para FM ACR 2010 • Obesidade é fator de risco para FM (citocinas inflamatórias e neuroinflamação) • FM presente em 45% dos obesos Fatores de risco modificáveis • Sono • Obesidade • Inatividade física • Insatisfação com trabalho ou com a vida Fatores de mau prognóstico • Catastrofização • Medo de movimentar-se FISIOPATOLOGIA Pode-se entender a FM como uma síndrome de sensibilização central. A sensibilização central pode ser definida como uma resposta anormal e inadequada do SNC aos estímulos periféricos em decorrência de uma hiperexcitabilidade neuronal, causando, no caso da FM, dor inadequadamente amplificada. Centralização da dor = amplificação • Fibromialgia primária: cefaleia, ATM, SII, dismenorreia, cistite intersticial, fadiga, ansiedade e depressão => “top-down”: problema de modulação da dor Fibromialgia secundária: OA, AR, EpA, anemia falciforme => “down-top”: excesso de estímulo MODULAÇÃO DA DOR CONDICIONADA (VIAS DESCENDENTES) • Via serotoninérgica-noradrenérgica o Diminuição de 3-metoxi-4-hidroxifentileno (líquor) o Diminuição de serotonina, triptofano e ácido 5-hidroxi-indoleacético (soro) • Via opioidérgica o Diminuição da ligação receptor de µ-opioide nas áreas de processamento de dor (cérebro) o Aumento da atividade opioide endógena Desta forma, o paciente com FM é um indivíduo com um “ganho” ou um “aumento de volume” inadequado aos estímulos externos, especialmente nociceptivos. Embora os estímulos iniciais possam ser periféricos, também está demonstrado, principalmente por meio de estudos funcionais de SNC, que existe uma reestruturação de todo o sistema nociceptivo em pacientes com FM, permitindo que a dor se perpetue mesmo na ausência de dor periférica. Diversas áreas do encéfalo relacionadas com a dor foram estudadas em pacientes com FM, tanto de maneira isolada como em conjunto. O córtex sensorial primário apresenta maior conectividade entre seus neurônios, e esse fenômeno está associado a maiores níveis de hipervigilância e catastrofização. A RMe demonstrou aumento do glutamato no córtex posterior da ínsula e que os níveis aumentados dessa substância apresentam uma relação com menores limiares de dor. Outra estrutura em hiperatividade nos pacientes com FM é a amígdala, responsável pelo grau de alerta a estímulos externos. A ínsula e a amígdala são partes integrantes do sistema límbico e integram o sistema nociceptivo ao “circuito cerebral de emoções”. Uma hiperatividade glutamatérgica neste sistema pode ser responsável pela grande resposta emocional dos pacientes com FM. Embora a centralização da dor seja o foco da fisiopatologia conhecida da FM, outros aspectos clínicos podem colaborar com a manutenção do quadro clínico. O sono não reparador, um dos primeiros achados objetivos em pacientes com FM, hoje é considerado primariamente consequência da dor crônica, mas pode levar a menor atividade de sistemas descendentes de controle da dor. A FM consiste no extremo de um espectro de sensibilização central à dor, o que também acontece em outras condições reumatológicas. Por exemplo, medicações aprovadas para o tratamento da FM, como a duloxetina, foram aprovadas no manejo da dor da osteoartrite de joelhos e da dor lombar crônica, pois foi demonstrado que a sensibilização central também ocorre nessas condições O grande desafio na compreensão da fisiopatologia da FM é a integração de fenômenos do sistema nervoso central, autonômico, periférico com aspectos do sistema musculoesquelético, resultando nesse quadro clínico tão complexo. QUADRO CLÍNICO O sintoma principal da FM é a dor difusa, generalizada e crônica, envolvendo regiões axiais e periféricas do corpo. Em geral, os pacientes têm dificuldade em localizar a dor, muitas vezes apontando locais como músculos, ligamentos, bursas e tendões. O caráter da dor é bastante variável, podendo ser em queimação, pontada, peso ou mesmo a sensação logo pela manhã de dor “de cansaço”. Habitualmente, o paciente sente-se pior do que quando se deitou, mas a dor e o cansaço persistem durante todo o dia. A dor é geralmente citada como sendo de moderada a forte