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Marianna Lopes – 6° semestre FTC FISIOLOGIA O líquido pleural é um lubrificante das superfícies da pleura, que age minimizando a fricção e facilitando expiração e inspiração, e sua produção/reabsorção se dá pelo trajeto de líquido dos vasos sanguíneos para o espaço pleural e dos vasos linfáticos de volta para a circulação • A renovação normal do líquido dentro do espaço pleural é 10 a 20mL/dia, com apenas 0,2 a 1mL permanecendo no espaço pleural • A circulação do líquido pleural é regulada por pressões osmótica (força das proteínas para dentro do vaso) e hidrostática (força do sangue para fora do vaso) o A pressão hidrostática da pleura parietal é mais alta que a da pleura visceral, de modo que a maior parte do líquido pleural é filtrada pelos vasos linfáticos para a pleura parietal PATOGÊNESE Em circunstâncias anormais (princ. IC e pneumonia), o líquido pode ser retido dentro do espaço pleural e a quantidade extra passa a ocupar o espaço que seria do pulmão, tornando-o atelectasiado, isto é, murcho, o que pode levar então ao aparecimento de sintomas como dispneia aos esforços • Aumento da pressão hidrostática (ex. IC) ou redução da oncótica (ex. desnutrição): A diferença entre as pressões resulta na saída de plasma do vaso e acúmulo de líquido pleural, pobre em proteínas (típico transudato) o Mesma dinâmica da formação de edemas • Redução da pressão no espaço pleural (ex. atelectasia – colapso do pulmão) • Aumento da permeabilidade da membrana pleural (ex. pneumonia, tuberculose, AR, sepse – inflamações): Perda de proteína para o espaço pleural, que passa a atrair líquido e proteínas (típico exsudato) • Alteração da drenagem linfática (ex. derrame maligno – neoplasias): Aumento da pressão hidrostática através da obstrução dos canais linfáticos ou da interferência nas aberturas dos vasos linfáticos para o espaço pleural ou da obstrução dos canais linfáticos (típico exsudato) • Movimento de fluido do peritônio (ascite, cirurgias abdominais): Acúmulo intra- abdominal passa para a pleura MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Os pacientes podem ser assintomáticos ou se apresentarem com dispneia, mas às vezes o derrame pode ser suficientemente grande para contribuir com a insuficiência respiratória Na anatomia, a pleura visceral está em contato com o pulmão e a pleura parietal reveste caixa torácica, diafragma e estruturas do mediastino, seguindo até a porção inferior do fígado Marianna Lopes – 6° semestre FTC • Tosse seca (resposta reflexa da fase inicial da inflamação – sem líquido para causar dispneia, mas suficiente para ativar receptores) • Dispneia aos esforços o Trepopneia (pulmão encharcado pode ter expansão reduzida) • Dor torácica ventilatório-dependente (princ. se houver inflamação da pleura – pleurítica) o Quando a pleura parietal está ativamente inflamada (exsudativa), a dor pode estar e é geralmente unilateral, aguda e piora com a inspiração Exame físico Consequências da barreira de líquido no pulmão • Inspeção: Expansibilidade diminuída • Palpação (a transmissão do som não é bem feita no líquido) o FTV reduzido ou abolido no local do derrame o FTV aumentado na região atectasiada (parte murcha perto do derrame pleural – menos ar, mais sólido) • Percussão: Macicez ou submacicez • Ausculta (murmúrio vesicular) o MV abolido na área do derrame o MV pouco aumentado na área pulmonar adjacente ao derrame pleural (fluxo de ar na área atelectasiada pode ser um pouco maior) o Egofonia (timbre da voz – 33) o Estertores finos na parte mais alta do derrame (porção atelectasiada) DIAGNÓSTICO Ao identificar o derrame pleural, deve-se pensar em qual outra doença está existindo no corpo do paciente que está causando o derrame pleural e só depois solicita-se os exames (princ. proteínas e LDH) com base no raciocínio das possíveis causas • Anamnese e exame clínico • Exames