intensidade e pode estar associada a uma sensação subjetiva de edema e parestesias. A sensação de edema é relatada particularmente em mãos e antebraços. As parestesias, sem distribuição em dermátomos, normalmente pioram com alterações do clima para o frioe estresse. Muitos pacientes não conseguem precisar o início da dor e ela geralmente tem instalação lenta. Alguns pacientes correlacionam o início da dor com um evento estressante, como trauma físico ou psicológico. Os pacientes apresentam bom aspecto geral, sem evidência de doença sistêmica, sem sinais de comprometimento articular inflamatório, sem atrofia muscular, sem alterações neurológicas, com boa amplitude de movimentos e com força muscular preservada, apesar dos sintomas mencionados. Os pontos dolorosos (tender points) não representam uma estrutura anatômica definida, mas incluem sítios na musculatura, ligamentos ou áreas de bursas. A resposta do paciente à pressão de cada ponto doloroso é bastante variável, podendo ir de discreta reação até retirada súbita do segmento corporal (“jump sign”). Para a pesquisa da sensibilidade dolorosa desses 18 pontos pode ser usado um algômetro (também chamado de dolorímetro) e com ele exercer uma pressão de até 4 kg/cm2 nesses locais preestabelecidos. Porém, diversos estudos demonstraram que com a digitopressão de um examinador experiente, não é necessário o emprego desse instrumento e os resultados são quase idênticos. Alguns sintomas são muito prevalentes na FM e foram incluídos nos critérios diagnósticos. Os pacientes com FM frequentemente queixam-se de um sono leve e não reparador. Esse achado não é específico para a FM, ocorrendo em outras condições dolorosas. A fadiga é uma queixa muito presente, com sensação de exaustão fácil e dificuldade para realização de tarefas laborais ou domésticas. Problemas com a memória, concentração, análise lógica e motivação também são comuns. A causa desses problemas está centrada na dor crônica e na fadiga, que exercem um efeito de “distração” em outras funções cognitivas. Cerca de 90% dos pacientes com FM apresentam manifestações-satélites da doença, muitas delas mostrando que o menor limiar à dor não está presente só na musculatura. O reconhecimento e o tratamento destas comorbidades são extremamente importantes, pois muitas vezes essas manifestações acrescentam sofrimento e agravam o quadro principal. A depressão e as demais alterações do humor provocam a exacerbação dos sintomas e prejudicam as estratégias de enfrentamento (coping) diante da doença. Como consequência, na FM há um comprometimento do estado de saúde, da capacidade para o trabalho, da qualidade de vida e da percepção de saúde, aumentando a incapacidade e/ou o afastamento do trabalho, reduzindo a produtividade. Resumo: Dor generalizada (artralgia + “dor na carne” = “dói tudo”) que piora com frio e estresse, fadiga, sono não reparador, parestesias, polaciúria, cefaleia. EXAME FÍSICO • Tender-points • Sem achados específicos • Pistas o Palpação em direção caudal: músculos do antebraço, falanges e IFs o Dor difusa: todas as localizações ou principalmente antebraço o Desordem autoimune sistêmica: dor apenas nas IFs TESTES LABORATORIAIS • Diagnóstico diferencial (o diagnóstico de FM é CLÍNICO) • Quadros de início agudo/subagudo merecem uma investigação mais agressiva • Quadros de evolução de longa data: menor investigação • Evitar: FAN e FR DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL • Condições musculoesqueléticas não-reumáticas o Dor limitada a regiões (pescoço, ombros e costas), desalinhamentos articulares, história familiar de hipermobilidade o Exame físico: Trigger-points, articulações hipermóveis, hiperelasticidade cutânea, fragilidade cutânea (equimose e cicatrizes atróficas) o Testes genéticos se Síndrome de Ehrles-Danlos suspeita mais que outras síndromes de hipermobilidade • Hipotireoidismo / endocrinometabólica o Ganho de peso, constipação, mudança no tamanho das mãos e pés (na acromegalia), pobre exposição solar, história familiar de doença da tireoide o Palidez, espessamento do cabelo, marcha disbasica o TSH, PTH e vit D • Gastrointestinal o Perda de peso, flatulência, diarreia o Colonoscopia, anti-transglutaminase IgA (doença celíaca) o Infecciosas o Fatores de risco para HCV (uso drogas EV), eritema migrans (doença de Lyme) o Anti-HCV • Malignidades o Sintomas sistêmicos proeminentes, dor óssea, dor noturna • Doenças neurológicas o Sintomas neurológicos, aumento do tonus muscular, marcha lenta, tremor o Anormalidade neurológica discreta, tremor, rigidez, reflexo glabelar positivo o Estudos de condução nervosa, potenciais evocados • Estenose espinhal e mielopatia o Idade avançada, dor prévia em coluna, dor claudicante em membros (especialmente nádegas e coxas), dor relacionada à postura o Exame de coluna pode ser normal para a idade o Imagem quando indicado • Miopatia/miosite o História familiar de miopatia o Dificuldade de subir escadas ou levantar da cadeira, sintomas musculares induzidos pelo exercício, rash cutâneo, FRY, sensibilidade muscular, caibras, heliótropo, mãos do mecânico, afinamento da pele, dor/fraqueza muscular o CPK, testes imunológicos e genéticos quando indicado, ENMG, RM, Bx muscular • Transtornos de saúde mental o História psicossocial familiar e pessoal o Questionário de rastreio o Avaliação psiquiátrica • Drogas que causam dor difusa • Polimialgia reumática o Tempo definido de início o Sintomas progressivos o RM > 1h o Sintomas constitucionais (febre, perda de peso e apetite) o Dor localizada em articulações ou enteses • Pensar em outras DRAI (doenças reumáticas autoimunes) se… o … rash cutâneo, vasculite, psoríase, FRY, secura, sintomas intestinais, história familiar de doença reumática inflamatória sistêmica, palidez, baixo IMC, linfonodomegalia, nódulos cutâneos, mobilidade espinhal reduzida etc. • Quais são os diagnósticos mais prováveis em mulheres de 25 a 50 anos que apresentam sintomas poliarticulares crônicos? o Síndrome de hipermobilidade benigna, fibromialgia, OA, AR e LES CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS Desde o início, a dor crônica generalizada se destacou como um discriminador da síndrome. Fadiga crônica, sono não restaurador e distúrbios cognitivos são outros dos pilares, mas não eram incluídos em critérios antes de 2010. A contagem de pontos dolorosos, que é uma parte fundamental dos critérios de 1990, hoje é foco de debate e foi retirada de critérios mais recentes. É importante uma análise dos critérios diagnósticos e sua evolução, pois oferecem um panorama no entendimento da síndrome. Em 1990, o ACR publicou os critérios de classificação para a FM que combinam dor generalizada crônica por pelo menos 3 meses e a presença de pelo menos 11 de 18 pontos dolorosos previamente especificados. Esses critérios incluem a definição de dor difusa generalizada como dor abaixo e acima da cintura, nos lados direito e esquerdo do corpo e em pelo menos um segmento da coluna vertebral. As principais críticas aos pontos dolorosos seriam que muitos pacientes com FM apresentam múltiplos pontos dolorosos em outras localizações; falta de experiência na realização da palpação digital; homens com FM têm menos tender-points; outros pacientes podem apresentar menos de 11 pontos dolorosos. Em 2010, o ACR publicou os Critérios Preliminares para o Diagnóstico de Fibromialgia (ACR 2010), que foram modificados em 2011 para fins de pesquisa clínica. Nesses critérios (2010/2011), revisado em 2016, elimina-se a contagem dos pontos dolorosos e criam-se dois índices: o Índice de Dor Generalizada (IDG) e a Escala de Gravidade dos Sintomas (EGS). • No IDG, são assinaladas 19 possíveis regiões em que o paciente sente dor, obtendo-se daí um escore que se situa entre 0 e 19. Na EGS, a gravidade dos sintomas de fadiga, sono não reparador e sintomas cognitivos é graduado de 0 a 3 na última semana. Dor abdominal, cefaleia e depressão é recebem pontuação de 0 se ausente ou 1 se presente nos últimos 6 meses. Em 2016, uma nova revisão dos critérios de 2010/2011 foi publicada. Foramrealizadas duas correções essenciais aos critérios anteriores: a presença de dor difusa volta a ser critério