de imagem • Toracocentese diagnóstica e terapêutica • Biópsia pleural: No diagnóstico indefinido, faz- se uma biópsia com agulha “às cegas” de um fragmento da pleura, sem saber exatamente de que parte foi retirado e, por isso, não possui 100% de diagnóstico o Exsudato e linfocítico (sensibilidade 60% para malignidade75% para tuberculose) • Pleuroscopia e biópsia de pleura aguda: Se a biópsia não for útil, a cirurgia é indicada a fim de guiar aguda com câmera no espaço pleural o Mais sensível mas precisa anestesia geral • Drenagem pleural: Se houver sangue no tórax, é preciso fazer uma incisão na pele e colocar um dreno Exames de imagem O RX é o 1º exame usado para identificar o derrame pleural, mas não é tão sensível e nem sempre se vê o apagamento do seio costofrênico em PA (sinal do menisco) ou a obliteração do seio costofrênico, formando uma concavidade para cima em perfil (parábola de Demoiseau) • Ocasionalmente, os acúmulos de líquido pleural nas fissuras maior ou menor podem aparecer como uma massa pulmonar (pseudotumores) e, nesse caso, o RX do tórax em decúbito lateral (incidência de Laurell) pode ser obtida para determinar se o líquido está fluindo livremente (líquido “escorrido”) ou loculado o Determina se pode fazer punção se tiver pelo menos 1cm na lateral externa Outros exames A USG permite ver menores quantidades e ainda dá um melhor direcionamento para a punção, já a TC fornece uma maior caracterização (ex. quantidade de líquido, espessamento pleural, cardiomegalia), podendo suspeitar de uma etiologia Toracocentese e investigação laboratorial Para ter apagamento do seio costofrênico ao RX, é preciso que haja uma quantidade maior de líquido para preenche-lo (250ml geralmente), sendo que a quantidade normal gira em torno de 20mL, e então se < 250ml não se vê ao RX devido à topografia do abdome, deixando os menores derrames passarem despercebidos Se o derrame for pequeno, o paciente não cursa com sintomas, mas quanto maior a quantidade de líquidos, maior a chance de dispneia Marianna Lopes – 6° semestre FTC A retirada do líquido pleural por toracentese serve para determinar a etiologia do derrame pleural a partir da comparação com as dosagens séricas do soro do paciente, visto que a pleura funciona como uma membrana filtrante, mas também pode-se fazer uma toracocentese terapêutica para aliviar os sintomas ao retirar volumes maiores (até 1,5L pelo risco de edema pulmonar de reexpansão) • Na teoria, todos DP devem ser puncionados, com exceção de casos de IC, cirrose, síndrome nefrótica, diátese hemorrágica (tendência a sangramento), volumes pequenos, ausência de assimetria, refratariedade e baixa relação risco-benefício (sem sinais de alarme) • O método de retirada de líquido é feito com uma agulha posicionada entre as costelas, no espaço médio entre fígado e pulmão o As complicações são sangramento ao puncionar fígado, pulmão, um vaso ou dor ao puncionar um nervo • Uma vez que líquido é obtido, o diagnóstico definitivo pode ser firmado e o líquido pode ser classificado como transudato ou exsudato através da análise quanto à concentração de proteínas e à desidrogenase lática (DHL – presente em casos de destruição celular) o Transudato: Na pleura íntegra, o plasma vem do sangue pelo aumento da pressão hidrostática ou redução da oncótica (sem tantas proteínas e LDH – parece urina) o Exsudato: Saída de plasma e proteína do vaso sanguíneo pelo aumento da permeabilidade do endotélio → As características são ditas pelos critérios de Light, mas a regra dos 2 testes e os critérios de 3 etapas também podem ser usados o Sero-hemático: Há sangue por lesão de vaso devido à doença de base (ex. DP neoplásico, embolia pulmonar) o Quiloso: Assemelha-se ao leite e é rico em proteínas (ex. DP por lesão de vasos linfáticos) o Transudato: Assemelha-se à urina e isso indicaque esse líquido foi filtrado o Aspecto de pus: Fecha-se o diagnóstico