obrigatório e elimina-se a necessidade de exclusão de outras enfermidades no diagnóstico da FM. Os critérios passariam a ser: A. Presença de dor generalizada, definida como a dor em pelo menos 4 de 5 regiões preestabelecidas. B. Os sintomas estão presentes em nível similar durante, pelo menos, 3 meses. C. Pontuações do IDG > 7 e EGS > 5; ou IDG de 4-6 e EGS > 9. D. O diagnóstico de FM é válido independentemente de outros diagnósticos. A FM não deve ser considerada diagnóstico de exclusão, mas sugere-se sempre considerar os diagnósticos diferenciais com outras síndromes ou doenças com sintomas semelhantes. Sugere-se ainda a mensuração sistemática dos transtornos de humor por meio de instrumentos validados, adequados ao nível de atenção à saúde em que são aplicados, pois se mostram de grande importância na avaliação da gravidade dos pacientes com FM. TRATAMENTO – EXERCÍCIO FÍSICO, TCC, MEDICAMENTOS E EDUCAÇÃO. EDUCAÇÃO O conhecimento por parte do paciente da natureza dos seus sintomas, dos objetivos e das etapas do tratamento, da necessidade de sua participação ativa na estratégia terapêutica e ainda dos fatores que influenciam sua sintomatologia pode fazer toda a diferença entre o sucesso e o fracasso da terapêutica. FM – Não mata, não deforma, é benigno, não tem cura, têm tratamento que é baseado no tripé: exercício físico, TCC e medicamentos. EXERCÍCIOS FÍSICO O combate ao sedentarismo e o estímulo aos exercícios físicos estão entre as medidas mais reconhecidas como essenciais para o tratamento da FM. Os exercícios aeróbicos são os mais estudados. Reduzem os sintomas, melhoram a função, os aspectos emocionais e a qualidade de vida. A associação de modalidades parece ser superior a uma isolada. Uma modalidade que vem sendo estudada recentemente é o tai chi chuan, que alia exercícios e técnicas de concentração. A prescrição de exercícios deve levar em conta as peculiaridades desses pacientes, sugerindo que a progressão da duração, da intensidade e da carga seja mais lenta do que em outras populações. Os resultados devem ser esperados no longo prazo. Pode haver piora no primeiro mês, porém estimule o paciente a continuar devido os benefícios subsequentes. TERAPIAS PSICOLÓGICAS O papel dos aspectos emocionais e a associação com doenças como depressão e ansiedade devem ser levados em conta na abordagem terapêutica. A participação dos mecanismos de estresse pode ser corrigida com técnicas psicológicas e, entre elas, destaca-se a terapia cognitivo-comportamental (TCC). TRATAMENTO FARMACOLÓGICO Os medicamentos mais estudados são os antidepressivos que atuam no sistema descendente inibitório do estímulo doloroso, inibindo a recaptação das monoaminas. Os tricíclicos (amitriptilina e nortriptilina) melhoram a dor, o sono e a fadiga. Os efeitos adversos mais citados são ganho de peso, sonolência excessiva, obstipação intestinal e perda da libido. Ciclobenzaprina – relaxante muscular de ação central. Os antidepressivos “duais” (inibidores da recaptação de norepinefrina e serotonina), como a duloxetina e a venlafaxina, apresentam capacidade analgésica. Os inibidores específicos da recaptação de serotonina, como a fluoxetina, têm eficácia analgésica pobre, porém podem ser úteis para os demais sintomas. Os gabapentinoides formam uma classe que atua na redução da aferência do estímulo doloroso. Na FM, o fármaco mais estudado é a pregabalina. Há evidências da melhora da dor, da fadiga e do sono. O tramadol se mostrou eficaz em estudos controlados isoladamente ou associado ao paracetamol. Embora seja um opioide fraco, seu benefício na FM pode ser por ter uma dupla ação, já que também inibe a recaptação de monoaminas. Não existem estudos de boa qualidade sobre medicações específicas para o sono de pacientes com FM. As medicações mais utilizadas são a trazodona, a tizanidina e ocasionalmente indutores de sono como o zolpidem. RECADOS FINAIS (MUITO IMPORTANTE) • A fibromialgia é um distúrbio crônico de processamento aferente central não inflamatório e não autoimune que leva a uma síndrome de dor difusa, bem como a outros sintomas • Semelhante a pacientes com outros distúrbios de dor crônica, a ressonância magnética funcional (fMRI) mostra campos receptivos expandidos para percepção de dor central e modulação emocional em pacientes com FM • Os medicamentos mais eficazes para a FM são os tricíclicos, inibidores duais e anticonvulsivantes que regulam negativamente o processamento sensorial • Opioides e corticosteroides não são eficazes no tratamento da FM e devem ser evitados • Educação do paciente, atividade física / exercício e terapia cognitivo-comportamental (TCC) são pilares importantes da terapia junto com tratamento medicamentoso SÍNDROME DOLOROSA MIOFASCIAL A síndrome miofascial (SM) é um quadro de dor muscular regional associado à presença de um ou mais pontos gatilhos (PG). Os G são definidos como pontos de sensibilidade exacerbada presentes em bandas palpáveis tensas nos músculos e em suas fáscias. Quando palpados, dão origem a dor e fenômenos autonômicos e de hipersensibilidade dolorosa em áreas referidas de seu sítio. DADOS EPIDEMIOLÓGICOS A SM é provavelmente a principal causa de dor musculoesquelética, com uma prevalência ao longo da vida de até 85%, sendo responsável por 29,6% dos quadros dolorosos crônicos na população geral. A maior porcentagem de casos de dor lombar e cervical crônica, cefaleia tensional, dor orofacial, entre outras, encontra-se associada a SM. Acomete indivíduos de ambos os sexos, principalmente durante a sua fase produtiva, ou seja, entre os 30 e 50 anos. • Após contração repetida do músculo • Movimento repetitivos (trabalho, hobbies) • Trauma, patologias de coluna, tensão muscular (estresse), disfunção postural e descondicionamento QUADRO CLÍNICO A dor musculoesquelética regional é o principal sintoma, podendo ser em peso, queimação ou latejamento, e pode ocorrer de forma contínua ou em surtos. A região dolorosa depende da localização do PG. Este pode ser classificado como ativo ou latente. O PG ativo é aquele associado ao quadro doloroso espontâneo e, quando palpado, reproduz total ou parcialmente a dor referida pelo paciente. A região referida de dor em geral encontra-se distalmente ao PG, e sua intensidade é consequência da força empregada na sua manipulação. Os PG ativos podem localizar-se em qualquer músculo e geralmente situam-se no interior de uma banda de contratura muscular, denominada “banda rígida”. O PG latente não apresenta essa capacidade de reprodução, sendo um ponto doloroso com potencial de tornar-se ativo. Além da dor, pode haver espasmo fraqueza, problemas de sono. Com a destruição do PG por agulhamento, há um alívio ou até desaparecimento dos sintomas. Frequentemente observam-se contratura ou rigidez muscular limitando por vezes o movimento da região acometida. Perda de força objetiva não ocorre, mas muitos pacientes queixam-se de fraqueza muscular subjetiva, decorrente da dor e fadiga musculares regionais. A dor pode se agravar na manipulação exagerada da região afetada, ocasionando contraturas musculares. A diminuição da mobilidade e posturas viciosas podem contribuir para o aparecimento de novos PG, amplificando o quadro. Fisiopato Manifestações do sistema nervoso autônomo, como distúrbios vasculares (palidez ou vermelhidão da pele e mudanças de temperatura, para calor ou frio), piloereção e mudanças no padrão de sudorese podem estar presentes. PG localizados nos músculos da face e pescoço podem desencadear sintomas como lacrimejamento, vermelhidão da conjuntiva e secura ocular. Distúrbios do sono, stress emocional e alterações do hábito intestinal podem estar associados e podem agravar o quadro. Mais comum empacientes com doença crônica, cefaleia tensional, distúrbios ATM e dor na região de face e mandíbula e sd do chicote. DIAGNÓSTICO O diagnóstico é clínico, por intermédio de uma história bem elaborada e exame físico minucioso. A presença do PG e a reprodução dos sintomas pela sua palpação são imprescindíveis ao diagnóstico. Os exames laboratoriais e de imagem são normais e devem ser solicitados somente para afastar outras possibilidades diagnósticas. O diagnóstico diferencial