de empiema (acompanha tosse, expectoração purulenta e febre) • Além das proteínas e da LDH, pesquisa-se pH, glicose, citologia, culturas e Gram, podendo opcionalmente buscar por colesterol, Ziehl, amilase, lipase e adenosidadeaminase (ADA) Casos específicos de derrame pleural (DP) • DP transudativo: Mais comumente decorre da IC, na qual o derrame é frequentemente bilateral ou envolve o hemitórax direito, mas também pode acontecer na cirrose (ascite atravessa peritônio e diafragma e ascende até o espaço pleural – hidrotórax hepático), síndrome nefrótica, mixedema, embolia pulmonar e obstrução da VCS o Causas incomuns de transudatos incluem a diálise peritoneal e a atelectasia, e, embora a malignidade geralmente cause exsudato, é raro produzir um transudato o O urinotórax (transudato raro) resulta da obstrução do sistema urinário • Derrame parapneumônico: Tipo mais comum de DP exsudativo, que ocorre em alguns casos de pneumonia bacteriana e se classifica como complicado ou não complicado o Não complicado: pH é geralmente maior que 7,3, glicose maior que 60 mg/dL e DHL do líquido pleural menor que 1000 IU/L (geralmente têm fluxo livre e não exigem drenagem – respondem à terapia com ATB da pneumonia) o Complicado: pH abaixo de 7,2 e é comum ter baixo teor de glicose (geralmente não respondem apenas ao ATB e precisam de drenagem para não formar um empiema ou espessamento pleural) • Empiema: Presente quando o pus evidente é aspirado ou quando bactérias se encontram no líquido pleural (frequentemente há dor Marianna Lopes – 6° semestre FTC torácica pleurítica e febre refratária e precisa de drenagem logo) o Empiema tuberculoso: Caracterizado por extensão direta da infecção com bactéria invadindo a pleura a partir de linfonodos torácicos ou disseminação hematogênica da tuberculose para o espaço pleural • DP na tuberculose: Normalmente, o DP não se deve à infecção direta por micobactérias, mas sim ao aumento na permeabilidade vascular da membrana pleural devido à reação de hipersensibilidade a proteínas da bactéria o No líquido pleural geralmente predomina linfócitos e níveis de adenosina deaminase (ADA) acima de 50U/L • DP maligno: 2ª causa mais comum de exsudatos (transudato é raro), geralmente por câncer de pulmão, mas também de mama, ovário, gástrico e linfoma o Possui mal prognóstico e é diagnosticado por toracocentese ou biópsia (células malignas no líquido pleural) • DP na artrite reumatoide: Geralmente nos homens, aparece em 5 anos após o início da AR, mas pode iniciar antes da doença articular, estando presente o fator reumatoide e a glicose do líquido pleural é baixa (< 60 mg/dl, ou relação líquido pleural/glicose sérica < 0,5) • DP no LES: As células do LES e os baixos níveis de complemento podem ser achados • DP em pancreatite/pseudocisto pancreático: Exsudato pode surgir frequentemente no hemitórax esquerdo, tendo concentração de amilase acima do limite superior do nível sérico normal, mas ela também pode ser vista no líquido pleural em casos de ruptura ou malignidade do esôfago • Quilotórax: Tem aparência leitosa e branca e é caracterizado por altos níveis de triglicerídeos (>110 mg/dL) e quilomícrons, sendo causado pelo vazamento da linfa do ducto torácico ou após trauma do ducto torácico o O DP quiloso causa comprometimento imunológico e desnutrição, e diferencia- se do pseudoquiloso, que tem aparência branca, mas sem quilomícrons (é crônico) • Hemotórax: Causado por acidentes e traumas, tem um hematócrito do líquido pleural que é pelo menos 50% do hematócrito circulante, mas o sangue retirado não coagula (lesão na toracocentese coagula) o Já o DP sanguinolento é vermelho, mas tem um valor menor de hematócrito e sugere processo maligno (outras causas trauma, infarto pulmonar, tuberculose, doença vascular do colágeno e distúrbios hematológicos) • DP após exposição ao amianto: Em geral, é pequeno, unilateral e sorossanguíneo ou seroso, com menos de 6.000 células/mL • Outras causas de DP: Síndrome de Meigs (tumor ovariano + ascite + DP), síndrome de Dressler (após cirurgia cardíaca), uremia, abscesso hepático ou esplênico, fármacos (ex. amiodarona, hidralazina, isoniazida, bleomicina, dantrolene, metotrexato, metisergida, mitomicina, procainamida, procarbazina) Drenagem pleural e os testes ainda exigem uma quantidade pequena de líquido, apesar de que pode ser realizada uma toracocentese terapêutica para aliviar os sintomas ao retirar volumes maiores (até 1,5L pelo risco de edema pulmonar de reexpansão) TRANSUDATO EXSUDATO IC, síndrome nefrótica, cirrose hepática, ascite, insuficiência renal, estados edematosos, urinotórax e outros Infecções, neoplasias, estados inflamatórios pré-operatórios, ruptura de esôfago, pancreatite e doenças inflamatórias/ imunológicas Definição etiológica a partir de outros exames • pH < 7,2 o Empiema o Malignidade o Rutura de esôfago o Doença reumatoide Marianna Lopes – 6° semestre FTC o Lúpus o Tuberculose • Glicose (< 60mg/dL) o Infecção o Reumatoide e lúpus o Tuberculose o Rutura de esôfago • Amilase (> 200μg/dL) o Doenças do pâncreas o Malignidade o Gravidez ectópica rota • Outros exames o Adenosina deaminase (ADA) o Fator reumatóide o Anticorpo antinuclear o Células LE Exames de imagem *Vê-se RX de derrame pleural e opacidade branca com linhas que tornam a base do pulmão uma concavidade para cima (seio costofrênico torna-se apagado) *Vê-se aumento da área cardíaca e apagamento do seio costofrênico em ambos os lados (ICC descompensada cursando com derrame pleural – não precisa puncionar é um transudato) *Se esse paciente estiver no pós-operatório imediato de um câncer de cólon, deve-se biopsiar o derrame para saber se a causa foi advinda de um implante neoplásico (metástase pleural) ou de um estado inflamatório pela manipulação da cirurgia), mas também pode ser um transudato por excesso de hidratação na UTI (pós-operatório) *Na dúvida, solicita-se um RX em decúbito lateral com raios horizontais (incidência de Laurell) e então percebe-se que o apagamento do seio costofrênico “escorreu” para a lateral, distanciando o pulmão do gradil costal (> 1cm) Marianna Lopes – 6° semestre FTC *Apesar da funcionalidade, a incidência de Laurell passou a ser substituída pela US de tórax, pois o líquido não repercute o som (absorve o som - anecoico) e então se permite ver pequenas volumes de líquido e até direcionar a punção *TC de tórax com derrame pleural, na qual se vê um pulmão atelectasiado com ar dentro do brônquio (cinza claro com ramos pretos) e líquido bilateral em baixo (cinza escuro pela maior densidade) TRATAMENTO A toracocentese terapêutica pode ser feita para alívio dos sintomas, mas é preciso ser feito o tratamento da causa, isto é, drenagem em caso volumoso, ATB se infeccioso, quimioterapia ou pleurodese química no câncer, anti-inflamatórios em caso de LES ou AR, etc • O empiema e os derrames parapneumônicos complicados exigem drenagem torácica e uso de ATB apropriado • O DP maligno inclui observação, pleurodese química, cateter de drenagem no ambulatório e tratamento da malignidade subjacente • Os DP neoplásicos que tendem a responder à quimioterapia sistêmica são os relacionados a câncer de mama e carcinoma de pequenas células do pulmão, bem como os derrames malignos relacionados a linfomas e obstrução da drenagem linfática do espaço pleural também respondem ao tratamento da doença subjacente • O derrame inflamatório precisa de agentes anti-inflamatórios e corticosteroides • O derrame quiloso pode envolver drenagem (pode causar desnutrição), hiperalimentação venosa, ingestareduzida de gorduras e ingestão de ácidos graxos de cadeia média a leve, que são absorvidos diretamente da circulação portal • O quilotórax traumático pode necessitar da ligação do ducto torácico
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