da síndrome miofascial deve ser realizado com qualquer outra causa de dor musculoesquelética regional, principalmente os espasmos musculares, as artropatias mecânicas e inflamatórias periféricas ou axiais, as radiculopatias compressivas ou não, as síndromes de compressões nervosas periféricas, miopatias inflamatórias ou não, tendinites, tenossinovites e bursites. Outro diagnóstico diferencial importante é a fibromialgia (FM). Para diferenciá- la basta lembrar que a FM é caracterizada pela presença de dor e hipersensibilidade dolorosa a pressão, difusa, e a SM é caracterizada pela presença de dor muscular regional associada aos PG. Há importante sobreposição da SM com a FM. TRATAMENTO Como toda condição crônica dolorosa, há necessidade do esclarecimento adequado do quadro ao paciente. A identificação de fatores geradores ou amplificadores do quadro é essencial, para que possam ser corrigidos. Avaliação postural do indivíduo, em diversas posições, levando-se em conta o ambiente de trabalho e o doméstico deve ser realizada. Correções da postura e sua mecânica corporal devem ser consideradas. Modificações do ambiente doméstico ou de trabalho são úteis para prevenir posturas inadequadas e diminuir a fadiga muscular. Pacientes com distúrbios do sono devem receber orientação quanto a higiene do sono e, se necessário, medicados. A presença de fatores psicológicos ou psiquiátricos deve ser pesquisada e abordada de forma adequada. Doenças sistêmicas, como hematológcas, endócrinas, infecciosas ou metabólicas, devem ser identificadas e tratadas. O tratamento básico consiste no controle da dor e no recondicionamento funcional da região afetada. O controle da dor é obtido pela inativação dos PG e por meio de medicamentos. O recondicionamento da região afetada é primordial para resolução do caso, seja parcial ou total. A inativação dos PG é essencial para o alívio da dor e o restabelecimento da normalidade funcional local. Podem ser inativados manualmente, por procedimentos físicos invasivos ou não, e devem estar associados a sessões de alongamento da musculatura retraída. Sua inativação diminui a atividade nociceptiva patológica, eliminando os padrões anormais de força biomecânica e facilitando o recondicionamento físico. O método mais utilizado de desativação do PG é por agulhamento direto, utilizando-se uma agulha hipodérmica, o que resulta em alívio da dor e melhora da amplitude de movimento a curto prazo. A médio e a longo prazos, sua eficácia é discutível. Pode ser realizado a seco ou associado a lidocaína ou toxina botulínica. O agulhamento é contraindicado nas desordens hemorrágicas, uso de anticoagulantes, infecção local ou sistêmica, alergia ao agente anestésico, trauma muscular agudo e medo intenso de agulha. Existem outras modalidades empregadas na inativação de PG. As massagens com o emprego de forte pressão são popularmente usadas no nosso meio. Pode-se também empregar sprays tópicos anestésicos na área dolorosa seguidos de liberação e estiramento do músculo afetado. Comumente empregamos medicamentos para alívio da dor na SM. Utilizamos os que são empregados em outras condições de dor musculoesquelética. Sua escolha deve se basear no quadro clínico doloroso e na presença de comorbidades. Os anti-inflamatórios não hormonais, inibidores ou não da COX2, podem ser empregados com o objetivo de aliviar quadros de agudização da dor. O mesmo princípio vale para os analgésicos e o tramadol. Os demais opioides devem ser evitados. Os antidepressivos duais ou tricíclicos podem ser empregados. Os duais, como a duloxetina, em doses de 60 mg, em geral pela manhã, podem ser especialmente interessantes em pacientes com transtornos depressivos. pacientes com distúrbios do sono. O recondicionamento é realizado, inicialmente, por meio de exercícios de alongamento da região comprometida, melhorando a amplitude do movimento local. Posteriormente, introduzimos exercícios de musculação para recuperação do condicionamento muscular local. Muitas vezes é necessário executar exercícios
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